História Famous - 1x03 Trezentos Segundos

Yoongi estaria na cidade a partir de amanhã, o dia do meu aniversário, e eu estava extremamente empolgado para revê-lo depois de tanto tempo, nós continuamos conversando depois daquele dia e foi como se nunca tivéssemos nos distanciados. As aulas de dança estavam ótimas e era uma boa distração do mundo real, dentro daquelas paredes de vidro eram apenas Lisa, Jimin e eu dançando e se divertindo durante quase todos os dias.

Depois das aulas na maioria das vezes íamos jantar ou beber alguma coisa, a segunda opção sempre partia de Jimin, que eu descobri ser um pinguço de primeira. Eu evitava beber todas as vezes, tinha medo de fazer as coisas que fazia. Passei oito meses em uma clínica de reabilitação e realmente não quero voltar, meus fãs não sabem sobre nada disso e me sinto mal por não contar sobre meu estado atual. Poucas pessoas nos EUA sabem onde estou, além de minha família.

Eu tenho poucos amigos que posso chamar de verdadeiros e eles são os únicos que sabem meu paradeiro. O primeiro é Namjoon Kim, um rapper e produtor renomado, nós nos conhecemos na primeira premiação a qual eu compareci, senti-me confortável ao seu lado pois apesar de ter nascido em New Jersey e seu pai ser americano, suas raízes asiáticas sempre foram muito marcantes devido a criação de seus avós maternos. Serei eternamente grato por ele ter vindo falar comigo naquele dia, pois ele tem os melhores conselhos que alguém poderia dar e também me ensinou tudo que sei sobre produção musical.

A segunda é Irene Bae, uma atriz extremamente linda e carismática que conheci em uma das minhas noitadas por Los Angeles e que me ajudou quando eu acabei passando mal, naquela noite eu me odiei e ela cuidou de mim como se eu fosse seu irmão mais novo. Desde aquele dia ela vêm me aconselhando e cuidando de mim mesmo à distância, todos os dias desde que vim para cá eu recebo uma mensagem de bom dia sua. Ela pode aparentar ser uma pessoa fria, porém é uma das mais doces e amáveis que já conheci.

Em terceiro temos Kim Seokjin, um coreano com descendência alemã com uma beleza impressionante. Ele começou a carreira como modelo muito jovem na Alemanha e ainda adolescente se mudou para os EUA, coincidentemente fomos colocados no mesmo curso de inglês quando chegamos em Los Angeles e continuamos amigos até hoje. Atualmente, ele possui uma agência de jovens talentos – sejam modelos, cantores, dançarinos ou atores –, e também atua em grandes produções de Hollywood, pergunto-me como consegue conciliar tudo isso e ainda ter tempo livre.

Por último, mas não menos importante temos Roseanne Park, a australiana com a voz mais bela que tive o prazer de escutar. Nós fizemos uma parceria há quase dois anos e mantemos o contato depois disso, o que fez rumores de um possível relacionamento entre nós surgir, porém que logo foi negado. Ela foi a primeira pessoa que chegou a dizer que eu estava me afundando logo no início de tudo, mas eu não lhe dei ouvidos naquela época e esse foi um dos meus piores erros e mesmo com tudo isso ela continuou ao meu lado.

Amigos verdadeiros são difíceis de encontrar, porém quando se encontra você tem a certeza que serão para toda vida e isso não tem preço que pague. Eu tenho essa sensação com Lisa e Jimin e espero que nossa amizade evolua bastante no tempo que ficarei aqui. Pensar em meus amigos faz um sorriso nascer em meu rosto, o que desperta a curiosidade de minha vó.

— O que foi querido? — Ela pergunta enquanto prepara mais uma bandeja de doces para amanhã.

— Estava pensando nos meus amigos que estão em Los Angeles. — Digo a ela. — Queria que eles estivessem aqui, assim como meus pais e meus irmãos.

— Oh meu pequeno... Não fique assim, em seu próximo aniversário você passará com todos eles. Sim? — Ela me lança um olhar de compreensão e assinto com a cabeça colocando a bandeja dentro da geladeira.

— Seu avô foi colher algumas maças para eu fazer aquela torta que o menino Yoongi adorava. — Disse. — Você viu as notícias? — Ela perguntou e eu assenti novamente. — Coitado... As pessoas o estão julgando por amar.

— Acho o mesmo, vó. — Sentei na mesa ao seu lado e comecei a fazer as bolinhas de brigadeiro junto a ela.

— Sabe o que mais me aborrece? — Fez uma pergunta retórica. — Nunca foi pecado amar e as pessoas tratam como se fosse, apenas por eles serem do mesmo sexo. Isso realmente me aborrece. — Terminou sua última frase com um suspiro.

Concordei com ela. Apesar da idade já avançada minha avó sempre teve uma mente aberta em relações a esses assuntos que infelizmente são um grande tabu na Coréia. Continuamos com os preparativos para a comemoração até meu avô chegar e vovó me expulsar da cozinha afirmando que meu avô possuía muito mais habilidades culinárias que eu.

Saí rindo em direção ao quarto e deitei na cama, agora de casal e nova que vovô fez questão de comprar ainda na primeira semana que cheguei. Peguei meu celular na cabeceira e abri o aplicativo de mensagens vendo as várias mensagens não lidas.

Irene foi a primeira que abri:

Irene Bae

Bom dia, Tae.

Como estão as coisas?

Boa tarde você quis dizer.

Estão bem.

Vovó está preparando várias comidas para amanhã.

Como está a preparação para seu novo filme?

Sai de sua aba de conversa logo entrando na de minha mãe.

Mãe

Oi, meu bebê.

Você está bem?

E as aulas de dança?

Seus professores continuam gentis com você?

Mamãe está com tanta saudade e seus irmãos também, eles vivem perguntando sobre você. Seu pai está trabalhando muito esses dias e seu agente disse que os jornalistas voltaram a perguntar de seu paradeiro, mas não se preocupe com isso.

Iremos depois do Ano Novo visitar você. Sentimos muito a sua falta.

Também sinto saudades.

Eu estou muito bem, me sinto leve como a muito tempo não sentia.

Sobre as aulas de dança não poderiam estar melhores.

E sim, eles continuam gentis. São ótimos professores e ótimas pessoas também.

Eu sabia que uma hora os jornalistas iam voltar a procurar, mas por enquanto não quero dar nenhum parecer.

Também havia mensagens no grupo Kim Line, composto por Seokjin, Namjoon e eu.

Kim Line

Nam Hyung, Jin Hyung e Você

Jin Hyung

Tenho novidades.

A Kim Entertainment abrirá uma filial em Los Angeles e com isso eu expandirei meus negócios também para produção de séries e filmes.

Nam Hyung

Isso é ótimo!

Eu conheço um garoto que está cursando cinema, ele é filho de uns amigos dos meus pais.

O garoto tem talento, já vi uns vídeos que ele fez no YouTube. Talvez você se interesse por jovens diretores.

Jin Hyung

Isso seria ótimo.

Você sabe que eu adoro novos talentos. Me passe o contato dele no privado, por favor.

Mas mudando de assunto: como estão as coisas na Coréia?

E responda logo que eu sei que você está online.

Você

Calma.

Eu estava lendo as mensagens de outras pessoas.

Fico feliz pela sua conquista, se você tiver um bom roteiro em mãos eu falo com Irene. Ela com certeza faria sua empresa alavancar.

E está tudo bem por aqui, vovó está empolgada porque meu melhor amigo de infância está vindo para a cidade.

Faz muito tempo que não o vemos.

Nam Hyung

Irene está mesmo na melhor fase de sua carreira agora.

Ela logo em uma de suas primeiras produções seria um estouro.

O seu amigo irá passar o seu aniversário com você? Que inveja.

Jin Hyung

Já conversei com Irene e enviei alguns roteiros para ela analisar.

Não precisa se preocupar com isso, Tae.

Também estou com inveja, espero que não nos troque por esse 100% coreano.

Você

100% coreano? Sério?

Kkkkkkkk

Nam Hyung

Eu gostei dessa.

Eu sou metade coreano, metade americano.

Jin é metade coreano, metade alemão.

Somos 50%, então o outro é 100%.

Você

Sinceramente... Vocês não têm mais o que fazer?

Jin Hyung

Não.

Nam Hyung

Não.

Reviro os olhos com as últimas mensagens trocadas e vejo que Yoongi mandou mensagem avisando que já estava no trem e que chegaria em pouco menos de duas horas, o que me surpreendeu já que ele havia me dito que chegaria apenas amanhã.

Fiquei tão feliz com a notícia que saltei da cama e corri até a cozinha para pedir a caminhote emprestada a meu avô que jogou a chave com um sorriso brincalhão no rosto. Corri para o quarto e troquei de roupa, saindo de casa logo em seguida com o celular na mão.

O caminho até a estação nunca pareceu tão longo como naquele momento. A música que tocava no rádio não conseguia me distrair e meus dedos batucavam no volante sem parar, a ansiedade me consumindo aos poucos. Quando estacionei em frente à estação, corri para dentro.

O trem chegaria em cinco minutos de acordo com o painel de informações. Cinco minutos, um minuto têm sessenta segundos, então cinco tem trezentos segundos. Trezentos segundos... Não deve demorar a passar, certo?

Errado.

Eu andei de um lado a outro, minhas mãos suavam e minha garganta secou. Os trezentos segundos não passavam com a rapidez a qual imaginei. Agora falta um minuto para o trem chegar e... Ele chegou. Um minuto adiantado.

Cabelos verdes, eu procuro cabelos verdes em meio as pessoas que saiam do vagão. Então eu vi. 

Cabelos verdes e a pele extremamente pálida, exatamente como eu lembrava, vestido em uma calça preta, camisa preta, jaqueta preta e a máscara também preta, enquanto eu usava uma calça marrom, camisa de botões estampada com cores entre o verde musgo e o amarelo queimado. Ri com a nossa clara diferença e caminhei até ele.

Cheguei a sua frente e juro que quis chorar. Eu estou mais alto.

Ele abaixou a máscara e sorriu com o famoso sorriso gengival, então eu o abracei o mais forte que pude e fui retribuído. E só então eu finalmente me permiti chorar como um bebê.

Eu chorei por tudo. Pela saudade, pelo tempo que passei internado, por estar longe de minha família e amigos, pela decepção que causei aos meus pais e aos meus fãs, chorei por tudo e mais um pouco. Eu estava destruído e finalmente consegui liberar isso.

Yoongi me apertou mais em seu abraço como se dissesse que tudo ficaria bem e acho que essa foi a primeira vez que realmente acreditei. Ele nunca foi de muitas palavras, mas eu nunca precisei escutar sua voz para saber que ele estaria ao meu lado, como sempre esteve e como sempre estará.

— Eu estou aqui agora. Seu hyung está aqui, pequeno Tae.

Nem tão pequeno agora.