História Fada Por Acaso - Jeon Jungkook - Por esta noite

JUNGKOOK

Mentiras duram tanto quanto gelo exposto ao sol ou podemos enganar aos outros porém não a nós mesmos. Pinóquio esticava o nariz sempre que mentia, esse era seu medidor de honestidade. Contudo, nem os seres humanos e fadas esticam seus narizes, fazendo ser bem mais difícil conseguir descobrir a verdade.

Gostaria de ter conseguido mentir melhor para todos e a mim mesmo, porém aqui estou em uma lanchonete com meu amigo furioso e minha cliente que eu estava beijando minutos atrás.

-Isso é péssimo, péssimo, péssimo. Vai dar merda.- Jimin só repetia isso ou algo semelhante desde que lhe contei tudo. Ele passava a mão nos cabelos irritado.

-Eu não acredito que se meteu numa furada dessas. E agora?!

-Vou terminar o caso e provar meu valor.- Respondi suas indagações irritadiças. _____ nada dizia ao meu lado, apenas assistia a conversa.

-Mas não me diga, ein? Gênio. Não conseguiu esconder nem do seu amigo, imagina da Sra.Adonia e o Sr.Damien! O Yoongi sabe disso?

-Não! E você não vai abrir a boca pra contar nada!- O ameacei, porque se tem uma coisa que Jimin era péssimo, era no quesito mentira. Ele roe as unhas nervoso.

-Yoongi vai ficar tão furioso quando descobrir que você mentiu pra a gente. Até imagino outra praga que ele vai me jogar, dessa vez vai ser ainda pior que a minha voz ecoando.- Jimin se desesperava, senti _____ também ficar inquieta.

-Cala a boca, ta deixando a _____ nervosa. Olha só, vamos fingir que nada disso aqui aconteceu e que meu cliente é um homem.

-Muito fácil falar, difícil vai ser fazer de conta que você não está descumprindo uma das principais regras, mentindo pra todo mundo e dando uns pegas na sua cliente.- Acusou irritado. _____ ruborizou e eu admito que não tinha como argumentar contra isso.

-Cara, me ajuda nessa aí. Eu nunca nem tive um caso na minha vida, se tivesse denunciado para o Sr.Damien eles nem tinham me dado outro caso. Vou ficar desempregado e morando com você.

-Comigo? Sai fora. Isso aí é chantagem emocional. E esse caso só tá te rendendo apuros e porrada, ja viu como está a sua cara?-Ele aponta para o meu rosto que eu sabia que estava detonado. A única ferida que eu tinha orgulho de ter ali, era a marca de quando _____ deu uma mordidinha nos meus lábios ainda a pouco.

-Por favor Jimin, ele é seu amigo. Não pode quebrar esse galho?- _____ entrou na conversa fazendo cara de triste. Era a hora de encarnar uma atriz.

-Imagine só o Jungkook desempregado, vivendo nas masmorras, sozinho e triste. Quando você poderia ter evitado tudo isso.- Ela dá uns tapinhas na minha costa, essa é a minha deixa para fazer expressão de derrotado e entrar no jogo.

-Não, tudo bem _____. Eu sei que estou fadado a viver no oceano de tristezas e amargura, comendo o resto dos outros feito um cão abandonado. A partir de hoje, compreendo minha solidão, sei que sempre fui sozinho.

-Pilantras, todos os dois. Vocês combinam mesmo, sabem como fazer um coração de manteiga como o meu derreter.- Jimin finalmente cede as nossas investidas. É quase que uma boa hora pra comemorar.

-Então não vai me denunciar, nem contar pra o Yoongi?- Perguntei esperançoso.

-Não, mas vão me prometer que irão se comportar e resolver logo esse caso sem serem pegos.- Ele disse transparecendo ainda um pouco de ressentimento.

-Prometemos.- Dizemos em uníssono, felizes pela primeira pequena vitória que tivemos.

-Mas, eai, como foi pra descobrir onde eu estava ficando?- Perguntei a Jimin que relaxou um pouco mais.

-Hoje de manhã ouvi o Namjoon falando com seus puxa saco na lanchonete, estava falando como você conseguiu o caso e os caras ficaram furiosos dizendo que iam dar uma lição. O Namjoon começou a dizer que não tinha motivo pra isso e tentou acalmar eles, mesmo assim fiquei desconfiado e liguei pra você. -Ele diz relembrando os fatos.

Quase nem acreditei quando disse que Namjoon realmente não teve envolvimento naquilo, ele não estava mentindo pra mim. Ainda assim, não consigo deixar de ficar ressentido com ele pelas coisas que fez comigo ao decorrer desses anos.

-O Sr. Damien apareceu na escola e eu tive que desligar. Depois me encurralaram num beco para me bater. -Falei o meu ponto de vista. Jimin assentiu.

-Agora a noite, fiquei encucado com essa história e voltei a mesma lanchonete que o vimos naquele dia e que se reuniu com seus amigos de manhã. Dessa vez, Namjoon estava sozinho brigando no celular com todos eles pela briga feia e disse que iria até você. Foi aí que fiquei com medo e resolvi seguir o Namjoon de longe. Só não esperava ver o que vi.- Ele completou de forma lenta.

_____ pigareou do meu lado incomodada com a situação.

-Pois é, né? Pode pedir o milkshake que quiser por minha conta.- Ela diz estendendo o cardápio para Jimin que não é bobo nem nada. Ele fez um expressão de difícil e pegou lentamente o cardápio.

-Hmm, interessante. Até que você é uma boa cliente. Quero esse de Ovomaltine. - Apontou para onde estava escrito, _____ chamou a garçonete e fez o pedido de Jimin.

-Devia aproveitar e comprar um Baygon pra evitar cupim dessa sua cara de pau. -Retruquei o mesmo que convenceu _____ a pedir um milkshake de 800 ml, o maior.

Pelo visto, vou ter que ficar monitorando a amizade desses dois, porque se não quando menos esperar ele vai ter tirado todo o dinheiro da coitada. E eu já estou ocupando a vaga de sustentando pela _____.

-Gracias. Não divido.- Jimin diz bebendo rápido, parecendo faminto.

Bufo.

-Seu interesseiro.

-Se me pagarem um milkshake por semana, seu segredo está salvo.- Ele propõe. Cruzo os braços indignado.

-Espera ai, você não estava fazendo isso pela nossa amizade? Por que cobrar agora?

-Amizade não enche o bucho, eu quero comida. Vai aceitar ou não?- Retrucou terminando sua bebida em menos de 5 minutos. Espero não falir com essa amizade.

-Fala sério. Ta ok. Vou no balcão pagar.- Pedi para _____ o dinheiro. Eu não me orgulhava de estar sendo sustentado, mas infelizmente não posso criar ouro nem coisas de valor tão grande. Acho que terei que arrumar um emprego.

-Eu vou com você. -Jimin se levantou e fomos até o caixa. Porém no meio do caminho, ele me dá uma gravata com os braços em meu pescoço.

-Ficou maluco?

-Quero conversar a sós e te dar uma lição pela idiotice que está fazendo. -Ele me solta finalmente. Arrumo meu cabelo que foi bagunçado, aproveito para dar uma última olhada em _____ que está sentada ainda lendo o cardápio.

-Eu sei perfeitamente o que estou fazendo.- Me defendi.

-Pois não pareceu quando estava quase engolindo a garota ainda agora. Não vai me dizer que tá a fim dela.

-O que? Nunca, só foi um momento descontrolado que a gente teve. Nada demais.- Respondi rapidamente. Jimin fica ainda incrédulo, talvez eu seja um péssimo defensor de mim mesmo.

-Espero, porque você melhor do que ninguém sabe o que acontece quando uma fada se apaixona pelo seu cliente.- Jimin falava de forma tão séria que nem parecia o mesmo garoto que comia teia de aranha por dinheiro no colégio. Pelo visto, ele realmente estava preocupado com toda minha situação.

-Relaxa, eu tô suave.- Falei tirando da minha memória a euforia que senti naquele quintal. Jimin assentiu e depois olhou para seu relógio.

-Tenho que voltar, meu cliente vai acordar daqui a pouco. Se cuida, e não esqueça de terminar logo isso.

-Se não for logo, vou pagar milkshake só para o Yoongi.

-Você não ousaria.- Diz já saindo.

Paguei o nosso lanche e _____ junto comigo saímos em seguida.

Ambos sem palavras para abordar o que aconteceu hoje. Era inevitável olhar para ela sem ficar decepcionado com o destino que teremos, onde irei embora quando a temporada de trabalho estudantil acabar. Voltarei para o colégio onde sou motivo de chacota, não verei mais ela, nem Hoseok, Clayton, Mavis, Jin ou até mesmo aquela criatura horrenda que era Taehyung. Confesso que minhas expectativas para o mundo humano eram altíssimas, contudo depois de ter sido assaltado na primeira vez que pisei aqui pude ser mais realista. Não que aqui seja ruim, mas a última coisa que eu esperava quando cheguei, era ficar apegado a minha cliente. Tento convencer a mim mesmo que isto é um ciúme de amizade, só que não consigo deixar de ansiar por aquele momento novamente.

-Então, a gente devia se desculpar pelo o que aconteceu?- _____ pergunta ao meu lado enquanto andamos. Sinto a brisa da noite, misturado com o frio, um clima maravilhoso ao meu ver.

-Só é necessário se desculpar quando há arrependimento e eu não me arrependo.- Fui honesto, o que chocou _____. Me virei para ela.

-E você? Se arrepende?- Indaguei para a mesma que não responde de imediato, apenas abaixa a cabeça.

Talvez ela diga o mesmo que falou para mim noite passada, e esse meu apego passe enfim quando me der conta de que estou agindo feito um idiota. Porém, ela finalmente responde.

-Não, também não me arrependo.- Fico estático assim que responde, sem conseguir esboçar uma reação. Um silêncio se perpetua entre nós, juntamente com o nervosismo de ambos. Era tão estranho estar numa situação dessas em um momento que era pra ser tão diferente.

-Ah... Bem, e se a gente ficasse só por hoje?- Falo a primeira coisa que surge em minha mente, mas me arrependo no mesmo instante.

-Ficar tipo dar uns amassos?- Ela pergunta sem estar constrangida.

-É. Mas só na amizade. Já meio que fizemos merda por hoje, então deviamos aproveitar essa noite. -Era uma manobra muito arriscada dizer tais coisas, porque primeiramente eu posso estar pagando um grande papel de trouxa me iludindo aqui e segundo que nada disso deveria estar acontecendo.

-É verdade, né? Estamos lascados de qualquer forma. No caso, eu aceito. -_____ entrelaça minha mão na sua. Não consigo nem raciocinar mais.

- Vamos, eu quero te mostrar um lugar.

Então, dois idiotas quebradores de regras saem pela cidade mesmo depois de terem tomado um grande esporro de um amigo. Ignoro minha empolgação, tentando manter a mente firme. Contudo, quero aproveitar cada segundo sem me preocupar com o amanhã.

Só por esta noite.

[...]

Imaginei que _____ me levaria a alguma outra lanchonete ou parque, porém fiquei extremamente surpreso quando fomos a um prédio em construção abandonado. Temi pelos motivos que podiam levar ela a vir ali, mas não falei nada apenas subi com a mesma para o terraço do prédio.

_____ soltou minha mão, e se abraçou. Ela tremia um pouco, quando se virou para mim seus olhos estavam marejados. Pensei em sairmos dali, quando ela me interrompe:

-Lembra que eu disse que o Chase não morreu de câncer? Pois é, foi aqui que ele partiu.- _____ dizia com a voz trêmula.

-Como assim?- Foi inevitável perguntar.

-Um tempo antes de o Chase falecer, a gente tinha descoberto que o tumor dele voltou a crescer de forma que nem os remédios ou terapias iam surtir efeito. O médico deu no máximo um ano de vida para o Chase, então ele disse que queria aproveitar esse tempo para fazer o que quisesse.- Ela se aproximava da beirada do terraço, comecei a segui la para evitar uma possível queda.

-O Chase estudava em casa, mas depois que descobrimos sobre o tumor meus pais deixaram ele voltar para a escola. Ele dizia que eram os melhores meses da vida dele quando acordava cedo e ficava fazendo atividade escolar.-Ela ri relembrando. Sou incapaz de falar algo.

-Aí um dia, quando estávamos chegando na escola, ele viu uma garota que ele era a fim vindo pra cá, disse que era pra eu entrar na escola que depois ele viria. Fui ingênua de deixar que fosse sozinho. -As lágrimas começam a correr pelo seu rosto, me aproximo dela temendo o rumo que essa história iria tomar.

-Uma hora depois acharam o corpo dele e da garota ali embaixo.- Apontou para o térreo. Não vou mentir, era bem assustador olhar o chão aquu de cima. Me fazia ter calafrios.

-O nome dela era Naomi, tinha um histórico de depressão, ia se matar se jogando daqui. Foi aí que o Chase chegou e viu. Uma testemunha diz ter ouvido um grito terrível quando eles estavam caindo, então a polícia concluiu que o Chase conseguiu acalmar Naomi que estava na beirada daqui. Mas ela se desequilibrou e ele tentou pegá-la, foi aí que ambos caíram.

Nesse momento, _____ já soluçava de tanto chorar, a envolvi em um abraço a distanciando da beirada. Queria poder tirar toda esse dor de dentro dela.

-Uma vez eu sonhei que estava em um campo florido onde nevava, foi o melhor sonho que tive. Depois comecei a andar por alguns campos, porém nenhum deles era o meu. O Chase prometeu que encontrariamos meu campo naquele ano.- _____ me aperta com ainda mais força. - Mas aquele idiota me deixou sozinha.

-Calma, eu posso te ajudar a encontrar seu campo florido que neva um dia.- Coloquei seu rosto em minhas mãos, ela funga um pouco e enxugo uma de suas lágrimas.

-Mesmo?

-É claro.

Então, outro beijo mais lento e paciente se inicia com a brisa da noite bagunçando nosso cabelos. Quero dizer a ela que tudo vai ficar bem, ainda que Chase não esteja aqui, mas eu farei o possível para que não se sinta sozinha. Espero um dia poder realizar os sonhos que imaginou com Chase.

Anseio poder ser a pessoa que ele queria que ela tivesse ao seu lado.

[...]

A parte mais triste da noite de ontem, mesmo com as declarações depressivas de _____, foi quando acabou. Por que era mais um dia em que o choque de realidade teria que vir sobre nós e percebermos que o que aconteceu ontem não pode passar de um "fica". O maior problema nisso tudo, é que volta e meia eu me pego desejando de novo beijar _____.

Então me lembro de quando vi meu pai e isso me faz ser menos levado pelos meus desejos.

Mais um dia escolar se inicia no tenebroso ensino médio, onde as espinhas nascem na cara dos adolescentes enquanto o resto dos hormônios também. Acho que a tendência humana se acender o "fogo" da paixão é ainda maior que a das fadas, porque assim que entramos no colégio já tinha dois alunos se beijando na entrada com todo o fervor. A pior parte disso tudo, é que eu posso ignorar meus instintos humanos facilmente estando no mundo das fadas, difícil é fazer isso aqui. Principalmente agora que minha mente insiste em relembrar a noite de ontem.

Só estou falando sobre esse assunto esquisito, porque quero me convencer de que meus Divertidamente estão na puberdade e não num estado de paixão com aquele lance de beijo. Apesar de que nunca vi ninguém entrar em puberdade aos 18 anos.

_____ chegou na escola e já iniciou mais um dia de aconselhamento aos jovens estudantes, alguns dos problemas podiam ser facilmente resolvidos na verdade, mas certos adolescentes adoram dramatizar. Logo após esse período meio monótono, eu estava ansioso para bater um papo com ela enquanto comia um doritos, porém Clayton veio ao nosso encontro quando ainda estávamos no corredor.

-Oi Clayton, como está indo?

-Otimo! Tenho uma novidade!- O garoto dizia empolgado, quase pulando de alegria.

-Parece ser ótimo, o que é?

-Vou ser transferido para um colégio novo com alunos especiais igual eu.- Clayton estava quase soltando fogos. Até eu fiquei contagiado com tamanha alegria, entendi melhor do que ninguém porque ele estava feliz em cair de fora de uma escola chata.

-Uou, isso é muito legal! Quando vai pra lá?- _____ deu um abraço no garoto.

-Essa é minha última semana aqui, depois vou estudar lá.

-Que incrível. Não esquece de me mandar mensagem e contar como está.

-Vou mandar sim. Queria que o Hoseok tivesse ficado feliz igual você. -Clayton começa a murchar, como e tivesse tocado em um assunto delicado.

Quando _____ ia abrir a boca para perguntar sobre isso, um braço envolve seus ombros e lhe dá um beijinho na testa.

-Eai gatinha? Senti sua falta.- O cosplay de Trump aparece do nada. Todos acabamos ficando meio constrangidos de estar numa cena íntima de Nate com _____. Tive que segurar minha vontade de vomitar.

-Ah, oi Nate, que surpresa...- _____ parece meio estranha.

Algo se quebra dentro de mim quando vejo aquilo. Sei que não devia, mas relembro de ontem a noite e fico enraivecido porque Nate não entende as fraquezas dela, nem sequer sabe tratá-la decentemente. Ou talvez eu seja um grande idiota.

-Passei por aqui e vi um anjo iluminando esse corredor, ai soube que era você. Comprei até uma barra de chocolate para adocar o seu dia.- Nate saca o doce da mochila, entregando para _____. Reviro os olhos.

-Prefiro morrer de diabete. -Resmunguei. _____ ignorou meu comentário.

-Oh, obrigada. Você é muito gentil.

Aquela cena era uma das coisas mais nojentas que eu vi em toda minha vida, e olha que já estudamos fisionomia de príncipes que viraram sapos. Cruzei os braços.

-Você e seus amigos bem que podiam comer na minha mesa hoje, vai ser bacana.- Nate disse. Seria errado enfeitiçar ele agora?

-Eu quero sentar com o Nate.-Clayton se manifestou.

-Tudo bem então. -_____ respondeu, mas eu preferia comer sozinho a sentar com esse Riquinho.

-Aproveitando que você está tão bondosa, a gente podia sair de novo hoje a noite, ein?- Aquele era um convite péssimo, porque ainda recordo do encontro dos dois em que roubou um beijo de _____. Se ele fizer isso novamente, não terei receio em socar seu rosto.

Fora que eu estava me sentindo meio corno, sendo que nós nem tínhamos nada.

-Nate...- _____ começou, mas foi Interrompida por um cara que chegou do nada desesperado chamando o presidente do grêmio.

-Nate! Cara que bom que eu te encontrei! A gente está com problemas, corre aqui.-Falou apressado.

Os céus ouviram meu clamor.

-Ah, merda. Vou ter que ir agora gatinha, depois a gente se fala.- O loiro saiu com o garoto de ainda pouco. Dei um sorriso vitorioso mesmo sem ter feito nada. Tem coisas na vida que a gente não perde, a gente se livra.

Graças aos céus não íamos mais precisar ver essa tortura.

-Adoro chocolate. -Clayton diz encarando a barra.

-Você é intolerante a lactose Clayton, nem pense nisso.- _____ guardou na mochila para proteger do olho gordo do garoto. Mal sabia ela que mais tarde eu iria acabar com aquela barra. Quem sabe, uma nova combinação de Doritos com chocolate é tudo que eu preciso para melhorar meu dia.

-Vou arrumar minha papelada para a transferência então, até mais.- Ele se despede de nós.

-Vai mesmo sentar com o presidentezinho no almoço?- Perguntei de forma direta. _____ parece pensativa.

-Talvez. Ele me deu um chocolate, já é uma coisa boa. - Ela remexe seu armário. Bufo.

Preciso parar de birra ridícula, até porque somos amigos e nada mais que isso. Há limites estabelecidos entre nós para que eu não acabe igual meus pais. Falando em pai, ainda relembro dele o tempo inteiro, principalmente da tortuosa memória de que nunca falarei com ele realmente. Ficarei apenas o vendo a distância, mesmo que isso doa.

Somente isso já é motivo suficiente para evitar nutri sentimentos por _____, porém está complicado deixar ela com esse playboyzinho. Devo considerar também o fato de o caso ainda estar em selo amarelo, se o Nate for realmente a alma gêmea dela a cor do selo deveria estar pelo menos verde, porém continua a mesma. Meu instinto de fada também diz que não vou ter muito progresso nessa história investindo em Nate, porém ainda não é certeza.

_____ e eu fomos até a máquina de salgadinhos pegar meu alimento diário que me dá forças, enquanto discutíamos se era plausível ou não almoçar com os amigos burgueses de Nate.

-Bom dia, minha grande amiga conselheira!- Um garoto vem em nossa direção, demoro alguns segundos pra reconhecer o cara que nos levou de limusine até o Bigue Hitê e pagou nossa comida lá.

-Jin? Tá fazendo o que aqui? -_____ pergunta surpresa. Jin deu de ombros como se fosse algo óbvio.

-Adivinha quem é o novo aluno do Colégio?!- Ele diz empolgado. Nem eu ou _____ conseguimos dizer algo de tão surpresos. Ninguém precisa ser um grande especialista para saber que a família de Jin é cheia da grana e ele devia estudar em um daqueles colégios caros que tem até elevador. É bem nítido também pelas roupas caras que ele está usando, é praticamente um peixe fora da água.

-O que?! Está de brincadeira? Como convenceu seus pais a deixarem ir pra uma escola pública?- _____ quase gritava assustada. Pelo visto, a situação era mais grave do que aparentava.

-Eu dei meu "jeitinho". Além do mais, aquele pessoal era incrivelmente cafona com mente retrógrada. Uns caras estavam em bullynando só porque não fui a Disney esse ano. Qual o problema de ficar só nos parques daqui?- Aquela era a fala mais burguesa que eu escutava em décadas e olha que já cheguei a conversar até com um Duende que tinha uma casa de ouro.

-"Jeitinho", é? Aposto que se meteu em furada.- _____ cruza os braços desconfiada. Jin dá o braço a torcer finalmente.

-Certo. Olha, apenas talvez, eu tenha feito meu desempenho escolar cair um pouco mais nada que não possa ser recuperado.

-Meu Deus, Jin, você ficou com notas vermelhas pra ser castigado e vim estudar aqui?- Ela ficou alarmada, enquanto isso eu estava adorando todo aquele barraco e Jin dando uma de humilde.

-Isso aí não é nada demais, relaxa. Agora, se puder me mostrar a escola, e principalmente a sala de aula da Eleanor, eu ficarei muito grato. - Assim que Jin termina de falar isso, _____ dá um tapa em seu ombro.

-Qual é a sua?

-Você devia virar político, sabia? Mentiroso. Veio com esse papo de humildade, mas só está aqui pra ficar perto da sua namoradinha. Nunca quis estudar aqui por minha causa.- _____ fica indignada, Jin passa a mão onde ela bateu segundos atrás. Finalmente entendo as motivações do garoto.

-Não há nada que um bom homem não faça por umas certas bocas.- Falei sem pensar, ____ me olha assustada.

-Não tem nada a ver uma coisa com a outra, sou de todas vocês então sem brigas. Aconteceu isso por coincidência. -Jin dizia.

-É, né? Muita coincidência mesmo você só resolver mudar de colégio quando está namorando. Safado.- _____ se indignou de novo.

-Humpf, uma conselheira escolar humilhando o novato no meio dos corredores. Que receptivo.

_____ ia responder, quando Mavis passa por nós tremendo feito uma doente. Ela está histérica.

-_____! Você tem que vir comigo.- Pega minha cliente pelo braço quase arrastando a mesma. Automaticamente meu estado ficou em alerta.

-Calma! O que está acontecendo?

-O Hoseok está ameaçando se jogar do terraço da escola!