História Family - Capítulo único

Tobirama teve que sair do trabalho às pressas, ainda atormentando com a ligação de Hashirama dizendo que algo grave tinha acontecido com Naruto. Estava ali, ainda de jaleco e correndo pelos corredores amplos da escola até encontrar a diretoria, onde seu sobrinho estava, sentado na porta com a mochila no colo e a mão enfaixada.

Quando Naruto percebeu sua presença, levantou-se e limpou o rosto, que estava com um lado inchado, o que fez surgir uma ponta de desespero no Senju, imaginando o show que o irmão iria fazer e o que de tão ruim tinha ocorrido para o garoto estar assim.

Ao invés de perguntar o que havia acontecido, o abraçou. Não só por saber que o assunto era mais sério do que parecia, mas porque ele pedia por isso, com os olhos vermelhos e o semblante cansado.

Quando o abraçou, Naruto chorou.

Chorou muito.

Um choro dolorido que fez o coração de Tobirama apertar de um jeito que só aconteceu quando sua mãe morreu.

— 

A diretora parecia furiosa ao falar mais uma vez que Naruto estava metido em encrenca e que não diria o motivo, porque gostaria que o garoto dissesse, quando isso acontecesse, Hashirama e os pais dos envolvidos iriam ter uma reunião para resolver a "pauta". Não era de todo mal no final, seja lá o que fosse, a escola parecia estar tomando as medidas certas.

No carro, ficou observando o sobrinho mexer no alargador e no colar que dividia a outra metade com Sasuke. Parecia meio perturbado.

— Pode me dar um cigarro? — e Tobirama deu, por mais que falasse sempre para Naruto não fazer aquilo, agora ele parecia precisar.

— Quer me contar o que aconteceu? 

Voltou os olhos para a rua. Estava nevando um pouco e precisava olhar a mão do garoto assim que chegasse no trabalho novamente, ir pra casa estava fora de cogitação por ser longe demais.

Antes de responder, Naruto deixou a fumaça escapar pelos lábios. Não parecia querer falar ao mesmo tempo que parecia precisar muito, mas era como se ele fosse desabar a qualquer momento.

— Eu tava com o Sasuke e... a gente tava ficando debaixo das arquibancadas, pra ninguém mexer com a gente. — quando a voz começou a ficar trêmula, ele tragou o cigarro com mais força e engoliu o choro. — Mas nos acharam e ficaram falando.

— Já conversamos sobre beijar na escola, Naruto.

— Eu sei! Mas a gente sempre ficava lá e ninguém achava, esses garotos que ficam caçando o Sasuke em qualquer lugar, eu não posso beijar meu namorado porque eles não gostam? Vai se foder.

— Naruto — não gostava quando ele alterava o tom de voz, ainda mais quando o assunto era Sasuke, porque aquilo sempre ficava mais sério e mais difícil de lidar. Entretanto, precisava ter mais paciência dessa vez, levando em conta que ele estava tremendo de raiva. — E você brigou por isso de novo?

— Não. — ele estalou a língua no céu da boca, trincando os dentes. — A gente levantou pra sair de lá, mas eles ficaram falando que o Sasuke era... nojento e chamando ele pelo nome errado. Dizendo que ele nunca ia ser homem porque homens não tem...

Certo, aquilo nunca tinha acontecido antes e agora era totalmente compreensível aquele comportamento ansioso e quase explosivo. Tobirama sentiu um nó na garganta por não saber o que dizer e tentou não olhar para o garoto que estava quase chorando de novo.

— Eles falaram muito merda. — Naruto passou a mão nos cabelos, bagunçando o que já estava bagunçado e limpando as lágrimas com violência, deixando o rosto ainda mais machucado. — Ele estava bem depois de muito tempo, Tobirama, muito tempo.

O clima ruim parecia sufocar ambos dentro do veículo e o Senju mais velho não estava mais aguentando escutar toda aquela história, porque machucava.

— Ele disse que estava tudo bem, mas eu sabia que era mentira, levei ele pra sala e tentei falar com o Obito pra buscar ele, antes que ele surtasse. Depois que o Itachi chegou e eles foram embora, eu fui atrás daqueles fodidos. — só no final da frase ele sorriu, um sorriso bem sádico.

— Quantos garotos?

— Três. — e ele estava só com um roxo na bochecha? — Mas eu peguei um por um. Dois desmaiaram e o outro correu antes de apagar.

Tinha suas vantagens de ser filho de Hashirama que era praticamente uma árvore de anos que ninguém derrubava e Naruto era realmente bom de briga, ainda mais quando estava furioso.

E o bom de tudo foi que ele respeitou Sasuke em não fazer isso na frente dele, seria algo a mais para lidar com o garoto.

Tobirama riu bagunçando os cabelos loirinhos e mesmo que não fosse certo, estava cheio de orgulho e isso fez Naruto sorrir também.

— Bom trabalho, garoto.

— 

Quando chegaram no hospital, Izuna fez questão de cuidar de Naruto e como não tinha nenhuma consulta naquele horário, Tobirama estava ali do lado do marido, vendo as mãos do sobrinho quase esmagadas.

— Como você deixou o rosto desses garotos? — o Uchiha deu risada e bagunçou os cabelos loiros. Era quase uma mania deles ou um jeito de dizer que estava tudo bem.

Izuna era tio de Sasuke, eles eram bem semelhantes em tudo, aparência, jeito e principalmente a personalidade quase detestável, mas muito amável quando queria. Por Izuna ser pediatra, a transição hormonal de Sasuke foi bem mais fácil, mas o que vinha sendo difícil mesmo, era o tratamento psicológico.

— Onde ele vai ficar? — o moreno se encostou na bancada ao lado do esposo, vendo de longe Naruto falando no telefone com Hashirama que estava gritando e surtando.

— Ele pode dormir um pouco até a hora de irmos embora, isso se ele conseguir.

— Talvez consiga, parece bastante exausto.

Tobirama sentiu os cabelos pretinhos encostando em seu pescoço, logo o calor do rosto de Izuna em seu peito. Passou um dos braços pelos ombros dele e fez com que se aconchegasse.

— Espero que ele consiga.

—

Naruto deixou a mochila no chão como se estivesse em sua casa, o cheiro de comida caseira tomava conta do apartamento gigantesco de Madara. Ele não demorou a aparecer usando um avental rosa de moranguinhos, cara emburrada e um rabo de cavalo no cabelo cheio e enorme.

— Oi, Mada. Quer ajuda? — Izuna arregaçou as mangas e prendeu os cabelos em um coque, indo logo mexer nas panelas. 

O mais velho apenas balançou a cabeça dizendo que sim, não deixando de olhar Naruto por um segundo. Não era como se tivesse medo dele – na verdade, tinha sim –, mas Madara poderia dar o sermão que Tobirama não deu no carro, sermão que Hashirama com certeza iria dar. E o pai de Sasuke sabia de toda a situação.

Ele deu a volta no balcão e se encostou ali.

— Vem cá, garoto.

E Naruto foi, sentindo as pernas tremendo e a corrente da calça jeans balançar. 

Quando parou na frente dele, Madara deu mais um passo e o abraçou pelos ombros. Um abraço apertado e quente, como de um pai de verdade, um abraço acolhedor que o loiro retribuiu timidamente.

— Obrigado por proteger ele, Naruto.

Sentiu vontade de chorar de novo e só não iria fazer porque não tinha mais o que chorar. Queria dizer que sempre protegeria Sasuke, com sua vida se necessário e faria de tudo para ele sorrir e viver sem aquelas pessoas de merda.

Quis agradecer a Madara por isso, por Sasuke estar ali e merecer toda felicidade do mundo.

— Ele está no quarto dele, pode ir lá. — ele era um homem tão duro quanto seu tio Tobirama, mas ainda conseguiu vê-lo fungando e talvez a sombra de um olho cheio d'água.

Seguiu pelo corredor da casa até chegar na porta do quarto que era seu lugar preferido daquele apartamento. Nem bateu antes de entrar. Obito – o irmão mais velho – e Itachi – o irmão do meio –, estavam ali, jogados no tapete felpudo cor de vinho e Sasuke de bruços na cama. Eles estavam dividindo um cigarro.

Ele sorriu pequeno deitando a cabeça no colchão quando viu que estava ali, e Naruto sorriu também.

— O que estão fazendo? — perguntou, desviando das pernas e braços para chegar e sentar na cama do namorado.

— Tentando comprar maconha online. — Obito falou e ofereceu o cigarro. Naruto sentiu a mão de Sasuke acariciando suas costas.

— Isso dá certo?

— É mais barato e parece vir em mais quantidade. — Itachi falou. 

Então ficaram ali tentando comprar maconha online e conversando sobre planetas e galáxias, porque os Uchiha gostavam dessas coisas que não tinham compreensão, muito menos respostas. Eles queriam saber tudo de fora quando não sabiam nem um terço do que havia dentro e isso era engraçado.

— Bora Itachi, deixa os pombinhos namorando, vamo, bora.

— Aí porra, não me empurra não!

Riram vendo os dois irmãos saindo e fechando a porta para o cheiro do cigarro não sair e algum adulto descobrir. Naruto jogou as pernas sobre o colchão, olhando para o corpo ali deitado que também olhava para si.

— Posso te tocar? 

Sasuke balançou a cabeça.

Havia algumas restrições quando ele estava mal ou muito irritado com o próprio corpo, Naruto respeitava todas afinal era sua obrigação. Tinha alguns rastros de lágrimas em seu rosto e os cílios estavam grudados, assim como os olhos estavam vermelhos, o que significava que ele estava sentindo e isso era importante, porque não iria aguentar ver Sasuke sem qualquer reação novamente.

Naruto colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha dele e beijou os lábios pequenos e carnudos, aprofundando o beijo por pura necessidade de senti-lo. Beijou Sasuke lentamente, sem pressa, deixando as línguas se acariciando por um tempo até terem os maxilares cansados.

No final, beijou todo o rosto delicado de traços elegantes, sentindo o moreno rir enquanto fazia isso.

Não via a hora de tê-lo assim todos os dias, sorrindo e se sentindo bem consigo mesmo.

— Obrigado por estar aqui, Naru.