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História Everytime - Capítulo 18


Escrita por: ghostin-lua

Notas do Autor


Esse é um dos principais/mais importantes capítulos da estória, então espero que gostem.

Perdoem qualquer erro e boa leitura 💕

Capítulo 19 - Capítulo 18


Fanfic / Fanfiction Everytime - Capítulo 18

● Alyssa Bieber

Chicago, Illinois

19 de fevereiro de 2019

16:55


Peguei o algodão doce, de cor azul, e andei para longe de Lewis, que pagava ao moço. Desviei de um casal que jogava vôlei, quando quase fui acertada pela bola. 

— Você anda muito rápido. 

— Você que anda muito devagar.

— Fica aí a questão. — ri fraco.

Andamos um pouco para o lado, até que meus pés tocassem a água gelada do Lago Michigan. Quando Lewis apareceu na minha casa com uma caixa de bombons e eu comecei a chorar instantaneamente, ele percebeu que eu não estava muito bem e então me convidou pra sair. Aceitei de bom grado, ficar em casa não ajudaria em nada.

Estávamos na North Avenue Beach, que apesar de ser umas das praias mais conhecidas de Chicago, estava quase vazia. Na verdade, tinha muita gente na areia, conversando, praticando algum esporte, jogando ou caminhando, mas ninguém se aventurou a entrar nas águas geladas do lago. 

— Você não quer? — ofereci o algodão doce.

— Não, obrigado, não gosto disso.

— Você não gosta de algodão doce? Qual seu problema? — fiz uma cara de ofendida.

— Isso é açúcar puro. — deu uma fraca risada.

— Mas é bom.— dei de ombros.

Não sei muito bem o que viemos fazer, mas é bom ver gente diferente, não estar presa em casa, andar na areia e simplesmente comer um algodão doce. Mas ainda queria saber porquê ele foi até a minha casa de livre e espontânea (?) vontade. Obviamente, ele queria saber sobre o incidente de ontem, mas parecia respeitar o momento, já que até agora não perguntou nada.

— Sabe, tem uns dois anos que eu não vou em uma praia normal. 

Observei que ele andava ao meu lado, com as minhas sandálias em mão — sim, eu tirei as sandálias, porque queria andar descalça, e ele se ofereceu a segurá-las; já ele ainda estava de tênis — e com a cabeça baixa.

— Praia normal? Isso aqui não é uma praia normal? 

— Você entendeu! — rimos.

— Quis dizer… praia de água salgada? Mar?

— Isso, está vendo que você entendeu. — dei risada. — Se você me dissesse para onde iríamos, eu não teria vindo de calça jeans.

— Nem eu sabia onde te levaria… podemos sentar? Não sei andar de tênis na areia.

— Deveria tirar. 

Caminhamos mais um pouco, até que sentamos em um lugar afastado, só tinha um grupo de adolescente perto de nós. 

— Vamos ficar até o pôr do sol? 

— Vamos ficar até quando você quiser.

Abri um sorriso de canto. Permiti a mim mesma, terminar de comer o algodão doce, antes de dizer mais alguma coisa. Quando acabei, embolei o saquinho e enfiei no bolso traseiro da calça.

— Não sabia que perdia um dia de trabalho só para ver uma funcionária rebelde.

— Rebelde? — rio pelo nariz.

Quando olhei para ele pelo canto de olho, percebi que encarava o grande lago a nossa frente. Fiz o mesmo.

— Eu fui trabalhar na verdade… só não consegui ficar lá. Queria ter notícias suas.

— Poderia ter ligado ou mandado mensagem.

— Você não me respondeu e… nem estava respondendo Katherine. Faltou um dia. Fiquei preocupado. 

— Oh, que fofo.

Fiz uma voz fina, ele bufou.

— Você está bem?

— Na medida do possível. 

Estendi as pernas e depois cruzei as mesmas. 

— Como está lá no jornal?

— Bom, você é o centro de todas as conversas.

— Ah, esse era o sonho de toda a minha vida. — encarei o céu azul, que estava sem nuvens. — Imagino que não deve ser… conversas legais.

— Todo mundo está meio confuso, ficam especulando mil coisas.

— Não posso culpá-los. — dei de ombros.

Suspirou.

— Pensei que ia perguntar como eu achei onde morava.

— Você já me levou até a minha casa, eu não deveria ficar surpresa. — balancei a cabeça. — Mas achei que não lembrasse o caminho.

— Dei o meu jeito. — torci a boca.

— Pergunta o que você quer.

— O que?

— Pergunta logo o que quer. Eu sei do que quer saber, só basta perguntar.

— E você vai responder?

— Se eu conseguir. — dei de ombros.

— Eu não quero te pressionar a nada.

— Eu sei. — balancei a cabeça positivamente. — Acho que seria bom falar um pouco sobre isso.

Ficamos um pouco em silêncio. Encarava fixamente o vai e vem das pessoas e a água calma do rio.

— Quem era o moço? — quebrou o gelo.

— Meu… marido.

— Imaginei. — arqueei as sobrancelhas. — E posso perguntar o que aconteceu ali? Ninguém soube me responder.

— Hm, você tecnicamente já perguntou. — forçou uma risada — Nem eu sei direito o que aconteceu.. Eu não sabia que ele estaria lá, eu nem sabia que ele sabia onde ficava o novo prédio do jornal.

Cortei a minha fala, esperando um pouco, para o caso dele querer falar algo, mas ele não interrompeu.

— Foi tudo muito rápido, quando eu saí da sua sala, ele estava lá… gritando o meu nome. Ele estava bêbado e…

— Bêbado? Mas não era nem cinco da tarde. 

— Sim. — suspirei. — Eu te devo desculpas, realmente não sabia o que estava acontecendo, não devia ter saído daquele jeito, mas eu fiquei sem reação…

— Você não precisa dizer nada, nem se desculpar. Está tudo bem.

— Mesmo? Eu prometo que vou pagar pelo jarro e qualquer incômodo, pode descontar do meu salário.

— Não, o jarro era barato e você não me deve nada.

— Ainda bem. — murmurei.

— Ei, eu escutei isso! — rimos.

— É que… vou ter que arcar com as despesas do jantar do casamento, estava torcendo pro jarro não ser o preço do meu rim. — expliquei em meio a risadas.

— Que casamento?

— Ah… isso é outra história.

— Bom, eu estou aqui para ouvir.

Suspirei.

— O Justin… meu marido. Estava em um jantar em comemoração ao noivado de um amigo dele e bem… ele surtou e quebrou tudo, foi antes dele ir lá.

— Pera aí, ele "surtou" duas vezes em um dia? — fez aspas com os dedos.

— Sim. — murmurei. — Quer dizer, acho que o surto do jornal foi o que sobrou do surto do jantar… se é que me entende.

Forcei um riso.

— Ele costuma fazer isso… sempre?

— Ah. Não sei. Bom, eu nunca soube de nada do tipo. — dei de ombros.

— E com você? — apertei os olhos.

— Onde quer chegar?

— Eu? Em lugar nenhum. Estou muito bem aqui.

— Idiota. 

Com o meu ombro dei um empurrão no seu, de brincadeira.

— Obrigada mesmo… por vir... por se preocupar… por me tirar de casa… sei lá.

— Eu não ia conseguir trabalhar sabendo que podia ser algo muito sério.

Balancei a cabeça positivamente. Levantei o olhar e vi que o sol estava começando a se pôr. O grupo de adolescente que estava próximo, começou a arrumar as coisas, e em questão de minutos, foram embora, aos gritos e risadas, deixando o local mais silencioso. Um casal de idosos passou por nós, eles estavam de mãos dadas e andavam devagar, meu olhar seguiu eles, até que estivessem longe o suficiente para eu conseguir enxergar apenas as suas silhuetas.

— Ei, o que foi?

A voz de Lewis soou muito cautelosa, então percebi que eu chorava. Não imaginei que eu ainda tinha lágrimas para isso.

— Eu… estou tão cansada. 

Sem pensar muito, joguei a minha cabeça em cima do ombro dele, aproximando o meu corpo mais do seu. Rapidamente, senti que ele relaxou as costas. Seus dedos começaram a fazer um carinho no meu cabelo.

— Por que? É o trabal…

— Não, não tem nada a ver com o trabalho.

— O que é então? Tem a ver… com o seu casamento? — balancei a cabeça fracamente.

— Com tanta coisa, a minha vida inteira. — suspirei. — Eu nem sei por onde começar.

— Pelo começo? — ri fraco.

— É uma longa história. 

Funguei.

— Eu te juro que sou um bom ouvinte. Tenho todo tempo do mundo.

— Então… devo começar explicando como eu nasci? 

Abri um curto sorriso ao escutar a sua gargalhada. 

— Se não quiser dizer, não se sinta pressionada.

— Não, não. Eu vou dizer.

Suspirei. Ele fez um carinho rápido no meu cabelo, como se fosse um incentivo para eu contar.

— Hm… bem, eu conheci o Justin quando eu tinha lá pelos meus 17 anos, ele tinha 19, ainda estudávamos, era o último ano. Lembro que ele chegou no meio do ano… e ninguém o conhecia, era novo na cidade, mas logo ele virou o cara popular, que todo mundo queria ter por perto. E depois, um monte de garotas rondava ele… mas ele me viu, e… e eu me senti especial, sabe? Não era como se não tivesse amizades ou garotos caindo por mim. É que eu não precisei correr por ele. — dei de ombros. — E o começo é basicamente esse. Começamos a namorar ainda no colégio e em 2017, ele me pediu em casamento, eu aceitei e no último dia do ano… casamos.

Enquanto eu falava, só escutava a respiração serena de Lewis. Por um segundo, me perguntei se ele estaria dormindo, mas ele ainda fazia cafuné no meu cabelo. Olhei em volta e vi que a praia estava praticamente vazia, e o sol também já tinha ido embora, apenas pouquíssimos raios iluminavam, deixando o céu em um tom azul alaranjado. Mas a lua já estava lá no topo, pronta para brilhar sozinha.

— Quer que eu continue? — perguntei baixo.

— Só se você quiser. — respondeu, balancei a cabeça. — Então, até aí estava tudo bem? 

— Sim… nos primeiros três ou quatro meses estava tudo às mil maravilhas. Como eu sempre sonhei. — sorri com a lembrança que me veio. 

— E por que deu errado, então? Quando?

Perguntou após eu ter ficado calada durante um longo tempo.

— Eu sei dizer como, mas não quando. — torci a boca. — Quando nos casamos, estavámos terminando a faculdade, então poucos meses depois tínhamos nos formado. Justin quis esperar um pouco para começar a trabalhar na sua área, eu entendi, tínhamos acabado de nos casar, estava tudo muito recente. Mas eu decidi que já era o momento, então eu fui trabalhar.

Levantei meu olhar para Lewis, ele retribuiu e deu um sorriso.

— Começou daí? 

— Meio que sim. — respirei fundo.

— Imagino que daí pra frente fica mais difícil.

— Sim. — sussurro. — A gente combinou que… não íamos apressar as coisas porque era cedo.

— Apressar? Vocês casaram muito cedo, o que seria apressar mais? — consegui rir com a sua pergunta.

— Ter filhos. — fui direta.

— Ah… — a vogal se prolongou durante um tempo.

— Estávamos nos protegendo, mas… eu acabei engravidando.

— Ele… não gostou? — foi cauteloso na sua pergunta.

— Huh, a gravidez pegou todo mundo de surpresa. Meus pais, os pais deles, nossos amigos… — senti vontade de roer a minha unha do polegar, mas não fiz. — Não é que ele não gostou ou que não gostamos, mas é que querendo ou não, era cedo. Mas em questão de uma semana já estávamos bem contentes… sabe, pensando em nomes, se seria um ou dois, com quem iria se aparecer...

A sensação de nostalgia me atingiu, lágrimas invadiram os meus olhos, mas eu mantinha um sorriso saudoso no rosto. Senti um braço de Lewis rodear a minha cintura, fazendo-me aconchegar mais no seu corpo.

— Eu não sabia que você tem filhos.

Respirei fundo.

— Eu não tenho. — disse baixo.

— Então…

— Eu perdi. — falei rapidamente.

Senti que ele ficou surpreso. Deixou um afago na minha cintura e um beijo no topo da minha cabeça. Tentava controlar as lágrimas e por enquanto eu estava tendo sucesso.

— Eu sinto muito. 

— Também.

Minha voz saiu entrecortada.

— Olha, se não quiser continuar, não precisa, eu já entendi que é difícil.

— Tudo bem, acho que vai me fazer bem dizer… tem tempos que não falo sobre isso. Você está sendo a única pessoa que sabe disso… quer dizer, óbvio, o Justin sabe, os nossos amigos, a nossa família, mas eles acompanharam tudo, eu… nunca precisei contar.

Ele me apertou mais contra ele. Mordi o lábio.

— Obrigada por confiar. 

— Engraçado. — funguei. — Eu te conheço há um mês e me sinto à vontade em te contar essas coisas… eu não falo disso com as minhas melhores amigas. Estranho, não? 

— Só tem um mês?

— Só um mês. — ri fraco. 

— Parece que eu sou obrigado a conviver com você todo santo dia desde que eu nasci. — achei graça.

— Me demite então. — falei risonha.

— Ah, bem que você está merecendo. 

Escutei sua risada. Sorri fraco. 

Passei a mão no olho, expulsando as lágrimas dali.

— Hm, eu posso saber como você perdeu?

— Se você me perguntasse o dia, o mês, as horas, os segundos… eu saberia te responder a tudo isso.

— Não, não faz isso.

Sorri sem vida.

— É… um dia, eu voltei do trabalho, eu estava tão cansada. Caía o mundo em Chicago, estava tudo engarrafado, tudo fechado e a chuva não cessava nem por um segundo. Lembro que eu voltei pra casa mais cedo porque diziam que várias ruas iam ser interditadas e uma delas ia ser a minha. Então, eu peguei meu carro e dirigi até a minha casa. 

Dei uma pausa, tentando reorganizar os acontecimentos na minha cabeça. 

— Quando eu cheguei lá… — franzi o cenho. — Eu não sei, eu e Justin começamos a brigar… não lembro bem o motivo. Acho que fiz questão de esquecer.

— Não lembra? 

Mordi o lábio. Pensei se eu dizia o real motivo ou não. Decidi contar só metade, não queria parecer ciumenta. E eu estava contando isso á um quase desconhecido, ele não precisa saber de tudo. 

— Acho que foi sobre…. — balancei a cabeça negativamente. — Eu não sei, eu… não era algo isolado. Não foi a primeira vez que a gente brigava por isso… Mas acho que era algo besta.

— Tudo bem. 

Respirei fundo.

— Eu fiquei muito irritada com a situação. Justin ficou irritado comigo. Eu não queria ficar mais naquela casa… então, eu saí, debaixo de chuva… grávida, de cinco meses.

Meu lábio tremeu involuntariamente, quando percebi que eu já chorava e soluçava.

— Saí que nem uma doida. Justin veio atrás de mim… e quando me toquei, eu não estava mais na minha rua.

Eu olhava o lago fixamente, mas era como se eu visse a cena passando diante dos meus olhos. Nem sentia que estava conversando com alguém, as palavras simplesmente fluíam soltas.

— Estava em uma via muito movimentada… escutava Justin me gritando… pedindo para mim parar de andar…. pra não ir longe. Mas eu não parei. — contei pausadamente.

Fechei os olhos e tentei expulsar as imagens daquele dia. Era duro dizer, mas ver tudo aquilo de novo era pior ainda. 

— E-eu atravessei a rua. Foi muito rápido. Eu só senti o impacto do carro contra… m-mim. — gaguejei.

Fiquei em silêncio por um momento. Lewis me abraçava forte, mas ele não sabia como lidar com aquilo. Nem eu sabia ainda. Nunca iria, doía demais saber que eu perdi um filho por plena culpa minha. Controlei o meu choro antes de retornar a falar.

— Eu só acordei no outro dia… no hospital. Então, soube que eu não ia mais ter bebê nenhum.

— Eu sinto muito, Alyssa. 

— É. — murmurei.

— O carro que…

— Ah, o moço prestou todo apoio. Eu não quis processá-lo nem nada do tipo. Fui eu que praticamente me joguei em cima do carro. 

— Não foi a sua culpa. 

Dei uma risadinha irônica, mas acho que ele não notou.

— O que seria? Um menino ou uma menina? 

Mordi o lábio.

— Não sei.

— Como?

— Eu não quis saber. Todo mundo sabia menos eu, achei que seria legal só saber na hora que… eu visse ele. Só é engraçado porque não pude vê-lo e eu  nunca soube. — ri sem ânimo.

— Por que não te contaram depois?

— Não ia fazer diferença. Eu perdi de qualquer jeito.

Abri os olhos, só notei agora que eles ainda continuavam fechados.

— Eu me contento em imaginar como seria.

— Isso deve ser… horrível. Eu nem imagino o quanto você sofre com isso.

— É uma perda. Não tem como superar, você aprende a lidar com a dor. Mas ela sempre vai está ali, e você vai sentir pelas menores coisas. — funguei.

— Obrigada por contar. 

Apoiou a sua cabeça, encostando em cima da minha.

— Obrigada por escutar. — murmurei.

— Posso perguntar uma coisa? — assenti. — Você… ficou mal quando soube que a sua prima estava grávida?

Franzi o cenho.

— Não, claro que não. — balancei a cabeça negativamente.

— Pode falar a verdade.

Suspirei.

— Não é nem o fato dela está grávida, eu estou muito feliz por ela. Mesmo. 

— Mas…?

— Não tem mas.

— Sempre tem. — revirei os olhos.

— É que… ela está em dúvida sobre contar ou não pro namorado. Sabe, ele vai voltar pro país dele, e ela vai continuar aqui, mas não quer que ele fique só por isso, por pressão. Ela quer que se ele fique não se sinta obrigado. E eu entendo, vou apoiá-la independente de qualquer coisa… ela também não tem certeza se quer essa criança.

— E? — torci a boca.

— Não estou a culpando por nada e posso soar até egoísta… mas é só engraçado como a vida é. Eu quis tanto aquela criança e ela não quer tanto assim. Pode aparecer como se eu quisesse que ela perdesse o filho, não é isso, seria desumano… é que só me fez lembrar que talvez ela tenha a oportunidade que eu não pude ter. 

Balancei a cabeça negativamente.

— Você não pode ter mais filho?

— Eu posso. Não é isso. — respirei fundo. — O meu relacionamento não vai como um mar de rosas, e eu sei que uma criança agora, para mim, seria como a salvação do meu casamento, colocaria toda expectativa nisso, para consertar uma coisa que… só quem tem culpa sou eu.

Ficamos um longo tempo em silêncio. Sentia que ele me observava.

— Como… e depois disso? O que aconteceu? — perguntou.

— Como assim? 

— Depois disso tudo, mudou algo? Você, vocês… O que aconteceu depois?

Entendi ao que ele se referia. 

— Eu, bem… foi difícil. Eu acabei sendo demitida depois de umas semanas, não ia trabalhar e quando ia não me concentrava. Então, eu só ficava em casa chorando e chorando. — mordo o lábio inferior. — Todo mundo era prestativo, ninguém saía de lá de casa, sempre iam visitar, nos ajudavam em tudo... pelo menos no começo.

Comentei lembrando das coisas que aconteceram. 

Encarei o céu que estava totalmente escuro. A praia estava deserta, mas a rua que passava em frente ao local devia estar movimentada, já que escutava buzinas e conversas aleatórias.

— Só no começo?

— É… sabe, quando você parece ser a única pessoa que está sofrendo por algo? Como se pra você fosse demais, mas não era tanto assim. — franzi o cenho.

— Eu acho que não. — ri fraco.

Limpei a mão direita na minha calça, antes de levá-la ao meu rosto, secando-o.

— Tipo, todo mundo era muito compreensivo, eles pareciam entender. Mas depois de um tempo, meses talvez, pareceu que estavam cansados de… disso. — apertei os olhos. — Eu comecei a ficar incomodada, eles já tinham superado e parecia que também já era a hora de eu fazer o mesmo. Mas pra mim não era. Só que estava cansada de incomodar todo mundo, eu não queria ficar dizendo sempre a mesma coisa, era como se eu estivesse tirando o momento das pessoas compartilharem a vida deles. — bufei. — Eu era a única que ainda sentia, e já fazia tanto tempo…

— Como quando você fica por semanas falando sobre o seu ex, mas todos os seus amigos já sabem tudo e você continua dizendo por que ainda sente? 

Dei risada novamente.

— É, tipo isso. E os seus amigos não querem dizer pra você parar de lamentar sobre o seu ex, mas eles não aguentam mais ouvir. Aí você percebe e começa a pensar no seu ex só quando está sozinha, porque todo mundo já superou a sua história com ele, menos você. — respirei fundo. 

— Você fez isso? — balancei a cabeça.

— Todo mundo estava bem. Pararam de nos visitar com tanta frequência, afinal eles tinham a vida deles, e eu não os culpo. Justin tinha voltado a sair e o nosso filho que nunca nasceu não era mais assunto em lugar nenhum. — encarei a lua. — Eu comecei a me sentir mal por continuar chorando e lamentando. Então, eu guardei pra mim, só falava quando alguém perguntava sobre. Acho que nunca mais comentei sobre isso, até agora.

Ele plantou um beijo na minha testa.

— Isso não te fez mal?

— Fez. — concordo. — Comecei a ter pesadelos e ficar mais ausente de tudo, não queria mais sair. As minhas amigas e a minha mãe perceberam, então eu fui fazer terapia, quer dizer, meio que me obrigaram. Mas era legal conversar com alguém sem que a pessoa ficasse me olhando estranho o tempo todo. — sorri. — Mas era aquilo, eu era a única que ainda sentia… e, Justin não ligava tanto e não gostava que eu ficasse falando sobre isso para um desconhecido. Então, uma hora eu deixei de ir.

Eu me arrependia disso na verdade, mas agora não fazia mais sentido.

— Não devia ter parado.

— Eu sei. — dei de ombros. — Depois de tudo isso… acabou que o Justin foi se distanciando de mim. Eu odeio admitir isso, mas não é a mesma coisa. E eu sei que ele não superou, assim como eu, mas ele não demonstra, e só se isola… isso me machuca.

Senti que ele ficou receoso em dizer algo.

— Isso deve abalar qualquer casal.

— É, mas só Deus sabe o quanto eu tento. Parece que eu sou a única que se esforça, mas não dá… certo. — murmurei sentindo as lágrimas voltarem. — O que você acha que eu devo fazer?

Suspirei.

— Você quer um conselho? — balancei a cabeça positivamente. — Eu acho que… bem, eu não sei que conselho dar na verdade. — ele ri sem graça. — Mas eu acho que, com base nos meus poucos e rápidos relacionamentos, você não deve ficar onde se sinta mal.

Sua mão abandonou a minha cintura, levantei a minha cabeça, tirando-a do seu ombro, endireitando a minha postura. Vi ele sacudir as mãos, tirando resquícios de areia.

— O que você quer dizer com isso?

— Eu não sei nada sobre o seu relacionamento, te conheço há um mês e o pouco que eu sei sobre você, é do que você me fala. — torci a boca. — Não posso te dar grandes ideias ou te dizer pra esquecer tudo isso, eu posso te ajudar a fazer alguma merda se eu der um conselho assim. — dei risada. — Mas eu posso te dizer, que ninguém merece ficar onde se sinta mal, onde você ache que não é bem-vinda ou que não é mais o seu lugar. Acho que só podemos ficar onde nos sentimos 100% bem e não adianta forçar, não funciona.

Franzi o cenho.

— O seu conselho é pra…?

— Não, não, não estou te aconselhando a fazer nada. — encarei o seu rosto. — É só que, talvez você insistir, ou tentar fazer um milhão de coisas pra fazer tudo voltar como antes, não seja a saída. Talvez as coisas não voltem a ser como antes, porque foi um grande baque, pros dois, eu imagino... Mas a gente tem que saber quando o nosso esforço não é mais o suficiente, quando é hora de parar. Não depende só de nós.

— E quando eu sei? — sussurro.

Seu olhar encontrou com o meu. Ele deu um sorriso de canto.

— Não sei, mas acho que percebemos. — deu de ombros.

— Por que diz isso?

— Olha, eu tenho quase 30 anos. — apertou os olhos. — No meio de muita coisa, eu aprendi a aceitar quando algo não me pertence ou quando aquilo não é mais pra mim. Seja o que for. — deu de ombros. — Às vezes sabemos, só não queremos admitir.

— Nada do que você disse fez sentido pra mim.

— Ok. — escutei sua risada. 

Ele desviou seu olhar do meu, fiz o mesmo, encarando a água.

— Mas se quer um conselho mesmo, que entenda… deviam fazer terapia de casal.

— Justin nunca aceitaria isso. — disse risonha.

— Então volte você, pode ajudar a ver as coisas melhor.

Pisquei os olhos rapidamente. Ele se levantou, passou a mão na roupa, tirando todo a areia que estava ali. Ergui minhas mãos em sua direção, ele prontamente me puxou para cima.

— Acho que já está na hora de levar a senhorita pra casa. 

Assenti. Limpei a minha roupa e peguei minhas sandálias que ainda estavam no chão. Quando eu perguntei, ele me informou que eram quase oito da noite. Era estranho, eu não tinha percebido o tempo passar. 

Na medida em que ele foi andando, retardei mais os meus passos, até que eu estivesse a uns bons metros de distância. Lewis percebeu, mas não disse nada, acho que entendeu que eu precisava pensar um pouco sozinha, apenas olhava algumas vezes para trás, para checar se eu ainda estava ali. Fui o caminho até o seu carro, chutando a areia e qualquer coisa que eu visse a minha frente; quase obrigando que eles me respondessem o que eu deveria fazer com a minha vida.




Perder você, eu não poderia aguentar,

mas amar você é pior

Esperando por você apenas para o caso

De que um dia não machuque, na, na, na

Disse que é a última vez, mas na, na, na, na

Assim como da última vez, sim, na, na, na, na

Estou cansada de construir meus muros, sim

Só para vê-los cair de novo, então, dane-se

This Love Camila Cabello.


Notas Finais


Imaginavam que seria isso? Opiniões? Comentem o que estão achando 💕

→ Obviamente, Alyssa não contou tudo, até porque eles só se conhecem há um mês, mas é basicamente isso. O mínimo que falta pra vocês entenderem a estória inteira, só iram saber nos últimos capítulos (ainda falta muito kkkk). Bom, então é isso que vocês precisam saber por enquanto.

Vou tentar agilizar os capítulos agora que estou de quarentena. Espero que todos vocês e as suas famílias estejam bem, e por favor, se puderam estejam de quarentena também. Não é férias, pessoal. Rezando para que tudo dê certo e isso acabe logo, mas por enquanto, se cuidem, lavem as mãos direitinho, evitem sair de casa... tudo aquilo que a gente já está cansado de saber/ouvir.

Até mais 🌠


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