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História Falling in love for the last time. - One Wish.


Escrita por: gimavis

Notas do Autor


Oi meninaaaaaas. Quanto tempo ))): Sei que passei dos limites dessa vez, mas isso é culpa da Lauren, ela me gongou um pouco, me deixou bolada com a cara dela e ai eu fiquei meio sei lá. Mas agora já está tudo bem e o capítulo está ai, grande e quentinho. Senti saudades. Não sei se o capitulo ficou bom, mas eu espero que gostem e desfrutem ao máximo dele... Qualquer erro, já sabem, conserto depois. <33 ps: Amei os comentários do capítulo passado, eu amo quando vocês surtam. USAUHUSHUSAHUASH Na verdade eu amo vocês mesmo. ♥

Capítulo 41 - One Wish.


 

: - Shiu! Calada, amor.

Eu disse baixo e um pouco trêmula enquanto cobria sua boca com a mão direita, meu corpo nu completamente arrepiado por conta do vento que batia. Lauren tinha seus olhos verdes arregalados, suas pupilas dilatas ao extremo, se eu não estivesse tão assustada, provavelmente teria ficado admirando.

: - Hmmm.

Ela resmungou cambaleando para o lado quando pisou em falso na areia. Agarrei-a pela cintura e imprensei seu corpo na rocha, sem tirar a mão de sua boca.

: - Quietinha. - Falei sussurrando.

: - E se alguém nos pegar aqui?

A voz disse atrás da grande pedra, eu pude enxergar duas sombras pela brecha que havia entre a rocha que Lauren estava encostada e a do lado. Concentrei-me para ouvir melhor, estava bêbada mas ainda era capaz de reconhecer aquela voz.

: - Não vão, não tem ninguém aqui.

A outra voz disse, um tom completamente embriagado, assim como a primeira, igualmente familiar.

: - Eu estou com medo.

A primeira voz vacilou. Tirei a mão da boca de Lauren e a olhei estática, ela me olhava de volta da mesma forma.

: - Medo de que? Eu estou aqui. – A segunda voz assegurou. Cobri a minha própria boca com a mão e escolhi meus ombros. Eu não sabia se a expressão de Lauren era por conta do que reconheceu, ou por conta do álcool que pesava em seu organismo. – Agora vamos parar de falar, eu não quero pensar e perder a minha coragem.  

No momento seguinte tudo o que eu ouvi foi o barulho do vento, nada mais que isso. As vozes se calaram, e eu sabia muito bem o motivo do silêncio. Respirei fundo e retirei a mão da minha boca, entrelaçando meus dedos nos de Lauren e chegando um pouco para o lado, apenas para olhar pela brecha entre as rochas. A cena que vi ali me deixou tão pasma, que eu só não cai para frente porque em questão de segundos os braços de Lauren estavam em torno da minha cintura.

: - Eu acho que bebi demais. – Lauren disse enquanto olhava o mesmo que eu por cima do meu ombro. – Eu não estou vendo isso.

: - Vou parar de beber.

Eu disse baixinho enquanto arregalava mais os meus olhos, se possível. Por quê? Bom, vou lhe explicar. A primeira voz era a de Normani, a segunda voz a de Dinah. O que Lauren e eu estávamos vendo? As duas aos beijos, a coluna de Mani levemente curvada para trás enquanto Dinah mantinha um braço ao redor de sua cintura, e a outra mão embolada em seus cabelos. A cena era tão inacreditável que eu me peguei arfando pela milésima vezes em dez segundos.

Lauren apertou mais seus braços ao redor da minha cintura, nossos corpos ventando de um lado para o outro, era como se não tivéssemos firmeza nas pernas para não manter de pé, e não tínhamos. Maldito álcool, tira a força e a heterossexualidade das pessoas. Esbocei um sorriso com o pensamento.

Mani ergueu os braços e rodeou o pescoço de Dinah, se erguendo na ponta dos pés para aprofundar mais ainda o beijo. As mãos de Dinah deslizaram pelas costas dela, o vestido branco que Normani usava parecia agradá-la demasiadamente. Elas estavam tão desesperadas que eu podia ouvir o barulho de seus lábios se chocando, seus seios grudados, seus cabelos voando para o lado por conta do vento um pouco mais forte e seus corpos em uma esfregação tão intensa que Lauren resfolegou sobre o meu ombro.

: - Isso é nojento.

Ela disse cravando suas unhas na minha barriga. Incapaz de tirar meus olhos da cena, apenas pisquei.

: - Nojento? – Estava com vontade rir.

: - As minhas amigas quase se... comendo. Camz, isso é nojento.

Em um surto de maluquice, ela começou a rir no meu ouvido, seu corpo tremendo por conta das risadas que cortavam sua garganta. Eu ri junto com ela, colocando o dedo indicador sobre os lábios, indicando que ela deveria fazê-lo mais baixo.

: - Nojento, né? Há algum tempo atrás você estava me chupando e não estava achando nenhum pouco nojento. Ridícula.

: - Fazer com a minha mulher é uma coisa, ver as minhas melhores amigas até então héteros, é outra completamente diferente.

Eu não sei como que Lauren conseguiu dizer aquela frase, sua voz saiu tão embolada que eu me perguntei se era um novo dialeto.

: - Eu só sei que estou amando.

Eu disse rindo me escorando na pedra.

: - Acho que devemos mudar o nome da banda, um Gay Harmony se encaixaria melhor. – Lauren largou minha cintura e deu dois passos para o lado. – Na verdade eu acho que eu... Eu não acho... Ai, cadê minha calcinha? Não gosto de sentir esse vento batendo nas minhas coisas.

Eu estava rindo tanto que tampei minha boca com as mãos enquanto dividia meus olhares entre as meninas e a bêbada da minha namorada.

: - Dá próxima vez eu vou dar de calcinha, só colocar de ladinho e...

: - Cala a boca.

Puxei-a pela mão de encontro ao meu corpo e cobri sua boca novamente, observando as meninas se separarem.. Dinah e Normani se olharem por alguns segundos, sorrisos tímidos, trocaram um selinho, outro, mais outro.

: - Acho que devemos voltar.

Mani disse colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, quase não se mantendo direito em pé sem os braços de Dinah ao redor de sua cintura.

: - Eu queria poder ficar contigo mais um pouco, só por hoje.

Dinah disse depois de umedecer os lábios. Gente, eu estava mesmo escutando aquilo? Lauren mordeu minha mão que estava sobre sua boca, me fazendo dar um leve tapa em sua bunda.

: - Para. – Resmunguei para ela.

: - A gente pode... Ficar no meu quarto. Você pode dormir lá se quiser. Mas vai me prometer que amanhã vai agir normal, que não vai me tratar diferente.

Ai, socorro, elas resolveram discutir a relação naquela altura do campeonato. Sabe, eu queria vestir minhas roupas.

: - Elas vão foder, amor. – Lauren riu tirando minha mão de sua boca, me encarando. – Eu vou vomitar. Eu estou com ciúmes das duas, meu Deus, eu não estou bem. Não, pera, pera, eu quero que elas transem agora, aqui na praia igual à gente.

: - Se você não ficar quieta agora pra eu ouvir a fofoca, eu vou te bater.

: - Bate.

: - Vem aqui.

Eu ri e a puxei pela nuca, escondendo seu rosto na curva do meu pescoço. Quando eu tinha Lauren calada novamente, voltei a prestar atenção na conversa, infelizmente perdendo a resposta de Dinah.

: - Vamos procurar a Lauren e a Mila antes, a Ally já está nervosa atrás delas.

Estamos aqui, bem aqui. Eu pensei acariciando as costas de Lauren.

: - Eu vou procurá-las e você sobe para o quarto, te encontro lá. Ok?  – Dinah puxou Normani pela cintura, colando seus corpos. – Agora me dá mais um beijo.

Eu observei incrédula as duas iniciarem outro beijo, sei lá por quanto tempo permaneceram naquilo. Depois de finalizarem a agarração e trocarem alguns sorrisos, começaram a se afastar das rochas, me fazendo suspirar em alívio.

Esfreguei o rosto com as mãos e encarei Lauren, que piscava tão devagar que entendi apenas uma coisa em seu olhar: Eu vou dormir, Camila.

: - As meninas já foram, eu vou colocar a roupa e nós vamos voltar para o Resort.

Ela apenas concordou com a cabeça e se encostou na rocha, enquanto eu cambaleava para o lado tentando enxergar minhas roupas. Comecei a pegar peça por peça, graças a Deus a minha calcinha não havia se encostado na areia. Ainda com a imagem das meninas se pegando na mente, vesti as roupas com muita dificuldade, estava grudenta e bêbada, o que me impedia de levantar uma das pernas para enfiar a calça sem tombar algumas vezes. Me peguei rindo igual a uma demente quando passei a blusa por minha cabeça, me virando de costas.

A cena que vi me fez piscar um pouco desorientada, o cheiro da maresia me deixando mais tonta ainda. Lauren estava deitada na areia, os braços abertos, os olhos fechados e  o vestido quase mostrando tudo o que não poderia mostrar. Levei uma das mãos ao rosto.

: - Lauren, levanta dessa areia, vamos embora.

: - Eu quero dormir aqui hoje.

Sua voz era baixa e sonolenta, se eu não agisse rápido ela pegaria mesmo no sono.

: - Que dormir aqui o que, Lauren. Anda, levanta, vamos embora antes que alguém perceba a nossa ausência.

Falei com dificuldade, mas tinha consciência de que estava muito mais sã do que ela.

: - Ai, você é chata. A areia está tão fofinha, olha só...

Com um sorriso no rosto ela ergueu as duas mãos, batendo com elas na areia fina, jogando um amontoado sobre sua barriga.

: - Acho que colocaram alguma droga na tua caipirinha. – Comentei rindo enquanto me curvava, estendendo minha mão para ela. – Anda, vem.

: - Não.

: - Vem logo, vai ficar com a bunda cheia de areia, bichinho. Se pegar uma coceira nesse rabo, depois não diz que não avisei.

: - Eu só queria dormir.

Ela resmungou me dando a mão, onde quase caindo para trás, eu a levantei.

: - Mas vai, só que na cama e de banho tomado.

A segurei pelos ombros e beijei seu beicinho, colocando uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha.

: - Cadê as meninas?

Olhei seus seios quase completamente descobertos e suspirei.

: - Já foram, eu lhe disse isso. – Expliquei segurando a alça arrebentada de seu vestido, tentando amarrá-la sem muito sucesso. – Cobre esses peitos, não podemos chegar ao resort com você e essa sua cara de quem acabou de ser estuprada.

: - Mas eu fui estuprada. – Ela rebateu com um sorriso sacana, se curvando para frente. Envolvi meus braços em sua cintura e neguei com a cabeça, cheirando seu pescoço. – Você me estuprou, e preciso dizer que gostei muito disso.

Suas mãos me seguraram pelo cabelo, enrolando com tanta força que era como se ela quisesse arrancar os fios perto da minha nuca.

: - Farei isso mais vezes. – Me perdi em seu olhar por alguns instantes. – Mas agora vamos embora.

: - Me dá um beijo.

: - Lhe dou quantos quiser, mas dentro do quarto e trancadas. – Desgrudei nossos corpos e entrelacei nossos dedos, puxando-a para frente. – Agora vamos, sua bêbada.

: - Engraçadinha.

Lauren enrolou tanto a língua para falar “engraçadinha” que eu quase tropecei na areia de tanto rir. Fomos caminhando de volta para o Resort enquanto fazíamos comentários sobre Normani e Dinah, era quase inacreditável, eu mesma não acreditaria se não tivesse visto com meus próprios olhos.

Entramos com cautela pela recepção, onde eu obriguei meus olhos a rodarem pelo local a procura de Jodi, mas ela estava tão bêbada que deveria estar dormindo há muito tempo, o que era muito bom. Puxei Lauren para o elevador e apertei o número do nosso andar, seu corpo mole se chocando contra o meu dentro da caixa de aço, me imprensando na parede. Estávamos completamente imundas de areia, eu já estava ficando nervosa, tudo pinicava. 

: - Cacete, eu mandei você cobrir esses peitos, Lauren.

Puxei seu vestido para cima irritada, torcendo os dedos para amarrar a alça, lutando para afastá-la de mim um pouco.

: - Eu quero tirar o vestido, pra que amarrar isso?

Sua voz saiu rouca bem no pé meu ouvido, suas mãos abusadas se enfiando embaixo da minha blusa. Qual era a dela? Não podíamos transar dentro do elevador.

: - Amor, para. – A afastei pelos ombros com uma risada, seus olhos desorientados me encarando frustrados. – Vou te dar um banho gelado. Eu estou bêbada, mas você está três vezes pior.

: - Eu estou ótima. – Ela riu mais do que o necessário, jogando a cabeça para trás maravilhosamente, dando dois passos tontos para frente assim que a porta do elevador se abriu. – Eu não estou tão bêbada, eu posso até mesmo fazer a coreografia de Me and My Girls aqui.

Ela disse em voz alta quando saímos do elevador, o que me obrigou a colar meu peito em suas costas e tampar sua boca. Sussurrei em seu ouvido.

: - Fala baixo, lolo, você vai acordar o andar inteiro. Shiu! – Eu sentia que estava quase a sufocando com o aperto de minha mão em seu rosto, mas se eu tirasse ela me xingaria de tudo quanto é nome em muito bom som, por não tê-la deixado fazer a coreografia de M&MG no meio do corredor, então caminhei com ela até a porta do meu quarto daquele jeito mesmo. – Fica caladinha enquanto eu abro a porta, se apoia ai.

A encostei contra a parede e me amparei na mesma, caçando o cartão de acesso em um dos meus bolsos. Orei mentalmente para que Jodi não me aparecesse ali, ou entraríamos na porrada mesmo sobre efeito de álcool.

: - Abre logo, quero fazer xixi.

Lauren disse fazendo uma careta, escorregando as mãos para o meio das coxas e apertando as pernas. Seu cabelo estava todo bagunçado, aquela cara pós-sexo que me enchia de tesão.

Tirei o cartão no bolso esquerdo da calça que eu vestia e o deslizei pela porta, quer dizer, eu tentei. Pisquei algumas vezes para clarear mais a minha visão, em vão. Tentei outra vez, não foi, tentei outra, não foi, tentei outra...

: - Porra.

Xinguei estressada e Lauren resmungou.

: - Eu vou fazer xixi aqui no chão. – A olhei aterrorizada antes de tentar outra vez. – Eu to sem calcinha mesmo.

: - Pera, não me estressa.

Passei a mão pelo cabelo e suspirei, fechando os olhos rapidamente antes de tentar outra vez, finalmente conseguindo enfiar no buraco certo. Aquilo era irônico, porque se formos levar em consideração o fato de que há pouco tempo atrás eu consegui acertar direitinho um certo buraco... Balancei a cabeça em negação e comecei a rir dos meus pensamentos enquanto empurrava a porta, deixando Lauren passar correndo na minha frente. Assim que a luz estava acessa, fechei a porta atrás de mim e me encostei nela, sentindo o piso gelado açoitar meus pés descalços. Peraí, meus pés descalços?

Arregalei os olhos e olhei para baixo, constatando o que imaginei.

: - Droga!

Revirei os olhos. Havíamos deixado nossos sapatos no salão, eu que não iria descer para buscar, não mesmo. Dei de ombros e puxei minha blusa de veludo para cima, a passando por minha cabeça. Deixei a peça pelo chão mesmo e fui caminhando em direção ao banheiro com passos tortos, tudo o que mais queria era tomar um banho.

: - Camz?

Lauren gritou do ambiente fechado, me fazendo sorrir. Aquela garota não largava do meu pé. Pera, mas quem disse que eu queria que ela largasse?

: - Estou indo.

Avisei me curvando para retirar a calça, me apoiando na parede até tirá-la dos meus tornozelos. Deixei jogada por lá e entrei no banheiro, a areia embaixo dos meus pés me irritando imensamente.

: - Me dá banho. – Lauren pediu sentada no vaso, a coluna curvada para frente, os cotovelos nas coxas e seu rosto em suas mãos. Sorri me aproximando. – Se eu tomar sozinha vou dormir no box.

: - Eu vou tomar com você. – Afaguei seus cabelos e me curvei para cheirar sua nuca, a arrepiando. – Vem, se apoia em mim.

Era muito idiota da minha parte pedir para ela se apoiar em mim, eu mal me aguentava. Suspirei e coloquei as mãos de Lauren em meus ombros, a puxando para cima. Quase caímos, o que nos fez rir exageradamente. Eu me lembraria de beber menos da próxima vez.

Nos arrastamos para dentro do box, onde eu a coloquei primeiro embaixo da ducha gelada, ela precisava mais do que eu. Lauren fez birra por causa da temperatura, mas eu disse que se ela aguentasse por alguns minutos, eu a recompensaria de alguma forma. É claro que eu não faria nada, estava apenas prometendo o que mães prometem aos filhos quando eles não querem comer. Falsas promessas nesses casos podem. Depois de muita ladainha e ter nossos corpos livres da areia incômoda, saímos e nos secamos, quer dizer, eu nos sequei. Vesti uma calcinha preta e uma regata vermelha. Lutei pra colocar a roupa em Lauren, já que ela estava concentrada em rir de algo engraçado dentro do banheiro, se recusando a levantar um dos pés. Quando ela estava confortável em sua cueca boxer preta e uma blusa branca de manga, a puxei para o quarto, retirando a toalha de seus cabelos para deitá-la na cama.

: - Amor, será que meninas estão transando?

Lolo me perguntou enquanto rolava para o lado, ficando de costas para mim. Ri de sua pergunta e andei até a parede para desligar a luz, andando de volta para a cama. Será que elas estavam? Neguei com a cabeça.

: - Não sei, mas acho que não.

Subi na cama e fui engatinhando, as luzes do lado de fora iluminavam fracamente o rosto de Lauren, seus olhos verdes em um brilho intenso. Suspirei quando deitei a cabeça no travesseiro.

: - Mas elas ficaram.

Lauren disse o óbvio enquanto fechava os olhos, aquelas típicas conclusões de gente bêbada.

: - Sim, ficaram. – Eu, um pouco mais lúcida por causa da ducha gelada, sorri e deslizei meu dedo indicador por sua sobrancelha esquerda. – Agora esqueça isso e durma.

: - Uhum... – Resmungou sacudindo a cabeça para cima e para baixo. – Me... Abraça.

Pediu toda sonolenta, um biquinho tão lindo nos lábios que fez meu coração acelerar. Afaguei seus cabelos molhados e me aproximei de seu corpo, ficando de lado para descansar minha perna direita em cima de sua bunda. Meu braço se enfiando em baixo da blusa que ela vestia, abraçando seu quadril e a trazendo mais para mim.

: - Assim?

Perguntei com a boca colada em sua testa, dando um leve beijinho.

: - Assim. – Senti seu suspiro quente em meu pescoço, seguido de uma mão também quente se apossando do tecido leve na minha regata. – Seu cheiro...

: - Durma. – Pedi escondendo um sorriso contra a sua pele, meu nariz quase em seu cabelo. – Descanse, tivemos uma noite agitada e amanhã teremos o primeiro show da tour.

: - Eu sei.

: - Então... – Lhe dei outro beijinho na testa, meus dedos acariciando suas costas. Bocejei brevemente. – Boa noite, ou melhor, bom final de noite.

: - Boa... noite, Camz. – Sorri.

: - Eu te amo.

Sussurrei me sentindo completamente sonolenta. Dormiria um suspiro.

: - Te amo. – Suspirei.

 

Despertei no dia seguinte com alguém cutucando as minhas costas, mas me recusei a abrir os olhos por conta da dor de cabeça infeliz que descobri sentir. Era como se uma escola de samba estivesse tocando dentro do meu cérebro, enviando arrepios por meu corpo. A última vez que fiquei daquele jeito foi em Paris, e Paris me lembrava...

: - A-amor?

Lauren me chamou, sua voz bem fraca, sua mão me balançava sem muita força pelas costas.

: - Hmmm.

Resmunguei forçando meus olhos a se abrirem, minha garganta seca me rendendo uma careta. O gosto do álcool na ponta da língua fazendo minha boca amargar.

: - Eu estou passando mal.

Não sei o que me fez abrir os olhos com pressa, se foi o tom choroso em sua voz, ou se foi o que a ouvi dizer. Virei-me para ela em um estalo, minha cabeça doendo tanto que fiquei tonta ao me sentar. Mas ignorei, precisava.

: - O que foi? O que você está sentindo? – Perguntei quando consegui focar meus olhos em seu rosto... Pálido. Lauren estava com um dos braços sobre a testa, os lábios levemente separados e ressecados, a respiração tão pesada que eu me desesperei. – Amor?

Espalmei minhas mãos em seu rosto.

: - Eu a-acho que é a ressaca. – Ela confessou gemendo baixinho. – Estou com uma dor... horrível de cabeça, e quero vomitar. Me sinto fraca, eu não sei.

Suspirei preocupada e conformada. Quem mandou beber tanto, mocinha? Mas quem era eu para falar?

: - É a ressaca mesmo, lolo. Também estou com uma dor de cabeça terrível. - Acariciei seu rosto, tirando seu braço da minha visão. – Você precisa comer, colocar algo no estomago e depois tomar um remédio. Eu vou lhe buscar algo.

: - Não. – Ela segurou minha mão. – Fica aqui comigo.

: - Quer ir para o banheiro?

Perguntei com o coração saltando na boca quando vi seus lábios tremerem, pela careta que ela fez podia afirmar que havia algo subindo por sua garganta.

: - Nã-não.

Ela estava trêmula, suava frio.

: - Você não pode vomitar na cama, está bem? – Acariciei sua mão e a ergui um pouco para beijá-la. – Se o enjoo piorar me avisa para te levar até o banheiro.

Eu estava ignorando qualquer sintoma da minha ressaca por ela, o importante era cuidar dela, depois eu cuidava de mim.

: - Nunca mais eu vou beber na minha vida.

Lauren choramingou, aquilo me deu uma peninha que cheguei a fazer beicinho. Me curvei e selei seus lábios ressacados, roçando nossos narizes.

: - Vai passar logo. – Sorri triste. Ela não abriu os olhos, eu também não queria que ela o fizesse, a dor de cabeça só pioraria. – Agora vai ficar quietinha aqui por uns minutos enquanto eu vou buscar algo para você comer. Não vou pedir aqui, porque se alguém nos ver juntas...

: - Não quero ficar sozinha.

Ela resmungou manhosa. Ô Deus, eu tive uma bêbada para cuidar na noite anterior, e um bebê na manhã seguinte.

: - Eu tão pouco quero que fique, mas precisa. Eu volto logo, preciso de um café bem forte para nós e alguns analgésicos. Vou correndo e volto correndo para Jodi não me ver. Confia em mim?

: - Confio. – Suspirou.

: - Então. – Coloquei sua mão sobre sua barriga. – Fica respirando bem fundo, se der vontade de vomitar, corre para o banheiro. Eu volto logo.

: - Ok.

Foi tudo o que ela disse antes de se deitar de lado, posição fetal. Me levantei da cama e minha cabeça girou, uma tremedeira do inferno me fazendo suar frio. Minha boca estava com um gosto tão ruim que eu mesma estava sentindo asco do meu hálito de cachaça. Me arrastei para o banheiro e fiz minha higiene matinal, me sentindo um pouco melhor depois de ter os dentes limpos.

Vesti um short jeans e nem me dei o trabalho de trocar de blusa, apenas ajeitei o cabelo e sai do quarto, orando para conseguir chegar de pé no restaurante do Resort. Maldita ressaca. Quando cheguei ao meu destino, pedi o que queria e arrumei tudo em uma bandeja, alegando que eu mesma levaria. Respirei fundo umas trinta vezes para segurar a bandeja com força, estava cada vez mais impossível. Minha boca começou a salivar, e eu percebi que aquilo era um sinal clássico da ânsia de vomito que me perturbou. Prendi a respiração e sai do elevador, dando de cara com um alguém igual ou pior do que eu.

: - Dinah.

Eu disse fraca me encostando na parede, minhas mãos tremendo.

: - Oi, Mila.

Ela disse sem vontade alguma, uma das mãos na cabeça.

: - Ressaca?

Perguntei o óbvio e ri, minha testa latejando.

: - De trezentos bêbados.

Dinah riu com seu humor ácido e revirou os olhos, fazendo uma careta logo depois. Rapidamente algo me veio à cabeça, o que me fez olhá-la com os olhos estreitos e um sorriso desconfiado no canto dos lábios.

: - O que foi?

Como ela não era boba e percebia todas as minhas mudanças de expressão, me perguntou.

: - O que? Nada.

Decidi desconversar naquele momento, deixaria para confrontá-la quando estivesse com a cabeça um pouco menos latejante. Dinah ergueu a sobrancelha.

: - Sei...

Ri fazendo uma careta pela dor e me afastei um passo.

: - Bom, deixa eu voltar para o quarto, lolo está morrendo em uma ressaca pior do que a nossa, nem consegue sair da cama.

: - Ela precisa melhorar, temos que estar Alá Beyoncé em cima daquele palco hoje, ou Jodi nos mata.

Dinah bufou e apertou o botão do elevador.

: - Ela vai melhorar, vou cuidar dela. – Pisquei um dos olhos e me afastei mais um pouco. – Cuide-se também, tome um remédio. Nos vemos daqui a pouco.

Dinah me mandou um beijinho e entrou no elevador, onde apenas me virei de costas e segui para o meu quarto. Se ela pensava que eu iria deixar passar o que vi na noite passada sem zoá-la pelo ano inteiro, estava muito enganada. Só de lembrar me dava vontade de gargalhar, o que eu faria se conseguisse ao menos abrir a boca direito.

Entrei no quarto e fechei a porta com o pé, encontrando Lauren voltando do banheiro, ou melhor, se arrastando. O rosto pálido e suado, os cabelos bagunçados, os olhos pequenos e avermelhados, parecia que ela havia chorado. Coloquei a bandeja em cima da cama com o coração apertado e me virei para ela, puxando-a pelas mãos para que se sentasse.

: - Vomitou?

Perguntei afagando seus cabelos, onde ela rapidamente escondeu o rosto na curva do meu pescoço.

: - Uhum.

Confessou fungando um pouquinho. Beijei sua cabeça e esfreguei suas costas.

: - Vai se sentir melhor agora. – Com a mão livre puxei a bandeja para perto, fechando os olhos quando a dor em minha cabeça aumentou. – Olha, eu trouxe tudo o que você gosta.

: - Não quero comer, Camz. Meu estomago está... Argh!

: - Eu sei, e é por isso que precisa comer. Está fraquinha. – Suspirei. – Vamos comer um pouquinho e tomar o café forte, nós duas. Tudo bem? Depois o analgésico, para não tomar de barriga vazia.

Lauren respirou fundo, parecia criar coragem.

: - Temos que melhorar, lolo, temos um show hoje e precisamos dar tudo de nós, nossos fãs não merecem essa falta de consideração. Estar em cima de um palco, mas desejando a cama ou o vaso sanitário? Não.

: - Tem razão. – Lauren acariciou o meu pescoço, sua mão trêmula. – Sempre tem.

: - Sempre tenho. – Eu ri baixinho e a afastei pelos ombros gentilmente. – Quer que eu te dê na boca ou consegue comer sozinha?

Perguntei esfregando suas coxas com as mãos, louca para ver aquelas bochechas coradas novamente. Estava tão... branca, mais do que o normal.

: - Eu consigo, amor. – Lauren sorriu fraco. – Para de pensar um pouco em mim e pense em você também.

: - Nem pensar. – Puxei a bandeja para o nosso meio e segurei uma fatia de melancia entre os dedos. – Morda.

Segurei a fruta na frente de sua boca e ela riu, negando com a cabeça antes de morder bem pouquinho. Fiz o mesmo que ela e mordi, mastigando com dificuldade.

: - Você é linda até de ressaca.

Lauren disse depois de morder mais um pedaço da melancia.

: - Aé, pena que você é um pouco cega.

Eu ri para ela e me curvei para selar nossos lábios, nos duas gemendo juntas pela pontada intensa que sentimos na cabeça. Pelo visto aquela manhã seria mais longa do que o normal. 

O dia passou rapidamente, ao contrário do que eu achei que passaria. Fomos ao local do show para ensaiar lá pelas 12:00 da tarde, todas com a mesma cara, até mesmo Jodi. Lauren e eu ainda não havíamos conversado com Mani e Dinah, que para o meu espantado estavam agindo da mesma forma, as mesmas brincadeiras, a mesma irmandade de sempre, como se a noite que se passou não tivesse afetado em nada. Bom, aquilo me parecia muito bom, até porque Dinah tinha Siope.

As 19:00 da noite estávamos no camarim, nos arrumando para o show que estava marcado para começar as 20:00. Eu podia ouvir as pessoas gritando do lado de fora, o coro de uma multidão puxando o refrão de nossas músicas estava me rendendo bons arrepios, estava ansiosa demais.

O lugar do show se chamava Siara Hall, ainda em Fortaleza, capacidade para 14 mil pessoas, 14 mil pessoas que estavam me deixando com vontade de gritar. As meninas riam eufóricas enquanto David tocava algo no violão, todas nós vestidas confortavelmente com a camisa da seleção brasileira de futebol, nossos sobrenomes bordados atrás.

A ressaca havia ficado para trás, mas eu ainda podia sentir meu corpo um pouco mole por conta do álcool que recentemente foi embora do meu organismo. Me virei de frente para o espelho e destampei o frasco do rímel, o erguendo até deslizá-lo por meus cílios. Observei pelo espelho quando Lauren iniciou “Don't Wanna Dance Alone”, me fazendo parar o que estava fazendo para admirá-la um pouco. Ela estava tão linda, um pouco da lateral direita de seus cabelos completamente esticada em tranças nagô, um charme. A camisa da seleção ajustada em seu corpo de forma instigante, coladinha e marcando a curva de seus seios. Seu quadril coberto por um short jeans claro, com direito a suspensórios caídos, e em seus pés um par de all star impecavelmente branco. Seus olhos marcados por uma maquiagem forte, destacando seu olhar, o mesmo que eu encontrei pelo espelho acompanhado de um sorrisinho. Retribui com uma piscadela, doida para cruzar aquela sala e enchê-la de beijos calorosos.

: - Olha a baba.

Ouvi uma voz rouca dizer ao meu lado, chamando minha atenção. Encontrei Mani com um sorriso no rosto. Mordi o lábio inferior e coloquei o rímel no lugar quando acabei, me virando para ela.

: - Baba já nem é a palavra certa para usar.

Eu disse rindo ao ajeitar o laço verde que tinha no cabelo.

: - Eu imagino. – Ela riu cruzando os braços embaixo dos seios. – Mila, onde você e Lauren se meteram ontem? Dinah e eu procuramos vocês por todos os cantos.

Cínica. Foi tudo o que eu pensei enquanto a encarava, querendo mesmo é chamar Lauren para rir por toda a vida. Eu não conseguia tirar aquela cena da cabeça, quase um pesadelo.

: - Procuraram, é?

Perguntei fazendo o mesmo que ela, cruzando meus braços embaixo dos seios.

: - Procuramos.

Mani ergueu a sobrancelha, passando seus olhos rapidamente por Dinah que estava sentada no sofá ao lado de Ally, cantando.

: - Hmmm. – Resmunguei estreitando meus olhos de cílios ainda molhados. – Estávamos por ai... Não consigo me lembrar muito bem onde foi que transamos dessa vez.

Menti descaradamente. O quê? Eu queria que ela me contasse, não queria dizer onde estávamos e vê-la deduzir que vimos tudo.

: - Vocês... Voltaram muito tarde?

Me perguntou um pouco desconfortável.

Logo depois de vocês, safada. Minha consciência gritava, me fazendo ter vontade de rir.

: - Um pouco, mas não me pergunte às horas corretamente, estava bêbada e não me lembro de quase nada.

Menti de novo. Até quando eu precisaria mentir para que ela soltasse algo?

: - Entendo.

: - E vocês? Foram dormir tarde? Não nos esperaram.

Perguntei batendo de leve os dedos no meu braço, os olhos de Normani levemente arregalados. Eu tenho certeza que se fosse Dinah no lugar dela, agiria tão normalmente que eu poderia acreditar que tudo o que tive foi uma visão. Mais cínica que Dinah Jane? Só Lauren.

: - É... N-não muito. – Ela gaguejou, eu sorri. Vamos lá, garota, me conte. Eu queria gritar. – Ficamos conversando um pouco e depois fomos dormir.

Dormir, né? Sei. Dormir agora implica em enfiar a língua dentro da boca da amiga de grupo.

: - Ah, sim.

Troquei o peso para a outra perna e suspirei. Não me contaria, não é mesmo? Pois depois desse show, com toda a certeza, iríamos bater um papinho muito engraçado sobre isso. Lauren e eu não deixaríamos mesmo aquilo passar batido. Falando em Lauren...

: - Posso roubar a Camz de você um pouquinho, Mani?

Lolo perguntou assim que se aproximou o bastante, me fazendo notar uma expressão de alívio no rosto de Mani.

Querendo se livrar de mim, né filha da puta? Pensei.

: - Claro, a mulher é essa.

Normani jogou as mãos para o ar rindo e se afastou, indo para o meio da cantoria que se fazia naquele ambiente fechado e gelado. Lauren parou na minha frente com aquela par de olhos verdes curiosos, um sorriso nascendo no canto dos seus lábios.

: - Você estava fazendo o que eu acho que estava?

: - Sim, mas não colhi merda nenhuma, nem maduro e nem verde.

Dei de ombros e ela riu.

: - Depois do show nós enquadramos as duas, estou louca para chamar a Dinah de sapatão. Vou me vingar por todos os dias que ouvi essa palavra servindo de adjetivo pra mim.

Lauren bateu algumas poucas palmas me fazendo rir, a empurrando de leve pelos ombros.

: - Você vai apanhar, Dinah pode ter ficado com a Mani ontem... – Me aproximei dela para falar. – Mas ainda gosta muito de pau, eu tenho certeza. Além do mais... Siope.

: - Foda-se, só preciso olhar nos olhos dela e dizer isso com todo o meu amor, mesmo sendo mentira. O que já não é tanta mentira assim... – Lauren deu de ombros. – E em relação ao Siope... Dinah o ama, isso não muda nada, a conheço perfeitamente para saber disso.

: - Você não pensaria o mesmo se fosse eu transando com um cara para experimentar enquanto namoro contigo.

Lauren me fuzilou com os olhos, segurando meu queixo com os dedos enfeitados por unhas pintadas em preto. Já disse que ela estava um charme? Adorava aquela possessividade.

: - Nem me diga uma coisa dessas, só de pensar eu... Surto.

Suas narinas dilataram.

: - Pimenta nos olhos dos outros é refresco, amor.

Eu ri beijando seus dedos, fazendo-a sorrir de canto. Lolo se aproximou mais um pouco, seus lábios estavam quase tocando os meus quando...

: - Cabello e Jauregui.

Nós pulamos para longe uma da outra quando ouvimos a voz de Jodi atrás de nós, o que me fez derrubar algumas coisas em cima da mesinha onde estava encostada. Meu coração bateu no céu da minha boca. Jodi nos encarava seriamente, onde todos pararam de cantar para fazer o mesmo. Troquei um olhar assustado com Lauren, minhas pernas bambas.

: - Jodi...

Eu disse com a garganta seca, sem conseguir continuar.

: - Quatro metros de distância as duas, agora. – Ela ordenou friamente, apontando para Lauren e logo depois para o sofá. – Anda, Jauregui, está esperando o quê?

Tremendo sobre as pernas, o que era nítido, Lauren se arrastou para o sofá, sentando-se ao lado de Dinah, os olhos arregalados. Ninguém ousou dizer nada.

: - Eu vou falar uma última vez e não vou repetir: Eu quero as duas o mais distante possível em qualquer lugar, entenderam? Vocês vão subir nesse palco daqui a dez minutos e eu espero não ver qualquer tipo de interação entre vocês. Não quero olhares, não quero sorrisos, nada. Recebi ordens para manter as coisas na linha e é isso o que farei. – Engoli a saliva que se formou em minha boca, meus olhos estupidamente se enchendo de lágrimas, acho que por causa do susto. – Se eu não chego aqui agora vocês provavelmente estariam se atracando na frente de todo mundo. Ninguém é obrigado a ver isso, ninguém é obrigado a aturar recaídas, ou seja lá o que for de vocês.

Ouvi Lauren suspirar e abaixar a cabeça, as meninas fazendo o mesmo. David completamente desconfortável segurando o violão.

: - Nós não íamos...

Tentei falar, mas ela me interrompeu.

: - Silêncio, Cabello, não pedi uma explicação. – Respirei fundo. – Se vocês não percebem o quão inconveniente isso é, eu vou fazer o favor de lembrá-las. Sejam normais ao menos uma vez nesse grupo, ajam como adultas e passem a imagem que deveriam seguir.

Normais? O que ela queria dizer com “Sejam normais?”

: - Eu não quero saber se vocês são gays, se não são gays, ou seja lá qual for a opção sexual das duas. – Orientação sexual. Corrigi mentalmente enquanto tremia de raiva e sentia lágrimas descendo pelo canto do meu olho direito. – Mas não quero isso aqui, estamos entendidas? Façam isso na casa de vocês, fora da presença de quem não tem nada a ver com isso. Eu não quero perder o meu emprego. Ao contrário de vocês, que pelo o que me parecesse estão fazendo muito pouco caso de suas carreiras. Não vou permitir que que passem esse tipo de exemplo, não enquanto eu estiver aqui.

Como assim? Eu não precisava ouvir aquilo. Ela tinha alguma noção da merda que estava falando? Ergui a mão e sequei minha bochecha, fitando Lauren com o coração acelerado. Ela tinha o braço de Dinah ao redor de seus ombros, e eu podia afirmar que ela estava travando uma batalha interna naquele momento. Aquele assunto para Lauren era... O assunto proibido. Ainda mais quando ele era banalizado daquele jeito. Eu cortaria um dobrado para aliviar a cabecinha dela depois.

: - Espero que não tenhamos mais problemas. – Jodi fitou Lauren. – Agora vamos, o show precisa começar. Tirem essas caras de cachorro molhado e coloquem sorrisos, forçados ou não, não me importa.

Eu estava com tanta raiva que me segurei para não cuspir na cara dela. As meninas se levantaram, todas sem falar nada. Lauren com uma expressão tão dolorosa que minhas pernas quase me levaram para ela. Fizemos uma breve fila e fomos caminhando para fora do camarim, seguidas de nossos seguranças. Eu estava me sentindo muito mal, já havia escutado palavras grotescas, mas passar por aquilo na frente das meninas foi mil vezes mais humilhante. Respirei fundo e fechei meus olhos quando chegamos na escada que antecedia o palco, depois de receber nossos microfones. As luzes se apagaram e todos começaram a gritar, meu corpo se arrepiando instantaneamente. Senti vontade de chorar mais ainda, queria um alivio para não pensar, para me segurar... Queria as mãos de Lauren nas minhas. Eu não podia me permitir ficar daquele jeito, não quando 14 mil pessoas me esperavam lá fora, depois eu pensaria nos arranhões que meu ego sofreu com aquilo.

A abertura começou e logo estávamos em cima do palco, meu coração saltava tanto que eu fechei a boca com medo de que ele passasse por minha garganta. Eu nunca havia escutado tanta gritaria na minha vida, nunca havia visto tantas meninas e meninos chorando como eu estava vendo. Por um momento eu esqueci toda a merda que vivemos naqueles minutos e me concentrei ali, apenas ali, meu corpo se enchendo daquela felicidade que apenas nossos fãs me causavam, mais ninguém.

Iniciamos o show com One Wish, aquela multidão cantava tão alto que eu mal conseguia ouvir a minha voz. Estávamos hipnotizadas, não conseguíamos parar de sorrir em nenhum segundo, podia sentir minha boca doendo. Mas algo ainda me incomodava... Lauren. Não trocamos um olhar, evitamos passar uma ao lado da outra como o diabo evita a cruz. Meu peito ardia naquela dor quente, naquela sensação de feridas abertas sendo cutucadas com unhas afiadas. E pude sentir isso nitidamente na hora que nos sentamos nos banquinhos brancos para cantar Who Are You. Eu em uma ponta, Lauren na outra, e no meio de toda aquela multidão eu achei algo que fez meus olhos ficarem úmidos. Havia alguém segurando um cartaz, um que dizia exatamente assim:

“Não desistam, nunca.

Nós não julgamos e não odiamos.

Nós amamos e apoiamos vocês.”

Eu tinha certeza que aquilo era para nós duas, absoluta. Eu tinha tanta certeza que Normani acariciou minha mão em cima da minha coxa assim que viu o mesmo, me dando um sorriso acolhedor e amoroso. Saber que eles, nossos fãs, estavam do nosso lado me deixou leve. Não era como se eu não soubesse disso, mas ler de perto ou quem sabe ouvir, foi completamente diferente. Eu chorei Who Are You inteira, lembrando-me que na última vez que cantei aquela música em cima de um palco, Lauren ainda era um sonho distante para mim, amado e distante. Queria olhá-la para ler em seu rosto o que ela estava sentindo, mas me obriguei a manter os olhos na minha frente, fechando-os com força no refrão arrepiante que Dinah e Ally faziam juntas. Meu corpo todo vibrando, minha mão em minha boca e minhas lágrimas saindo furiosas. Praguejei todos os santos por aquilo, mas não consegui segurar. Chorei pelo passado, chorei pelo povo que não parava de cantar em um coro perfeito e chorei pelo presente, um presente feliz e triste, altamente conturbado. Quando finalizamos a canção, Mani me abraçou e me apertou contra seu corpo, sussurrando em meu ouvido.

: - Eu amo você... Vai ficar tudo bem.

Secou minhas lágrimas e beijou minha testa, todo mundo gritando mais alto, se possível, por aquele momento Normila. Sorri para ela e retribui, onde logo nos afastamos para continuar o show. O restante do tempo seguiu da mesma forma, o show chegou ao fim e se pudéssemos, teríamos ficado ali para sempre. Nos despedimos com lágrimas, todas choramos quando ouvimos um “eu te amo” em coro completamente ensaiado, alto o bastante para ficar gravado na minha memória pelo resto da minha vida. Sai dali sem vontade, deixando para trás pessoas que eram metade de mim, a outra metade andava apressadamente na minha frente, secando algumas lágrimas que caiam por seu rosto. Abaixei a cabeça enquanto fazíamos um caminho silencioso para a van que nos levaria de volta para o Resort, onde embarcaríamos logo pela manhã em direção a outro Estado.

Nos sentamos da mesma forma, em silêncio, acho que ninguém estava com clima para dizer nada. Primeiro pelo êxtase, segundo pelo incômodo. Sentei-me ao lado de Dinah, Ally e Lauren nos bancos detrás, Mani com a cabeça no ombro de David, e daquele jeito seguimos até nosso destino. Assim que chegamos lotamos o elevador, graças a Deus Jodi ficou para resolver algumas coisas de nossa partida na recepção. Quando ganhamos o conhecido corredor, Lauren correu para o meu lado e entrelaçou nossos dedos, meu corpo tremendo de aprovação e uma lufada pesada de ar saindo por minhas narinas. Esperei tanto por aquilo, tanto que quase quebrei seus dedos de tanto que apertei.

: - Não larga.

Pedi baixinho quando paramos de andar, sendo interrompida por Dinah que ergueu a voz para falar.

: - Bem, tomem um banho e vamos nos reunir no meu quarto para comemorar, ok? Comer umas pizzas, conversar um pouco. Mila e Laur precisam distrair a cabeça, odeio essas carinhas.

: - Concordo, Jesus não gosta dessa tristeza toda. – Ally disse tentando nos animar, e conseguiu arrancar uma risada da minha garganta. – Eu quero vocês com aqueles sorrisos que eu tanto gosto, ok? Não se deixem abater, eu imploro.

Ela pediu pressionando os lábios, esfregando sua pequena mão por meu braço em um consolo.

: - Tudo bem. – Lauren disse sorrindo, fraco, mas sorrindo. – Em 15 minutos estarei lá.

: - Eu também. – Avisei.

: - Ótimo. – Dinah sorriu. – Mani e Ally, não demorem.

As meninas começaram a se afastar e eu me virei de frente para Lauren, olhando nossas mãos unidas.

: - Te vejo no quarto da Dinah, ok?

Acariciei seu pulso com o dedão, seus olhos verdes tristonhos me fitando.

: - Você está bem?

: - Vou ficar. Só quero saber de você.

Eu disse lhe acariciando o rosto, fitando por cima de seus ombros para conferir se estávamos sozinhas.

: - Eu não sei. – Ouvi o que já imaginava. – Mas não quero falar sobre isso. Vai tomar o seu banho, quanto mais rápido nos separarmos, mais rápido estaremos juntas novamente.

: - Isso.

Beijei sua mão e a soltei, empurrando-a de leve pelos ombros na direção de seu quarto.

: - Até daqui a pouco.

Ela me mandou um beijo e sorriu de ladinho, me fazendo suspirar.

: - Até, lolo.

 

Perdi as contas de quantas pizzas nós comemos, minha barriga estava inchada de tanta mussarela. Lauren e eu estávamos na cama de Dinah, Ally na poltrona no canto, Mani jogada no meio do tapete ao lado das caixas de papelão, e Dinah sentada na porta da varanda, dizia ela que estava pegando um vento.

: - Eu vou no meu quarto ligar para o Troy, meninas, já que esqueci meu celular lá. Volto em 10 minutos.

Ally avisou se levantando.

: - Hmmmm, vai fazer sexo pelo telefone, Ally?

Dinah perguntou com um sorrisinho safado, fazendo com que todas nós ríssemos, menos Allycat.

: - Vocês só pensam em sacanagem, eu não mereço isso.

Ela rolou os olhos e calçou seus chinelos, se afastando. Percebi suas bochechas coradas e me deixei rir mais ainda, tão fofa.

: - Imaginação selvagem, sabe? Já dizia uma certa pessoa de sobrenome Jauregui.

Dinah cutucou a onça com vara curta, recebendo um travesseiro na cara no segundo depois. Lauren rugiu ao meu lado.

: - Para de me zoar com isso, já tenho que aguentar um fandom inteiro com essas duas palavras.

: - Claro, você os deixou aparentemente ofendidos.

Mani alfinetou alisando a barriga enquanto fitava o teto. Não pude deixar de gargalhar. Tadinha da minha namorada, mas também, idiotice tem limite.

: - Chega, Mani.

Lauren rolou os olhos e se encostou na cabeceira da cama, cruzando os braços embaixo dos seios. Birrenta.

: - Enfim, eu já volto, crianças.

Ally disse rindo antes de sair. Até ela, até ela estava alfinetando.

: - Hoje não é teu dia, Laur. – Mani riu. – Mas você vai superar.

: - Eu nunca tive um dia, na verdade, porque desde que me conheço por gente eu sou zoada.

: - Você dá motivos, amor.

Eu disse para ela me sentando na cama, ajeitando o pijama rosa que vestia.

: - Tá.

Foi tudo o que ela disse antes de fixar seus olhos na poltrona onde Ally antes estava sentada. Não iria continuar o assunto, caso contrário terminaríamos de uma forma bem conhecida. Assim que ficamos as quatro sozinhas, olhei para Lauren e ergui minhas sobrancelhas ao me lembrar de uma coisa...

: - O que? – Ela perguntou curiosa, parecia forçar a mente, até que... – Ah!

Sorri e viramos ao mesmo tempo para frente, nos sentando com as pernas fora da cama. Estava na hora do assunto interessante.

: - Falando em imaginação selvagem... – Eu comecei, chamando a atenção das duas. – O que vi ontem não foi bem uma imaginação, sabe?

: - Está querendo dizer o quê?

Dinah perguntou erguendo as sobrancelhas.

: - Que vocês são duas cínicas.

Rebati estreitando os meus olhos, Lauren rindo ao meu lado.

: - Por que diz isso?

Mani perguntou se sentando no tapete, trocando um rápido olhar com Dinah.

: - Sério que vocês vão continuar escondendo da gente que se pegaram loucamente ontem? - Lauren perguntou com cara de tédio. – Faça-me o favor.

As expressões de Mani e Dinah estavam exatamente iguais... sérias. Nenhuma das duas disse nada, nem mesmo se olharam, apenas nos encaravam silenciosamente. Será que estavam considerando o suicídio?

: - Nós vimos tudo, nem adianta negar, caso pensem em fazer isso.

Comentei deslizando os dedos por meus cabelos, os jogando para o lado direito.

: - Como?

Mani finalmente abriu a boca para falar.

: - Nós estávamos lá atrás da pedra, fazendo o mesmo que vocês. Quer dizer, fizemos um pouco mais que vocês.

Lauren confessou rindo e me deu uma piscadela, minhas bochechas arderam.

: - Não acredito nisso... – Mani escondeu o rosto entre as mãos. – Meu Deus, que vergonha.

: - Vergonha? Vergonha de quê? Na hora você parecia bem... entusiasmada, Mani.

Eu disse gargalhando e ela me reprendeu com o olhar.

: - Camila.

: - Não vai dizer nada, Dinah? – Lauren perguntou sacudindo as pernas. – Como foi ser sapatão por uma noite?

Eita, cacete. Cobri a boca com a mão para rir enquanto capturava o olhar divertido que Dinah e Lauren trocavam, Normani praticamente se enforcava com as próprias mãos.

: - Me senti muito mais ativa que você em uma noite. E olha que não rolou nada mais que beijos. Pena que você não pode aproveitar do mesmo privilégio, né Jauregui? Passiva não tem vez.

: - Ativa? – Lauren gargalhou. – A pessoa mal entrou no ônibus e já quer sentar na janela.

: - Claro, ou você acha mesmo que na minha primeira experiência com uma mulher iria dar uma de passivinha escandalosa como você? Se manca.

: - Ei, eu não fui passiva o tempo todo não, não fica se gabando. – Mani disse virando seus olhos para Dinah, completamente corada. – Eu fiz um bom trabalho, você me disse isso antes de voltar para o teu quarto. E como disse, olha que nem transamos.

: - Toma, Jane, toma.

Lauren gargalhou e bateu palmas, onde eu deixei meu corpo cair sobre o dela de tanto que estava rindo.

: - Eu não estou aguentando. – Minha barriga doía.

: - Mentira, Mani, você estava bêbada e não lembra de quase nada.

: - Claro que lembro, eu lembro até de quando voc...

: - OLHA. – Dinah quase gritou, se curvando para cobrir a boca de Normani com uma das mãos, caindo na gargalhada. – Nossa amizade vale muito e sua vida também, portanto... Shiu!

: - Ah não, agora eu quero saber.

Pedi desesperada quase pulando em cima da cama.

: - Conta, Mani.

Lauren estava vermelha, lágrimas em seus olhos indicando o excesso de risos.

: - Se contar eu lhe jogo daqui, Kordei.

Dinah ameaçou estreitando os olhos.

: - Não quero perder a amiga e nem a vida, Camren, então... Deixa isso pra lá.

Mani se levantou rindo e negou com a cabeça, mordendo o lábio inferior. Dinah sorriu satisfeita.

: - Vão se foder as duas, odeio ficar curiosa. – Lauren resmungou.

: - Vão morrer secas.

Dei língua me abanando com as mãos, quase me engasguei.

: - Me deixem quieta, em.

Dinah se levantou e logo se curvou sobre as caixas de papelão, pegando o que conseguiu em mãos.

: - Ainda vou descobrir, ou não me chamo Camila Cabello.

E eu iria mesmo, como iria.

Enquanto Dinah e Mani se ocupavam em arrumar o quarto, me virei para Lauren e selei seus lábios, cutucando de leve sua barriga com as pontas das unhas.

: - Ficou ofendida com o passiva?

Perguntei puxando seu lábio inferior entre os dentes.

: - Não sou passiva. Ao menos não por completo.

Ela riu e me puxou mais para ela, me fazendo sentar em seu colo.

: - Eu gosto quando você é por completo. – Deslizei meus dedos por seus cabelos enquanto admirava seu rosto de traços fortes e feminino. – Adoro dominar você.

: - Podemos pensar nisso então, quem sabe eu não adote totalmente o termo.

: - Passivinha escandalosa.

Alfinetei sorrindo, ela retribuiu.

: - Escandalosa vai ficar você.

: - Por que? – Perguntei já me arrependendo.

: - Por isso.

Em um piscar de olhos Lauren nos virou na cama, se deitado em cima de mim para atacar minha barriga com cosquinhas, malditas cosquinhas. Explodi em risadas altas, meu corpo se contorcendo, minha respiração falhando, meu coração acelerado. Eu odiava cosquinhas com todas as minhas forças, mas como parar de rir?

 

Dinah POV.

Estava voltando da varanda depois de deixar as caixas de papelão por lá quando presenciei uma cena engraçada. Lauren estava em cima de Camila, simplesmente atacando a barriga da bichinha com cosquinhas. Ela ria se contorcendo, suas pequenas mãos inutilmente tentando fazer com que Lauren parasse, que em resposta apenas aumentava aquela tortura. Troquei um olhar com Mani enquanto observávamos a cena, sorrisos pequenos nascendo em nossos lábios. Cruzei meus braços embaixo dos meus seios e me escorei na porta, sem conseguir tirar meus olhos daquele momento. Depois de tudo o que elas passaram naquela noite, aquelas risadas maravilhosas aliviavam meu peito de alguma forma. Posso dizer que a situação não foi e não era nada fácil, nada comparado a qualquer coisa que eu tenha passado na minha vida. Ser julgada e condenada por amar era... Terrível.

Com base naquele pensamento, me lembrei do que tive com Mani naquela madrugada. Durante uma conversa na festa, acabei deixando escapar que tinha muita curiosidade em ficar com uma mulher, onde ela acabou me confessando o mesmo. Conversamos mais um pouco e decidimos que queríamos matar a curiosidade, e que queríamos dividir aquilo uma com a outra. Não foi por impulso e nem movidas em si pelo álcool, mas sim por desejo e confiança, pois eu sabia que não poderia encontrar ninguém melhor para matar a minha vontade.

Normani era extremamente bonita, perfeita, diga-se de passagem. Nunca a olhei com outros olhos antes, mas senti meu corpo arder intensamente quando nos beijamos, um desejo carnal que me tirou do sério em segundos. Beijar uma mulher era mesmo uma experiência eletrizante, gostosa e excitante. Fomos para o quarto dela e ficamos a noite inteira curtindo bons beijos e bons amassos, tínhamos uma química incrível, era quase sufocante. E o ponto estava exatamente ali, era apenas isso, apenas química, apenas concordância, apenas desejo, nada de sentimentos. Bom, eu amava Normani, era uma das minhas melhores amigas e parte da minha família, assim como todas as outras. Combinamos antes de tudo que poderia acontecer o que fosse, não mudaríamos nunca uma com a outra, que no dia seguinte seriamos Norminah da mesma forma de sempre, e lá estávamos nós, nossa amizade intacta. Eu nem mesmo considerava o que Mani e eu tivemos uma traição, não mesmo, apenas uma matança de curiosidades. Sempre fui do tipo que faz o que quer sem sentir culpa depois, pois penso muito antes de qualquer ato e qualquer suspiro. Por que teria que sentir culpa por algo que não me arrependia nenhum pouco? Na minha cabeça a minha certeza era: Apesar dessa pequena loucura, gostosa loucura, deixando claro, eu amava Siope e aquilo não mudaria. Era ele quem eu queria e era com ele que eu ficaria, independente de qualquer coisa.

Sai de meus pensamentos quando vi Mani se movimentar pelo quarto, pegando o celular em cima da mesinha para se sentar na poltrona, provavelmente entrando no Twitter. Lauren e Camila haviam parado com as cosquinhas, será que eu havia pensado por tanto tempo? Suspirei negando com a cabeça, estava tão cansada que me deitar naquele tapete felpudo não me pareceu um problema. E foi o que eu fiz, puxando uma almofada e me deitando de costas para me esticar melhor. Olhei para a cama e sorri de canto, novamente prendendo o meu olhar sobre ela. Lauren estava encostada na cabeceira da cama, quase deitada, tinha o corpo de Camila sobre o seu e sua boca levemente pressionada contra a testa dela. Seus braços firmes ao redor do corpo pequeno, a segurando como se ela fosse fugir a qualquer momento. Preciso dizer que simplesmente amava a relação das duas, você não pode imaginar a proteção extrema que Lauren conseguia depositar em cima de Camila, nem a intensidade de seus olhares para ela, como se Mila fosse à última coisa que ela estava olhando no mundo.

: - Assistindo a um filme?

Levei um susto quando a voz de Ally se fez presente ao meu lado, onde ela logo se deitou no tapete.

: - Que susto, nem vi você entrando.

Confessei sorrindo de canto, vendo-a seguir o meu olhar assim que voltei a minha atenção novamente para a minha novela preferida. Camren.

: - Lógico, está concentrada nas pombinhas. – Ally disse baixinho.

: - Não é bonito?

Perguntei sem desviar meus olhos, observando Lauren movendo as pernas lentamente sob o corpo de Camila, a ninando. Sua mão direita afagando os cabelos castanhos.

: - O quê?

: - A relação das duas.

Respondi na mesma altura, baixo o suficiente para que apenas Ally escutasse, não queria que Mila despertasse de seu princípio de sonolência. Ally demorou um tempo para responder, mas logo a ouvi dizer depois de um suspiro.

: - Muito. – Sorri. – Preciso admitir.

: - O jeito que elas se olham me deixa... Arrepiada. – Comentei piscando lentamente, estava mesmo vidrada. – Não sente como se a Laur não existisse sem a Mila, e a Mila não existisse sem a Laur? Digo, eu não posso imaginar isso quando a situação se baseia literalmente em “Eu me movo, você se move.” Elas são praticamente uma pessoa só, com suas diferenças e definições, mas quase ocupam o mesmo corpo. As vezes eu juro que posso ver alguns traços da Lauren na Camila, ou traços da Camila na Lauren. Isso me deixa tão assustada e fascinada.

: - Dinah, você sabe o que eu pensava sobre isso, não sabe? – Concordei com a cabeça sem desviar meus olhos, observando naquele momento os lábios de Lauren selando uma, duas, três vezes a testa da Mila, que já dormia um soninho mais do que necessário. Ela estava velando o sono da pequena, existia algo mais perfeito que aquilo? – Fui criada em uma religião que abomina completamente esse tipo de coisa. Meus princípios e minha fé me ensinaram que homem é para a mulher e mulher para o homem, que esse é o conceito de família. Mas olhando para elas durante todo esse tempo, olhando agora... Deus, como eu posso lutar contra o que vejo? Eu vejo o amor ali, em cada olhar, em cada gesto, em cada sorriso. Como eu posso julgá-las, Dinah? Eu não sou ninguém para fazer isso, eu nem mesmo consigo achar que isso é errado. Não pode ser, isso o que elas sentem não pode ser errado.

: - Não é errado, o amor nunca será errado. – Agarrei a ponta da almofada com a mão direita, me virando de lado. – A Mila olhar para a Lauren como se enxergasse a alma dela não é errado. Isso o que eu estou vendo não é errado. Não acho que exista algo mais certo do que isso, Ally. Alguma vez na sua vida você já se sentiu rebaixada com o seu relacionamento enquanto observa alguém velando o sono de outro alguém?

Ally riu sem graça e apoiou o queixo em meu braço.

: - Não havia, até agora.

: - Então... Eu sinto como se o que eu e Siope temos fosse um mero drama perto do que vejo. É tão surreal. Quem vê de fora realmente não tem a mínima ideia do que acontece aqui dentro. O que elas estão tendo que enfrentar para ficarem juntas é a única coisa errada aqui, a única.

: - Observando um pouco delas todos os dias, eu tenho certeza que não poderia ser diferente. Elas são melhores amigas e namoradas, é isso o que completa. Se fossem apenas amigas, como eram, iria faltar algo, como faltava. Se fossem apenas namoradas, também iria faltar algo, como não falta. Não falta porque elas são os dois e isso é tão... Gratificante. Não tinha como não acontecer, Dinah, a relação delas nunca foi como a nossa, por exemplo, ou como a delas com a gente. Era tudo diferente, sempre foi algo mais, sempre. Algo mais que consideração, que amizade, que romance, que qualquer coisa que eu cogite. Eu me deixava ficar cega porque não queria ter que aceitar, mas como me privar disso? Não sei como fazer isso quando eu mesma acho que só pode ser coisa de Deus.

: - Tem outra explicação? – Ela negou com a cabeça, eu me deixei sorrir. – Pois eu acho o mesmo. Passei um bom tempo sozinha com elas em Paris, Ally e acredite, minha vontade era de pegar uma câmera para filmar todos os passos, todos os olhares, todos os sorrisos, todos os momentos como esse que estou vendo agora. Eu sei pelo olhar da Camila que não existe nada mais no mundo que ela queira além dessa chata da Jauregui, nada. Ela sempre foi apaixonada pela Lauren, desde o começo. Se hoje elas estão aqui do jeito que estão, foi porque Camila lutou muito para isso, caso contrário Lauren ainda estaria se acovardando pelos cantos, mesmo sentindo a mesma coisa. E sinto em dizer que ela ainda tem uma batalha muito longa pela frente, digo, com ela mesma.

: - Sim... Eu tenho medo disso, não gosto de ver o que vi nos olhos dela hoje naquele camarim, era como se ela quisesse fechar os olhos e não ter que abrir mais. Não sei o que pensar, Dinah.

: - Nem eu.

Foi tudo o que eu disse antes de suspirar, um suspiro cheio de lamento. Eu não queria dizer, mas eu sabia que aquele sofrimento estava longe de acabar, mesmo que tudo parecesse calmo o suficiente para me fazer acreditar no contrário. Lauren amava Camila, mas temia o que poderia ser, ou era. Admitir era uma questão distante e fantasmagórica, por mais que ela brincasse quase sempre com o assunto, o problema era na hora de falar sério. E não saber quando aquilo terminaria me deixava com o coração apertado, pois ela sofria e não era pouco. Além de toda a pressão alheia em cima delas, ela ainda possuía uma pressão interna, algo que a julgava freneticamente sem chances de escapatória.

Eu a admirava, apesar de toda a loucura que ela vivia internamente, lutava com todas as forças para vencer o auto preconceito que possuía e permanecer ao lado de Camila, não importava o quanto se questionasse, era Camila quem ela queria. Quando Mila a olhava por trás dos longos cílios com aquele olhar confiante e exclusivamente feito para ela, como poderia desistir? Eu via em seu rosto que ela lutaria, ela não tinha outra opção, era a felicidade dela que estava em jogo, era o amor da Mila. Desistir estava fora de cogitação, desistir era e é uma palavra que não pode e nem deve existir no vocabulário de Camren. Talvez estivessem correndo atrás do que tinham, no momento, há vidas, então como abandonar tudo depois de tanto tempo procurando? Não. Precisamos entender que tudo o que vem fácil, vai fácil, mas o que vem de forma difícil e lenta... Vem para ficar. E Camren, definitivamente veio para existir, pode apostar que Dinah Jane não amaria aquela relação com todas as forças se ela fosse como as outras. Lauren e Camila jamais seriam iguais aos outros casais, eram mais, muito mais.

 

Lauren POV.

O corpo quente sobre o meu não me deixava levantar, mas não era como se eu quisesse sair dali. Seu cheiro me tirava à concentração de qualquer coisa, e por um momento me senti livre de qualquer sentimento que insistia em me machucar. Camila era meu santo remédio, meu caminho seguro, as mãos que me seguravam sempre quando a luz insistia em se apagar. Eu só queria ficar ali sem pressa para levantar, minha boca colada em sua testa, meus braços ao redor de seu corpo, minhas pernas a balançando gentilmente e minha cabeça perdida no que tudo aquilo me fazia sentir, procurando desesperadamente por conforto, conforto que só ali eu encontrava.

Eu tinha apenas um desejo naquela noite, eu só desejava que Dinah me deixasse ficar ali com Camila sem hora para ir embora, eu não queria ter que encarar o mundo sem a minha boa dose de embriaguez, uma embriaguez quente e anestesiante, completamente diferente daquela que vivi na noite passada. Eu só queria me embebedar daquele cheiro que me enlouquecia, eu só queria me dopar nem que fosse por apenas dez minutos no calor do corpo da garota que eu amava, aquele era o meu único desejo.

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


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