“O que é isso?”
Jinyoung encarou o rapaz irritado na sua frente, ainda apoiado em cima do que aparentava ser uma página de jornal.
“Ataques. Estão havendo ataques constantes e vocês não estão fazendo nada para controlar.” Yugyeom apontou para Jaebum e Jinyoung, que sentavam em mesas opostas.
“Senhor, desculpe por deixá-lo entrar.” A secretária pediu, com medo da repreensão.
“Está tudo bem, pode ir.” Jaebum pediu, assistindo a moça sair da sala antes de se levantar e ir na direção da mesa de Jinyoung, enquanto Yugyeom andava de um lado para o outro, exalando irritação.
“Você quer que a gente faça o que? Não somos onipresentes defensores da lei.” Jinyoung respondeu tão irritado quanto o outro rapaz.
“Me diga você! O que vocês podem fazer. Eu não quero que minha família sofra as consequências das ações desses Criados, seja lá quem sejam.”
Assim como em todas as comunidades, o preconceito e aversão com criaturas que não compartilham das mesmas ideologias ou fazem parte da minoria existe. Guerras civis entre vampiros acontecem constantemente, pois os clãs de vampiros Nascidos sempre iriam encontrar alguma forma de culpar os Criados, por mais que eles tenham sido responsáveis pela transformação.
Alguns clãs, como os Wang, eram receptivos, lutavam pelos direitos de liberdade e expressão de todos seus Criados, enquanto clãs dos Nascidos, como os Kim, tentavam constantemente esconder seus preconceitos com vampiros criados, eles os tratavam como escória.
Jaebum recolheu a página de jornal das mãos de Jinyoung, lendo a notícia da qual o rapaz enfurecido se referia.
Serial killer? Uma epidemia? Um ritual?
Jaebum leu as entrelinhas da notícia, tentando entender sobre o que a manchete se refere.
“Isso é nosso?” Jaebum soava confuso e perdido.
“Nosso?” Yugyeom soava incrédulo com a pergunta, como se fosse a maior estupidez que ele já tinha ouvido.
“Você quer dizer dos Criados, não é? Não ‘nosso’, deles.”
“Pode ser outra coisa. Outros culpados, algo que não tem nada a ver conosco.” Jaebum tentou soar convincente, mas nem ele mesmo acreditava no que dizia, já que havia vivido tempo o suficiente para saber que ataques em massa geralmente significava um grupo de Criados rebelados.
“Nós não podemos afirmar isso.”
“Bem, alguém tem que afirmar algo. Alguém tem que fazer algo!”
“Yug…” Jaebum tentou reassegurar o rapaz, colocando sua mão no ombro do outro, reforçando sua autoridade.
“Vocês sabem como eu me sinto em relação a esse tipo...Vocês sabem.” A fúria se transformou em medo e aflição, Jaebum e Jinyoung conseguiam ver a insegurança do jovem rapaz transparecer, eles sabiam do histórico do clã dos Kim, apesar de não concordarem, eles entendiam os motivos pelo qual Yugyeom não conseguia aceitar a existência dos Criados.
“Nós vamos tentar descobrir o que houve. Não é Jaebum?” Jinyoung não sabia exatamente se ele estava acalmando Yugyeom ou reafirmando o que Jaebum havia lhe prometido.
Jaebum demorou alguns segundos, refletindo sobre a quantidade de drama que investigar aqueles ataques iria gerar, porém quando ele olhou nos olhos de Yugyeom e percebeu a esperança que brilhava neles, sua boca agiu antes que seu cérebro.
“Claro que vamos!”
O abraço de Yugyeom era forte como espera-se de um vampiro praticamente recém nascido...Completamente descuidado e agressivo. Yugyeom ainda não tinha noção da própria força, e nunca teve alguém que lhe ensinasse a como controlar.
A única pessoa que tinha coragem suficiente para abraçar Jaebum era Yugyeom e Jackson, talvez porque os dois eram os completamente sem noção da força que tinham e sempre viam Jaebum como um irmão mais velho, que mesmo a distância, sempre esteve lá por eles.
Atrás das costas de Yugyeom, Jinyoung assistia o garoto ainda abraçado com Jaebum.
//
As mãos dele eram ríspidas, calejadas e seus dedos eram longos. Era mãos de um homem, isso ele podia garantir. Mas o dono delas? Ele não fazia idéia.
Youngjae havia começado a ter sonhos estranhos. Para ele eram estranhos, para outra pessoa seria como ter um sonho erótico com seu ator favorito.
As mãos do desconhecido alisava seu rosto, e por mais estranho que fosse, por mais que ele quisesse se afastar e impedir que o desconhecido lhe tocasse, ele sempre se via chegando mais próximo do toque, deitando suas bochechas na palma da mão áspera do outro.
O lugar onde eles estavam era sempre o mesmo...Um jardim próximo a uma cachoeira. Os olhos de Youngjae não conseguia identificar onde ela caia, mas o som que ele ouvia dizia que era próximo. Youngjae queria saber onde ele estava, mas seus olhos não alcançava nada que não fosse as mãos acariciando seu rosto.
Youngjae queria encontrar o rosto do homem, descobrir quem era o dono daquelas mãos, descobrir quem era o dono daquele toque que lhe fazia se sentir tão seguro, mesmo que em um sonho.
Quando Youngjae conseguia forçar seu rosto a encontrar o rosto do desconhecido, a única coisa que ele conseguia enxergar era a boca do outro. Ele sorria. Youngjae podia jurar que seu sorriso era o mais adorável que ele já havia visto, considerando que seu melhor amigo era Taehyung e nenhum outro sorriso era tão adorável e engraçado quanto o dele, até ele enxergar o sorriso sedutor e adorável de quem quer que fosse aquele homem.
Youngjae nunca se deu nome a sua sexualidade, ele costumava a achar pessoas atraentes baseado no seus intelectos e visões do mundo, talvez ele fosse pansexual, mas dar nome para como ele se sentia em relação às pessoas era se rotular e limitar. Youngjae nunca gostou de limitações.
“Eu pensei que você não viria hoje.”
Youngjae podia jurar que ele conhecia aquela voz.
“Como eu poderia não vir?” Youngjae respondeu, porém sua voz não era realmente sua...Aquela voz ele não conhecia, porém, era como se ele mesmo estivesse falando.
“Achei que estivesse de castigo.” O desconhecido segurou as mãos dela e Youngjae sentiu como se fosse as suas próprias. Seus olhos se mantinham fixos nas mãos entrelaçadas, porém tudo que ele queria era visualizar o rosto do desconhecido e saber quem ele era e porquê sua voz era tão familiar.
“Eu estava, mas fugi para vir te ver.” Havia risada nas palavras e Youngjae pode sentir o riso do desconhecido surgindo entre o ar.
“Suas mãos estão frias.” Ela disse, trazendo às costas da palma da mão do desconhecido próximo ao seu rosto, lhe permitindo usar o calor da sua pele enquanto ela se permitia ser acariciada por ele.
Youngjae se sentia interrompendo algo, sentia como se estivesse assistindo um momento íntimo no qual ele não deveria fazer parte.
“Elas sempre estão.”
“Não sempre.” Ela retrucou sorrindo. “Não quando você está comigo.”
Os olhos de Youngjae visualizaram os lábios do desconhecido novamente e ele trazia um sorriso neles.
//
Aparentemente o destino estava brincando com Jaebum. Ele esperava não ter que encontrar o garoto que carregava os olhos dela, talvez assim ele pudesse deixar o passado onde ele devia estar...no passado, e seguir com sua ‘vida’. Mas não, o destino tinha que brincar com ele e colocar Youngjae na sua frente nos lugares mais inusitados e inesperado.
A primeira vez que aconteceu, Jaebum o viu primeiro e deu conta de se esconder antes que o rapaz lhe avistasse.
A segunda vez, Youngjae não estava sozinho, ele estava com um rapaz estranhamente familiar e para sorte (ou azar) de Jaebum, os dois apenas se cumprimentaram de longe. Jaebum não sabia se conseguiria controlar sua atitudes em relação ao outro.
A terceira vez Jaebum preferia que não tivesse acontecido…
//
“Você é adorável Jae.” Jaebum ouviu um dos lobos dizer, sorrindo abertamente na direção de Youngjae, enquanto bagunçava seus cabelos negros.
Jaebum nunca desejou tanto não ter as habilidades vampirescas como naquele instante. Ele estava distante e ainda assim conseguia ouvir os risos de Youngjae e das pessoas com quem ele estava.
“Jaebum?” Mark chamou, olhando na direção em que Jaebum olhava.
Alguns rostos que estavam com Youngjae viraram discretamente na direção em que Jaebum, Mark e Yugyeom estavam, e só então eles reconheceram quem eles eram.
“O que eles estão fazendo com ele?” Yugyeom deu voz às perguntas que os outros dois também faziam mentalmente.
Um dos rapazes que estavam com Youngjae sorriu maliciosamente na direção onde os outros três estavam, reconhecendo sua espécie e definitivamente quem eles eram.
“Eles sabem quem nós somos.” Mark sussurrou.
Os três haviam decidido visitar um dos novos clubes de boliche que um dos membros do clã de Mark abriu algumas semanas atrás.
“Claro que eles sabem. Você viu o jeito que ele olhou pra cá?” Dessa vez foi Yugyeom quem sussurrou.
“Porque vocês estão sussurrando?” Uma voz levemente rouca sussurrou próximo do ouvido de Mark, e se não fosse pela situação cômica em que eles tentavam se esconder embaixo dos estofados da pista de boliche, Mark definitivamente consideraria aquela voz sexy.
“Espera! Como VOCÊ sabe quem é ele?” Jaebum ignorou a presença de Jackson, intrigado em como Yugyeom sabia quem Youngjae era.
“Já que ninguém me conta nada, eu preciso descobrir sozinho.” Ele respondeu sorrindo. Seu sorriso era de uma criança pega fazendo algo que não devia.
“Voltando ao assunto, porque vocês estão sussurrando?” Jackson perguntou novamente, se levantando do sofá em que os outros três estavam escondidos atrás, até Mark o puxar de volta para o estofado, o escondendo da visão dos rapazes próximos de Youngjae.
“Se você me queria perto de você era só falar Tuan.” Jackson lhe deu seu sorriso mais sedutor e Mark tentou ignorá-lo, porém o outro era alguém difícil de ignorar, principalmente quando ele se deu conta de que sua mão ainda estava segurando o braço musculoso de Jackson.
“Vocês podem parar de flertar uns minutos e focar no problema que nós temos aqui?”
“Eu ainda não entendi qual o problema.”
“Você viu quem está com o Youngjae?” O nome do rapaz soava estranho nos seus lábios.
Jackson subiu a cabeça no estofado, observando o grupo de pessoas próximos do objeto de afeição de Jaebum.
“Oh!”
“Exato! Lobos.” Jaebum confirmou.
“O que eles estão fazendo com ele?” Jackson repetiu a pergunta que os outros três já haviam feito, recebendo olhares de tédio dos três amigos.
“Você acha que eles sabem quem ele é?” Jackson repetiu outra pergunta e dessa vez os rapazes nem se deram o empenho de julgá-lo.
“O que?!”
“Você acha que ele está em perigo?”
“Você veio fazer um interrogatório?” Mark retrucou irritado. Jackson havia feito mais perguntas do que todos os 3 outros juntos.
“Eu só estou confuso.”
“Bem vindo ao clube.”
“Vocês podem ficar quietos um minuto por favor.” Jaebum repreendeu e os outros dois ficaram quietos, discutindo através de olhares.
“Será que ele sabe que eles são lobos?”
Yugyeom, Jaebum e Mark olharam incrédulos para Jackson, não acreditando que ele surgiu com mais uma pergunta óbvia.
“Eu posso me aproximar dele e tentar descobrir qual a relação dele com os lobos.”
Jaebum ficou quieto, tentando encontrar uma solução que não precisasse envolver nenhum dos seus vampiros com os lobos.
Vampiros e lobos sempre tiveram uma história ardilosa. Alguns séculos se passavam sem desentendimentos, em outros, eles sempre estavam tentando conquistar território. Faziam algumas décadas que Jaebum não ouvia notícias de lobos rondando os clãs ou a região em que eles residiam. Embora ele tivesse passado as últimas décadas recluso, as notícias sempre chegavam de uma forma ou outra, a diferença era que ele não fazia nada para controlar a situação que os clãs passavam.
“Yug, eu não posso pedir isso.”
“Eu posso! Yug, por favor, vire amigo do namoradinho do Jaebum.”
Jaebum iria cometer um assassinato, um homicídio com a sua própria espécie. Ele faria um colar com os dentes perfeitos de Jackson, após fazer um tapete com a sua pele.
“Jackson!!” Mark e Jaebum falaram ao mesmo tempo, chamando atenção dos lobos, embora quando os olhos se viraram para a direção em que eles estavam, os quatro se abaixaram no estofado.
“Não seria problema. Eu e ele parecemos ter a mesma idade, eu poderia me aproximar como algum colega de trabalho. Onde ele trabalha?”
Jaebum e Mark se entreolharam, sabendo que nada de bom poderia acontecer deixando Yugyeom próximo de Youngjae. O garoto nunca foi muito cuidadoso e eles não poderiam colocar Youngjae em perigo, porém entre deixá-lo em perigo com lobos e com vampiros, ambos se sentiam mais seguros os deixando com criaturas do seu próprio tipo.
“Ele trabalha pra mim.”
“Eu queria trabalhar pra você Tuan. Faria hora extra se você me pedisse com carinho.” Jackson comentou, como se fosse a coisa mais normal e não audaciosa de se dizer na frente de seus amigos.
Mark decidiu ignorar o flerte de Jackson.
“Você me coloca para trabalhar com ele e eu descubro qual a relação dele com os cachorrinhos ali.”
“Quais as chances que nós temos?” Jaebum perguntou para Mark, já sabendo a resposta do amigo.
“Ele não sabe quem ele é, você tem que manter isso em mente o tempo todo.”
“Óbvio!”
“Ok, você começa na segunda. Bem vindo a Tuan.” Mark estendeu a mão para Yugyeom e Jackson a segurou antes do outro garoto.
“Que mãos macias, imagino como elas devem ser tocando meu p--”
“Jackson!!” Os três rapazes falaram em voz alta, decidindo sair despercebido antes que eles fossem descobertos pelo grupo de lobos, deixando Jackson sozinho no estofado.
“O que?!”
//
“Eu vou no banheiro lavar as mãos, encontro vocês lá na frente.” Jaebum informou, seguindo em direção ao banheiro.
Às vezes, Jaebum decidia ‘desligar’ suas habilidades extraordinárias, principalmente quando estava na presença de muitas pessoas. Era algo perigoso, deixar sua guarda baixa, mas viver sempre pronto para o perigo era cansativo.
O espelho cobria toda o cumprimento do banheiro, de frente com os cubículos, Jaebum abriu a torneira, deixando a água correr pelos seus dedos e seu rosto quente lhe fez sentir vontade de deixar a água fria bater na sua pele, tentando acalmar sua temperatura. A natureza de Jaebum era ser frio, nunca quente, exceto…
“Hey você.”
Se Jaebum ainda tivesse um coração bombeando dentro do peito, ele teria certeza que nessa altura, ele já teria infartado.
Youngjae saiu de um dos cubículos, ainda com as calças abertas, tentando arrumar sua camisa para que se encaixasse perfeitamente com a curvatura do seu corpo.
Jaebum sentiu seu rosto esquentar ainda mais.
Quando Youngjae finalmente conseguiu arrumar sua camisa e fechar as calças, ele encontrou os olhos de Jaebum pelo reflexo do espelho, fixados na região do zíper da sua calça, inconscientemente os lábios de Jaebum além de quente, ficaram secos e ele deslizou a língua sobre eles para hidratá-lo. Youngjae assistiu o movimento, espelhando exatamente o que Jaebum havia feito, a diferença era que junto com a lambida, Youngjae mordeu seu lábio inferior, fixando seu olhar no reflexo de Jaebum ainda o encarando anestesiado.
‘Ele não sabe do poder que tem sobre mim.’
Jaebum sentiu o calor da sua pele transpirar pelo seus poros, e junto com as gotas de água que molharam seu cabelo quando ele lavou o rosto, agora seu pescoço estava coberto de suor.
Uma visão. Era isso que Youngjae imaginou estar vendo.
‘Como alguém pode ser tão...tão…’ A definição certa não existia, Youngjae chegou a essa conclusão. Como dar nome para a beleza e sensualidade do rapaz o encarando deliciosamente pelo reflexo do espelho?
“Eu ainda não sei seu nome.” Youngjae se aproximou da pia que Jaebum utilizava para apoiar seu corpo, já que o outro rapaz tinha o poder de enfraquecer seu corpo e endurecer seu…
“Hã?”
“Seu nome.” Youngjae repetiu.
“Nós continuamos se encontrando assim, mas eu ainda não sei seu nome. Devo te chamar de stalker?” O sorriso largo de Youngjae indicava que ele não estava falando sério a parte do stalker.
“Oh não! Stalker não.”
Youngjae percebeu que o rapaz ficou tímido, algo inesperado, considerando que ele tinha a exuberância de um Deus grego.
“Então…?” Youngjae ainda esperava pelo seu nome, mas Jaebum se sentia inseguro sobre deixar mais palavras sair de sua boca, já que até o momento ele havia conseguido se envergonhar cada vez mais.
“Ah, meu nome. Você quer saber meu nome.”
“Yep.” Youngjae concordou, abrindo a torneira e repetindo os movimentos que Jaebum havia feito minutos atrás. Deixado a água escorrer pelas suas mãos, até sentir seu rosto quente e jogar água sobre a sua pele, fazendo com que mexas da sua franja ficassem molhadas.
Quando Youngjae abriu os olhos, com o rosto todo molhado e a franja colada no seu rosto, Jaebum sentiu que seu corpo iria derreter em calor e desejo.
Youngjae era mais que lindo, era mais do que fofo, era mais do que sensual. Youngjae era algo indescritível e tudo que Jaebum queria no momento era entrelaçar seus dedos nos cabelos molhados do outro, e puxar sua cabeça até deixar seu pescoço exposto e pronto para ser devorado.
Jaebum nunca sentiu essa necessidade agressiva quando estava próximo dela, aparentemente aquilo era algo que acontecia somente com Youngjae.
“Jaebum.”
“Prazer Jaebum.” Youngjae sorriu provocante e Jaebum só queria poder arrancar aquele sorriso entre beijos e mordida.
“O prazer é todo meu Youngjae.”
Finalmente, sua confiança estava de volta.
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