Ele soltou minha mão e voltou a trabalhar no bolo, que estava muito lindo e parecia delicioso. Encontrei uma cadeira perto da mesa e a virei de frente pra ele antes de me sentar. Por algum tempo me deixei levar ao vê-lo se dedicar aos desenhos de conchas que fazia ao redor daquele bolo imenso. Mesmo não sendo a primeira vez que o via assim: tão concentrado, expressão séria e tensa enquanto suas mãos se moviam com leveza; eu apreciava muito estar ali.
- Achei que você preferisse ficar sozinho confeitando, ao invés de conversar com alguém - falei de repente, quebrando o silêncio
- Prefiro mesmo ficar sozinho, mas é diferente quando se trata de você.
- Por quê?
- Não sei explicar, mas só me sinto a vontade com você me observando trabalhar. Com mais ninguém.
Peeta sempre dizendo essas coisas bonitas, que por mais que eu goste de ouvir me fazem mal já que eu não sei dizer nada nem parecido. Então eu somente sorri com um rubor inevitável, ele retribuiu meio discreto e meigo. E fez meu coração bater diferente. Mais uma hora ou duas? Não sei mais quanto tempo passou, silêncio interrompido apenas por algumas trocas de palavras e olhares. Pode parecer pouco, mas é importante para mim. Peeta estava quase terminando agora, e já exibia uma expressão satisfeita no rosto. Mas essa expressão logo se desfez.
- Droga! Não acredito…
- O que foi Peeta?
- Pode me fazer um favor?
Ele falava bem rápido e secamente, suas mãos estavam agora apertando com força a beirada da mesa e eu conseguia notar os seus braços tremerem levemente. Não podia deixar que isso me assustasse, pois se o fizesse deixaria o Peeta ainda mais nervoso.
- Qualquer coisa.
- Ali no armário, pega um vidrinho pequeno com a tampa azul. É corante. Traz aqui.
Fiz o que ele disse antes de entender o que houve. Mas era simples, o chantilly colorido tinha acabado, mas o bolo não. Peguei também uma vasilha de chantilly ainda branco na geladeira e deixei em cima da mesa. Tudo sob controle, era só pôr o corante e misturar.
Ele pegou o vidro de corante de cima da mesa e me olhou, me mantive ao seu lado e pousei a mão em seu ombro.
- Coloco 5 gotas. Verdadeiro ou falso?
- Eu não sei Peeta, sinto muito.
Uma crise agora não, tomara que eu esteja errada embora seus olhos denunciassem a verdade.
- Se acalma e tenta pensar direito.
- Como? Eu tento lembrar, mas não consigo, a minha cabeça dói.
Ele empurrou agressivamente a vasilha e o vidrinho, por pouco não acertou o bolo, os tremores invadiam suas mãos que esfregavam sua cabeça como se limpasse a dor. Enquanto eu, não sabia o que fazer.
Eu precisava ajudar, por ele e por mim, era duro demais assistir a uma crise, mesmo que seja ainda pequena como essa. Não conseguia me lembrar de nada do que uns médicos disseram sobre o que fazer pra amenizar, na verdade eu me esqueço facilmente até do que médicos receitam para mim. Então eu tinha que agir por impulso, era o único jeito e melhor do que não fazer nada pra ajudar, eu tinha que tentar… Me aproximei dele e pus minhas mãos no seu rosto.
- Peeta, se concentra. Olha pra mim.
Demorou, mas enfim consegui a atenção dele, que continuou calado parecendo confuso.
- Vem aqui…
Segurei suas mãos entre as minhas e o conduzi até a cadeira onde eu estava antes, me abaixei para ficar da altura dele.
- Não é hora de agir assim, vai estragar tudo agora? Falta tão pouco pra terminar o presente do Finn.
Acho que fui um pouco dura, mas Peeta precisava ouvir a verdade, é importante para que ele confie em mim.
- Eu não queria ficar nervoso Katniss, eu juro que…
Me aproximei mais dele, seu pulso já estava desacelerando e os tremores passando, mas seus olhos ainda me preocupavam.
- Xiu, você não tem que se explicar e sim se acalmar.
Alcancei seu rosto e encostei meus lábios nos seus, dei um beijo rápido e logo me afastei. Acho que fez efeito, notei que ele já voltava a si quando me levantei.
- Vai, levanta daí. Eu tive uma ideia pra gente resolver isso.
- Essa ideia inclui mais beijos?
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