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História Faking It - Capítulo Trinta


Escrita por: Bells13

Notas do Autor


Hey!
Era para ser com mais frequência, né? Só era :')
Depois de algum tempo, nós finalmente chegamos ao capítulo trinta!
Então, vocês me perguntam: "Ué, mas o que tem de tão importante no fato da fanfic chegar ao capítulo trinta?"
E a resposta é: nada, mas eu tô feliz por Faking It ter chegado aos 30 capitulos com 100 favoritos! Vocês não sabem o quão importante isso é pra mim, sério <3 <3
Eu só quero agradecer vocês por terem dado uma chance a essa história um pouco inusitada, e terem me dado apoio com cada comentário, seja ele textão ou textinho <3 <3 Eu amo vocês, bbs <3 <3
(Leitores fantasmas também serão bem recebidos, caso queiram se juntar a esse bando tão amado por mim <3)
Finalizando (porque tenho que guardar palavras bonitas para o final da fanfic kkkkkk), obrigada por cada comentário e favorito, vocês são demais <3
Sem mais delongas,
Boa leitura, e desculpem qualquer erro (fiz a revisão caindo de sono) <3 <3
(Então, vocês lembram que a Marga tinha mais um ensaio, certo? Pois é, o capítulo começa nele kkkkk <3 <3 )

Capítulo 31 - Capítulo Trinta


Faking It

Capítulo Trinta

                Ela abriu o mais genuíno dos sorrisos, sentindo-se realizada.

Se a perguntassem, Margarida não saberia explicar exatamente o que era aquela estranha sensação de êxtase, que acelerava as batidas de seu coração a e fazia seu corpo se encher de adrenalina, toda vez que as lentes das câmeras focavam em seus traços, mas sabia que era aquilo que queria sentir pelo resto da vida; aquela emoção, aquela inquietude, havia nascido para aquilo.

                 - Isso! Estão ótimas, meninas! – A fotografa elogiou as três modelos, que faziam caras e bocas para a câmera. – Agora, aproximem-se um pouco mais. Assim!

                A Garcia estava gostando daquele ensaio, ele era leve e divertido, e dava às meninas uma liberdade de poses maior, não as obrigava a sempre fazer carões e poses sensuais, como o outro ensaio havia exigido que fosse feito.

                - Dancem no ritmo da música, meninas, não se importem com a equipe! – A fotografa encorajou. – Finjam que não tem ninguém aqui!

                Ouvindo as recomendações da profissional, as três modelos começaram a se movimentar no ritmo da música pop que ecoava pelo estúdio, sem se importarem em fazer coreografias elaboradas, só deixando que o ritmo as guiasse.

                Depois de mais algumas músicas animadas e cliques, o som parou bruscamente, sendo substituído por palmas secas e altas, que silenciaram todos no local.

                Ao lado do pequeno som que animava o recinto, Antônio batia palmas, olhando maravilhado para as modelos, essas que vestiam as lingeries de sua marca.

                Enquanto o empresário caminhava, em passos lentos, na direção das garotas, Margarida observava as pessoas ao redor. Era incrível como a presença de Antônio trazia consigo uma aura de tensão e nervosismo.

                - Estão ótimas, meninas! – O homem elogiou, aproximando-se delas. – Principalmente você, novata, a sintonia que você tem com a câmera é algo tão natural que chega a ser impressionante! Certamente, você tem um dom.

                Margarida abriu um pequeno sorriso, estava envergonhada.

                - Oh, obrigada, mas, se quer saber, esse dom nada mais é do que algumas horas de treino em frente ao espelho, e um punhado de conselhos da Cíntia. – A caipira esclareceu, sorrindo agradecida para a ruiva.

                Cíntia Mendes era a modelo ruiva de língua afiada e lábios carnudos, que, de uma forma um pouco torta, havia orientado e ajudado Margarida em sua nova fase.

                - Ora, vejam só! Além de talentosa, é humilde! – O homem exclamou. – Se eu fosse você, Cíntia, tomava cuidado, temos uma forte candidata ao cargo de preferida do chefe.

                A ruiva deu de ombros.

                - Bem, se ela quiser, pode ficar. Sabe muito bem que eu só continuo aceitando trabalho nesse lugar porque os outros não pagam o que eu mereço. 

                Oh, ali estava outra peculiaridade da Mendes. Ela não tinha filtros com Antônio, falava o que queria, e quando queria, o que era estranho, já que ela não passava de uma contratada, que poderia perder seu trabalho a qualquer segundo.

                - Sua paixão pela minha marca é comovente. – O Espindola ironizou. – Mas, mudando de assunto, eu ainda tenho algum tempo até meu próximo compromisso, se vocês quiserem, podemos almoçar naquele restaurante chique na esquina, tudo por minha conta.

                As outras modelos pareceram se animar com a ideia.

                - Boca livre?! Quero! – Cíntia afirmou, batendo palminhas, enquanto Alice, a outra modelo, soltava alguns risinhos.

                Alice Oliveira era a mais bonita dentre todas as modelos presentes, na opinião de Margarida. A garota era alta, sua pele era naturalmente dourada, seus cabelos eram negros e longos, e o tom de seus olhos lembrava mel. Porém, apesar de toda a beleza, Alice também tinha seus demônios: a menina sofria de bulimia.

                - Você é muito esfomeada, Cíntia. – Alice soltou, apoiando-se em Margarida.

                A ruiva fixou seu olhar na Oliveira, ao mesmo tempo em que seus lábios se abriam em um sorriso perverso, e Margarida soube que não viria boa coisa dali.

                - De um jeito um pouco torto, você também é, Lice, a diferença é que eu não me entupo de comida, e depois corro para o banheiro. – A Mendes soltou, ácida.

                A caipira fez menção em abrir a boca para soltar algum comentário que repreendesse Cíntia, mas Alice foi mais rápida, a impedindo.

                - Deixa ela, Margarida. – A modelo disse. – No dia em que eu decidir começar a fazer piadinhas com os segredos sujos dela, ela vai ficar quietinha.

                Cíntia semicerrou os olhos, encarando a mais alta, que sustentou seu olhar.

                Percebendo o clima tenso que se instalara, Antônio pigarreou.

                - Vocês sabem que eu adoro quando vocês estão ferozes, meninas, mas eu realmente tenho pouco tempo até meu próximo compromisso, então, se não querem gastar o pouco dinheiro que vocês têm, eu sugiro que fiquem quietas e me sigam. – O homem decretou. – Você nos acompanha, novata?

                Por maior que fosse o tamanho da vontade que a Garcia tinha de comer no restaurante mais caro do bairro sem gastar um tostão sequer, ela sabia que quanto menos andasse com Antônio e com as modelos, melhor seria para ela, então, tomando fôlego, ela respondeu, sorrindo agradecida:

                - Não, obrigada, não quero incomodar.

                O Espindola abriu um sorriso um tanto enigmático, que assustou um pouco a caipira.

                - Talentosa, bonita, humilde e educada?! Realmente, o pirralho dos Cavalieri tem bom gosto. – Antônio a elogiou, tentando soar galanteador, mas Margarida, ainda um pouco assustada com a atmosfera estranha que havia tomado conta do lugar, só achou a ação ainda mais apavorante.

                Uma mulher de baixa estatura aproximou-se do dono da marca, cochichando algo, de modo que só ele conseguisse escutar. O homem agradeceu com um ligeiro sorriso, voltando sua atenção para as meninas.

                - Falando em Cavalieri, eu tenho que ir, aparentemente, meu compromisso se antecipou um pouquinho. – Espindola anunciou. – Bem, vamos deixar o almoço para outro dia, sim? E, como forma de reparação, vocês estão dispensadas por hoje.

                Sem esperar por nenhuma resposta das contratadas, o homem se foi rapidamente, como se estivesse apressado, mas Margarida não se importou, sua mente estava ocupada demais se perguntando o que Antônio quisera dizer. O compromisso dele era com um membro do clã Cavalieri?!

                - Droga! Agora vou ter que comprar um daqueles sanduíches nojentos na lanchonete aqui do lado! – Alice praguejou, a despertando de seus devaneios particulares.

                - Você nem come direito, Alice! – Cíntia disse, em um tom um pouco irritadiço. – Não reclama, podia ser pior. Você poderia ser eu, que não tem um mísero tostão, e vai ter que jogar charme para cima do cara do carrinho de cachorro-quente, e torcer para ganhar pelo menos um copo de refrigerante!

                Alice riu alto, sendo acompanhada por Margarida.

                - Vocês estão me desanimando, meninas. – Disse a caipira. – Vocês recebem tão pouco assim?

                - Você sabe, Marga, além de não sermos tão conhecidas no mercado, que é bem concorrido, nós somos adultas, e moramos sozinhas, com um só cachê de um trabalho nós temos que pagar nosso aluguel e as contas, mandar um pouco de dinheiro para casa, e comprar algumas roupas e maquiagens, porque, no nosso meio, estar apresentável é tudo. – A Oliveira explicou, de bom grado. – O dinheiro vai embora rapidinho. Mas, mudando de assunto, você vai com a gente?               

                A Garcia abriu a boca para negar, mas, mais uma vez naquele dia, alguém acabou sendo mais rápido que ela.

                - Não seja boba, Alice. Margarida é a namorada do Cavalieri, ela não precisa dar em cima de vendedores de cachorro-quente, ela só encosta o garfo em carne de primeira, feita em restaurantes cinco estrelas, se é que me entendem. – Disse a Mendes, sorrindo sugestiva para a mais nova das três.

                A caipira revirou os olhos, enquanto a morena mais alta ria.

                - Você é ridícula, Cíntia.

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                A Garcia xingou-se mentalmente, dentre todas as coisas que poderia esquecer no estúdio, havia esquecido, justamente, seu celular, uma dos únicos objetos que ela quase nunca desgrudava.

                A modelo acelerou seus passos, quanto mais rápido pegasse o celular, mais rápido sairia daquele prédio, e, consequentemente, mais rápido chegaria em casa.

                Enquanto refazia o caminho de volta para o camarim, onde ela começaria a procurar, a mente de Margarida encheu-se de questionamentos a cerca do que o Espindola havia insinuado alguns momentos antes.

                Um Cavalieri, sobrenome famoso pela honestidade e seriedade de seus portadores, não teria relações com um homem de índole tão duvidosa quando Antônio, teria?

                Bem, caso tivesse, o tal Cavalieri poderia ser a tia de Jorge, certo? Ela tinha uma famosa marca de roupas, e poderia, simplesmente, estar negociando uma parceria com Antônio. Ou, quem sabe, poderia ser um dos sogros, que poderia ter sido contratado como advogado do Espindola, considerando o fato de que uma pessoa como Antônio, muito provavelmente, precisaria de um, e dos bons.

                A morena, ainda perdida em seus pensamentos, assustou-se ao se aproximar da sala mais importante do prédio, a do dono, onde, ao que tudo indicava, ocorria uma discussão.

                Curiosa como só ela, a Garcia aproximou-se, em passos lentos e sorrateiros, da porta fechada, tomando todo o cuidado do mundo para não fazer barulho, temia ser pega naquela situação, escutando o que não deveria.

                - Se acalme.  Não queremos que alguém descubra o que estamos falando aqui, queremos? – A voz do proprietário daquele prédio soou perigosamente, e um pouco abafada pela porta fechada. – Agora, sente-se, vamos conversar com calma. Quer um café? Chá? Ou, quem sabe, uma água com açúcar? Essa última seria bem útil, levando em conta o seu estado de descontrole atual.

                Uma risada carregada de deboche foi ouvida, ao mesmo tempo em que a menina franzia o cenho, ela poderia jurar que conhecia aquela risada.

                - Você deve estar achando essa história muito engraçada, não é, Espindola?

                As orbes verdes quase saltaram para fora ao constatar que o Cavalieri que viera ao encontro do Espindola era, nada mais, nada menos do que Rosana Cavalieri, essa que havia jurado, de pés juntos, não conhecer o dono da marca de lingeries.

                - Deve ter rido tanto que acabou caindo dessa sua estúpida cadeira, enquanto imaginava a cara que eu e meu marido fizemos ao descobrir que você havia contratado nossa nora, não é? – A loira vociferou, e, mesmo sem conseguir vê-la, Margarida tinha certeza de que a mulher estava com a pele rubra, quase espumando de raiva. – Pois fique sabendo, Antônio, que eu não achei essa sua brincadeirinha nem um pouco engraçada, e vim aqui lhe dar o meu aviso final: fique longe da minha família e de Margarida, ou vai se arrepender de ter cruzado o meu caminho.

                Antônio riu, cheio de deboche, imitando o que a mulher havia feito alguns momentos antes.

                - Tem ideia de quantas vezes eu já ouvi essa ameaça sair da sua boca, e nunca se concretizar? Várias, de verdade, são tantas que meus dedos já não são suficientes para contá-las. – Disse ele. – Francamente, Rosana, quando vai deixar de ser essa cadelinha que late, late, e não morde?

                A caipira prendeu sua respiração, enquanto ouvia um som estridente e seco. Um tapa.

                Oh, Deus, se suas suspeitas estivessem corretas, Rosana havia acertado uma tapa na cara do Espindola, e aquilo não iria acabar nada bem.

                - Me respeite, seu desgraçado, ou eu não respondo por mim. – A Cavalieri disse, pausadamente, em uma frieza tão grande que arrepiou até mesmo Margarida.

                Bastaram alguns segundos para que o baque seco de coisas quebrando contra o mármore frio do chão fosse ouvido. A morena do lado de fora, encheu-se de preocupação, apesar de não ser a maior fã da sogra, se algo acontecesse a Rosana, a Garcia nunca se perdoaria.

                A caipira soltou um suspirou pesadamente, antes de colocar a mão no trinco gelado da porta, porém, antes que pudesse abri-la, foi impedida por uma voz atrás de si.

                - Está doida? Vai entrar no meio de uma discussão desses dois? – Cíntia cochichou, puxando a morena para longe da porta.

                - Você não está ouvindo?! Alguém vai acabar se machucando, não posso deixar que isso aconteça. – A morena disse, também em tom baixo.

                - O quê?! Não banque a mocinha por nada! Não vai acontecer nada. – A ruiva a tranquilizou, ainda em sussurros. – Eles sempre brigam e quebram tudo, mas nunca causam um simples arranhão um no outro. Agora, para o nosso bem, é melhor que a gente saia daqui antes que eles se dêem conta da nossa existência nesse corredor, ou vai acabar sobrando para a gente.  – Ela começou a mexer na bolsa, parecendo procurar por algo. - Oh, e aqui está o seu celular, eu o encontrei jogado no camarim, e ia entregar na recepção, mas como você está aqui, tome.

                - Obrigada. – A menina agradeceu, um pouco confusa, guardando o aparelho no bolso de sua calça em seguida.

                - Agora, vamos sair daqui.

                Sem dar tempo para a mais nova protestar, Cíntia agarrou seu braço e saiu lhe puxando na direção do elevador, embarcando no mesmo, junto a Margarida, segundos depois.

                - Desculpa, mas você disse que eles sempre brigam? Como assim sempre? – Margarida questionou, um pouco atônita.

                - Sempre, ué. Toda vez que ela vem aqui. – A modelo mais experiente deu de ombros, observando seu próprio reflexo no espelho do elevador.

                - E ela vem aqui com frequência, por acaso?  

                - Ah, de meses em meses, ela vem aqui, discute com o Antônio e vai embora, nada especial. – A ruiva deu de ombros novamente, virando-se para encarar diretamente a caipira. – Por quê? Você não sabia, novata?

                - Para falar a verdade, não. – Margarida confessou. – Ela jurou que não conhecia Antônio.

                A mais velha riu.

                - Bem, parece que as mentiras têm pernas curtas mesmo, hein? – Ela comentou, bem-humorada.

                - Preciso que me conte mais detalhes sobre essas visitas, Cíntia, por favor. – A Garcia pediu.

                A Mendes abriu um sorriso travesso, deixando claro que maquinava algo naquela cabeça cheia de fios cor de fogo.

                - Bem, eu posso até contar, mas essas informações têm um preço.

                - A situação está tão ruim assim, Mendes? – A morena questionou, o que fez a ruiva revirar os olhos em resposta. – Qual seu preço? Lembrando que eu não pago mais do que cinco reais.

                 - E eu achando que minha situação financeira que estava ruim. – Cíntia sussurrou baixinho, de modo que só ela conseguisse ouvir, mas Margarida acabou escutando, rolando as orbes verdes em seguida. – Bem, cinco é a quantia suficiente para o que eu pretendo fazer, na verdade, então, negócio fechado.

                - O que, diabos, você vai fazer com cinco reais?

                - Comprar um cachorro-quente e uma latinha de refrigerante. – A ruiva deu de ombros mais uma vez naquele dia.

                - Achei que fosse dar em cima do vendedor.

                - E ia, mas uma das recepcionistas acabou me contando que o vendedor joga no mesmo time que a gente, então, eu vou ter que conseguir esse lanche de forma honesta.

                - Forma honesta?! Está tirando dinheiro de uma adolescente confusa que só quer algumas informações!

                - Pelo menos, eu não estou roubando velhinhas na rua, isso é o que eu chamo de ganhar dinheiro desonestamente. – Cíntia disse, se defendendo.

                - Você é ridícula, Cíntia. – Margarida repetiu aquilo mais uma vez naquele dia.

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                Margarida viu a ruiva morder o sanduíche com uma força sobrenatural, fazendo mostarda voar para todos os lados, sujando tudo, incluindo a blusa nova da morena.

                - Você já está comendo esse sanduíche faz um bom tempo, Cíntia. Quando é a parte em que você termina isso e começa a me falar o que eu pedi? – Margarida questionou, procurando algum guardanapo dentro de sua bolsa.

                Depois de comprar o lanche da mais velha, as duas seguiram até uma praça que existia ali perto, e sentaram-se no melhor banco da praça: Um que era protegido do sol pelas folhas da árvore, que faziam sombra sobre ele.

                Cíntia tomou o último gole de seu refrigerante, e soltou um longo suspiro em seguida, estava pronta para começar a falar.

                - Eu sei que você espera que todas suas dúvidas acabem quando eu começar a falar, porém, eu detesto ter que te dizer isso, mas o que eu sei é muito pouco, provavelmente, só vai te trazer mais dúvidas. - A ruiva esclareceu, amassando o guardanapo em que viera o cachorro- quente.

                - Bem, só diga o que sabe, certo? Qual a ligação da Rosana com a marca?

                A ruiva assentiu, limpando a garganta.

                - Bem, eu trabalho para aquela marca desde os meus quatorze anos, ou seja, já faz sete anos. – A modelo começou. – No meu primeiro ano, Antônio vivia no exterior, e quem cuidava da agência era o pai dele, Ricardo, um homem muito agradável e talentoso. Rosana costumava aparecer por lá, conversava um pouco com as modelos, e nos dava algumas dicas. Ela dizia que havia sido modelo em sua juventude e, se seguíssemos seus conselhos, acabaríamos tão bem quanto ela. Bem, tudo ia muito bem até uns três anos atrás, quando o seu Ricardo descobriu ter câncer, e teve que se afastar da empresa, deixando que o filho tocasse os negócios da família. A partir do momento em que Antônio pisou nos terrenos da empresa, Rosana parou de frequentá-la, pelo menos, até o ano passado, quando ela apareceu por lá, completamente possessa, gritando para os quatro cantos do mundo que sabia que havia sido Antônio que enviara um presente de muito mau gosto para seu filho, e que ele não deveria ousar se aproximar dele ou de sua casa. Depois daquele dia, sua sogra aparece com uma frequência de dois, três meses, sempre gritando e ameaçando tudo que vê pela frente.

                Margarida levou alguns segundos para digerir toda a nova informação que recebera, um misto de surpresa e espanto havia tomado conta de seu ser.

                - Ela jurou para Jorge que não conhecia Antônio e nem a marca. Por que ela mentiria?  - A Garcia questionou, em um fio de voz.

                - Eu não sei, novata, as pessoas mentem por qualquer motivo. - A Mendes disse, dando de ombros, enquanto se levantava. – Eu sei que deve estar morrendo de curiosidade e tudo mais, mas, se quer um conselho, aqui vai um: esquece essa história, é o melhor que você faz.

                - Eu não sei se consigo. – Margarida confessou. - Rosana já chegou a me ameaçar por conta dessa história, eu preciso descobrir o que ela tanto esconde.

                A ruiva suspirou, encarando a garota sentada a sua frente.

                - Se sente que precisa mesmo descobrir, então descobre.

                - Aí é que está o problema, eu não sei nem por onde começar. – A morena confessou, passando a mão pelos cabelos.

                - Bem, isso não é óbvio? – Cíntia questionou, colocando seus óculos escuros. – Pense como Rosana pensaria, Margarida. Que lugar mais seguro para guardar um segredo do que dentro dos muros da própria mansão?

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                A modelo sentou-se no banco desgastado da velha camionete, fechando a porta com cuidado, tinha medo de que qualquer movimento violento que fizesse, acabasse quebrando alguma coisa no frágil veículo.

                - Oi, Marga. – Paulo cumprimentou, e Margarida pôde perceber que ele estava animado. – Nem acreditei quando me chamou para assistir Memórias de Um Verão Esquecido! Estava querendo ir assistir desde que ele estreou, sou muito fã do ator que interpreta o protagonista, mas a Ali nunca quis me acompanhar, ficava dizendo que não gosta de filminho “água com açúcar”.

                A caipira se assustou com a rapidez que as palavras saiam da boca do garoto, esse que parecia realmente entusiasmado com o passeio.

                - Mas, sabe que é até legal fazer um programa só nós dois, dois amigos curtindo uma tarde? Deveríamos fazer mais vezes! – O Guerra disse, em fôlego só. -Eventualmente, poderíamos até chamar o Jorge e a Alicia, e fazer um programinha de casal!

                Margarida negou rapidamente, lembrando do desastre que fora o último encontro duplo que tivera, alguns dias antes.

- Certo, certo. Eu sei que você e Jorge não são realmente um casal, mas, vamos ser sinceros, vocês estão quase lá.

- O quê?! Não estamos não! – A Garcia afirmou.

Aproveitando que o carro teria que parar por conta da luz vermelha de um semáforo, o moreno a encarou, arqueando uma das sobrancelhas.

- Marga, vocês passam o dia juntos, dividem comida, riem das piadas idiotas um do outro, saem juntos, e ainda transam...

- Como você sabe que a gente fez isso? Não me lembro de ter te contado, e tenho quase certeza de que Jorge não te contou. – A modelo o interrompeu, franzindo o cenho. – Espera, ele contou?

- Não, não contou, mas ele contou para a Alicia, que contou para mim, espero que não se importe. – Paulo disse, com um pouco de cautela. A menina, um pouco corada, negou com a cabeça. – Ótimo, mas, voltando, se o que vocês fazem não são coisas que casais fazem, eu não sei o que são.

O sinal abriu, atraindo a atenção do moreno, o que livrou Margarida daquele assunto um tanto quanto desconfortável para ela, e aproveitou para lembrá-la do real motivo que a levara até aquela camionete cor de ferrugem.

- Ahm, Paulo, eu detesto ter que fazer isso, mas eu preciso te dizer uma coisa. – A caipira disse, não conseguindo controlar-se.

- Bem, pode dizer.

                - Desculpa te decepcionar, mas nós não vamos assistir a esse filme.

                O Guerra freou o veículo de repente, ganhando uma chuva de buzinadas dos motoristas que vinham atrás deles, mas, sem se importar, o garoto encostou o carro no meio-fio, fixando as orbes escuras nas da garota, um tanto espantado.

                - O quê?! Como assim nós não vamos assistir ao filme? – Paulo questionou, demonstrando confusão. De repente, os olhos do garoto se arregalaram, quase saltando para fora. – Você não veio me propor que nós tenhamos um caso, não é? Porque, assim, eu amo muito a minha namorada, e sei que, lá no fundo, bem no fundinho, você também ama o Jorge, então...

                - Para, para, para, Paulo! Não é nada disso!  - A morena o interrompeu, gesticulando freneticamente com as mãos, enquanto o rapaz franzia o cenho, ainda mais confuso. – Certo, primeiro: eu não amo o Jorge, nós somos, no máximo, amigos com benefícios. Segundo: eu te chamei aqui porque, além de precisar me distrair um pouco com o filme, eu precisava de um conselho seu sobre uma coisa relacionada ao Jorge, mas eu não consegui esperar até o filme acabar, desculpe.

                - Não tem problema, mas, se é um conselho envolvendo o Jorge, não seria melhor pedir para a Alicia? Você sabe, ela é a melhor amiga do cara, quando o assunto é Jorge Cavalieri, Alicia é especialista.

                - Sim, eu sei, mas eu precisava de uma opinião imparcial, o que Alicia não conseguiria me dar justamente por ser tão próxima ao Jorge. – A caipira explicou, e o menino pareceu compreender.

                - Pois bem, pode começar a falar.

                - Antes, eu preciso que jure que essa conversa não vai sair desse carro, você não pode falar sobre ela nem com Alicia. – Margarida disse, oferecendo seu dedo mindinho para o menino, esse que, após alguns segundos de reflexão, entrelaçou seu menor dedo ao que havia sido oferecido pela menina. – Ótimo, agora, se contar para qualquer pessoa, seu dedinho vai cair.

                Engolindo em seco, a moça começou a contar o que vinha lhe tirando o sono nos últimos tempos, desde o primeiro comentário que Antônio fizera, passando pela ameaça que a sogra havia feito contra ela, até chegar ao que Cíntia havia lhe contado horas antes.

                O rapaz de cabelos negros escutou tudo atentamente, concentrando-se em cada detalhe que lhe era contado.

                - Certo, eu já entendi que sua sogrinha esconde alguma coisa, só não entendi sobre o quê você quer que eu te aconselhe. – Paulo disse, assim que a amiga fechou a boca.

                - Bem, lembra que Cíntia disse que eu deveria começar a procurar alguma peça desse quebra-cabeça na mansão dos Cavalieri? Então, eu também acho que deveria começar por lá... – Margarida deixou a frase morrer, sabia que o garoto entenderia onde queria chegar.

                - Quer saber o que eu acho sobre você mexer nas coisas dos Cavalieri sem nenhum motivo realmente plausível, correndo o risco de ser pega, ou, ainda pior, correndo o risco de descobrir que esse segredo não passa de um grande nada? – O Guerra questionou, vendo a moça assentir. – Bem, eu acho que você deveria mexer sim. Marga, a dona Rosana não te ameaçaria por nada, ela atacou para não ser atacada, deve estar se sentindo ameaçada, e, se ela se sente assim, é porque tem algo a esconder, e tem medo que você descubra.

                - Não acha que Jorge vai ficar bravo quando descobrir que eu esquadrinhei toda a casa dele, sem nenhuma prova concreta de que a própria mãe dele fez, ou está fazendo, algo errado?

                Paulo abriu um pequeno sorriso de lado.

                - Pode ter certeza de que ele vai. – O rapaz afirmou. – Quer que eu te deixe lá?

                Margarida mordeu o lábio inferior, ainda pensando no que faria.

                - Por favor. – Disse ela, começando a traçar seu plano

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                O loiro estava deitado, despreocupadamente, sob grossas cobertas, havia tirado o dia frio para colocar seu melhor, e mais confortável, pijama e se perder nas páginas amareladas de seu livro preferido, livro esse que já havia sido lido um milhão de vezes por ele, e, mesmo assim, não perdia a graça.

                O Cavalieri tinha toda sua atenção voltada para um parágrafo tenso, quando duas leves batidas na porta de seu quarto desviaram sua concentração.

                - Pode entrar. – Jorge avisou, desligando a lanterna do celular, que usava para iluminar as páginas do livro, já que a baixa iluminação do quarto não conseguia penetrar o grosso cobertor.

                - Incomodo? – Margarida perguntou, ao mesmo tempo em que o namorado, surpreso, se ajeitava na cama.

                Mesmo com os cabelos bagunçados e o semblante cansado, Margarida continuava encantadora aos olhos do jovem Cavalieri, esse que estranhou se pegar admirando a beleza da falsa namorada.

                - Claro que não, caipirinha. Mas, então, a que devo a honra de sua visita? Não me diga que já veio para a nossa maratona de Supernatural! – O menino comentou, com um sorriso sacana.

                - Infelizmente, vim aqui por outro motivo. Mas, quem sabe não sobra um tempinho para darmos uma olhada na Netflix? – Disse ela, piscando.

                - Bem, então, seja lá o que você veio fazer, vamos começar logo, quanto mais rápido começar, mais rápido vai acabar, e, consequentemente, mais tempo vai sobrar. – Jorge disse, entusiasmado, jogando o cobertor que lhe cobria para longe. – O que veio fazer aqui?

                Margarida abafou uma risadinha, seu semblante expressando um misto de espanto e divertimento.

                - Bem, eu sei que não vim informar que algum super-vilão ameaça New York, cabeça de teia. – A menina soltou, fazendo o namorado lhe lançar um olhar confuso.

                Do que, diabos, ela estava falando?

                Jorge levou cinco segundos para se lembrar do que estava vestindo: o seu pijama do homem-aranha.  

                - Você não pode falar nada, todos os seus pijamas têm uma estampa floral brega. – O loiro disse, um pouco emburrado, o que Margarida, tivera que confessar, havia achado fofo.

                A morena ao seu lado na cama, acertando um soquinho em seu ombro.

                - Ei! Eu não estou achando graça da estampa, estou achando graça do fato de que o tão maduro, e praticamente “homem feito”, Jorge Cavalieri tem um pijama do homem-aranha! – A Garcia explicou. – Você até que fica uma gracinha nele, engomadinho.

                - Eu fico melhor sem. – O Cavalieri comentou, enquanto levantava-se da cama.

                - Eu sei disso, e como sei. – A Garcia deixou escapar, distraída, só percebendo o que havia falado segundos depois, quando Jorge já lhe encarava com um sorriso divertido e uma sobrancelha arqueada.

                - Tem certeza de que não veio aqui para maratonar Supernatural, caipirinha?

                 Margarida abriu um sorriso de lado.

                - Tenho, engomadinho.  - A modelo confirmou. – Eu vim te pedir um favor. Lembra daqueles slides que tínhamos que fazer para a aula de Educação Sexual? Então, quando eu estava terminando de fazer os meus, o meu notebook simplesmente apagou, e, desde então, não liga mais. Eu poderia fazer no seu notebook?

                O loiro não precisou pensar muito para responder:

                - Claro, sem problemas, mas acho melhor você usar o notebook do escritório dos meus pais, o meu está meio lento porque estou baixando alguns programas. – Jorge deu de ombros. – Tudo bem?

                Tudo ótimo! Aquilo era o que Margarida precisava para começar a “investigar”, um computador no local mais seguro, e mais propenso a ser o esconderijo de prováveis pistas, da casa.

                - Claro, claro.

                - Bem, o notebook tem um usuário de visitantes, ele não tem senha nem nada do tipo. – O rapaz esclareceu. – Vou trocar de roupa, e pegar um lancinho na cozinha, te encontro no escritório daqui alguns minutos.

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“SENHA INCORRETA.”

"ACESSO AO USUÁRIO 'ROSANA CAVALIERI' NEGADO."

                A caipira praguejou mentalmente, não conseguia adivinhar aquela maldita senha e estava começando a ficar sem tempo, Jorge poderia entrar no cômodo a qualquer momento.

                - Certo, se eu fosse a Rosana, o que colocaria na minha senha? –A moça sussurrou para si mesma. – Pensa, Margarida, pensa.

                O aniversário de casamento? O aniversário do marido? O próprio aniversário? Nenhuma das anteriores?!

                Sem parar para pensar direito, Margarida começou a teclar o nome do namorado, torcendo para que aquela fosse a senha, porém, antes que pudesse descobrir se aquela era mesmo a senha ou não, uma voz a atrapalhou, fazendo todo o seu corpo paralisar. 

                Havia sido pega no flagra!

                - Definitivamente, você não veio maratonar Supernatural. – O loiro disse, atrás de si. – Por que está tentando entrar no usuário da minha mãe?

                A morena engoliu em seco, girando seu pescoço para encará-lo.

                - Jorge, eu posso explicar. – Foi a única coisa que Margarida conseguiu dizer.

                - Eu sei que pode, e estou ansioso para te ouvir.


Notas Finais


Espero que tenham gostado <3
Bjos <3 <3


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