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História Extinct World (Reescrevendo) - Fathers and Daughters


Escrita por: SenhoraDixon

Notas do Autor


Oi oi pessoas,olha eu aqui de novo!
Quero agradecer a TheCrazyUnicon, LittleFlyMarcelaPaulino e MariaAliceLuna1 por favoritarem a fic.
E a TheDarknessGirl,PrincesaPimenta,Dudahhhs2s2 e Vick_Lima333 por comentarem,Obg e um grande bjo para todos vcs s2.

Capítulo 11 - Fathers and Daughters


Fanfic / Fanfiction Extinct World (Reescrevendo) - Fathers and Daughters

Se há uma promessa que eu quebrei, eu sei que um dia você vai entender
Em tempos difíceis, eu sei que você vai ser forte
Eu estarei lá no seu coração quando você prosseguir
Como o luar sobre a água, e os raios de sol no céu

Fathers and Daughters — Michael Bolton 

| PAIS E FILHAS |

~ Ivy Dixon ~

Senti meu coração parar de bombear sangue, minhas mãos suavam e tremiam descontroladamente e era como se não houvesse ar suficiente em meus pulmões. Eu estava em choque, incapaz de encará-lo ou dizer uma só palavra. Era o meu pai, eu mal podia acreditar. Ele estava bem ali, ao alcance das minhas mãos e eu não sabia como lidar com aquilo.

Múltiplos pensamentos inundaram minha mente, impedindo que eu pensasse com clareza. Era assustador, tão assustador que eu mal conseguia respirar. Mas eu precisava me acalmar e raciocinar sobre o que estava acontecendo. Respirei fundo e cerrei os punhos, tomando coragem para enfim encará-lo. Daryl estava com o rosto pálido, e eu tinha quase certeza que o meu não estava diferente.

 — Ivy, eu... –  Daryl se aproximou e eu dei um passo para trás, estendendo a mão direita e impedindo que ele se aproximasse mais.

— Não toque em mim! – eu disse entre dentes.

— Olha, tenta se acalmar ok? – ele pede e eu apenas solto um riso sem humor. Era inacreditável que ele estivesse me pedindo calma em um momento como aquele. — Precisamos conversar e...

— Não temos nada para conversar! – eu altero o tom da minha voz. Sentia as lágrimas se formando em meus olhos, mas não queria deixa-las cair, seria vergonhoso demais. — Você sumiu por anos! Você me abandonou e foi um egoísta de merda! – fechei meus punhos com ainda mais força, sentando minhas unhas machucarem as palmas das minhas mãos.

— Isso não é verdade. Sinto muito por ter ido embora, eu juro que não queria, mas foi necessário. Tente entender...

— Você sente muito? – solto uma risada irônica. — Você realmente acha que a porra de um ‘’sinto muito’’ vai consertar as coisas? – eu o encaro. — Eu senti a sua falta a vida inteira, sabia? Em cada natal, aniversário, dias dos pais... Você tem ideia de quantas vezes eu chorei por não ter você por perto? – sinto um nó se formando em minha garganta. — Você não estava lá quando mais precisei de você! –  a essa altura eu já estava gritando e já não conseguia mais segurar as lágrimas. — Você nem ao menos se preocupou em me procurar para saber se eu estava viva ou morta!

— Eu não abandonei você. –  seus olhos estavam marejados. — Eu liguei. Inúmeras vezes. Todos os anos, no dia quatro de julho eu pegava a minha caminhonete e enfrentava horas de viagem apenas para poder ver você no seu aniversário. – não parece que ele estava mentindo, mas eu me recusava a acreditar nas palavras dele. — Eu tentei me aproximar, mas sua mãe me proibiu de chegar perto de você. Eu não tinha escolha!

— ‘’Eu não tinha escolha’’... Essa é a sua justificativa? –  cruzo os braços abaixo dos meus seios e o encaro com o queixo erguido. — Sempre existe uma escolha e você fez a sua! Você desistiu. Não lutou por mim. Você nunca foi um pai de verdade. – minhas palavras o atingiram, pois uma lágrima escorreu por seu olho direito. Não vou mentir, eu me senti mal por isso.

— Você não sabe de nada! – ele nega com a cabeça. — Eu não fazia bem para você nem para a sua mãe, vocês acabariam se afogando no mar de merda que era a minha vida. Eu queria que você tivesse uma infância boa Ivy, queria que você fosse feliz. E ir embora foi a melhor forma que eu encontrei. –  eu ouvia atentamente cada uma das palavras dele e a raiva crescia ainda mais dentro de mim. — Naquelas circunstâncias eu não era bom para você...

— Não era bom? – eu grito. — E você acha que foi bom crescer sem você? Sem ao menos se lembrar do seu rosto? Uh? – minhas pernas tremiam e eu tinha quase certeza que a qualquer momento elas cederiam ao peso do meu corpo. — Você não faz ideia de tudo que eu tive que passar! Onde estava você ‘’pai’’... – represento aspas no ar. — quando essa merda toda começou? E quando eu tive que enfiar uma faca na cabeça da minha mãe? –  nego algumas vezes com a cabeça. — Você falhou comigo. Falhou com a mamãe. E nada, absolutamente nada, que você dizer vai mudar isso.

Eu tentava ao máximo me manter firme, mas a verdade era que eu estava uma bagunça por dentro. Sei que deveria estar feliz por reencontrar o meu pai, mas tudo que eu conseguia sentir naquele momento era raiva. Era impossível não iniciar uma série de questionamentos e suposições como: ‘’Talvez minha mãe estivesse viva se ele não tivesse partido’’. No fundo eu sabia que não era culpa dele, e sim minha, mas culpá-lo era forma de diminuir, mesmo que pouco, a minha própria culpa. Merda, eu era muito egoísta.

— Eu tentei. Juro que tentei ir atrás de você, mas a cidade estava tomada pelos mortos. – Daryl fechou os olhos por um instante e passou a mão pelo cabelo. — Eu achei que era tarde de mais. Pensei que vocês estavam mortas.

— Minha mãe morreu. – digo sentindo um aperto no peito. — Eu a matei! –  respiro fundo e chacoalho a cabeça enquanto as lembranças ruins invadem minha mente. — Mas eu não estava morta Daryl. Eu estou viva! E não é graças a você.

A expressão no rosto de Daryl era dura. Ele deu três passos para frente e novamente eu recuei. Ele então parou, com os olhos cravados nos meus.

— Apenas me dê uma chance de consertar ás coisas. – ele pede e eu apenas nego com a cabeça. — Por favor, me deixe ser o seu pai.

— Não. É tarde demais para isso, não acha? –  eu uso a manga da minha camisa para limpar as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. — Se passaram anos, Daryl, anos... Eu não sou mais aquela garotinha de chorava sentindo a falta do pai. Eu não preciso de você. Você não é meu pai! –  digo pausadamente. — Nunca foi. – finalizo minha frase e saio andando, ou melhor, correndo da casa.

Daryl chamou pelo meu nome algumas vezes, mas eu apenas o ignorei. Meus pés se moviam em um ritmo apressado e as lágrimas insistiam em escorrer pelo meu rosto. Eu não queria chorar, mas era como se uma avalanche de sentimentos tivesse caído sobre mim.  Estava com raiva, com ódio, confusa e magoada.

Em um mundo perfeito, nesse momento eu estaria nos braços de Daryl, feliz por tê-lo reencontrado. Mas o mundo real não é perfeito e a realidade em que vivemos é uma merda... Não haveria abraços e nem lágrimas de emoção.

Quando eu era criança meu maior sonho era abraçar o meu pai e dizer que eu o amava. Tantas noites eu idealizei uma família perfeita e até mesmo pedi para o ‘’Papai do Céu’’ que trouxesse meu pai de volta para casa... Besteira. Eu era uma criança boba. Mas agora eu não era mais uma criança e já não desejava mais um abraço. Naquele momento, eu desejava tudo de ruim para Daryl Dixon. Minha raiva por ele crescia a cada instante.

— CUIDADO! – um grito me despertou dos meus devaneios, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, algo se chocou contra o meu corpo e no instante seguinte eu já estava no chão. Minha cabeça bateu contra o asfalto e minha visão se embaçou por alguns segundos.

— Merda! – digo, piscando algumas vezes e tentando estabilizar minha visão. Quando finalmente consigo, noto que a pessoa que me atropelou era Nathan e que ele ainda esta caído sobre mim, ele me encarava com os olhos arregalados. — Saí de cima de mim, idiota! – eu o empurro para o lado e me levantando com um pouco de dificuldade. Sinto o meu cotovelo arder, então puxo a manga da minha camisa e vejo que ganhei um belo ralado no mesmo. — Vê se olha por onde anda garoto!

— Foi mal Ivy. – ele diz enquanto se levanta. — Você apareceu correndo de repente e eu estava distraído, não consegui desviar o skate. Desculpa mesmo. Não foi a minha intenção, eu juro! Desculpa. – ele falava rápido, atropelando as palavras. — Meu Deus, você se machucou? –  seus olhos pausaram sobre o pequeno ferimento em meu braço. — Me deixa ver isso... –  ele tentar tocar o meu braço, mas eu dou um passo para trás.

— Eu estou bem. –  digo num tom seco. — Não foi nada. –  dou ás costas e saio andando, ignorando os curiosos que pararam para ver o ‘’acidente’’.

— Ei, espera! – Nathan apressa seus passos e se coloca em minha frente. Eu o encaro com cara de tédio. — Deixa pelo menos eu passar um remédio nisso.

— Não precisa. –  digo e tento passar por ele, mas o mesmo bloqueia novamente minha passagem. — Saí da minha frente. –  tento não ser grossa, mas era quase impossível. Grosseria estava no meu sangue, algo que provavelmente herdei de Daryl.

— Por favor. Olha, eu estou me sentido muito mal por ter atropelado você. Por favor, me deixa fazer um curativo nisso. –  ele me olha com cara de cachorro pidão e eu reviro os olhos. — Por favorzinho...

— Argh, está bem. É o mínimo que você pode fazer depois de quase ter rachado minha cabeça no chão. – digo e Nathan ri. Eu não queria a companhia dele, mas o problema não era com ele, na verdade eu não queria a companhia de ninguém. Queria ficar sozinha com os meus pensamentos confusos, mas tenho certeza que Nathan não me deixaria em paz se eu não aceitasse sua ajuda.

— Vamos. Minha casa não fica muito longe. –  ele diz e começa a andar. Eu o sigo.

— Você é muito irritante, garoto. – eu digo e ele solta uma gargalhada.

— Você não é a primeira a dizer isso. – ele diz e eu balanço a cabeça em sinal de negação, esboçando um sorriso.

***

Não demorou muito até que chegássemos à casa de Nathan. Entramos no lugar e eu observei atentamente ao redor, era uma casa muito bonita e bem arrumada. O lugar estava em completo silêncio e logo deduzi que não havia ninguém em casa.

— Seus pais e o Simon não estão em casa? – pergunto e Nathan nega com a cabeça.

— Meu pai está trabalhando, ele ajuda na construção. Já a minha mãe ajuda na dispensa. E o Simon deve estar brincando com as crianças da comunidade. – ele explica. — Pode sentar se quiser. – ele aponta para o sofá. — Eu vou lá em cima buscar o kit de primeiros socorros. – o garoto fala indo em direção à escada e eu assinto.

Depois que ele as escadas eu me sento no sofá e passo minha mão no rosto respirando fundo. Meus pensamentos estavam a mil e eu ainda sentia o meu sangue ferver com o pior sentimento que alguém pode sentir: o ódio. 

Respiro fundo mais uma vez e noto um quadro sobre a mesinha de centro. Eu o observo, na imagem  se pode ver Nathan, Simon, uma mulher e um homem, que logo deduzi serem os pais dos garotos. Eles estavam sorrindo, pareciam felizes como uma família perfeita. Nathan tinha sorte, a vida havia sido gentil com ele, desde ter uma boa família até encontrar esse lugar e sobreviver sem ter feitos coisas horríveis. Mas nem todos tiveram a mesma sorte...

Ouço o som de passos na escada e não demora muito até Nathan invadir meu campo de visão com uma malinha de primeiros socorros. O garoto se senta ao meu lado e olha para mim com um sorriso amigável, tento retribuir, mas o máximo que consigo é contrair os lábios formando uma linha reta.

— Demorei? –  ele pergunta e eu nego com a cabeça. —  Que bom. Deixa ver o esse braço... –  ele tenta tocá-lo, mas eu o puxo para trás de modo completamente involuntário. Nathan franze o cenho por um instante, mas logo volta a sorrir.  —  Tudo bem parece que você tem problemas com toque... – eu desvio o olhar, fitando um ponto fixo no chão. O garoto estava certo, eu tinha problemas com toque das pessoas, acho que sempre teria. —   Algo ruim aconteceu com você?

—  Não. –  respondo de imediato. —  Isso não tem nada haver. Eu só... –  penso por um instante tentando encontrar uma boa desculpa. —  acho uma besteira cuidar de um ferimento insignificante como esse. 

—  Não é besteira, é precaução.  –  ele sorri. — Posso?

Eu hesito pelo que parece ser uma eternidade, mas resolvo estender o meu braço para ele, quer dizer, o garoto só estava tentando ser gentil e eu precisava parar de ser paranoica. 

Nathan umedece um pedaço de algodão no álcool, depois seguida o meu braço com uma mão e com cuidado passa o algodão pelo meu machucado. Ardeu, confesso, mas não era nada insuportável.

—  Ainda acho uma besteira. –  eu digo. — Eu já tive machucados bem piores que esse. Acredite isso não vai me matar. 

—  Eu sei. – ele diz enquanto limpa o machucado em meu braço. — Não foi por causa do machucado que eu trouxe você até aqui. 

—  Não?  –  arqueio uma sobrancelha. — Então por quê?

—  Eu percebi que você não estava muito bem. Estava chorando... E eu detesto ver alguém chorar, principalmente uma amiga. – ele dá os ombros como se aquilo fosse normal. —  O que aconteceu para você sair correndo pela rua daquele jeito?

—  É um assunto delicado. Não sei se quero falar sobre isso...

—  Bom, eu sou um garoto muito delicado. – ele diz num tom brincalhão e eu solto um riso anasalado. —  E sou um bom ouvinte também. Você pode me contar, mas se quiser, é claro. 

Suspirei profundamente, eu realmente não queria conversar sobre o meu ''drama familiar'', mas precisa desabafar com alguém, era muita coisa para uma cabeça confusa como a minha de uma só vez. Talvez Nathan não fosse a melhor pessoa para me ouvir naquele momento, eu não tinha certeza que ele entenderia. Mas por infantilidade minha eu estava ignorando a única pessoa com quem me sentia totalmente à vontade para conversar...

— Posso fazer uma pergunta? –  pergunto a Nathan enquanto o mesmo coloca um esparadrapo sobre meu ferimento. O garoto assente e então eu continuo. — Você ama o seu pai?

Ele me encarou por um instante com uma expressão confusa. Era uma pergunta simples, mas com certeza ele não a ouvia com frequência. 

—  Ele é meu pai, certo? Eu preciso amá-lo. –  ele diz num tom sério. — Ele é insuportável ás vezes e também é cheio de defeitos, mas ainda assim eu o amo. –  ele sorri. —   Prontinho. – ele termina o curativo. 

—   É fácil amar alguém que sempre esteve presente em sua vida e cuidou de você com todo amor e carinho. –  eu digo sem olhar para ele.

—  Meu pai não foi o melhor pai do mundo. –  ele diz e eu o encaro. —  Na  verdade, ele ainda não é.  Quando eu era pequeno, ele bebia muito e sempre chegava a casa tarde. Ás vezes até batia na minha mãe ou em mim... –  eu estava um tanto surpresa com o que ele contava. —  Mas ele mudou depois que o mundo virou um caos... Foi a única coisa boa que o apocalipse trouxe para as nossas vidas.  –  eu fiquei em silêncio, não sabia o que dizer. Tudo que eu tinha pensado a respeito daquele quadro sobre a mesa de centro estava errado, eles não eram uma família tão perfeita assim.  —  Mas é você? Ama o seu pai?

—  Como se ama alguém que você ao menos conhece? –  eu pergunto sentindo um nó em minha garganta. — Meus pais se separam quando eu tinha apenas quatro anos. O meu pai foi embora e nunca mais voltou, nem ao menos para fazer uma visita. –  nego com a cabeça algumas vezes. —  E sabe o que é mais irônico nisso tudo? – foi uma pergunta retórica. —  Eu o encontrei, depois de doze anos. Ele está aqui em Alexandria, ele faz parte do grupo do Rick... Dá para acreditar nessa merda? – solto uma risada sem humor. 

— Uau. Isso parece até uma história de filme. –  Nathan me encarava perplexo enquanto eu contava sobre meu reencontro com Daryl. —  Você está feliz como isso?

—  Feliz? –  eu o encaro  incrédula.  — Nathan, aquele cara me abandonou. Ele sempre esteve ausente, nunca fez o papel de um pai de verdade. –  a essa altura eu já estava de pé e andava de um lado para o outro na sala de Nathan. — Foi preciso uma merda de apocalipse acontecer para eu encontra-lo. O que acha que eu deveria fazer? Correr para os braços dele e dizer que eu o amo? 

— Eu sei que é complicado, Ivy. – ele diz num tom calmo. — Mas eu acho que você precisar conversar com ele com mais calma, entende? A vida deu a vocês uma segunda chance... E bom, segundas chances são raras nos dias de hoje. –  eu ouvia atentamente as palavras de Nathan. De certa forma, ele estava certo. — Você tem sorte em ainda ter o seu pai por perto. Muitas pessoas gostariam de estar no seu lugar.

Solto uma espécie de risada incrédula, ele não estava falando sério, ou estava?

— Eu sabia que você não entenderia. – balanço a cabeça em sinal de negação.  — Obrigado pelo curativo Nathan, e por tentar ajudar.  Mas eu realmente não preciso ouvir que eu sou uma garotinha ingrata.

— Eu não disse i...

— Não precisou dizer. –  eu o interrompo.  —  Eu sei que é isso que você pensa. –   digo e dou as costas, indo em direção à porta de saída da casa.

—  Ivy, espera! –  ouço a voz de Nathan me chamar, mas eu não olho para trás.

Deixo a casa do garoto e caminho apressadamente por uma rua de Alexandria. Estou sem rumo, não sei para onde ir agora, apenas caminho e deixo as minhas pernas me levarem para onde eles quiserem.  .

Penso no que Nathan disse, eu sabia que ele tinha razão, mas mesmo assim me recusava a aceitar que talvez eu estivesse sendo injusta com Daryl. Eu era a vítima naquela história, não ele. E de qualquer forma, Nathan não consegue entender que isso não é apenas sobre doze anos de abandono e sim sobre o fato de que quando eu mais precisei meu pai não estava presente. O papel de um pai é amar e proteger, certo? Daryl nunca fez isso.

É impossível não comparar Nathan com Carl. Tenho certeza que o Mini Xerife entenderia...

 

Paro de caminhar assim que noto que estou em frente à casa de Rick. Foi algo inconsciente, minhas pernas simplesmente me trouxeram para cá sem que eu percebesse. Sinceramente, aquele era o último lugar onde eu queria estar naquele momento, a simples possibilidade de encontrar Daryl já fazia as minhas pernas tremerem. Mas eu precisava enfrentar esse medo, afinal, uma hora ou outra eu iria encontrá-lo.

Subo a escada da varanda devagar e encaro a porta por longos segundos.  Minhas mãos suavam e eu podia ouvir as batidas frenéticas do meu coração. Vamos Ivy, pare de ser covarde! Coloco minha mão sobre a maçaneta e penso em girar a mesma, mas antes que eu faça isso a mesma se abre e dou de cara com Carl. Ótimo...

Dou três passos para trás e o encaro, ele também me encara com aqueles lindos olhos azuis tão expressivos. Então eu me lembro do nosso encontro na cozinha hoje mais cedo, eu havia sido grossa e o tratei mal enquanto ele só estava tentando ser legal comigo.  Eu podia simplesmente pedir desculpas, mas eu era muito orgulhosa e me odiava um pouco por isso. 

Tento passar por ele, mas o mesmo se coloca em minha frente bloqueando a passagem da porta. Respiro profundamente e tento manter a calma.

— Carl, me deixe passar... Por favor. –  peço calmamente.

— Não, até que você diga o que eu fiz para você me ignorar. – ele diz e eu reviro os olhos.

—  Você não fez nada. – digo sincera. Carl não era o problema, o problema real era a minha imaturidade. Tento passar novamente, mas é inútil. —  Argh Carl! – cerro os dentes.

— Se eu não fiz nada então por que você está me evitando? – ele cruza os braços. — Somos amigos Ivy, se eu fiz algo errado é só dizer, prometo que vou tentar consertar.

— Você não fez nada de errado Carl. –  digo sem olhar diretamente para ele. —  Eu só não quero causar nenhum problema para você. Acho que sua namorada não ia gostar de ver você conversando com outra garota...

—  Namorada? – ele franze as sobrancelhas.  — De quem você está falando?

— Enid. Eu vi vocês dois juntos ontem... – digo como se isso explicasse tudo.

Carl riu, ou melhor, gargalhou, jogando a cabeça para trás e achando muito engraçado o que eu tinha dito. Eu franzo o cenho, o que era tão engraçado assim para ele rir tanto?

— Enid e eu somos apenas amigos. –  ele diz parando de rir. — E ela namora o Ron.

Sinto uma sensação de alivio ao ouvir as palavras de Carl, mas o alivio durou pouco dando lugar a vergonha, quer dizer, eu o tratei mal sem motivo algum... Eu estava me sentindo muito ridícula naquele momento.

— Eu pensei que vocês... Você e ela... Pensei que... – me embaralho com as palavras e Carl ri da minha confusão. — Desculpa Carl. Desculpa por ter tratado você daquele jeito hoje de manhã... – coloco uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha.

— Está tudo bem. – ele sorri. — Mas me diga uma coisa... Você estava com ciúmes? – ele arqueia uma sobrancelha.

Sinto minhas bochechas ficarem vermelhas instantaneamente. Sim, eu estava com ciúmes, mas jamais diria disso em voz alto. É normal, não é mesmo? Amigos sentem ciúmes uns dos outros...

—  Ciúmes? – ri sem humor. — Não seja ridículo, garoto. Por que eu teria ciúmes de você? –  tombo a cabeça para o lado. Carl ri balançando a cabeça de um lado para o outro.

— Já disse que você fica uma graça com as bochechas vermelhinhas? – ele diz com um sorriso e eu sinto minhas bochechas queimarem ainda mais.

—  E eu já disse que você é um idiota? – cruzo os braços e arqueio uma sobrancelha. Carl ri e foi impossível não rir também.

***

—  Depois de os mortos voltarem à vida, eu achei que nada mais pudesse me surpreender. Mas isso... Isso com certeza é mais do que surpreendente. Não consigo acreditar que Daryl tem uma filha. Ele nunca disse nada sobre isso. – Carl dizia enquanto me encarava com uma expressão um tanto incrédula.

Estávamos sentados no sofá, um de frente para o outro, enquanto eu contava com detalhes sobre o que havia acontecido hoje mais cedo. Por alguma razão era fácil conversar com Carl, eu sentia que podia contar qualquer coisa para ele.

— Provavelmente ele se esqueceu. – dou os ombros. — Muito antes de o mundo virar um show de horrores.

—  Eu não acho que ele tenha esquecido... – Carl diz e eu o encaro sem entender, então ele prossegue. — Daryl é um cara fechado, ele não fala muito sobre sua vida antes do apocalipse. Mas ele não é uma má pessoa.

— Eu nem o conheço. –  nego com a cabeça. — Ele é o meu pai, mas é um completo estranho.

— Conheço Daryl há quase quatro anos e ainda não posso dizer que o conheço cem por cento. – ele dá os ombros. — Daryl é uma incógnita, e você também é. Isso é algo que vocês têm em comum.

Nós rimos e então o silêncio se instalou entre nós, mas naquele momento ele não incomodava. Haviam muitas perguntas não respondidas em minha cabeça, e às vezes o silêncio é a melhor resposta.

Fecho meus olhos por alguns segundos e respiro fundo. Quando eu os abro noto que Carl me olhava, esboço um sorriso e ele retribui. Eu não conseguia parar de olhar o sorriso dele, não sei explicar o porquê mais ele me trazia paz. Estar com Carl me proporcionava um sentimento novo que eu nunca havia sentido antes e por isso não sabia explicar o que era.

— Ivy? – a voz do garoto me tirou dos meus devaneios.

—  Ahn... Oi? – sinto minhas bochechas corarem e Carl ri.

—  Você está bem?

— Estou. –  faço um gesto banal com as mãos. — Eu só estava pensando em uma coisa.

— E eu posso fazer que ‘’coisa’’ é essa? – ele arqueia as sobrancelhas.

— Não. É confidencial. – tombo minha cabeça para o lado e sorrio. — Se eu contasse, teria que matar você depois.

— Você não vai contar? – ele pergunta e eu nego com a cabeça. — Então eu terei que usar meus métodos de tortura. E lembre-se, você pediu por isso...

Eu nem tive tempo de perguntar o que ele queria dizer com a aquilo, pois Carl praticamente se jogou em cima de mim e começou a fazer cócegas em minha barriga, então eu me deitei no sofá e Carl acabou ficando por cima. Eu me contorcia e gargalhava enquanto tentava inutilmente afastar as mãos dele.

—  PARA CARL! – eu ria e tentava me desvencilhar de seus braços. —  POR FAVOR!

— Não. Você é uma menina muito má. –  ele disse aumentando o ritmo das cócegas. Eu já chorava de tanto rir e tenho certeza que eu rosto estava complemente vermelho por causa da quantidade de risada.

—  Por favor... – eu mal conseguia respirar.

— Certo, mas só porque você pediu com jeitinho. –  Carl disse parando de fazer cócegas. Ele ainda estava em cima de mim, mas por mais incrível que parece aquela proximidade não me incomodava.

— Você vai me pagar por isso. – digo parando de rir e tentando recuperar o fôlego.

Carl ri e me encara, faço o mesmo observando cuidadosamente seus olhos tão azuis quanto o céu. Era uma comparação boba, mas era a mais pura verdade. Através daqueles olhos eu podia ver o infinito e a beleza que Carl possuía, tanto por dentro quanto por fora.

— Você é linda. – ele diz tirando uma mecha do meu cabelo que caía sobre o meu rosto.

Senti as minhas bochechas corarem e então sorri sem mostrar os dentes. Carl aproximou seu rosto do meu e o meu corpo inteiro tremeu com o gesto. O que ele estava fazendo?

Infelizmente eu não pude descobrir, pois o som da porta se abrindo fez com que eu me assustasse e involuntariamente empurrasse Carl. Fiquei de pé em um pulo e encarei a porta por onde Rick acabará de passar, logo atrás do mesmo estava Daryl.

Meus olhos se encontraram com os do meu pai e quase que involuntariamente minhas pernas se movem rapidamente em direção as escadas, enquanto Daryl estava em meu encalço. Tropeço do último degrau, mas por sorte consigo manter o equilíbrio. Entro em meu quarto e tento fechar a porta, mas meu pai a segurou com o pé.

— Ivy, me deixe entrar! Vamos conversar. – Daryl pede enquanto eu uso todo o peso do meu corpo para tentar manter a porta fechada.

— Vai embora, Daryl! –  eu grito. — Não temos nada para conversar!

— Só me ouça! Cinco minutos são tudo que eu peço! – ele pede, ou melhor, implora.

Penso por um instante, talvez fosse melhor ouvir o que ele tenha a dizer... Mas disso não quer dizer que eu vou aceitar ele na minha vida, não sei se consigo fazer isso.

Respirei fundo e sai da frente da porta, deixando que a mesma se abrisse. Daryl me fitou por um instante e então adentrou o quarto, fechando a porta atrás de si.

— Você tem cinco minutos. – digo cruzando os braços. Daryl suspira e para a mão pelo cabelo.

— Eu não faço ideia de como começar uma conversa com você, mas preciso começar de alguma forma então... – ele faz uma breve pausa. — Eu nunca quis abandonar você. Eu quis ser um pai presente, quis te dar amor e carinho, mas eu realmente não sabia como fazer isso. Eu era um merda, essa era a verdade. –  ele nega com a cabeça. — Você não sabe como foi difícil me afastar, e eu só fiz isso depois que a sua mãe conseguiu uma ordem judicial que proibia minha aproximação.

— Minha mãe? – ri sem humor. — Então você quer transformar ela na vilã da história?

— Não! – ele nega com a cabeça. — Ela estava magoada e fez o que achava ser o certo. Ela não queria se você estivesse envolvida em todas as minhas merdas. – ele suspira profundamente. — Foi escolha minha ir embora, mas não foi escolha minha me afastar. Eu queria ficar por perto, queria ver você crescer e se tornar uma pessoa boa e honesta. – seus olhos estavam marejados. — Eu queria ser para você o pai que o meu próprio pai não foi para mim, mas eu falhei...

— E agora quer que eu perdoe você por isso? Sinto muito Daryl, mas é tarde. – sinto meus olhos marejarem, mas logo mordo meu lábio inferior e me recomponho. — É tarde demais.

Ficamos em silêncio por um tempo e naquele momento o silêncio incomodava e muito.

— Eu me lembro do dia em que você nasceu. – ele contrai os lábios formando uma linha reta. — Era tão pequena, frágil e... Linda. –  ele deu um passo à frente e dessa vez eu não me afastei.  — A primeira vez que vi você percebi que nunca havia visto algo tão perfeito. Naquele momento, eu me senti o homem mais feliz do mundo. – uma lágrima escorre pelo meu olho esquerdo e rapidamente eu a limpo. — Eu me lembro de pensar que... Eu precisava proteger você de toda e qualquer dor desse mundo e que eu seria capaz de morrer por você. 

— Para... – eu peço com a voz embargada pelo choro.

— E quando você sorriu pela primeira vez, eu me senti tão... Tão tranquilo. – eu já não conseguia mais segurar as lágrimas. — Você é a melhor coisa que já aconteceu comigo. Não foi fácil ter que deixar você...

— Mas deixou! – altero o tom da minha voz. — Você pelo menos pensou como eu ficaria quando você fosse embora?

— Eu sabia que você ficaria bem, porque sua mãe era boa o suficiente e te daria todo amor do mundo, mesmo assim não ache que foi uma decisão fácil, Ivy, porque não foi.

— Sabe o que também não foi fácil, Daryl? Escrever diversas cartas no dia dos pais e nunca poder entrega-las, e no final ver que todas as minhas palavras iam para o lixo, literalmente. Não foi fácil crescer com o fantasma de um pai, porque era isso que você era para mim.  – balanço a cabeça em sinal de negação.

— Eu sinto muito... – ele diz fitando o chão.

— Eu sei que sente. – digo sincera. — Mas isso não muda nada.

— Eu sei. – ele balança a cabeça. — Mas se você me der uma chance, eu prometo tentar ser o pai que você sempre sonhou.

 — Você não precisa ser o pai que eu sempre sonhei, basta apenas ser o meu pai. – esboço um sorrio e ele me olha surpreso.

— Então isso quer dizer que...

— Eu perdoo você, pai.

Daryl sorriu pela primeira vez e deu mais um passo á frente, mas logo parou como se pedisse permissão para se aproximar. Eu retribuo o sorriso e assento. Ele então quebrou a distancia que havia entre nós e me envolveu em um abraço, o abraço que eu sempre sonhei em receber dele, um abraço de saudade, de uma filha que perdoava o pai por ter sido abandonada e por ter vivido tantos anos sem o amor do mesmo. 

Continua...


Notas Finais


Espero muito que vocês tenham gostando da nova versão do cap, maior e mais completa ksks <3


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