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História Faded - Cancer - Capítlo Único


Escrita por: Little_Ramona

Notas do Autor


Então pessoas, eu escrevi esse oneshot pequenininha na semana que saiu o cover de Cancer do Twenty One Pilots, e quando eu ouvi a música todo esse filme passou pela minha cabeça e eu achei que seria muito desperdício não traduzi-lo em palavras. É isso aí, espero que vocês gostem <3

Capítulo 1 - Cancer - Capítlo Único


Ligo o computador. Abro o youtube. Pesquiso por “Cancer - Twenty One Pilots”. Aperto o play.

Era verão. Eu sempre fui muito bom em chorar em silêncio. Todos nós éramos. Mas naquela noite eu falhei. A dor era grande demais pra que eu me importasse com alguns míseros ruídos. Eu tinha tudo não tinha? Dinheiro, fama, uma namorada, amigos, uma banda. Então por que eu me sinto tão vazio quanto a cinco anos atrás?

Escuto Frank se remexer no bunk de cima. Talvez ele também esteja tendo problemas com a mente dele. Talvez ele queira me dar soco por atrapalhar seu sono. De repente, com muita sutileza, ele desce e se abaixa até ficar no nível do meu corpo. Ele me cutuca e eu viro.

- Quer conversar? Também não estou tendo sorte nesse negócio de dormir. - Ele sussurra.

- Okay.

Saímos da área dos bunks à passos finos, como se com medo de romper o tênue fio que separa nossos amigos e companheiros de banda da realidade, e nos dirigimos até o lounge do ônibus. É uma pequena área depois dos bancos com mesinhas de jogos. Eu me sento em um dos bancos e Frank posiciona-se no oposto, deixando a mesa entre nós.

- Eu ouvi você chorando. Já faz pelo menos uma hora agora. Mal dia, huh?

- Muito mal. - murmurei com a voz ainda trêmula.

- Também não estou no meu melhor humor, mas eu estou aqui, sabe que sempre estarei, pode desabafar se quiser.

Fiquei em silêncio por um longo momento tentando colocar ordem no frenesi de pensamentos e vozes dentro da minha cabeça. Algumas diziam que eu nunca seria feliz, algumas que eu deveria me matar o mais rápido possível, e ainda outras diziam que dias melhores estavam por vir e que era tudo temporário. Eu particularmente preferia a última, mas as outras gritavam muito mais alto. Eu não sabia o que diria para ele, não tinha certeza nem mesmo de por que eu chorava. Talvez fosse por absolutamente tudo. Talvez fosse por nada em particular.

- Já sentiu o seu peito tão pesado que chega a duvidar que vai conseguir levanta-lo para respirar de novo?

Ele assentiu e permaneceu calado.

- Eu fiz tudo certo, realizei todas as coisas que eu tinha idealizado. Por que eu sinto que falhei? Parece que não importa a maneira que eu leve as coisas, tudo sempre acaba aqui. Nesse sentimento, nesse estado. O fim do ciclo é sempre o mesmo.

- Não há ninguém, ou algo que você deixou cair no meio do caminho, talvez? Alguma peça que deixa o vazio gritante no meio do quebra cabeça?

Me silenciei mais uma vez. Repassei o último ano e os que vieram antes deste. Não se parece com algo real, não sinto como se tivesse realmente acontecido. Será que os atores se sentem assim quando assistem um filme que protagonizam? Começou novamente. Um frio arrebatador toma conta do meu corpo e um buraco negro reabre em meu peito. Eu volto a chorar compulsivamente.

- Será que nunca nada vai valer à pena, Frank? Nada nunca vai me fazer feliz? Claro que muita coisa foi deixada para trás, enterrei mais memórias do que posso contar. Eu sinto como se estivesse com câncer. Eu sei que tenho pouco tempo de vida. Eu sinto a vitalidade se esvaindo e uma casca oca sendo deixada como resultado. Eu estou morrendo, Frank, e todo mundo já percebeu. Me olham com cara de pena, pior, de luto. E o mais decepcionante nisso tudo é que eu não tenho vontade de mudar essa situação. Eu não quero lutar. Eu não me importo. Respirando ou não, eu já estou morto.

Antes que eu pudesse perceber eu estava envolvido em um abraço apertado, ouvindo palavras de conforto sussurradas.

Era inverno. Frank tinha a face vermelha, regada pelas lágrimas que brotavam dos seus olhos inchados, seu semblante sujo de dor e derrota.

- Eu fiz tudo por você, Gerard! Eu perdi meu sono, eu tracei meu futuro aos seus caprichos! Como você pôde? - ele soluçava.

Eu podia ouvir as vozes de pessoas festejado do lado de fora junto com a música alta. Eu deveria estar lá, era para ser supostamente o dia mais feliz de um homem, mas tudo o que eu conseguia fazer era encarar aquela pequena figura amarrotada no chão do banheiro.

- Nós tínhamos concordado que não seria definitivo. Era só por um tempo. Não era?

- Foda-se, Gerard. Você sabia que não era. Você sabia que era só uma história para tirar a culpa da traição dos nossos ombros.

Ajeitei a gravata, alisei o paletó. Eu precisava sair dali, eu não poderia estilhaçar naquele momento, não na frente de todos. Mas como eu poderia deixa-lo ali daquela forma?

Era primavera. Olhei para o lado com a respiração normalizando, e encontrei um par de olhos âmbar sorridentes. Como pode ser tão lindo? Seu peito nu subia e descia num compasso desuniforme. Sua franja negra grudada na testa pelo suor. Eu podia ver onde o vermelho do seu cabelo começava a desbotar. Não lembrava-me de alguma vez ter me sentido tão bem.

- Nós somos eternos. - eu disse.

- Nós somos eternos - ele confimara.

Era o fim de uma era. Eu andava de um lado para o outro, numa mistura de constrangimento e ansiedade.

- É isso que eu quero. Eu não posso mais e convenhamos, dormir em hotéis separados não é o tipo de relação que colegas de banda deveriam ter. Eu sei o quanto você ama essa banda e tudo o que ela representa. Minha vida também foi nela. Mas a mensagem já não é mais o que era, o objetivo foi torcido e dobrado pelo dinheiro. Eu não sinto mais que nós fazemos uma diferença.

- Eu concordo. Não é exatamente a minha preferência, mas você está certo. - ele respondeu, cortante como ferro.

Frank estava frio, defensivo. Levantou e se dirigiu a porta sem voltar a olhar em meus olhos. Sentei-me, aliviado. Será que tomei a decisão certa? Será que poderíamos ter recuperado companheirismo que mantinha a banda junta? No fim eu estava mais contente do que poderia me orgulhar, eu tinha resolvido o problema.

….

Meus devaneios são cortados pelo silêncio sepulcral do quarto. Vejo o botão do replay em destaque na tela, me convidado para continuar o passeio pelas memórias não-tão-bem-vindas. Retiro os fones, pousando-os sobre a escrivaninha. Um vento frio entra pela janela na outra extremidade do quarto, o que me faz lembrar que é quase outono. Abóboras, fantasias e Frank são as coisas que cruzam minha mente quando o mês de outubro é mencionado. É sua estação preferida, provavelmente porque seu aniversário e o halloween ocorrem nela. Me pergunto o que ele está fazendo nesse momento. Será que ouviu o cover? Ainda pensava nele? Se arrependeria de não ter insistido naquele dia?

Queria poder dizer que esse tipo de pergunta só acontece de vez em quando, que elas me pegam desprevenido quando alguém traz um assunto do passado de volta. A verdade é que elas ainda ocorrem com mais intensidade do que eu gostaria, um ou outro dia da semana, quando eu estou prestes a dormir ou quando acabei de acordar. Conversamos algumas vezes, palavras cordiais, felicitações, assuntos distantes de qualquer coisa que possa tocar no cadáver em nosso armário. É meio vazio, se você me perguntar, no fim, nós dois desistimos, não é como se tivéssemos algo em comum para conversar que não deixasse ninguém desconfortável.

Tente mais uma vez, insista, ele sente tanto a sua falta quando você sente a dele. Mais uma vez sou assolado por essa urgência de falar com ele, ouvir sua voz, cuspir tudo o que eu guardei durante três anos e ouvir o lado dele de todo esse tempo. Três anos e três álbuns é a distância que nos separa, sem contar a intermináveis pilhas de problemas mal resolvidos.

Pego meu celular e encaro o pequeno ícone com a identificação de “Frank”. Há pelo menos outros quatro Franks nos meu contatos, porém colocar seu sobrenome seria como taxa-lo de ordinário, seria dizer que ele é como todos os outros. Apenas um nome após o outro. Apenas palavras em formulários. Ele me odiaria se o colocasse em uma categoria comum.

Aperto em seu número. Pronto. Depois de três anos de procrastinação, vergonha e orgulho, tudo o que levou para trazer à baixo tudo isso foi um toque. Ao passo de que começa a chamar, meu estômago se embrulha e minha mão livre fica inquieta. Talvez ele não queira falar comigo. Talvez ele tenha me esquecido. Talvez foi tudo uma fachada bem construída e ele não suporta a menção do meu nome. É isso, depois de todo esse tempo tudo o que sobrou foram coisas ruins, que enterraram todos os bons momentos e ninguém quer revirar as coisas para se sentir mal por algo que já não dá pra mudar. É melhor desligar e evitar o mal para os…

- Alô? Gerard?



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