Capítulo 23: Velho, mas não para sentir ciúmes
As luzes da noite eram encantadoras. E, por mais que Namjoon achasse que após se tornar pai de cinco crianças, nunca mais fosse andar sob o calçadão logo depois de uma tarde proveitosa em um parque comum, cheio de plantas, árvores, e casais acampando, ou só fazendo um piquenique, por todos os lados, não podia estar mais contente pelo momento. Olhou para o lado onde se encontrava a estatueta do rio que cortava a cidade, notou a beleza de suas águas correndo e cumprindo seu próprio caminho, e tornou a girar seus olhos pequenos em direção à Jin, que estava bem ao seu lado, segurando uma de suas mãos com certa força, como se tivesse medo que alguma coisa fosse levar seu esposo de si, suspirando bem fraquinho ao se dar conta de que nada naquele mundo poderia transpassar a beleza imensurável dele.
Os cabelos do mais velho era um castanho tão bonito, estavam mais curtos do que há alguns dias atrás, e em seu rosto já eram bordados alguns traços da idade. A boca permanecia corada, as bochechas acentuadas, os olhos puxados ainda presos num castanho vivo, a cor de sua pele reluzia e se mostrava muito bem hidratada. Namjoon sentiu o coração batendo mais rápido à cada instante que permanecia encarando seu companheiro. No estômago, pareciam viver milhares de espécies de borboletas, e elas sobrevoavam sem vergonha nenhuma por ali, causando aquela sensação tão conhecida no homem um pouquinho mais alto. Era aquele sentimento quente, tenro, profundo, que o enchia o peito e descia por suas pernas, fazendo-as se tornarem leves como plumas, e por todo o seu corpo parecia existir formigas caminhando sobre cada tracinho. Um sorriso involuntário fora gradativamente pintando seus lábios carnudos, seus olhos brilhavam e Jin tentou não notar o olhar apaixonado que era direcionado à si.
— Posso te contar uma coisa, amor? — Jin perguntou baixinho, carregando a cesta de piquenique em um dos braços, ela que sacolejava de um lado para o outro. Deixou de andar e puxou o esposo até o parapeito da ponte que passava por cima do rio, vendo-o assentir pouco depois, sem abandonar seu foco. — Antes de te conhecer, eu nunca achei que poderia amar alguém. Quer dizer… eu sempre fui um romancista, que acreditava que a alma gêmea de uma pessoa poderia estar em qualquer lugar por aí, mas eu não imaginava que poderia ter uma, ou ao menos sentiria um monte de sentimentos que são descritos nos livros em uma intensidade tão forte, e ele ser tão duradouro. O amor que vemos hoje em dia parece estar tão… desgastado, descartável, podendo acabar por qualquer pequeno problema. — deu uma pausa, apertando os dedos de Namjoon entre os seus, levando-os até os lábios para beijá-los em seguida, abrindo um sorriso curto. — E mesmo depois de te conhecer, eu ainda achei que ficaríamos pouco tempo juntos. Até porque nem do meu aniversário você lembrava, quem dirá do nosso. Estava desesperançoso. — soltou uma risadinha nasalada, achando graça na situação. — Veja bem, eu continuo te amando como se houvesse acabado de conhecer você. É como se só aumentasse, nunca diminuísse.
— Por que resolveu me contar tudo isso do nada? — quase sussurrou, o tom grave um tanto falhado por estar rouco.
— Porque com toda essa correria, as crianças, o trabalho, e tudo mais, nós não temos tempo de ficar nos declarando um para o outro como antes. — confessou, encarando o horizonte com uma pontinha de ansiedade. — E… Eu… Eu olho como você me encara. Namjoon, você me encara de uma maneira que eu nunca achei que alguém fosse capaz de olhar para mim antes.
— Pode ser um grande exagero o que vou dizer agora, mas eu não me imagino mais sem você. Nem por um segundo, nem que você ou eu precise viajar separados, se afastar por alguma razão, eu não me vejo suportando isso. — acariciou a mão do outro com o seu polegar. — Às vezes, eu paro para pensar o quanto a vida está passando rápido, e sinto medo por estar deixando alguma coisa passar em branco. — se aquele era o momento para desabafar, o aproveitaria. — Eu tenho medo de um dia acordar e não ter você ao meu lado. Não ter a minha família ao meu lado. Porque ao mesmo tempo que temos tudo em um dia, no outro podemos não ter nada. — mordeu o inferior, hesitante. — Eu tenho… medo.
— Não precisa ter medo. — Jin se aproximou, tocando o queixo de seu amado e depositando um selinho doce em seus lábios, querendo o passar confiança. Sabia que por mais que Namjoon tivesse seus lá quase dois metros, mero exagero, era um homem cheio de medos e extremamente tocável, por ser sensível. Era como uma jóia preciosa, que por mais valor que ela possuísse, se tocasse ao chão quebraria. Por mais que ele fosse cheio de forças também, era como se não funcionasse sozinho, precisava de engrenagens girando à seu favor. — Temos que viver um dia de cada vez, sem se preocupar com o amanhã, ou com o fim. Não existe fim para o que amamos, Namjoon, porque nós podemos o deixar vivo. — encarou dentro de seus olhos, sentindo o coração palpitar. — E eu juro que vamos estar bem velhinhos em uma cadeira de balanço, bem clichê mesmo, conversando e reclamando dos nossos netos fazendo bagunça. Juntos. Eu irei reclamar sobre você ter derramado leite na sua roupa de novo, e você irá rir e dizer que não se lembra disso. Se for para ter um fim, eu quero que seja ao seu lado. — juntou suas duas mãos as do mais novo, ficando de frente para ele. — Sempre será você e eu, nunca se esqueça disso.
Namjoon, então, fechou os olhos e esperou que a boca de seu companheiro se juntasse a sua. Ele queria muito chorar, porque estava tocado, porque pensar naquelas coisas que somente pertenciam ao futuro mexiam com ele, mas não iria. Era um momento feliz, um momento de intimidade, queria expor todo o seu amor à Jin e queria senti-lo também. Já que era terno, era gostoso, quente e acalentador.
— Eu sou mesmo um homem de sorte. — disse ao se separarem, voltando a caminhar. — Obrigado por tudo isso, Jin.
— Obrigado por tudo isso, Namjoon. — cantarolou, o imitando. — Se não fosse por você…
— Não, nada disso. Se não fosse por nós… — completou, mostrando uma fileira de dentes certinhos, moldando um belo emoldurado. — Eu não fiz nada sozinho, você também não. Nós precisamos um do outro, e eu quero que continue assim.
— Você tem razão. — abaixou a cabeça, envergonhado. — Eu esqueço o quão racional você é.
— Eu só estou falando a verdade. — chocou seu ombro ao dele.
— É, sei disso. — suspirou, se recompondo.
Houve um pequeno intervalo de tempo, para logo Namjoon começar a tagarelar, cheio de assunto.
— Eu quero continuar falando mal daquela mulher ridícula que acha que é minha chefe. — rompeu de uma hora para outra, como se estivesse fofocando. — Você acredita que ela teve a audácia de dizer que eu estava trabalhando errado? Mal chegou, e já quer sentar na janelinha.
— Ah, que ridícula! — desdenhou, embalando no assunto. — Podemos sequestrar ela? Ninguém iria descobrir, e se livraremos do encosto ruim.
— Eu vou conversar com o meu chefe para ele tentar transferir aquele monstro. — dramatizou. — Amor, você não sabe o quão insuportável ela é.
— Pra mim tudo isso é inveja. — revirou os olhos. — Ou… ela pode estar de olho em você!
— O que?
— Ela é bonita? — quis saber, cheio de curiosidade. — Você por um acaso…
— Não, Jin! Perto de você, ela não é ninguém. Aliás, ninguém é. Olhe para você, eu tenho um homem maravilhoso. — se gabou, ouvindo a risada esganiçada de Seokjin. — Benzinho, não precisa se preocupar, ok? Eu sou todo seu.
— Não estou com ciúmes.
— Você está sim.
— Não, não estou.
Namjoon parou na frente de seu esposo, depositando um selinho rápido em seus lábios. Parecia um adolescente roubando o primeiro beijo de seu pretendido.
— Você está. — voltou a andar, rindo da coloração avermelhada que tomou as bochechas de Jin. — Podem entrar mil pessoas naquela empresa, bonitas ou não, meus olhos só estarão em você. Não me confunda com uns por aí.
— Nunca nem olhou para aquele cara também?
— Que cara?
— O do outro andar. Um americano bonitão, ruivo, que fica te dando bola. Ele deu em cima de você até quando eu fui te buscar, quase quebrei a cara dele. — murmurou a última parte, fechando a cara. — Só não fiz isso porque Jungkook estava comigo. — abaixou a cabeça novamente ao perceber o que estava falando. Sabia que o outro não gostava de manifestações de violência, resolvia tudo na base de uma boa conversa, porém, naquele instante, nem mesmo ele pareceu lidar, apenas riu. — Estou com ciúme.
— Ciúme só mostra que o amor não morreu. — quase comemorou feito uma criança. — Claro que ele tem que ser saudável e não prejudicial para nós dois, mas… Enfim, ele nem é tudo isso que você está falando. Eu mal o vejo, e sinceramente? Ninguém supera a sua bunda.
— Acho bom.
— Não vai falar que ninguém supera a minha bunda também? — se virou, indignado.
— Não. — riu, olhando para o relógio. — Temos que ir buscar os meninos na casa do Jackson. — apertou o passo. — Já está tarde para eles ficarem na casa dos outros.
Namjoon, mesmo contragosto, concordou. Não estava muito preocupado porque sabia que seus dois amigos, Mark e Jackson, eram de confiança. Fora que as crianças amavam os filhos deles: Yugyeom, Jinyoung e Youngjae. Hoseok se dava tão bem com o último citado que era assustador, e isso somando com o amor enorme dos gêmeos pelo elétrico Yugyeom. Jinyoung era mais retraído, era o mais velho e não gostava muito de se misturar com os menores, porém, às vezes era visto lendo contos para que os meninos ficassem mais calmos e se divertissem de outra maneira que não fosse destruindo a casa.
No fim, foi um encontro proveitoso e que com toda certeza se repetiria mais vezes. Eram, e sempre seriam, dois adolescentes apaixonados um pelo outro.
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