1. Spirit Fanfics >
  2. Fanboy >
  3. Heart Attack

História Fanboy - Heart Attack


Escrita por: Prolyxa

Notas do Autor


atualizando a fanfic esquecida no churrasco~~ ola ola ola ola

primeiramente, esse não é o final. Eu ia postar o capítulo final de uma vez, mas são 40K e eu sinceramente não acho isso fácil de ler???? seria muito cansativo, no mínimo. Daí pensei em dividir, mesmo que esse capítulo não seja tão pequenininho. Em segundo lugar, peço desculpas pela demora. Eu tinha planejado atualizar no dia do lançamento do álbum do Baekhyun, mas um parente próximo acabou falecendo nesse dia e eu fiquei pra lá de Bagdá (ainda tô but a gente vai seguindo) pra conseguir abrir o docs ou entrar no social pra mexer nisso.

Não sei se alguém ainda se lembra dessa fanfic ou tem interesse nela, no entanto, espero de coração que quem venha dar uma passada aqui pra ler me desculpe o atraso e se divirta lendo esse punhado de sebaek feito com muito amor ♡

Capítulo 7 - Heart Attack


 

Park Chanyeol não se cabia em felicidade. 

O sorriso em seu rosto era uma prova concreta de brilho e imensidão tamanho o sentimento que se alastrava por cada pedaço da sua pele e o fazia sentir uma revoada de borboletas castigando sua barriga em ansiedade. As pessoas que viam a pequena alegria moldando seus lábios não ficavam imunes; também sorriam porque compartilhavam da mesma felicidade que o Park sentia arranhar com unhas afiadas a boca do seu estômago. Afinal, assim como Chanyeol, todos os outros se encontravam agrupados à espera de que CBX subisse ao palco para o stage daquele comeback.

Oh Sehun, contudo, não era adepto da mesma alegria pela qual seu melhor amigo estava irradiando. 

O rapaz não sabia se odiava aquele sorriso na boca do Park ou se acabava se tornando naquele exato momento uma poça disforme da sua existência por ficar um tanto quanto encantado a cada vez que olhava para o rosto do mais alto. Na dúvida, era um misto de ambos — dependendo do sorriso, o processo de transformação de Sehun em um montante de idiotice ficava mais e mais próximo. 

Então, se Chanyeol se deixasse ficar ainda mais exultante com a ideia de que dali a poucos minutos veria seu queridinho CBX em plena glória, seu sorriso vinha acompanhado de covinhas. Piorava caso esse sorriso animado fosse direcionado a Sehun com aquela voz gostosa saída de um programa de rádio noturno. Não tinha jeito. O estrago que seu coração sofria, este escravizado pelo primeiro amor, era catastrófico. As coisas que Chanyeol lhe causavam faziam Sehun questionar certas decisões em sua vida. A primeira delas era do motivo de estar ali naquela porcaria de show.

Para começo de conversa, Sehun nem queria marcar presença com um único fio de cabelo da sua infeliz pessoa na plateia naquela noite. Mas lá estava ele fazendo parte do negócio com todos os cabelos de sua cabeça e todos os outros cabelos espalhados por seu corpo no finalzinho daquela adolescência fodida. 

Tinha ido para acompanhar Chanyeol, claro, a única razão para ter cabulado a aula logo quando o vestibular esmurrava a porta da vida adulta e todas as responsabilidades que vinham como bagagem extra. No entanto, Park Chanyeol era o seu melhor, melhor, melhor e melhor amigo no mundo todo desde quando Sehun se conhecia por gente e também estava de aniversário naquela semana, o que explicava a razão de Sehun ceder aos caprichos do adolescente sem levar em conta seus escrúpulos. O que Chanyeol queria ou pedia devido ao seu aniversário, Sehun fazia. Era coisa de melhor amigo, certo? Estar lá para quando der e vier, especialmente para tornar o dia do seu nascimento ainda mais especial, nem que fosse um pouco.

Com isso em mente, o menino mal raciocinou ou sentiu um pesar no peito quando gastou todas as economias que havia guardado de seus trabalhos de meio-período com o intuito de tornar realidade a tão desejada viagem a Nova York comprando os ingressos do show do CBX a Chanyeol para comemorar seus 18 anos de vida.

Comprou os malditos ingressos a Chanyeol como presente de aniversário — outra coisa que o levava a se questionar o quão longe ia o seu indigníssimo carinho pelo melhor amigo ao ponto de sacrificar seu sonho de anos de ir visitar uma cidade do outro lado do continente. Pareceu certo comprar aqueles ingressos para alguém que detinha o posto de melhor amigo. 

Quando Sehun comprou, não sentiu arrependimento. Talvez só depois de perceber que era por causa de CBX que Chanyeol andava fissurado ao ponto de não fechar a matraca um segundo sequer sem falar deles ou respirar pelo trio. Suas orelhas não aguentavam mais todo aquele papo de Jongdae isso, Minseok aquilo, Baekhyun aquele outro e CBX não sei o quê. Além do mais, para quem se dizia hétero e totalmente a fim de vaginas, o Park andava muito contraditório ao surtar pelas coxas de Minseok numa calça mais apertada, de ficar sem palavras pelo sorrisinho de Jongdae ou não resistir aos charmes de Baekhyun ao dar uma piscadela. O gay da história era Sehun. Sehun deveria estar morrendo por Minseok, Jongdae e Baekhyun. Quem deveria ter — e tinha — pôsteres de homens colados na parede do quarto era Sehun. Mas Chanyeol o vencia quando se tratava de ser fanboy de bandas ou grupos masculinos. Ninguém superava. 

Por conta disso, Sehun pensou que o melhor presente de aniversário ao melhor amigo era levá-lo para assistir, num bom assento, o show do trio que cantava suas músicas favoritas. Ele não pensava que Chanyeol iria exigir a sua presença como parte do presente. Já não bastava ter ganho a chance de ver seus meninos de perto? Precisava acrescentar o fardo de participar do show? Porque Sehun não queria fazer parte desse inferno pessoal; era o suficiente ter de ouvir sobre Minseok, Baekhyun e Jongdae. Mas o que é que ele não fazia por Park Chanyeol sem cogitar ou pensar a respeito? Não havia basicamente nada que Sehun não fizesse pelo outro. 

Assim, quando deu a grande notícia de que o amigo veria seu CBX nos palcos, Chanyeol surtou pior do que pobre em dia de pagamento e abusou do seu direito de aniversariante ao pedir que Sehun o acompanhasse nesse dia. O Oh pensou que não poderia ser tão ruim quanto ter que ouvir Chanyeol falar dos cantores vinte e quatro horas por dia, todo fucking dia. 

Ledo engano. 

O adolescente se ressentia imensamente por perder aula de revisão de trigonometria para ver CBX performando duas músicas num programa de televisão. Em um dos dias mais frios daquele inverno, estava enfiado no meio daquela muvuca recheada de meninas dadas a potenciais psicopatas que só viviam para ver o trio respirar. Aquelas garotas eram doentes, Sehun tinha certeza disso. Apostava que algumas fãs eram capazes de matar outro ser humano, pelo menos retaliar e destruir até alguém cogitar a morte por vontade própria se isso significasse afetar seu CBX. 

Sehun achava a maior idiotice do mundo o modo como endeusavam três homens com um monte de pelos no meio do saco. Tipo, como era possível uma coisa daquelas? Eles fediam e cheiravam como todo mundo. Se não fosse a fama, não passariam de pessoas comuns misturadas à multidão de olhos puxados. A única diferença era que tinham uma pele melhor, talvez com algumas plásticas, umas calças mais justas e que sabiam cantar (bem para um caramba, coisa que Sehun não gostava de admitir para Chanyeol). Mas era um absurdo. Absurdo também eram o que aquelas loucuras faziam pelo trio. Esperar meses por um comeback e considerá-lo como um pedacinho do paraíso? Virar a noite numa fila? Virar a noite votando para CBX ganhar algum prêmio? Os trocentos álbuns que compravam para ajudar nas vendas? 

Chanyeol tinha contado que um fansite do Baekhyun, um dos mais pequenos, havia comprado mais de  c i n c o  mil álbuns para aquele comeback só para começar. E se eles ficassem ainda mais famosos? E se acabassem se tornando um Super Junior ou Girls Generation da vida como Chanyeol tanto rezava para que pudesse acontecer? Sehun não tinha nem ideia para quantas centenas de álbuns aqueles fãs malucos iriam torrar o salário para ver seu CBX no top dos charts. Sehun simplesmente não conseguia se imaginar fazendo isso, gastando seu sustento com porcarias do trio, seja com roupas, itens de colecionador, pôsteres, lightstick, qualquer frescura que estivesse fazendo moda no fandom. Chanyeol, pelo contrário, não se importava de ser esse tipo de fã. Adorava ser.

— Já disse que você é o meu melhor e único amigo, Oh Sehun? — Chanyeol colou sua boca ao pé da orelha do outro para poder ser ouvido diante da animação de todos os eris que aguardavam a vez do trio no palco. 

— Melhor amigo do mundo, não é? — Sehun acrescentou com um sorrisinho amarelo após experimentar o arrepio da espinha por conta da voz de Chanyeol. 

— Na verdade, você é o melhor amigo desse universo — Chanyeol disse. — Não tem amigo mais incrível que você no cosmo inteiro.

— Provavelmente não. 

— Provavelmente nem mais convencido também — o adolescente adicionou provocador.

— Faz parte do meu charme. — Deu de ombros.

— É por isso que eu te amo. 

Eu te amo

Sehun parou de respirar por um segundo, encarando o rosto sorridente de Park Chanyeol. 

O melhor amigo sempre dizia que o amava. Não era nada incomum que uma declaração como aquela chegasse aos seus ouvidos e atingisse seu pobre coração adolescente. Acabava ficando daquela forma bagunçada, o peito perturbado pelos batimentos acelerados e a cabeça repleta de cenários onde um eu te amo escapava no meio de um beijo molhado. Por que tinha que cair na merda do clichê de se apaixonar pelo melhor amigo? Era uma merda gostar de Chanyeol. Merda porque Sehun sabia que o único significado por trás daquelas três palavrinhas não passavam do contexto da amizade e talvez nunca mudasse. 

Sempre amigos, não mais que isso.

O garoto se perguntava se Chanyeol não notava. Será que ele era tapado o bastante para não ouvir o coração de Sehun socando as paredes do seu peito toda vez que estavam juntos? Será que o Park não conseguia sentir aquela droga do seu coração sofrendo de um ataque epilético a cada abraço que trocavam? Será que Chanyeol não enxergava que Sehun não tinha olhos para nenhum outro menino além dele, o responsável por levar embora o seu primeiro beijo? Provavelmente não, já que só enxergava CBX.

Aquilo deixava Sehun enciumado, até raivoso. No entanto, o que podia fazer? Confessar? A ideia de perder Chanyeol por nutrir sentimentos diferentes fazia Sehun passar as madrugadas acordado. Os dois se conheciam desde sempre e Chanyeol era o seu melhor e único amigo naquele mundo, também o primeiro em tudo. Doía imaginar uma vida sem que o Park não estivesse lá, almoçando no domingo na sua casa, dormindo nas quartas-feiras no colchão reserva do seu quarto, jogando videogame juntos no sábado, andando de bike pelas ruas, rindo das piadas ridículas uma do outro no meio da aula. Sehun queria mais, como beijá-lo, tocar seu cabelo em um carinho diferente, sentir as partes do seu corpo com a ponta da língua, chamá-lo de amor. Mas sofreria um milhão de vezes mais se perdesse a amizade de Chanyeol. 

Era por isso que estava ao lado dele em silêncio, como um fã. 

Estava perto o suficiente e, ao mesmo tempo, longe demais. Podia assistir seus sorrisos, ouvir sua risada, sentir o calor do seu corpo próximo do seu, vê-lo feliz por causa de outras pessoas, mas nunca, jamais, em qualquer hipótese ultrapassaria aquela linha tracejada nas bordas do seu coração. 

Sentia inveja de Baekhyun, às vezes. Baekhyun tinha o amor de Chanyeol e nem sabia da sua existência. Era amado sem precisar amar de volta. Era importante para Chanyeol sem precisar fazer muito para isso. A última voz que Chanyeol ouvia antes de dormir era a de Baekhyun viajando por seus fones de ouvido através de uma música de amor. 

Não tinha como competir e Baekhyun nem sabia que fazia parte de alguma competição. 

O stage daquele comeback passou por Sehun voando, num piscar de olhos. A música era chiclete, a coreografia era interessante, o trio estava com um visual que se tornaria popular e as fãs foram à loucura de gritos e lágrimas, o que significava que tinham um hit nas mãos. 

— Você ainda está emburrado? — Chanyeol desviou os olhos do celular por um segundo, encarando Sehun que se encontrava sentado ao seu lado, um beicinho nos lábios e um fiapo da jaqueta jeans preso nos dedos, o cachecol vermelho enrolado no pescoço. 

O metrô seguia suavemente o seu caminho durante a noite e a voz de Sehun praticamente ecoou no vagão vazio àquela hora, o vento invernal da época deixando os vidros das janelas esbranquiçados. 

— Não estou. 

— Sabe que não adianta mentir, não é? Não pra mim. 

O garoto suspirou. 

— Essas fãs são loucas — declarou pesaroso. 

— Louco é você de falar uma coisa daquelas no meio da fila do lanche. Estava querendo morrer? — fez referência ao fato de o melhor amigo comentar sobre Baekhyun naquela noite e algumas garotas da fila do lanche, lanche este oferecido de graça em um food truck do trio para os fãs, não gostarem do comentário. Os dois terminaram saindo de lá sem o aperitivo e Sehun muito puto da vida.

— Morrer por falar a verdade?

— Sua opinião — Chanyeol corrigiu. 

— Que é a mais pura verdade.

— Isso é discutível. 

Sehun bufou. 

— Você é surdo ou não ouviu o jeito que ele desafinou?

— Qualquer cantor desafina — respondeu. — É normal, principalmente quando você está nervoso por causa do stage.

— Então o Baekhyun é muito nervosinho.  

Chanyeol franziu o cenho. 

— Qual o seu problema com o Baekhyun?

Você, pensou. 

— Nenhum — respondeu simplista.

— Por que você não gosta dele?

Porque você gosta dele, segurou o pensamento na ponta da língua. 

— Não sou obrigado a nada, inclusive gostar de alguém — falou. — Direito constitucional, certo? Você me contou sobre isso. 

Chanyeol arqueou a sobrancelha com a ousadia do amigo em usar contra si algo que havia dito a ele em outra circunstância, para que ele pudesse aprender a se defender.

— Também não sou obrigado a te defender quando praticar o direito de manifestação do seu pensamento muito desnecessário perto de alguma fã do Baekhyun ou do CBX. Vai descobrir o que é homícidio da forma mais dolorosa possível. 

— Você não faria isso. 

— Quem sabe — respondeu calmo. — Não sou obrigado a nada.  

Sehun encarou o melhor amigo, que riu baixinho ao seu lado.

— Sério mesmo, não entendo essa sua implicância com o Baekhyun — Chanyeol voltou a falar minutos depois de silêncio. — Ele é um cara tão legal, doce, gentil e até olhou pra gente hoje! — disse baixo, num tom devoto e feliz por rememorar o exato momento em que Baekhyun deixou seus olhos caírem bem onde estavam na plateia. Será que teria alguma fancam disso? Caramba, deveria ter gravado. 

— Também, como não olhar quando você estava gritando feito uma hiena no abate? — falou. — Hyung, eu te amo! Hyuuuung! — fez uma imitação grotesca de Chanyeol. 

— Ele olhou porque eu e você éramos os únicos fanboys ali. 

— Fanboys uma vírgula, meu amigo — Sehun rebateu. 

Chanyeol estalou a língua.

— Ser fanboy não é uma escolha, é um estado de espírito — disse solene. — Parte da sua alma. 

Sehun soltou um som de deboche.  

— Baekhyun até sorriu em nossa direção! Rolou contato visual, meu Deus. Nem consigo acreditar que foram exatos três segundos de olhos nos olhos com direito a um lindo sorriso. Tudo bem que ele pareceu olhar só pra você. Mas dá pra acreditar nisso? Byun Baekhyun olhando pra gente! — Chanyeol continuou com a voz apaixonada sem dar importância aos resmungos de Sehun. — O hyung é perfeito. E ele é só dois anos mais velho que eu e você, mas é uma pessoa tão incrível em tantos sentidos. Canta bem, é educado, engraçado, e abriu mão de tantas coisas para falar com as pessoas através da sua música. 

— Abriu mão de quê, por exemplo? — quis saber, porque em sua cabeça não conseguia visualizar que justamente Byun Baekhyun tivesse deixado alguma coisa de lado só para cantar.

— Você sabe bem — disse. — Família, amigos, a liberdade, sua privacidade, o direito de andar por aí sem um bando de loucas perseguindo e fuxicando na sua vida — enumerou. — Baekhyun passou a ser um alvo fácil para algum sabe tudo disfarçar sua opinião de crítica e dizer que ele não sabe cantar. 

— Eu não disse que ele não sabe cantar — sentiu-se na obrigação se de defender, fazendo um muxoxo nos lábios. 

— Você não disse. Mas sempre tem alguém que diz e isso machuca, Sehun. Magoa de verdade — explicou. — Pode parecer fácil ser um idol olhando de longe. Mas e os sacrifícios que fazem? As horas que não podem dormir? As coisas que não podem comer? A cobrança em ser o melhor? Os treinos e ensaios que são infinitos? A saudade da família, a preocupação de agradar os fãs e vender álbuns… — sua voz morreu lentamente. — Não é porque estão sorrindo ou rindo que tudo é o paraíso.

Sehun ficou calado depois que Chanyeol terminou de falar. Internamente, ele se perguntou se era aquele o motivo do Park desistir de ser cantor. Tudo já estava certo; ele cantava como ninguém e tocava todos os instrumentos do mundo tamanha a sua habilidade em aprender com apenas um olhar. Muitas empresas haviam ligado para seus pais para investir na carreira dele, fosse solo ou em algum grupo que faria muito sucesso. No entanto, do nada, Chanyeol simplesmente desistiu. Não queria mais. Enfiou na cabeça que cantar era um hobbie e que queria seguir uma carreira mais definida. Desde aquele dia em diante, passou a estudar com afinco para ingressar em uma universidade para cursar Direito.  

 — Enfim — Chanyeol retornou o assunto. — Não gostar do Baekhyun é como cometer um crime. 

— Culpado — Sehun murmurou com uma leve ironia na voz, levantando a mão direita para cima.

O Park balançou a cabeça em negativas. 

— Quando eu apagar minha vela de aniversário nesse fim de semana, vou fazer um pedido do fundo do meu coração. 

— Que o Baekhyun aprenda a cantar? — disse com afronta, recebendo um safanão na orelha em resposta e um olhar ameaçador de bônus que o fez engolir o riso e ficar quieto.

— Ouça bem as minhas palavras — pontuou solene —, ainda vai chegar o dia que você vai gostar muito do Baekhyun ao ponto de só ter olhos pra ele e eu vou estar lá pra ver isso. 

Sehun riu. 

— Esse é o seu pedido? Porque vai desperdiçá-lo numa bobagem que não vai acontecer nunca nessa vida.  

— Sentimentos mudam — respondeu descomplicadamente. — E você é a prova viva disso. 

— Usar Game of Thrones como argumentou já deu o que tinha que dar, Chanyeol.

— E você acha que vou parar de usar o fato de você detestar a série com todo o seu coração ao ponto de só falar mal dela, pra depois se tornar um daqueles fãs nerds que leu todos os livros, e você leu todos os livros publicados em inglês, e sabe todos os nomes dos personagens de cor e salteado? Inclusive os nomes de quem morreu ou vai morrer. 

— Tudo isso foi sua culpa, que fique em evidência nos autos — contra-argumentou pomposo. — Você me fez assistir a série porque não gosta de assistir sozinho, você me deu os livros de aniversário em inglês porque comprou errado e você nunca lembra o nome de ninguém e fica perguntando pra mim.

— Culpado — admitiu sem remorso, um sorriso na boca. — Isso prova que nosso querido Baekhyun ainda tem chance. E essa chance vai começar nesse concerto. 

— Que eu vou contra minha vontade. 

— Você vai porque é meu melhor amigo e sua presença está inclusa no presente.

— Tecnicamente, seu presente é ir no concerto. Minha presença é um adicional que, devido aos anos de amizade e o fato de você usar muita chantagem emocional comigo, vai me trazer um pouco de paz se eu fazer o pequeno sacrifício de ir. 

— Você realmente me ama. 

— É — concordou. — Pra você ver as coisas que faço por amor. 

O melhor amigo sorriu largo, as covinhas se formando em suas bochechas salientes. Em seguida, Chanyeol não se demorou em estender um dos lados dos fones de ouvido a Sehun para que pudessem ouvir música juntos como faziam sempre ao andar de metrô. 

— CBX de novo? — Sehun perguntou só por perguntar, já sabendo a resposta tão óbvia no sorriso amarelo de Chanyeol. 

Fechando os olhos, a voz (bonita pra um caramba) de Baekhyun encheu seus ouvidos em What is love. Por dentro, repetia a si mesmo que nunca, jamais, em hipótese alguma, seus sentimentos mudariam. Não tinha como. Nem pensar. Não havia qualquer probabilidade disso acontecer. Nem depois que fosse ao concerto (que, no final das contas, não iria; ficaria doente e sua irmã mais velha tomaria seu lugar como companhia a Chanyeol). 

Mas sério, gostar de Byun Baekhyun? 

Impossível.














 

Aquela foi a primeira de muitas vezes que Byun Baekhyun procurou por um garoto em específico na multidão de fãs. 

 

*

 

Se o dia de um idol tinha o dobro de horas para que ao menos metade das coisas em sua agenda pudessem ser feitas, as madrugadas significavam que o tempo podia ser infinito.

As noites não eram feitas para dormir ou para descansar. Qualquer cantor, integrante de algum grupo ou trainees que almejavam fazer sucesso no futuro tinham conhecimento disso. Ao assinar o contrato com uma empresa, o gostinho da esperança de ser muito famoso e com canções que estariam na boca do povo e no topo de todos os charts, um sacrifício disfarçado de esforço acontecia através daquela pequena e inofensiva assinatura. 

Com a tinta marcada naquele papel, seus dias não eram mais seus, nem suas noites, nem seu nome, seu rosto, seu dinheiro, sua vida, nem sua liberdade, mais nada. Alguns até brincavam sobre fechar um contrato com o diabo, a alma em troca de um sonho, e não discordavam ser exatamente isso quando mais tarde, ao ter seu sonho pincelado por indícios do pesadelo.

De manhã até a manhã seguinte, a rotina era cuidadosamente severa: ensaios, treinos, mais ensaios, mais treinos de canto, dicção, comportamento, dança, sessão de fotos, eventos de divulgação do trabalho, mais publicidade, fansigns, fanmeetings, showcases, viagens. Ficava pior se tivesse que aprender uma outra língua em meio a tantas atividades — mandarim não era um idioma simples e fácil de se entender em condições favoráveis ao estudo, imagine tentar fixar o novo conhecimento numa rotina problemática como a de um idol.

E as dietas para perder peso e se encaixar no padrão do corpo que as pessoas gostavam de ver na televisão? As tantas apresentações que aconteciam para promoção do trabalho, mesmo cansado, com fome, sem dormir por dias? Sessões de fotos desconfortáveis? Os horários malucos que se resumiam em cochilar na van a caminho de algum compromisso e comer como um passarinho? As situações vergonhosas e até humilhantes vinham de bônus ao montante de coisas na lista interminável que havia naquela busca ao reconhecimento.

Quando a época de turnê chegava, Baekhyun se recordava do começo da sua carreira.

Naqueles dias do início da sua preparação, ele ensaiava canto até sua garganta doer como se nada mais pudesse sair dali. Às vezes, mal conseguia dormir pensando se era capaz de algo, se conseguiria tornar-se um cantor que as pessoas gostariam de ouvir e sentir algo no coração através de suas melodias. Não tivera  anos e longos meses de treinamento como todos os outros garotos. Baekhyun chegou bem depois e sentia que não merecia estar ali; por isso se esforçava tanto, fazia tanto e treinava tanto para que não parecesse injusto. Contudo, todo tipo de pensamento rondava sua cabeça enquanto dividia cada segundo, minuto e hora do dia por seu sonho.

Eu deveria desistir?, Baekhyun já chegou a pensar coisas assim nos momentos mais difíceis, ele era humano e seu corpo cansado de persistir e pouco dormir o fazia duvidar do seu próprio talento quando mais precisava ser confiante. Mas, então, após chorar escondido e desaguar tudo o que estava entalado no peito, ele respirava fundo, dizia que tudo ficaria bem e sorria; precisava tentar mais, precisava tentar de novo. No dia seguinte, com certeza, as coisas seriam melhores. Baekhyun acreditava nisso. E continuou com tal pensamento mesmo depois que o trio alavancou com Growl.  

Diferente do que podiam pensar, nada ficava mais fácil com o sucesso. Talvez o tratamento por parte de certas pessoas, a comida do dia a dia, o dinheiro que caía na conta bancária, as roupas que se tornavam melhores, os presentes dos fãs que eram mais pretensiosos e caros, o modo como os programas e marcas grandes insistiam por seu nome ao invés da sua empresa implorar por patrocínio como um cachorro de rua esperando por migalhas na esquina. No entanto, tudo aquilo tinha um preço. E o preço era a cobrança por mais hits que se enquadrassem no gosto musical dos ouvintes exigentes e sempre famintos por um novo hino nacional.

Era necessário permanecer no topo das músicas mais tocadas nas rádios, ficar em primeiro nas vendas digitais e físicas, ganhar troféus em premiações de música, os ingressos para os concertos esgotados em menos de um segundo, as aparições nos programas mais famosos das emissoras de renome no país e possuir um fandom poderoso o suficiente para fazer o possível em comprar, persistir com as streams, comprar, streams, comprar e dar todo o apoio do mundo àquele grupo. Era preciso sempre impressionar.

Para que isso acontecesse, o trabalho duro deveria ser desmedido para continuar brilhando. Afinal, a música era como vento — sempre havia uma nova à espreita para causar rebuliço na monotonia do dia a dia, pronta para acompanhar a tendência que aquele momento estava pedindo. Contudo, as pessoas eram instáveis quanto ao gosto daquilo listado numa playlist, já que podiam apreciar um vendaval como uma brisa da tarde, correndo o risco de determinada canção onde o cantor havia apostado todas as fichas não chamar a atenção do público em geral, algo muito comum naquela indústria perversa. O sucesso ficava para uma segunda tentativa, quem sabe.

De outro lado, em se tratando de turnê, significava que todas as tentativas de sucesso foram alcançadas.

Por isso, as empresas nunca perdiam tempo de arrecadar mais dinheiro por meio de uma série de shows que viajam por uma cartilha de países. Se aquele artista que gerenciava, fosse grupo ou cantor em carreira solo, tivesse o interesse do público, se estivesse bem na mira dos holofotes da mídia, ganhava uma turnê. 

Shows eram um sinônimo para expansão, tal como uma tamanha oportunidade de reunir fãs, proporcionar algumas horas de um bom entretenimento memorável e fazer publicidade. Ao final deles, havia o extra de um lindo DVD com as melhores performances de toda a turnê. E dependendo da procura, seja pelo show mediante a quantidade de assentos vendidos, seja pela gravação da turnê por inúmeros fãs que ansiavam por ver seu idol favorito cantando suas músicas e dançando, a empresa tinha noção de que todo o poder estava em suas mãos. Ela podia fazer absolutamente qualquer coisa com o nome do seu artista que aquilo lhe renderia lucro, constituindo a regra básica do dar e receber — oferecia seu conteúdo e embolsava os rendimentos.

O primeiro show da turnê do CBX tirou as noites de sono de Baekhyun, embora ele já tivesse consciência de como seria. Sentiu-se novamente ao nervosismo do debut, quando foi apresentado ao mundo. Minseok e Jongdae compartilhavam do pensamento, uma vez que o plano original era debutar em um grupo grande cujo conceito era o de superpoderes, um bando de garotos vindos de um outro planeta. Até tinham um nome. EXO. Era meio esquisito de início, mas Baekhyun havia se acostumado com a ideia de passar vergonha e rir daquilo. Talvez as pessoas gostassem e curtissem o diferente quando o mais comum era conceito bad boy e o colegial.

A empresa, entretanto, mudou o projeto sem uma explicação coerente. O grupo de mais de nove integrantes limitou-se a um trio com as iniciais dos membros remanescentes — Chen, Baekhyun e Xiumin.

Foi devastador, principalmente para Minseok que tinha um problema de timidez no começo. Falar não era muito do seu feitio e estar de frente às câmeras ou ser o centro das atenções o deixava ansioso à beça. Jongdae também era bastante acanhado no primeiro instante se em um ambiente novo. Até mesmo Baekhyun sofria do embaraço desconcertante de falar em entrevistas de rádio e programas. Apesar disso, o fato de que estariam em um grupo com mais garotos como eles, como Kyungsoo, Junmyeon e outros trainees da empresa, deixou o coração dos três rapazes mais tranquilos. Se houvessem mais membros por perto, ficar mais à vontade seria bem mais simples de quando apenas três.

Ainda assim, não houve jeito e o Byun acabou se tornando o tagarela do trio para ajudar os amigos nas entrevistas e suprir os momentos de silêncio com sua conversação. Ele não se importava de tornar o clima confortável para que os membros estivessem tranquilos e confiantes para se soltar e mostrar o charme individual; eram sua família e uma família fazia aquele tipo de coisa uns pelos outros.

Todavia, no primeiro show da turnê seu corpo inteiro fluía em inquietação e muito, muito medo. A mente de Baekhyun criou hipóteses atrás de hipóteses, o coração acelerado no peito enquanto se corroía por cada uma delas. E se sua voz não funcionasse? E se ele desafinasse numa nota alta? E se errasse a coreografia? Meu Deus, e se esquecesse a letra da música, sua própria música? Pior, e se terminasse se esquecendo da coreografia enquanto esquecia das linhas da música? Não, nada disso era tão ruim quanto: e se as pessoas não gostassem do show? Os pesadelos que teve de olhos abertos imaginando a possibilidade de não agradar seus fãs o fizeram ter tremores nas mãos e noites regadas de angústia. Precisou respirar fundo uma, duas, três, quatro, cinco e uma porção de vezes para que pensamentos como aquele e até os mais piores não o corroessem de vez. Ele nem dormiu na noite antes do concerto. Passou em branco, de olhos arregalados, repassando cada música do repertório.

O engraçado era que, mesmo após anos disso, de tantos shows e tanta experiência pesando nas costas, Baekhyun sentia-se da mesma forma como na primeira vez quando à beira de uma turnê. Todos os medos bobos voltavam com mais força para assombrá-lo, levando-o a ensaiar com mais vigor e dar o melhor de si para mostrar um Baekhyun incrível em cada performance. Os fãs, segundo seus pensamentos, mereciam o seu máximo, mereciam algo que fosse perfeito.

Para mais, a turnê daquele ano possuía uma importância muito maior na carreira do trio; seria a última que fariam juntos antes de Minseok se alistar no exército para cumprir seu dever como cidadão. Dessa maneira, as atividades do CBX estariam limitadas. Mas a empresa já tinha feito um planejamento para suprir a falta de um membro. Jongdae teria seu tão esperado solo, assim como muitos trabalhos em osts de novelas. Baekhyun também teria seu solo antes da chegada da sua vez em se alistar. 

Naquela noite, igualzinho à anterior, eles haviam ensaiado todas as músicas e coreos com a banda e os dançarinos. Repassaram alguns pontos por uma segunda vez apenas para certificar de que a qualidade estivesse boa, havendo uma breve troca de sugestões e aconselhamentos para os shows que viriam antes de um pequeno intervalo. 

— Academia depois? 

Baekhyun, estirado no chão da sala onde estavam realizando os ensaios da turnê, encarou Minseok com o olhar incrédulo, soltando um chiado lamurioso. O mais velho riu da sua cara.  

— Não quer seu tanquinho de volta? 

Baekhyun girou o corpo para o lado e escondeu o rosto com o braço, o cabelo úmido colado na testa. 

— No atual momento, no exato instante, eu só quero ficar deitado nesse chão pra sempre.

Minseok aproximou-se de Baekhyun, este que voltou a ficar de barriga para cima, e segurou suas pernas com as mãos para alongá-las.  

— E o papo de malhar até morrer?

Baekhyun suspirou. 

— Pois parece que já morri — declarou, fazendo uma careta por sentir o músculo de uma das suas coxas assim que Minseok empurrou suas pernas. 

— Mas já está desistindo? — Minseok continuou risonho, com disposição para encher o saco do mais novo. — Não aguenta nem uma sessão de treino? Bem rapidinho? — insistiu com a voz misturada de brincadeira. — Meia hora de musculação? Só com o básico. Braços, pernas e peitoral. — Baekhyun balançou a cabeça em uma minúscula negativa. — Então… que tal subir algumas escadas? — sugeriu com falsa seriedade. — Alguns agachamentos? — jogou. — Dez flexões? Um pouco de esteira, talvez? 

— Opções tentadoras — pontuou ao mais velho. 

— Mas?

— Maaaaaas — repetiu. 

— Você não quer suar a camisa — Minseok completou.  

— Nem de lágrimas. 

Minseok mordeu o lábio inferior segurando o riso. 

— O que eu disse sobre ser mole, Baekhyun?

— Acho que passei de mole pra estado líquido faz algum tempinho, sinceramente  — respondeu. — É tarde demais pra mim. 

— Ainda há esperança pra você. E pode ser divertido — insistiu, chacoalhando as pernas do mais novo para relaxá-las.  

— Claro, porque musculação é sempre muito divertido — ironizou.

— Segundo o famoso ditado: a dor é o melhor remédio — disse, apertando a parte inferior da coxa de Baekhyun numa massagem. — Como você já está dolorido, sentir mais um pouquinho de dor não vai fazer diferença. É por isso que você deveria vir malhar comigo.

— A dor é o melhor remédio para um masoquista. — Baekhyun se sentou depois que Minseok terminou de ajudá-lo a se alongar e observou o mais velho esticando-se para lá e para cá como se não estivesse nem um pouco cansado. — Coisa que estou achando que você é.

— Estou mais para dedicado — replicou estufando o peito duro contra o tecido justo da blusa fina de mangas longas. 

— Disse a traça de academia.

Minseok deixou uma risadinha escapar. 

— Isso ficaria bem como estampa de camiseta. 

— Vou lançar essa na minha próxima coleção de roupas e dar o seu nome como homenagem.  

— A homenagem ficaria ainda melhor se os lucros também fossem compartilhados — sugeriu com um sorrisinho junto de uma piscadela. 

— Não cansa de ficar rico, não? 

— Eu disse que sou dedicado. — Deu de ombros de uma forma inocente, tirando uma risada de Baekhyun. 

Durante alguns minutos, Baekhyun ajudou Minseok a se alongar e relaxar os músculos para que, depois, voltassem aos ensaios. Os dois passaram a falar de academia nesse momento, um dos tópicos de conversa favorito do mais velho. E Baekhyun não conseguia deixar de concordar que, no final das contas, Kim Minseok era mesmo dedicado. Até porque, na realidade, Minseok foi obrigado a perder peso no início das atividades em grupo. 

Baekhyun se lembrava que, dos três, Minseok foi aquele quem mais precisou mudar e se sacrificar em dobro no decorrer da carreira. A cobrança sobre ele era ainda maior quando falavam da aparência e de como ela deveria ser para o público que os ouviria. 

Era o mesmo papo de sempre: você deveria comer menos. Você deveria se exercitar mais. Você deveria fechar a boca. Você deveria fazer dieta. Por que não pula essa refeição, já que comeu bastante da outra vez? Não deveria nem estar com fome. Você deveria pensar mais sobre a sua aparência. Você não quer ter fãs? Então emagreça um pouco. É para a sua saúde. 

Minseok ouviu muitos comentários do tipo por todos aqueles anos. Às vezes, olhares. E por mais que ele dissesse que tudo estava bem, que não se importava, Baekhyun sabia que ele não estava bem e que ele se importava. Já tinha visto Minseok chorar. Muitas vezes durante o banho para que ninguém percebesse ou no meio da noite para que ninguém soubesse; chorar escondido era algo que costumava fazer quando precisava desafogar tudo o que estava entulhado lá dentro.

No entanto, aceitar a si próprio era uma tarefa muito difícil que nem mesmo a pessoa com a maior autoestima do mundo conseguia fazê-lo em determinados dias da sua vida. Imagine, então, ter os próprios complexos antigos por seu corpo e ter de ouvir que você deveria mudar completamente para que outros te aceitassem só porque aquele tipo de aparência era o que gostariam de ver porque consideravam como o padrão certo. E ouvir todos os dias. Ouvir através de olhares. Ouvir de si mesmo quando pensava em comer todas aquelas comidas que gostava, mas que não deveria porque estava se controlando, certo? Tinha que manter a dieta e ficar em forma para agradar a todos os espelhos que havia nos olhos das pessoas.

 Depois do futebol, beber café era uma das coisas que Minseok mais gostava e ter de parar por um tempo quando pegou firme em uma dieta brutal onde não podia comer praticamente nada e passar à folhas ou sementes o fez sofrer à beça. Começou a malhar logo em seguida e nunca mais parou. A ideia de emagrecer, conseguir o corpo dos sonhos e se encaixar num padrão tornou-se o único pensamento da sua cabeça, o foco da sua rotina do dia a dia. Sempre que tinha tempo, estava na academia. Fosse à noite, de manhã, à tarde ou de madrugada, Minseok iria à academia para malhar e suar a camisa.

Entretanto, ainda que Minseok tivesse sido induzido pela pressão social em se adequar aos moldes que eram considerados apropriados, sua perseverança e obstinação eram pontos que não poderiam passar despercebidos. Além de que, em meio a isso, Minseok se viu gostando do hábito de se exercitar. 

Baekhyun não podia dizer que o sentimento era recíproco. Quer dizer, se exercitar um pouco era bom, ficar saudável também, mas desde que Minseok fizera sua “aparição” musculosa em um show e que Jongdae seguiu o curso mostrando muita pele e peitoral em outro concerto, era óbvio e esperado que deveria ser a vez de Baekhyun em impressionar os fãs naquela turnê. A empresa tinha adorado a ideia porque seria um sucesso e sucesso significava mais dinheiro. Afinal, muitos fãs comprariam ingressos para os shows só porque o CBX estaria nele, mas ficariam ainda mais felizes se Baekhyun tirasse a camisa. Coisa de marketing. 

 O único problema em ficar com o corpo bonito para tirar a camisa no palco era o processo de deixar o corpo bonito para tirar a camisa no palco. E não comer pizza nesse meio tempo, meu Deus do céu. Porque se tinha algo que Baekhyun amava naquele mundo, era pizza. Ou comer no geral. E não poder fazer nenhum desses dois era um inferno em terra. Baekhyun, porém, estava dando um duro há meses com os treinos da academia e seu corpo já mostrava os óbvios sinais do esforço físico. Abdômen mais definido, braços e coxas firmes, sua silhueta bem demarcada. 

Apesar do seu corpo cansado e do sacrifício de não comer seu carboidrato favorito, Baekhyun gostava daquela sua nova aparência, principalmente porque podia deixar Sehun mais caidinho a cada foto que mandava dos seus treinos, a camisa levantada, o abdômen úmido do suor, suas coxas contra o tecido do moletom em certo exercício… Ou das fotos pós-banho, mais íntimas, com direito ao seu traseiro, clavículas molhadas e um pau duro de presente, o que rendia em uma troca de mensagens ou até mesmo ligações e videochamadas para matar o tesão do momento. Às vezes, Baekhyun só mandava as fotos e sumia para algum compromisso, deixando Oh Sehun lidando sozinho com tudo aquilo.

Desde que os preparativos da turnê haviam começado, Baekhyun e Sehun não conseguiam se encontrar com tanta frequência como antes, embora no antes eles também não se encontrassem todo santo dia. A vida corrida de Baekhyun em contraponto com a vida professoral de Sehun não eram fáceis de se conciliar para que pudessem estar juntos de segunda a domingo, ao menos uma horinha por dia. Assim, as mensagens, videochamadas e ligações cobriam bem a saudade que a distância um do outro causava. No entanto, como diziam, tampar o sol com a peneira não funcionava tão bem como deveria. Ou como Baekhyun e Sehun gostariam que funcionasse. Ainda mais ao pé do relacionamento estranho que nutriam.

Porque era um fato evidente e inegável: aquele relacionamento que mantinham era muito demais e muito tanto para algo que, a princípio, deveria ser baseado em sexo. Afinal de contas, Baekhyun precisava transar, Sehun precisava transar, então unindo o útil à necessidade foi fácil fazer com que funcionasse no começo. E sexualmente falando, eles funcionavam mais do que bem. Além de ser prazeroso, era tão incrível transar um com outro que não havia expressão ou qualquer palavra boa o suficiente para descrever. O jeito como os corpos se conheciam e se excitavam só com o toque ultrapassava o normal. As preliminares lentas, os olhares, a voz ao pé do ouvido dizendo sacanagens, tudo aquilo era um conjunto que provava o quanto eram perfeitos. 

Sehun sequer se imaginou gozando tanto com um cara e de uma maneira absurda que o deixava entorpecido por horas, os efeitos da transa viajando por suas terminações nervosas como quando acontecia com Baekhyun. 

A última vez que transaram foi tão estupendamente maravilhoso que Sehun brincou com Baekhyun que ele ainda seria a sua morte, ao passo que o mais velho devolveu brincalhão que "tecnicamente, amor, meu pau seria a sua morte".

Amor, quando Sehun ouvia isso da boca do vocalista tinha certeza que Baekhyun seria o causador do seu óbito qualquer dia desses. Não tinha jeito. Não tinha como explicar a forma como seu coração se comportava de ridículo por escutar essas palavrinhas doces de Baekhyun. Um amor que saía natural, junto de um beijo estalado na bochecha, no pescoço, enquanto os dois conversavam descontraídos sobre nada e tudo. E isso levava o relacionamento que deveria ser supostamente descomplicado ao nível crítico do complicado porque Sehun não conseguia enxergar uma forma onde no futuro o amor viria acompanhado de um sempre

Baekhyun tinha fresco na memória aqueles dias em que anunciou seu namoro com uma cantora famosa de um grande girl group da mesma empresa. A situação foi medonha. Os comentários na internet, os fãs em revolta nas redes sociais e em frente da empresa, o reboliço de notícias fomentando ainda mais uma coisa que deveria ser simples. Era apenas um namoro. Um namoro entre um cara e uma garota que não deveria ser nada demais, sendo exatamente o contrário.

Mesmo que a empresa tenha avisado previamente que a reação da mídia seria um pouco exagerada sobre aquilo, Baekhyun não esperava que fosse ser daquela maneira. O ódio gratuito que recebeu por namorar, as milhares de petições enviadas para que ele fosse tirado do CBX porque aquilo era uma completa traição, os patrocínios que perdeu, o pranto dos fãs através de comentários… A empresa sugeriu que Baekhyun ficasse sem celular naquela época, porque não deveria ler nada na internet. Parou de ir a eventos, de aparecer em programas durante um ano todo, limitando-se em estar em atividades com o grupo, ficado no seu canto esperando a poeira baixar. Baekhyun murchou tal qual como uma flor. 

Mas ele sabia de cada coisa que escreviam sobre si. Sabia do ódio. Sentia. Sabia de tudo. E foi horrível. Foi horrível para ele e foi ainda mais horrível para a garota.

Não era uma experiência que tinha vontade de repetir. Não queria ser odiado de novo. Não queria que as pessoas ao seu redor sofressem — seus companheiros de grupo, sua família, seus amigos, a pessoa que gostava. E, principalmente, Baekhyun não queria sofrer também. Era muito egoísta da sua parte?

— Você… — Sehun começou a falar depois de um tempo de silêncio, os dois deitados na cama, o carinho que Baekhyun ganhava no cabelo persistindo mais devagar naquele momento. — Você estava apaixonado por ela? Quando estava namorando.

 Baekhyun prendeu a respiração e Sehun repetiu o ato, parando com o carinho em seguida. 

Era um assunto delicado. Um assunto que Baekhyun fugia de falar, criando uma proteção para se esquivar de ter que rememorar tudo aquilo novamente. Fosse em entrevistas em programas (algo que sua empresa deixou de levá-los), fosse com as pessoas mais próximas no seu dia a dia, o tópico o deixava desconfortável, trazendo à tona toda aquela desordem de sentimentos e acontecimentos traumáticos. Evitava tentando ser brincalhão, emendando com outra conversa. Mas essa época era seu calcanhar de Aquiles, a mancha no boletim que jamais iria desaparecer. 

Também era egoísta da sua parte não querer evocar essas memórias do namoro? Porque mesmo que coisas boas tivessem ocorrido no ato de estar junto de uma pessoa, foram tantas ruins que encobriram esses pontos doces e tornaram as lembranças dolorosas em sua cabeça. 

— Desculpa por perguntar isso — Sehun emendou depressa, após o silêncio sepulcral de Baekhyun. — Não é da minha conta. 

Baekhyun mordeu o lábio, negando. 

Não era justo. Sehun lhe contava tantas coisas sobre si mesmo, fossem tristes ou não. E Baekhyun em muitas vezes era quem tinha a curiosidade, aquele que questionava a respeito, aquele que tinha o interesse de saber mais. Deveria retribuir a sinceridade quando eram tão abertos um com o outro.  

— Não é isso — respondeu. — É um assunto delicado pra mim — falou. — Mesmo depois de alguns anos, eu ainda evito falar a respeito. 

— E você nem precisa falar — Sehun adicionou. 

— Mas também não preciso fugir disso pra sempre. Foi só um namoro, não o fim do mundo. 

Sehun voltou a embrenhar os dedos pelos cabelos de Baekhyun, desembaraçando-os gentilmente. 

— Eu gostava dela — admitiu. — Bastante. 

Sehun enrolou uma mecha do cabelo do mais velho no dedo e o enrolou devagarinho. 

— Às vezes sinto falta da companhia — contou baixinho. — Da amizade — explicou. — Do humor, das piadas, as brincadeiras. Ela era uma excelente amiga.

— Não são mais amigos?

Baekhyun riu abafado. 

— Não sou a sua pessoa favorita no mundo — disse. — Não depois de tudo. 

A noite estava quente no quartinho de Sehun, uma vez que seu ar-condicionado tinha quebrado e o pequeno ventilador que havia comprado para ventilar não era o mais potente. Mesmo assim, a sensação morna do contato do corpo de Baekhyun com o seu não era desagradável e o silêncio que se estabeleceu também não. Sehun voltou a desembaraçar os fios de Baekhyun e este, com a cabeça deitada no travesseiro ao lado, fechou os olhos. Durante alguns minutos, o quarto se resumiu no barulho do ventilador girando.     

— Você pensa em namorar alguém de novo?

Essa era uma das perguntas que Baekhyun também fugia com frequência, principalmente quando sua consciência a jogava em seus pensamentos ao lembrá-lo que não seria jovem para sempre, que não seria cantor para sempre. Em algum momento a fama iria diminuir, outros jovens animados pelo sucesso viriam a ultrapassá-lo — sua própria empresa já tinha vários deles à espera —, sua vida não se resumiria apenas em produzir material para agradar fãs. Baekhyun teria novos objetivos e um deles era o de estar com alguém. Formar uma família. Casar. Arrumar um compromisso de aliança, quem sabe. Mas não queria ficar sozinho, não depois de ficar por tantos anos se privando de tantas coisas.

Entretanto, isso era algo para um depois

Um depois que, sem querer, o fazia pensar em Sehun tantas e tantas vezes, transformando o depois em agoraagora eu só quero estar com você

— No futuro, sim — se viu murmurando. — E você, quer namorar alguém?

— Sim — Sehun respondeu rápido. — Eu quero. — Baekhyun levantou o rosto para fitá-lo. — No futuro — acrescentou sem encarar o outro. — Pode ser bobo, mas quero namorar um cara com quem vou poder passar o resto da minha vida. Casar, ficar junto, dizer eu te amo.

Sehun devolveu o olhar de Baekhyun nesse momento, seus cílios piscando em lentidão, o ar pesado de muita coisa. 

‒ Não é bobo, é bonito ‒ o mais velho proferiu. ‒ O homem que você escolher vai ser um grande sortudo ‒ completou em tom baixo. 

‒ Sortudo por ficar comigo?

‒ Sim ‒ replicou com certeza na voz. 

Sehun abriu um sorriso de canto. 

‒ Na verdade, acho que eu serei o sortudo nisso tudo se ele quiser ficar comigo — confessou.  

‒ Você já tem alguém em mente?

O Oh aquiesceu devagarinho, sendo devorado pelos olhos de Baekhyun. 

‒ Quem? 

Byun prendeu a respiração pela segunda vez.

O vocalista jamais se esqueceria de como se sentiu nesse momento. De como Sehun desceu com os seus dedos contornando sua bochecha com imenso carinho. De como a porcaria do seu coração parecia também ter decidido parar de respirar para destruir seu peito a murros como quem precisa de oxigênio rapidamente. De como o sorriso de Sehun era todo seu e de mais ninguém naquele mundo. 

Baekhyun jamais se esqueceria de como estava perdidamente apaixonado por Oh Sehun. 

O seu telefone tocando naquele instante estragou a chance mais próxima de que já tiveram para falar sobre sentimentos, sobre aquilo tudo que andavam sendo, sobre como gostariam de ser no futuro.

‒ Atende ‒ Sehun murmurou. ‒ Deve ser importante. 

Baekhyun esperou, seus olhos fixos em Sehun. 

Queria saber quem. Queria sua resposta. Queria tanto que fosse seu nome. Queria ouvir seu nome dos lábios dele. Queria ser o cara sortudo pelo resto da vida.

Queria ser aquele que ouviria o eu te amo pra sempre.  

‒ É seu manager, Baekhyun. ‒ Sehun viu o nome brilhando na tela do celular. ‒ Answer — insistiu. ‒ Go.

Quando atendeu o telefone e precisou ir embora por conta na mudança de horário de um compromisso importante, soube que não teria outra oportunidade tão perfeita como aquela para falar com Sehun sobre o que andavam sendo.  

‒ Sehun confirmou presença no nosso fim de semana ‒ Minseok comentou ao lado, os olhos na tela do celular. 

Baekhyun sacou o celular do bolso, olhando as mensagens no grupo. 

 

Minseok: pessoal, posso adicionar uma pessoa ao grupo? 

Jongdae: O Kyungsoo saiu do grupo mais uma vez? 

Jongdae: É a quinta vez só nessa semana, caramba.

Jongdae: Temos um recorde? 

Junmyeon: Ele ainda está grupo, Dae

Kyungja: Ainda estou. 

Kyungja: Mas se quiser, posso sair de novo.

Junmyeon: Já está bom, não? É a quinta vez só nessa semana que você já saiu.

Junmyeon: Temos um recorde, pelo visto.

Jongdae: Virou festa isso aqui

Kyungja: É o Minseok que não desiste de mim e não me deixa partir   

Minseok: Não desisto porque você não deixa

Minseok: Fica sempre curioso sobre o que estamos falando

Jongdae: Tem cara de santo, mas a verdade é que o Kyungsoo adora saber as fofocas 

Junmyeon: E ver se o Baekhyun está usando meme da sua cara

Junmyeon: Os melhores memes, diga-se de passagem 

Jongdae: Os memes do Kyungsoo deveriam ser patrimônio histórico

Junmyeon: tesoouro nacional 

Minseok: KKKKKKKKKKKK

Minseok: Socorro

Jongdae: Ai, eu ri disso. Que besta.

Junmyeon: Eu sei que você riu, você sempre ri das minhas piadas

Junmyeon: E eu te amo, Kyungsoo 

Junmyeon: Me responde no privado aquilo que te falei também

Jongdae: Joga na roda

Jongdae: Não tem isso de privado, não. 

Jongdae: Somos todos amigos aqui.

Minseok: Concordo com o Jongdae

Minseok: Joga na roda

Minseok: Sabem que sou curioso.

Minseok: Mas voltando, posso adicionar alguém no grupo?

Junmyeon: Quem?

Jongdae: Quem?

Kyungja: Quem?

Kyungja: E já te respondi, Junmyeon. Vai ser aquilo mesmo.

Junmyeon: Aposta fechada então.

Minseok: Eu realmente quero saber disso aí, @Kyungsoo e @Junmyeon. Se for aposta eu quero participar. 

Jongdae: Quero participar da aposta também.

Jongdae: Valendo dinheiro? 

Kyungja: Valendo dignidade

Baekhyun: coisa que você nem tem mais. 

Jongdae: [Jongdae inseriu uma foto]

Junmyeon: Estava demorando pra aparecer. 

Junmyeon: Aliás, esse meme do Kyungsoo é novo. Adorei. 

Baekhyun: tem mais de onde esse veio. 

Baekhyun: use sem moderação. 

Baekhyun: te amo, soo

Kyungja: Se foder, Baekhyun.

Jongdae: Isso é algo que ele adora

Junmyeon: Quem não adora?  

Kyungja: Olha

Jongdae: Olha

Junmyeon: Falsos.

Jongdae: Aqui ninguém é padre pra ficar confessando pecados, Junmyeon.

Kyungja: Minseok nem falou nada. 

Baekhyun: Não falou porque ele é velho no assunto. 

Baekhyun: Mente aberta. 

Minseok: O lema é: dependendo da situação, se foder é bom.

Junmyeon: Falou e disse. 

Baekhyun: Amém.

Kyungja: Enfim, quem é a pessoa, hyung?

Minseok: É o Sehun

Minseok: Oh Sehun. 

Jongdae: Aaaaah! O bebê do Baekhyun!

Junmyeon: O fã número um do Baekhyun?

Jongdae: o fã número todos. Baekhyun vai ficar pianinho se você adicionar o menino pra parecer que é decente.

Junmyeon: Nem se ele tentar não funciona. 

Baekhyun: Os sujos falando do mal lavado. 

Kyungja: Gosto dele e acredito que seja confiável.

Kyungja: Tem a minha bênção. Pode adicionar. 

Minseok: Um voto a favor.

Jongdae: Abrindo um adendo para comentar sobre a decisão do Kyungsoo: só eu achei que isso foi inédito? 

Junmyeon: E rápido. 

Junmyeon: Eu te conheço há anos, Kyungsoo, e nunca ouvi isso.

Junmyeon: NEM POR MENSAGEM.

Jongdae: Compartilho do surto do Junmyeon.

Jongdae: Que favoritismo é esse, Do Kyungsoo?

Jongdae: Não te amei o suficiente, seu ingrato? 

Minseok: Deixa o menino. 

Jongdae: Você diz isso porque o Kyungsoo vivia indo dormir contigo e te enchendo o cu de carinho. 

Junmyeon: Quanto a isso eu não sei, mas se a informação for verídica, ainda vai dormir. 

Jongdae: Sua noiva sabe disso @Kyungsoo, que anda dividindo a cama com outro homem?

Minseok: Meu apartamento é próximo das gravações da novela, então ele vem dormir de vez em quando. 

Minseok: Mas em questão de dividir a cama, todos vocês adoram fazer isso comigo. Não tenho culpa se me amam a esse ponto.

Minseok: Agora vão dizendo, posso adicionar o Sehun? É pra combinar o fim de semana livre antes da turnê.

Jongdae: Kyungsoo o favorito do Minseok, que novidade. 

Junmyeon: Minseok adora os novinhos. 

Junmyeon: Você acha que ele gosta de você por quê? 

Minseok: Você também é novinho, Junmyeon.

Kyungja: Acho que ouvi o chicote estalando?

Kyungja: Ouvi. 

Jongdae: @Baekhyun você edita ou eu edito? 

Jongdae: Deve ter uma imagem do Kyungsoo pra colocar isso de legenda. 

Junmyeon: Eu acho que tenho uma aqui. Mando pra você @Baekhyun

Kyungja: Depois vão ao inferno e não sabem o porquê. 

Jongdae: Eu sou católico e sou amigo de um padre, não coloco nem os pés lá pra te dar um oi. 

Junmyeon: E eu sou amigo do Jongdae. 

Jongdae: O Baekhyun talvez vá fazer uma visita pra tomar chá. Ele tem mais anos de aterrorização.

 Baekhyun: Olha

Jongdae: Olha nada. 

Junmyeon: Falando em Baekhyun, por mim tudo bem adicionar Sehun. 

Junmyeon: Me recordo dele. Foi na estreia de todos os meus musicais. 

Junmyeon: Tiramos até foto. 

Junmyeon: Rapaz gentil, educado e bonito. 

Minseok: Lindo. 

Jongdae: De tirar o chapéu. Sem contar que é um amor de pessoa. 

Kyungja: Quero ver quem é também. 

Junmyeon: Vê no Instagram. 

Jongdae: Esqueceu que ele não tem Instagram?

Junmyeon: Olha só quem fala. 

Minseok: Está atrasado nas notícias, Junmyeon. 

Minseok: Jongdae anda bastante ativo nas redes sociais, mas se escondendo nas sombras do anonimato. 

Junmyeon: Que traição, Dae. Nem pra me contar! 

Jongdae: Porque você ia me seguir.

Junmyeon: E a amizade? 

Kyungja: E a foto do Sehun? Quero ver logo. Daqui a pouco tenho uma gravação, agiliza. 

Minseok: @Baekhyun manda uma foto da sua galeria secreta de amor. 

Jongdae: Evita os nudes, mas se vier tudo bem, a gente vê quieto.

 

            Baekhyun rolou a conversa mais um pouco, admirando-se com o tanto que o grupo de amigos tinha conversado naqueles dias, os horários loucos de resposta aparecendo no cantinho. Parou na conversa mais atual, encontrando Sehun por ali. Não conseguiu deixar de sorrir.   

 

Minseok adicionou Oh Sehun ao grupo

 

Minseok: Bem-vindo, Sehun!

Jongdae: Bem-vindo, bebê!

Junmyeon: Bem-vindo! 

Kyungja: Seja bem-vindo~ 

Oh Sehun está digitando…

Oh Sehun está digitando…

Oh Sehun está digitando…

Oh Sehun está digitando…

Oh Sehun está digitando… 

Jongdae: Eita, será se travou o teclado?

Junmyeon: Gosto de textão, não me importo se for um.

Minseok: Sehun, tudo bem?

Oh Sehun: Desculpa

Oh Sehun: Não muito bem. 

Oh Sehun: SUPER bem. 

Oh Sehun: Eu estava procurando um gif. 

Baekhyun: Você estava surtando, não é? 

Minseok: Não seja indelicado, Baekhyun. 

Jongdae: Morreu o cavalheirismo.

Baekhyun: Ai, desculpa. Mas não é verdade mesmo, Sehun?

Oh Sehun: Não.

Baekhyun: Sehun.

Oh Sehun:

Oh Sehun: Você ainda tem o número da emergência na discagem rápida?

Baekhyun: Sempre. 

Oh Sehun: Bom. 

Oh Sehun: Se eu sumir, já sabe o que fazer. 

Oh Sehun: Aliás, oi, hyungs~~ 

Oh Sehun: Muito obrigado por me adicionar ao grupo de vocês. 

Oh Sehun: Estou muito honrado, de verdade.  

Junmyeon: Sinta-se em casa aqui. 

Jongdae: Apesar de todas as besteiras já ditas. 

Kyungja: A grande maioria que o próprio Baekhyun fala. 

Junmyeon: Ele digita rápido na mesma velocidade que pensa bobagem, mas isso você já deve saber.

Minseok: A mesma coisa para edição de imagens. 

Junmyeon: E ele tende a divagar sozinho pelas madrugadas. 

Jongdae: E às vezes manda áudio. 

Minseok: Várias vezes. 

Kyungja: Gritando o nome dos outros ou rindo de nada, esse filho de uma mãe. 

Kyungja: No meio da noite. 

Jongdae: SIM!

Baekhyun: Ei, o intuito do grupo não era falar a respeito do fim de semana antes da turnê? O churrasquinho? UH?

Baekhyun: Porque não lembro de ter combinado uma sessão pra lavar roupa suja sobre mim. 

Jongdae: Tenho uma pilha de roupa suja sobre você pra lavar, então vou precisar de muitas sessões, amigo. Estou só começando. Esteja avisado.

Junmyeon: Além disso, Sehun precisa ter certeza mesmo de que vai continuar sendo seu fã número um pra sempre. 

Minseok: Você sempre pode ser meu fã número um, Sehun cof

Jongdae: Ou o meu cof 

Junmyeon: Meu eu já sei que você é.

Jongdae: Um convencido.

Junmyeon: Mas não é verdade, Sehun?

Oh Sehun: Totalmente, hyung.

Junmyeon: Adoro quando me chama de hyung. Aprende com ele, @Jongdae e @Baekhyun.

Jongdae: E o Kyungsoo?

Minseok: Ele é vip. 

Jongdae: E daí?

Junmyeon: Daí que o Kyungsoo não precisa aprender nada porque é educado, pronto.  

 Kyungja: p r o n t o.

Oh Sehun: Falando em pronto, Kyungsoo hyung, faz alguma coisa pra passar o episódio da novela hoje! Porque eu  p r e c i s o  saber o que acontece. Não vou aguentar até na próxima semana. Não estou mentalmente pronto pra isso.

Minseok: Pelo amor de deus, sIM. Muito injusto acabar naquela parte agoniosa. Dá um spoiler, Soo!

Junmyeon: Eu também concordo em ganhar um spoiler, pequenininho que seja. 

Jongdae: Dá esse spoiler, Soo, porque o Minseok não vai ter paz assim. Sabe que a alma de noveleiro dele não permite.

Minseok: Admite que você também quer saber o que vai acontecer. Você assiste a novela do Kyungsoo todo dia. 

Oh Sehun: A cena final com a sua voz de fundo, Jongdae hyung… Me emocionei. 

Minseok: Um olho escorreu da minha lágrima.

 

           

            Baekhyun continuou lendo mais algumas mensagens, entretido na forma como todos eles interagiam. 

 

Minseok: Todo mundo vai conseguir ir nesse dia? 

Junmyeon: Vou ter uma sessão de fotos de manhã, mas pego estrada logo em seguida. Eu vou.

Jongdae: Você vai me dar carona, Min.

Baekhyun: Tenho uma aula de canto durante a manhã, só que vou remarcar pra outro dia. Contem com a minha incrível presença. 

Kyungja: Apareço. 

Jongdae: Você tem que aparecer, porque você e eu estaremos no comando da churrasqueira. 

Kyungja: O Minseok pode começar até eu chegar. 

Jongdae: Começar a queimar a carne, você diz? Já se esqueceu daquele dia de verão? Porque eu não. 

Minseok: O carvão estava com defeito. 

Jongdae: Ai, Minseok, só você pra me fazer rir a essas horas.

Baekhyun: Todos os três sacos de carvão estavam com defeito.

Junmyeon: Eu nem lembro mais se a carne era carvão ou o carvão era a carne. 

Minseok: Junmyeon, menos. Você também não é nenhum MasterChef. 

Junmyeon: E por causa disso não fico querendo matar ninguém de intoxicação alimentar. 

Minseok: Falei pra fazer carne na churrasqueira elétrica. 

Jongdae: Vou levar uma dessa vez. Quero ver a desculpa que vai rolar. Defeito da energia?

Minseok: Não vou chegar nem perto dessa carne também.

Jongdae: Só pra comer. 

Minseok: Obviamente. 

Kyungja: Vão querer outros acompanhamentos? Pra eu fazer e levar.

Baekhyun: A carne caramelizada com aquele seu molho secreto.

Junmyeon: POR FAVOR.

Jongdae: Aquele molho ardido que você faz, meu deus.

Minseok: E o mexido de arroz com legumes da grelha? O patê de ervas finas! SEU KIMCHI.

Junmyeon: Salivei.

Jongdae: Fiquei com fome, meu senhor.

Junmyeon: Soo, precisamos conversar sobre a possibilidade de você trabalhar meio período em casa cozinhando pra mim.

Jongdae: E arrumando a bagunça que o Minseok não vence de arrumar.

Junmyeon: Minha bagunça tem uma lógica, tá?

Jongdae: A lógica de que você é um bagunceiro? Sim.

Junmyeon:

Kyungja: Sehun, você gostaria de comer algo em especial? Porque faço pra você. 

Oh Sehun: Hyung, qualquer coisa que você for cozinhar está bom pra mim, sério. 

Kyungja: Pode pedir qualquer coisa, Sehun. 

Jongdae: Pedeeee.

Junmyeon: A pergunta que sempre sonhei em ouvir dos teus lindos lábios.  

Oh Sehun: kajauaahhaga acredito que ficarei satisfeito só com o que você já fizer, Kyungsoo hyung.

Kyungja: Baekhyun, me diz o que ele gosta de comer. 

Oh Sehun: HYUNG

Baekhyun:  Hmm, vejamos. Sehun tem o paladar de uma criança, sabe? 

Oh Sehun: eI

Baekhyun: Mas é verdade, poxa TTTT Você come pouco e coisas bobas. Às vezes até esquece de comer. Aliás, comeu hoje?

Oh Sehun: Claro que comi! 

Baekhyun: O quê?

Oh Sehun: Comida.

Baekhyun: Que comida?

Baekhyun: Sehun, qual comida?

Oh Sehun: Umas bolachas...

Baekhyun: Não acredito nisso, Sehun. Você estava doente até ontem e comeu bolacha?

Minseok: Doente? 

Jongdae: Do quê?

Junmyeon: Não pode estar doente e comendo bolacha!

Kyungja: O que você tem, Sehun?

Oh Sehun: Só foi um probleminha no estômago, já passou.

Baekhyun: “Probleminha”. Você foi parar no hospital e nem me contou.

Jongdae: Baekhyun ficou pistola com razão.

Minseok: Isso é sério.

Kyungja: O que houve?

Oh Sehun: Algo que comi não caiu bem, hyung. E o estresse do colégio colaborou um pouco. Mas tudo bem agora. E eu não queria te incomodar por bobagem, Baekhyun. 

Baekhyun: Não é bobagem você ficar doente. 

Oh Sehun: Ei, não fica bravo, por favor. A gente já conversou, lembra? Estou bem agora. 

Oh Sehun: E você comeu, engraçadinho? Comeu alguma coisa hoje? Quero saber de você.

Baekhyun: Comi. 

Jongdae: Aquela barrinha de cereal que eu vi?

Junmyeon: Acho que isso não conta como uma refeição decente. 

Minseok: Realmente, aquilo não foi refeição. Sei que está de dieta, mas passar fome não faz bem. 

Oh Sehun: Sinceramente, Baekhyun. Eu vou ter que ir aí te dar comida na boca?

Baekhyun: Vem, por favor.

Baekhyun: Estou com saudade.

Minseok: Hmmm

Jongdae: Acho que isso é conversa pra ficar no privado, viu. 

Junmyeon: Será que estamos atrapalhando o casalzinho? Porque posso bancar o Kyungsoo e sair do grupo, se necessário.

Oh Sehun: Desculpa, pessoal. 

Oh Sehun: E você vai comer, Baekhyun. Sério. Me responde no privado. 

Oh Sehun: Voltando ao fim de semana 

Oh Sehun: Não sou um bom cozinheiro, muito menos um grande churrasqueiro, mas posso me responsabilizar pelas bebidas. Sei fazer muitos drinks, principalmente com pouco álcool (ou nenhum) para quem tem baixa tolerância. Algum de vocês gosta de beber? Se sim, têm algo em especial e por que shot de cerveja com soju?

Baekhyun: (Ai de você se estiver bebendo ainda doente, Oh Sehun.)

Oh Sehun: (Não tô)

Baekhyun: (Acho bom).

Baekhyun: Minseok, toc toc toc.

Jongdae: A lá, Minseok ajajiabsnajajs, vai que é o seu momento. 

Junmyeon: Minseok.

Kyungja: @Minseok hyung

Minseok: kkkk ridículos. Como se só EU gostasse de encher a cara.

Jongdae: Porque de todos nós só você gosta de encher a cara como se não houvesse amanhã. 

Junmyeon: Fatos.

Minseok: Não tenho culpa se vocês não aguentam beber  n a d a.

Jongdae: Quem não aguenta é o Baekhyun, ok?

Baekhyun: Mas você me ama mesmo, Jongdae. Estava demorando muito pra falar de mim.

Jongdae: E falei alguma mentira, meu querido?

Junmyeon: Um gole e você já está capotando.

Kyungja: Sem contar que fica mais grudento que chiclete, meu deus do céu. 

Jongdae: Manhoso que só. E muito atiradinho.

Baekhyun: Não é pra tanto também.

Minseok: É pra tanto.

Jongdae: É pra bastante.

Oh Sehun: Então ele fica bêbado fácil?

Kyungja: Fácil, fácil. 

Minseok: Vira um bebê.

Oh Sehun: Conte-me mais.

Jongdae: Pois a gente vai te contar tudo. O Baekhyun é como uma caixinha de pandora inversa: abriu e só sai podre. 

Junmyeon: E o que não podemos esquecer é o quanto ele fica romântico quando bêbado. 

Minseok: Shakespeare não chega aos pés. 

Jongdae: Não consigo mais ouvir I Will Always Love You por sua causa, Baekhyun.

Baekhyun: Você gostou quando eu cantei pra você, admite. Fica arrepiado só de lembrar.

Jongdae: Vai se danar. 

Baekhyun: vAi sE dANAr.

Minseok: Eu prefiro ele bêbado. Fica um amorzinho. Faz ele beber uns goles, Sehun. Vai ver que o menino chega a derreter como manteiga. Vai fazer tudo o que você quiser. Dar o que anda evitando…

Jongdae: Minseok e a sutileza em dizer “dar o cu o que ele tem medo”.

Junmyeon: KKKKKKKKKKKKKKKKKK

Kyungja: Morto.

Baekhyun: Minseok, você sabe que é o meu favorito, então por favor: PARA.

Oh Sehun: Para nada. Bom saber disso, hyung.  

Oh Sehun: Temos que beber juntos um dia, Baekhyun. Marca na agenda.

Jongdae: Senti firmeza.

Junmyeon: O tiro foi pela culatra, Baekhyun.

Jongdae: KKKKKKKKKKKK JUNMYEON PARA PELO AMOR DE DEUS

Baekhyun: Junmyeon, se retire deste site. 

Oh Sehun: (Minha alma está respondendo porque atualmente me encontro revirando na cama de rir.) Hyung, essa foi boa!

Kyungja: Junmyeon, acho que está na hora de você se retirar desse grupo por vontade própria.

Minseok: Foi inteligente, Junmyeon. Bati palmas. Sutileza é tudo.

Junmyeon: Obrigado, meu público, obrigado. Nasci pra isso. 

Jongdae: Vou até beber uma água pra me hidratar depois dessa.

Junmyeon: Com razão.

Minseok: Ei, Sehun, você é bom em beber?

Oh Sehun: Depende do que você considera bom.

Minseok: Beber mais de três garrafas e não ficar falando mole.

Oh Sehun: Bebo bem mais. Tenho uma grande tolerância para álcool.

Minseok: Bem mais quanto?

Oh Sehun: Meu apelido na universidade era poço, porque eu não tinha fundo pra parar de beber. 

Jongdae: Nossa senhora, temos mais um pinguço na família?

Oh Sehun: Não me orgulho, rs.

Minseok: Você é bom.

Oh Sehun: Podemos brincar de quem vira mais shots no fim de semana.

Minseok: Com aposta?

Oh Sehun: Com aposta e tudo. 

Minseok: Caramba.

Minseok: Eu te amo, Oh Sehun.

Minseok: Baekhyun, sinto muito. Mas Sehun é minha alma gêmea perdida. Finalmente encontrei um adulto com quem beber sem apagar dois segundos depois. Vou pegar ele pra mim. 

Minseok: i love u, sehun

Oh Sehun: i love u too, hyung. Podemos beber o quanto você quiser. 

Jongdae: Te controlem, boca de cana . 

Junmyeon: Esse fim de semana vai render.  

Minseok: #VemFinaldeSemana

Jongdae: #PraEuEncherACara

Minseok: #SIM

Oh Sehun: #SIM.

Oh Sehun: Ansioso por esse dia. 

Kyungja: Então você vem?

Oh Sehun: Mas é claro que sim!

Junmyeon: Quero ser seu colega de quarto! Podemos assistir musicais da Disney. Você gosta?

Oh Sehun: Eu a-m-o, hyung.

Junmyeon: Eu te amo, meu colega de quarto.  

Baekhyun: [Baekhyun inseriu um emoji]

Jongdae: Jun, você tá fazendo de propósito ou de maldade? uahushas Porque fazer isso é foda, né, amigo. Ainda mais eles dois.

Junmyeon: Baekhyun vai ter que derramar sangue comigo porque eu pedi primeiro.

Baekhyun: Infantil. 

Baekhyun: e EU pedi primeiro.

Oh Sehun: Quando? Porque pra mim ninguém perguntou nada q

Baekhyun: Nossa

Baekhyun: Que traição foi essa?

Oh Sehun: Você sobrevive.

Jongdae: Nossa digo eu, kkk. Perdeu, amigo.

Minseok: Isso aí, coloca ordem na casa, Sehun.  

Kyungja: [Kyungja inseriu uma imagem]

Junmyeon: Nasci pra ver o Kyungsoo usando um meme de si próprio pra rir da desgraça do amigo.


 

            Baekhyun leu mais algumas mensagens do grupo e guardou o celular no bolso. Não sem antes ver a notificação de que Sehun havia respondido na conversa privada. 

 

Baekhyun: ei

Baekhyun: como foi seu dia?

Hun-ah: Melhor quando eu pensava em você. 

Hun-ah: Então meu dia foi todo bom, porque eu só penso em você.

Hun-ah: Como foi seu dia? 

 

            

Baekhyun sorriu ao ler aquilo, terminando por suspirar no final. Não havia mais como negar que estava tão, mas tão fodido por Oh Sehun que não sabia como proceder, porque admitir que gostava de Sehun era uma coisa, enquanto admitir que gostava de Sehun e fazer algo a respeito eram outros quinhentos. E Baekhyun não sabia se estava pronto para isso, pronto para fazer algo e lidar com todas as consequências por causa de um sentimento. Não envolveria apenas ele. Envolveria toda a sua carreira. Seus companheiros de grupo, a empresa, até mesmo sua família.   

Envolveria Sehun. E poderia machucá-lo sem que merecesse. 

— Ei, hyung… — Baekhyun chamou Minseok, este que deixou de ler as mensagens em seu celular. 

Minseok arqueou uma sobrancelha ao ouvir o chamado de Baekhyun, sabendo que o rumo da conversa poderia ser sério; o mais novo nunca o chamava de hyung naquele tom à toa. 

— Quando você dizia para que eu não fosse pego — Baekhyun continuou —, queria dizer para que eu não fosse descoberto, não é?

— Baekhyun… — murmurou com a voz sumindo em cadência, seu olhar dizendo tudo aquilo que Baekhyun queria negar a si mesmo.

Os dois ficaram em silêncio por um momento, terminando pelo suspirar de Minseok. 

— Parece que Jongdae venceu de novo — Minseok falou. — Você só me dá prejuízo, Baekhyun. 

O vocalista franziu o cenho. 

— Você e o Jongdae fizeram uma aposta sobre mim? 

Minseok deu de ombros. 

— Precisamos de um passatempo de vez em quando — justificou. 

— E apostar sobre mim é um passatempo interessante?

— Eu diria divertido — respondeu. — Assim como outras coisas. 

— Não dá pra acreditar em vocês — Baekhyun murmurou. — Na verdade, depois de tantos anos de convívio, isso não chega perto de ser novidade. — Minseok deu um sorrisinho amarelo. — O que apostaram?

— Dessa vez ou nas outras?

Baekhyun fez uma expressão engraçada como se tivesse sido traído.

— Dessa vez — especificou. 

— Quer mesmo saber?

— Não tiveram a decência de me incluir na aposta — falou. — Então o mínimo que eu mereço é saber do que se trata. 

— Ok — Minseok concordou rápido. — Apostamos quando é que você perceberia o significado do não seja pego. 

— E…? — incitou para que ele continuasse a falar.

— E percebesse que foi pego — adicionou. — Há muito tempo.

Baekhyun empurrou os fios do cabelo para trás, deixando um suspiro fraco escapar dos seus lábios, os ombros arcados e a expressão em derrota.

— É, acho que fui pego — admitiu baixo.

Acha que foi, Baekhyun? — provocou.  

— O que você quer que eu diga?

— Eu já perdi a aposta para o Jongdae de qualquer forma — Minseok encarou os olhos do amigo —, ouvir você admitir vai consolar a falta de vergonha na cara que tenho em colocar muitas esperanças em você com essa carência do tamanho do mundo.

— Desculpa — pediu sem, de fato, sentir-se verdadeiramente culpado. 

— Desculpa não vai pagar o Jongdae.   

— O valor que apostaram era alto?

— Fica mais divertido assim. 

— Bem feito — chiou ao mais velho. 

Minseok atirou em Baekhyun a toalha que havia usado para secar o suor do pescoço, acertando a cara do mais novo. 

Baekhyun pegou a toalha e torceu na mão, entre os dedos. 

— Você já se sentiu assim sobre alguém?

O mais velho deu um sorrisinho de canto, encarando Baekhyun como se olhasse para além dele, para suas memórias sobre alguém que o havia pego bem em seu coração. 

— Já — confessou.

— O que você fez?

Ainda mantendo o sorriso no canto dos lábios, Minseok deu de ombros. 

Falar de sua vida amorosa nunca chegou a ser algo discutido com Baekhyun e Jongdae. Por mais que vivessem juntos e fizessem inúmeras coisas em companhia, havia o lado privado da sua vida que nenhum deles sabia. Para quem seu coração batia era um exemplo. Isso não significava que não confiava nos outros dois integrantes do grupo, significava que, assim como todo mundo, tinha seus segredos e não era obrigado a compartilhar se não quisesse, se achasse que deveria ficar apenas para si mesmo.

— Não fiz nada. — Encarou o mais novo. — Porque é um sentimento, Baekhyun. Não tem muito o que fazer a respeito — falou. — Ou você sente e é feliz por esse sentimento ou você sente e é triste por causa dele. 

— Simples desse jeito. 

— Simples desse jeito — repetiu com calma. 

 Baekhyun ficou quieto, absorvendo tudo. Minseok o acompanhou calado naquele momento. 

A cabeça do mais novo, contudo, viajava em um universo de suposições e cenários, tantos e se preenchendo os mínimos lugares dos seus pensamentos. E em cada um deles nada parecia dar certo. Resolver a equação da sua carreira e dos seus sentimentos não levava a um resultado final que parecia feliz. 

Baekhyun queria ser feliz, só isso. 

— Não é nada simples — viu-se falando a Minseok. 

— Gostar de alguém nunca é. 

Minseok inclinou a cabeça para o lado e observou a confusão pela qual Baekhyun passava, o que era algo inédito em tantos anos em companhia. Baekhyun era o mais centrado de todos eles. Era o cara que para tudo tinha uma solução, um segundo e um terceiro, quarto, quinto planos escondidos na manga da blusa. Quando ele se gabava por ser inteligente, não era brincadeira. Porque Baekhyun era inteligente. Porque, embora ele tirasse sarro e fizesse as pessoas gargalharem de suas brincadeiras, havia alguém que prestava atenção nos detalhes, que analisava tudo, que se importava.

Em diversos momentos de toda a sua carreira, Minseok se viu confortado por Baekhyun, fosse pelo modo como ele o ouvia, fosse pelo modo como ele o aconselhava. Queria poder ajudá-lo da mesma forma como foi um dia.

— Não sou nenhum cupido e muito menos a melhor pessoa para dar conselhos sobre esse tipo de coisa quando minha vida amorosa não chega a ser um exemplo maravilhoso quando ela sequer existe — Minseok expressou daquele jeitinho doce que tinha —, e provavelmente vou me arrepender de dizer isso em algum momento no futuro — Baekhyun riu baixinho —, mas eu conheço você há anos, Baekhyun. Sei que é um bom rapaz. Tem um grande coração e vale a pena ficar contigo, porque você é especial e merece alguém que saiba apreciar tudo isso. Merece estar com alguém que te dê muito amor.

Pela cara de Baekhyun, Minseok sabia que o havia surpreendido com aquelas palavras, já que não era costume seu dizê-las tantas vezes. 

— Hyung… — Baekhyun murmurou. — Pode dizer de novo? Pra eu gravar e ouvir pelo restante da minha vida.  

Minseok girou os olhos, empurrando o ombro do mais novo.

— Esse é o momento no futuro que eu falei que ia me arrepender. Você consegue estragar o momento, Baekhyun.

Os dois se alfinetaram mais um pouco, acalmando os ânimos logo depois. 

— Sabe — Baekhyun voltou ao diálogo —, depois daquela vez que namorei, disse a mim mesmo que nunca mais faria isso na minha vida.

— Nunca é bem forte para alguém que vive carente nas calças — Minseok brincou, ganhando um risinho de Baekhyun.

— Mas agora eu tenho isso. — Sua mão se apertou na camisa, bem onde seu coração estava. — Eu sinto que não mereço. Que não mereço estar pensando em algo além da minha carreira. Que não mereço me preocupar com meus sentimentos quando tenho que trabalhar ainda mais duro. Que não mereço gostar de ninguém porque não mereço isso.

Minseok esperou que Baekhyun continuasse, que desabafasse.

— É irônico, não? — perguntou ao Kim. — Me apaixonar quando não deveria. Por um fã. — Suspirou. 

Baekhyun brincou com seu dedo no chão, formando desenhos sem forma no assoalho do piso.

— Esses anos me ensinaram a me acostumar com o que falam de mim. Sobre mim. As coisas ruins que escrevem, que pensam. Você sabe como é, o quão horrível pode ser de vez em quando. — Minseok aquiesceu, porque era verdade, sabia bem disso. — Mesmo que a gente se importe sobre as notícias e cada comentário que fazem, mesmo que machuque, mesmo que magoe, devemos seguir em frente. Mas acho que não vou conseguir fazer isso se falarem dele. Se fizerem coisas — disse com a voz pesada, recordando-se de todos aqueles momentos em que foi perseguido, que teve sua privacidade invadida, das cartas ameaçadoras, das juras de morte. — Não quero que Sehun sofra. Não mais do que ele já sofreu. 

O horário no celular de Minseok indicou que o intervalo do ensaio acabaria em poucos minutos.

 — Você já parou pra perguntar o que ele quer entre vocês dois?— questionou Baekhyun. — Já quis saber o que Sehun pensa?

— Não — respondeu. — Chegamos perto de fazer isso uma vez e depois nunca mais.

— Então nunca conversaram como adultos sobre sentimentos? 

— Gostamos de fazer outras coisas de adultos quando nos vemos — murmurou tímido. 

Minseok balançou a cabeça. 

— Sabe se ele gosta de você, se é recíproco?

Baekhyun mordeu o lábio, indeciso. 

— Eu sinto que é. — No modo como Sehun o olhava, nos beijos que trocavam, nos carinhos que tinham na cama, através das mensagens e ligações de preocupação ou puramente a necessidade de ouvir a voz do outro. Quando Baekhyun precisava ir embora e Sehun o prendia num abraço perguntando quando é que ele voltaria e por quanto tempo poderia ficar. 

Baekhyun sentia que Sehun gostava dele. Talvez não estivesse apaixonado como Baekhyun se encontrava, fucking apaixonado, mas havia um sentimento naquilo tudo. Não era algo seco, desprovido de emoções. Pelo contrário, eram tantas emoções que às vezes pensava que podia sufocar por causa delas — principalmente quando Sehun estava sentado em sua cara.   

— Ele parece feliz, não parece? — Minseok quis saber. 

— Sim. — Abriu um sorriso grande. Não estava se gabando, mas podia sentir a felicidade de Sehun quando estavam juntos. 

— E você?

Baekhyun deixou seu sorriso se alargar no rosto, tomando todo ele.

— Demais.

— É, posso ver como você está feliz — Minseok observou carinhoso, levantando-se do chão onde estava sentado. 

Estendeu as duas mãos para Baekhyun para puxá-lo. 

— Gostar de alguém não é simples — disse. — Mas também não precisa ser extremamente difícil. 

— Algo no meio termo?

— Com a nossa vida, algo no meio termo parece bom — considerou. — Perfeito sendo imperfeito. 

— Às vezes, injusto. 

— Um pouco.

De pé, Baekhyun assentiu.

— Converse com ele, tá? — Minseok lembrou. — Só conversem abertamente sobre sentimentos e no que vai ser no futuro. 

— Eu vou — garantiu. Do outro lado, Minseok respondeu com um sorriso satisfeito. 

— Vamos ensaiar e terminar isso de uma vez pra ir embora. 

— Ou terminar isso de uma vez pra ir a outro round. 

— Isso significa academia depois? — indagou curioso. 

Baekhyun riu. 

— Apostou sobre mim com o Jongdae de novo, não é? — perguntou. — Sua insistência é muito suspeita.

— É o nosso passatempo — justificou.

— Ao que parece, sou um passatempo interessante. 

— Você nem faz ideia do quanto — respondeu. — Eu e Jongdae não caímos no tédio graças a você. 

— Fico feliz por ser útil.

Os dois caminharam lado a lado, Minseok digitando uma mensagem para que Jongdae levantasse o traseiro do canto silencioso para onde havia ido cochilar e voltasse, já que o intervalo do ensaio tinha chegado ao fim. Precisavam discutir apenas algumas coisas, talvez repassar uma ou duas músicas e estariam livres por aquela noite. 

— Só a título de curiosidade — Baekhyun chamou a atenção de Minseok —, no que você apostou? Que eu vou na academia?

Minseok recusou. 

— Você sabe que eu gosto de um romance de vez em quando — disse. — Tenho um coração mole. 

O sorriso grande de Baekhyun em seus lábios foram o suficiente para Kim Minseok ter absoluta certeza que, ao menos daquela vez, tinha ganho a aposta com Jongdae. 

Baekhyun iria pra casa naquela noite. 

Para o abraço de Oh Sehun. 

 

*

 

Sehun precisava parar de gastar dinheiro porque aquela vida de ser fã não era barata. Não com o salário que ganhava, colocando-o entre a cruz e a espada: pagar as contas ou gastar com CBX.

O fandom também não dava paz. Era toda semana um fankit mais bonitinho que o outro, vindo cheio de polaroids, milhares de cards, pins adoráveis, chaveiros, adesivos, bloco de notas, folhas personalizadas e algum mimo para alimentar certos shippers de cada dia. 

O fankit pelo qual Sehun havia se apaixonado daquela vez era um BaekChen — Jongdae e Baekhyun. Deus do céu. Era uma gracinha. Vinha com um punhado de cards, uma cartela cheia de adesivos, e um item especial que Sehun não via a hora de pegar nas mãos e usar durante aquele inverno, uma blusa com os números 04 x 21 bordados no tecido no estilo das jaquetas americanas dos jogadores universitários. Bobagem? Sehun pensava que era assim que a fatura do cartão de crédito chegava e seu salário ia todo nele. Mas o que podia fazer se não resistia a um card? A uma cartela cheia de adesivos que nunca usaria na sua vida?

— O que vai fazer com todas essas coisas que você compra do CBX? — Yixing perguntou na última vez que havia ido dormir no apartamento de Sehun, o que tinha sido dois dias atrás. 

Sehun congelou ao ouvir a pergunta do melhor amigo. Não tinha pensado nisso. Não tinha pensado o que faria com todas aquelas coisas que se espalhavam por seu apartamento em um dia no futuro. Os lightsticks, os cards, os adesivos, a pasta com fanarts, aquelas dolls do CBX, os pôsteres, os álbuns, toda a parafernália da sua vida de fã. Aquilo fazia parte de Sehun. Não poderia jogar fora. 

— Não sei — respondeu. — Guardar? — disse incerto.

— Guardar pelo resto da sua vida? Quer dizer, você vai ser fã deles o resto da vida?

— CBX é meu ultimate — explicou. — Então sim, vou ser fã deles pelo resto da minha vida. — Sorriu. 

— Porque você é um fanboy.

— Porque sou um fanboy e ser fanboy é um estado de espírito — continuou em um tom solene —, algo que faz parte da sua alma. Inalterável. 

Yixing achou graça do jeito que o amigo tinha falado.

— Vai ser fanboy do Baekhyun pelo resto da sua vida, é? E guardar tudo isso — apontou para nenhum ponto específico do apartamento — pelo resto da sua vida?

— Parece uma boa ideia pra mim.

— E depois? — Yixing quis saber, vendo Sehun franzir o cenho. — Deixar de herança aos filhos?

Sehun riu. 

— Acha que eu tenho cara de quem vai ter filhos?

Yixing o encarou sério enrolado nas cobertas no canto do sofá. De pijama e cabelo espetado, um pirulito de melancia na boca, Sehun era a cara de um adolescente. Ficava difícil para Yixing imaginar seu melhor amigo como pai naquele momento, o que não significava que aquilo era uma coisa impossível. Sehun se dava bem com as crianças. Na verdade, as crianças do maternal no colégio que davam aulas tinham Sehun como professor favorito. Os adolescentes do colégio e alunos do cursinho do vestibular também o adoravam. A pequena sobrinha de Sehun chorava querendo ir ficar com seu tiozinho, não querendo nem voltar pra casa.  

— Se não fizer a barba por alguns dias, já pode comprar a caneca de pai do ano — concluiu. 

— Mas acha que eu seria um bom pai? 

Yixing fez um beicinho de quem estava avaliando a pergunta. 

— Você vive se esquecendo de comer e quando come é só porcaria. 

Sehun chutou Yixing com o pé. 

— Não exagera.

— Você passou mal esses dias, Sehun — lembrou. — Foi parar no hospital. 

— O tempero da comida que comi não me fez bem. 

— Porque você estava sem comer direito há dias. 

Sehun suspirou. 

— Perguntei se você acha que eu seria um bom pai, não sobre as minhas escolhas alimentares problemáticas. 

— Acho que isso responde muita coisa. 

Sehun fez um muxoxo. 

— Eu seria um pai tão ruim assim?

— Você teria companhia na hora de passar fome. 

Yixing gargalhou quando recebeu outro chute debaixo da coberta. 

— Veja pelo próprio Chanyeol que era um perdido na vida — Sehun voltou a falar. — Depois que se tornou pai, ficou bem mais responsável. 

— Ele esqueceu Chaeyoung na escolinha outro dia — Yixing lembrou.

— Porque foi prender um tarado no bairro ao lado. 

— Só tem ele de policial nesta cidade para perseguir tarados? — argumentou. 

Sehun balançou a cabeça em negativas, encarando o amigo.

— Você detesta mesmo o Chanyeol, não é possível. 

— Não detesto ninguém — respondeu. — Ele só não é uma das minhas pessoas favoritas no mundo. 

   O que não era totalmente verdade, já que Zhang Yixing não ia muito com a cara de Park Chanyeol. A história girava em torno do mais clichê possível: o típico melhor amigo que não gostava do primeiro melhor amigo que havia destruído o coração do seu amigo bancando o inocente ao engravidar a irmã do outro. Para Yixing não descia nem com uma tonelada de água o fato de Chanyeol não ter percebido que Sehun era apaixonado por ele. Qualquer pessoa percebia só de olhar. Não conseguia acreditar no papo de que Chanyeol era burro o bastante para não ver sentimentos. Isso deixava Yixing puto da vida. E puto com Chanyeol também. Então não conseguia evitar seu pouco favoritismo com o cunhado de Sehun quando ele era citado. 

Fazia parte do seu posto de atual melhor amigo detestar uma pessoa que Sehun não conseguia odiar nem que nascesse de novo.  

— Você acha que ao menos eu seria um bom companheiro?

— Por companheiro você quis dizer namorado?

— Namorado, marido, parceiro pra vida toda — disse de um jeitinho adorável. — Qualquer um está bom, desde que signifique estar junto.  

Yixing arqueou a sobrancelha. 

— Aonde você quer chegar, Sehun?

— Lugar nenhum — respondeu baixo. — Só fiquei curioso sobre como eu posso ser no futuro.

— E você tem mais alguma curiosidade pra me perguntar antes de eu ligar Grey’s Anatomy?

Sehun enfiou o pirulito vermelho na boca de novo e encarou o próprio colo.

— Se eu fosse uma opção e você pudesse me escolher, você me namoraria?

O melhor amigo sorriu. 

— Tem a ver com o cara que você está saindo, não é?

— Sim — murmurou.

— Você percebeu que está apaixonado? — Não era exatamente uma pergunta quando soava como uma afirmação.

Sehun fez uma pausa.

Yixing esperou um minuto em silêncio para que Sehun falasse mais alguma coisa. Mas não o forçou. Não queria que Sehun se abrisse se não estivesse pronto. Estava morto de curiosidade sobre quem era o cara que andava tirando seu melhor amigo do ar. Entretanto, esperaria até que Sehun viesse lhe contar tudo por livre e espontânea vontade. A amizade entre ambos era assim e funcionava muito bem.  

— Eu posso encher teu saco e fazer brincadeiras — Yixing falou ao perceber que Sehun não diria mais nada —, mas te conheço tempo o suficiente pra saber que seja como pai, namorado ou companheiro, passar o restante da vida ao seu lado seria a coisa mais linda do mundo, Sehun. 

Ficar sensível com aquelas palavras não era algo que Sehun esperava e Yixing não se importou de consolar o amigo que sofria de algum conflito interno sobre a pessoa por quem nutria sentimentos.

O pacote do fankit havia chegado em uma boa hora para deixar Sehun feliz à beça depois de uma rotina cansativa de aulas e correção de provas, uma vez que a temporada de vestibulares estava para começar, o que significava que Sehun precisava se esforçar bastante em passar toda a cartilha do conteúdo e orientar seus alunos da forma correta para que pudessem obter um bom resultado. Mesmo assim, não gostava de ser aquele tipo de professor que cobrava resultados atrás de outro, mas seu trabalho consistia nisso; se não houvesse uma pontuação grande nos rankings dos vestibulares quanto a sua matéria — o inglês —, poderia ser descartado como educador. E Deus sabia que Sehun ainda tinha muitos fankits e álbuns para comprar em sua vida. 

Embrulhado com todo carinho numa embalagem personalizada, Sehun bateu palmas de alegria. Tirou uma foto do pacote e postou em sua conta no Twitter agradecendo à lojinha que havia produzido aquilo. Em seguida, preparou-se para mexer no restante das coisas e então achar um lugar em seu quarto para guardar os mimos que tinha comprado com o suor do seu trabalho porque merecia mimos como aqueles. Afinal, se ele não se presenteasse com a coisa que mais gostava na sua vida, ninguém o faria em seu lugar. 

O alarme do celular de Sehun tocou, no entanto, o lembrando para beber água e comer alguma coisa. 

Depois que passou mal pela má alimentação e precisou ir ao hospital pelo desconforto estomacal que o derrubou numa madrugada dessas, Sehun tinha programado diversos alarmes em seu telefone para lembrá-lo durante o decorrer do dia de beber um copo de água e comer algum lanche (que deveria ser saudável). Era isso ou Chanyeol enchendo seu saco a cada hora pedindo que comesse e bebesse água. 

 Em parte, se arrependia de ter ligado para o cunhado quando acordou vomitando e se contorcendo de dor no meio da noite. Arrependia-se porque era motivo para Chanyeol ficar no seu pé as vinte e quatro horas do dia e também porque a primeira pessoa que pensou em chamar naquele momento de angústia foi Byun Baekhyun. 

O dedo de Sehun coçou na discagem rápida. Um click e talvez Baekhyun atenderia. Ele provavelmente atenderia. Tinha contado a Sehun que, além de Jongdae, sempre que ligavam fosse dia ou noite, a qualquer hora, iria atender o telefone. E por um motivo inexplicável Sehun queria tanto que Baekhyun atendesse ou pudesse estar ali consigo para segurar seu cabelo enquanto tinha a cabeça enfiada na privada, o consolando pela dor e cuidando de si até que tudo ficasse bem. Mas não ligou. Deixou quieto.

Baekhyun estava se preparando para turnê. Deveria ter ensaios até tarde da noite, deveria passar o dia todo ocupado e dormir poucas horas quando tinha a oportunidade. Na última vez que se falaram por telefone, Baekhyun comentou que seu sono se resumiu a três horas. Não era justo incomodá-lo. Não era certo incomodá-lo. Além do mais, por que diabos Sehun queria que Baekhyun estivesse ali? Para ir ao hospital juntos? Para chegar ao hospital com alguém que todo o país conhecia o rosto? Diria o que sobre aquilo? Baekhyun é meu amigo. Estaria mentindo. Estaria mentindo pra si mesmo também. Porque gostaria que ele estivesse ao seu lado como outra coisa. Outra coisa que nunca daria certo. 

No hospital, quando as pessoas ficavam doentes e iam com acompanhantes, precisavam dar o contato dessa pessoa e especificar o grau de relacionamento. 

Sehun queria tanto deixar o contato de Baekhyun ali, assim como o pequeno namorado ao lado. Mas não ia acontecer. Nunca. Não naquela vida. 

Ligou para Chanyeol porque era a última opção. Yixing estava na cidade ao lado para assistir a apresentação da monografia de um aluno seu e Sooyoung tinha ido ao interior para visitar a sobrinha que tinha acabado de nascer. Sehun chegou a cogitar ligar para Kim Jongin enquanto estava jogado no chão do banheiro ao lado da privada. Jongin e ele tinham se tornado próximos no último mês. 

Viu Jongin em uma reunião de pais do colégio. O rapaz tinha ido no lugar da irmã para a reunião das sobrinhas. No corredor, os dois olharam-se. Houve um momento constrangedor de quem deveria  falar primeiro e então um pigarro de Jongin e sua voz doce perguntando se Sehun gostaria de tomar café numa cafeteria ali do lado. Quase recusou pensando que seria mais uma daquelas tentativas ridículas de Chanyeol em juntá-lo com o Kim. Também pensou em recusar porque tinha bebido muito café durante aquele dia. Contudo, algo no sorriso do rapaz o fez ir. 

No café, com aquele clima silencioso, Sehun bebericou sua bebida amarga e declarou: 

— Eu gosto de uma pessoa.

Jongin pareceu inalterável. 

— Eu também gosto.

Sehun bebeu mais um gole do seu café. 

— É um cara. 

— Igualmente. 

Sehun passou a ponta do dedo ao redor da borda da xícara de café. 

— Eu e ele não podemos namorar.

Jongin o olhou com surpresa, como se tivesse se identificado. 

— E eu acho que ele não gosta de mim.

A partir disso, os dois desenvolveram uma amizade. Sehun sabia que Jongin havia acabado de sair de um relacionamento estranho igual ao seu, em que começaram a ficar por interesses puramente sexuais e, no final, Jongin se viu apaixonado por alguém que não podia assumi-lo ou admitir que ao menos correspondia aos seus sentimentos.  

— Vocês pararam de se ver? — Sehun perguntou. 

Jongin suspirou longo, balançando a xícara de café. 

— Eu terminei tudo — respondeu. 

— Por quê?

O rapaz mais velho deixou que um semblante triste tomasse seu rosto. 

— Algumas coisas precisam ter um final — declarou. — E eu escolhi que fossem meus sentimentos. 

— Mas não era bom quando estavam juntos? 

Jongin sorriu fraco. 

— Era — murmurou. — As risadas, o carinho, o sexo… — a voz de Jongin sumiu em suas próprias lembranças. — Era bom — repetiu. — Até ele ir embora e eu voltar a ser apenas o cara do vez em quando. Eu queria ser o cara do sempre — confessou, seus olhos fixos em Sehun. —  Isso não era bom para o meu coração. 

Sehun não parou de pensar nessas palavras. A situação de Jongin era tão parecida com a sua em tantos aspectos que se sentia acolhido a cada desabafo que trocavam entre uma xícara de café e outra. Não diziam o nome do seu ele, porém, porque esse era o acordo silencioso de manter em segredo a identidade alheia. 

De qualquer forma, Sehun cogitou em ligar para Jongin naquele momento de desespero. Mas recordou-se que Jongin estaria dormindo profundamente depois de ter trabalhado até tarde no Tribunal (era escrevente e, na maioria dos casos, o que significava em todos eles, estava enfiado no meio de algum processo em que Park Chanyeol atuou como policial). 

O alarme do celular tocou por uma segunda vez e Sehun achou melhor comer antes que fosse se deitar para dormir — já fez muito de cair na cama porque estava com preguiça ou cansado demais para ir atrás de comida, então pensava “sono mata a fome” e se deixava ir nos braços de Morfeu. 

A banana com a tigela de leite e cereais morno não era a refeição que deveria fazer, principalmente quando não tinha engolido nada na hora do jantar com o pensamento de que comeria melhor no próximo alarme, mas era tudo o que Sehun tinha em casa e não iria sair naquele horário atrás de algum lanche. 

Com o celular na mão e a banana na outra, vagou pelo Twitter para dar uma olhada nas notícias do fandom. Como o esperado, Jongdae estava ocupado demais vivendo sua vida e fazendo suas próprias coisas para aparecer, nem que fosse no site oficial do fandom, e dar um oi, estou vivo. Minseok tinha atualizado o Instagram com uma foto jogando futebol com Kim Junmyeon (Sehun realmente adorava a amizade entre eles). E Baekhyun, bom, se Sehun não soubesse que Baekhyun se encontrava ocupado com a turnê naquele momento, diria que ele havia esquecido que era um idol e estava trancado em seu quarto escuro virando um pro gamer, porque não tinha nenhum sinal de vida nas redes sociais ou em qualquer lugar da internet. 

Isso era bom. Era uma vitória, na verdade. Significava que as sasaengs de plantão não estavam incomodando Baekhyun e os outros membros do CBX como sempre faziam como se fossem urubus à procura do que devorar. O alívio batia em Sehun com aquilo. Não só pelo fato de que Baekhyun, Minseok e Jongdae estariam seguros em sua privacidade sem que nenhuma garota estivesse à espreita pronta para enfiar uma câmera em seu rosto, mas também porque, hmm, sentia-se confortável com a ideia de que não havia ninguém lá fora esperando algum momento para pegá-lo no flagra. 

Ainda assim, Sehun achava que era um pouco de paranoia da sua cabeça cansada por ver uma movimentação esquisita de meninas no bairro desde que começara a ficar com Baekhyun quando a região que morava era mais composta por gente idosa e famílias que trabalhavam o dia todo. Também acreditava ser mais um pouco de paranoia sua quando estava em algum lugar e sentia olhos em cima de si. Eram garotas. Na escola e no curso pré-vestibular, sentia-se receoso com o pensamento de que alguma aluna da sala de aula tivesse como passatempo perseguir Baekhyun a cada passo que ele desse. Todo mundo sabia que nada escapava de uma sasaeng. Eram as primeiras a saber de tudo, eram as primeiras que segredo nenhum podia ficar escondido.  

Baekhyun era o integrante que mais tinha problemas com sasaengs. Além de CBX ser quase sequestrado no passado e sofrido inúmeros ataques com perseguições no trânsito e invasões de lugares que deveriam ser seguros, depois do namoro com uma cantora de um girl group famoso, a perseguição nunca deixou de existir para o Byun. Telefonemas e milhões de mensagens no celular eram o básico do que elas podiam fazer para atormentar.  

Baekhyun, infelizmente, devia ter se acostumado. Mas Sehun não sabia se conseguiria se acostumar com isso, porque bloquear uma pessoa era fácil. E quanto bloquear várias? E quando um bloqueio por celular não servia? E quando se encontravam do outro lado da rua da sua casa ou fuçando no seu passado nas redes sociais? Sehun tinha muita merda escrita nos seus setecentos mil tuítes para alguém revirar e jogar a merda no ventilador. Uma delas era seu desgosto por CBX no começo da carreira deles e aquele seu desabafo com tom de mais pura verdade de que fansites não passavam de sasaengs autorizadas — só o senhor sabia o quanto Sehun mordia a língua a cada rt que dava em prévias no aeroporto. 

Sehun correu apagar uma boa parte das suas reclamações no Twitter para desencargo de consciência, recebendo, contudo, a ligação de quem tinha falado mal pela apresentação no ano de 2012. 

Você está acordado? — a voz macia de Baekhyun falou do outro lado da linha. 

Sehun fechou os olhos e apreciou o tom e a respiração de Baekhyun pelo telefone, percebendo o quanto se encontrava com saudade dele nos mais ínfimos detalhes. 

— Oi — respondeu com um sorriso na boca. 

Oi.

Caminhou até o sofá para se acomodar nele com todas as pilhas de prova em cima da mesinha de centro na sala que se espalhavam pelo chão. 

O que você está fazendo?

— Estava corrigindo provas e redações — disse, o que não deixava de ser verdade. Antes do seu pacote do fankit chegar e lhe trazer felicidade, se encontrava muito ocupado tentando entender caligrafias e as respostas sem nexo nas provas. 

Atividade divertida.

— Há algumas respostas e argumentos bem hilários, então sim.

Seja bonzinho com as crianças — pediu. 

— É por isso que estou bebendo — contou brincalhão, ouvindo a respiração de Baekhyun ficar mais pesada. 

Está bêbado? — perguntou preocupado. — Sehun, você estava doente do estômago dia desses… Já pode beber?

Sehun riu.

— Tenho uma grande intolerância ao álcool, lembra? É difícil ficar bêbado. — Prendeu a barra do moletom no dedo. — E eu já estou bem — falou. — Juro. 

Não está sentindo mais dor?

— Nenhuma — garantiu. 

Está comendo direito?

— Sim.

Todo dia?

— Todo dia — repetiu. 

Comeu hoje? 

— Comi algo.

Sehun. Você comeu?

— Acabei de fazer um lanche — contou. — Não precisa ficar preocupado. Mas e você, Baekhyun, comeu? — imitou o tom do outro.

Minha salada passa bem no meu estômago.

— Só salada? — perguntou indignado.

Fiz outra refeição mais cedo.

— Ainda com fome?

Por incrível que pareça, não. Isso de ser saudável tem seus pontos positivos. — Baekhyun pareceu se movimentar quer onde estivesse. — Está comendo coisas saudáveis, está?

— Sim, papai — falou com uma voz manhosa. — Mais alguma pergunta?

Papai?

— Não gosta? Prefere daddy, talvez?

Gosto dos dois jeitos, especialmente se você não estiver usando nada ao falar.

— Isso quer dizer que você não vai estar usando nada também, não é? 

Muito provavelmente.   

— Eu gosto disso… — Sehun murmurou. 

Eu sei bem do que você gosta, Hun.

O telefone ficou mudo por um segundo, porém repleto de todas as memórias indecentes de Baekhyun e Sehun juntos que não precisavam ser ditas em voz alta para trazer à tona um pouco do calor ardendo na pele.  

— Você me fez várias perguntas sobre o que eu comi, mas por que não me pergunta sobre o que eu gostaria para a sobremesa? — deu fim ao silêncio.

Baekhyun deixou uma série de “hmmm” escapar da garganta. 

E o que você gostaria para a sobremesa?

Sehun contraiu os dedos dos pés dentro das meias com aquela pergunta. 

— Byun Baekhyun, acho — murmurou. 

Eu? 

— É… — deixou a voz sumir sugestivamente. — Você. 

De que jeito?

— Gosto quando não está usando nada, bem na minha cama — fez ecoar. — E de vários outros jeitos. Mas ultimamente estou curioso sobre como você é quando bêbado. 

Sehun ouviu Baekhyun rir baixinho.

Eu não bebo — respondeu. — Fico bobo só com um gole, lembra? Todo mundo te contou.

— Só suquinho pra você, neném — provocou.

Neném? — Conseguia ver Baekhyun com a sobrancelha arqueada.

— Neném gostoso — disse. — Na verdade, lindo e gostoso. Principalmente quando está aqui comigo.

Suspiro.

Sehun…   

— Baekhyun...hyung. O que você estava fazendo?

Estava no ensaio.

— Ensaio até essa hora?

Ficamos até um pouco mais tarde hoje — explicou. — Pra repassar alguns pontos.

— Muito cansado?

Um pouco.

— Tomou banho?

Tomei. E estou bem cheiroso, sabe.

— Posso apostar que sim. Já na cama?

Ainda não. — Sehun ouviu Baekhyun se movimentar de novo. — Meu corpo está pesado.

— Você precisa de uma massagem.

Sua?

— Só minha.  

Ah... e eu devo confiar em você?

— Todo mundo que ganhou massagem de mim nunca reclamou.

Será porque estavam mortos pra falar?

— Nossa, Baekhyun.

Desculpa, amor.

Sehun se derreteu todo ao escutar aquilo.

— Sabia que eu tenho um curso de massagista?

Verdade?

— Foi online, na época da universidade. Pra eliminar horas complementares — esclareceu. — Mas eu tenho.

Rapaz multitarefas.

— Sei fazer bastante coisa com essas mãos.

E o que você faria com essas mãos em mim?

— Você está vestido ou sem roupa?

De roupa, mas podemos fingir que estou sem nada.

— Não está muito cansado pra sacanagens no telefone?

Nunca estou cansado pra qualquer sacanagem com você. 

— Eu também — confessou. 

Perfeito, porque agora eu quero muito te ouvir dizer sacanagens.  Estou sem roupa e você tem suas mãos. O que vai fazer em mim?

Sehun mordeu o lábio inferior pela animação que queimou na boca do seu estômago. Sabia como aquilo ia terminar. A mão melada dentro da calça, o nome de Baekhyun entalado na garganta, a sonolência depois de gozar e aquela vontade de dormir agarrado com o corpo do cara que estampava os pôsteres do seu quarto. Por Deus, Sehun queria tanto que Baekhyun estivesse com ele naquele instante e em todo momento. 

— Tenho saudade — sussurrou para o telefone. 

Baekhyun suspirou fundo.

E eu tenho mais

— Será que é normal sentir esse tanto de saudade de você? — perguntou, os olhos fixos no teto da sua casa, sua voz soando baixinha. — Porque acho que não é. 

Bom, isso explica muita coisa. Parece que não sou normal — respondeu em um tom carinhoso. — Sinto sua falta todo dia, Sehun. 

Sehun fechou os olhos e saboreou o gostinho doce dessas palavras.  

Quer me ver agora, não é?

— Quero ver você todo dia — especificou. 

Baekhyun riu do jeito manhoso na resposta de Sehun. 

Então que tal descer aqui embaixo pra me ver?

Em dois segundos, Sehun estava espiando a rua pela janela do seu apartamento, o celular na orelha ouvindo o risonho “estou aqui, Hun-ah”. O batuque dentro do seu peito se tornou ainda mais acelerado ao avistar uma figura minúscula de preto e capuz na cabeça acenando em sua direção, o corpo encostado em um carro preto muito sofisticado e muito caro para estar naquele bairro àquelas horas. 

Em menos de um segundo, o tamanho imenso de Sehun esmagava Baekhyun em um abraço e era tudo o que importava. 







 

A noite era tipicamente fria para aquela época do ano, deixando o bairro encoberto por uma camada de silêncio imperturbável. 

As árvores balançavam em sincronia de um lado a outro pela brisa gelada e deveria ter algum grilo escondido no gramado do pátio do prédio. Na rua, ainda existia o movimento de um ou dois carros, mas o tráfico era sempre calmo e caótico naquele horário. Na janela do apartamento 207, alguém estava à espreita. Era a senhora Wang, como sempre fazia antes de dormir. Ela provavelmente perguntaria a Sehun na manhã seguinte, quando estivesse saindo para colocar o lixo na rua, quem era o mocinho bonito que estava aos beijos em frente do prédio. Sehun provavelmente ficaria vermelho e diria que era um amigo. A senhora Wang soltaria um risinho daqueles de quem acha tudo divertido e provavelmente sairia do elevador resmungando a Sehun que, pelo que sabia de amizade, já que era uma velha, amigos não se beijavam, não ficavam de mãos dadas e não se olhavam como o que viu na noite passada. 

No entanto, Sehun não deu importância para o que a senhora Wang falaria no dia seguinte ou para qualquer outra coisa, porque tudo o que tinha na cabeça ao sair do elevador, passar pela portaria e receber o ar gelado da noite e estar a alguns poucos metros do cara que tinha cortado metade da cidade apenas para vê-lo era de que nunca, nunca mesmo, jamais, nem em outra vida ou em um universo paralelo, amaria uma pessoa tanto quanto amava Byun Baekhyun. 

Era isso. 

Era amor. 

Fuck.

Amava Baekhyun.

For true. 

Amava de todo coração como em nenhum momento amou alguém.  

Are you happy now? — Baekhyun sussurrou contra os lábios do mais novo, ganhando um risinho de Sehun. 

Yes, I’m happy now

Baekhyun sorriu satisfeito. 

Because of me.

Just because of you. — Mordiscou o lábio inferior de Baekhyun, puxando-o para mais um beijo. — Ever. — Prendeu os dedos nos cabelos da nuca do mais velho. — And forever

Really? 

Really, baby

Os dois se olharam daquele jeitinho de quem tem muito para dizer. E tinham. Precisavam conversar. Ter aquela conversa sobre sentimentos. Sobre o que era tudo aquilo. Sobre a saudade, sobre os beijos que significavam tanto, sobre o modo como o coração batia, sobre as borboletas no estômago, sobre como tudo gritava eu te amo

Precisavam conversar. 

Logo. 

Mas depois.

 

*

 

Com uma mão no volante e a outra presa na coxa de Sehun, Baekhyun dirigia pelas ruas de Seul com calma, sem muita preocupação, para chegar a uma lanchonete nas proximidades que ficava aberta durante as madrugadas. Poderiam pedir o delivery, mas Baekhyun queria dar uma voltinha com Sehun no banco de carona.

— Você vai comer, não é? — Sehun perguntou. 

— Já comi. 

— Eu também comi, Baekhyun. 

— Uma banana? — foi irônico. 

— Por que é que te conto as coisas, hein? — Virou-se para encarar Baekhyun. — E para a sua informação, era uma banana muito gostosa — Sehun se defendeu. — Com leite e cereais. 

— Não é um jantar. 

— Salada também não é jantar. 

Baekhyun suspirou. 

— É a dieta. 

— Você não precisa de dieta — afirmou. — Nem de tanquinho nenhum. Não precisa dar importância a essas malucas que ficam pedindo pra ver seu abdômen nos shows. Taradas — chiou. 

O mais velho tirou os olhos da rua para fitar Sehun e sorrir carinhoso.

— Gosto de agradar meus fãs. 

— Você tem que se agradar. 

— Também quero ter um abdômen bonito — confessou, porque era, em parte, algo que também desejava. Era um cara vaidoso, que gostaria de se sentir atraente. Além disso, era sua carreira e sua carreira, como homem, pedia por coisas assim. Sua empresa pedia por coisas assim, porque os fãs pediam por coisas assim. Não esperava ter que passar um pouco de fome para isso acontecer e, às vezes, pensava que não passava de uma grande bobagem, principalmente quando sentia vontade de comer coisas que não deveria.

— Não quero que você fique doente — Sehun murmurou.

— Não vou — disse gentil, massageando a coxa do outro. — Prometo, está bem? — Sehun pescou um dos dedos de Baekhyun e este riu, entendendo o que o outro queria. — Prometo de mindinho. Até porque, depois da turnê — falou —, você vai ter que me levar pra comer pizza. 

— Pizza?

— Com bastante refrigerante — continuou. — E sorvete. 

Sehun terminou de embrenhar seus dedos nos de Baekhyun. 

— Mais alguma coisa? 

— Carinho… — Sorriu para Sehun. — E… Relax and chillin? 

O professor aprovou o inglês adorável. 

— Com Netflix? 

— Netflix, relax and chillin — Baekhyun disse sorridente. — Você e eu.

— Mas sem Naruto — decretou. — E qualquer outro anime. 

— Ah, Sehun. — Fez beicinho. — Você vai gostar. 

— Já assisti e não gostei. — Chanyeol era (e continuava sendo) um viciado em animes na adolescência, torturando Sehun para que assistissem juntos. Foram horas torturantes, sim, no qual Sehun passava todo o tempo criando e tecendo bobagens para fazer com Chanyeol naquele sofá e que nunca chegou a concretizá-las. 

— Por favor? — insistiu. — Posso te fazer gostar. — Algo na voz de Baekhyun e naquele sorriso de canto fez Sehun repensar seus conceitos e chegar à conclusão de que não seria tão ruim passar horas e horas com o mais velho vendo anime no sofá. Relax and chillin, certo? Com certeza fariam coisas assim. Baekhyun não seria um Park Chanyeol na vida que cantava todas as openings e endings e imitava as falas dos personagens, não é mesmo?

— Ok — cedeu. — Podemos fazer o que você quiser. 

Ao chegar à lanchonete, Baekhyun insistiu em sair e comprar algo para que pudessem comer. Sehun gostaria de ter ido junto, mas já bastava ter beijado Baekhyun no meio da rua, ainda que estivesse vazia; não queria dar oportunidade para outras coisas. O pessoal da lanchonete iria comentar nas redes sociais que Baekhyun passara por ali com um amigo e logo as fãs estariam fuçando os quatro cantos do mundo para descobrir quem era esse amigo desconhecido. Sehun não queria dar vazão a um escândalo. Então Baekhyun foi. 

Com a vista do Rio Han se estendendo à frente, os dois comeram um ou dois petiscos enquanto conversavam preguiçosamente. 

— E essa cara, uh? — Baekhyun perguntou, sentando-se de lado no banco de couro do seu carro caro. — No que você está pensando? 

— Tenta adivinhar. — Imitou a forma como Baekhyun tinha se sentado, ficando um de frente para o outro.

— Está pensando em mim? 

Sehun deu leve soco no braço do mais velho. 

— Não seja um convencido. 

— Mas está? — insistiu. — Pensando em mim.

— Em parte. 

— Em parte um pouquinho ou em parte bastante?

— Bastante — admitiu. 

— Então está pensando em mim. 

Sehun sorriu. 

— Consegue adivinhar o que estou pensando sobre você?

— Estou vestido?

A risada do Oh encheu seus ouvidos. 

— Por que essa é a primeira coisa que você pensa?

— Estou errado?

— Sim!

— Tem certeza? — questionou com falsa seriedade. — Você gosta quando eu tiro a roupa. 

— Isso é verdade — deu o braço a torcer. — Mas não é o que estou pensando sobre você. 

Baekhyun franziu o cenho. 

— Estou sem camisa? — tentou e Sehun negou. — Sem calça? 

— Sério, Baekhyun?

— O que posso fazer se você me dá vontade de ficar sem nada? 

Sehun deixou sua risada doce escapulir e fazer Baekhyun sorrir. 

— Só estava lembrando de algo.

— O quê? 

— De como eu te detestava quando mais novo, no debut do CBX — contou.

— Você me detestava? — Baekhyun soltou alarmado. — Por quê?

— Porque Chanyeol te adorava. — O espaço que havia entre os dois bancos não era muito grande, o que permitia a Sehun estender o braço e tocar a bochecha de Baekhyun com carinho. Ele tinha emagrecido tanto, caramba. Por quanto mais tempo faria essa dieta idiota? 

— E agora, você ainda me detesta?

Negativa. 

Porque era pior.

— O quê?

Eu te amo, pensou em dizer. 

Sehun sorriu, entretanto, inclinando-se para frente para beijar Baekhyun, chupando sua língua com doçura. 

O cantor não reclamou quando Sehun exigiu mais daquele beijo, quando sentou-se em seu colo e o obrigou a deitar o banco para facilitar o movimento. Também não reclamou ao sentir Sehun esfregando-se lentamente em seu colo, fazendo crescer o volume dentro da sua calça. Baekhyun sequer pensou que, embora os vidros do carro fossem escuros, algum curioso pudesse se aproximar. 

— Você precisa voltar ao dormitório hoje? — Sehun perguntou enquanto beijava o pescoço alheio, sua língua se arrastando pelo pomo de adão saliente. 

— Não — murmurou. — Posso ficar. 

As mãos de Baekhyun se firmaram nos quadris de Sehun, obrigando-o a se movimentar com mais força. 

— Por quanto tempo?

Baekhyun não queria dizer que era por pouco tempo. Não gostava de ver como a expressão de Sehun ficava ao ter que se despedir. Baekhyun não gostava de ter que ir embora, na verdade. Prolongava os minutos com alguns beijos, carinhos, abraços muito apertados e conversas aleatórias para que pudesse ficar um tantinho mais. Daquela vez, no entanto, podia passar a noite e um pequeno pedaço da manhã antes do seu primeiro compromisso. 

— Não o bastante. — Suspirou. 

— Nunca é. — Sehun ergueu o rosto de Baekhyun com a mão envolta em seu pescoço, segurando a região delicadamente. Pôde sentir sua respiração contida e sua pulsação contra a palma de sua mão. — Mas tudo bem. 

— É… — Baekhyun umedeceu os lábios com a ponta da língua. — Que vir pra casa comigo? 

— Quero.

O vocalista apertou as nádegas de Sehun e beijou sua boca rapidamente. 

— Você vai ter que se sentar — murmurou. — Mas não no meu colo — acrescentou risonho ao perceber o que o mais novo diria como resposta. — Também tem que se comportar — continuou ao ter seu lóbulo chupado. — Preciso dirigir com cuidado, bebê. 

Sehun obedeceu, sentando-se no banco do passageiro do carro luxuoso de Baekhyun. 

O automóvel cheirava a novo, como se ainda estivesse na garagem da loja. Os bancos de couro eram confortáveis e quentes por conta do aquecedor ligado, o painel brilhando numa luz vermelha incandescente em contraste com a escuridão interior junto da música preguiçosamente sensual advinda do rádio colaborava para que aquele clima se tornasse ainda mais carregado de tensão sexual; o lugar parecia pequeno demais para duas pessoas que queriam desesperadamente foder. E, para tornar tudo num inferno mais sujo, ver Baekhyun dirigir fazia o interior de Sehun gritar num pedido para agarrá-lo, porque o modo despojado que conduzia o carro, a forma como suas pernas estavam abertas pelo volume saliente na calça de moletom, as coxas esparramadas no assento, o jeito como seu cabelo estava bagunçado e a mão única no volante com aquele rolex no pulso enquanto a outra se apoiava na janela eram um deleite a Sehun. 

— No que você está pensando agora? 

Sehun sorriu inocentemente. 

— Quer mesmo saber? — provocou. — Você disse pra eu me comportar. 

— Está longe de ser um bom menino me olhando desse jeito.    

— Não consigo ser um bom garoto com você por perto. — Baekhyun desviou os olhos do volante. — E dirigindo. 

— Por quê?

— Porque fico com vontade de transar com você bem aqui. 

Baekhyun remexeu-se no banco do carro ainda fitando Sehun.

— De que jeito? — fez-se ouvir. — Quero saber como. 

O professor engoliu seco. 

— Sério?

— Sério. 

Sehun deu um jeito de ficar de lado no banco para que pudesse olhar diretamente para Baekhyun. 

— Você ia me pegar por trás — começou baixinho. — Bem aí nesse banco. — Fez uma pausa para que a visão enchesse os olhos e aumentasse aquela protuberância na calça de Baekhyun. — Não aguentamos chegar em casa — prosseguiu. — Você está quente, eu estou quente e gosto de te tocar. — Sehun atreveu-se a dedilhar uma da coxas do cantor, deixando nela um aperto firme antes de deslizar seu atrevimento para onde tanto queria brincar. Baekhyun apertou o volante com mais força. — Você disse pra eu me comportar, e eu até tentei. But, you know… I am a not good boy. — Sehun passou seu polegar por cima do tecido da calça. — Então o sinal fechou e minha cabeça estava bem no seu colo, o zíper sa sua calça aberto. Você não reclamou nadinha. 

Baekhyun riu soprado da pequena coincidência ao ter que parar no sinal vermelho. 

— Você gosta quando eu digo sacanagens, não é? — Sehun podia sentir o pau de Baekhyun pulsando. — Mas eu sei que você gosta bem mais quando estou te chupando daquele jeito gostoso. É bom, não? — sussurrou. — É bom quando eu te chupo assim, Baekhyun? — perguntou manhoso, deixando sons obscenos escapar propositalmente. Viu o mais velho fechar os olhos por um segundo e aquiescer sonoramente. — Minha boca é tão quente, Baekhyun… — Gemeu. — E tem seu gosto nela. 

Àquela altura, Sehun já não prestava mais a atenção no caminho. Muito menos por conta da própria ereção que fisgava em sua calça e muito menos quando Baekhyun puxou o pau para fora e colocou sua mão por cima da de Sehun, ajudando-o na masturbação.

— Sua mão no meu cabelo deixa claro que eu devo engolir tudo. Cada pedacinho seu. Subir e descer até o final. Lamber você inteiro. — Movimentou seus dedos com mais força no pênis de Baekhyun. — E droga, eu gosto disso. Gosto do jeito como você puxa meu cabelo. Gosto de você dentro da minha boca. Gosto de fazer isso com a minha língua. — Passou o polegar demoradamente por cima da glande encoberta por umidade. — Você não gosta, Baekhyun? Consegue imaginar? 

A expressão de Baekhyun era mais do que óbvia: ele conseguia ver perfeitamente. Seus suspiros eram o bastante também. 

— Mas você não quer gozar na minha boca — continuou. — E eu também não quero assim. Não dessa vez. 

— Então o quê? — perguntou com o tom carregado.

— Então você para naquela rua escura e eu sento em você — contou. — Sem calça, me segurando no volante e você atrás. 

— É uma visão linda… 

— Da minha bunda?

— Sim — murmurou rouco. — E de todo o resto. 

— A visão fica ainda mais bonita quando eu sento em você — sussurrou. — Bem devagar. 

— Depois rápido — Baekhyun pediu.  

— E forte — Sehun completou. — Porque gosto assim.

— Você gosta do barulho do meu pau entrando e saindo de você, não é? 

Sehun concordou, o lábio mordido com força ao ponto de sangrar. 

— Deus, Baekhyun, yes.   

Mais tarde ou quando fosse se recordar disso, Sehun não acreditaria que esteve bem próximo de colocar em prática algo que tinha lido em suas madrugadas insones da universidade. Naquela história em inglês, era Baekhyun e Minseok matando a paixão incandescente dentro do carro estacionado em uma rua escura da cidade após um show. Uma transa gostosa escrita por alguma menina carente que fez Sehun não conseguir encarar a si mesmo depois do término da leitura. Ele e Baekhyun não chegaram a esse ponto, no entanto. Gostariam. Queriam muito. Baekhyun pensou em enfiar o carro em determinadas ruas diversas vezes enquanto fazia o caminho para o seu apartamento, mas as mãos de Sehun em seu pênis tomaram muito dos seus pensamentos. 

Naquela avenida próxima da casa de Baekhyun, o sinal ficou vermelho e ele estava perto de gozar. Então, tal como na brincadeira, Sehun abaixou sua cabeça, Baekhyun fechou os olhos e experimentou o quão quente e gostosa era a boca de Sehun ao engoli-lo por inteiro. Seu pau foi chupado com devoção, não deixando uma gotinha sequer escorrer para o estofado de couro. Era como o paraíso. Baekhyun se sentiu em um naquele momento. 

— A gente pode tomar um banho juntos — Baekhyun murmurou a Sehun enquanto estavam dentro do elevador do prédio. — Quero fazer você se sentir bem.  

Abraçando Baekhyun por trás, a cabeça apoiada no ombro do mais velho, Sehun negou carinhosamente, beijando a região abaixo da sua orelha. 

— Você precisa dormir — ditou. — E eu já me sinto bem — falou. — Porque estou com você.    

— Não é justo — disse naquele tom pesado de sono, querendo descansar depois de um orgasmo violento contra o volante do carro. 

Sehun riu baixinho, puxando uma das mãos de Baekhyun para trás. Direcionou os dedos dele até a mancha úmida em sua própria calça, evidenciando o fato de que havia gozado sem precisar ser tocado; quando o vocalista chegou ao ápice, enquanto o chupava, Sehun explodiu silenciosamente. 

— Você não foi o único, sabe… — Voltou a apertar Baekhyun em seu abraço. — Agora vamos descansar. 

Baekhyun aquiesceu mudo, deixando seu peso ir de encontro ao corpo alto de Sehun. Fechou os olhos apenas um segundo, ainda experimentando a sensação de estar no paraíso com o modo como seu corpo estava leve, a consciência pronta para fugir e aquele comichão gostoso formigando por sua pele. O calor que emanava de Sehun fazia Baekhyun querer dormir para sempre. 

No apartamento, agiram em perfeita sincronia. Entrar, tirar as roupas (Baekhyun tirando as roupas de Sehun, exceto as meias porque ele sentia frio) e deitar naquela cama imensa bem próximos um do outro. 

Com Baekhyun colado às suas costas, Sehun dormiu como há dias não fazia pela saudade de tê-lo respirando em sua nuca e sentindo seu coração bater em suas costelas como se estivesse sussurrando seu nome várias e várias vezes.  

 

 

 



 

O alarme do celular de Baekhyun tocou cedo demais para alguém que tinha ido dormir há poucas horas e precisava de um bom descanso para recompor as energias. O sol nem estava brilhando no céu naquele horário. Talvez estivesse chuviscando lá fora, já que havia uma previsão de uma frente fria chegando para aquela semana. De qualquer forma, não parecia certo ter que deixar a cama naquela manhã.

Sehun ouviu o suspiro cansado de Baekhyun e o estralar do seu corpo ao se espreguiçar na cama para se levantar no escuro. 

— Você já vai? — Sua boca estava seca. 

— Desculpa te acordar — Baekhyun pediu baixinho, tateando o colchão até encontrar a cintura de Sehun para acarinhá-la. — Temos que gravar algumas coisas para a turnê, então tenho que ir. 

— Você mal descansou — resmungou limpando a sujeira dos olhos para enxergar Baekhyun no escuro do quarto com mais nitidez.

— Foram uma das melhores horas de sono que já tive — devolveu sussurrado, sua mão ora no quadril de Sehun descendo para puxar sua coxa desnuda e trazer seu corpo para mais perto. Sorriu de canto. — Ficaria perfeito se eu ganhasse um beijo. 

Sehun riu. 

— Eu nem escovei os dentes, Baekhyun.

— Eu também não — falou. — E você sabe que não me importo com isso. 

Um ponto verdadeiro. Sehun tinha inúmeras lembranças de acordar aos beijos com Baekhyun sem sequer tirar as remelas dos olhos. Inclusive, já tinham feito sexo aos primeiros sinais da manhã com direito ao forte hálito matinal e isso nunca atrapalhou ou estragou o momento. Mas Sehun já teve pensamentos repentinos que logo sumiam de que “deveria ter acordado mais cedo pra passar um pouco de pasta na boca” ou “deveria ter levantado pra tomar um banho” ou “deveria ter ido me depilar se soubesse que ele gostaria de me chupar o cu assim do nada”.

Beijou Baekhyun delicadamente, apreciando a maciez da sua boca contra a sua, os sons molhados do contato espalhando-se pelo quarto escuro que logo ganhou iluminação do abajur do criado-mudo. 

— Dormiu bem? — Baekhyun demonstrou interesse, terminando por beijar a boca de Sehun uma segunda vez. 

Sehun anuiu, empurrando uma mecha do cabelo de Baekhyun para trás da orelha. 

— Queria dormir assim todos os dias. 

— Comigo?

— Queria dormir com você todos os dias da minha vida — falou. 

Sehun não esperava que sua frase soasse tão sincera e naquele tom para deixar Baekhyun em silêncio por um segundo e fazer seu toque cessar. Tinha feito burrice ao dizê-la? Era algo tão revelador ou comprometedor demais? Mas o toque voltou devagarinho em sua coxa acompanhado do riso dele.

— E roubar toda a coberta só pra você durante todos os dias da minha vida, não é? — disse brincalhão. 

— Desculpa — Sehun pediu, porque tinha uma mania de puxar a coberta apenas para si durante a noite. Fazia um “rolinho Sehun” com o cobertor, como Chanyeol costumava reclamar. Se não estivesse enganado, naquela noite não foi diferente. Deveria ter pego a maior parte da coberta, o que explicava a razão de Baekhyun estar agarrado ao seu corpo como se para se aquecer.  

 — Sinceramente, não acho uma ideia ruim passar um pouco de frio pra ficar com você. 

Ouvir aquilo fez Sehun sorrir mole (e jogá-lo um tantinho mais para dentro do vórtice que seu coração era).  

— Eu te esquento — garantiu. — Vem cá.

Mesmo precisando ir se aprontar antes que seu manager mandasse mensagens de que estava chegando para pegá-lo e de que não podiam se atrasar para cumprir a agenda, Baekhyun se enfiou no abraço de Sehun e se deixou ficar, os olhos fechados aproveitando do aperto caloroso.    

— Você tem outra uma pintinha aqui — ouviu, sentindo o dedo de Sehun em seu nariz. 

— Apareceu outra? — perguntou de olhos fechados. 

— Bem aqui — observou. — E eu não tinha notado essa. — Tocou a pele ao lado da sobrancelha direita de Baekhyun. Vagou com seu dedo pelas outras pequenas manchas espalhadas pelo rosto do mais velho que estavam evidentes quando não havia maquiagem alguma as escondendo. — Tenho vontade de beijar todas elas.

Baekhyun sorriu, abrindo os olhos. 

— Beija — soprou. — Beija aqui, aqui, mais aqui e aqui — falou enquanto mostrava as pintinhas do seu rosto com o indicador, deixando para apontar para a própria boca por último, onde fez um biquinho avermelhado para Sehun.

— Não tem uma pintinha aí. 

— Mas você pode beijar mesmo assim.  

— Você adora arrumar um pretexto pra ganhar um beijo na boca, não é?

— Se esse beijo for seu, sim — murmurou. — Quero um último — pediu. — De despedida. 

Sehun choramingou ao ouvir aquilo. 

— Você precisa mesmo ir? 

— Eu não quero — admitiu. — Porque tenho vontade de ficar aqui e dormir até tarde, depois acordar e transar com você bem devagarinho e então passar o dia todo na cama contigo. Relax, lembra? — Baekhyun beijou a ponta do queixo de Sehun. — Mas preciso ir, bebê.  

Sehun suspirou.

— E se você vir ficar aqui depois do trabalho, uh? Tem aula até tarde hoje?

— Não… — respondeu. 

— Vem pra cá — Baekhyun pediu carinhosamente. — Posso voltar mais tarde pra passar a noite com você, o que acha? — Esperou por alguma reação de Sehun, esta que veio num sorriso. — Na verdade, se você quiser ficar aqui por algum tempo, vou ter um bom pretexto pra voltar pra casa. 

— Não tem que ficar no dormitório? — indagou. Baekhyun negou. 

Ficar no dormitório era obrigatório no antes, quando não passava de um rookie em treinamento e constante vigilância para não haver quebra de algum requisito do contrato. Hoje em dia, contudo, dada a grande conquista de CBX no mundo musical, tanto Baekhyun quanto Minseok e Jongdae possuíam a autonomia de ir e vir e de estar onde quisessem, desde que dessem parecer do seu destino. Além de tudo, não era incomum que membros de grupos grandes ou famosos deixassem de morar no dormitório para ter sua própria privacidade. Continuavam morando juntos aqueles que tinham se acostumado, aqueles que tinham tentado e não conseguiram morar sozinhos e aqueles que achavam mais viável ficar por perto pela agenda em comum. 

— Vou esperar por você. 

— Volto à noite — prometeu sério. — Agora… — Ergueu seu olhar para fitar o dono da boca que tanto queria. — Meu beijo, Oh Sehun. 

  O manager de Baekhyun mandou mensagem e, em seguida, ligou para alertá-lo do horário e os dois ainda se encontravam embolados debaixo da coberta trocando saliva. Por mais um pouco, Sehun teria puxado o elástico da boxer para baixo e Baekhyun teria se enfiado no meio das suas pernas. Mas separaram-se com esforço, a promessa de que mais tarde fariam tudo direitinho sem pressa. 

— Acho que vou passar no mercado depois do trabalho — Sehun murmurou enquanto acompanhava Baekhyun até a porta, seu corpo parcialmente nu enrolado na coberta seguindo o outro já arrumado com uma sacola de papel na mão. — Quer alguma coisa de lá? 

— Algumas frutas? — disse incerto. Tinha ido ao mercado abastecer o apartamento fazia alguns dias. 

— Mais nada?

— Acho que não. — Balançou a cabeça. Tudo o que comia se resumia a frutas, frango grelhado, sementes e muita água. Nenhum carboidrato, refrigerante, doce ou coisas gostosas estavam em sua dieta, então não tinha comprado nada para evitar se martirizar pela vontade. — Mas tenho a impressão de que estou esquecendo algo importante.

— Lubrificante e camisinhas — murmurou ao mais velho. — Acabou. 

Baekhyun fez um “ah” antes de sorrir pelo rubor nas bochechas de Sehun. Na maioria das vezes, ou em grande parte delas, transavam com camisinha. Mas de vez em quando, em momentos urgentes ou mais especiais, escolhiam não enfiar o pedaço de plástico incômodo no meio da diversão. Alguns diriam que esse tipo de decisão não passava de um grande erro, porque mesmo que fossem os únicos com quem dormiam, manter a proteção era essencial. Chanyeol vivia enchendo seu saco sobre isso. Usou camisinha? Estão protegidos? 

— Compre um pouco mais — Baekhyun disse. — Tenho a impressão de que vamos usar bastante. 

Sehun aquiesceu, aproximando-se de Baekhyun parado em frente a porta. 

— E… — O cantor tirou a carteira do bolso, abrindo-a para pegar um cartão em especial, preto e brilhante, o entregando a Sehun. — Use. Sem objeções. 

O professor arqueou a sobrancelha.

 — You look like a sugar daddy, you know? 

Baekhyun riu. 

— Isso é ruim?

— Não — falou. — I like

O vocalista gostou da resposta.

— Então, acho que é agora que você me beija, baby.

Sehun atendeu ao pedido prontamente, encostando seus lábios inchados aos de Baekhyun. 

— Bom trabalho — desejou. 

— Bom trabalho pra você também — Baekhyun disse em resposta. — Seja bonzinho com as crianças. — Sehun riu, concordando. 

— Se alimente, por favor — o Oh pediu, as mãos puxando o cordão do moletom de Baekhyun para fechá-lo e proteger a garganta da friagem. Na cabeça, Baekhyun usava um gorro. — E volte pra casa em segurança. 

Roubando um último beijo e pedindo que Sehun voltasse para debaixo das cobertas na cama quentinha, Baekhyun saiu do apartamento rumo ao compromisso daquela manhã. Além da mochila que levava nas costas, o cantor carregava o sentimento de que, realmente, não se importaria de vivenciar com Sehun cenas cotidianas como aquela. 

Para falar a verdade, Baekhyun pensou que não se importaria nem um pouco de passar o resto da sua vida experimentando milhares de outras cenas cotidianas como aquela se todas elas significassem estar com Oh Sehun. 

 

 *

 

Cherish estava tocando quando Chanyeol começou a falar. 

Pergunta — o perfil de Chanyeol ressoou na tela do celular de Sehun, sua imagem de quem tinha saído recentemente de um banho toda concentrada na página que lia em seu computador, o telefone que o gravava provavelmente apoiado numa pilha de arquivos da delegacia que se espalhavam pelo escritório. — Você está preso numa ilha deserta com alguém e vocês precisam sobreviver durante alguns dias até a ajuda chegar. Quem vai ser essa pessoa? — Chanyeol indagou sério, como se estivesse interrogando um suspeito na delegacia. — Minseok? Jongdae ou Baekhyun? E por quê?

Deitado de bruços na cama espaçosa do quarto de Baekhyun, o celular apoiado numa pilha de redações o filmando e outra pilha à sua frente sendo corrigida, Sehun encarou o cunhado na videochamada. 

— Minseok — respondeu. 

Chanyeol sorriu. 

Escolha interessante — observou. — Por quê?

— Bom, Baekhyun tem medo de insetos, eu tenho medo de insetos e uma ilha deserta quer dizer muitos insetos — explicou. — Não podemos matar o menino do coração, certo? Porque eu provavelmente vou estar morrendo do coração. — Encarou Chanyeol, que assentiu. — O Jongdae é um anjo que, por óbvio, está no céu sendo divino em sua existência para ir se enfiar numa ilha deserta. — O amigo concordou de novo. — Por fim, resta ninguém mais ninguém menos do que Kim Minseok, que nasceu antes de todo mundo, o que significa que ele tem mais experiência de vida para aguentar as pontas enquanto eu estiver desmaiado pelo desespero. — Sehun encarou a linha da redação que estava corrigindo, circulando uma palavra escrita errada. — E ele bebe café. Muito — deu ênfase na última palavra. — Isso aumenta o grau de maturidade como ser humano em proteger o outro. 

Claro, porque não tem como não se sentir protegido por alguém que bebe café

— Pessoas que bebem café estão em um nível diferente como indivíduo nesse universo, meu amigo.

A Chaeyoung bebe café, Sehun.

— E é por isso que eu me sinto muito seguro com a minha sobrinha de cinco anos.  

Chanyeol riu.

Isso faz um total de zero sentidos, sabe? Seja sincero de uma vez — pediu. — Admite que você quer ver o Minseok nu na primeira oportunidade que tiver

— E quem não gostaria?

Seu cunhado riu. 

Não te julgo. — Voltou o olhar para o texto que estava lendo na página de uma fanbase grande do CBX. Tratava-se de um quiz criado para os fãs matarem o tempo até sair todas as informações da turnê e compra de ingressos.  — Próxima pergunta

— Faça. 

Você tem a oportunidade de passar um dia na companhia de Minseok, Jongdae e Baekhyun, com quem seria?

Sehun não precisou pensar um segundo a mais antes de dizer:

— Baekhyun. 

Chanyeol desviou o olhar da tela do computador e encarou Sehun, sua sobrancelha levemente arqueada. 

Você cuspiu pra cima e caiu bem na testa, não é? — provocou. — Quando eu disse que você ia gostar do Baekhyun, não pensei que fosse gostar tanto assim

— As pessoas mudam, ora. — Deu de ombros. 

É, estou vendo. — Tinha um sorriso torto em seus lábios. — Se bem que, na verdade, você era um típico caso de quem não queria dar o braço a torcer. — Chanyeol empurrou o cabelo úmido do banho para trás, a camisa larga em seu corpo deixando o peitoral evidente quando fez o movimento. — Já gostava de Baekhyun fazia tempo.

Sehun o olhou divertido.

— Você acha?

Sua implicância com o Baekhyun era totalmente amor — disse. — Um clichê autêntico do menino que nega seus sentimentos mais profundos sobre o outro porque é orgulhoso demais para admitir que ele é seu ultimate.

Uma risada fanha saiu da garganta de Sehun em resposta ao cunhado. 

— Você deveria escrever roteiros de fanfics, Chanyeol. 

Aliás, o que você ia fazer o dia todo com o Baekhyun?

— Isso é outra pergunta da lista ou se trata apenas do seu interesse para me infernizar por mais um par de anos?

Trata-se da necessidade verossímil de averiguar o que é que você faria com Byun Baekhyun durante a situação de fato. 

— Só ouvi blá-blá-blá-blá estou curioso — Sehun disse com uma careta engraçada. — E não vou te dizer.  

Por quê?!

— Porque eu não quero — disse simplista. — Você tem uma imaginação fértil, vai conseguir pensar em algo. 

Espero que nesse algo você esteja usando roupas

Sehun abriu um sorrisinho de canto. 

— Como eu disse, você está livre para fazer interpretações. 

Chanyeol o xingou e Sehun mostrou a língua como uma criancinha, os dois partindo para uma discussão infantil que não tinha sequer pé ou cabeça. A bem da verdade, contudo, Sehun até queria contar o que faria com Baekhyun durante um dia todo para Chanyeol. Também queria dizer que um dia não era o suficiente quando queria tantos outros com ele por perto. Experiência própria, acrescentaria. Queria dizer a Chanyeol que gostaria de sair por aí com Baekhyun na rua, os dois de mãos dadas. Era tão idiota querer andar de mãos dadas com Baekhyun à luz do dia, à luz da noite e à luz de qualquer hora?

Sehun se imaginava andando de mãos dadas com ele inúmeras e inúmeras vezes, por milhões de cenários inventados. Iriam passear com os dedos entrelaçados. Talvez no shopping? Quem sabe pegar um cineminha, aquele filme dos super-heróis que haviam visto o trailer no celular dia desses. Na sessão, comendo a pipoca um do outro, Baekhyun ia deitar sua cabeça no ombro de Sehun e as mãos se uniriam com facilidade no meio de alguma cena engraçada, o riso espalhafatoso e gostoso de Baekhyun fazendo seu corpo tremer em felicidade. Em determinado momento do filme, Sehun olharia para Baekhyun e Baekhyun devolveria o olhar e então se beijariam, simples assim. Boca, língua e saliva. Os lábios com gosto doce e salgado do chocolate com caramelo e pedacinhos de amendoim.   

No final da noite, estariam na mesma cama conversando sobre aquele dia. Ou fazendo coisa melhor do que falar. 

Sehun queria contar tanto para alguém que estava saindo com Baekhyun. Deus, queria gritar para o mundo inteiro que beijava a boca de Baekhyun quando ninguém estava vendo. 

Última pergunta — Chanyeol chamou a atenção de Sehun. — Casar, namorar ou foder com CBX — disse. 

Sehun fez um beicinho de quem estava surpreso com a pergunta. 

— Qual é o nome dessa fanbase mesmo? 

A mesma daquela administradora que eu aposto que é uma sasaeng

— Não estudei Direito, mas eu sinceramente acho que acusar alguém de algo deve ser um crime, não?

Essa menina é a primeira a publicar todas as notícias do CBX antes mesmo da própria empresa, Sehun. 

— Como você sabe que é uma menina, Chanyeol?

Instintos policiais — soprou. — Quase todas os fansites do CBX são administradas por meninas porque meninas são o público-alvo de grupos masculinos

— Você sabe que isso não é totalmente verdade — respondeu. — Você é um fã de grupos masculinos e chegou a ser um dos admins de um fansite gigante antes da Chaeyoung nascer — lembrou. — Além do mais, eu tenho quase absoluta certeza que quem administra essa página é um staff. 

Será mesmo?

— KNOCK KNOCK está aí de prova. 

Não foi provado. 

— E precisa? — argumentou. — Ou é um staff ou uma divindade mística.

Os dois se olharam. 

— Staff, claro. 

Divindade mística — Chanyeol falou ao mesmo tempo que Sehun. — Ah, qual é, Sehun?

— Você está perdido — declarou. — Mas vai, diz você primeiro. Namorar, casar ou foder?

Chanyeol apoiou o queixo na mão e franziu o cenho pensativo. 

Transaria com o Baekhyun — falou rápido, ganhando de Sehun outro daquele beicinho de quem estava surpreso —, namoraria com o Jongdae e casaria com o Minseok

— Casar com o Minseok, uh? 

Quem não casaria?

— Justo. 

Agora você. 

— Certo. —  O Oh mordeu a tampa da caneta. — Transaria com o Minseok. —  Chanyeol sorriu ao ouvir isso. — Que foi? Vai me dizer que nunca pensou nisso?

Eu não falei nada —  defendeu-se. 

— Seus olhos disseram. 

Não tenho culpa se meus olhos são expressivos demais. São o meu charme —  gabou-se com uma piscadinha. — Continuando, namoraria com quem?

— Kim Jongdae. — Sehun exibiu uma fileira de dentes brancos ao sorrir imenso. —  E me casaria com Baekhyun. —  Não conseguiu esconder a cadência doce da sua voz ao pronunciar o nome do último integrante do grupo. 

Você está perdido, sabe disso não é? — O comentário de Chanyeol fez Sehun morder o lábio inferior para esconder seu sorriso. 

— É só uma brincadeira. 

Uma brincadeira onde você mentiu

— Não menti. 

Claro, claro —  disse. —  Só omitiu uma grande parte da verdade.

— Não exagera, Chanyeol.

Eu e você sabemos bem como seria a ordem na resposta dessa pergunta.    

Sehun achou melhor suspirar ao invés de falar alguma coisa. 

— A noona vai mesmo deixar você ir ao concerto do CBX dessa vez? E ainda levar a Chaeyoung junto? 

Fizemos algumas negociações —  respondeu. 

— O que você prometeu a ela?

Só um pouco da minha alma, da minha dignidade e meus futuros sonhos? — falou dramaticamente.

— O que ela pediu em troca? Desembucha.

A vasectomia — soprou. — E que eu tire todas as minhas férias atrasadas

— Parece que não vai conseguir fugir de casa por mais tempo.

Eu gosto do meu trabalho — justificou. — De qualquer forma, vou levar Chaeyoung ao seu primeiro concerto. Tem momento mais importante que esse? 

— Talvez quando ela levar pra casa o primeiro namorado?

Ela só tem cinco anos, Sehun. 

— Pode ser uma namorada. 

Você pode parar, por favor? 

— Você precisa lidar com esses fatos. 

O único fato que vou lidar é que estarei presente com minha filha nesse concerto para ver o CBX. E com você junto.

— E a Sooyoung. 

E a Sooyoung.

— E o Yixing.

Chanyeol não conseguiu esconder seu desagrado ao ouvir o nome do outro melhor amigo de Sehun. 

E ele

— E o Jongin. 

O Park mudou as feições, abrindo um sorriso imenso.

— Nós somos bons amigos agora, apenas amigos mesmo — achou melhor deixar claro. — Ele é um grande fã do CBX também, o que é muito incrível — acrescentou, lembrando-se do quanto Jongin tinha ficado sem reação quando o chamara para ir assistir ao concerto. 

É, Jongin é um bom menino com um gosto perfeito — falou. —  E algumas amizades podem se tornar algo a mais de vez em quando.

Sehun riu disso.

— Ou amizades são só amizades, Chanyeol. Assim como eu e Jongin, apenas amigos. — Fitou o cunhado na tela do celular. — Eu gosto desse cara que eu estou saindo. Gosto de verdade — confessou. — Estou apaixonado por ele, entende?

Na tela do celular, Chanyeol balançou a cabeça devagarinho e coçou o couro cabeludo. 

Ele está apaixonado por você? 

Sentando-se na cama, uma redação presa entre os dedos, Sehun deu de ombros. 

— Não importa.

Importa sim, Sehun.

— Não pra mim — negou. — Já me acostumei a estar apaixonado por alguém que não vai corresponder aos meus sentimentos, por mais que isso vá doer. Mesmo que eu fique de coração partido. É só juntar os pedaços depois. 

  — Talvez e só talvez, Sehun — Chanyeol começou a falar depois de um segundo de silêncio, encarando Sehun seriamente —, se você falar abertamente sobre seus sentimentos, se contar que está apaixonado, se deixar de ficar em silêncio achando que o outro deve perceber algo que nem sempre é óbvio, as coisas possam ser de um jeito diferente. — O policial tirou o par de óculos que usava e o limpou na barra da sua camisa, exibindo parte do seu peitoral. — Ser sincero não custa nada. Porque talvez essa pessoa só precise ouvir as palavrinhas certas da sua boca para dizer o mesmo de volta. 

 Por mais que a voz de Chanyeol estivesse calma e baixa, em um tom quase maternal, Sehun sentiu-se enfurecido por um momento. Enfurecido o bastante para achar aquela conversa muito estranha. Enfurecido o bastante para quase cuspir um “é claro, eu preciso ser sincero antes que talvez essa pessoa vá engravidar a minha irmã mais velha”. Mas preferiu ficar calado. Não podia ser nada disso. Era só a sua cabeça cheia de merdas sentimentais sobre Baekhyun confundindo tudo. Não falou nada. Até porque Chanyeol não sabia da missa a metade sobre a situação entre os dois. Não entendia o quão ruim seria para Baekhyun, o quão ruim seria para sua carreira o simples fato de ele estar na companhia de alguém quando tinha um bando de fãs possessivos, que o consideravam como um chaveirinho de bolso.

Na verdade, me desculpa, Sehun — pediu. — Sinceramente. — Deixou seu olhar se demorar em Sehun. — Ainda não acredito que você já está tão grande e todo crescido. Até ontem você era meu irmãozinho mais novo e agora já é um homem grande que se apaixona e vai dormir na casa desse cara dizendo que está no Yixing.

Sehun arregalou os olhos. 

Yixing postou um status de que está vendo Grey’s Anatomy sozinho — explicou inocentemente. — A coisa é que eu não quero que você tenha o coração partido por ninguém e fico me segurando pra não descobrir quem é esse cara e ir bater um papinho sobre como meu melhor amigo é incrível e merece ser levado a sério e em muitos encontros.

—  Um papinho implica bater?

Talvez uns safanões, algo meio “acorda pra vida, cara, Sehun é a sua alma gêmea”. 

Sehun sorriu. 

— Mesmo se eu estivesse saindo com o Baekhyun?

Chanyeol coçou o pescoço. 

Veja bem… — começou. — Conheço Baekhyun o suficiente para saber que ele não é um idiota desse tipo. Ele não canta “Can I be your boyfriend, can I?” da boca pra fora — falou. — Mas se eu precisasse ter um papinho com ele, garanto que os safanões seriam mais gentis. E eu provavelmente pediria um abraço, um autógrafo e diria que ele é perfeito e incrível de todas as formas possíveis e que não existe ser humano mais doce do que ele na face dessa terra...

— Seus amigos da delegacia sabem desse seu lado? — Sehun perguntou, interrompendo o monólogo do amigo. 

Há coisas na minha vida privada que meus companheiros na delegacia não precisam ficar sabendo. 

 — Deveriam fazer uma novela sobre você —  brincou. — Policial de dia, fanboy à noite. 

Eu toparia se o CBX fizesse parte do elenco — devolveu. — Aliás, falando neles, por que não convida esse cara para o concerto? Seria uma boa. Quer dizer, ele sabe que você é um fanboy? Talvez quando descobrir, se apaixone de uma vez por todas por seu jeitinho de fã.

— Como a noona se apaixonou por você?

Ela disse que eu fico sexy gritando por outros homens. Me acha uma gracinha assim — contou bancando o tímido. — Pode funcionar com você.

— Ele meio que já vai estar lá. — Seu cunhado o olhou em busca de mais informações. 

Ele também é fã do CBX?

Sehun riu.

— Mais ou menos isso — disse. — É muito amigo de dois integrantes do trio.

O modo como os olhos de Chanyeol dobraram de tamanho fez Sehun sorrir ainda mais. 

Está saindo com um staff?

— Não. 

Alguém que seja da equipe de produção dos shows?

— Também não. 

Chanyeol franziu o cenho e Sehun podia ouvir os neurônios do seu amigo trabalhando. 

Meu Deus, não é nenhum manager deles, é? Porque o manager do CBX é casado.

— O que você pensa que eu sou, Chanyeol? Deixa de ser ridículo.

Certo. Ao menos é da empresa?

— É.

O policial o encarou com aqueles dois pares de olhos grandes e brilhantes.

— Não, não vou te dar dica nenhuma.

Ele suspirou profundo.

O Yixing sabe quem é?

— Não —  respondeu. — Ainda não sabe. 

Menos mal.

— Você é tão infantil, sinceramente. — Sehun passou a recolher todas as redações ao ver as horas.

Baekhyun tinha mandado uma mensagem mais cedo dizendo que chegaria próximo daquele horário. 

 — Eu preciso desligar, hyung. A gente se fala mais tarde quando abrir as vendas dos ingressos. 

Acha que vai conseguir comprar três tickets? Na última vez os ingressos se esgotaram em dois segundos.

— Meus dedos já estão preparados para isso. F5 na cabeça — garantiu, fingindo digitar rapidamente no ar. — A internet daqui também é muito boa, o que significa que não vou precisar correr pra uma lan house porque a conexão caiu. Mas e você, acha que vai conseguir pegar os outros três?

Paguei o cartão justamente pra isso. E sua irmã está na casa da sua mãe para não usar a internet pra ver série bem na hora que começar as vendas.

— Parece que vamos conseguir dessa vez.  

Mas se a gente não conseguir…

— Não deve ter um mas porque vamos.

Mas caso isso acontecer, hipoteticamente, conheço um cara que conhece um cara que vai me arrumar os ingressos

— Isso soa muito estranho vindo da boca de um policial. 

O importante é que vamos ao concerto — declarou. — E finalmente vou poder conhecer o seu amigo.  

— Você já conhece ele, seu bobo. 

Chanyeol não precisava ser um gênio para entender o que significava aquele sorriso de Sehun ao olhar para o que deveria ser a porta do quarto ou o que significava aquele barulho característico de duas bocas quando estão se beijando carinhosamente depois de passar o dia todo sem se ver. 

Encerrou a ligação por chamada de vídeo ouvindo o riso de Sehun cheio de uma felicidade que sabia perfeitamente significar amor. 

 


Notas Finais


obrigada por ler e logo logo volto com o capítulo final (daqui uns setes meses de novo qqqqqqqq)

♥ ♥ ♥ ♥


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...