História Famous. - Zayn Malik. - (Concluída). - Morrer.

  A R I A

Terminamos os ensaios quatro horas mais tarde e as ordens de Gen foram claras: "coma e durma até a hora do show." Não estava reclamando, já que desci daquele palco com o corpo inteiro pedindo algum descanso.

 Pelo que eu entendi, teria que achar algum lugar para ficar por aqui, já que só voltaríamos para o hotel de noite. Não foi muito difícil, já que tinha várias pessoas cuidando de tudo. Thesea parece que tinha ficado responsável por mim, já que assim que coloca os grandes fones pretos e pega uma planilha, me manda lhe seguir. 

 Passando pela parte de dentro, o famoso backstage, estava lotado. Pessoas passavam de um lugar para o outro, araras de roupas, instrumentos, fios, tudo, até chegarmos num local que tinha portas. Duas delas tinha o nome "One Direction" no lugar que dava para trocar e substituir por outro de forma fácil, do lado esquerdo delas tinha uma com o meu nome. 

 Tenho sensações mistas quando noto que era o meu primeiro camarim. 

 - A senhorita Laurent pediu para que você ficasse aqui. Qualquer coisa, terá pessoas te checando e você pode apenas pedir se faltar algo. - Reconheço o sobrenome de Genevieve na frase e concordo, agradecendo. 

 Thesea sorri e começa a voltar pelo caminho que viemos, me deixando sozinha para entrar na sala que tinha o meu nome. 

 Abro a porta e dou de cara com um cômodo bege, maior do que eu esperava. Em uma parede tinha o típico e clichê espelho com luzes em volta e uma mesa bem cumprida e branca, acompanhado de uma cadeira. 

 Os sofás que tinham no meio da sala eram bem grandes e na mesa de centro tinha vários tipos de comidas, desde industrializadas a naturais e frutas, além de uma frigobar que eu imaginei estar cheio. Em uma arara no fundo da sala tinha um saco protetor de roupa, o que me fez raciocinar que o meu figurino estava ali. 

 Pelas ordens de Genevieve, o que eu tinha que fazer agora era dormir e comer, então é isso que eu faço. Ou melhor, tento. Como, tomando cuidado de não escolher coisas pesadas para não passar mal e tento tirar um cochilo, no sofá que era bem confortável, mas foi só isso mesmo, um cochilo. Mal tenho tempo de fechar os olhos quando batem na porta. 

 Uma cabeça loira aparece, o cabelo perfeitamente penteado para atrás e um sorriso no rosto. 

 - Boa tarde, sou eu que vai arrumar o seu cabelo hoje. Meu nome é Bella, muito prazer. - Sua voz era tão doce quanto a sua aparência e eu sento no sofá, falando meu nome e lhe cumprimentando de volta. 

 Ela sorri e indica a cadeira na frente do espelho para eu sentar, o que eu faço e segundos depois ela tira coisas da gaveta que eu não sabia que tinham e começa a arrumar meu cabelo, deixando as mechas castanhas antes lisas, onduladas. Eu tinha muito cabelo, então para fazer qualquer coisa que precisava dividir ele em partes demorava muito. Tipo muito mesmo. 

 Bella nota isso quando se passa mais de uma hora e ela ainda só tinha feito um dois terços do que era preciso. Acho divertido sua leve cara de desespero, mas ela se apressa um pouquinho e consegue terminar a tempo, finalizando com um monte de spray fixador e tentando arrumar de um jeito que não me atrapalhasse nas coreografias, mesmo que já estivesse acostuma, já que a maioria dos ensaios tinha que fazer com o cabelo solto. 

 - Terminamos. - Ela aparece, de certa forma, aliviada e eu rio fraco, agradecendo e olhando em volta o resultado. 

 - Ficou muito bom, muito obrigada. - Bella sorri e se despede, falando que daqui a pouco os maquiadores chegariam. 

 Antes que cheguem, porém, eu corro para tirar a roupa, ficando apenas com a debaixo e colocar o roupão com todo o cuidado do mundo para não estragar o cabelo. Amarro o nó de forma segura e volto para a cadeira, cruzando uma das pernas e tirando uma foto do reflexo no espelho. 

 Posto nos stories com a musiquinha que eu só lembrava ter o refrão de "I'm a bitch, I'm a boss", vendo os números das notificações da DM encherem pela resposta, mas nenhuma chegando por não ter verificada. 

 Dois toquinhos na porta tiram a minha atenção da tela e eu peço para entrar falando que estava aberta. Novamente, uma mulher aparece e ela está carregando muitas coisas, assim como a primeira, Bella, sorrindo e parecendo feliz.

 - Temos apenas duas horas, então temos que ser rápidas. - Duas horas era pouco? 

 - Okay... - Respondo, um pouco confusa e fechando os olhos enquanto ela começa toda a preparação da pele antes de maquiar.

 *

 Minutos antes do show, eu estava completamente pronta, incluindo a roupa. Não era nada demais, já que não era muito a minha coisa os figurinos terem tanta importância no palco. Eu já achava "demais" ter coreografia, mas entendia que ajudava tanto em não deixar muito monótono, como em dar uma experiência mais legal e melhor pros fãs. 

 Agora que estava perto, surpreendentemente, eu não estava tão nervosa... Bem, quase. Ainda estava sentindo todos os sintomas desconfortáveis, mas parecia que seria uma coisa distante, como se eu não estivesse a, literalmente, minutos antes de subir no palco. Já dava para escutar os gritos e era como se uma corrente constante de energia estivesse passando por mim. 

 Três batidas ritmadas na porta quase me fazem desmaiar. Quem eu estava querendo enganar? É claro que eu estava nervosa. Eu estava morrendo. Quem achou que seria uma ideia isso? Por que eu aceitei isso? Eu, obviamente, não iria conseguir, ou seja, não tinha ponto. Era isso. Eu ia me esconder aqui e ficar, até que uma hora tudo estivesse vazio e eu voltasse para casa. O plano perfeito. 

 - Licença... - Fico surpresa de não ser Gen e sim Zayn. - Achei que você tinha morrido. - Ele brinca, ainda não entrando, apenas com uma parte da porta aberta. 

 - Pode entrar. - Falo um pouquinho baixo até, tentando achar a minha voz no meio do meu surto e Zayn entra, estando arrumado também. Acho que nunca vi seu cabelo tão bem penteado como agora. 

  - Pedi para ficar pronto primeiro para poder te fazer companhia, se você quiser. - Ele está com duas garrafas de água na mão e me dá uma. - Lembrei que você disse que estava nervosa e o primeiro show com uma plateia maior é sempre horrível. - Eu concordo, pegando a garrafinha que ele estende e abrindo para beber logo em seguida. 

 - Eu acho que vou morrer. - Confidencio o meu medo e ele ri, compadecido. 

 - Pode ser essa a sensação, mas tenho certeza que você não vai. - Ele estava muito certo enquanto eu não tinha tanta confiança sobre isso. 

 - Você não sabe, eu posso. - Rolando os olhos divertidos, ele abre a própria garrafinha e bebe um pouco, a minha pulseira dourada tendo destaque no seu braço tatuado. 

 - Sim, mas ai você pode com qualquer coisa que você faça, não apenas isso. - Zayn tinha razão sobre, mas ainda assim. 

 - Não importa, morte. - Ele ia tentar me convencer que não, porém a porta é aberta novamente, sem nenhuma batida dessa vez e Gen aparece, parecendo estar muito feliz e animada, mas a expressão caindo para uma neutra quando vê Zayn no cômodo. 

 Eles não estavam realmente confortáveis um com a presença do outro e isso era notório. Gen tolerava pouca coisas nessa vida e com certeza falar do seu trabalho não estava entre elas. Achei um pouquinho infantil, mas não iria opinar nem me meter, afinal, eu tinha um problema maior na minha frente. 

 - Cinco minutos. - É tudo o que ela fala antes de fechar a porta. - Um minuto ai dentro, os outros quatro para irmos pro palco. - Sua voz sai abafada e, novamente, a sensação de morte retorna. 

  - Está pronta? - Pergunta Zayn, animado, mas ele, claramente, consegue ver que não só de olhar para mim. 

 - Eu tenho que ir. - Pronta ou não. 

 - Break a leg. - Ele me deseja a famosa frase de sorte antes de qualquer apresentação e a batida impaciente de Gen na porta avisa que não teríamos mais tempo. 

 - Obrigada. - Respondo, ainda sentindo a mente e o corpo fora de mim e lhe abraço rapidamente, mal notando que tinha pensando em fazer isso e já estava saindo para dar de cara com Gen no corredor. 

 - Vamos, vamos. - Passamos por todos quase que correndo, todo mundo no caminho sorrindo para mim e desejando boa sorte. 

 Estava quase sendo uma experiência fora do corpo. Como se não estivesse acontecendo comigo. Não sabia explicar. Não sabia nem como eu parei no lugar que iria subir para chegar no palco. 

 - Vão apagar as luzes e você vai entrar, relaxa, aproveite, cante tudo e é isso, boa sorte. - Gen volta com a expressão animada e até carinhosa, como se estivesse com orgulho e me vira para a direção que eu teria que seguir. 

 Se eu não morresse hoje, eu não morreria nunca mais.