História Fallen Angel - Want

Haviam horas que estava ali. A quantidade de amigos e conhecidos que passaram por ela era maior que em qualquer outra situação. Estava tão bem ali que havia até se acomodado, encostada na parede da sacada, seus braços estavam cruzados assim como suas pernas. Deixou a cabeça pender, encostando-a na parede também.

Já estava próxima dele, entre ela e as portas de vidro, haviam apenas alguns centímetros. Mas queria estar sentada na mesma cama que Niall, para que pudesse ver ainda mais detalhadamente.

Nunca fazia isso. Nunca parara para analisar os detalhes físicos de alguém. Costumava perceber como o brilho habitava os olhos dos flechados. Em como a vida era notável nos olhares deles quando os amados apareciam. Em como o coração pulava de alegria, medo e ansiedade no primeiro beijo de cada casal. E no modo que isso continuava acontecendo em cada beijo que viesse de quem realmente ama seu parceiro. Notava o medo da perda que se fundia naqueles corpos no exato segundo que as flechas tocava-os.

Sky sempre notava. Não só notava, mas admirava. Desejava sentir cada mísero detalhe. Incluindo a dor. Achava que iria gostar. Achava que, apesar de doer, apesar de machucar, se sentiria grata de poder, ao menos, sentir algo. Realizar o sonho que tinha.

Era tão ruim guiar a vida amorosa de tantos seres sem poder ter a mesma coisa, que a dor que sentiria, se algum dia realmente pudesse sentir, não a faria mudar de ideia.

Afinal, quando o amor vai se separar da dor? São quase sinônimos.

Sky se desencostou da parede ao ver os movimentos bruscos que Niall fazia. Ele suspirou, jogando os cobertores para o lado, mas se arrependeu logo em seguida, puxando-os de volta. Virou para o outro lado, de modo que Sky pudesse o ver piscar. O ato a assustou, fazendo-a girar, colando as costas no cimento frio que cobria o prédio.

Segurando o arco contra os seios, olhava para frente, amaldiçoando-se por ter ficado onde estava. O que ela estava esperando? Que ele se apaixonasse por alguém em seus sonhos? Não era impossível, mas também não era o que planejara para ele.

Entretanto, que diferença faria seus planos agora? Já não havia estragado tudo?

Era Sky quem suspirava agora.

Sem aguentar a tentação, apesar do arrependimento das besteiras que havia feito, o cupido voltou a olhar entre as cortinas e as portas, afim de saber o que ele estava fazendo agora.

O menino estava de pé, já tinha trocado as calças, mas ainda procurava por alguma camisa, por fim escolhendo um suéter quase tão claro quanto sua pele.

Seus passos começavam a traçar o caminho para a varanda e Sky sabia que não podia vacilar à tal ponto. Tinha que sair dali, então, fechou os olhos e, ao abrir, estava em cima do prédio da frente.

Não era para estar ali. Havia desejado ir ao apartamento de Sarah, não havia?

Não. Não verdadeiramente.

Porém, ignorou o erro, fechando os olhos novamente, dessa vez, abrindo-os no lugar certo.

Já era hora de partir para outra pessoa. Dar um pouco de liberdade a Niall era necessário.

[...]

Esperava conseguir ficar o dia inteiro, mas assim que Sarah chegou em casa, Sky voltou para a mesma sacada. Porém, Niall ainda não estava lá. Pelo menos não no quarto, e o cupido se aproveitou disso.

Piscou, indo para dentro dele. Olhou em volta, tentando decidir o que fazer, até que algo chamou sua atenção.

Haviam três folhas em cima da mesa que o menino usava para estudar. Meio amareladas, por terem sido recicladas. Se aproximou em passos lentos. Não tinha pressa, apesar da curiosidade.

Pegou-as em suas mãos, com cuidado para não estraga-las, e analisou o rosto desenhado na primeira folha. Era uma menina. O nariz fino e o rosto redondo. Suas bochechas chamavam atenção. Os olhos eram grandes. Os lábios, finos. Finos demais, porém charmosos.

Era linda.

Colocou a folha para trás de todas as outras, afim de analisar a segunda. Os olhos eram um pouco menores. A boca era a mesma. As bochechas também haviam diminuído, enquanto o nariz não havia mudado.

A garota parecia ter menos cabelo que a anterior, mas suas belezas eram equivalentes.

Então foi para a terceira folha. Seus olhos arregalaram e as sobrancelhas se juntaram.

Era ela.

Sky estava quase perfeitamente desenhada ali. Os olhos eram tão ternos quanto os dela. O cabelo tão claro e cheio quanto o seu. O nariz era fino e não dispensava a delicada bolinha na ponta. Suas bochechas eram menores do que o primeiro desenho e maiores que o segundo. Seus lábios haviam sido preenchidos. Estavam maiores. E o rosto era tão bem desenhado no papel quanto na vida real.

Quem fizera isso?

Pelo que sabia, Niall não tinha esse talento. Mas independente de quem havia feito, tinha a desenhado tão bem que se reconheceu de cara.

“Meu Deus” – apesar de fraca, a voz repentina fez com que Sky se virasse em direção à ela.

E ali estava ele novamente, com os olhos tão arregalados ao ponto de doerem se não fosse pela adrenalina que sentia.

Sky queria se aproximar, mas ponderava ser um erro, e não queria cometer mais um. E por não saber o que fazer, apenas ficou.