História Faísca do Destino - Cornelius - II

Olá, amigo leitor. Espero que os contos até agora tenham correspondido com seus gostos. Depois de tanto tempo contando essas histórias, visitando essas diversas perspectivas, chega a ser estranho voltar a me expressar assim, abertamente.

Bom, tampouco vim falar de mim, e sim de um pressentimento que tive, muito mais crítico e crucial. Primeiro uma intuição que se tornou incômoda, atormentando meus sonhos e pensamentos constantemente, até me fazer refletir sobre ela e assim realmente descobrir do que se tratava. Nada mais nada menos que o fim do universo. A aniquilação de todas as dimensões paralelas e linhas temporais, obliteradas graças a uma espécie de vácuo infinito que tudo absorve.

Sua origem? Para minha surpresa, um ser desconhecido, que aparecerá em um futuro distante e engolirá o universo por inteiro. Realmente, como uma profecia apocalíptica cósmica.

Sim, um ser desconhecido. Até para mim, que sou onisciente e tudo sei. Agora, isso sim é estranho. Imagino algumas possíveis explicações. Primeiro, essa entidade, ser, manifestação – seja lá o que for – deve ser uma existência completamente, em todos os sentidos, alheia à energia fundamental que tudo consiste. Refletindo sobre minha própria habilidade, cheguei à conclusão de que minha onisciência provém da profunda conexão do meu subconsciente com a Fonte de inspiração e conhecimento cósmico, a consciência coletiva universal que guarda e transmuta toda e qualquer possível informação em todas as escalas da realidade.

Se por algum motivo algum ser, consciência, ideia ou perspectiva, tenha conseguido desvincular-se completamente da energia universal que a compõe – o que é extremamente improvável, diria até impossível – isso explicaria o porque de eu não saber nada sobre ela, por ser uma existência transcendental até mesmo ao Todo.

Segundo, este evento cósmico deve ser o primeiro do tipo em toda a criação. Qualquer reação química, transformação causal, fluxo energético ou sincronicidade – até mesmo multidimensional – que pudesse ter causado o nascimento dessa existência, eu deveria conhecer. O fato de que a informação foi deformada tão fundamentalmente em algum canto do universo, influenciada por fatores que desconheço, é prova de que isso foi uma reação única no cosmos. Uma mescla impossível de diversos elementos causais e paradoxais. Também indica que não há um culpado por trás disso, é um evento natural cósmico, pois se houvesse algum envolvido, eu saberia através de sua perspectiva.

No fim, apenas uma conclusão plausível me vem em mente: a Faísca do Destino.

A Faísca é a força universal mais misteriosa que existe, pois distorce a realidade e o espaço-tempo de formas incalculáveis e imprevisíveis, criando as maiores anomalias metafísicas.

Apesar de aterrorizante, isso me faz entendê-la melhor. A Faísca do Destino é a sobrecarga das possibilidades no destino de um ser consciente, causada por todas as experiências de vida e perspectivas dos que nascem, vivem e morrem entre o surgimento de uma e outra. Essa abundância causal criada coletivamente, naturalmente através da consciência coletiva, e que constantemente evolui a complexidade da informação no universo, é o que distorce o tecido da realidade tão facilmente. Não é a toa que complexos paradoxos factitivos e as sincronicidades mais improváveis aconteçam milagrosamente na vida desses seres, considerando que a consciência é um dos maiores fatores que influenciam as probabilidades quânticas.

Enfim, saber sua origem não mudará nada. As visões são claras – e dolorosas – em minha mente. Em um certo período na história do planeta Terra, que pode ser considerado seu futuro distante, após uma das poucas vezes que a raça humana passa por uma revolução na consciência coletiva e transcende o Plano Físico através da Ascenção espiritual, o fim começa.

Em meio a intensa frequência de paz e amor emitida pelo pequeno planeta solar, surge essa misteriosa existência, e com ela uma impossível singularidade energética é criada. Desde os planos de realidade mais inferiores, expandindo por todos eles até o físico e o astral, e continuando até os mais superiores incluindo a própria Fonte de existência cósmica. Essa singularidade começará a absorver, desde o nível mais fundamental, toda a informação, toda a complexidade, todo o movimento, toda a vibração, fazendo com que entre em colapso o próprio tecido do espaço-tempo.

Assim como após após a inflação universal essa energia expandiu milhões de vezes mais rápido que a velocidade da luz, influenciada pelos movimentos conscientes e intuitivos da própria consciência universal, ela também será absorvida como tal. As linhas temporais e as próprias barreiras que separam uma dimensão e outra serão absorvidas exponencialmente, até nenhum resquício energético existir.

Essa é uma das probabilidades mais macabras das quais tenho conhecimento. Seres de todas as dimensões e linhas temporais existentes pouco a pouco esquecendo-se uns dos outros e de sua própria perspectiva kármica; memórias, pensamentos, sentimentos, experiências, tudo desaparecendo gradativamente da existência, como se nunca tivesse ocorrido. Seres vivos desaparecem, seus lares, seus pertences, seu habitat, sua sociedade, seu planeta, suas luas, estrelas e galáxias, até toda a extensão do cosmos. Toda a informação é absorvida como poeira em um aspirador, regredindo totalmente a evolução cósmica; e nada mais resta além dessa única existência que se alimentara do universo.

A perfeita manifestação do Nada. 

Felizmente, agora tenho conhecimento dessa probabilidade, e saber é metade da batalha, como diria Sun Tzu. Ser consciente de qualquer problema é o primeiro passo para resolvê-lo. E saber disso sem que mais ninguém saiba faz com que seja responsabilidade minha tentar evitá-lo. Só me resta analisar, refletir e pensar em como.

Não se preocupe, as crônicas continuarão como sempre. Apenas achei importante compartilhar essa previsão com você, já que é algo que afeta a todos nós seres conscientes. Prevenir esse cataclisma cósmico é de suma prioridade, pois quando aconteça, será tarde demais para todos nós. 

Que a luz universal esteja com nós, e as sincronicidades a nosso favor.

                       — Cornelius Baldur Lammet