*Melody P.O.V*
- Vais para o hospital? - a voz do Luís fez-se ouvir no quarto do Adam. Larguei a camisa em cima da cama e virei-me para ele que estava encostado à porta.
- Acho que sim - disse.
- Desde que ela acordou que pareces estar a evitá-la. - Um arrepio correu na minha espinha.
- Porque dizes isso? Ela só está acordada a umas horas e esteve com os pais.
- O Adam foi para lá também.
- Sim, eu percebi. - Virei-me novamente para a cama e peguei na pequena mala que tinha pousado ali quando entrei.
- Pensei que estivesses ansiosa para ela acordar. - ouvi a voz dele cada vez mais próxima e deduzi que estivesse atrás de mim. - Como estiveste lá tanto tempo como o Adam.
- E estou! Quer dizer, estava. Ela está acordada. - Disse rapidamente sem me virar porque sabia o quão perto ele estava.
- Mel, olha para mim. - ele tocou no meu ombro e criou um choque que percorreu o meu corpo.
Virei-me lentamente para constatar o que imaginei, ele estava a menos de um passo de distância do meu corpo. Ele era ligeiramente mais alto que eu, não passava de uns centímetros, talvez menos de cinco. Encontrei o olhar dele e segurei-o até ele quebrar o silêncio.
- O que se passa aqui? - ele sussurou ainda que estivesse perto demais.
- Eu não sei. - suspirei sem parar de o encarar. O meu telemóvel tocou, tirando-nos daquele ambiente.
- Atende, eu estou à tua espera lá embaixo para irmos ao hospital. - E saiu sem que eu pudesse responder-lhe.
Decidi atender o telefone mas não vi quem era.
- Sim?
- Mel! Como estás?
- Han? Isabela?! És mesmo tu?
- Não acredito que apagaste o meu número. Lá porque eu fui estudar para longe não tinhas de me apagar!
- Dramática como sempre! Eu não te apaguei, estava hum... Ocupada. E atendi o telefone à pressa.
- Está bem, está bem. Adivinha quem vai voltar para a cidade?
- Estás a brincar!
- Não, estou a ser muito séria! O meu avião aterra amanhã às 15h.
- Eu vou ter contigo!
- Espero que sim! Até amanhã!
- Até amanhã!
*Charlotte P.O.V*
- ... no entanto ainda temos de fazer alguns testes e exames. - Uma enfermeira estava a explicar-me o que eu ainda tinha de passar até poder sair do hospital.
- E quanto tempo é que isto vai demorar? - perguntei já impaciente.
- Menina, você entende que saiu de um coma de 3 anos, não entende? - a enfermeira terminou de mudar o meu saco de soro e encarou-me à espera de uma resposta.
- Foi isso que me contaram..
- Normalmente, depois de 6 meses, as pessoas não voltam a acordar. Não quando os níveis de atividade cerebral estavam tão baixos como os seus.
- Quão baixos? - perguntei a medo.
- Baixos o suficiente para não ter qualquer tipo de resposta.
- Zero? - perguntei chocada.
Quando a enfermeira abriu a boca para me responder, a porta do meu quarto foi aberta.
- Como está a minha menina hoje? - o meu pai entrou sorridente no quarto com um balão azul com as palavras 'I love you' escritas a rosa. - Ah, peço desculpa, não sabia que ainda estavas a fazer exames, volto mais tarde amor.
- Não se preocupe, estava mesmo de saída. - A enfermeira saiu rapidamente do quarto sem responder à minha pergunta.
- Como estavam os meus níveis de atividade cerebral antes de eu acordar? - perguntei depois de sentir um beijo no alto da minha cabeça.
- Querida, isso não importa agora! Tu estás bem, isso é que é importante.
- Sim mas porque é que todos evitam dizer-me? - perguntei sinceramente.
- Não estamos a evitar dizer-te para que não saibas. Só queremos que não te preocupes com coisas passadas.
- Há coisas passadas que não conseguimos evitar.
- Tens razão querida. - ele deu-me um abraço. - Assim que soubermos os resultados dos testes, nós dizemos-te.
- Tudo bem. Onde está a mãe?
- Ela teve de ir comer! Sabes como ela é, apressada para sair de casa mas não se lembra de comer.
- É bem típico dela - sorri.
- Já falaste com a Melody? - o meu pai perguntou.
- Hum, ela não esteve aqui nunca. Eu pensava que ela era a minha melhor amiga. - disse enquanto encarava as minhas mãos.
- Não esteve aqui nunca?! - o meu pai perguntou surpreso, chamando-me a atenção. - Ela esteve cá tanto tempo como o Adam! Eles foram um grande apoio um para o outro enquanto estavas desacordada.
- Então porque é que ainda não a vi? - perguntei confusa.
- Estás acordada à menos de 24 horas. Ela foi para casa com o teu irmão descansar. Têm sido umas longas horas.
- Por falar nele, também não me lembro de... Não, ele estava aqui quando acordei! Era ele não era? - perguntei. Uma névoa enorme aparecia quando tentava lembrar-me das coisas.
- Sim, era ele. O Adam estava em casa dele com a Melody. Quando acordaste, o teu irmão passou a correr por nós em direção à saida. A única coisa que ele disse foi 'Ela acordou'.
- Então ele chamou o Adam e a Melody.
- Sim, foi isso.
- Então porque é que ela não veio também?
- As regras dizer que só pode estar uma pessoa no quarto e tudo isto apenas nas horas de visita. Tu foste uma exceção porque és o pequeno milagre deste hospital.
- Isso tem algo a ver com o tempo em que estive em coma ou os meus níveis de atividade cerebral durante esse tempo?
- Sim.
Embora estivesse curiosa, não insisti mais. Mais tarde ou mais cedo eles iriam contar-me.
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