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História Fairy Tail A Celestial Hunter Story - Capítulo 4 Codinome: Titânia


Escrita por: Nashizita

Notas do Autor


Oii gente, como estão?

Eu sei, eu sei... Eu demorei mais do que eu deveria e já peço perdão por essa demora absurda da minha parte.
Mas confesso que tive uma enorme dificuldade de escrever esse capítulo e tive um bloqueio no mês de abril. Só que não foi apenas isso que fez com que eu atrasasse também. Em maio, mandei meu computador pra formatar e ele voltou dando problemas e precisei mandar mais vezes pra manutenção. A minha sorte é que eu salvei tudo o que eu tinha escrito e só pude escrever no meu serviço e em folhas de papel.

Estou com o computador de volta (ainda fazendo testes pra ver se ele está funcionando perfeitamente), mas consegui terminar o capítulo.

Talvez haja a possibilidade dele ser reescrito, mas se for o caso, eu os avisarei mais pra frente.

Boa leitura e me desculpem caso tenha algum erro ortográfico.

Capítulo 4 - Capítulo 4 Codinome: Titânia


Era raríssimos às vezes em que Makarov chamava Erza Scarlet para o seu escritório e quando o fazia, a ruiva ficava extremamente tensa.

Hoje não era diferente.

Parada em frente a porta branca de carvalho, Erza respirava bem fundo uma, duas, três vezes antes de bater na madeira.

— Pode entrar. — Respondeu o senhor do lado interno do cômodo, e assim que entrou, ela fechou a porta atrás de si e caminhou três passos.

O escritório de Makarov Dreyar media três metros de largura por quatro metros de comprimento e de altura, as paredes e o chão eram de uma madeira branca. A porta ficava mais próximo ao canto esquerdo, em frente a porta, havia uma escrivaninha de dois metros e meio com madeiramento marrom escuro e duas cadeiras da mesma cor com uma de cada lado, atrás da mesa tinha uma grande janela do mesmo tamanho. Tanto do lado esquerdo quanto do lado direito havia prateleiras com livros e arquivos.

— O senhor pediu para me chamar, Mestre?

— Sim, eu pedi. Por favor, sente-se. — Ela faz o que ele pede. — Hoje chegou uma nova missão pedindo especificamente que você a realizasse.

 — É uma missão Classe S? — Perguntou intrigada, já que era a primeira vez que algum cliente pedia um mago específico para tal missão.

— Não, é uma missão normal de Classe B. Só que o cliente quer que você realize a tarefa. — Responde pegando a folha da missão.

— E qual seria a tarefa? — O senhor entrega a folha, Erza a lê com atenção. — Capturar uma quadrilha de saqueadores? O líder possivelmente é um mago de uma guilda negra?

— Sim, exatamente minha filha.

— Certo! — Ela se levanta da cadeira, guardando a folha da missão no seu espaço mágico. — Eu aceito a missão, Mestre.

— Ótimo! Maravilha!

Erza agradece e caminha em direção a porta. Mas antes de sair, ela se vira para Makarov com uma pergunta.

— Como é uma missão de categoria alta, eu posso levar um acompanhante comigo, certo?

— Seria mais do que o correto, Erza. Tem alguém em mente?

— Sim, eu acho que vou pedir pra Levy me acompanhar. Eu sinto que precisarei de alguém inteligente, então vou chamar ela.

— Faça do jeito que preferir, minha filha.

Com um aceno, Erza deixa o escritório de Makarov e faz seu caminho até a biblioteca da guilda.

...

Hoje era o dia de organizar a biblioteca da guilda e Levy era a encarregada, mas ela não iria fazer todo o trabalho sozinha, seus amigos estavam lá para ajudá-la.

— Por onde começamos, Levy-chan? — Perguntou Lucy já pronta pra trabalhar. Ao seu lado, estava Natsu com seu gatinho Happy e mais dois garotos.

Um deles se chamava Jet. Ele é um garoto magricela, um pouco mais alto do que Natsu, tinha a pele clara, com cabelos alaranjados e olhos preto, trajado com uma camiseta roxa púrpura, bermuda preta e sapatos marrom. De acordo com alguns membros da guilda, ele era um garoto bem agitado. A maioria costuma esquecer, mas seu nome verdadeiro é Sarusuke, Jet era seu apelido.

O outro se chamava Droy, que também era bem magro, da mesma altura que Jet, com a pele levemente bronzeada, olhos preto, cabelos da mesma cor com dois pequenos tufos se projetando no topo de sua cabeça, vestindo uma camiseta branca com uma pequena imagem de uma folhinha desenhada no canto esquerdo, shorts verde folha com a barra em um tom de verde mais claro e sapatos preto.

Ambos eram os melhores amigos de Levy e também seus novos companheiros da nova equipe que formaram: Shadow Gear.

— Então... — Começou Levy olhando para algumas estantes, onde estavam faltando alguns livros antes de se virar para os amigos. — Temos que recolocar alguns livros de volta em seus lugares. O pessoal vem aqui, pega um, mas dificilmente colocam no lugar certo, eles acham mais fácil guardar no primeiro espaço vazio da estante e acabam bagunçando tudo.

— Levy, você não acha melhor reclamar com o pessoal sobre isso? Ou falar com o Mestre também? — Sugeriu Droy cruzando os braços acima do peito.

— Eu já fiz isso várias vezes, mas a maioria não escuta e eu não quero ficar estressando o Mestre com algo assim.

— Mas você deveria falar com ele mesmo assim.

Ela deu um suspiro, sabia que ele estava certo.

— Por enquanto, eu vou tentando falar com o pessoal e arrumar por aqui, sem precisar incomodar o Mestre.

— Você quem sabe. — Disse ele desistindo da ideia de insistir mais.

— Então, prontos pra começarem?

Todos assentiram e Levy começou a distribuir as tarefas.

Foram quase duas horas organizando os livros em ordem e arrumando cada um em suas estantes correspondentes. Lucy e Natsu agora entendiam os motivos de Levy passar tanto tempo dentro da biblioteca, não era apenas lendo livros, mas também para deixá-la perfeitamente ajeitada como deve ser.

Happy, Jet e Droy se encarregaram de guardar os livros em seus respectivos lugares, enquanto Levy, Lucy e Natsu separavam os livros de acordo com a seção e numeração.

— Esse aqui é… É… — Resmungava o rosado com um livro em mãos, forçando os olhos na capa.

— A História da Magia e Seus Atributos. — Ajudou Lucy.

— Eu já sabia disso, tá? Eu sei ler! — Ele respondeu com o rosto levemente corado, não querendo admitir que estava tendo dificuldades de leitura.

— Olha… Se estiver com problemas pra ler, eu posso te ajudar. — Ofereceu a loira com um sorriso. — Se você quiser.

— Hum… Vou pensar sobre isso e… Talvez eu peça, tá bom?

— Como quiser.

Eles continuaram conversando, enquanto voltavam as suas tarefas.

Poucos minutos depois, a porta da biblioteca era aberta e Erza entrava no local. Todos pararam seus afazeres por alguns segundos para olharem pra ela, mas retornavam rapidamente.

— Oi. A Levy está? — Ela logo foi direta, sem perda de tempo.

— Estou aqui, Erza. — Respondeu a azulada, indo até a amiga. — Precisa de alguma coisa? Algum livro ou alguma informação?

— Não, mas eu posso conversar com você em particular?

— Claro! — Levy a levou até um canto afastado do local onde elas poderiam conversar mais à vontade. — Então, sobre o que você quer falar?

Antes de falar, Erza usa sua magia para “tirar” a folha da missão do seu espaço mágico e o mostra para a amiga.

— É uma missão?

— Sim, eu recebi ela a poucos minutos do Mestre. O cliente pediu especificamente por mim, mas eu sinto que não devo realizá-la sozinha, então eu vim te perguntar se você pode vir comigo.

Levy pensa por alguns instantes.

— Olha, é uma missão muito interessante e eu iria gostar muito de ir com você, mas eu tenho que organizar a biblioteca e eu prometi que amanhã sairia em uma missão com o Jet e Droy. Então, me desculpa, não vou poder ir com você desta vez.

— Ah, er... Tudo bem, não tem problema. — Erza tentou, mas não conseguiu esconder a decepção em seu olhar e a azulada percebeu isso.

“Hum... Eu acho que já sei como ajudá-la.”, pensou ela com um sorriso.

— Mas, se você quiser, eu posso te indicar alguém para ir com você.

— Oh, isso seria de muita ajuda! — Falou com um sorriso enorme nos lábios, sabendo que uma indicação vinda de Levy poderia ser algo muito bom.

— Que bom saber disso, pois eu sei a pessoa certa pra ir com você! — Falou com o mesmo sorriso que a ruiva.

— E quem seria?

— A Lucy!

Aquilo foi realmente surpreendente para Erza.

De todas as pessoas, ou melhor dizendo, de todos os membros (Com exceção de Mirajane), por que justamente a maga dos cabelos loiros?

Não que Erza não gostasse da menina, muito pelo contrário. Ela gostava muito dela e sempre quis ser uma amiga mais próxima desde os primeiros dias da mesma dentro da guilda e não acharia ruim de ir em uma missão com Lucy, mas não naquela missão. Ela achava que era perigosa demais para uma maga que estava ingressada a tão pouco tempo e com pouquíssima experiência em combate.

— Levy, não me leva a mal, mas a Lucy só está na guida há três meses, não tem experiência em combate e é uma missão de classe B. O que quer dizer que será perigosa e eu não quero que ela se machuque.

— Erza, você estranhamente está com um tipo de Instinto Protetor para com ela desde o dia em que a salvou daquele lobo gigante. — Respondeu com um suspiro. — Eu sei que você está preocupada, mas acredite no que eu estou dizendo, tenho certeza de que a ajuda da Lucy para a sua missão será a mesma coisa, se não melhor, do que se fosse eu. Eu acredito que ela bem mais inteligente do que eu.

— Isso é difícil de acreditar, a não ser presenciando com meus próprios olhos.

— Então leva ela. Aliás, eu acho que também será uma boa experiência pra Lucy.

Erza fecha os olhos, ponderando a sugestão e os argumentos de Levy. Ela sabia que sua amiga não teria recomendado a loira sem nenhum motivo por trás além do ganho de experiência.

“O que poderia ser?”, pensava ela.

De qualquer maneira, Erza acena em concordância, saindo do canto onde elas estavam e caminhando na direção em que a loira se encontrava com Natsu e Happy. Eles estavam rindo sobre algum livro de história que o gato azul mostrou pra eles.

— Essa história é muito boa Happy! — Comentou o garoto com um enorme sorriso.

— Eu também acho Natsu! — Falou o gatinho abrindo suas asinhas e voando até a cabeça do amigo.

Lucy sorriu amplamente para os dois e não deixou de fazer uma pequena carícia no bichano azulado, ganhando um ronronar de recompensa.

— Ele gosta muito de carinho, não é? — Disse a menina.

— Sim, ele adora, não é Happy?

— Aye sir!

A resposta do gatinho fez eles rirem, mas pararam ao sentir a presença de alguém atrás deles e ficam surpresos ao verem Erza ali com um semblante sério. Natsu e Lucy travam na mesma hora, olhando pra ela e esperando algum tipo de punição por estarem rindo e se divertindo, enquanto deveriam estar ajudando Levy com a biblioteca.

— Er... Está tudo bem, Erza-san? — Perguntou Lucy um pouco nervosa.

— Está tudo bem sim, Lucy. Mas eu gostaria de falar com você, se você puder.

— Oh, tudo bem. — Respondeu ela colocando o livro que estava em mãos sobre a mesa e seguiu a ruiva até o mesmo canto em que Levy havia lhe levado a poucos minutos. — Então, sobre o que gostaria de falar?

Erza pegou o folheto da missão e lhe entregou, esperando pelos segundos que a loira levaria para ler a tarefa.

Lucy arregalou os olhos ao ver a classificação da missão e o que teria que fazer.

— Missão Classe B?

— Sim e eu queria que você fosse comigo nessa missão.

— M-mas eu não tenho quase nada de experiência em missões assim e aqui vamos ter que lutar contra uma quadrilha de saqueadores e um possível mago negro. — Lucy não deixou de mostrar que estava com medo de aceitar ir nessa missão com Erza.

— Sim, eu sei disso.

— Então, por que não pede pra algum mago com mais experiência com esse tipo de missão? Tipo Natsu ou Gray ou... — Ela pensou em sugerir Mirajane, mas sabia muito bem do histórico de conflitos que as duas tinham e com certeza não seria uma boa ideia ter ambas juntas e sozinhas.

— Não entendo por que está fazendo todo esse drama, você já realizou missões que incluíam lutas.

— Sim, só que eu não participei totalmente das lutas. Normalmente era o Natsu, o Gray ou a Mira-san que faziam essa parte.

Erza soltou um suspiro, colocou as mãos sobre os ombros de Lucy e olhou bem fundo em seus olhos.

— Eu não quero outra pessoa nessa missão. Eu quero você nessa missão. Eu não ligo se tem pouco ou nenhuma experiência em combate, eu quero que você venha e que realize essa tarefa comigo. Juntas, como amigas. Isso está claro pra você?

“Eu já devia saber que é impossível argumentar com a Erza!”, pensou Lucy soltando um pequeno gemido. Segurou as duas mãos da cavaleira, também a fitou da mesma maneira e respondeu:

— Está bem, eu vou com você.

— Perfeito! — Falou ela com um sorriso. — Esteja amanhã cedo na estação às 07:00 horas. Não se atrase.

— Tudo bem.

Depois disso, Erza saiu da biblioteca e foi para casa se preparar para o dia seguinte.

Lucy achou melhor fazer o mesmo e ir pra casa para arrumar suas coisas e dormir bem cedo. E foi o que fez após se despedir de seus amigos.

...

Passava um pouco mais das 05:37 horas da manhã quando Lucy escutou batidas rítmicas em sua porta. A princípio, ela pensou que fosse no seu vizinho da frente, mas quando os barulhos de batidas aumentaram percebeu que a qualquer momento sua porta seria destruída.

Com relutância e muito sono, ela se levantou pra abrir a porta.

“Está de brincadeira comigo?”, pensou ela cobrindo a cabeça com o travesseiro pra abafar o som, só que foi totalmente em vão.

— Calma! Já vai! Para de bater! — Gritou ela um tanto mal humorada, enquanto destrancava e abria a porta. Ela teve uma surpresa ao ver quem era que estava parada bem na entrada. — Erza-san?

— Bom dia, Lucy. — Cumprimentou a ruiva educadamente. Ela estava carregando sua grande bolsa bege claro com alça marrom de couro e uma mochila preta com um saco de dormir preso pela aba.

— Por acaso você sabe que horas são agora? Não são nem 06 da manhã! — Lucy não conseguiu evitar a raiva que sentia. — Eu ia acordar daqui vinte minutos!

— Acordar mais cedo do que planejou não é nada demais e eu achei que seria uma boa ideia irmos juntas para a estação. — Erza ignorou completamente o mal humor da loira, a olhando com um sorriso. — Além disso, eu também quis vim lhe ajudar com suas coisas e...

— Eu já deixei elas prontas ontem. — Interrompeu Lucy apontando para uma mala de tamanho médio da cor marrom escuro e uma mochila da cor azul marinho com um saco de dormir preso na parte de cima por um pequeno gancho plugado na pequena alça. — Por isso eu queria dormir mais um pouco...

— Oh, eu entendo. Mas você pode dormir no trem durante caminho até Cidade de Atalaia. — Erza sentiu que havia deixado a amiga chateada e sugeriu algo que pudesse animá-la.

Com um suspiro e esfregando seus olhos, Lucy resmungou:

— É, pode ser. Se importa de esperar eu tomar um banho primeiro? Não vou demorar.

— Não, eu posso esperar.

— Obrigada. Pode entrar e esperar na sala. — Falou dando passagem pra cavaleira que entrou.

— Eu agradeço. — Respondeu entrando no apartamento da maga celestial.

....

Depois do banho e de terminar de se arrumar, Lucy e Erza deixam o apartamento da loira e seguem caminho até a estação ferroviária. Ambas caminhavam lado a lado, carregando suas próprias bolsas.

O céu já estava começando a clarear, os primeiros raios do sol que surgiu tocou os prédios e casas mais altas de Magnólia, fazendo um pouco da neve derreter. Era o mês de dezembro e a estação era o inverno, as ruas da cidade e todas as residências estavam cobertas com várias camadas frias e brancas de neve.

As duas jovens estavam trajadas com grossos casacos de frio, com botas para neve, luvas, cachecol e gorros.

— Que frio... — Sussurrou Lucy esfregando uma mão em seu braço a fim de esquentar.

— Parece que hoje está um pouco mais do que alguns dias atrás. — Comentou Erza também fazendo o mesmo que a companheira. — Mas nós já estamos chegando na estação e, se der tempo, podemos comprar chocolate quente. O que acha? — Indagou se virando pra ela.

— Pra mim é uma excelente ideia! — Concordou com um sorriso com dentes se chocando com o frio.

Não demorou mais do que cinco minutos para elas chegarem a estação e Erza imediatamente foi comprar duas passagens para a cidade de Atalaia. Lucy decidiu esperar perto de um banco, onde estava cuidando da bagagem de ambas, esfregando as mãos uma na outra o tempo todo em uma tentativa de se aquecer.

— Ainda com frio? — Perguntou Erza se aproximando e se sentando ao seu lado.

— Um pouco. — Respondeu tentando aquecer os braços.

— E que tal aquele chocolate quente que comentei? O trem só sai daqui quarenta minutos, então podemos tomar com calma e você vai se sentir mais quentinha.

— Sim, por favor.

— Então, vem comigo. — Falou a ruiva se levantando com a loira logo atrás.

Minutos mais tarde, as duas estavam de volta ao mesmo banco, sentadas lado a lado saboreando o chocolate quente. Lucy estava se sentindo bem mais aquecida após a ingestão do líquido doce.

— Está bom? – Perguntou Erza tomando um gole do seu próprio.

— Sim, está muito gostoso! Obrigada Erza-san! — Respondeu Lucy sorridente após tomar um gole do seu chocolate. Ela não percebeu que havia ficado com um bigodinho de chantilly sobre o lábio.

Erza sorriu com a resposta e também com a boca suja da amiga, pegando um guardanapo de papel e limpou o chantilly.

Lucy só notou o chantilly em seu lábio quando a ruiva começou a limpá-lo, o que a fez ficar com as bochechas coradas e o coração disparado em seu peito.

“O que está acontecendo? Por que estou ficando corada e nervosa perto da Erza-san?”, pensou ela confusa com aquilo.

“Droga, por que estou fazendo isso? Ela claramente está constrangida! Eu sou uma idiota!”, pensava Erza afastando a mão ligeiramente envergonhada pelo que fez.

— Eu peço desculpas, Lucy. Eu devia ter lhe avisado e não ter feito isso. — Era perceptível o constrangimento que Erza sentia. — Então, por favor, me bata como punição!

— Hã? N-não, está tudo bem! E-eu não vou bater em você e nem nada parecido! — Dizia nervosamente, tentando deixar sua amiga mais tranquila e com a consciência limpa. — É sério, está tudo bem. Não se preocupe com isso, okay?

— V-você tem certeza?

— Claro! Pode ficar tranquila!

Após isso, as duas não disseram mais nada e só se concentraram em tomar seus chocolates quente. Pairou um silêncio estranho e nenhuma delas sabiam o que dizer para que pudessem quebrar aquele clima tenso e desconfortável, que permaneceu assim até o soar do apito do trem e Erza chamar por Lucy, lhe avisando que era hora de embarcar.

Depois que as passagens foram carimbadas, as duas meninas embarcaram e decidiram se sentarem afastadas dos outros passageiros, pra poderem conversarem a respeito da missão com mais privacidade. Erza ainda se sentia meio receosa por estar levando a mais nova, mas de alguma forma sentia que estar perto de Lucy era algo certo e que por algum motivo ainda desconhecido a fazia se sentir bem. Pensar sobre isso fazia seu coração bater mais rápido que o normal, não conseguindo esconder o rubor que tomava conta de suas bochechas.

“Por que isso está acontecendo?”, se perguntava para si mesma.

— Erza-san? Você está bem? — Indagou Lucy, tirando a ruiva de seus pensamentos.

— Ah, sim. Estou bem. — Respondeu com um sorriso, tentando transparecer mais tranquilidade. — Mas e você? Ainda sente frio?

— Só um pouco. O chocolate ajudou, mas ainda sinto um pouco de frio. — Ela esfregou a mão em um dos braços. — Mas eu sei que logo passa.

Bastou desde a partida da casa da loira até aquele momento para Erza perceber e concluir que Lucy não estava acostumada a sentir tanto frio, e não querendo que ela ficasse doente ou passasse mais frio, ela reequipou o peitoral de sua armadura de volta ao seu espaço mágico, passou um braço sobre os ombros da loira e puxou para mais perto dela, ato que fez a mais nova ficar com o rosto todo vermelho.

— Erza-san? Por que...

— Você se sente melhor? — Perguntou a cortando, olhando pra Lucy com preocupação.

Lucy fitou os olhos castanhos escuros de Erza por mais tempo do que pretendia com seu coração disparado em seu peito. Aquela sensação era nova e o calor vindo do corpo da ruiva era tão bom e tão reconfortante que a loira não queria se afastar, parecia tão certo aquele sentimento de segurança que sentia que não deixou de abrir um sorriso seguido de um suspiro, enquanto deitava a cabeça no ombro de Erza e se aconchegava contra a mesma, fechando os olhos.

— Lucy? O que foi? — A cavaleira estranhou aquela aproximação repentina e sem aviso prévio, chegou a pensar que a menina havia desmaiado ou estava passando mal.

— É que... Isso é bom e não quero me afastar... — Ela respondeu relaxada e ao mesmo tempo sem jeito. — Mas, se você não quiser, eu...

— Não, por favor fique! Er... Quero dizer, você pode ficar, não vou deixar você longe de mim. — Só depois que as palavras saíram que Erza se puniu internamente por dizer tais coisas.

“Mas o que diabos é que está acontecendo comigo?”

Por outro lado, Lucy achou aquilo um tanto fofo da parte da amiga e decidiu retribuir da mesma maneira.

— Eu também não iria querer ficar longe de você, Erza-san.

Obviamente que Erza iria também ficar sem jeito, mas sorriu encostando sua bochecha contra a testa da loira, enquanto a mesma adormecia. Ela achou melhor deixar a menina descansar ao máximo até chegarem ao seu destino.

...

O barulho alto dos freios do trem fez com que Lucy acordasse assustada. Se não fosse por Erza lhe abraçando com segurança pra acalmá-la, ela teria caído no chão e se machucado.

— Lucy, você está bem? — Perguntou com preocupação e também assustada com a parada inesperada do trem.

— S-sim. — Respondeu ainda tentando se acalmar, segurando a mão da ruiva com força, agradecendo imensamente por ela estar ali. — E quanto a você?

— Também estou bem.

— Que bom. — Lucy esfregava a mão livre sobre os olhos pra espantar o sono. — Nós já chegamos? Pensei que você tivesse dito que seria mais ou menos umas três horas de viagem.

— E era pra ser, mas foi só duas horas e essa parada não estava incluída. — Achando aquilo um tanto esquisito, Erza decide ir investigar o que havia acontecido. — Fica aqui, eu já volto.

— Está bem.

Se levantando do seu lugar, Erza passa rapidamente pelo centro do vagão, entre os assentos e chega até a porta, abrindo a mesma e indo para o próximo vagão. Os outros passageiros estavam tão confusos quanto ela, conversando entre si, alguns discutiam com o condutor, outros queriam brigar diretamente com o maquinista. Eram reclamações demais para a cavaleira prestar atenção e quando estava prestes a perguntar ao condutor o motivo da parada inesperada, a porta de frente daquele vagão se abre abruptamente, onde três homens com trajes preto e cinza entravam, dois deles estavam armados com duas espadas.

Em poucos segundos, Erza percebeu que aquelas espadas eram mágicas e recuou dois passos pra trás, apenas observando intrigada um dos homens apontar a ponta da espada para o condutor, enquanto o outro passava a outra ponta perto dos rostos dos passageiros.

— Muito bem, muito bem. — Diz o terceiro homem, que apenas estava as mãos dentro dos bolsos de suas calças. — Eu vou ser direto. Onde estão?

— O-onde estão o que, senhor? — Perguntou o pobre condutor assustado, erguendo as mãos.

— Não me faça de idiota! — Ele grita alto, batendo o pé com força sobre o peito do rapaz, que caí no chão com dor e falta de ar. — ONDE ESTÃO OS MAGOS???

Seus dois companheiros armados passam a lâmina de suas espadas sobre os rostos de duas pessoas.

— Vamos lá, nos digam qual de vocês são os magos. — Disse um.

— Se nos disser o que queremos saber, vamos deixá-los sair livres. – Falou o outro.

Ouvindo as palavras de ameaça contra os passageiros, Erza logo percebeu que aqueles homens faziam parte da quadrilha que pilhavam os moradores de Atalaia, ou seja, eles eram seus alvos.

“É melhor eu derrubá-los rapidamente e sair deste trem com a Lucy.”, planejou tirando sua espada e reequipando o peitoral da sua armadura.

— Me respondam! Onde eles estão? — Gritou um dos homens para um casal, que se abraçavam assustados.

— Hey! — Chamou Erza ganhando a atenção do rapaz que recebeu um forte soco no rosto, o fazendo cair no chão. Seus companheiros imediatamente olham pra ela. — Estão procurando por magos? Saibam que estão olhando para uma agora.

Com exceção dos bandidos, o resto das pessoas ali não conseguiam acreditar que uma menina ligeiramente magra com uma espada e um peitoral era um mago.

— Pegue ela! — Gritou aquele que provavelmente era o líder entre os três para o seu subordinado que avançou em direção a Erza com sua espada erguida.

A ruiva abriu um sorriso, se desviando rapidamente do golpe de espada do oponente, desferindo a sua própria contra a dele pra se defender. Não o derrubou e nem o desarmou, mas impediu que ele acertasse a lâmina em uma moça com seu filho ali perto.

Aquele rapaz forçava mais sua espada contra Erza, sem conseguir acreditar na força que ela tinha, tanto que quando se forçou mais a lâmina da sua espada começou a trincar e isso o fez se afastar rapidamente para encará-la, apertando os dente com raiva.

“Como estou perdendo para uma garotinha com a metade da minha altura?”

— Que vergonha… Você nem vale metade da minha força. — Provocou Erza com um sorriso zombeteiro.

E funcionou perfeitamente, pois sem nem pensar, o rapaz avançou com tudo.

— O QUE FOI QUE VOCÊ DISSE? — Esbravejou perdido em total fúria.

Com um sorriso de satisfação, Erza apenas fez um simples movimento com o punho, bateu sua espada contra a dele. O pequeno trinco se transformou em uma rachadura e a espada se quebrou em duas partes.

— M-mas… — Ele não teve tempo de concluir sua frase, pois Erza lhe deu um forte soco em seu o rosto, o derrubando no chão. Sua cabeça bate contra a parte interior de ferro de um dos assentos e ele fica desacordado no mesmo instante.

Erza olha para o último que ainda estava em pé, apenas a observando de forma inexpressiva. Ela avança dois passos pra frente, apontando sua espada contra o pescoço dele.

— Quais são as suas últimas palavras?

— Você devia prestar mais atenção com quem está atrás de você.

Foi nesse momento em que ela sentiu a ponta de uma lâmina contra a sua nuca. Era o primeiro cara que ela havia derrubado minutos atrás respirando pesadamente em grandes lufadas, com os punhos trêmulos.

— Posso cortar a cabeça dessa aqui, chefe? — Perguntou ele sem desviar seus olhos de Erza.

— Você já devia que não é pra fazer isso, seu imbecil! Precisamos dela viva! — Respondeu com um suspiro, descrente com aquela pergunta do subordinado. — Será que você não tem nenhum grama sequer de inteligência dessa bola que você chama de cabeça?!

De repente, e antes que o rapaz pudesse responder, a lâmina da sua espada trincou em várias partes, praticamente virando um pó prateado e brilhante.

— M-mas… Que porra...

— Hey! Não diga palavrões! Têm crianças aqui perto e não é bom elas ouvirem esse tipo de coisa! — Lucy se pronunciou com um sorriso com o Espírito de Câncer ao seu lado.

— Muito bem dito, Ebi. — Elogiou o Espírito.

Erza sorriu ao ver a sua amiga ali e sem mais a ameaça do homem atrás dela, pode se concentrar totalmente no que estava a sua frente.

— Então… Onde paramos mesmo?

Não é preciso descrever muito, pois a pequena batalha não durou nem dez minutos. Os três homens eram seres humanos normais que não praticavam magia e o trio nocauteado estava sentados e amarrados firmemente em um canto de um dos vagões do trem.

Erza e Lucy estavam perfeitamente bem, enquanto explicavam ao condutor quem elas eram e as razões para estarem ali. A cavaleira aproveitou pra tirar algumas informações sobre a quadrilha, seu líder e sua principal objetivo. Infelizmente, não conseguiram muita coisa, mas o pouco que conseguiram já lhe ajudavam.

— Então, vocês duas são magas da Fairy Tail?

— Sim, nós somos. — Respondeu Erza.

Murmúrios foram ouvidos a todo lado, as pessoas cochichavam a loucura da guilda mais forte de Fiore mandar duas meninas para uma missão perigosa e tudo o mais.

— Mas você viu a força daquela menina com a espada? — Perguntou uma pessoa.

— Sim! E aquela menina que estava com aquele Espírito? Eu nunca vi nada desse tipo em toda a minha vida! — Respondeu outro.

Apesar de serem conversas aleatórias a respeito do ocorrido, Lucy se sentia desconfortável com toda aquela atenção em cima dela e de Erza, mesmo que a ruiva se mostrasse indiferente aquilo. Porém, ela percebia o desconforto da loira e segurou sua mão para transmitir um pouco de segurança. E funcionou perfeitamente, pois Lucy se sentiu melhor.

“A mão dela é quente.”, pensou com um sorriso.

Após toda a explicação, as duas meninas perceberam que todos os passageiros ali ficaram mais tensos, alguns reclamavam novamente com o condutor sobre a possibilidade de novos bandidos invadirem, outros queriam sair daquele trem e ir pra qualquer lugar desde que fosse pra longe dali.

— É melhor continuarmos a pé. — Sugeriu Erza com um semblante sério, conversando com Lucy em um canto afastado. — Essas pessoas estão assustadas e com certeza não irão prosseguir com a viagem se continuarmos com eles.

— Mas nós salvamos as vidas deles! É mais lógico eles pensarem que estarão mais seguros se formos com eles do que se não formos! — Ela retrucou indignada com a situação.

— Sim, você está certa. — Concordou e logo suspirou. — Mas não podemos transformar essas pessoas em alvos. Eles quase mataram elas apenas para nos encontrarem. Essas pessoas são inocentes e não podemos permitir que algo assim aconteça novamente, isso poderia manchar o nome da guilda e a colocaria em situações desagradáveis com o Conselho Mágico.

— Você faz parecer que apenas a reputação da guilda que é importante.

— As vidas das pessoas são a nossa prioridade, mas isso não quer dizer que não temos que nos preocupar com o status da guilda. Quanto mais nos mostramos eficazes e racionais em nossas escolhas e julgamentos diante de certas situações, a população poderá se sentir mais protegidos sabendo estamos afastando o perigo deles. — Explicou Erza.

Lucy absorveu toda a explicação, percebendo a razão e que as palavras da cavaleira fazia total sentido.

— Então, nós vamos sair pra mantê-los seguros, pois agora nós somos os alvos da quadrilha, certo?

— Exatamente. Deixe nossas bagagens prontas, vou conversar com o Condutor e logo me juntarei com você.

— Está bem.

Quinze minutos mais tarde, Erza e Lucy se afastavam do trem, já caminhando em direção a cidade através de um caminho pela floresta. A mais velha calculou que elas chegariam perto da hora do almoço.

Bom, essa era a ideia, mas quem disse que elas tiveram tranquilidade durante o percurso?

Em vários momentos, elas foram emboscadas por garotos da própria idade até a idade de Laxus e por homens bem mais velhos, e elas conseguiram derrotar todos eles.

Erza foi a que mais se esforçou, na maioria das lutas, já que ela não permitia que Lucy participasse, mesmo com os protestos da própria. Mas obviamente, a loira não ficou apenas como espectadora, em muitos momentos, ela invocava Câncer e pedia para que ele ajudasse a cavaleira.

— Lucy, eu não quero que você lute, precisa economizar magia. — Pediu Erza em um tom crítico.

— Você fala de economia, mas está gastando muito mais do que eu. — Devolveu a crítica. — Além disso, eu estou aqui pra lhe ajudar e se eu tiver que lutar pra isso, eu lutarei!

Erza deu um suspiro, pendendo a cabeça pra cima.

“E ela ainda teve a ousadia de dizer que não participava de lutas...”, pensou fitando a maga celestial novamente.

— Okay, eu entendi e eu fico agradecida pela ajuda, mas deixa a parte das lutas comigo, tá bom? Só entre em combates quando for em último momento. Caso contrário, deixe tudo comigo. Está bem?

Lucy havia recebido uma dica de Levy de não contrair as ordens de Erza, então ela decide seguir o conselho da sua melhor amiga.

— Tudo bem, mas só me esclareça qual seria esse último momento.

— Quando eu estiver sem ação ou... Morrendo.

A menção a última palavra fez Lucy paralisar com os olhos arregalados.

— Morrendo? Quer dizer... — Ela não conseguia completar a frase, apenas sentia um forte mal estar, a boca salivando e as mãos tremendo.

Percebendo a reação inesperada, Erza segura o rosto da menina entre as mãos, a forçando a olhar em seus olhos.

— Hey! Hey! Está tudo bem. Não precisa ficar assim, pois eu farei de tudo pra não chegar nesse ponto. Eu não posso prometer, mas vou tentar, okay?

Lucy apenas assente sentindo o calor das mãos de Erza sobre suas bochechas, o que a faz ficar bem corada e com o coração batendo como louco.

“O que está acontecendo comigo? Por que isso continua acontecendo?”

— Ótimo! — Sem intenção e apenas deixando seus instintos a guiarem, Erza deposita um pequeno beijo na testa da loira, segura sua mão e a puxa junto de si, caminhando lado a lado.

Durante o restante do percurso, as duas não tiveram muito sossego, pois repentinamente, apareciam mais homens armados e criaturas atrapalhando e atrasando ainda mais as meninas. Erza e Lucy (mesmo contradizendo a ruiva) conseguiram derrubá-los e tirá-los do caminho, e após derrubar mais um, a loira começou a pensar como eles estavam conseguindo encontrá-las tão rapidamente.

De acordo com Erza, aquele era um dos muitos caminhos rápidos pra cidade e a possibilidade de muitos inimigos as encontrarem facilmente era muito baixa.

“Ou é muita coincidência ou tem alguma coisa errada, pois isso não tem sentido nos acharem assim. Nem mesmo rastreando nosso poder mágico. Alguma coisa não está se encaixando...”, pensava Lucy andando ao lado da ruiva, que a observava com atenção.

“Ela está pensando em alguma coisa. Provavelmente a respeito da missão.”

— No que está pensando, Lucy?

A pergunta chamou a atenção da loira, interrompendo seus pensamentos. Por um segundo, pensou se deveria ou não compartilhar suas teorias, mas visto a situação caótica e um tanto estranha, Lucy não via motivo pra não fazer isso.

— Erza-san, você disse que há mais de um caminho pra Atalaia, certo? — A ruiva assente. — Sabe me dizer quantos são?

— Pelo que eu me lembre, uns quatro ou cinco caminhos.

— São só esses?

— Sim, como é uma cidade mercante, então eles tem várias rotas para caso precisem transportar ou receber mercadorias. — A loira assentiu em entendimento. — Eu só não entendo a finalidade dessa pergunta.

— Então eu vou ser direta. Eu acho que estamos sendo rastreadas... Eu não sei explicar como, mas eu... Eu realmente sinto isso... — Dizia olhando para as mãos trêmulas, não de medo, mas sentia uma sensação estranha, uma espécie de arrepio na espinha.

— O que a faz pensar nessa possibilidade?

— As palavras daquele cara do trem, que disse que precisava de você viva e durante todo o caminho desde que saímos do trem, nós encontramos vários inimigos e não estou achando isso algo normal, sabe? É como se eles soubessem que estamos aqui, exatamente nessa estrada e... — Ela olha pra Erza, que a olhava inexpressiva com os braços cruzados sobre o peito. — Olha, deve ser impressão minha e acho que é melhor esquecermos...

— Por que? O que você falou faz sentido e eu também andei suspeitando disso. Então, eu tive uma ideia.

— Que ideia?

— Nós vamos enganá-los e pegar um deles pra interrogar.

— E como faremos isso?

Erza apenas coloca sua bolsa no chão, abrindo a mesma e tirando dois itens mágicos e entrega um pra Lucy, que já começava a entender a ideia da ruiva, tendo algo em mente que poderia ajudar também.

...

Três rapazes caminhavam pela estrada com a intenção de realizarem a sua parte da tarefa imposta pelo líder. Eles conversavam entre si assuntos que podemos descrever como inapropriados a certos ouvidos, então deixemos isso apenas entre eles.

Mas podemos falar um pouco sobre o trabalho deles. Eles apenas são bandidos, fazem parte de uma quadrilha que antes era comandada por criminoso procurado até o mesmo ser preso e condenado. Sem rumo e sem saberem o que fazer, permitiram que mago de uma guilda ilegal (ou guilda das trevas, como é mais conhecido) passasse a comandá-los, eles não sabiam quase nada a respeito dele, mas o obedeciam por causa da sua magia. De acordo com os boatos, esse mago tinha a estranha habilidade de saber a localização de muitas pessoas e também o que estava acontecendo naquele momento. Era assustador.

— Na boa, por que é que temos que fazer isso? Se o cara lá é tão poderoso dessas coisas de magia, ele mesmo não pode fazer o trabalho? — Perguntou um deles bufando alto.

— Você sabe que temos que obedecer, Samuel. Sabe que aquele cara segue nossos passos e que sabe de tudo. — Respondeu o outro.

— O melhor a ser fazer é não ser mais um na sua longa lista de mortos. — Acrescentou o terceiro. — Lembra do que ele fez com o Jim? Tenho dó do cara até hoje.

— Eca, nem gosto de lembrar Matt. — Falou Samuel.

— Que tal esquecermos isso e se focar na missão? Temos que encontrar aquelas magas.

— Ah, fala sério Tiago! São menininhas, o que elas podem fazer?

— Eu não sei, mas até agora elas derrotaram vários de nossos homens, então é melhor ficarmos espertos.

Matt e Samuel assentem em concordância e continuam em frente.

Após mais um tempinho caminhando, eles avistam ao longe duas meninas sentadas perto de algumas pedras conversando. Os três se aproximam devagar, perto o suficiente pra ouvirem a conversa entre elas.

— São elas? As magas que estamos procurando? — Perguntou Samuel.

— Elas mesmas. — Respondeu Tiago com um sorriso diabólico nos lábios.

— Vamos pegar elas enquanto estão distraídas! — Proferiu Matt erguendo um bastão de madeira acompanhado por seus companheiros e juntos, eles atacam as meninas, que olham assustadas e sem reação, enquanto são nocauteadas pelo trio. — Pegamos elas! Pegamos elas!

— Conseguimos! Cumprimos nossa missão! — Comemorou Samuel, segurando fortemente seu bastão encarando as meninas adormecidas, mas franze o cenho ao notar seus corpos tremeluzindo e desaparecerem repentinamente. — Mas o que... ?

Antes que os três pudessem perceber, quatro paredes rúnicas os prendem, sem a possibilidade de escapatória.

— Que merda é essa? — Gritou Matt indignado, enquanto socava aquela parede sem parar com Samuel o ajudando. — Por que não quebra?

— Porque só pode ser cancelada por quem a lançou. — Respondeu uma menina de cabelos loiros acompanhada de outra menina, mas que tinha cabelos ruivos, ambas saltando do alto de uma árvore. Eram Lucy e Erza, cada uma segurava um lacrima na mão.

“Lacrima de ilusão? Isso com certeza não estava previsto.”, pensou Tiago cerrando os dentes.

Os três as encaravam totalmente descrentes de que duas meninas com metade da altura e da idade conseguiram passar a perna neles com tanta facilidade. Pelo menos dois deles, estavam indignados demais, enquanto o outro permanecia inexpressivo.

— É por isso que eu odeio magos! — Gritou Samuel sem disfarçar um bico de birra. — Eles sempre usam magia a seu favor!

— É verdade! Em uma luta corpo a corpo, vocês não teriam chance alguma! — Acrescentou Matt em concordância.

Erza e Lucy se olham por alguns segundos e então a ruiva se aproxima do trio. A loira pega um livro e uma caneta e escreve algumas rúnicas, libertando um dos rapazes presos.

— Você quer uma luta? — Indagou Erza apenas erguendo seus punhos. — Então pode vim, eu lhe darei essa luta e tem a minha palavra de que não vou usar magia.

Uma luta contra um mago que não vai usar magia?

Essa poderia ser a chance de Matt conseguir derrotá-la e realizar a tarefa do seu líder.

— Vai Matt! Não tenha piedade com ela! — Torcia Samuel que já tinha conhecimento da força do seu colega.

Matt tinha um sorriso presunçoso no rosto, estalando seus dedos e já preparado para o combate, até dando alguns pequenos pulinhos.

— Eu normalmente não gosto muito de bater em mulheres e nem em menininhas, mas com você farei uma exceção. Vou tentar não estragar suas roupas.

— E eu vou tentar não estragar tanto o seu nariz e nem o que você tem entre as pernas. — Provocou Erza com um sorriso de deboche, sabendo que aquilo iria irritar muito o rapaz.

— Ora, sua… Acha mesmo que consegue me deter?! — Diz levemente irritado avançando com o punho erguido, com Erza fazendo o mesmo. Porém, antes que o soco de Matt chegasse perto do rosto da ruiva, ela para inesperadamente e pula para o lado, dando um rápido giro e acertando o estômago do rapaz.

Matt recua rapidamente, abraçando seu estômago dolorido pela joelhada da garota ruiva.

“Merda! Que droga de joelhada foi essa?!”, pensou ele furioso a encarando e respirando com dificuldade. “Ela deve se achar esperta, mas eu não sou tão tolo quanto ela pensa.”

E novamente, ele avança e Erza faz o mesmo, mas quando ela vai para o lado ao vê-lo erguendo o punho direito, ele faz o mesmo para o lado oposto e acerta um soco na costela direita com o punho esquerdo, causando uma forte dor, a fazendo cair um joelho no chão.

— Ah, muito bom Matt! — Gritou Samuel.

— Erza-san! — Gritou Lucy que ameaçou dar um passo à frente.

— Eu estou bem! Fique onde está! — Murmurou ela, respirando fundo.

“Ele acertou bem no meu ponto cego da armadura, onde ficam suas fivelas. Foi muita sorte.”, pensou ela se levantando e ficando em posição rapidamente.

Com um sorriso presunçoso, o rapaz cria confiança e corre pra frente, com a cavaleira fazendo o mesmo e ambos trocando chutes e socos, acertando o rosto, as costelas, os braços, pernas e outros membros de seus corpos. Samuel torcia animadamente por seu amigo, chamando Tiago vez ou outra pra ajudá-lo, mas o mesmo continuava quieto em seu canto apenas observando com tédio.

Minutos mais tarde, ambos respiravam pesadamente encarando um ao outro. Suas mãos estavam doloridas e arranhadas, assim como seus rostos estavam com leves cortes.

— Eu tenho que admitir... — Começou Erza. — Até que você sabe lutar um pouco.

— Acho que posso dizer o mesmo a respeito de você. — Respondeu Matt.

— Mas essa luta tem que acabar agora! — Diz ela pronta pra finalizar aquela batalha.

Contudo, antes que Matt dissesse alguma coisa ou qualquer um deles, uma quarta figura encapuzada surge pulando dos galhos de uma das árvores e fica bem atrás do rapaz.

— Eu concordo plenamente. — Responde logo acertando uma espada pelas costas de Matt, atravessando seu corpo de fora a fora.

Todos ficam paralisados, ninguém estava esperando por aquilo. Lucy era a mais perplexa, já que jamais havia presenciado alguém ser apunhalado dessa maneira e muito menos ser morto na sua frente. Mesmo sabendo que ele era um bandido, ela não podia evitar que algumas poucas lágrimas escorressem por sua bochecha.

— NÃO! MATT! MATT! — Berrava Samuel desesperadamente, tentando se libertar da prisão de runas.

Erza cerrou seus punhos em fúria com aquele ato cruel e desumano do homem encapuzado.

— Seu covarde! — Gritou ela tirando sua espada da bainha e reequipando outra em na mão livre. — Quem você pensa que é pra sair matando quem quiser pelas costas e não impune? Saiba que vai receber toda a minha fúria!

O encapuzado apenas gargalha alto com desdém, tirando sua espada de Matt e chutando seu corpo pra frente, que cai duro no chão e completamente imóvel. Sangue escorria de sua ferida e de sua boca, manchando toda a neve e grama ao seu redor.

Samuel chorava desolado, olhando em total fúria ao encapuzado, cerrando seus punhos com força.

— Não ligo pra quem é você, eu juro que vou te matar! — Gritou dando um soco na parede de runas. — Vamos Tiago! — chamou seu companheiro se virando pra ele, mas fica surpreso ao ver que o mesmo já não se encontrava mais dentro da prisão. — Mas...

— Você realmente é um idiota, Samuel. Exatamente como o Matt era. — Diz o encapuzado, tirando seu capuz e se revelando ser o terceiro membro do trio que estava preso a poucos minutos.

Erza e Lucy ficam com os olhos arregalados com aquilo, tanto que a ruiva olha pra loira em busca de alguma explicação, mas a encontra tão surpresa quanto ela.

“Mas como…?”, se indagava a ruiva, apertando os punhos nos cabos das espadas.

— Vocês não são as únicas que andam com um livro de runas mágicas. — Diz Tiago como se estivesse lendo a mente de Erza. — Além disso, a quantidade de poder mágico inserido nessas runas são fracas demais, então não foi nem um pouco difícil alterá-las pra me libertar.

Aquelas palavras faz com que Lucy se sinta péssima, afinal era o poder mágico dela que estava inserido naquelas runas e saber que seu poder era fraco a fazia se questionar se era digna de estar em uma guilda como a Fairy Tail.

“Erza-san estava contando comigo e eu falhei… Eu decepcionei ela…”, dizia a si mesma, apertando os olhos com força pra segurar as lágrimas.

— Lucy! — Chamou Erza a tirando de seus pensamentos. — Não ouça o que ele diz! Você não é fraca! Eu tenho certeza disso!

— Eu falhei com você! Como pode ter tanta certeza depois do meu erro? Eu falhei com você! — Ela perguntou abrindo os olhos deixando as lágrimas escorrerem por suas bochechas pálidas.

— Porque eu acredito em você, Lucy. Você é incrível, mesmo que não acredite nisso e eu sei que uma das melhores decisões que tomei foi trazer você nessa missão comigo! Então não se deixe influenciar pelas palavras desse cara! Jamais deixe isso acontecer, não importa a situação!

As fortes e determinadas palavras de Erza renovam o ânimo de Lucy e ela solta a sorrir e a se sentir mais confiante consigo mesma.

“Erza-san está certa, eu não preciso provar pra nenhum deles o meu valor! Se eu tenho a aprovação dela, dos meus amigos e da guilda, eu não preciso de mais nada!”, falou pra si mesma, sorrindo para a ruiva.

Tiago dá um suspiro de deboche olhando para as meninas, ainda parado em seu lugar com o corpo de Matt aos pés.

— Já terminaram com a lenga lenga? Ótimo! Agora é minha deixa! — E com isso, ele estala os dedos e uma sombra surge atrás de Lucy e a agarra por trás.

— Erza-san! — Grita ela tentando se soltar, mas ao sentir algo gelado e afiado rente ao seu pescoço para de se debater no mesmo instante.

Erza se vira rapidamente, tendo a visão de outro… Tiago?

— Lucy! — Ela segura suas espadas com mais força, trocando os olhares entre os dois Tiagos.

“Será que são irmãos gêmeos? Se sim, como eu não senti a presença dele então?”

— Calma. Relaxa, nós não somos irmãos. — Diz o Primeiro Tiago. — Aquele ali com a sua amiguinha ainda sou eu.

— O quê? Mas… — Foi naquele mesmo segundo que tudo fez sentido pra Erza. — A missão… É falsa, não é mesmo? Nada está acontecendo em Atalaia, não é mesmo?

— Se quiser saber, sabe onde me encontrar e eu sei que não precisará de muito esforço pra você vim atrás de mim.

E com essas últimas palavras, ele estala seus dedos novamente e desaparece em uma nuvem de fumaça cinza.

— Erza!!! — Gritou Lucy parecendo estar cada vez mais distante.

— Lucy!!! — A cavaleira corre até onde sua amiga e o Segundo Tiago estavam, mas fica em choque ao ver que ele havia sumido e o pior de tudo, Lucy também havia sumido.

Cidade de Atalaia - 14hrs e 32min.

Lucy sentiu suas costas doerem com a força do impacto quando seu corpo foi jogado contra uma superfície plana e dura.

— Espero que não esteja muito ferida, afinal eu preciso de você viva pra atrair sua amiga cavaleira. — Diz uma voz levemente mais rouca seguido de uma tossida.

A loira fica em pé, se virando na direção da voz e fica perplexa ao reconhecer a pessoa ali sentada à sua frente.

Não apenas ela, mas as outras ao seu redor.

— Mas… Como…? Como você está aqui e depois ali…? E ali? E ali também? — Balbuciava com espanto fitando pelo menos cinco Tiagos ali em pé, com exceção do que estava sentado.

— Ora, vamos lá. Eu sei que você é inteligente. Pensa um pouquinho, querida. — Diz o Tiago sentado em uma poltrona preta.

— Vamos, pense um pouco. — Respondiam os outros Tiagos.

Ao mesmo tempo em que a situação era assustadora, ela também era bizarra. Irmãos gêmeos era uma coisa, mas aquilo era demais e ainda por cima com o mesmo nome?

“Não. São todos a mesma pessoa, nem mesmo gêmeos idênticos são tão parecidos assim, pois sempre tem algo que os diferencia. Mas no caso dele… Não é parentesco, é magia. Essa é a magia dele… Criar cópias de si mesmo, exatamente como clones.”, pensou Lucy com uma expressão mais séria.

— Você descobriu, não é? — Chamou ele interrompendo seus pensamentos. — Exatamente como é esperado de uma maga da Fairy Tail.

— Não é tão difícil de se concluir depois do que vi. Qualquer um teria percebido. — Retrucou em resposta, já com uma mão em suas Chaves.

— Aqueles dois não perceberam, principalmente aquele chorão do Samuel. Aliás, eu devia ter matado ele da mesma forma que eu fiz com o Matt. São tão inúteis da mesma forma que o restante dos outros caras da quadrilha.

As palavras proferidas fizeram Lucy cerrar seus dentes e seus punhos em descrença e fúria.

— Seu covarde! Eles eram seus companheiros! Seus amigos! Quem faz esse tipo de coisa com os próprios amigos?!

— E quem te disse que eles eram meus amigos? Eles não passavam de simples peões em meu jogo de xadrez!

— Você é desprezível!

— Assim como todos os membros da minha guilda. — Ele responde mostrando o emblema da sua guilda tatuada no braço esquerdo.

Lucy arregala os olhos ao reconhecer aquele emblema em uma das conversas que teve com Levy e Lisanna sobre as guildas negras.

— Você… É membro da guilda de mercenários Southern Wolves. — Foi quando ela se lembrou de uma das histórias que a azulada havia lhe contado sobre uma guilda de mercenários que teve vários de seus membros presos pelo Conselho Mágico com o auxílio de uma certa maga ruiva de armadura. — Então é isso… Seu propósito é se vingar da Erza-san por causa dos seus colegas presos!

— Olha, em parte você acertou. — Respondeu o rapaz, se levantando com um pouco de dificuldade, o que não passou despercebido por Lucy. — Sim, eu quero me vingar daquela menina, mas não me importo com meus outros colegas presos. Por mim, eles podem apodrecer nas celas mágicas do Conselho. Com exceção de uma única pessoa.

— Que pessoa? — Questionou ela sem perceber um dos clones de Tiago se aproximando por trás e quando percebe, já era tarde demais. — Minhas Chaves!

Lucy se virou rapidamente, indo na direção do clone, que se esquivava facilmente de cada tentativa da menina, a deixando extremamente frustrada.

O verdadeiro apenas ria das inúmeras tentativas em vão da jovem.

— Sabe qual é o principal defeito de uma maga celestial? — As palavras a fazem parar apenas pra ouvir o que ele tinha a dizer. — Sem suas Chaves Celestiais, vocês ficam sem magia. Irônico, não acha? Ser um mago que depende de objetos mágicos pra realizar magia e mais ainda estar ingressada em uma guilda mágica, principalmente uma com um grande nome. Eu me pergunto o que o Mestre da Fairy Tail viu em você e que o fez aceitá-la na guilda? Será que foi pena ou ele conhecia alguém da sua família? Talvez sua mãezinha.

Mesmo não usando nomes, a simples menção a sua mãe fez o nervos de Lucy aflorarem e o olhar que antes era um misto de medo e frustração, agora era de raiva, uma raiva que a menina não se deixou segurar e avançou rapidamente contra o homem sentado na poltrona.

Com um suspiro, o verdadeiro apenas estalou seus dedos e um de seus clones ficou entre ele e a menina, lhe socando com força em seu estômago, a jogando de volta ao chão com dor.

— Você realmente pensou que conseguiria acertar algum golpe em mim, garota? Você não passa de uma isca pra atrair a Scarlet pra cá para que eu possa derrotá-la e matá-la!

Mesmo sentindo dor no estômago e em outras partes de seu corpo, Lucy se forçou a ficar em pé, cambaleando duas vezes, ela se deu ao trabalho de encarar Tiago e seus clones com um semblante sério e determinado.

— Você… Nunca derrotará a Erza-san… E muito menos matá-la. — Proferia com a respiração pesada. — Ela é muito mais forte do que você e nunca perderia pra alguém tão egoísta e infantil como você, principalmente pra alguém que não se importa com a vida das pessoas e que usa elas da forma que bem entende. Ela não vai perder pra você! É você que cairá diante dela!

Tiago permaneceu inexpressivo, enquanto absorvia as palavras da jovem maga e assim que a mesma finalizou, ele apenas acenou com a mão e um de seus clones acertou seu rosto, enquanto outro a puxava para um canto oposto da sala, prendendo suas mãos e pernas.

— Admito que foram belas palavras, mas será que sua amiga terá força o suficiente pra me deter?

Lucy arregala os olhos se recordando das lutas que ela e Erza tiveram mais cedo. A cavaleira foi a que mais se esforçou entre as duas e quando ela viesse enfrentar Tiago, ela não estaria com toda a sua força e magia.

Aquilo era um problema.

“Erza-san…”

Floresta das Flores, arredores da Cidade de Atalaia - 14hrs e 57min.

Cinco minutos.

Esse foi o tempo que Erza deu para que Samuel se despedisse do falecido Matt. Ela conseguia notar o quanto aquilo havia abalado o rapaz, que chorava enquanto embalava a cabeça do garoto em seus braços.

“Eles deviam ser bem próximos…”, pensou ela com um suspiro.

Após tudo isso, Erza pegou Samuel pela gola de sua camisa, o jogou contra uma árvore e apontou sua espada para o seu pescoço.

— Muito bem, já lamentou a morte do seu amigo. Agora você vai me dizer pra onde o tal Tiago levou a minha amiga e o que ele pretende, se não lhe darei um novo rosto!

O garoto permaneceu em silêncio e isso só irritou a cavaleira mais ainda, que decidiu colocar um pouco mais de pressão em sua persuasão.

— Olha aqui, eu não estou pra brincadeiras! Me diga logo pra onde aquele cara levou a Lucy! — Ela pressionou a ponta da espada no pescoço dele, o ferindo levemente o suficiente para que escorresse um fio de sangue.

 Ao sentir a trilha de sangue no pescoço, Samuel entrou em pânico, tentando se arrastar pra longe daquela garota de armadura, batendo as costas com força contra o tronco da árvore, fazendo um pouco da neve incrustadas nas folhas caírem em cima de si.

— O que é isso? Tá em cima de mim! Tira! É gelado, tira! — Gritava se debatendo.

Perdendo completamente a paciência com esse cara, Erza reequipa uma luva metálica e dá lhe um forte tapa no rosto do sujeito, que para de espernear e a olha assustado, massageando a própria bochecha.

— É apenas neve! — Gritou ela apontando a espada novamente pra ele. — Já terminou seu show? Ótimo! Agora me diga logo pra onde o Tiago levou a minha amiga! Vou te dar um minuto pra responder!

— E de que adianta eu contar alguma coisa? Ele vai me matar se descobrir! E se eu não contar, é você que vai me matar!

— E você é leal a ele? Ao cara que matou seu amigo pelas costas bem na sua frente? Eu posso não te conhecer e muito menos a ele. — Aponto com a cabeça na direção do corpo agora enrolado em um lençol branco (Erza pegou o que tinha da sua mochila e entregou ao rapaz). — Mas eu pude perceber que ele era alguém muito importante pra você. Então, deixa de ser um idiota e me ajude!

— Que escolha eu tenho? Não importa o que eu escolha, eu vou acabar morrendo!

— Então se esse é o seu destino, que tal fazer uma boa ação pra morrer em paz? Aliás, eu não pretendo te matar e nem mesmo deixá-lo morrer.

Aquilo chamou a atenção do rapaz, que olhou pra Erza com descrença.

— O quê? Como assim? Quem deixa o seu inimigo vivo?

— Você não deve conhecer nada mesmo sobre guildas legalizadas, não é? — Falou ela, abaixando a sua espada e puxando o garoto pela mão pra ajudá-lo a ficar em pé. — Guildas legais não podem executar seus inimigos. Isso é função do Conselho Mágico, nós só os capturamos e eles que decidem a sua sentença.

— Então, mesmo que eu te ajude, eles podem me matar? — Perguntou não vendo vantagem alguma em ajudar a ruiva.

— Isso depende, na maioria dos casos, eles preferem manter presos. Só os casos mais extremos que eles aplicam a execução. No seu, caso, eu creio que você cumprirá alguns anos de pena. Se ajudar o seu inimigo, ficará menos tempo.

Samuel assentiu, pensando um pouco sobre aquilo, enquanto seguia até o corpo do companheiro. Ele decidiu enterrar Matt ali mesmo e começou a cavar o chão com as próprias mãos. Erza foi ajudá-lo, mas ela fez aparecer duas pás do seu espaço mágico e entrou uma ao rapaz.

Após enterrá-lo, Samuel se ajoelhou e fechou os olhos pra raciocinar um pouco. Com certeza ficar preso por alguns anos é horrível, mas pelo menos ele ainda estaria vivo, certo? E nas circunstâncias em que se encontrava, aquela escolha era a menos pior, pois não queria ser morto da mesma forma que Matt havia sido.

Erza apenas observava, apesar dos seus instintos dizer pra ficar atenta, no fundo sabia que aquele garoto era inofensivo e que só tinha feito uma escolha errada na vida.

“Ele merece uma segunda chance e talvez a Fairy Tail possa dar isso a ele.”, pensou ela.

— Samuel...

— Ele está em uma casa em Atalaia. Sua amiga está com ele. — Começou Samuel, se levantando e encarando a ruiva. — Seu objetivo sempre foi você por causa de um acontecimento que aconteceu com alguém importante pra ele e que foi causado por você.

Erza continuou em silêncio e o rapaz percebeu que era a deixa para que ele continuasse.

— Ele nunca entrou em detalhes sobre o que e quem exatamente, eu só sei que precisávamos fazer com que você se cansasse e gastasse sua magia, por isso...

— Por isso que eu e Lucy encontrávamos vários homens dele desde que saímos do trem. — Interrompeu ela recebendo um aceno de confirmação dele. — Ele quer se vingar de mim, por isso levou a Lucy, pois ele sabe que eu irei atrás dele pra salvar ela.

— Você por acaso tem alguma ideia do motivo da vingança dele? — Perguntou ele um tanto curioso, se aproximando mais dela.

— Talvez eu tenha algo em mente. — Respondeu apoiando uma mão em seu queixo. — Mas não posso perder meu tempo com isso, preciso resgatar a Lucy.

— Ela deve ser uma grande amiga pra você querer se arriscar e salvar ela.

— Pela Lucy, eu iria até o fim do mundo pra salvá-la.

Samuel sorriu, ele conhecia bem aquele olhar.

“Era o mesmo que eu tinha pelo Matt.”

— Então, eu irei te ajudar. Vou levá-la ao esconderijo dele.

Erza abriu um sorriso com determinação ao olhar para o seu mais novo aliado.

— Então, me mostre o caminho.

...

Aparentemente, tudo estava normal com os moradores da cidade e nenhum deles parecia ter noção de que tinha um mago vingativo se escondendo em uma das casas e isso já deixou Erza um pouco mais tranquila.

“Pelo menos, ninguém aqui corre perigo. Ainda.”, pensou ela caminhando ao lado de Samuel, que a guiava até o covil de Tiago.

Mesmo ele tendo se oferecido pra ajudar, ela ainda não podia confiar totalmente nele. Parte dela dizia pra se manter atenta com tudo a sua volta.

— Estamos quase chegando. — Avisou Samuel, apontando para a última casa da rua. Era uma simples casinha com uma madeira mais escura de dois andares, duas janelas visíveis e uma única porta, que obviamente era a de entrada. — É ali que ele está escondido.

Erza acenou e continuou o seguindo. Seus braços e pernas estavam um pouco doloridos devido ao esforço das últimas horas e também do vento gelado que batia contra seu rosto, bagunçando levemente seus cabelos ruivos. Ao chegarem, Erza percebeu que não tinha nenhum guarda ou até mesmo alguma magia de proteção e achou aquilo um tanto confuso. Ela olhou para Samuel, que também tinha um olhar tão perdido quanto o dela.

— Olha, eu juro que não sei porque não tem ninguém. É sério. — Falou ele.

— Eu não disse nada, você que está supondo tudo isso. Mas de qualquer forma, vamos em frente.

Ao dar o primeiro passo, Erza logo sentiu uma leve magia atrás dela e rapidamente se virou desembainhando a sua espada e arregalou os olhos com a visão a sua frente.

— Desculpa, espero que não se importe com isso. — Falou Tiago com um sorriso cruel, limpando o sangue da sua espada com um pano branco e o corpo de Samuel caído aos seus pés, agonizando com ambas as mãos apertando seu pescoço ensanguentado. Tiago havia lhe cortado a garganta. — Meu assunto é apenas com você, os de fora não merecem ser espectador, especialmente os traidores. — E com isso, ele desaparece. Era apenas mais um clone.

Erza larga sua espada, se ajoelhando e pressionando as mãos no corte.

— Samuel! Calma, vai ficar tudo bem! — Dizia ela mais pra si mesmo do que para o rapaz.

Samuel tirava as mãos dela e acenava que não.

— N-n-nãã-ãoo… — Dizia ele com extrema dificuldade. — S-s-sa-a-al-vee… S-ssu-uaa… A-a-ami-mi-gga...

Erza sabia que ele estava morrendo, mas queria encontrar algum jeito de salvá-lo, mesmo sendo impossível. Ele tirava as mãos dela novamente, pedindo com o olhar para que ela o deixasse.

— Não, você se arrependeu e merece uma nova chance. Eu não posso deixá-lo morrer assim! — Novamente ele acenava que não, já se sentindo mais fraco, sufocado e com suas pálpebras cada vez mais pesadas até que elas se fecham completamente.

Seu coração finalmente havia parado de bater.

— Droga! — Proferiu Erza apertando seus olhos com força, enquanto deitava o corpo agora inerte de Samuel no chão. Se levantava encarando aquela casa, cerrando as mãos e caminhando a passos pesados até ela.

Ela não estava mais com paciência e muito menos com cabeça pra criar algum plano estratégico pra invadir o lugar, simplesmente bateu o pé com uma força sobre humana na porta, partindo ela ao meio e entrando sem cerimônia alguma.

— Tiago!!! Venha me enfrentar se você for homem o bastante!!! — Gritou Erza reequipando duas espadas, verificando cômodo por cômodo. Não encontrou nada no primeiro andar e rapidamente seguiu para o segundo.

Um leve arrepio atravessou a espinha de Erza assim que chegou ao último degrau. Ela andou alguns passos pra frente, seguindo seus instintos até ficar de frente a uma porta. Conseguia sentir a energia negativa emanando daquele cômodo e não perdeu tempo em acertar um chute certeiro, derrubando a porta abruptamente.

 A primeira coisa que Erza viu foi seis pessoas exatamente iguais. Todos eram o Tiago. Um deles, que ela concluiu ser o verdadeiro, estava sentado na poltrona com quatro deles ao seu lado. O quinto estava próximo do canto ao lado direito da sala segurando uma espada perto do pescoço de uma menina de cabelos loiros.

— Lucy! — Proferiu Erza fazendo menção de se aproximar.

— Opa, opa, opa! Calminha ai, maguinha. Quer mesmo que meu outro eu faça uma remodelagem no rosto da sua amiguinha? — Provocou Tiago, a fazendo recuar furiosa, mas não desviou seus olhos de Lucy, logo percebendo que a menina estava com alguns pequenos cortes no rosto, sua pele estava bem mais pálida que o normal e que estava sem seu grosso casaco de frio. Não pode evitar de apertar com força a espada em sua mão direita, o que não passou despercebido pelo rapaz. — Parece que acertei no seu ponto fraco. Ela é realmente importante pra você, não é mesmo?

— Ela não tem nada a haver com nosso problema. Então trate de soltá-la! Agora mesmo! — Erza esbravejou apontando sua espada.

Tiago apoia o rosto com a mão direita pensativo.

— Não. — Respondeu simplesmente. — Foi mal, mas eu preciso ter um tipo de chamariz pra que possa convencê-la a lutar comigo e eu tenho visto o quanto você gosta dessa garota.

Nesse momento, Lucy abre seus olhos erguendo levemente a cabeça na direção da voz da ruiva.

“Erza-san…”, pensou ela abrindo um pequeno sorriso. Apesar da situação, estava imensamente feliz por vê-la.

— Lucy é uma grande amiga minha e é claro que eu gosto dela! — Por mais que as palavras soassem verdadeiras, no fundo ela sentia que a loira era muito mais do que apenas sua amiga. — E você não devia ter sequestrado ela, pois sentirá toda a minha ira sobre você.

— Então veremos qual o tamanho da sua ira. — Em um movimento rápido, Tiago se levantou da poltrona e desferiu um golpe direto com a sua espada, mas Erza conseguiu bloquear a tempo.

— Que rápido! — Murmurou Lucy com os olhos arregalados.

Erza também havia ficado surpresa, mas ela não ia se deixar intimidar por aquilo e tratou de usar a perna direita pra dar um chute na perna de apoio do rapaz, que deu uma leve desequilibrada e recuou três passos pra trás. A ruiva não perdeu tempo e avançou contra ele, desferindo dois golpes direto, mas que logo foi bloqueado.

“Tenho que admitir, ele é bom com a espada.”

— Surpresa? — Provocou ele. — Bem que me falaram que você é muito boa e poder lutar contra você é realmente motivador.

Aquele papo dele já estava deixando Erza mais irritada do que antes e não pensou duas vezes em ataca-lo para que ele a bloqueasse mais uma vez. Tiago também não perdeu tempo e avançou também, a ruiva se defendeu de todos os golpes.

Ou assim ela pensava.

Após recuar rapidamente pra tomar um fôlego, ela sentiu uma leve ardência e algo escorrendo por sua bochecha. Ela toca com os dedos e fica surpresa ao vê-los sujos de sangue.

— Parece que você ganhou uma nova cicatriz. Infelizmente, não consegui fazer uma maior. Espero que os meninos não se importem quando forem te paquerar.

Erza apenas sorriu, ficando em posição novamente.

— Eu não me importo com isso e a não ser que as aparências seja algo bem importante pra você, como está aparentando, você está com um sério problema.

Tiago só foi entender um segundo mais tarde depois que sentiu algumas ardências em seus braços e percebeu que tinha alguns cortes neles. E isso só o enfureceu mais.

— Tá legal, você já me irritou demais Erza Scarlet! Vou fazer com você o mesmo que você fez ao meu irmão!

— Seu irmão era um criminoso louco! — Gritou ela que já havia entendido todo o propósito de Tiago. Vingança. — Merecia ser punido! Eu só fiz o meu trabalho e mandei ele para o único lugar que merecia estar! A prisão!

Tomado de plena fúria, Tiago começou a desferir golpes cada vez mais rápidos e mais violentos. Sua força aumentou de uma forma nunca vista e nem sentida antes por Erza.

“Como ele está fazendo isso?”, se perguntava ao ser atingida na barriga recuando alguns passos pra trás, se sentindo um pouco fatigada. “Meu baixo nível de Ether está começando a me incomodar. Tenho que derrotá-lo logo e salvar a Lucy.”.

Ao pensar na loira, ela rapidamente olhou pra amiga e percebe que ela já não estava mais sendo ameaçada pelo clone do Tiago, ela até mesmo tinha conseguido pegar a chave de suas algemas pra se libertar e esfregava suas mãos e seus braços pra se aquecer.

Foi quando Erza teve um estalo.

“Espera. Se ele usa magia de clones, então ele gasta o Ether do seu corpo e quanto mais clones ele faz, mais ele gasta! Mesmo se os clones colherem o Ether do ar, não será o suficiente para preencher o seu estoque mágico, ele gasta muito trazendo um e ele sempre traz vários, o que o faz gastar mais do que recupera e isso o deixará cada vez mais cansado.”

— Para de olhar pra sua amiga! Sua luta é comigo! — Gritou Tiago desferindo um golpe direto, mas que Erza segurou com a mão. Ela não se feriu graça a luva metálica que reequipou rapidamente. — Você se acha esperta, não é?

— A pessoa mais esperta que eu conheço está nesta sala, mas não sou eu. — Ela firma um pé no chão, erguendo o outro e o afasta com um chute. — E muito menos você.

A força do chute o faz recuar, sentindo uma dor incômoda no estômago.

— Está se segurando ou essa é toda a sua força? — Erza não respondeu, apenas ficou de prontidão, pois sabia que ele também podia sentir os efeitos da falta de Ether em seu corpo. — Parece que meu plano de desgastar você está funcionando perfeitamente.

A ruiva cerrou os dentes de raiva, as provocações e os insultos dele estavam incomodando demais e ela sabia que não podia ceder à mercê daquilo, mas a raiva não permitia que ela parasse pra pensar e criar um plano estratégico, e fechou os olhos em grande frustração.

Um segundo.

Foi apenas um único segundo que ela fechou os olhos pra sentir sua espada sendo arrancada de suas mãos e a lâmina do rapaz lhe cortando a frente de seu corpo.

— Erza-san! — Gritou Lucy ao ver Erza cair no chão com o forte golpe da espada de Tiago em seu peito. Graças a Mavis que ela estava de armadura, pois com certeza aquele corte teria sido fatal.

Erza tentou se arrastar até a sua espada, que havia caído de sua mão e estava a poucos centímetros dela. Porém, foi impedida ao sentir um pé em suas costas, a forçando a ficar deitada no chão.

— Paradinha ai, Scarlet. — Falou Tiago com um sorriso cruel, pegando uma pequena pedra do bolso e afiando sua espada. — É hoje que eu terei a minha vingança pela morte do meu irmão.

— E-eu não... Matei seu irmão... — Resmungou ela, tentando fazer força para se levantar. — Seus crimes que o condenaram e o Conselho não teve escolha!

— MAS A CULPA DELE ESTAR PRESO É SUA! — Berrou ele, jogando a pedra e desferindo um golpe no chão de madeira, ficando a pouquíssimos centímetros do rosto de Erza. — ELE ERA TUDO PRA MIM E VOCÊ E MERDA DO CONSELHO TIRARAM ELE DE MIM! AGORA VOU TIRAR ALGO IMPORTANTE DE VOCÊ E DEPOIS VOU MATAR TODO MUNDO DO CONSELHO! TODOS QUE TIVERAM RELAÇÃO COM A MORTE DO MEU IRMÃO! EU VOU MATAR TODOS ELES!

Enquanto Tiago esbravejava, Lucy notou suas Chaves perto da poltrona e aproveitou que todos os clones haviam sumido (Tiago foi se desfazendo de cada um pra conseguir absorver o Ether deles) e, mesmo ainda com frio, se arrastou até elas.

“Agora vou poder ajudar a Erza-san.”, pensou ela no momento em que as tocou e sorriu aliviada.

Mas logo o desfez ao ver Tiago erguendo Erza pela nuca e a jogando violentamente no canto da parede, ficando desacordada.

— Não... — Falou baixinho logo sentindo seus olhos arderem e pequenas lágrimas se formarem e escorrer por seu rosto. — Erza-san... Erza-san...

Ouvindo pequenos soluços e murmúrios, Tiago se vira na direção de Lucy tendo a visão dela chorando com suas Chaves Celestiais em mãos.

— Vejo que pegou suas Chaves, mas eu sei que você não tem magia o bastante pra trazer nem mesmo um Espírito da Chave de Prata, quem dirá da Chave de Ouro. — Falou ele rindo. Quando estava prestes a se virar para uma Erza ainda desmaiada, ele sente a sensação de algo crescendo e muito rápido. Seus olhos se arregalaram ao ver que aquela sensação vinha da menina loira. — O quê?! M-mas... Como isso é possível?!

Lucy emanava uma enorme quantidade de poder mágico. Ela havia se levantado e encarava Tiago com extrema irritação, apertando as mãos trêmulas com força. Seu corpo estava envolto por uma luz dourada, um círculo mágico da mesma cor se fazia presente em seus punhos e seus olhos, ainda com lágrimas, não eram mais castanhos, eram de outras cores: Esquerdo verde e direito vermelho.

— Mas que droga é essa? Que tipo de magia é essa? — Se indagava em voz alta um pouco assustado com aquela repentina mudança na menina. — Você é uma maga celestial! Você não devia ter tanta magia assim! — As próximas palavras de Tiago morreram no momento em que sentiu algo lhe acertando sua bochecha e seu corpo sendo arremessado pra trás, batendo as costas na parede.

Lucy nada disse e muito menos percebeu o que fez, mas quando viu, seu punho direito já acertava o rosto do rapaz, o jogando violentamente do outro lado da sala.

Erza abriu os olhos quando sentiu a aura mágica de Lucy aumentando, arregalando os olhos com a visão da amiga e o nível que ela estava emitindo, era quase tão poderoso quanto o de Laxus e Mirajane., e ficou mais impressionada ao vê-la avançar tão rapidamente pra acertar o seu alvo e o jogar do lado oposto.

— Lucy… — Murmurou ela chamando atenção da loira que a olhou e soltou um suspiro de alívio.

— Erza! — Exclamou contente e de repente sentiu um cansaço imenso lhe atingir e apoiou as mãos nos joelhos pra não cair de vez ao chão. Toda aquela força que ela tinha sentido a poucos mais de um minuto havia desaparecido da mesma forma em que ela surgiu repentinamente.

— Lucy! Você está bem? — Indagou Erza preocupada, se levantando com um pouco de dificuldade.

Antes que Lucy pudesse responder, ela sentiu algo atingindo seu estômago, a força daquele soco a fez cuspir sangue pela boca, a fazendo cair de costas e bater a cabeça com força no chão. ela desmaiou no mesmo segundo.

Tiago a olhava com desprezo, enquanto terminava de limpar a trilha de sangue que escorria do seu lábio.

— Quem você pensa que é pra me dar um soco assim do nada, garota? — Dizia massageando seu punho. — Fica aí no chão! É o lugar de lixo! — e finalizou dando um chute no peito dela.

Incrédula com aquela visão horrenda, Erza não pode deixar de sentir sua ira crescendo dentro de si. Não se importando mais com as dores, o cansaço e a falta de magia, ela apenas se levantou, pegou a espada a segurando com a mão trêmula de tanta raiva e encarou o rapaz com extremo nojo.

Assim como havia sentido com Lucy, Tiago sentiu aquele crescimento repentino de magia e olhou para a ruiva.

— Acha que vai conseguir me derrotar, Scarlet? — Desafiou ele. — Pode vim! quero ver toda a força da garota de armadura da Fairy Tail!

Palavras não foram necessárias para que Erza demonstrasse toda aquela força que por anos treinou e praticou para que no momento certo conseguisse trazê-la à tona.

Hoje seria aquele dia.

Envolvida em uma luz branca e dourada, um círculo mágico na cor vinho avermelhado surgia sob seus pés e todo seu corpo começou a brilhar, a luz tão forte e tão intensa que Tiago precisou proteger seus olhos.

— Que porcaria de luz é essa? É forte demais!

Ao cessar de toda a iluminação, Erza surgia trajada completamente diferente do que antes. Seu novo traje primeiramente era todo de metal, com a parte superior consistindo em um peitoral pequeno composto por placas em formato de penas apontadas pra cima e únicas por uma pequena plaquinha arredondada azul, as unindo deixando com um formato de flor de metal na parte da frente de seu corpo, se estendendo ao longo de seus quadris. Tiras de metal cobriam uma parte de seus antebraços, enquanto seus próprios braços são cobertos por grandes luvas de metal com formato de penas nas bordas. Em sua cintura, mais placas metálicas decoradas também em formato de penas em conjunto com uma longa saia branca. Em seus pés vestia um par de botas metálicas, um pouco escondidas por causa da saia, adornadas com formato de pequenas asas. Um colar do mesmo metal e com formato de penas adornava seu pescoço em conjunto a uma tiara que enfeitava seus cabelos avermelhados, e em suas costas, havia uma espécie de par de asas metálicas grandes e brilhantes.

Além de todo o conjunto da armadura, Erza também segurava em mãos duas espadas com enfeites azulados em formato de asas ao longo da lâmina, com pequenas penas metálicas se projetando no punho imitando asas também.

Kansō! Tenri no Yoroi!

Tiago abre os olhos após o cessar de luz, arregalando os olhos com a visão da armadura que a mesma vestia, algo que ele nunca havia ouvido falar em toda a sua vida.

— D-desde quando magos cavaleiros conseguem reequiparem uma armadura completa assim?! Isso é completamente impossível! — Ele gritava tentando evitar que os tremores em suas mãos percorrem no restante do seu corpo.

Erza o fitava com extrema raiva, se mantendo firme e atenta a qualquer movimento dele.

— Nada é impossível se você tiver alguém importante para proteger. — Dizendo apenas isso, ela avançou rapidamente contra ele, erguendo suas duas espadas e o acertando com toda a sua força.

Notando a velocidade com que ela vinha em sua direção, Tiago firmou os pés no chão e ergueu sua espada para se defender do golpe.

Contudo, sentiu seus pés deslizando pra trás conforme ela avançava.

— Mas como isso é possível?! Você mal tinha magia! Como está fazendo isso?!

A força monstruosa de Erza era demais pra ele conseguir se segurar, era inevitável sua derrota. Todo o seu plano, toda a preparação, todo o desenvolvimento que teve ao longo daqueles anos terá sido completamente em vão.

Cansada de toda aquela lábia do rapaz, Erza recuou um pouco apenas para se forçar mais pra frente com suas espadas, o acertando com toda a sua força.

A potência do impacto foi o bastante para que Tiago fosse arremessado através das paredes de madeira, em direção ao chão de fora da casa. Suas costas bateram violentamente contra o solo, provavelmente quebrando ou trincando alguns ossos.

Alguns habitantes da cidade passavam ali perto e se assustaram ao ver o rapaz estirado ao chão, com pequenas poças de sangue se forçando perto de seus braços, pernas e cabeça.

— Eu… Perdi? — Resmungou ele, apertando as mãos e tentando se levantar, mas gemeu ao sentir fortes dores por todo o corpo.

Do buraco de onde ele havia sido jogado, a figura prateada de Erza surgia voando e logo pousava em pé ao seu lado, o fitando sem expressão alguma.

Já Tiago, apenas a encarava com ódio e, mesmo com dor, ele criou forças o bastante para conseguir se sentar.

— Eu… Eu… Não me importo quanto tempo leve, mas eu vou me vingar de você! — Ele gritava a pleno pulmões. — Não ligo pra quantas armaduras de aço você tenha ou se a porra da sua pele é feita de titânio, eu vou encontrar um jeito de te matar! — Finalizou tossindo violentamente, se deixando cair no chão novamente.

Erza suspirou e se virou para as pessoas que assistiam aquela cena totalmente confusas e assustadas.

— Vocês! — Falou a ruiva apontando a espada para elas. — Por favor, chamem os Guardas do Conselho que estiverem na cidade para prendê-lo e um médico local para atender a minha amiga! — Para que elas não desconfiasse de suas palavras, Erza mostrou a marca da guilda e elas assentiram rapidamente, indo chamar os Guardas e um médico.

Sentindo aquela força toda se dissipar, Erza reequipou aquela armadura de volta ao seu espaço mágico, voltando as vestimentas de antes e correu de volta a casa para ver a situação de Lucy.

— Lucy! — Chamou ela entrando no quarto do segundo andar, se ajoelhando ao lado da loira e a acolhendo em seus braços. — Hey Lucy? Lucy? Vamos, acorde! Lucy?

Os chamados insistentes de Erza foram o bastante para que Lucy abrisse seus olhos (agora castanhos claros novamente) e sorriu fracamente ao ver o rosto da ruiva.

— Erza-san… 

— Lucy! Que bom que acordou! Sente alguma dor? — Perguntou tirando seu casaco e colocando sobre os ombros da amiga, que respondeu apenas com um aceno. — Não se preocupe, já pedi pra chamarem um médico. — Falou com um sorriso acolhedor.

Lucy ergueu um pouco sua cabeça, percebendo o estrago do quarto e também que Tiago não estava ali.

— O que houve? 

— Fica calma agora. Não se preocupe, tudo acabou e iremos pra casa. 

— Acabou? Quer dizer que… — Dizia baixinho sentindo as lágrimas se formando em seus olhos. — Me desculpa… Eu deixei você fazer tudo sozinha… Eu… Eu…

— Está tudo bem, isso não importa. — Respondeu limpando as lágrimas dela. — Estou muito feliz que esteja viva. Eu fiquei morta de preocupação quando ele a levou embora. Peço perdão por deixar que te sequestrasse e por ter demorado pra vim te salvar. — Erza não percebeu que também estava chorando, as lágrimas escorrendo do seu olho esquerdo. — Que tipo de amiga eu sou?

Era a primeira vez que Lucy estava vendo a ruiva chorar e isso a fez se sentir culpada por ter deixado ela tão agoniada assim. Seu coração pesou em seu peito, enquanto erguia a mão pra limpar as lágrimas do único olho de Erza.

— Você é incrível Erza-san! É uma boa amiga e... — Lucy hesitou pensando se deveria ou não dizer aquilo. Não era nada demais e sabia que deixaria ela feliz. — Você é meu cavaleiro de armadura, Erza-san! — Falou abrindo um sorriso.

Erza não teve como não se surpreender com aquilo e também sorriu em retribuição, depositando um beijo na testa de Lucy, o que a fez ficar com o rosto completamente corado.

— E você é a minha princesa, Lucy.

Segundos depois, um homem com trajes branco entrava no quarto em que as meninas estavam. Erza logo o reconheceu como o médico da cidade e permitiu que ele examinasse Lucy.

...

Os ferimentos de Lucy não eram graves, mas ela precisou ficar no hospital da cidade por pelo menos dois dias. Erza ficou ao seu lado o tempo todo, não queria deixá-la sozinha por motivo algum. Os únicos momentos em que precisou se ausentar foi quando precisou ir conversar com os Guardas do Conselho, o Prefeito e as autoridades da cidade de Atalaia, mas sempre perto do hospital.

Erza explicou sobre a missão que havia recebido na guilda até o momento em que derrotou Tiago, dizendo cada detalhe que julgou ser importante para o relatório. Ela também comentou sobre os dois rapazes, Matt e Samuel, que haviam sido mortos de formas cruéis. O Prefeito relatou que conhecia os meninos e lamentou a morte prematura deles, acrescentando que eles eram bons garotos, mas que tinham passado por situações complicadas durante a vida.

Os Guardas do Conselho levaram Tiago para uma de suas muitas prisões de segurança máxima e garantiram de que ele jamais veria a luz do sol até o fim de seus dias.

...

Passados os dois dias, Lucy e Erza esperavam na estação o trem que as levaria de volta para Magnólia. Elas só desejavam voltar pra casa.

— Estou feliz que vamos conseguir voltar pra casa antes do Natal. — Falou Lucy com um sorriso.

— Eu também. Você vai adorar o Natal da guilda, é uma das poucas ocasiões do ano em todos os membros estarão juntos. Talvez você finalmente conheça o Gildarts.

— Ele não é considerado o mago mais forte da guilda?

— Sim, ele é. A força dele é incrível. Todo mundo admira ele, principalmente o Natsu.

— Estou bem ansiosa!

— Apesar da força incomum, ele é uma boa pessoa e eu tenho certeza de que ele vai gostar de te conhecer. — Comentou pegando sua bolsa ao avistar o trem chegando. — Pra mim, conhecer você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

Aquela frase fez Lucy abrir um sorriso bobo, o que a fez fazer a primeira coisa que veio em sua mente.

Ela deu um beijo na bochecha de Erza.

Tal ação deixou ambas as meninas se encarando com os rostos corados e com os corações disparados.

Elas só despertaram com o apito do trem e rapidamente embarcaram. Assim como da outra vez, elas foram se sentarem juntas e afastadas dos outros passageiros. Inconscientemente, uma segurou a mão da outra e novamente se encaram surpresas e com as bochechas tão vermelhas quanto os cabelos de Erza.

Elas não disseram nada, apenas suspiraram e se aconchegaram uma perto da outra sem soltarem suas mãos.

Naquele momento, poderia ser apenas uma simples amizade entre duas meninas, mas o sentimento que brotava dentro de seus corações era completamente diferente.


Notas Finais


O que acharam?
Por favor, deixem seus comentários! Não custa nada e me deixa muito feliz!
Tentarei não demorar tanto dessa vez!
Beijos e até o próximo capítulo!


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