YOU
2 anos atrás
-Ainda acho essa idéia horrivel, Chase.
-Ir pra escola não é tão ruim assim, você deveria aproveitar mais.- Ele diz me ignorando arrumando sua mochila.
Estávamos novamente naquele eterno debate dos motivos pelo qual meu irmão deveria ficar em casa ao invés de exposto por ai. Porém, ele era teimoso feito uma mula e estava convicto de que iria ficar indo para o colégio. O que é uma grande perda de tempo ao meu ver, mas para o Chase era como ir a Disney todos os dias.
-Sabe o que eu acho? Que a gente devia estar no Havaí ou no Canadá aproveitando, não aqui na cidade em uma escola de ensino médio. -Falei tentando mais uma vez convencer Chase do meu ponto de vista, o que era tão possível quanto enxugar o fundo do mar.
Ainda era estranho pra mim falar "aproveitar" quando estávamos se referindo ao tempo do Chase. Eu preferia pensar que íamos viajar às férias, não que era a vida do meu irmão que estava acabando.
-São as coisas mais simples que são significativas. Você sabe que eu só estudei na escola até meus dez anos, já nem lembro como é a sensação. -Chase dizia enquanto passava protetor solar no rosto em abundância.
-Pois eu te digo como o ensino médio é: Terrível, chato e caótico. - Realmente eu queria que Chase curtisse seus momentos em outro lugar que não fosse enfornado numa sala de aula tendo que fazer atividades escolares.
-Acha chato porque não sabe aproveitar. O problema de vocês, pessoas normais, é viverem como se fosse algo monótono, quando na verdade é uma grande dádiva.
Congelei no mesmo segundo, Chase também. Sempre me sentia culpada quando reclamava de algo desse tipo, porque bem ao meu lado havia alguém que daria tudo para se estressar no trânsito, queimar as costas na praia ou se preocupar com o que vai ganhar no natal que vem. Viver era um assunto muito delicado.
-Eu... Não quis dizer isso. Me desculpa.- Falei murchando. Chase deu de ombros como se não fosse nada e colocou seu boné. Ele era o único aluno do Colégio que podia entrar de boné graças ao seu atestado. Surpreendentemente, os seus amigos ainda não sabem da sua doença.
-Também não quero deixar você pra baixo só porque vou ficar menos tempo aqui do que o esperado. -Ele se aproxima de mim colocando a mão nos meus ombros.
-Escuta, _____, sei que a escola e essas coisas parecem ser chatas, mas no momento elas são tudo que eu tenho. Não vou ficar aqui para sempre te privando de fazer as coisas que gosta só porque não vou junto. Então, vamos tirar esse ano pra aproveitar tudo que o mundo tem a oferecer, depois a gente pensa no câncer. Fechado?- Chase sorriu me encarando.
Odiava quando ele fazia aquilo, porque no fim eu sempre cedia ao que queria. Meus pais também, foi só por isso que concordaram com essa idéia idiota de deixar ele frequentar escola.
-Ta ok. Mas, frequentar a escola é muito fácil pra você quando se é popularizinho.- Impliquei com o mesmo para desviar assunto. Chase riu.
-Ah, eu estou adorando esse lance todo de amizades. Ontem mesmo o Will do terceiro ano me pagou um hambúrguer, acredita?
-Chase! Não pode comer essas coisas. Se a mamãe souber ela mata nos dois.- Já até imagino o sermão do tipo "Por que não ajudou seu irmão? Você deveria vigiar ele melhor". As vezes eu penso se Chase queria fazer eu aproveitar ou me encrencar.
-Calma, ela nunca vai saber.- Ele dizia na maior tranquilidade.
-Agora, vamos andar rápido ou nos atrasaremos.- Essa era uma das suas clássicas desculpas pra cortar assunto e sempre dava certo. Antes de sairmos peguei o kit de remédios dele e levei comigo.
Papai nos levou de carro até o colégio com Chase tagarelando o caminho todo sobre como era bacana estudar com alunos ao invés de no computador. Eu ainda estava meio desanimada depois da minha pequena discussão com o meu irmão. Era compreensível ele amar a escola por diversas razões e ele também era popularzinho lá, o único erro nisso tudo é que somente Mavis e eu sabemos da sua doença. Uma hora ou outra, o resto dos alunos vai ter que saber.
Descemos acompanhado dos mesmos sermões diários que meu pai sempre dá sobre cuidados que precisamos ter. Depois de certa relutância, ele foi embora para o trabalho deixando apenas eu e Chase que me deu um tapinha no ombro.
-Hey, você tá a fim do Nataniel, não é?
-O-o que?! Nunca!- Tentei disfarçar o rosto corado, mas Chase já tinha visto e sorria com malícia.
-Olha só, tá caidinha por ele. Não se preocupa que eu posso usar minha influência pra fazer uns esquema pra você falar com ele.
-Cala a boca, Chase. Se não eu falo pra a mamãe sobre o lance do hambúrguer!- Tive que apelar para a ameaça, o que não surte nenhum efeito em Chase.
-Eu não vou ser eterno, tem que arrumar um garoto pra te fazer companhia também. - Chase falava com mais seriedade.
-Não vou arrumar ninguém pra te substituir.- Fechei minha expressão.
-Não quero que arrume alguém pra me substituir, quero que fique com uma pessoa que cuide de você da mesma forma que eu faço. -Ele retrucou.
-Vou pensar no caso.- Isso era um "não" disfarçado.
-É sério. Se o garoto te fizer algum mal, eu quebro a cara dele.- Voltou a ironizar.
Puxei meu irmão pelo braço para entrarmos na escola, já que adentrar aquele assunto não resultaria em muita coisa.
-Ok, Mister Amor. Vamos logo entrar.
-Espera aí.- Ele se desvencilhou do meu braço e ficou olhando para algum lugar atrás de si com seriedade. Chase raramente ficava desse jeito.
-O que foi?- Perguntei preocupada procurando o kit de remédios na mochila.
-Não tô passando mal. Eu só preciso resolver um negócio antes.- Chase diz caminhando para o lado de fora, sigo o mesmo. Então, ao olhar na mesma direção que ele, percebo que está olhando para Naomi Hoffman, a garota que ele gosta.
-Eu vou com você.
-Fica aqui e entra na escola. Você não é minha babá. -Chase diz com firmeza.
-Mas eu não posso deixar você ir sozinho.- Tentei pegar seu braço novamente.
-Eu vou ficar bem. Sério, pode ir. Só vou conversar com a Naomi.- Ele parecia cada vez mais apressado para a seguir. Suspirei derrotada. Chase sempre sabia como me amolecer, essa era a parte difícil.
-Tudo bem.- Falei quase inaudível. Chase praticamente corre até o portão de saída, enquanto ele se afasta sinto meu coração quebrar. Cerro os punhos.
-Cheese, você vai voltar?!- Grito para o mesmo que olha para trás com aquele sorriso vitorioso que ele sempre carrega.
-É lógico que vou, Sandman. Eu prometo!- E sumiu pelas ruas.
Aquela foi a última vez que eu vi Chase Alastair Patel.
[...]
Corri o máximo que pude até as escadas que levavam ao terraço. Meu corpo estava a mil por hora junto com minha mente. Não consegui pensar em mais nada sem ser Hoseok próximo a beira daquele terraço. Senti quando as mãos de Jungkook pegaram meu braço. Quase esqueci da presença dele e a de Mavis.
-Eu posso dar um jeito nisso com um só feitiço. Fica aqui.- Ele dizia tentando esconder o desespero. Neguei com a cabeça.
-Não! Isso é algo que eu tenho que resolver sozinha.- Tirei sua mão do meu braço.
-Mas...
-Fica lá aqui em baixo perto do terraço, se eu falhar você salva ele.- Queria não ter que dizer isso, mas nunca sabemos o que pode acontecer nesses momentos. Jungkook compreende e corre na direção aposta.
Vou com pressa subindo os degraus, até encontrar os professores e Nate na porta que leva ao terraço. Eles estão reunidos discutindo como abordar Hoseok, a porta fica fechada o tempo todo.
-Pelos deuses, eu não tenho estrutura para essa situação. Preciso de um ar.- O Sr.Spirro tira uma bombinha de asma do seu bolso e a usa.
-Por que não posso ir e convencer ele a sair de lá?- Pergunta Nate. A Srta.Faith nega com a cabeça.
-O Sr.Galvan vai conversar com o Hoseok, ponto final.- Ela dizia convicta. Não aguentei mais ver aquela discussão boba.
-Se me permite, professora. Eu é quem tenho que ir até o Hobi, ele pode dar mais ouvidos a mim do que vocês. - Dei passos para frente falando com confiança, porém ninguém ali parece estar seguro de mim.
-Gatinha, é melhor...
-Não, Nate, o Hoseok é meu amigo. Tenho que ir conversar com ele.- Interrompi Nate. Os segundos se passavam e eu ficava cada vez mais aflita por não estarmos chegando em um acordo.
-Talvez não seja uma idéia ruim.- O Sr.Galvan é o único que confiava em mim.
-Tudo bem então. -A Srta.Faith só deu o braço a torcer por causa do Sr.Galvan.
-Se der errado, vai ser um escândalo na cidade inteira.- O Sr.Spirro disse mais preocupado com a reputação do colégio do que com o fato de ter um aluno no terraço.
Abri a porta com cautela para não assustar meu amigo, a luz do sol bateu fortemente em meu rosto e tive que me adaptar a claridade. Não tardou muito para que eu visse Hoseok com seu característico suéter a beira do terraço ofegante. Quase perdi o ar junto.
De repente, eu estava no mesmo lugar que Chase, na mesma situação. Era como se pudesse visualizar tudo o que aconteceu. Queria chorar, queria correr o mais longe possível dali, porém também sei que Hoseok não queria estar ali. As lembranças querem me afogar, só que preciso ser mais forte que elas.
Chase conseguiu evitar que Naomi quisesse se suicidar, contudo não evitou que os dois caíssem. Agora eu tinha que ser eficiente nas duas coisas. O fato de Jungkook estar ali embaixo me deixava um pouco mais tranquila para o caso de falhar.
Porém, eu não ia.
-Hobi?- Arrisquei o chamar pelo apelido. Assim que ele virou seu rosto para trás, pude ver seus olhos vermelhos, sua face brilhante por causa das lágrimas e a boca tremulando.
-Vai embora daqui, _____. Me deixa resolver as coisas sozinho!- Ele gritou exaltado. Engoli em seco evitando o choro. Teria que acalmar Hoseok.
-Não precisa ser assim, Hoseok. Você sabe disso.- Ousei dar um passo em sua direção. Pude ouvir o tumulto de alunos que devia estar lá embaixo vendo tudo. Temi que eles vissem aquilo como um show e não como um acidente. Por sorte, Jungkook também devia estar assistindo.
-Só que não tem outro jeito! Eu tô cansando de nada dar certo pra mim, ou as pessoas que eu amo irem embora. Clayton vai me largar e o namorado da garota que eu gosto vai ficar estudando aqui. -Hoseok dizia somente para que eu escutasse.
-Mas você tem eu, Mavis e o Taehyung! Não acha que a gente vai ficar ainda mais triste se te perder? - Eu dizia tentando soar tranquila, mas no fundo eu desmoronava.
-O Clayton não vai parar de falar com você e nem vai ficar sozinho. Eu te prometo. Agora por favor, sai daí. - Praticamente supliquei. O desespero se apoderava cada vez mais do meu corpo. Hoseok negou com a cabeça chorando.
-Não é só isso. Eu... Eu também me odeio. Sou apenas um fraco que não sabe fazer nada da vida além de choramingar. Detesto quando me sinto pequeno, deprimido e não posso fazer nada para parar isso. - Cada minuto, parecia que Hoseok estava mais temeroso.
-Se amar nem sempre é fácil, as vezes precisamos ver como as pessoas que nos amam nos enxergam para sabermos como somos.- Falei lembrando de Jungkook que também tinha problemas de autoestima. Queria poder enfiar na cabeça dele e de Hoseok que os dois são incríveis.
-Eu vou começar dizendo as coisas que amo em você: Quando mesmo entristecido tentar nos animar, quando jogamos juntos, quando você veste seus sueters novos. Adoro cada detalhe seu.- Engoli novamente o choro.
Hoseok parece ter ficado mais tranquilo, contudo assim que seus olhos vão de encontro ao meu; Percebo algo que não havia notado antes. Seu olhar é entristecido e desesperado.
-Hoseok... Sei que não quer se matar, quer apenas destruir a dor que está sentindo. -Quando terminei de dizer isso, Hobi chorou novamente porém dando passos para trás se afastando da beirada. Já era um alivio.
-Uma vez eu li que suicídio é uma solução permanente para problemas temporários, Hobi. Por favor não faz isso, a gente ainda tem que jogar God of War 4.- Sorri mesmo em meio as lágrimas.
Hoseok veio correndo em minha direção e me envolveu em um abraço desesperado. Senti um grande alivio me percorrer enquanto acariciava suas costas. Tentei parecer bem calorosa mesmo que Hobi fosse mais alto que eu. Queria poder naquele momento, emprestar meus olhos para que ele se visse da mesma forma que eu o via. Como alguém incrível.
-Me desculpa...
-Tudo bem, também já quis matar minha dor.- O abracei mais forte. Peguei a mão de Hoseok para enfim sairmos daquele terraço
O guiei até onde os professores estavam e graças aos céus o Sr.Spirro tinha melhorado dos nervos sem precisarmos chamar uma ambulância. Mavis correu para abraçar Hoseok.
-Nunca mais faça isso! Se você morrer, eu juro que te mato!- Ela chorava muito com desespero. Não a culpo.
Também queria chorar, porém era de felicidade por Hoseok ainda estar ali, por eu não ter falhado. Fiz o que Chase faria em meu lugar.
-Prometo que não faço mais.- Hobi abaixou a cabeça. O Sr.Galvan se meteu no meio daquela choradeira.
-Crianças, vamos com calma. Temos que levar o Hoseok até a enfermaria e conversarmos. Por favor, tentem não gritar ou serem exaltados.- Dizia tudo com calma absoluta.
-Tirou as palavras da minha boca, Sr.Galvan. -A Srta.Faith como toda boa puxa saco falou.
Graças aos céus não foi preciso Jungkook intervir, nem sei o que eu faria se tivesse falhado. Acho que me sentiria ainda pior do que nunca. Estávamos nos retirando, quando no meio das escadas senti Nate pegar em meu braço com um sorriso no rosto.
-Você foi maravilhosa! Uma verdadeira heroína. - Ele elogiava com fervor, porém não me senti digna daquelas palavras.
-Só fiz o que devia ser feito.- Respondi com calma, ele deu de ombros.
-Nem todos fariam algo assim. Enfim, acho que isso pede uma comemoração especial. O que acha de hoje a noite ir lá em casa?- Perguntou.
Meu cérebro bugou no mesmo instante, porque aquele era um nível de intimidade que eu ainda não havia tido com nenhum garoto. Portanto, não sabia bem como reagir. Se eu disser que quero muito ir seria mentir, mas também não seria verdade se eu disser que não tenho curiosidade em ver como é a vida de Nate. Além do mais, eu ainda admirava o seu trabalho como presidente do grêmio.
-Aceita.- Uma voz disse atrás de mim antes que eu pudesse responder. Me assustei com Jungkook que brotou do nada atrás de mim, levei a mão ao peito ofegante.
-O que foi, gatinha?- Nate pergunta preocupado olhando em todas as direções possíveis.
-Não foi nada! É que um calafrio subiu aqui. Por que eu devia aceitar?- Fiz a última pergunta num sussuro apenas para Jungkook ouvir.
-Porque talvez seja bacana, não?- Parecia meio suspeito Jungkook, que nem estava tão animado quando fui ao meu primeiro encontro com o Nate, estar empenhado em me fazer sair agora. Ele só pode estar planejando algo.
-É que eu tinha planos de ficar com o Hoseok hoje.- Falei para os dois garotos.
-Eu posso ficar com ele!- Jungkook de repente levanta a voz. Agora é oficial: Algo de errado não está certo.
-Por que não deixa alguém com ele?- Nate perguntou.
-O Trump Mirim concorda comigo, viu? É só me deixar ficar com ele.- Jungkook dizia. Não sei o que ele está tramando, mas ficarei atenta.
-Mas ele é meu amigo...- Relutei contra.
-Enquanto você pensa, eu vou acompanhar os professores e acalmar tudo. Pense bem.- Nate sorri antes de desaparecer escadas abaixo. Jungkook faz mais uma de suas imitações de Nate.
Viu? É esse tipo de coisa que me confunde se Jungkook quer ou não que eu fique com ele. Se existir um manual de como entender uma fada, eu quero um exemplar.
-Primeiramente, o Hoseok não conhece você. Logo, ficaria mais desconfortável. Segundo, ainda está todo arrebentando da surra que levou. -Cruzo os braços encarando o garoto que imita minha postura.
-Primeiro: Eu conheço o Hoseok sim. Ele já me viu uma vez enquanto eu ajudava o Clayton. Segundo, estou mais em forma do que nunca. -Ele estufa o peito como se fosse o Clark Kent.
-Não sabia que Hoseok te conhecia e mesmo assim prometi para meus pais que iria na reunião do grupo de apoio hoje.- A última parte falei com tristeza relembrando quando prometi para minha mãe. Dessa vez, eu não teria escapatória.
-Não se preocupe, esqueceu que eu tenho mágica?- Jungkook sorri malicioso. Agora é oficial: Alguma ele está aprontando.
-Quer me dizer por que está tão interessado em mim saindo com o Nate?-Perguntei desconfiada, ele apenas deu de ombros.
-Digamos que eu quero fazer um teste. Mas, então, fale para o Nate que você irá sair esta noite.- Jungkook diz animado mesmo com aquele olho roxo.
As vezes, tenho até medo dessa fada que diz me proteger.
-Você vai cuidar bem do Hoseok?- Me preocupei, apesar de saber que a resposta mais óbvia era um "não".
-Mas é claro.- O garoto sorri como se eu tivesse feito uma pergunta absurda.
Não me perguntem o que levou minha consciência a confiar naquilo, muito menos que rumo tomou minha vida quando respondi:
-Então, aceito.
[...]
Ok, admito que me senti a pior pessoa do mundo quando liguei para Hoseok avisando que um amigo meu iria em meu lugar. Por sorte, Jungkook não mentiu dizendo que Hoseok o conhecia. Graças a esse fato, o garoto aceitou mais fácil a companhia da fada e pareceu até animado com isso.
Quem não estava animada era eu, que além de mentir para meus pais sobre ir ao grupo de apoio, menti para meu amigo e iria encontrar o Nate. Sério, tem como piorar? Nem ao menos sei o que Jungkook pretende com isso tudo.
Fiquei temerosa quando o horário de ir ao grupo de apoio e sair para a casa do Nate se aproximava, e nenhum sinal de vida do plano de Jungkook. Meu medo começou a crescer assim que minha mãe gritou das escadas:
-_____! Já está na hora de irmos para a reunião!
-Ah merda. Me diz logo qual é o seu plano!- Falei para Jungkook que estava deitado sob a minha cama agora que descobriu o Spotify. O mesmo não mostrava nenhum sinal de inquietude.
Vou pesquisar no Google "Como matar uma fada".
-Paciência, pequena lacraia.- Jungkook disse. Joguei um travesseiro em sua direção.
-Me chamou de que?!
-Calma aí! Eu só estava imitando aquele filme do Karatê Kid.- Jungkook começou a correr pelo quarto junto comigo tentando esganar ele.
-É pequeno ganhoto, sua anta! Não lacraia. E fala logo o que você está armando.- Eu dizia quase sem fôlego de tanto correr atrás do mesmo, mas ambos acabamos desistindo daquela fuga.
-Anda. A minha mãe quer ir comigo na reunião, que jeito você vai dar?
-Fica tranquila, porque nós temos isso!- Ele tira de trás de si uma boneca velha minha. Ergo uma das sobrancelhas.
-Vai me salvar de uma reunião chata com uma Barbie?- Perguntei curiosa. Jungkook sorri.
-Óbvio, se até a mãe do Namjoon conseguiu transformar uma abóbora em carruagem, eu consigo transformar uma boneca em humana.
-Ah tá, pensei que... Espera aí. O que?!- Meu cérebro processou o que Jungkook havia dito, no mesmo instante o meu sensor de "Vai dar merda começou a apitar ".
-É isso mesmo. Olha só: Ad vitam.- Ele diz naquele idioma estranho de quando enfeitiça algo.
A boneca cai no chão e de repente, começa a se materializar na forma humana em nossa frente. Quase perco o fôlego assim que o olhar da boneca (agora humana) encontra o meu e percebo que é idêntica a mim. Parece até que estou diante de um espelho. Não consegui conter um pequeno gemido de surpresa e susto.
-Meu Deus...- Falei tocando no rosto da minha cópia. Então, Jungkook não precisaria explicae seu plano, pois tudo já estava claro.
-Oi, eu sou a _____. Sou meio chata, gosto de amarelo e assisto Shrek.- A menina disse com a voz idêntica a minha enquanto Jungkook ria.
-Olha só, ela é até mais legal que você.
-Você foi quem mandou ela dizer isso?- Perguntei em tom de ameaça para a fada, me preparando para esganar o mesmo novamente. Ele coloca as mãos pra cima em sinal de rendição.
-Não fui, juro.
-E agora? Como fica a minha boneca?- Era até meio bobo perguntar sobre um brinquedo que eu não usava a anos.
-Fica fingindo ser você, é claro. E ele não é uma garota, mas também não é garoto. É uma coisa.- Jungkook dá ênfase na última palavra.
-Não tenho sexo.- A minha cópia diz.
-Ele é tipo um robô. Acho inclusive qu devíamos dar um nome a ele.- Jungkook sugere. Concordei com a cabeça.
-Seu nome vai ser... Merdolino.- A fada diz olhando um dvd antigo meu do Patolino. Sério, o que será que Jungkook tem no lugar de cérebro?
-Ele vai ficar triste com esse nome. - Defendi aquela coisa.
-Eu também não fico triste.- Merdolino diz.
-Viu? É perfeito. O Merdolino pode se transformar na pessoa que você quiser, ele está conectado as suas emoções e é só dar um comando. No caso, ele vai ficar com a sua mãe pra você poder sair.- Jungkook parecia o Doutor do Frankenstein e o Merdolino a sua criação. Dois malucos soltos por ai.
-Parece interessante. Desde que ele não fale nem uma besteira.- Falei pensativa.
-Preciso que vá a uma reunião de grupo de apoio para mim. Faça algumas expressões tristes de vez em quando e não fale muito. -Ordenei a aquela coisa que era minha boneca segundos atrás, o mesmo concordou com a cabeça.
-_____! Cadê você?! Vamos nos atrasar!- Minha mãe gritou das escadas mais uma vez. Não havia tempo a perder.
-Agora é a sua deixa, Merdolino.- Jungkook sai empurrando a coisa para fora do quarto.
-Posso chamar vocês de Mamãe e Papai?- Merdolino pergunta virando a cabeça em 180 graus para trás.
-Não!- Respondemos em uníssono desesperados.
[...]
Mesmo com o coração pesado e o pressentimento de que algo não iria sair de acordo com o planejado. Fui com Nate até sua casa. Merdolino saiu com minha mãe prometendo que voltaria para casa assim que possível, enquanto Jungkook disse que iria passar um tempo indeterminado na casa do Hoseok.
Fiquei a todo instante querendo ligar para Hobi, porém me contive. Eu teria que confiar naqueles dois por aquela noite.
Assim que adentramos os portões da casa de Nate, ficou bem nítido aquilo que já era óbvio: Que a sua família era rica. Fiquei pensativa se eu tinha vindo com roupa apropriada para tal lugar, ao mesmo tempo em que imaginava porque Nate me escolheria quando havia milhares de opções ainda mais bonitas.
-Fiquei tão feliz quando disse que viria. Quem foi que ficou com o seu amigo?- Nate pergunta me guiando pela infinidade de corredores.
-Um outro amigo nosso.- Era melhor responder isso, do que dizer que foi com o cara que ele viu no restaurante na primeira vez que fui ao Bigue Hitê.
Chegamos a uma sala enorme em que havia uma mulher sentada próxima ao piano lendo uma partitura. Era uma bela senhora, não posso negar.
-Olá, mãe. -Ajeitei a postura quando Nate falou com a mesma. Ela nos olha e sorri.
-Boa noite, querido, vejo que trouxe companhia.
-Muito prazer em conhecê-la .- Saudei sua mãe.
-Você é bonita. É sua namorada, Nate?- A mulher pergunta. Fico constrangida.
-Ainda não. -Nate sorri de lado, é aí que quero me enterrar mesmo.
-Nate! A gente pode jogar Detetive com a sua namorada?- Nem percebi que Terry estava na sala também. Dessa vez ele veio correndo até nós com um jogo de tabuleiro. Ia abrir minha boca para aceitar, porém Nate foi mais rápido:
-Já falei que não. Mãe, manda o Terry fazer alguma coisa pra não me encher o saco.- O garoto diz estressado. Novamente, sinto uma confiança que tinha em Nate se esvair.
-Terry, vem praticar piano e deixa o seu irmão. -A mãe de Nate diz distraída com as partituras.
Nate me pega pelo braço para irmos até deu quarto. Dou uma última olhada para trás, vendo seu irmão ficar de ombros caídos olhando para o jogo de tabuleiro. Me sinto a pessoa mais covarde do mundo por não conseguir dizer nada na frente da mãe do Nate ou de Terry. Porém, mais tarde eu falaria algumas coisas para ele.
Assistimos Velozes e Furiosos, sem deixar de em nenhum momento pensar em Terry e Hoseok, no fato de eu estar sendo uma covarde nesse exato momento. No meio do filme, sinto Nate passar os braços ao redor de mim. Queria tirar eles dali e voltar para casa com Jungkook. Lembro de como ele estava empolgado por alguma estranha razão antes de eu sair. É ainda mais estranho eu estar com Nate, desejando o perfume de Jungkook. Relembrando a todo instante seus lábios e o gosto dele.
Talvez eu seja uma completa idiota de ter ficado com ele ontem e hoje estar com Nate. Porém, tento me convencer de que foi apenas um "fica".
O filme acabou finalmente, assim que me virei para falar com Nate ele me beija com fervor, diferente da primeira vez que nos beijamos. Fico surpresa, mas retribuo. Não consigo ignorar a sensação de que estou de alguma forma traindo meus amigos, principalmente Jungkook.
-Espera... Nate, eu preciso falar com você. - Separei nossos lábios. Apesar de tudo, Nate até que beijava bem.
-Pode falar. -Ele tira uma mecha de cabelo do meu rosto, enquanto procuro uma forma sutil para falar sobre o assunto.
-Não sei como dizer isso, mas você não pode mais tratar o Terry desse jeito.- Fui direta ao assunto, o que fez Nate bufar irritado.
-Sério que quer falar disso?
-Ele é seu irmão, mas você o trata igual um desconhecido.
-Escuta, eu sei que você é sensível nesse assunto de irmão e tal. Mas não conhece o Terry igual eu, ele nem gosta de você ou de nenhum dos meus amigos. -Nate retrucava com certa irritação. Eu estava adentrando um território perigoso de discussão, porém não ia mais ficar calada.
-É claro que ele não gosta. Terry é só uma criança e está enciumado de você passar mais tempo com os outros. - Respondi ao mesmo que ficava cada vez mais irritado.
-Aguentar o Terry já é uma grande coisa. Agora, vamos parar de falar sobre ele, por favor.- Ele tenta me beijar novamente porém eu desvio.
-Só quando prometer que vai cuidar e parar de ser um escroto com o seu irmão. -Nem eu acreditei que acabo de falar a palavra "escroto" para o presidente do grêmio da minha escola.
Quando Nate estava prestes a responder, um barulho estrondoso do que parecem ser tiros invadem o quarto. Coloco me ao chão com medo imenso, mesmo que a casa dele tenha bastante lugar para se esconder. Nate não parece nem um pouco abalado com aquele barulho, se levantando e indo até sua janela.
-Que por... De novo essa palhaçada?- Ele coloca as mãos na cintura.
-Nate! Se abaixa dos tiros!- Gritei desesperada.
-Não são tiros. É só umas coisas voando na minha janela. Vou descer ali para verificar.- Se retira do quarto apressadamente.
Finalmente saio do chão e noto que sua janela realmente esta gosmenta seja lá do que for. Resolvo deitar um pouco na cama do Nate para espera-lo. Novamente com um peso enorme em minha consciência. Não acredito que larguei Hoseok e Jungkook para ver Terry triste de novo. Talvez eu deva descer e falar com ele, já que Nate não parece que irá mudar muito.
Acho que fiquei mais tempo na cama do Nate do que pensei, porque meus olhos começaram a pesar. Porém, antes que eu conseguisse dormir, senti alguém ficar em cima de mim e me beijar novamente. Nate tinha chegado e eu nem sequer tinha visto.
-Espera...
-O que foi?- Ele diz beijando meu pescoço com carinho.
-Eu... Sei o que está pretendendo. -Falei.
-Ah é? O que?
-Você sabe, só que eu não estou pronta pra esse tipo de coisa agora.- O tirei de cima de mim. Nate parece extremamente confuso como se eu tivesse sido a primeira garota a não querer transar com ele.
-Tá falando sério?
-Nate, a gente mal se conhece. Não é desse jeito que eu quero que as coisas acontecam.- Me levantei da cama. Nate ri sem humor, parecendo decepcionado.
-Ok então.
-Ficou chateado?- Era uma pergunta muito boba da minha parte a se fazer.
-É claro que fiquei. A garota que eu gosto não quer ter intimidade comigo.- Ele diz. Nessa hora começo a sentir algo que nunca achei que sentiria por Nate: Estresse.
-Intimidade não é sexo, sabia? Se quisesse mesmo ser íntimo meu, não ficaria tentando fazer chantagem emocional pra transar com alguém que estou conhecendo ainda. Quer saber? Eu não devia ter deixado o Hoseok.- Calço meus sapatos para cair fora dali. Nate arregala os olhos assim que percebe qu estou de fato furiosa.
-Desculpa. Você é diferente das outras...
-É ne? Sou a única que você não conseguiu levar pra a cama com menos de uma semana. -Retruquei abrindo a porta do quarto.
-Ei espera! Eu te levo!
-Eu pego um Uber. -Sai batendo os pés extremamente irritada.
Nate parecia ser um príncipe encantado na escola, mas é nessas horas que a gente percebe que mesmo o presidente tem seus defeitos. Pior de tudo, foi ter me acovardado e deixado ele me calar diante do seu irmão ou ter me tirado de perto do meu amigo. No meio dessas minhas reflexões irritadiças, senti meu celular tocar no meu bolso. Era um número desconhecido.
-Alô?!- Respondi já com ódio no coração. Sou a própria encarnação da malévola.
-Olá My, liguei em um mau momento?-
Reconheço a voz de Jungkook. Assim que vejo ele me chamando pelo apelido de quando estávamos bêbados, meu coração se amolece mais um pouco.
-Mais ou menos. O que foi?
-Pode me fazer um favor bem pequeno?- Jungkook diz com uma voz mansa.
-Claro.
-Poderia vir me buscar aqui na delegacia?
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