História Êxtase - Imagine Jeon Jungkook - Revelações

R E V E L A Ç Õ E S

***

— Eu acho que não entendi. — Falei, saindo de cima de Jungkook, vendo ele mudar de forma. — Meu primo é um lobisomem? Desde quando?

Era difícil manter minha voz baixa e ao mesmo tempo calma. O que estava sentindo nem eu conseguia expressar em palavras, era um turbilhão de emoções desesperadoras, fluindo do meu peito e se manifestando para outras partes do meu corpo. 

— Se ele não falou nada ou se manifestou até agora, não cabe a mim dizer alguma coisa. — Sua voz soou séria ao meu lado de fora da mansão.

Uma risada amarga saiu do fundo da minha garganta sem eu perceber.

— Mas você já começou, seria falta de educação da sua parte não terminar. 

Ele balançou a cabeça, negando várias vezes. Mas então pigarreou:

— Só posso dizer que ele é um dos homens que foram mordidos.

Meu coração disparou.

Não conseguia imaginar Yoongi sendo um lobisomem. Para mim ele era apenas meu primo chato e rabugento que ficava me evitando, mas com essas informações tudo fazia sentido. Eu fui tão tola e mal conseguia acreditar que não havia descoberto isso antes e sozinha.

Cheguei em um certo ponto que não conseguia mais pensar.

Comecei a ficar agitada, apertando meus dedos uns nos outros, andando para um lado e para o outro sem parar. Jungkook me observava atento, encolhendo os ombros com as mãos atrás das costas, apertando o tecido da sua calça. Seus olhos baixos e a expressão calma era bem treinada.

Não sei se ele estava nervoso, mas eu estava. 

— Ele ainda não voltou. — Murmurei e encarei a entrada da floresta com pequenos movimentos do vento batendo contra as folhas verdes.

— Vai voltar logo. 

Não, ele não vai voltar logo. 

Eu não sabia de nada no momento, mas sabia de uma coisa: Yoongi estava em perigo e se Jungkook não ajudasse, eu ia.

Meu corpo reagiu sem os meus cômodos. Do nada eu já estava andando em direção a floresta sem me importar com meu coração agitado batendo rápido contra minha carne. Mas então, escutei a voz de Jungkook chamando meu nome e seus passos pesados correndo atrás de mim.

Virei o rosto para trás e lá estava ele, desesperado, gritando-me e chegando cada vez mais perto. Corri, pulando os matos secos que grudaram na minha calça marrom. Meu cabelo soltou-se da trança que o prendia , entrando em meu campo de visão e bloqueando meus olhos. Os fiapos ruivos me distraiam e antes que conseguisse entrar na escuridão da floresta, meu corpo foi ao chão com toda força, fazendo meus seios serem esmagados.

Ahh.

Segurei o grito com força.

Meus braços ficaram presos e de repente, senti um corpo grande e pesado sobre o meu, apertando-me e impedindo de me mover. 

 — Me solta Jungkook. — Mandei, tentando tirá-lo de cima de mim. 

— Você está ficando maluca, ruiva? — O tom autoritário e raivoso da sua voz me fez estremecer, mas não de medo, foi outra coisa. Senti minha respiração ficar pesada e o cheiro de sândalo misturado com suor pareceu mais forte. Revirei os olhos, engolindo em seco.

— Yoongi precisa da gente. — Falei. 

Minha cintura foi puxada para cima e minhas costas chocaram contra o chão. A intensidade do aperto das mãos de Jungkook na minha cintura me levou a arfar. Os olhos do moreno estavam amarelos e por um momento, vi Jungkook aproximando sua testa da minha. Então lembrei do nosso beijo, mesmo não querendo lembrar. Não era um bom momento.

O que foi que eu fiz? 

Katharine vai me odiar antes mesmo de nos conhecermos.

— De você não. — Disse como um sussurro. 

— Você não viu… — Comecei a explicar, mas ele me interrompeu, segurando meu rosto contra o seu. 

— Não vai sair daqui. — Ele disse, se inclinando mais para perto. Seu hálito estava carregado com o cheiro de chá de hortelã. Fechei a cara junto aos punhos, lembrando que Jungkook sabia que Yoongi era um lobo esse tempo todo e ele não me avisou. 

Só balancei a cabeça em discórdia e Jungkook grunhiu em raiva. 

Antes que eu pudesse  proferir, passos pesados e rápidos se aproximaram, fazendo barulho no solo infestado de mato. Em seguida, vi a silhueta branca mudar de forma e Jungkook não estava mais em cima de mim. Ele puxou minha mão para cima, me ajudando a levantar. 

— Primo. — Pulei nos braços de Yoongi, o apertando contra meu corpo. E pela minha surpresa, ele retribuiu o abraço, me apertando mais do que eu o apertava.

— Você está bem? — Ele perguntou com o cenho preocupado. Embora eu deveria fazer essa pergunta.

— Você está bem? — Arqueei a sobrancelha e rapidamente comecei a vasculhar seu corpo para ver se tinha algum machucado. 

Felizmente tinha apenas um arranhão na lateral da sua bochecha e uma marca de mordida no seu braço esquerdo. A preocupação e a raiva não passaram despercebidas. Jungkook agarrou minha mão e eu o olhei, vendo sua cara fechada para o meu primo. Mas Yoongi não era diferente. 

Barulho de dentes trincando eu ouvi e me encolhi. Odiava aquele barulho.

— Você não escuta, não é.  — Não foi uma pergunta. Então, Yoongi me olhou também. — Vocês não escutam. — Corrigiu ele. — Eu disse para você ficar longe da minha prima e disse para você ficar longe dele.

Jungkook soltou um sorriso anasalado, revirando os olhos e apertando ainda mais minha mão. Tentei recuar, mas ele não deixou. O olhar de Yoongi desceu exatamente para nossas mãos entrelaçadas. Nisso ele rosnou contra sua vontade.

— Acho que você não sabe, mas você não manda em mim, eu mando em você. — Jungkook retrucou, sibilando cada palavra.

A mandíbula do meu primo travou e o pomo-de-adão subiu e desceu de uma só vez. Ele tentou não contorcer o rosto e mostrar que estava sem fala mas foi inevitável. Yoongi não tinha as palavras na ponta da língua como Jungkook e por isso, o garoto que segurava minha mão a soltou e suspirou, baixando a guarda.

— Eu…

Yoongi o interrompeu de supetão.

— Eu devia te matar, desgraçado. 

— Min Yoongi. — Sussurrei com os olhos arregalados. No entanto, ninguém estava prestando atenção em mim.

— Você sabia que uma hora ou outra isso ia acontecer. Você colocou a vida dela em perigo por causa do seu egoísmo… — As palavras arrastadas foram como tapas na cara de Jungkook. 

Mas ele não se segurou. Deu um passo para frente e empinou o nariz, soltando um sorriso final ao notar que era maior que meu primo.

— Egoísmo? — Ele repetiu incrédulo. — Eu estava a protegendo, diferente de você. E pelo menos eu tive a decência de contar que sou um lobisomem para ela. E você?

— Se não contei foi para protegê-la. 

Cansada de ser tratada como se não existisse, empurrei ambos para trás e fiquei no meio, encarando um a um com a cara fechada. Cruzei os braços e sorri com um sorriso banhado em desdém.

— Eu estou aqui, sabiam? E para a informação de vocês, não estou entendendo nada. — Aumentei a voz. Yoongi suspirou desviando o olhar. Jungkook baixou a cabeça como se estivesse envergonhado. — Por gentileza, alguém poderia me explicar?

Ninguém se manifestou, ficaram parados encarando o chão e depois se entreolharam com um olhar indecifrável. A princípio eu me virei para Jungkook e dei as costas para Yoongi. Me aproximei e esperei, mas ele não disse nada e nem se moveu. Com um suspiro frustrado, Yoongi começou e eu me virei para ele.

— Fui mordido por um lobisomem da alcatéia do Jungkook. 

— Continue. — Pedi, mantendo meu foco nele.

Ele assentiu e limpou a garganta.

— O lobo parecia estar descontrolado, não sei o que era. Mas também estava furioso e nesse dia eu tinha ido caçar na floresta. Você sabe o quanto eu amava caçar aves? — Assenti, lembrando de quando ele saia bem cedo com seu arco e flecha. — Mas isso mudou quando ele me mordeu. Acho que tive sorte por ele preferir animais pequenos que pessoas. 

— Foi o Jimin. — Jungkook se pronunciou. — Ele recebeu uma punição depois disso.

Jimin? 

Não conhecia. Devia ser do mundo Sobrenatural.

— Quando voltei pra casa, notei que estava estranho e depois fui notando os sintomas. Meu apetite por carne tinha aumentado e minha força também, depois veio a transformação. Não lembro por qual motivo eu estava chateado naquele dia, mas eu me isolei na floresta e me transformei no lobo. Com alguns dias consegui me controlar, mas não totalmente.

Fiz um gesto para ele continuar.

— Por isso eu evitei você. E quando você veio com aquele papo de que tinha visto um lobo da espécie que eu te contava, foi como um alerta para manter você longe. Era para o seu próprio bem e para o meu. — A última parte ele baixou a voz. — Antes de você vê-lo completamente… — Apontou para Jungkook. — Eu já sabia que era um lobo que lhe vigiava. Mas ele não tentou fazer nada, então eu deduzi uma coisa e o ignorei e foquei em me manter distante. 

— Você podia ter me contado. 

— Era perigoso e ainda é. Eu tinha medo de algum deles ou da outra alcatéia ir atrás de você.

Jungkook soltou um muxoxo raivoso.

— Eu não ia deixar. — Ele disse e Yoongi sorriu, revirando os olhos.

— Sei disso. Só a sua aproximação era um perigo para ela. Mas você tinha que ir atrás dela e descobrir que...

— Não ouse fazer isso, seu beta idiota. — Rosnou Jungkook,  com um tom severo e ríspido como nunca tínha visto antes. Seu rosto ficou coberto de suor junto às veias saltitantes da testa e o maxilar travado. 

Agora eu sabia que Jungkook estava me escondendo mais coisas.

Yoongi grunhiu mas não disse nada.

— Você vai me ocultar a verdade?  — Indaguei, sem evitar que o tom de voz se elevasse.

— Não! Mas não quero que ele fale por mim.

— Sim. — Concordei sem olhar para ele ou para Yoongi à minha direita. 

Em vez disso, fitei minhas botas sujas de lama e coberta de capim seco. O vento bateu contra meu rosto e eu fechei os olhos, esperando Jungkook abrir a boca e soltar a voz.

E foi o que ele fez.

— Minha ruivinha, eu menti pra você sobre Katharine.

Em espanto, meus olhos se arregalaram de imediato e eu quase me engasguei com a saliva seca. 

— Como assim? — Marchei alguns passos para a escada da mansão.

— Katharine é minha irmã mais velha. — Ele engoliu em seco, virando na minha direção. E antes que eu perguntasse por que, ele falou: — Não menti quando disse que tinha encontrado minha companheira no seu mundo, mas não é Katharine… é você. Fiz isso pensando em você. — Falou rápido demais e eu não sabia o que falar ou como reagir. Mas minhas bochechas queimaram feito brasa e meu coração martelou mais forte que tudo. — Não queria que se sentisse obrigada a ficar comigo só porque sou destinado a você.  

— Jungkook…

— Escuta. — Ele me cortou e eu fechei a boca. — Com toda pressão que sua família anda colocando em você, eu não queria fazer o mesmo. 

Yoongi soltou um som estranho do fundo da garganta e caminhou até o meu lado, envolvendo seu braço mordido em meus ombros.

— Não queria colocar um peso no seu coração. — Os olhos dele voltaram ao normal. Escuros como carvão. — Mentir não foi o certo, eu sei disso, mas foi para um bem maior. 

Eu me virei de costas para ele e tirei os braços de Yoongi de mim. Senti meus olhos encherem d'água,  no entanto, não era de raiva ou tristeza ou felicidade. Eu só queria chorar e ficar sozinha, era muita informação para eu processar. Saber que Katharine não existia – ou melhor, existia sim, mas era irmã de Jungkook e nada mais – foi um choque percorrendo minhas veias. 

Todo esse tempo eu estava o respeitando por causa desse relacionamento que não existia. Todo esse tempo estava pensando em ocultar qualquer sentimento que surgia do nada por Jungkook. Não era algo forte e nem sabia se eu o amava, mas eu gostava de estar com ele e ele me fazia tão bem que mesmo agora, descobrindo que ele mentiu pra mim, não conseguia sentir raiva dele.

Só conseguia ser compreensiva contra minha vontade. Porque eu não quero ser compreensiva com Jungkook e Yoongi, eu queria gritar.

No entanto, ele tinha razão. 

Jungkook mentiu para mim pensando nos meus sentimentos, que ninguém do meu próprio sangue pensava. Ele me deu tempo para conhecê-lo, me deu tempo para construirmos uma amizade e tudo mais. Ele fez tudo isso pensando em mim. Eu não podia ficar com raiva de uma pessoa que só estava pensando em mim acima dela.

Você é um anjo, Jungkook.

ههههه

Quando acordei, não vi o sinal do sol através da janela aberta. A lua cheia brilhava no topo do céu, tomando o espaço limpo e escuro lá em cima. A porta foi aberta sem nem um aviso, revelando Yoongi encostado no batente da porta. O dia foi um tanto cansativo mas ainda tinha muitas dúvidas circulando na minha cabeça que os meninos não esclareceram por causa do meu tio Alfredo que apareceu e nos mandou para dentro. 

Então desde que pisei no meu quarto, eu apaguei, entrando em um sono profundo e sem sonhos.

Se Yoongi estava aqui era porque queria me dizer algo. 

— Posso entrar? — Perguntou e eu assenti.

Ele entrou e sentou ao meu lado na cama, olhando a figura da Princesa Elizabeth deitada ao meu lado como uma verdadeira folgada.

— Tia Amélia sabe que você está aqui? 

Ele rio amargurado. 

— Não, mas não importa. Se você não se incomodava com Jungkook dormindo aqui, não vai se incomodar com uma simples conversa. 

— Como… — As palavras se perderam no ar e eu tinha certeza que havia corado. — Não aconteceu nada entre a gente.

— Eu sei. — Exclamou, com a voz calma. — Jungkook já demonstrou que se importa mais com você do que com ele. 

Assenti levemente, lembrando das suas palavras de hoje mais cedo. 

Não queria que se sentisse obrigada a ficar comigo só porque sou destinado a você.  

Como não disse nada, Yoongi pigarreou alto.

— Como Jungkook mesmo disse, eu sou um beta. — Ele murmurou, baixando os olhos. — Sou fraco, principalmente porque não sei usar toda minha força, mas acabei com aquele lobisomem sangue sujo.

— Você o matou? — Eu me inclinei na sua direção.

— Não. Dei apenas uma lição nele para nunca mais se meter com a minha prima. 

Nós dois rimos.

Envolvi Yoongi em um abraço apertado e descansei minha cabeça em seu ombro. De início, ele ficou surpreso e eu pude sentir seu corpo rígido, no entanto, logo ele relaxou, soltando um suspiro pesado. Envolveu os braços no meu corpo e me apertou, com o queixo sobre meu ombro.

— Você está bem? — Trancei o caminho dos meus dedos até sua bochecha machucada. O incrível era que não tinha mais nada lá, sequer um arranhão. — Yoongi…

Ele deixou escapar uma risada gutural ao perceber do que eu estava falando.

— Jungkook não disse a você? Nós lobisomens nos curamos rápido.

Suspirei em alívio e ele riu. 

Saí do abraço dele, me encostei na cama e coloquei minhas pernas em seu colo.

— Gosta de ser um lobisomem? 

Ele me olhou, assentindo mais de uma vez com um grande sorriso.

— Amo! Lembra que eu era obcecado por histórias de lobos e matilhas? 

— Lembro sim.

— É como um sonho se tornando realidade. 

Então, os músculos rígidos das minhas costas se suavizaram com essa resposta. Não podia deixar de ficar feliz por ele, mesmo sendo algo perigoso. Só eu sei o quanto ele amava aquelas histórias. Talvez, não foi uma coisa ruim o que o tal Jimin fez, no fim das contas.

Embora eu estava a salvo no meu quarto e Yoongi bem, tinha o outro lobo à solta. Ele não sabia se controlar e era de uma espécie totalmente diferente. Eu me encolhia só de lembrar daqueles olhos e de todo o resto.

Então me lembrei da lua. Até agora não ouvi nenhum uivo.

— Você não vai se transformar em lobisomem agora? — Apontei com o dedo a lua lá fora.

Esperava que não. Yoongi teve muitas emoções por hoje. 

— Me transformo quando quero. — Ele falou, seguindo meu dedo. — A lua não tem efeito sobre mim ou qualquer lobo da alcateia do Jungkook.

Ficamos em silêncio, olhando um para o outro com sorrisos satisfeitos no rosto. Não precisávamos dizer nada, já era muito bom ficar assim com meu primo nessa calma e sem motivos para brigar. Sentia que daqui para frente Yoongi ia me manter mais presente na sua vida. 

E era o que eu mais queria.

— Agora que você sabe que é a companheira de Jungkook, o que vai fazer? Gosta dele? — Arqueou a sobrancelha enquanto cutucava meu ombro.

Me remexi na cama e mordi os lábios, pensando melhor nessa questão.

— Não vou fazer nada. — Confessei, tentando explicar melhor o meu ponto. — Gosto! Gosto muito, mas não acho que seja amor e que já devemos nos casar. 

Yoongi assentiu, focado nas minhas palavras. 

— Acho que com o tempo meus sentimentos vão ser esclarecidos. Mas se fosse para casar com Jungkook, eu casaria sem reclamar. Ele é tão legal, fofo e se importa comigo. Eu tenho certeza que não vou demorar nada para descobrir o que sinto. 

Meu primo sorriu, tentando esconder uma careta.

— Confesso que quando ele falava de Katharine, sentia ciúmes lá no fundo, misturado com inveja, porque eu não conseguia parar de pensar o quanto ela era sortuda de ter Jungkook ao seu lado. Os olhos dele brilhavam quando falava dela, mas agora eu vejo que brilhavam porque ele pensava em mim.

Não pude deixar de sorrir ao lembrar do seu rostinho e dos pequenos olhos que transmitiam um brilho incomum. Eu não ia mentir em dizer que não gostei de saber que era a companheira dele, porque eu gostei muito. Na verdade, me sentia uma sortuda por ser destinada por alguém como ele, totalmente dócil e protetor. 

— Primo, e a sua companheira, você já a encontrou? — Perguntei, curiosa no assunto.

Ele soltou um muxoxo estranho e arqueou as sobrancelhas com um grande bocejo no final.

— Não e acho que nem quero. — Confessou ele, tão rápido que eu sorri. — Estou feliz com as minhas companheiras da taverna.  

Fiz uma careta, jogando um travesseiro em seu rosto no qual ele pegou.

— Seu cretino. 

— Cabelo de fogo. — Seus dedos enrolaram em uma mecha do meu cabelo e puxaram, arrancando um gemido meu. 

— Isso doeu. — Comentei, o chutando para fora da minha cama.

— Tô nem aí. — Sibilou lentamente gargalhando enquanto ia em direção a porta. — Já é bem tarde. Você precisa descansar. 

Não discordei. Contudo, quando ele passou pela porta eu o chamei.

— Ah, betas tem cheiros? 

Ele franziu o cenho,parecendo muito confuso.

— É que eu abracei você e não senti nada, mas com Jungkook é diferente. Ele tem cheiro de sândalo, porém, tem outras coisas também que me fazem sentir em… acho que a palavra certa seria arroubo.

Ele bateu a cabeça no batente da porta e puxou os lábios para o lado, deixando o corpo preguiçoso encostado. 

— Cabelo de fogo, você é a companheira dele, claro que sente esses cheiros. É normal entre companheiros, eu acho. Pergunta para ele, mas não é nada que você deva se preocupar.

ههههه

Depois de um tempo, cai no sono sem me dar conta, mas foi então que senti mãos quentes me sacudindo e chamando meu nome. Princesa Elizabeth começou com latidos baixos e finos, assim me acordando de vez. Quando abri os olhos, vi Jungkook ao meu lado na cama com as mãos em meu ombro.

Ele puxou o canto do lábio em um sorriso fino e sem ânimo. 

— Desculpa acordar você essa hora, mas é urgente. — O maxilar se contraiu e ele engoliu em seco.

Me apoiei em meus cotovelos, fazendo um grande esforço para manter os olhos abertos.

Sentia que não havia dormido quase nada. Meu corpo estava horrível e sentia dores em todos os lugares. O peso de Jungkook quando me levou ao chão acabou comigo, ele era muito pesado, bem mais do que pensei.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei com a voz grogue.

Jungkook inflou o peito e puxou o ar com força.

— Você sabe que minha missão é pegar os lobos e levá-los para o mundo Sobrenatural,  não é?

Levá-los? Significava que…

— Você vai levar o Yoongi? — O espanto na minha voz deixou Jungkook cabisbaixo.

E de repente o sono que sentia se foi.

— Sim.

— E se ele não quiser ir?

Suspirando pesado, ele jogou a cabeça para trás passando as mãos no cabelo.

— Olha, o ponto é: eu nunca precisei procurar os homens que foram mordidos porque já sabia quem eram. Só dizia que não sabia porque estava ganhando tempo com você. Eu precisava passar mais tempo com você antes de voltar.

— Jungkook, você vai embora? — Perguntei rapidamente, me mantendo sentada.

Jungkook inclinou a cabeça para um lado, assentindo.

Então, do nada pareceu que tudo à minha volta havia se quebrado como um espelho e com o vidro desmoronando de uma vez em pedaços.

Acho que fiquei sem ar porque não conseguia respirar mais.

— Não vou atravessar a encruzilhada agora, o lobo cinza fugiu para Londres. Fui atrás da família dele e eles me deram essa informação. — Explicou ele, mantendo a voz suave, porém firme. — Amanhã irei pegar o primeiro trem para Londres, e Yoongi irá comigo.

— E eu?

Minha voz saiu incrédula. 

— Você não vai. — Ele disse por fim. — Essa é a última noite que passamos juntos.

Baixei os olhos, encarando meus dedos que se esfregavam uns nos outros. 

Eu não podia deixar ele fazer isso comigo, depois de tudo que passamos e além disso, depois de hoje que descobri ser sua companheira. Não era justo e se Jungkook estava achando que eu ia ficar em Salem com meus tios, ele estava enganado. Eu conhecia Londres tão bem que seria de muita ajuda. Afinal, Londres era a minha cidade. 

Eu não precisava falar nada, não agora. 

Apenas joguei meus braços no pescoço de Jungkook e beijei sua bochecha, descendo para o canto da sua boca. A respiração alheia ficou pesada e antes que ele falasse algo, eu o beijei, esmagando nossos lábios uns nos outros.