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História Everything - Saturn


Escrita por: Xodott564

Notas do Autor


Olá, voltei!
Tudo bem com você? Espero que sim, confie em si mesmo.
Eu comecei a escrever este capítulo em outubro do ano passado, mas prometo que este é o último com tanto tempo desde o nascimento.
Bom, eu só posso desejar uma boa leitura!

Capítulo 3 - Saturn


Fanfic / Fanfiction Everything - Saturn

Se o interesse das pessoas, humanos em um geral, fosse realmente entender o universo, até onde eles iriam para que isso acontecesse? Nenhum ser da Terra, em hipótese alguma, conseguiu chegar ao fim de tudo e realmente entender a realidade, o tempo, a existência e a verdade em toda a definição de infinito do tudo. É um mistério o que acontece depois da morte e antes da formação da matéria corpo e da mente.

Mistério, segredo e mais um monte de palavras que definem algo que está oculto e longe do conhecimento do ser que está tentando desvendá-lo, explicam, literalmente, o que é o tudo.

Meu nome é Lee Jeno. Eu também ainda não fui capaz de entender o que é o tudo. Não tenho uma noção leve do que é, estou bem longe disso, na verdade. Eu, e mais alguns trilhões de pessoas. Se eu fosse adaptar a história para algo que os humanos estejam acostumados, passariam horas e nenhum dos seres naturais da Terra entenderia o que eu quisesse dizer. Então, para facilitar o entendimento do alguém que estiver a ler estes escritos, eu decidi me comunicar como um "terráqueo".

Okay, qualquer um dos vivos de minha espécie diria ou escreveria algo assim, eu não. Eu não sou assim.

Bom, digamos que as coisas que acontecem no planeta em que os humanos imaginam que seja o único onde já existiu vida racional, sejam realmente surpreendentes. Como exemplo eu posso dar a necessidade que eles têm de seguirem um padrão. Não era assim antes e, sinceramente, isso não deveria ter mudado.

A vida, acredito que de todos, ou da maioria dos "seres vivos", era muito feliz. Os planetas, agrupados no algo que os humanos chamam de Sistema Solar, eram todos habitados, sem exceção. Alguns seres vivos também gostavam de morar nos lugares pouco habitados, longe das sociedades, e ninguém julgava isso. As diferenças de cada um eram respeitadas, se tornavam normais. Na Terra não era assim. Lá era o único lugar onde ser diferente era um problema.

Eu era um natural de Netuno. Algo engraçado é que, os terráqueos têm enorme dificuldade em ver algo e não nomeá-lo. Por exemplo, "planeta", uma palavra totalmente aleatória que, na prática, perde o total sentido da literalidade. Mas, enfim, deixando de lado esse parêntese, Netuno era um lugar incrível.

Aquele era o espaço onde os sonhos se realizavam e em todo momento os seres vivos tinham grandes sorrisos em seus rostos. E isso não é um exagero. Eu amava viver lá. Amava olhar para o horizonte e não ver nada além de azul escuro e luzes bonitas e brilhantes que eram resultado do reflexo do Sol que agia de fora à fora.

Também era maravilhoso olhar para qualquer lugar e ver seres de outros planetas chegando para visitar, levar outros seres e fazê-los sorrir. Quem nascia em Netuno era considerado alguém de personalidade bonita, solidária e companheira. Confesso que tinha certo orgulho de ser um pouco do que todos falavam.

Era incrível como ninguém se importava se um natural de Netuno não fosse o estereótipo que era dito por ali. Ninguém ligava para isso. Como eu falei antes, as diferenças eram respeitadas, aceitas, acolhidas e, depois, todos viviam em completa harmonia e na honestidade do que deveria ser o que o "destino" desejava.

Já os seres de Saturno, eram respeitados por seus sorrisos grandes e bonitos. Famosos e bajulados por terem cabelos coloridos e macios. Também eram praticantes de diversos esportes e atividades diferentes, extremamente criativos. Seres muito ativos e dignos e detentores de muito respeito por seus físicos admiráveis. Exatamente como era em todos os lugares antes da mudança que causou a catástrofe, era normal não seguir os "padrões".

Cada planeta tinha suas especulações. Mas só sabia mesmo o que era real quem morasse lá ou em planetas próximos. Eu tive a oportunidade absurda de morar em todos os do Sistema Solar e, em cada lugar, mais de metade da população não seguia aos rumores. O que prova que o hábito ruim que os seres da Terra tinham de fofocar, só traziam mentiras para si mesmos e para todos os outros planetas.

Em Plutão, os seres eram baixos e de proporções pequenas. Isso acontece devido ao fato de o planeta ser pequeno e não poder abrigar muitas coisas, era uma reação natural e saudável. Também eram bonitos e extremamente inteligentes. Passavam bastante tempo calados, apenas observando e colecionando ainda mais conclusões filosóficas e poéticas para suas listas infinitas. Eram ótimos com palavras e bons companheiros em momentos difíceis.

Em Mercúrio, os seres tinham as características de seu próprio planeta: peles brilhantes, cabelos regularmente azulados, olhos claros e cheios de pontos de luz. Eram famosos por terem peculiaridades que nenhum ser de qualquer outro planeta poderia ter. Um exemplo, era aguentar a luz do Sol por tempo indeterminado, já que a localização contribuía para aquilo.

Vênus era o planeta com seres mais brilhantes e talentosos. Em Marte, os seres tinham os cabelos vermelhos e claros. Em Júpiter, eram extremamente altos, fortes e ativos. Em Urano, as peles levemente azuladas e temperatura corporal baixíssima.

A maioria dos seres dos planetas, satélites naturais e planetas anões, viviam em completa paz e companheirismo. Só que na Terra e em seu próprio satélite natural, vulgo Lua, isso não funcionava assim. Lá os vivos eram arrogantes, malvados e não respeitavam as diferenças. Lá, o gênero masculino tinha vantagem absurda em todas as coisas. Se seres do mesmo gênero tivessem vontade de construir um relacionamento amoroso, seriam julgados até a morte. Enfim, ninguém queria ou gostaria de viver lá. Era algo terrível para se fazer.

Mas, como eu especifiquei antes, a mudança chegou, e de uma forma extremamente rápida e surpreendente. Foi num dia comum, onde cada ser cumpria suas funções e vontades, que eu estava sentado ao lado de um dos meus melhores amigos, Huang Renjun, natural de Plutão.

Quem completava nosso pequeno grupo de seres inseparáveis, em sua mais completa majestade, se chamava Na Jaemin, nascido e crescido em Saturno. Em um momento aleatório, o Sol se punha no horizonte dos grandes anéis, ele apareceu do nada em nossa frente, afobado e claramente tentando falar algo. O Renjun logo se estressou, na maior normalidade do nosso dia-a-dia, como na maioria dos nossos momentos, e mandou o Jaemin calar a boca se não fosse falar algo descente.

– Se levantem, não podemos ficar aqui! – Jaemin estava desesperado. Gesticulava mais do que o normal e dava para claramente ver o pânico em seus olhos.

– O que aconteceu, Nana? – Renjun raramente chamava Jaemin daquela forma. Ele só fazia aquilo quando precisava lhe acalmar e nunca percebia.

– Aqui... – Apontou para os anéis, que refletiam a luz solar quase que em completa semelhança à original. – As atmosferas da maioria dos planetas estão se auto-destruindo. A maioria dos satélites explodiu, de repente. Plutão, Netuno, Urano e Júpiter perderam todo o ar. A previsão é que os demais planetas, exceto a Terra, também percam nos próximos minutos. Vocês estão sentindo? O ar está começando a ficar rarefeito. Temos que sair daqui, idiotas! Se levantem!

Bom, depois disso, as coisas se resumiram à multidões correndo desesperadas pelos planetas, gritos de pavor e tentativas de salvamento mútuo em todos os cantos. Levaram exatos cinco anos terrestres para que tudo se estabilizasse. Neste meio tempo, aproximadamente quatro trilhões de seres de todas as mais distintas culturas, perderam suas vidas. Era colossal o desespero estampado nos rostos de todos e a tristeza evidente em seus olhos.

Apenas quatro milhões de vivos que não eram da Terra conseguiram continuar. Todos entaram num consenso de que seres nascidos da junção de uma cultura com outra não deveriam saber o que realmente aconteceu. Tudo foi encoberto. Cada parte do que levaria qualquer terráqueo à caminho da verdade e do conhecimento foi mantido em segredo e, consequentemente, anos depois, esquecido.

Quem conseguiu se adaptar à Terra, viveu pelos próximos bilhões de anos de forma lenta e viu tudo mudar. Eu, Jaemin e Renjun vimos grande parte disso de perto, como telespectadores. Nossos avós, pais, irmãos, tios, primos, os outros amigos, todos morreram. Os primeiros dias na Terra se resumiram à lágrimas e lamentações silenciosas por parte de todos. Depois, revoluções foram feitas, a Terra se tornou pior do que já estava.

Primeiro, seres de diferentes raças e espécies foram criados geneticamente, em laboratórios. Tinham os que andavam pelo chão, os que rastejavam, os que viviam na água e os que voavam. Porque eles nunca estavam satisfeitos. Sempre queriam mais, criavam e, em seguida, destruíam, em um ciclo vicioso.

Cinco milhões de anos depois, os humanos  que eram como chamavam os seres racionais nascidos na Terra com interferência de outros planetas, passaram a considerar Plutão um planeta-anão, como Éris ou Ceres. Renjun passou dias triste. Ele não falava para mim ou para Jaemin o que estava sentindo, se fechou em sua própria existência e esqueceu que podia contar conosco para qualquer coisa.

Em um dia comum, onde as partes da Terra destruídas pelo ser humano só deixavam claro o quanto aquela era uma raça ruim, estávamos eu e Renjun na sala-de-estar da casa que dividiamos com Jaemin. Ele estava deitado no sofá com a cabeça apoiada em um de seus braços. Eu estava consideravelmente longe de seu corpo e um silêncio tenso era mantido alí. Aquilo acontecia de vez em quando, quando nós brigávamos. Mas, aquele não era o caso da vez, sabia que o motivo era a notícia sobre o planeta dele.

Jaemin chegou em casa minutos depois, com um copo de café nas mãos, quase na metade. Ele tinha descoberto uma nova paixão ao se mudar para a Terra, dizia amar aquela bebida e ingeria ao menos três litros por dia. Era algo surreal.

Já foi logo achando um lugar confortável no tapete felpudo no chão, se ajoelhando na frente de Renjun e fazendo carinho no cabelo dele, no seu jeito mais excêntrico de ser. – O que aconteceu? Por que não está conversando com o Jeno? – Ele demorou para responder, apenas fechando os olhos e aproveitando a suavidade das mãos de Jaemin sobre sua cabeça.

– Me desculpe, Nono. – Ele pediu e eu me sentei ao lado do Na, no chão.

– Tudo bem. Mas, sabe que pode nos dizer o que está sentindo, não é? Faria bem para você. – Lhe perguntei e o vi assentir, ainda com os olhos fechados.

– É só que... eu queria que tudo voltasse a ser como era antes. – Abriu os dois olhos. Não estava chorando, mas sua frustração era altamente evidente. – Dias atrás eu vi o Jaemin tentando enxergar Saturno pelo telescópio. Eu tenho toda a certeza que me cabe, de que você está com muita saudade de lá, Nana. E Nono, a temperatura deste lugar nunca vai nos deixar acostumados. – Sorriu. – Nossos planetas são os mais distantes do Sol. – Seu sorriso se desmanchou e ele fechou os olhos novamente. – Eu queria poder fazer de novo o que nós fazíamos antes. Um exemplo é, eu queria ver o pôr do Sol de Saturno de novo, só que sem medo de não pode fazer novamente. E, por mais que nós só tenhamos ficado com medo uma vez, ainda é relevante.

Ele chorava, e Jaemin também. Meus olhos ardiam e eu também quase que estava tendo uma síncope de choro, quase entrando em desespero. – Eu amo vocês, obrigado por continuarem ao meu lado. – Renjun nunca falava que nos amava. Ele só tinha dito aquilo uma vez, quando decidiu que não iria mais se mudar de dimensão, desistindo de uma ideia absurda que tinha sido oferecida à ele quando viajou à trabalho para Mercúrio.

– Nós também te amamos. Sentir falta dos lugares em que vivíamos antes é algo natural, mas, nós ainda podemos nos adaptar. – Jaemin lhe falou e ele assentiu.

Depois, Huang se levantou e abraçou nós dois, um de cada vez e depois juntos, apertado. A partir daquele dia, as coisas ficaram um pouco ruins.

As sociedades espalhadas pelo planeta decidiram que tinham que escolher líderes, para todas elas. Foi uma confusão enorme até os humanos chegarem a uma conclusão. Muitos anos até a escolha ser permitida para todos. Mas, a reviravolta maior aconteceu quando Jaemin começou a se sentir mal.

Eu me lembro exatamente de quando nós descobrimos aquilo. Eu e o Jaemin estávamos discutindo, muito alto, porque eu tinha ganhado uma batalha de videogame que estava valendo o prêmio de "não ajudar à fazer o almoço por três semanas". Não era grande coisa, mas muito importante para nós, que éramos dois idiotas procurando por algo para esquecer do trabalho.

– Nossa, eu vou merendar vocês na porrada, sério. – Nós ouvimos a voz de Renjun, que no seu vocabulário único, chegava na sala exalando beleza e majestade, com três livros e dois cadernos nos braços.

– Por que nos bater se você pode nos beijar? – Jaemin lhe interrogou e recebeu um olhar de ódio, foi engraçado vê-lo erguer as mãos em um pedido de desculpa silencioso.

– Vão me dizer o motivo desta discussão? – Cruzando os braços com tranquilidade, ele perguntou.

– Nós apostamos algo no videogame e o Jaemin não quer aceitar a derrota. – Expliquei, juro que aquilo fazia sentido em minha cabeça.

– Eu não fui derrotado, idiota! Você acabou com meu jogo porque tirou a merda do cabo da tomada! – Ele estava bravo, Renjun não ligava e eu pensava estar certo.

– Já que você pensa ter um ponto, me diga o que nós devemos fazer. – Pedi, juntando as mãos atrás do corpo e erguendo a cabeça em sua direção.

– Você está conseguindo me irritar. – Confessou, olhando em meus olhos. Os seus pareciam arder em chamas e eu confesso que estava ficando com medo.

– O que você vai fazer? – Perguntei e o vi se aproximar em passos lentos. Sua altura era a mesma que a minha e eu consegui ver claramente ele fechando as duas mãos em punhos, forte.

– Você não quer saber, Jeno. – Nós escutamos Renjun rir de escárnio e o olhamos ao mesmo tempo. Ele estava sentado no sofá principal da sala, ainda com os braços cruzados e os olhos parecendo brilhar.

– Vocês dois são tipo uma versão piorada do Capitão América e do Homem de Ferro. – Comentou, se levantou e tirou o cabelo dos olhos, sem aparentar ter a mínima vontade de o fazer. – E eu só conheço eles porque fui obrigado a viver aqui. – Abriu aquele parêntese, com um sorriso que beirava ao maligno. Ele era assustador. – Não testem a minha paciência. – Pediu, ficando entre nós dois e não se deixando abalar pela clara diferença considerável de altura. – Vocês não querem me ver irritado.

– Quem disse? – Jaemin provocou, com um sorriso irritante que morreu assim que recebeu um olhar de Renjun do qual eu prefiro não descrever. – Desculpa, desculpa, me desculpa. – Ele suplicou e o Huang se afastou de nós, parecendo satisfeito pelo seu ato nobre de ter nos feito parar de brigar.

– Vamos assistir à um filme? – Convidou, se sentando no sofá novamente e pegando o controle que estava na mesa de centro.

– Você quer consumir algo feito pelos humanos? – Perguntei indignado, sem a mínima pretensão de esconder aquilo.

– Isso. Você disse que o que era feito pelos humanos jamais deveria ser consumido por qualquer ser que tenha a mínima racionalidade. Com estas exatas palavras! – Jaemin também expressou sua surpresa, balançando os cabelos cor de rosa. Eu ri e ele me olhou sorrindo, antes de fazer o bonito curvar em seus lábios morrer e passar um dos dedos lentamente pelo pescoço, simulando algo que eu queria não saber o significado.

– Injun, o Jaemin quer me assassinar. – Apontei, expressando indignação.

Ele soltou uma risada assustadora e se levantou do sofá, aproximando-se de nós novamente.

Adios, odeio vocês.  – Renjun saiu pela porta da frente com a expressão neutra, nos deixando completamente sozinhos de novo.

– Jeno, preciso te contar uma coisa. – Jaemin falou depois de algum tempo, me encarando, frente a frente.

– O que? Para onde o Renjun foi? – Perguntei, ainda sem estar desesperado.

– Eu não sei, mas já contei para ele o que também preciso contar para você. – A última vez que eu vi Jaemin agir daquela forma, com frustação estampada na voz, foram nos primeiros momentos de adaptação ao planeta Terra. Algo ruim com certeza tinha acontecido.

– O que aconteceu? Por que você parece tão triste? – Fiz mais uma pergunta e ele sorriu, parecendo achar graça da minha reação.

– Bom, eu não estou triste. Acho que já fiz tudo o que sempre quis, que é ficar com vocês. – Ele se sentou numa das poltronas na sala e me olhou de baixo. Eu não pude controlar a felicidade em mim e abri um grande sorriso em sua direção. – Você sabe que a atmosfera da Terra é bem diferente das dos nossos planetas, não é?

Inclinei a cabeça, muito confuso sobre o que ele queria conversar. – Os gases de Saturno se equilibram de uma forma muito diferente à Netuno, ou Plutão, ou Júpiter, que também possuem o gás hidrogênio. – Ciências, Jaemin amava ciências, com todas as suas forças. – Hidrogênio e oxigênio são compatíveis, eles formam a água. Só que existe metano na atmosfera de Saturno, isso influencia na ação do hidrogênio. Oxigênio, consequentemente, não faz bem para nós.

– E muito menos para você. – Disse após calcular com os dois neurônios que ainda me existiam.

– Exato. Você já deve imaginar sobre o que eu estou falando. – Jaemin respondeu e eu senti o tempo parar, naquele momento em específico.

E ele só estava ali, com as pernas cruzadas e sentado em uma poltrona preta, não demonstrando qualquer tipo de tristesa, ou arrependimento, ou frustração. Ele continuava com a cabeça erguida e expressava confiança. Jaemin tinha aceitado que iria morrer.

Antes de deixar que o último suspiro saísse por seus lábios, deitado na cama com o rosto pálido e sendo cuidado por mim e por Renjun, disse que nos amava e pediu para que nós fizéssemos mais do que esperar. Eu apenas chorei, muito, sem saber o que pensar ou fazer. Tudo parecia doer e eu não tinha ideia do que fazer para que algo acontecesse. E, ao contrário do que tinha sido o último pedido de Jaemin, nós esperamos.

Essa é uma das coisas que eu mais me arrependo de ter feito, esperado. Aquilo só causou mais dor. Não pensar, não calcular e não bolar um plano, fez ser pior a dor da perda. É meio óbvio que a ideia de voltar ao passado tenha sido inicialmente minha. E é um absurdo nós não termos pensado no que fazer depois.

Porque, por mais que o futuro seja algo imprevisível, ainda é possível fazer um cálculo, por mais mínimo que seja. Por isso, quando tudo deu aparentemente errado, eu quis ter pensado no que fazer antes de agir. Confiança é necessário, e eu não confiava em mim mesmo.

Mas isso não é algo para contar agora. Voltando à Terra, nós vimos inúmeras gerações de humanos nascerem e morrerem. Vimos o planeta ser populado e destruído por esses mesmos, que não pareciam ter qualquer tipo de mentalidade. E pode ser algo duvidoso nós termos vivido por tanto tempo, mas é explicável. Fora dos planetas de natureza, um ser poderia viver por tempo indeterminado, isso se não voltasse para onde nasceu.

Nós só precisávamos ter levado Jaemin até um dos planetas com atmosferas semelhantes a Saturno ou, até mesmo, ao vácuo do espaço, onde ele tinha a capacidade de respirar. Claro que isso não foi possível, as coisas na Terra eram difíceis. E, aparentemente, nenhuma outra alternativa era possível. Renjun talvez tenha mais racionalidade e inteligência que eu. Só talvez.

Aí, a mudança chegou. E ela não foi o fato de nós termos mudado de planeta, mas sim, o acontecimento que ocorreu numa noite chuvosa na cidade em que morávamos. Um indivíduo, de aproximadamente vinte e cinco anos terrestres, tinha feito a proeza de desaparecer sem deixar rastros. Aparentemente, após ter se ouvido uma sirene alta, e um tipo de luz muito forte ter sido emitida direto de sua casa, sendo capaz de desformar a névoa densa que assombrava a cidade, ele sumiu. Os humanos ficaram apavorados, óbvio. Qualquer coisa que fosse desconhecida por eles, era motivo de alarde e pânico, por um público geral. Isso era um problema, porque assim, ninguém chegaria ao fundo da questão. E quem disse que o medo foi encerrado por parte deles?

Muito pelo contrário. Naquela mesma cidade, foi imposta a lei de que qualquer um que descobrisse o que aconteceu, tinha o direito de receber uma quantia grande do método de economia predominante lá. Virou um dos maiores mistérios policiais já vistos. Os oficiais que trabalhavam comigo tentavam a todo custo desvendar o que aconteceu. E, todos os seres vindos de outros planetas, pela pouca racionalidade dos humanos, sabiam de tudo e não podiam contar.

Era engraçado ver eles se matando de trabalhar, preocupados com o que os outros lugares do mundo iam pensar e eu saber exatamente o que tinha acontecido. – Jeno, o que merda você está fazendo? – Kim Dongyoung era o único ser humano que eu já tinha conhecido, que valia a pena. Meu chefe no trabalho e a pessoa que me ensinou tudo o que eu sabia sobre as leis da Terra, que, vale ressaltar, era muita coisa inútil e desnecessária.

– Nada. – Fechei o aparelho eletrônico em cima da mesa numa atitude rápida, fazendo-o desligar. Eu só não queria que os humanos soubessem da minha fixação por tudo o que relacionava os outros planetas. Não que isso fosse algo ruim, mas o Renjun me fez prometer que não deixaria nada passar.

– Você não sabe mentir. E, preciso te contar uma coisa. – Ele me falou e eu me lembrei vagamente da ultima vez que tinha ouvido algo daquele tipo. Jaemin.

Doyoung, como gostava de ser chamado, fechou a porta da sala em que estávamos e a trancou, se sentando numa cadeira à minha frente logo depois.

– É algo grave? – Eu não sabia como reagir, era a primeira vez que ele me parecia tão sério, por mais que encarnasse a própria morte quando estava com raiva.

– Bom, diria que para você, é sim. – Admitiu, com um sorriso tão assustador quanto o de Renjun. – O que você acha dos anéis de Saturno? – Confesso ter arregalado os olhos e suspirado alto demais, mas isso nós vamos relevar. – Como eu imaginava. – Falou, depois de cinco segundos sem uma resposta da minha parte, cruzando os braços. – O quão bom era viver em Netuno?

Eu não respondi de novo, atônito demais, no meu próprio mundo e pensando no meu planeta. Que saudade que eu sentia dele. – Você não precisa responder se não se sentir a vontade. Eu não contei para qualquer pessoa e te garanto que pode contar comigo para o que precisar. Só, continue bem. – E saiu da sala, me deixando chocado com todas aquelas informações, sem olhar para trás.

Eu não vou comentar o que aconteceu depois, porque eu fingi ir até o banheiro, mesmo que eu não precisasse, e liguei para o Renjun, desesperado. Ele me respondeu, claro, mas de uma forma um pouco Renjun demais. – Nossa, Jeno, mas eu vou te matar. Muito.

– Eu juro que eu não deixei qualquer um perceber. – Sussurrei, para que ninguém do lado de fora do banheiro ouvisse. Humanos eram estranhos.

Meu amor, se isso não tivesse acontecido, não estaríamos tendo essa conversa. E aliás, você está me fazendo usar a porra de um celular. – Reclamou e eu precisei afastar o aparelho do meu ouvido para não ficar surdo.

– Me desculpe. Eu vou conversar com ele, isso nem faz sentido. – Falei e ele desligou depois de dizer que me amava. Em seguida, ouvi duas batidas na porta, seguido da voz que me fez tremer.

– Jeno, por favor. Eu sou literalmente um investigador policial à dez anos e, de quebra, nasci em Vênus. Eu posso te ouvir. – Ao escutei aquelas palavras, eu apenas respirei fundo e abri a porta. Sabe, quando você foi obrigado a viver num planeta ruim e seu chefe diz que nasceu em Vênus, você só aceita, entendeu?

– Oi Dodo... – Eu estava apavorado, aquilo me fazia sentir sendo atropelado ou, em outras palavras, querer chorar. Tentava não expressar com o rosto, mas sabia que não estava funcionando. Eu devia estar parecendo um cachorrinho assustado.

– Oi Nono... – Ele respondeu, cruzando os braços sob o uniforme azul escuro. – Você quer fazer alguma pergunta? – Parecendo bastante tranquilo, perguntou ao se encostar na parede do corredor que ficava na frente do banheiro. Eu saí de lá, suspirando de forma audível e morrendo de medo.

– Na verdade, sim. – Falei após algum tempo, depois de pensar um pouco. – Você se lembra quais são os passos para viajar interdimencionalmente? – Ele inclinou a cabeça, expressando confusão. – Quer dizer, sempre me disseram, enquanto eu crescia, que essa era uma prática frequente dos povos de Vênus e Júpiter. – Doyoung engoliu à seco e aquela foi a minha vez de ficar confuso.

– Eu sempre quis saber qual é a semelhança entre Vênus e Júpiter, em escalas metafóricas. – Confessou, olhou para os lados, provavelmente para ver se ninguém vinha de lá. – Eu sei o que você quer saber. Devo dizer que não é seguro.

– Por quê? – Perguntei, muito mais confuso que antes.

– Algo aconteceu no espaço-tempo desta dimensão. As coisas não funcionam mais como antes. – Contou e parou de falar ao ver um dos outros detetives vir em nossa direção. Lee Taeyong era tipo a pessoa que estava à altura de Doyoung em tudo, menos na altura. Com isso eu quero dizer que ele era o segundo ser mais perfeito daquele lugar.

– Ah, você não sabe do que está falando. Suas informações são muito parciais e superficiais. – Acusou à Doyoung, como se estivesse entretido naquela conversa à algum tempo.

– O quê? – Eu e o Kim interrogamos juntos, falando um pouco alto demais e recebendo um olhar estranho de Taeyong.

– A viajem interdimencional não é só perigosa, como pode tranquilamente acabar com a dimensão. – Explicou, olhando para mim e para Doyoung ao mesmo tempo. Eu estava entendendo nada.

– Espera, explique isso. – O natural de Vênus pediu, gesticulando e apontando para todo o corpo do Lee.

– Eu nasci em Mercúrio, se é isso que você quer saber. – Contou, eu só arregalei os olhos, chocado. Não que eu nunca tivesse visto um deles, mas, eram muito incríveis e, era surpreendente que algum deles tivesse sobrevivido à Terra.

– Ah, isso explica todo esse azul e essa sua pinta de Sol. – Doyoung implicou e Taeyong deu língua para ele, pareciam duas crianças.

– Vamos parar? – Perguntei, e tinha certeza absoluta de que era o mais novo ali. – Como assim existem riscos num portal? Isso não faz sentido.

– Eu sei. – Admitiu, abaixou a cabeça e depois a levantou de novo, parecia levemente triste. – A linha do tempo foi bagunçada, por algum ser de uma dimensão muito distante. Não foi localizado e nem visto por qualquer um.

– Como? O que ele fez? – Doyoung perguntou antes de mim, curioso.

– Não existe uma certeza, mas só se sabe que dois portais foram abertos ao mesmo tempo, no mesmo lugar. E que levavam para o ponto de encontro entre tudo. Ou seja, foi mais de um ser que fez essa proeza. – Explicou, perdendo seu sorriso que antes parecia inabalável.

"Isso fez com que as passagens de uma dimensão para outra só sejam possíveis de serem abertas, uma única vez. Se aberto pela segunda vez, o portal vai acabar com a dimensão. Isso já aconteceu algumas vezes, se vocês querem saber. Um ser de Urano tentou abrir um portal que levava para a dimensão X e depois tentou voltar, ele foi mandado para o 'ponto de encontro entre tudo' e a dimensão X foi resetada."

"O problema nisso tudo é que todos os espaços possíveis no nosso tudo e no que faz parte do conjunto de tudos, estão num ciclo que não pode ser quebrado à menos que sejam encontrados os seres que fizeram isso acontecer. Pode ser complicado, mas infelizmente é a verdade. Se um de nós abrir um portal nesta dimensão, não podemos voltar. Unicamente porque, se a dimensão for resetada, precisamos achar o exato tempo em que saímos daquela dimensão em específico. O que pode ser em qualquer linha do tempo e em qualquer realidade."

– Entenderam? – Perguntou, depois de lançar todas aquelas informações absurdas no ar de forma rápida demais. – Não é só perigoso Jeno, você não deve pensar em fazer algo desse tipo em hipótese alguma. – Olhando em meus olhos, avisou. Doyoung também me encarava, parecia preocupado e, naquele momento, eu só pensei em Jaemin.

Pensei em si e no desejo de fazer ele e Renjun felizes. Me considere um idiota.


Notas Finais


Obrigado por ter chegado até aqui. Sua leitura é muito importante para mim.
Neste capítulo, você conheceu os personagens mais importantes para mim nesta história. Eu coloquei muitas coisas sobre mim mesma neles, e foi um imenso prazer ter escrito cada uma dessas palavrinhas.
Ainda vai ter muito Norenmin nos próximos capítulos, porquê apesar das circunstâncias, eu ainda sou muito fã deles, juntos. E isso não me parece um problema.
Mas enfim, obrigado por ler. Tenha um ótimo dia, tarde ou noite. Seja ótimo!


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