História Exagerado! SEUNGBIN - Atenção, Contém Mal-Entendidos!

Ele tinha forte porte, porém era baixinho. Como em todo clichê participava do clube de algum esporte. De volta e meia com uma camiseta de time no torso, fingindo ser funkeiro com aquele estranho jeito de falar e seus óculos de mosquito no topo da cabeça.

E bem, eu sou o cara que é apaixonado por ele.

Não me julgue, vai, eu já fiz isso o bastante. Mas qual é, eu lá tenho culpa que meu cupido foi se atirar logo para aquele projeto de carioca? Sou a única vítima aqui.

Talvez tenha sido seu charme fajuto. Ou o fato de que nas suas playlists, na verdade, só havia as melhores juras de amor. Até mesmo seus olhos que, quando encontravam os meus, nada mais parecia existir.

Além disso, depois de Jeongin, ele foi a única pessoa que cumpriu a promessa do 'para sempre'. Mesmo essa feita a mais de 10 anos atrás, no jardim de infância. É fato, Changbin sempre foi um amigo excepcional. E vejamos, esse era o problema: ele era apenas um amigo.

Entretanto, não fique triste por mim, essa não é a história de como eu entrei em profunda tristeza, uma friendzone deprimente ou algo do tipo, mas sim de como fiz Seo Chanbin cantar a melhor serenata da nação brasileira. O que, diga-se de passagem, é tão vergonhoso quanto.

— Seung, papo reto, preciso da tua ajuda pra' me declarar pru'm menino. — com seu sorriso descarado, ele gesticulou. Eu, que não esperava tal frase, só soube engasgar com meu pão de queijo amanteigado.

Eu ia negar seu pedido, estava óbvio. Mas tinha algo naquela cara de cachorro-caramelo-pidão que sempre me matava. Te juro, não sou uma pessoa de se convencer facilmente, mas por aquele cara de estilo duvidoso eu me desmanchava e entregava aos deuses.

No entanto, qual era o sentido de dar concelhos amorosos para a pessoa que você gosta usar com outro alguém? Doía só de pensar. Então, como todo protagonista de ficções românticas, eu cheguei na pior e mais burra decisão.

— Primeiro, Changbin, ela precisa ser em público.

▪ ▪ ▪

Eram plenas 9 da manhã e todo meu corpo suava. O mais surpreendente disso é que tal não era causado pelo calor de 30 graus do Rio. Hoje era o dia da fatídica declaração de Seo Changbin.

Assim como o suor, arrependimento corria por meu corpo. De última hora, eu até tentei o convencer à desistir. No entanto, aquele boboca estava tão animado preparando tudo que nem quis me escutar. Pensei até mesmo em consumir com esse tal 'broto' para evitar o desastre, mas o idiota nem para dar uma mísera pista de quem é.

À esse ponto, eu só podia ter sambado mais que Inês Brasil na cruz de Jesus.

Observava Changbin e mais dois de seus amigos organizando caixas de som e microfone na mesa central do refeitório. As pessoas no ambiente todas estranhavam, mas nenhuma contestava. E eu, no meio delas, só queria sumir lembrando das minhas próprias palavras:

— Imagina algo único e autêntico mas ainda sim romântico. Eu sugiro cantar alguma música memorável. — eu falava qualquer besteira como se fosse o maior especialista — E com dançarinos de fundo! — piorei.

— Mas Seung, você sempre abominou esses tipos de declarações. — Changbin franzia as sombrancelhas em estranhamento. Ele me conhecia bem, e eu me condenava internamente por isso.

— Que nada, era só minha pose de frio e calculista. — menti, rindo nervosamente.

Cara, se arrependimento realmente matasse eu já estaria sendo carregado n'um caixão agora mesmo.

Testando seu microfone e pedindo a atenção das pessoas no lugar ele começou: — Peço desculpa por atrapalhar a refeição de todos vocês, de verdade, mas preciso fazer algo especial para alguém muito importante aqui nesse refeitório. — algumas pessoas achavam a cena divertida, outros nem ligavam e eu, novamente, só queria um buraco para me enfiar.

Já levantando, estava prestes a deixar o lugar e lamentar pateticamente minhas péssimas decisões. E teria realmente feito se não escutado a próxima frase que ecoou pelo ambiente:

— Mas pelo visto essa pessoa está fugindo por aquela porta agora mesmo — Ele dizia um tanto urgente e risonho. Paralisado, eu me sentia a própria Nazaré Tedesco em sua mais complexa equação. — Sim, Kim Seungmin, é você mesmo.

Sabem quando naqueles bailes de filmes americanos um holofote surge para enaltecer a mais nova incrível rainha do baile? Era como me sentia. Mas claro: sem vestidos luxuosos, nem americanos e muito menos um baile. Apenas um garoto de sorriso doce e microfone em cima de uma mesa, dando o sinal para seus amigos prepararem o som.

Sem demora, a guitarra ecoou pelo ambiente. Mesmo ainda desconcertado logo reconheci ser “Exagerado!”, música abertura de nosso primeiro shown.

Amor da minha vida

Daqui até a eternidade

Nossos destinos foram traçados na maternidade

Ele balançava os quadris com a melodia do primeiro verso, tentando acertar as notas e ter seus olhos vidrados a mim. Ao seu lado, mais embaixo, Jisung e Chan faziam uma atuação/dança dramática de acordo com a música (com direito a guitarras invisíveis e dublagens cômicas). Eu até riria da situação, como muitos ali, mas estava ocupado demais tendo um surto interno.

Paixão cruel, desenfreada

Te trago mil rosas roubadas   

Pra desculpar minhas mentiras, minhas mancadas

Changbin desafinava algumas partes e errava outras notas, mas mantinha o doce sorriso em seu rosto. Atrás de si Chan ajoelhava-se, entregando uma rosa imaginária à Jisung.

Exagerado!

Jogado aos teus pés, eu sou mesmo exagerado

Adoro um amor inventado

Ele dava tudo de si cantando o primeiro refrão, o que me fez sorrir e sentir um calorzinho no peito. Nem mesmo consegui evitar de rir quando Chris, literalmente jogado aos pés de Han, mandava corações e beijos voadores ao outro garoto.

Eu nunca mais vou respirar

Se você não me notar

Eu posso até morrer de fome

Se você não me amar

Não conseguindo manter o sorriso por muito tempo, me desesperei quando Changbin descia da mesa cantando seu quarto verso, logo lembrando de seu provável próximo passo:

- Você poderia chamar seu pretendente para cantar junto! – respondi quando o Seo questionou o que faria se a pessoa não gostasse de serenatas – Ela com certeza vai adorar.

Eu ainda não sei como consegui criar o melhor cenário para a pior declaração, mas é, lá estava eu: De mãos e olhos tremendo, tentando de algum jeito mandar um sinal silencioso para Changbin parar ali mesmo, fingir um desmaio, qualquer coisa.

E por você eu largo tudo

Vou mendigar, roubar, matar

Até nas coisas mais banais

Pra mim é tudo ou nunca mais

Foi quando senti o contato quente de sua mão na minha que tudo parou. Cérebro, sentido e coração. Podia jurar que já não existia mais nada no mundo. Olhar para seus olhos e sorriso parecia mais interessante, afinal.

E eu então, sem nem mesmo perceber, já estava naquele 'palco', preparado para fazer acontecer a melhor karaokê com o Changbin que eu gosto.

Exagerado!

Jogado em seus pés, eu sou mesmo exagerado

Adoro um amor inventado

Eram apenas eu, o microfone e Changbin. Tanto que nem o sinal irritante do fim do intervalo e o movimento de todos os alunos que até então nos assistiam para suas respectivas salas nos abalou.

Exagerado!

Jogado em seus pés, eu sou mesmo exagerado

Adoro um amor inventado

Jogado aos teus pés com mil rosas roubadas

Era até engraçado como uma serenata em público tinha se transformado em uma coisa especialmente e unicamente nossa tão rápido.

Sem contar claro, com Chan e Jisung, que eu observava sair de fininho por trás do ombro de Chang. Ri dos garotos.

Exagerado

Eu adoro um amor inventado

Jogado aos teus pés, baby baby

Eu sou mesmo exagerado

Adoro um amor inventado

Cantavamos nosso último verso e, à esse ponto, eu já acreditava que nossas testas haviam virado uma só. Nossos olhares se cruzavam como se apenas tivessem uns aos outros nesse mundo. Então, quando estava prestes a encerrar de uma vez por todas aquele espaço, Seo pareceu lembrar de algo, abaixando-se e levantando em seguida com um cartaz em suas mãos.

Escrito em letras caixa-alta, com corações tortos e algumas manchas de frango frito, dizia: "Gostaria de ser mais que amigo deste humilde rapaz, meu novinho?" Tão brega... pensei.

Não consegui controlar o sorriso bobo que surgia em meu rosto e, muito menos, de correr até o garoto e lhe beijar. Chang parecia surpreso de primeira, mas assim que conseguiu acompanhar nem o cartaz em suas mãos parecia ter mais importância, agora jogado no chão.

Aquela era minha resposta, a prova de que 'ser mais que amigo' daquele baixinho era tudo que eu mais queria.

– Gostou da declaração, meu bem? – após nos separarmos, ainda pertinho do meu rosto, ele quase sussurrou a frase.

Olhei ao redor antes de responder. O refeitório estava vazio, ninguém mais além de eu e Seo em cima daquela mesa.

– Eu amei. - sorri ainda com as mãos em seus ombros – Mas, da próxima vez, você poderia me avisar para quem seria antes, não é? - brinquei, me lembrando de tudo o que um mero mal entendido causou.

– Próxima vez, é? – ele perguntou sem esperar uma resposta, no mesmo tom, prestes a encerrar o espaço entre nós dois novamente.

Eu estava tão feliz naquele momento que nem mesmo a aparição do diretor gritando por nossa volta as salas abalou meu humor. No final das contas, eu teria o resto da minha vida para beijar e amar aquele carinha de estilo duvidoso parado à minha frente.

  E para também, claro, esclarecer à ele que as declarações em público são na verdade as piores.