— Estamos fazendo o possível – Peeta responde e ela balança a cabeça – Há sempre algo novo pra nos distrair do que aconteceu no passado, entende?
— Talvez. Pretendo entender perfeitamente após nossa conversa, que será logo.
— Quando vai ser? Ainda hoje né? – interrompo apressada
— Positivo. Em cerca de uma hora eu vejo os dois na sala de reunião do Thompson.
— Eu não vou. – Peeta interfere visivelmente chateado – Não posso me afastar da padaria por tanto tempo, me desculpe Paylor, é que eu estive longe demais de lá ultimamente... Na verdade eu tenho que ir já.
— Fique tranquilo Peeta – Paylor segura nas mãos dele – Tenho certeza que Katniss saberá lhe repassar detalhadamente o que falarmos.
— Não ficará decepcionada? De verdade?
— Eu entendo suas responsabilidades.
Os dois se abraçam novamente e Peeta beija meu rosto antes de sair. Paylor se volta pra mim e é objetiva em seu relato:
— Vejo que estão em sintonia como casal e aprecio isso. Só espero não ter me enganado quanto ao seu pragmatismo; será decepcionante se eu tiver vindo até aqui apenas por uma garota que beijou o cara.
— Não veio pela cerimônia?
Também quero perguntar outras coisas, como: de que jeito ela soube do beijo? O que estão escondendo? Que sintonia como casal? Que casal? O que ela pretende conversar comigo? Por que um evento de fachada? No entanto, permaneço numa pergunta simplória.
— Certamente você notou que esse evento é fachada para algo que saberá em breve, mas aconteceria de qualquer jeito. Vim para conversarmos, então é bom que esteja na sala de reunião em 45 minutos.
— Não tenho nenhum outro lugar pra ir, mas agradeço.
— Odeio essas coisas e também agradeceria se me liberassem como estou fazendo com você, é bom sair não importa pra onde. Agora vá.
Ignoro as milhares de perguntas que tenho que fazer e tento correr para alcançar Peeta, próximo a porta de saída a recepcionista me avisa que ele acabara de passar por ali. Saio apressada e o vejo caminhar tranquilamente pela calçada e virar a esquina. Mas a padaria não é por aquele caminho, batava seguir reto e não virar a esquerda como ele fez. A não ser que...
— Peeta, espera aí!
Grito a plenos pulmões e corro para alcançá-lo, ele me encara surpreso quando se vira e sorri a me ver chegar.
— Me deixa adivinhar; veio me bater por ter brincado de possessivo?
— Aonde você vai? Sei que não é pra padaria.
Ele tem uma mudança repentina na expressão se mostrando nervoso e preocupado, olha rapidamente para todos os lados e puxa meus braços. Nossos corpos quase se tocam, mas ele apenas aproxima os lábios da minha orelha.
— Pra onde você acha? Vou ao prédio da escola verificar a documentação de entrada dos professores novos. – ele toma um tempo pra respirar fundo – Eu descobri com Delly que não ficam na parte de Artes Cênicas como a gente imaginou e... Seu cheiro é bom!
Ignoro o comentário engraçadinho e foco no que é importante.
— Eu vou com você. Rápido, tenho menos de 45 minutos.
Ele balançou a cabeça e me puxou pela mão, percorremos o caminho até o prédio principal numa caminhada apressada porque se corrêssemos despertaríamos alguma suspeita em quem nos visse. Ao chegar Peeta para e me encara sério:
— Olha Katniss, eu sei o que fazer e o que dizer para conseguir a informação que eu quero sobre a Ellen, mas você terá que fazer sua parte; concordar comigo em tudo que eu disser.
— Ah, droga! Vai usar a nossa fama.
— Sim, e vou te ensinar uma técnica pra lidar com isso. Mas, vai ou não concordar comigo?
— Vou.
Entramos no prédio e fomos para os escritórios, fomos abordados por alguns profissionais também de fora do Doze que nos trataram como verdadeiras estrelas. Tentei seguir o exemplo do Peeta e os tratei amavelmente e com muitos sorrisos. Mas notei que eles, a maioria, são realmente gratos pelo fim dos Jogos e acham que devem isso a mim. Não sei bem se eu sou responsável pelas melhorias, mas fico feliz de saber que ajudei a por um fim nisso e ver que pessoas reconhecem.
Peeta e eu nos dirigimos a um balcão, o atendente veio até nós e Peeta o abordou de prontidão.
— Olá, eu preciso das informações restritas de uma professora daqui. A Ellen.
O rapaz é jovem e alto, parece nervoso por nos ver e surpreso com o pedido do Peeta. Ele diz meio sem jeito:
— Senhor Mellark – aceno de cabeça – Senhora Everdeen – outro aceno — Não posso ajudá-lo, é contra as nossas regras. A não ser que a Ellen tivesse ligado pra cá e dado essa permissão.
— Você consegue guardar um segredo?
O rapaz se debruça levemente sobre o balcão e se aproxima de nós. Peeta encosta a barriga no balcão e toca no ombro dele demonstrando uma repentina intimidade. Ele vira o pescoço oferecendo a orelha ao Peeta, que começa a sussurrar:
— Sou amigo da Ellen, muito amigo e quero convidá-la pro meu casamento. Por isso eu e Katniss precisamos de todos os dados que vocês tenham dela.
O braço de Peeta volta a me cercar como fez a pouco tempo e prende minha cintura, tornando nosso contato bem intimo e natural.
— O que?! Vocês dois? – ele entra em euforia e acaba gritando as palavras com um sorriso no rosto.
Peeta ergue o indicador na frente da boca e lança a ele um olhar severo. Em seguida o moço me encara, eu balanço a cabeça “Shhhh..”
— Guarde nosso segredo, poucas pessoas sabem. – Peeta continua - O problema é que a depois do que houve no passado a gente tem receio de permitir que qualquer um entre na nossa vida, casamento é algo intimo sabe? Além do endereço postal da Ellen, seria bom lermos alguns antecedentes dela pra ter certeza de que ela é de confiança.
— Eu não deveria, mas vou ajudar porque sei o quanto devo a vocês dois. Aguardem um minuto, por favor.
— A gente aguarda sim.
Quando o jovem se retira dou uma cotovelada no Peeta — Como você mente bem! Que desprezível sua atitude. – digo baixo, fingindo recriminá-lo.
— Aprendi na Capital - ele ri e pisca – Mas não é totalmente mentira, um dia eu ainda caso com você.
— Será que você ta doente? – digo com a mão na sua testa fingindo sentir a temperatura, ele ri ainda mais.
O rapaz volta trazendo um microchip nas mãos.
— Só tem um porém – ele começa – as informações não podem sair daqui, vocês precisam ler o puderem agora.
Droga. Eu queria tanto levar isso comigo, mas concordamos. Não deve demorar, só é preciso encostar o chip na tela do computador e com a senha do funcionário aparecem as informações contidas, no caso, a ficha contratual da Ellen Willbourn.
Mas espera, o que? Nada? A tela continua apagada, o rapaz digita a senha repetidas vezes e nenhuma informação surge, parece um chip novo.
— Tem certeza que pegou o microchip certo?
— Calma Katniss, ele ta fazendo o trabalho dele... – Peeta quer apaziguar minha impaciência, mas sei que ele também está quase à flor da pele.
— Eu... – o moço hesita, gagueja – eu não sei o que está errado. É o chip da Ellen sim, mas não aparece a ficha dela. Desculpa, eu sinto muito.
— Como você, a equipe de dados, cuidará dessa questão?
— Teremos que entrar em contato com a equipe dos arquivos populacionais, não sei dizer quanto levará senhor Mellark.
— Está certo, não se preocupe. Eu e Katniss daremos algum jeito.
Eu e Peeta apertamos a mão do garoto e eu me apresso pra sair daquele prédio, afinal eu preciso voltar pra prefeitura.
— Ei, Katniss...
Após me despedir eu me viro ao escutar sua voz. Olho pra ele parado do outro lado da rua.
— O que?
— Bonita a blusa.
Sorrio e volto a caminhar apressada, sem correr.
•••
“Fique a vontade senhorita Everdeen”
A única frase que Thompson dirige a mim sem um rancor na voz.
É obvio que ele não aceita minha presença nessa reunião super séria. Estou aqui há uma hora na sala de reuniões da prefeitura; Paylor, Thompson, secretário de segurança do Doze, a presidente do departamento dos arquivos populacionais e dois executivos de tecnologia. Nossa presidente comanda a reunião, mas dá a palavra ao secretário de segurança. Ele explica que foi contatado pela Capital e informado dos fugitivos políticos que ainda são um mistério, isso é direcionado a mim: homens e mulheres de confiança de Snow foram condenados por crimes cometidos durante o seu governo (como perseguição e assassinatos), porém alguns conseguiram fugir no dia que eu enfiei uma flecha na cabeça dele e hoje estão infiltrados na sociedade com novos nomes e talvez novos rostos, possivelmente organizando uma sociedade secreta para o governo Snow a retomar o poder. Mas isso é só uma possibilidade, o secretário garantiu em todo seu discurso que essa hipótese jamais deve ser descartada e devemos estar preparados para tudo mesmo sem provas concretas.
Para finalizar ele explica porque trabalhou com os engenheiros de TI, essa é a profissão dos dois nerds de tecnologia, e a presidente do arquivo populacional; Paylor autorizou que todos os arquivos fossem revistos e se preciso alterados, para isso foram necessários meses de pesquisas e estudo detalhado de cada página, cada nome e sobrenome de quem vive ou já viveu em Panem antes e depois da última revolução. Isso é uma das estratégias para tentar localizar os fugitivos. E essa é verdadeira razão da vinda de Paylor, ela na verdade veio verificar como andam os novos registros populacionais junto com os nerds e o evento foi distração para que uma equipe trabalhasse na implantação de sistemas de monitoramento diário em cada prédio que utilize ferramentas ligadas ao Acesso Populacional Oficial, em outras palavras: qualquer local que empregue funcionários de dentro e de fora do Distrito.
— Foi visto que tudo ocorreu como planejado desde o inicio do projeto, não restam dúvidas que esse monitoramento ajudará na captura dos fugitivos. Parabenizo todos vocês. Agora que a nossa atenção deve se voltar a você, Katniss. – diz Paylor tocando meu ombro.
— Como é? – estou surpresa e ainda engasgando na digestão dessas novas informações, de fato não sei como posso ser de alguma importância nessa reunião.
Ela examina uns papeis na mesa e faz uns rabiscos neles, Thompson me fita enojado.
— Sim Katniss – Paylor prossegue – estou particularmente curiosa quanto ao seu interesse repentino sobre a família Willbourn, deram bastante trabalho na pesquisa para refazer os Arquivos.
Tomo coragem e começo a falar sobre minha visita com Delly aos arquivos, quando sou questionada sobre a motivação da pesquisa Thompson explode contra mim.
— É inacreditável! No meio de uma reunião importante somo expostos a drama adolescente – ele bate na mesa e espalha os papeis que lia constantemente.
— Thompson, contenha-se. – Paylor demonstra calma
— Não, eu não vou me conter! Enquanto temos algo inadiável a discutir perdemos tempo com a traição do revolucionário? Desculpe querida, o rapaz te traiu e você tem que lidar com isso. Cresça!
— Dobre sua língua a falar de mim, seu palhaço! Quem você pensa que é? – me levanto e apoio as mãos sobre a mesa inclinando meu corpo em sua direção, ele está sento na minha frente
— Sou alguém que deseja utilizar a reunião pra motivos sólidos – ele mexe nos papeis procurando por um, noto que guardam as pautas da reunião – Aqui está, vejam só um assunto digno de estarmos aqui – ele estende uma folha para que todos possam ver – Vamos falar disso, vamos falar do famoso paradeiro de Geoffrey Coriolanus Snow!
— Quem? – pergunto sem ter certeza de querer a resposta
— Mark, ela ainda não soube... Se acalme agora! – Paylor ergue a voz mostrando toda sua liderança e Thompson se cala. Em segundos ela recobra a face serena e se dirige a mim — Geoffrey é um dos fugitivos mais preocupantes, é filho do Snow e sumiu.
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