História Faithfully - Jantar

Sentamos em uma mesa próxima a uma grande janela que dava vista ao mar, o caminho até ao restaurante foi rápido e silencioso. Eu não sabia o que pensar ou como agir. Fizemos nossos pedidos e seus olhos encontraram os meus.

-Você está melhor?

-Sim, me desculpe por invadir seu quarto ontem. Eu não sabia direito o que estava fazendo. -Falei corada ao lembrar dele ao amanhecer.

-Eu sempre soube da sua quedinha por mim, não precisa se desculpar. -Ele deu uma gargalhada gostosa.

-Engraçadinho, nem parece você. -Ele deu um sorriso de lado.

-Você é quem não conhece o meu verdadeiro eu.

-Você não faz o meu tipo Uchiha.

-Você mente muito mal Haruno. -Ele me encarava com aquele sorriso safado estampado no rosto.

-Acho que é você quem tem uma quedinha por mim e não admite. - Por um momento tinha esquecido o que havia acontecido.

-Irritante. - Os nossos pedidos tinham chegado e ficamos conversando e rindo por um tempo, até um sentimento de desespero me tomar. -O que foi? - Seu tom de voz era diferente dessa vez. 

-Eu não sei.

-Então começa a falar, as vezes pra saber o que queremos algumas coisas tem que ser ditas.

-Eu...-Meu coração acelerou, estava disposta a me abrir com ele? Que receio de tudo isso.

-Sakura, pense em mim agora como qualquer pessoa, menos como seu chefe. Estamos fora da empresa e fora do hotel e longe de todo o pessoal. Foi exatamente para isso que te trouxe aqui.

-Eu estou feliz e ao mesmo tempo triste, não sei explicar. Tudo o que tem acontecido me deixou muito confusa, a alguns meses atrás eu era somente a garotinha do interior chegando a cidade grande, deixando tudo para trás para viver um sonho que talvez nunca vire realidade. Agora estou trabalhando em uma empresa onde o dono me pede opinião e o filho é o maior idiota, prepotente e arrogante do mundo. O homem que está aqui na minha frente é totalmente diferente do que eu estou acostumada a lidar, a essa hora em Tókio estaríamos na nossa décima briga, e isso me assusta. Eu nunca me deitei com homem algum na minha vida e de repente sou quase estuprada e pela manhã acordo ao seu lado. Eu me sinto suja, me repreendo pelas minhas ações tomadas por impulso à cada manhã. Tenho medo de ter saído daquela cidade com um propósito e certa de que alcançaria e voltar sem nada. Voltar a ser nada. Tenho medo de me perder.

-Nossa, é isso que realmente acha de mim? -Ele limpa a garganta e suspira. - Eu entendo, mas é exatamente assim que me sinto quando estou ao seu lado. Outra pessoa, infelizmente na empresa tenho que manter o respeito, estou rodeado de pessoas que questionam a minha capacidade como chefe. Tem muito mais além disso Sakura, aquela empresa é o orgulho do meu pai e não era para eu estar a frente dela. Eu também não era nada, e de repente conquistei a confiança dele, bom até você aparecer.

-Sasuke, eu não imagino outra pessoa a frente daquela empresa. E eu nunca tive intenção de colocar à prova a confiança de seu pai em você ou de tomar o seu lugar.

-Eu sei disso, o problema não é você. Acredite. Mas a minha família é complicada e você já deve ter percebido isso. Meu pai te ver como uma empresária nata, um sangue que ele acha que não corre no restante da família. E minha mãe...

-Como a esposa ideal? -Ele deu um breve suspiro.

-Ele já te falou sobre isso também. - Ele sorria e aquilo me encantava cada vez mais.

-Sim, mas não me convenceu ao falar dos seus defeitos. Falei que ficava só com a parte teórica da empresa mesmo. -Rimos.

-Meu pai sempre foi dedicado ao trabalho, mesmo nascendo em berço de ouro ele nunca viveu dependente do dinheiro do meu avô. Meu avô tinha muitas fazendas e meu pai se dedicou a levar o nome da família mais adiante. Então meu pai abriu sua primeira pousada, que virou uma rede de hotéis. Logo depois uma rede de estética para ocupar a mente da minha mãe como ele disse. E então a Uchiha Company Engenheria, hoje a empresa mais cotada no oriente para grandes trabalhos e construções. A UCE foi criada para o meu irmão mais velho. Itachi sempre foi o orgulho da família, um gênio nato. Sem muito esforço conseguia que tudo ao seu redor funcionasse de acordo com o que ele queria, acho que meu pai o vê quando olha para você, meu pai o idolatrava e eu, bem eu sempre tive inveja da forma como Itachi fazia a vida parecer fácil. Meu pai me rejeitava e isso foi me afastando, eu não conseguia mais ficar perto de Fugaku sem sentir raiva de Itachi, meu pai criou um ambiente de disputa entre nós dois, mesmo a diferença de idade sendo relativamente grande. Uma muralha foi erguida entre eu e Itachi, me lembro vagamente de poucos momentos em que meu pai viajava e meu irmão largava a pose 
de primogênito perfeito e me dava atenção. Até Itachi viajar para uma conferência na Índia, ele começou a agir de maneira estranha em nossa casa, mas meu pai não enxergava pois era o seu filho perfeito ali, entregando a empresa a falência, fazendo coisas que só acredito pois vi com meus próprios olhos...drogas, sexo. Até descobrirmos a doença de Itachi. Conforme alguns anos se passaram, meu pai começou a me criar de maneira mais rígida. Ele me criava com raiva e medo de que a história se repetisse. Minha vida foi baseada no que meu pai queria que fosse e isso foi traumático, nunca tive amigos e nem vida social. O único que insistiu em mim foi Naruto, ele sempre esteve ao meu lado para mostrar que a vida era muito mais do que uma empresa Uchiha.

-O que aconteceu com Itachi? - Ele havia ficado em silêncio por alguns minutos.

-Ele morreu, estava com câncer em estado terminal. - Havia tristeza em sua voz. Ele deu um longo suspiro. - Ele se rebelou e tornou sua vida uma bagunça pois sabia que estava morrendo e não aguentava mais viver do jeito que meu pai queria.

-Nossa..-Sussurrei, eu não percebi nenhum resquício de tristeza ou raiva no pai de Sasuke, em nossos encontros ele havia sido bastante gentil. Nem mesmo Mikoto havia me apresentado esse lado da família.