“Seja-me permitido enxergar a tua luz embora de tão longe e desta profundidade. Ensina-me como procurar-te e mostra-te a mim que te procuro; pois, sequer posso procurar-te se não me ensinares a maneira, nem encontrar-te se não te mostrares. Que eu possa procurar-te desejando-te, e desejar-te ao procurar-te, e encontrar-te amando-te e amar-te ao encontrar-te.”
Exausto. Cansado. Deprimido... Mesmo sentindo todo o seu corpo dolorido e esgotado, Minho não conseguiria dormir naquela noite. Encontrava-se esparramado no sofá de sua sala, totalmente perdido em pensamentos. Após procurar Taemin em todos os lugares em que julgou possível, havia voltado para casa totalmente sem esperanças em encontrá-lo e sem rumo do que precisaria fazer.
Taemin e um filho que nem se quer tinha conhecimentos sobre o sexo... Duas preciosidades que precisava proteger, mas o que fazer se nem ao menos ele conseguia manter-se sóbrio? Esperou pacientemente durante metade da madrugada, sua cabeça doía devido a tantos pensamentos e preocupações.
Levantou-se preguiçosamente e dirigiu-se as escadarias na intenção de chegar até seus aposentos. Expressão marcada de desânimo e exaustão, olheiras arroxeadas e lábios ressecados, mente turbulenta e atordoada... Cada degrau que subia, cada passo dado sentia-se ainda mais próximo da loucura. Perguntava-se constantemente quando todo esse pesadelo acabaria...
Um estrondo alto arrancou-o de seus pensamentos, assustando-o, e ao passar os olhos no local, percebeu que a fonte do barulho vinha de seu quarto. Como se não bastasse as pancadas da vida, ainda terminaria seu dia com sua casa sendo invadida por ladrões? Suspirou frustrado quando notou a presença de seus seguranças em alerta, encarando-o à espera de uma ordem. Dispensou-os com uma aparência despreocupada e mesmo contra vontade, estes o obedeceram e saíram de suas vistas.
Minho dirigiu-se até o seu quarto consolando-se mentalmente de que nada pior poderia acontecer consigo naquela madrugada. Porém ainda receoso, entreabriu a porta do quarto, e com apenas a cabeça dentro do recinto olhou em volta podendo-se perceber o aparente vazio. Aliviado, adentrou seu quarto, logo se dirigindo até sua cama e jogando-se nela desleixadamente, fechou seus olhos após sentir uma forte brisa chocando-se contra seu corpo, arrepiando-o levemente. Estranhando sua janela aberta, sentou-se na cama após franzir suas sobrancelhas em confusão. No entanto, estranhou ainda mais a presença de algumas penas brancas rentes ao seu travesseiro. Não houve tempo de sentir-se mais confuso na medida em que seu peito estremeceu ao reconhecer um leve aroma entorpecente...
Morangos... Típico do seu menino de cabelos loirinhos. O ambiente logo foi aromatizado de forma avassaladora com o cheiro do mais novo. Sentindo-se desorientado, seu olhar caminhou o quarto inteiro a procura da fonte do aroma. Poderia estar louco, mas sentia nitidamente a presença de Taemin como se este estivesse em seu colo. Aquele cheiro estava enlouquecendo seus sentidos, deixando-o fraco... Taemin o enfraquecia. Apoiou os cotovelos em seus joelhos e liberou tímidas lágrimas que deslizavam em seu maxilar, acompanhadas de soluços baixos e sofridos. O desespero era nítido em si, tanto seu físico quanto sua alma, clamava por Taemin.
No entanto, a dor se fazia presente em dobro naquele que, no momento, encontrava-se completamente debilitado. Apoiando-se nos dois outros anjos, ainda fraco, Taemin o observava próximo à janela, as cortinas esvoaçavam devido ao vento que vez ou outra bagunçava seus cabelos. Minho não podia vê-lo ali, mas Taemin podia sentir sua dor. Mesmo sem condições, desejava que doesse tudo em si. Não desejava que Minho sofresse por sua causa, tomaria todas as suas dores se fosse preciso. Sabia que não era capaz de suportar tudo, mas era um anjo afinal...
Encarou Jongin que permanecia ao seu lado, assentindo para que fizesse o combinado, e este não esperou outro sinal para aproximar-se de Minho a passos leves, e sem que este pudesse perceber, repousar os sentimentos escritos de Taemin sobre a cabeceira da cama, logo se afastando do moreno e abeirando-se ao menor que mantinha seus olhos já úmidos, focados em Minho.
“Não chores por mim
Alegre-se
Pois tenha certeza,
De que com alegria vivi
Quando deste mundo fugir
Não te entristeças por mim
Lembre-se
Que de tudo que fiz
O fiz por ti
Quando o adeus me sorrir
Não te aflijas por mim
Guarde-me
Nas suas memórias
E nelas viverei sem fim.”
Taemin soltou-se dos dois anjos, e não se importando com o leve enfraquecimento de suas asas, aproximou-se do maior, ajoelhou-se no chão e tomou o rosto do moreno em suas mãos, observando-o respirar fundo e fechar os olhos como se pudesse sentir seu cheiro, sua presença... Permitiu-se chorar junto a ele, sem nenhuma resistência, com a sensação odiada mais do que tudo em seu passado... A sensação de não poder tocá-lo, não conseguir senti-lo entre seus dedos. Como sentia falta do seu último carinho... Do seu último beijo... Do seu último toque. Porém, com lágrimas nos olhos, aproximou-se ainda mais do moreno, fechou seus olhos antes de tocar seus lábios aos dele, mesmo que fosse um toque impossível, ainda poderia sentir a essência do sentimento que o consumia toda vez que se via próximo daquele que havia se declarado sua perdição.
Levantou-se a contragosto percebendo que já passava de sua quantidade de tempo permitida para estar ali. Ainda não havia se recuperado e não poderia abusar dos cuidados, porém, foi insistente com seus amigos que se sentiram obrigados a levá-lo junto a eles. Apoiou-se novamente nos dois anjos que sorriam confortantes em sua direção, voltou seu olhar ao papel bordado em dourado posto sobre a cabeceira da cama, e sorriu em tristeza ao sentir mais uma vez, saudade de estar naqueles braços que agora vazios, choravam desconsolados.
-Adeus...
Minho tornou à sua realidade sentindo-se ainda zonzo, como se estivesse voltando de uma viagem em outra dimensão. Esfregou seus punhos em seus olhos ainda úmidos, e levantou-se da cama após suspirar em confusão. Sua atenção foi roubada por um papel cintilante dobrado sobre sua cabeceira, tomando o envelope em mãos, admirou-se com as linhas douradas tecidas em mínimos detalhes no papel. Ainda receoso, desdobrou o envelope e deparou-se com uma caligrafia impecável de uma carta, que a cada palavra que interpretava, seu coração era cortado ao meio...
“Hyung...
Foi um jeito meio estranho de dizer adeus. Despedir-me sem que percebesse, mas eu não posso ficar. Tudo que aconteceu em poucos dias, vivi anos em alguns meses, tudo isso irei guardar. Ainda irei te vigiar e sorrir, mas nossos lábios não irão se encontrar outra vez. Por favor, não me procure mais... Seria cruel da minha parte pedir que você me espere crescer e ser livre das minhas amarras. Seria cruel te limitar a viver a vida sozinho até que eu estivesse pronto para sermos um. Eu te liberto. Eu te liberto para viver e para se descobrir. Te amei por todos os dias em que pude e ainda te amo. Não quero que te deixar ir seja a maior dor de nossas vidas. Quero que você se lembre de mim como alguém que te fez ver as cores e sentir os calombos da vida. Não vou te prender a mim, mas vou te guardar como quem me ensinou que num abraço apertado cabe um mundo inteiro, como quem me fez ver que eu sou mais do que eu imaginava... Sou apenas uma criança... Uma criança que nada mais deseja do que te proteger, e é por isso que agora te deixo, por te amar, por querer cuidar de você. Não são poucas minhas limitações, mas o maior dos abismos nos separa. Com lágrimas nos olhos, deixarei por escrito, sonharei com você por muito tempo. Só espero que essa dor passe logo. Não se esqueça de todo amor que construímos, cada beijo dado, cada carícia trocada... Depois de muitas lágrimas derramadas e o coração quebrado e sangrando...
Eu lhe digo adeus.
Até depois do sempre, seu Taemin.
Minho pov. On
Parado à beira de uma estrada, cabeça descansada sobre o banco do carro, pensamentos consumindo toda minha essência de raciocínio. Uma semana. Faz exatamente uma semana que eu apenas sobrevivo neste inferno, ou melhor, após me sentir vivo por apenas alguns meses, volto a sobreviver neste inferno. Uma semana que, sem nenhuma explicação, Taemin me deixou, como se estivesse morto...
Naquele fim de madrugada, após ler o que pareciam ser suas últimas palavras, não senti tristeza, não parecia tristeza, talvez seja, mas parecia ser mais que isso. Sabe aquela dor que você sente ao ver algo dando errado na sua vida? Não é legal, eu sei disso, mas multiplica ela pela tua idade. É pior, não é mesmo? Posso assegurar que a sensação de chorar até dormir e acordar com a cara deformada horas depois, não é a melhor do mundo.
Em apenas uma semana, tenho me transformado em alguém que sequer eu me reconheço. Não estou dando a mínima para as incontáveis correspondências que tem chegado à minha casa e pouco me importa as ligações que recebo. Quase todo santo dia, minha casa é invadida por Jonghyun e Key bombardeando-me de conselhos de como viver a vida, Jonghyun me comprou livros de autoajuda, me levou a sessões de terapia, me pagou deliciosas garrafas de vinho, fizeram por mim tudo aquilo que se faz por um homem fodido, mas de nada adianta, os artifícios que me proporcionaram me deram esperanças efêmeras, prazeres momentâneos, motivações ilusórias.
Sim, não reluto em dizer que estou acabado. Seria Taemin o motivo? Aquele garoto chegou arrombando a muralha de aço que por tanto tempo construí, preencheu meus vazios, e me irritou ao ponto de amá-lo feito louco, apesar das minhas explosões caóticas, eu podia sentir o toque efêmero da paz em minha pele toda vez em que Taemin se abrigava em meus braços. Mas não... Como sempre, sofro da síndrome do abandono, e ele foi a minha crise mais dolorosa. Ele me deixou aqui, sem ao menos uma explicação, suas palavras me deixaram em estado de loucura psíquica, totalmente dilacerado. Meus amigos me tratam temerosos como se eu fosse surtar a qualquer momento, como se eu fosse um louco... Louco por aquela criança sem escrúpulos.
Taemin... Ainda dói como doía semana passada, eu ainda te procuro nos lugares e te associo a músicas. Ainda te lembro a todo instante como se isso fosse tão normal quanto respirar, aguardo seu abraço como se você estivesse apenas dormindo e te espero como se você fosse voltar da rua a qualquer momento. É como se eu estivesse enlouquecendo pelos meus próprios métodos, esperando uma fila que nunca anda, morrendo sem estar doente e como se eu ansiasse por algo que vai para qualquer lado, mas não volta pro meu.
Mais uma vez naquela tarde, Jonghyun insistentemente continuava me ligando, mesmo sabendo que eu não atenderia. Bufei juntando minhas mãos ao volante e repousando minha cabeça sobre elas, buscando um ponto de paz, mesmo que este tivesse ido embora uma semana atrás. Sem suportar aquele som estridente em meus ouvidos, aceitei a chamada e permaneci em silêncio, sim... Essa tem sido a minha melhor máscara... Frieza e silêncio.
-Yaah, pelo menos uma vez eu não fui ignorado... É realmente urgente. Onde você está? Você precisa vir para casa, agora! –Olhei em volta totalmente inerte de onde eu realmente estaria.
-Não sei... –Suspirei sentindo minha cabeça latejar levemente.
-Como assim não sabe? Vamos, você tem dez minutos para voltar, é realmente urgente. –Bufei em desistência, massageando minhas têmporas.
-Me deixa em paz... Não quero e não vou voltar...
-Caralho! Já faz uma semana que você se afundou nessa melancolia, pelo amor de Deus, reage! –Jonghyun elevou a voz do outro lado da linha, fazendo com que minha cabeça latejasse ainda mais.
-Eu não tô afim de brigar com você Jonghyun, me deixa em paz! –Afastei o celular do ouvido a fim de encerrar a chamada, porém, ele me interrompeu.
-Seus pais estão voltando... E querem falar com você.
-O quê?! –Meu estômago revirou diversas vezes antes que eu assimilasse o que eu havia acabado de ouvir. Definitivamente, não poderia ficar pior.
-Eu só estou querendo te ajudar, não parece ser boa coisa! –Suspirei pela milésima vez naquela tarde, sentindo-me fraco até para respirar. –Estou te esperando.
-Chego aí em quinze minutos. –Finalizei a chamada, e girei a chave na ignição dando partida no carro rumo à minha casa.
Diversas teorias passavam-se na minha cabeça sobre o que exatamente meus pais falariam comigo, visto que eu sequer possuía alguma importância ou utilidade além de herdar empresas e dar continuidade à arrogância deles. A única coisa que eu sabia, era que eles eram capazes de piorar o péssimo, e mais uma vez... Lidar com problemas virou meu novo hobby.
Ao virar à esquina, logo pude enxergar Jonghyun plantado em frente à minha casa com uma expressão de pavor. Estacionei o carro de qualquer jeito e saí do veículo, encarando-o sem expressão alguma.
-O que houve? –Questionei curioso sentindo meu corpo ficar tenso na medida em que ele relutava a contar. –Fala de uma vez...
-Seus pais descobriram... –Jonghyun engoliu em seco, e me encarou franzindo as sobrancelhas em constante preocupação.
-Descobriram? ...O que eles descobriram? –Um nó se instalava cada vez mais em minha garganta. Jonghyun estava numa tensão que não o pertencia, ele era a zona de calmaria nos meus estresses e surtos, e me amedrontava ainda mais vê-lo naquele estado. –Fala caralho! O que aconteceu? –Segurei fortemente em seus ombros e ele abriu a boca diversas vezes, porém nada saia.
-Eles descobriram que a Sulli terá um filho seu... –Minhas pernas fraquejaram e minha cabeça vacilou uma sinapse ao tentar interpretar o que aquelas palavras significavam. –Eles podem chegar a qualquer momento, por favor, esteja calmo. –Jonghyun parecia ainda mais nervoso do que eu por ter consciência de que não existiam limites para os meus pais.
Mal pude respondê-lo antes de sermos interrompidos por uma buzina esganiçada frente ao portão principal. Olhei na direção do veículo e meu sangue pareceu parar de correr em minhas veias quando meu olhar encontrou-se com o do meu pai. Feição dura e indestrutível. Às vezes não me orgulha saber da nossa semelhança.
Adentrei o portão principal com um Jonghyun encolhido em meu encalço. Reverenciei aquele homem com tamanho desgosto que mal cabia em mim, minha mãe aproximou-se para abraçar-me e sua falsidade era como jogar álcool nas feridas que nem haviam cicatrizado. O que eu não esperava, era que uma terceira pessoa saísse daquele carro com um sorriso maléfico e demoníaco, com uma mão sobre a barriga enquanto vinha em minha direção. Jonghyun travou o maxilar e tencionou completamente com a visão daquela mulher. Fechei minha mão em punho e a encarei inexpressivo.
-O que faz aqui? –Questionei sentindo-me agoniado e revoltado com a presença aquela vadia na minha casa.
-Que pergunta idiota, o seu filho não pode entrar na sua própria casa? Melhor ter cuidado com a forma que fala... –Ela aproximou-se do meu rosto provocando-me náuseas. –As consequências serão maravilhosas, meu amor. –Ela afastou-se e entrou na minha casa sem qualquer restrição. Meus pais já haviam entrado, e eu apertei meus próprios cabelos totalmente sem controle.
-Relaxa amigo, o máximo que você pode fazer é permanecer indiferente a tudo. Vamos lá, vou estar com você. –Jonghyun depositou leves tapinhas em meu ombro, em sinal de conforto.
-O que o Taemin falaria se estivesse aqui...? –Encarei meu melhor amigo sentindo meus olhos umedecerem apenas em lembrar-me do sorriso doce daquele garoto e do quanto ele me acalmaria se estivesse ao meu lado.
-Com certeza lutaria até que fosse para você o escudo impenetrável que te protegeria de tudo e de todos. Se ele continua em seu coração, faça dele a proteção que ele alegou sempre querer ser para você. Aguente isso por ele... –Com uma lágrima escorrendo em meu rosto, segui caminho para dentro daquele lugar sendo seguido por Jonghyun que mantinha os olhos úmidos. Era notório que ele também sentia falta do pequeno, assim como sofria por me ver tão machucado... Desculpa Jongas.
Ao colocar meus pés naquela sala, o clima pesou em meus ombros no momento em que encarei meu pai pela segunda vez naquele dia. Segundos passaram e nenhuma palavra foi pronunciada, na medida em que tentei falar algo, um estalo agudo foi ecoado no recinto, acompanhando de uma forte ardência em meu rosto e uma marca avermelhada de dedos comprovava a agressão. Virei o rosto com o tapa e após suspirar fundo, novamente o encarei, engolindo todo o rancor e o ódio que subiam em minha garganta dilacerando feito ácido.
-Quando você vai crescer? Hein? Eu passo meses trabalhando para você ter um futuro decente como um empresário reconhecido, e é assim que você me retribui? –Meu pai elevou a voz adquirindo um tom avermelhado em sua face e o máximo que eu fazia era encará-lo inexpressivo. –Não vai falar nada? Você me fez interromper uma viagem importante de negócios por causa da sua irresponsabilidade! O que acha que isso fará com a imagem da empresa? Você engravidou uma garota e nem ao menos são casados... O que quer que eu faça seu imprestável? Que eu dê a cara à tapa na mídia por sua causa? Como acha que ficará o nome da empresa? Hã? –Ele bufava alterado e eu não havia movido um músculo, apenas aguentava aquelas palavras que apenas me davam nojo.
-Sr. Choi, não se altere tanto... –A voz daquela garota insuportável chegou as meus ouvidos quase me ensurdecendo. Tamanha era a raiva que eu estava naquele momento.
-Não se preocupe Sulli, você não ficará desamparada... Tomarei conta de tudo. –O meu pai aproximou-se de mim novamente e pôs o dedo contra meu peito com fúria nos olhos. –Você irá assumir essa criança por bem ou por mal, você me ouviu? –Fiz questão de rir frente ao seu rosto, fazendo-o arregalar os olhos e segurar-me pelo colarinho. –DO QUE ESTÁ RINDO, IDIOTA? –Cessei meu riso e soltei-me do seu aperto, endurecendo minha feição perante ele.
-Nunca passou pela minha cabeça abandonar essa criança, não sou um covarde, não sou um canalha... Nunca abandonaria meu filho no momento em que ele mais precisasse de mim... –Aproximei-me do meu pai encarando-o nos olhos profundamente, fazendo-o vacilar em sua expressão. –Não sou igual a você. –Outro estalo foi desferido contra o meu rosto, fazendo-me virar a cara novamente e rir ironicamente do seu ato. –Esse é seu argumento sobre suas ações? Bater-me? Não sou uma criança, Sr. Choi. A sua oportunidade de me educar... Já passou. Eu sou um homem, não um covarde... Sequer passou pela minha cabeça abandonar o meu filho, algo que na vida, sequer teve importância para você.
-CALE A BOCA SEU IMPRESTÁVEL. –Sua mão foi levantada contra mim, e eu apenas fechei os olhos liberando tímidas lágrimas em meu rosto, esperando o impacto... Este que não veio. Abri os olhos e encarei o homem de feição dura que me encarava friamente. –Você é um inútil... Não vim perder meu tempo em aguentar suas asneiras. Vim apenas avisar-lhe que não vacilarei em meu trabalho por causa da sua imprudência, por isso, em um mês você estará casado, e assumirá essa criança oficialmente. –Arregalei meus olhos em sua direção, e de relance pude perceber o largo sorriso que aquela vadia deixou escapar. Ah, mas isso não iria ficar assim...
-Não vou me casar com essa mulher, não vou passar a minha vida preso a essa vadia interesseira. –Encarei-a furioso e esta me olhou arqueando uma sobrancelha. –E, além disso, não vou me casar com quem não amo. –Fitei meu pai novamente, vendo-o sorrir irônico e cruzar seus braços parecendo surpreso.
-Amor? Realmente acha que isso é garantia de algo? Você não sabe de nada, garoto. Não perca seu tem... –Ri irônico, interrompendo sua fala.
-Não perca seu tempo você! Não sou culpado da sua frustação quando se trata de sentimentos! E sim... Alguém fez questão de entrar na minha vida e bagunçar tudo da melhor forma possível, e se eu tiver que passar minha vida ao lado de alguém, será com essa pessoa. –Endureci minha feição ao notar seu descontentamento. Meu coração ainda apertava em falar dele, as cicatrizes abriam ainda mais com as doces lembranças que ele me trazia, mas ele era minha única força naquele momento, mesmo que não estivesse presente.
-É mesmo, Choi? E onde ele está agora? –Aquela vadia desnaturada aproximou-se do meu pai cruzando os braços e encarando-me com a sobrancelha arqueada.
-Espera... Ele? Vocês estão falando de um homem? –Meu pai a encarou com uma feição incrédula, e eu arqueei a sobrancelha.
-Sim. –Respondi simplesmente, fazendo-o bufar e avermelhar instantaneamente o seu rosto.
-Você me dá nojo... Seu imprestável! Além de um filho inútil, tinha que ser gay? Onde você acha que vai parar? –Eu não entendia porque ele estava tão revoltado, mas ao contrário do que se imagina, aquelas palavras não me afetavam, mas sim... Fortalecia-me a querer fugir daquele homem, eu permanecia impenetrável como se ele estivesse ao meu lado.
-Espero que eu vá parar em um lugar longe o bastante de você. Você é realmente digno de sentir nojo de alguém? –Era quase possível visualizar faíscas em seus olhos, estava furioso, porém não me abalava. –E quanto a você... –Encarei novamente aquela vadia que permanecia fitando-me descontente. –Já disse e repito que não tenho e nem planejo ter nenhum tipo de relação com você, eu não te suporto garota! Minha única prioridade é o meu filho, por isso... É melhor ter consciência dos seus limites.
-Está falando isso para mim? Aquele idiota te dava fácil não é? Aquela carinha de anjo nunca me enganou... Até que ele demorou a te dar um pé na bunda... Sabe, onde ele está agora? Ele te deixou sozinho? –Aquela vagabunda aproximava-se de mim sorrindo irônico, sentia meu sangue pulsando demasiado em minhas veias, não conseguia suportar aquelas palavras, não permitiria que aquela vadia pronunciasse o nome do meu menino com aquela boca imunda. Agarrei seus cabelos na região da nuca fazendo-a gritar de dor, e olhei profundamente em seus olhos, assustando-a.
-Que seja a última vez, que você toque no nome do Taemin dessa maneira, não fale dele como se ele fosse você. –Soltei seus cabelos brutalmente, e ela encarou-me com feição chorosa. –E quanto ao fato dele não estar presente... Posso te assegurar de que eu amei e fui amado, mas e você... –Aproximei-me dela, sorrindo “docemente” em sua direção. –Sabe o que é isso? Ou é tão baixa ao ponto de não conseguir ao menos se apaixonar? Você realmente me dá pena... –Afastei-me dela, vendo-a olhar-me furiosa, e encarar o meu pai que ainda fitava-me parecendo surpreso e desconcertado.
-Sr. Choi, eu exigo o adiantamento deste casamento. –Aquela garota esperneava e gritava como uma criança birrenta. Completamente insuportável.
-Qual a parte que você não entendeu de que eu não vou me casar com você? –Endureci minha feição em sua direção, fazendo-a encarar-me ainda mais furiosa.
-Você não tem escolha Minho... Já está decidido! Hoje mesmo tratarei com uma equipe para que a preparação do casamento seja iniciada. –Indagou o meu pai ainda sério, passando seus braços no ombro direito daquela vadia.
-Eu já disse que não me casarei com esta mulher, você não pode me obrigar! –Levantei a voz para o meu pai, sentia-me saindo do meu controle a cada minuto que passava naquela sala.
-Você não ouviu? Você não tem escolha, meu amor! Ou prefere que o seu filho sofra as consequências...? –Aquela vadia acariciava sua barriga ainda imperceptível, e me encarava sorrindo maleficamente. Ela é uma louca descontrolada.
-O que está insinuando, garota? –Meu pai exaltou-se ao lado desta, que sorriu diabolicamente ao nos fitar novamente.
-Isso mesmo que o senhor ouviu Sr. Choi. Se o Minho recusar-se a este casamento, e se os preparativos não estiverem prontos em um mês... Eu vou tirar essa criança! –Agarrei-a pelo pulso, fazendo-a assustar-se e encarar-me com os olhos arregalados.
-Faça isso e eu te caço até nas profundezas do inferno, sua vadia. Tente algo contra o meu filho que eu me certificarei que você seja enterrada da forma mais podre possível. Como você pode ser um ser humano? –Apertava cada vez mais seu pulso fazendo-a distorcer sua feição devido à dor, podia jurar que com mais esforço, poderia tê-lo quebrado.
-Eu não estou brincando seu imbecil. Apenas digo que o meu recado está dado. Só tente me recusar... –Ela soltou-se brutalmente do aperto, e após encarar todo mundo, saiu apressadamente da minha casa, batendo a porta com força. Fechei minhas mãos em punho, encarando meu pai mortalmente.
-É ESSA VADIA DESCONTROLADA QUE VOCÊ QUER DEFENDER? –Elevei a voz, fazendo-o encarar-me furioso novamente.
-Yah, não me importa o que ela seja, você irá casar-se com ela por bem ou por mal. Tanto pela criança, quanto pela empresa, certifique-se de que seu nome esteja limpo até lá... –Ele falava calmamente como se não houvesse a vida de uma criança em jogo, como se...
Meus pais saíram batendo a porta antes que eu pudesse falar algo, e sim... Minha mãe permaneceu calada o tempo inteiro, é apenas isso que ela faz, apenas concorda com as decisões do meu pai sendo elas injustas ou não, se vida de alguém estiver em jogo ou não, se custe à felicidade do próprio filho ou não. Suspirei enquanto meus dedos atravessavam os fios dos meus cabelos, e mesmo que eu não quisesse e odiasse este estado, deixei que aquela angústia saísse de mim, deixei o choro apoderar-se das minhas expressões, e as lágrimas molharem meu rosto e lavarem a minha alma. Jonghyun aproximou-se apertando meus ombros em conforto, mas depois daquele choro, eu não me importaria mais, acredito que meus pais deixaram de significar algo para mim no momento em que me abandonaram mesmo que estivessem ao meu lado. Na boa, me chamem de rancoroso, vingativo ou que quiserem, mas ou você liga o foda-se ou quem se fode é você.
-Yah, vai ficar tudo bem... –Ouvi Jonghyun falar-me calmamente exatamente o que eu queria acreditar. Ele batia em meus ombros e passava as mangas do seu casaco em meu rosto, limpando as minhas lágrimas. Acredito que ele esteja surpreso, definitivamente não sou mais o mesmo, não depois dele aparecer na minha vida. Virei uma maria-mole por culpa daquele garoto de bochechas salientes, mas definitivamente não precisava de mais nada que não fosse sua presença. Porque você não está aqui? –Vou te deixar em paz por hoje, acho que você precisa ficar sozinho... Vê se descansa um pouco... –Jonghyun sorriu-me calmamente e bateu em meus ombros antes de deixar a minha casa, até onde eu o conheço, não era isso que ele queria, mas ele me conhecia o bastante para saber do que eu precisava naquele momento.
Deixei-me cair desleixadamente no sofá, aconchegando-me nas almofadas e molhando-as com o choro ainda constante. Fechei meus olhos e passei a controlar minha respiração no intuito de tentar acalmar os meus nervos... Uma leve brisa ultrapassou a janela, esvoaçando as cortinas e chocando-se em meu rosto. Um pequeno sorriso escapou do meu rosto na medida em que lembranças do Taemin vagavam à minha mente, não conseguia odiá-lo, por mais que não me conformasse com aquele adeus sem sentido... Ainda sentia como se ele estivesse por perto por mais estranho que parecesse... Ou apenas eu estava ficando louco? Em cerca de alguns minutos, deixei minha mente e meu corpo entregar-se ao sono, sentindo-me ser embalado naquela brisa leve e doce... Como o meu pequeno Taemin...
-Eu vou estar aqui quando você precisar. Sim, eu vou estar. Eu te juro isso. E sabe por quê? Porque eu sou incapaz de te deixar sozinho. Eu sou incapaz de te ver sofrendo, eu sou incapaz de ver uma lágrima cair do teu rosto sem te ajudar a enxugar, eu sou incapaz de te ver sofrendo e não sentir nada. Eu sou incapaz.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.