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História Cidade dos anjos - Epílogo - 199x


Escrita por: Meliorismo

Notas do Autor


Tem uma playlist que é legal se vocês puderem ler ouvindo, porque organizei as músicas pelas cenas, então respeitem o mimo. Vou deixar junto das maiores notas finais que vocês vão ver na vida. leitura opcional rs

Capítulo 10 - Epílogo - 199x


 

Sehun nunca imaginou que o dia em que ele iria desmoronar finalmente chegaria. Em sua mente, sempre fora um homem já quebrado o suficiente pela vida para que isso ainda fosse acontecer, mas durante uma tarde na qual não guardou datas ou climas, ao olhar no fundo dos olhos de Jongin que alegava empolgado estarem indo no melhor restaurante da cidade inteira, Sehun chorou. Ele enfiou a cabeça entre as mãos, encostando-as geladas e pálidas no suporte de air bag, implorando para que Jongin não chegasse perto. Se dar conta de que não era aquilo que queria ser ou que mereciam que ele fosse era aterrador. Lhe punha em uma espiral de completo desespero.  

Jongin parou o carro em um beco a três quadras das reservas românticas que tinha feito para comemorar dois anos da volta de Sehun para a Coréia, travou as portas e encostou um dos ombros no volante, vendo o namorado ficar cada vez mais suado e nervoso sem sequer poder tocá-lo. Não sabia o que fazer. De repente, sua vida parecia simples demais para lidar com toda a complexidade que Sehun escondia dentro de si. E isso lhe causou certo medo.  

"Sehun..." Jongin falou tão baixo que sua voz quase não saiu. "O que você quer que eu faça?"  

"Liga pro Chanyeol." Ele disse em um suspiro. Jongin sentiu algo remexer por dentro porque aquele nome ainda era um tabu para si. Sehun falava nele de vez em quando e tudo bem sorrir para tentar arrancar alguma informação do que foi a vida dele depois que se separaram, mas era quase em vão. Ele nunca fez questão de relembrar tudo o que tinha acontecido em Los Angeles e aquilo era uma lacuna para Jongin saber o que ele havia se tornado. Mas Chanyeol sabia.  

"Tudo bem, eu vou ligar." Era o primeiro número da discagem rápida, antes mesmo da polícia ou dos bombeiros. Jongin escutava a chamada se arrastar lenta e sinuosa enquanto Sehun abraçava os próprios joelhos no banco do passageiro. Assim que fora atendido pela voz grave, empurrou o celular para o namorado por não saber o que fazer e muito menos como agir. Por mais que ouvir o nome de Chanyeol tantas vezes parecesse lhe tornar alguém mais íntimo, ao ter um contato direto era como um choque de realidade dentro de si. Não fazia ideia de quem aquele homem era. Não fazia ideia de quem era a pessoa mais importante do mundo da pessoa mais importante para si. 

"Sehun?" Ele disse daquele jeito medroso de sempre. Quase como se falar aquilo fosse proibido e aquela familiaridade trouxe um suspiro de alívio para dentro de um Sehun tão deslocado. "Aconteceu alguma coisa? Faz tempo que você não liga." Chanyeol disse curioso, não para acusar ou intimidar, o amigo sabia. Ele apenas era assim. 

"Hyung..." Sehun não tinha ideia do quanto sua voz soaria necessitada ou quebradiça, muito menos Jongin, que nunca se sentiu tão intruso dentro de algum lugar quanto do próprio carro agora. "Hyung, conversa comigo..."  

"Tu nunca foi de usar essas merdas pra gente se falar, Sehun." O corpo de Chanyeol de repente se remexia tanto que era possível ouvir do outro lado da linha. "Tá acontecendo alguma coisa?" 

"Eu tô sentindo falta tua." Jongin abriu parte do vidro porque de repente ouvir aquela conversa parecia tomar parte do seu ar. "Parece que eu tô morrendo." 

"Tá com voz de que chorou." Ele sussurrou baixinho daquela mesma maneira de quando estavam tão perto um do outro que era possível sentir qualquer coisa pulsar.  

"Só do tanto que dói ficar aqui sem ti." Chanyeol não era de ferro. Sehun não tinha a melhor das personalidades, mas ele jamais faria algo para manipular o amigo de tomar qualquer decisão tendo plena noção disso. Ouviu mais uma vez o remexer do outro lado da linha e Jongin se perguntou por um instante se deveria cancelar as reservas.  

"Quer que eu vá até aí?" Chanyeol se pronunciou depois de alguns instantes. Pra ele as coisas sempre pareciam tão simples que deviam ser levadas como filosofia para a vida de algumas pessoas. Ele estava a dez mil quilômetros dali, mas e daí? Era como se estivesse ao lado. Não existia força do homem ou da natureza que pudesse impedir Chanyeol de chegar até Sehun caso quisesse. "Quer?" 

Sehun fechou os olhos. O frio lá fora era cortante e uma lembrança brutal de que Los Angeles de fato tinha ficado pra trás depois de tudo. Ainda com o telefone rente a um dos ouvidos, sentiu a mão morna de Jongin lhe alisando as costas em um consolo, quase como se soubesse que Sehun tinha que tomar uma decisão importante naquele momento. Evitou encará-lo. O baque de que não levava mais a vida que estava acostumado na escuridão de um quarto, com aquele vazio dentro do peito e não precisar dar satisfação para quem quer que fosse de seus surtos ou sumiços fora mais brutal do que pensava. Não que gostasse da vida que levava, mas ainda assim estava inserido nela. Havia inserido Chanyeol nela. E aquela vida que vinha levando ao lado de um Jongin com horário pra tudo, dando bom dia aos vizinhos e vestindo uniforme de empregado era assustador. Era o que desejava mas agora parecia vazio. Durante toda a sua vida achou que a vontade de implodir vinha da lacuna que Jongin havia deixado ao se separarem, mas agora o buraco parecia ainda mais fundo. Dentro do vazio cabia Jongin, mas o espaço que sobrava era de quase um universo inteiro.  

"Quero." Não sabia o que havia feito, mas Chanyeol desligou imediatamente e ele devolveu o celular. Jongin não estendeu assunto e Sehun tampouco se esforçou para apresentar alguma melhora, porque ela não existia. Aquele quarto escuro com uma tubulação grande o suficiente para passar um norte coreano magrelo e sádico estava construído dentro de si. Deixá-lo para trás agora parecia mais complexo do que apenas fazer algumas malas e cair fora em busca de uma nova vida. Jongin deu meia volta com o carro e ligou para o restaurante cancelando as reservas antes do ambiente entrar em silêncio total. 

 
 

Chanyeol prometera muitas coisas para si mesmo quando deixou Sehun ir. Prometeu que levaria uma boa vida, e que ia fazer todas aquelas coisas que jovens da sua idade sentiam vontade de fazer mas ele apenas não sentiu por estar inundado de outro alguém, sem tempo para ser tão trivial. Prometeu que ele seria apenas uma lembrança, mesmo que não soubesse se ela era boa ou ruim, e que chegaria o momento de Sehun ligar e ele apenas estar ocupado ou distraído demais para atender. Naquele instante, esse era o momento, mas Chanyeol apenas não conseguiu. Prometer sempre fora um abismo entre o cumprir e isso nunca lhe pareceu tão vivo quanto agora.  

Levantou da cama meio sem ar, e saiu pela rua quase como se estivesse sendo guiado pelos próprios instintos. Não se lembra muito bem do que fez, mas fez. No fim do dia, havia dinheiro em seu bolso, um Junmyeon deixado pra trás e uma passagem para a Coréia dentro da carteira. Chanyeol fechou os olhos com força e lembrou de que uma de suas promessas era nunca mais voltar para aquele país depois de sua família ter fugido do mesmo, e aquela era mais uma das coisas quebradas por Sehun agora. 

Quanto tempo fazia? Sequer sabia. Não conseguia nem mesmo responder perguntas simples quando elas vinham dentro do cérebro. E se Sehun perguntasse o que veio fazendo durante todo esse tempo? E se perguntasse como se virou, quem conheceu, quantos amigos tinha feito, se sentia falta da vida que levavam, conseguiria falar? De repente, acima de um amigo e do homem que amou, ele parecia uma lembrança muito mais distante do que o meio globo que os separava. E Jongin? Será que ele era uma boa pessoa? Será que ele era melhor do que si? Chanyeol coçava sem necessidade o piercing na língua enquanto mantinha a cabeça encostada na janela do avião. Fechou os olhos e decidiu não pensar em mais nada. Aquela viagem não precisava ser ainda mais longa do que realmente era.  

 

"Chanyeol tá vindo fazer uma visita." Depois de algumas horas em silêncio cortante, Sehun pontuou o óbvio dentro do apartamento abafado pelo ar do aquecedor. Por alguns momentos, sentiu um fundo acusador no olhar que Jongin lhe lançou, mas ele logo desapareceu, foi coisa de um segundo ou dois, que mesmo assim não passou despercebida. Ele se remexeu na poltrona, genuínamente desconfortável, até finalmente se pronunciar.  

"Por quê?" Não era uma pergunta de uma via só, haviam várias, Sehun sentiu pelo tom. Não se tratava de apenas o motivo pelo qual Chanyeol estava vindo, e sim de tudo englobado desde quando seus pés cambalearam de volta a Seul. Não havia como fingir que não havia percebido o que Jongin tinha implicitado, pois suas ações pareciam denunciar. Cada mínimo espasmo dos músculos soava como uma sirene louca em um detector de mentiras. 

"Porque ele é meu amigo, e eu sinto falta dele. Muita." Foi pelo caminho mais fácil. Sabia que mesmo desviando pela pista de mão simples, ainda iam haver buracos dos quais simplesmente não conseguiria evitar. Só lhe restava torcer para que o carro não capotasse de uma vez, mas Jongin parecia disposto a guiá-lo com segurança, e isso trazia uma sensação estranha de alívio no caos.  

 "Teve uma vez que-" 

"Teve." Sehun interrompeu. Jongin engoliu em seco. 

"Por quê?" 

"Não sei. De verdade, não sei. Quando eu penso nessas coisas, parece que nem foi comigo, de tão longe. Parece outra vida." De repente, sentiu como se fosse explodir. "A minha vida foi uma coisa que não consigo explicar. Queria esconder tudo de ti e fingir que só nasci quando a gente se viu de novo." 

"E o Chanyeol foi o quê?" Por que ele continuava indo cada vez mais fundo no vulcão quanto tudo o que se sabe de lá é que seu interior queima e fere? Sehun respirou fundo e fechou os olhos. Parece que aquela conversa não era capaz de se estender por nem mesmo uma letra caso olhasse para os olhos de Jongin.  

"Ele foi tudo pra mim. Tudo. Respirava porque ele respirava, sorria porque ele sorria. O Chanyeol era um pedaço de mim tão grande que nem sei como eu ainda tô vivo. Ele era minhas pernas, meus braços. Meus olhos, meu coração e minha cabeça. Eu nem consegui me despedir dele porque se ele me pedisse pra ficar, eu ia ficar o resto da minha vida lá. Eu deixei ele lá e só deixei..." Abaixou a cabeça e sentiu mais uma vez aquilo lhe enforcar e tomar todo o ar como uma peste. Admitir todos aqueles erros doeu muito mais do que cometê-los. "A culpa... Eu só deixei e depois ele me ligou só pra dizer que não tinha me esquecido. Mas não da forma ruim, nem pra me acusar ou nada. Só ligou. E eu nem sei como fui capaz de só deixar ele lá naquele inferno." 

Era natural chorar àquela altura. Sehun abriu os olhos e puxou o ar com força quando se sentiu a pior pessoa de todas por ter feito aquilo com aquele garotinho fedido e bronzeado que bateu na sua janela só pra ver se ele queria jogar futebol. Tantos anos e eles nunca sequer jogaram futebol. Eles não saíram, não se apaixonaram por outras pessoas e tampouco viveram as próprias vidas. Foi um baque para Sehun perceber que talvez ele tenha prendido Chanyeol muito mais do que prendeu a si mesmo. Escondeu o rosto com as mãos e o choro silencioso se transformou gradativamente em uma lamúria tão doída que Jongin não via palavras que pudessem consolar o namorado. Então, somente o abraçou.  

"Você ainda ama ele, não ama?" Jongin perguntou baixo quando tudo se transformou em sussurros e soluços. Tinha medo da resposta, mas sentia que aquela era uma dor necessária. Não poderia morrer sem a resposta daquela pergunta.  

"Não sei. Só me abraça Jongin, só..." E tudo morreu ali. Sehun dormiu nos braços de um Jongin que passou a madrugada encarando a escuridão do lado de fora da sacada que engolia a cidade inteira como em um aviso mórbido de que as coisas não iriam conseguir se manter em um pilar tão simples e frágil para sempre.  

 

Depois do acontecido, Jongin decidiu agir normalmente. Sehun já lhe soava confuso e quebrado demais para merecer outro julgamento, por mais certo que lhe parecesse. Não se esquecem assim as pessoas que se ama, veja bem. Depois de todos esses anos ainda não havia esquecido Sehun, quem era ele para lhe exigir algo depois de tudo o que passou? Na manhã seguinte fez os ovos mexidos que o namorado tanto amava como em um aviso silencioso de que as coisas estavam em seus lugares mesmo que dentro nele tudo parecesse vitimado por um furacão. Precisava ser pilar para o bem de todos que ali residiam. Tudo se manteve na mais perfeita ordem até o final da tarde, quando o celular de Sehun tocou, coisa que pareceu vir de outra dimensão, os sons se distorcendo e parecendo até mesmo fantasmagóricos. Ele atendeu distraído, com as feições transformadas por uma palavra ou duas ditas do outro lado da linha. Aquilo era mais do que o suficiente para que Jongin soubesse de quem se tratava.
 
           "Você vai buscar ele comigo?" Sehun vestia o casaco meio desajeitado, e em sua voz havia um fundo de empolgação. Quando abriu os lábios, um não na ponta da língua, lembrou-se do que aconteceu dentro do carro quando ele mesmo havia pego Sehun naquele aeroporto. Silenciosamente se levantou e começou a procurar um casaco por detrás das portas de todo o apartamento. 

 

Chanyeol sempre lhe fora um borrão. Ele era aquela imagem pixelada que vira em um frame ou dois apenas uma vez atrás da tela de um computador, confuso, colérico. A imagem que construíra dele nunca fora das melhores, sequer sabia o que havia sido visto nele, porque lhe parecia tão ruim. Uma pessoa até mesmo indigna de receber todo aquele amor que lhe era entregue de bandeja. Sehun também nunca havia se dado o mínimo de trabalho em passar uma imagem diferente, ou qualquer outra. Raramente falava sobre, então era trabalho de Jongin imaginar. Ver aquele homem enorme, com roupas puídas demais para ser de propósito e com tatuagens fechando ambos os braços e pescoço lhe arrepiou por inteiro. Ele passou a mão nos cabelos curtos e ficou com o olhar meio perdido dentro do aeroporto gigantesco, enquanto Sehun parecia em estado de choque. Não conseguia gritar, acenar ou sequer assobiar, então fora trabalho de Chanyeol encontrar o amigo. Jongin deu dois passos para trás antes de ser completamente visto, e assistiu. Eles não sorriram como as pessoas constumam fazer quando se encontram depois de algum tempo. Chanyeol apertou o passo, e quase correu, o rosto petrificado e a expressão indecifrável. Ele não abraçou Sehun, Jongin não sabia uma palavra exata para aquilo. Era como resgatar alguém que se afoga e já entregou os pontos. Seus braços o apertavam tão forte que por pouco não quebraram em dois o garoto que tremia e puxava o casaco jeans de Chanyeol para mais perto e mais perto, quase como se fossem um. E jongin sentiu medo. 

Nenhum dos dois dizia uma palavra. Eles apenas não se soltavam e aquele sentimento de intrusão voltou a pairar pela cabeça de Jongin como um vírus que nem chegou a ir embora. Mesmo de longe, era fácil saber o quanto Sehun chorava apenas pela intensidade que seus ombros tremiam. Quando se afastaram, sorriam de um jeito terno, de um jeito que as pessoas só sorriem quando voltam pra casa. Sehun limpou os olhos com a manga do casaco, e procurou Jongin com os olhos, sorrindo tanto. Era bonito porque ele parecia completo, mas era desagradável por parecer incorreto. Não sabia exatamente o que sentir. 

"Esse é o Jongin." Apontou com o queixo, e Jongin nunca se sentiu tão pequeno. Chanyeol não parecia com raiva dele, tampouco enojado com a sua presença da forma que imaginou que seria. Ele estava sereno e sorridente feito criança enquanto um de seus braços procuravam os ombros de Sehun da mesma forma que se procura um conhecido em uma multidão na qual você se perdeu. As mãos foram apertadas e ele soltou em um coreano carregado na voz grossa e vagarosa.

"O famoso Jongin..." Sorriu de novo enquanto apertava a alça da mochila como se para se certificar dela estar realmente lá. "Sehun sempre falou de você até não aguentar mais, meu deus!" Ele disse tão eufórico que Jongin se deixou sorrir por um momento enquanto voltavam para o carro. Sehun o olhava tão fascinado, como se não acreditasse que ele estava realmente lá e no quanto aquilo era surreal. Era até mesmo engraçado acompanhar suas reações. 

"Bem ou mal?" Se permitiu entrar na brincadeira. Chanyeol revirou os olhos e lhe encarou como se fosse óbvio. 

"Mal? Se eu sequer citasse teu nome levava um soco! O sagrado Jongin! Era insano!" Sorriram alto, e Sehun abriu a porta de trás do carro para que Chanyeol jogasse as mochilas e depois entrasse. Não era muita bagagem, então sobrou um espaço agradável para que ele entrasse logo depois. Jongin olhou para o banco do carona esperando que Sehun entrasse, mas ele não entrou. Ele sussurrava em dialeto no banco de trás para o amigo que quase morreu de tanta saudade que sentia. Engoliu em seco e ajeitou o retrovisor para que eles tivessem alguma privacidade, mas o caminho foi só silêncio quebrado aqui e acolá por algum nome de prédio ou parque sendo dito em sussurros. Quando passaram no centro, ainda foi capaz de ouvir Sehun murmurar.

"Eu nunca imaginei que tu ia vir mesmo." O que pareceu retórico, já que Chanyeol demorou longos minutos para responder.

"E o que é que eu não sou capaz de fazer por ti?" A voz era risonha. Mais silêncio.

 

Era uma cumplicidade perturbadora o que eles dois tinham. Algo que Jongin sequer imaginava a existência. Quando chegaram no apartamento pequeno, Sehun foi direto para a cozinha fazer algo para comerem, já que a viagem fora longa e o fuso já fazia todo o corpo dele reclamar. O namorado resolveu dar mais privacidade para os dois, que não se viam a muito tempo, então provavelmente tinham muito o que conversar. Sentia certo medo de que rumo as coisas podiam tomar, já que não era dos mais seguros quando se tratava em vida sentimental, ainda mais quando se tratava de Sehun. O perdera por tanto tempo que só a mínima menção de acontecer de novo lhe fazia tremer. 

A noite caía vagarosa e fria lá fora quando Jongin resolveu sair. Calçou os mesmos sapatos de poucos minutos antes, enfiou o celular em um dos bolsos do jeans e deu uma desculpa qualquer para os dois amigos que conversavam na mesa da cozinha, não iria demorar. Não queria demorar. Remexeu o corpo que protestava pela baixa temperatura e entrou dentro do carro, com apenas um destino em mente, da única pessoa que o conhecia a ponto de saber o que fazer. 

 

"E como tu está?" O jantar fervia nervoso fazendo todo o cômodo cheirar bem. As luzes amareladas da cozinha ressaltavam as tintas escuras de todas as tatuagens nos braços de Chanyeol, que olhava para Sehun daquela maneira e ele já não sabia muito bem se Jongin tomou a decisão certa em sair de casa justo naquele instante. "Como ele é?"

"Eu não sei como eu tô." Foi sincero. Julgava que estava tudo na mais perfeita ordem uma semana antes, então já não conseguia dizer com clareza como as coisas estavam agora. Sabia que estava feliz, mas não sabia se era suficientemente feliz. "Não tô mal, mas não tô bem. O Jongin tem me ajudado demais, ele é bom. Tipo, eu sempre soube que ele era bom, mas eu teria desistido de mim, e ele continua aqui fazendo as coisas ficarem boas. Quando eu te liguei ele tava me levando em um restaurante chique aqui da cidade. Ele gosta de fazer essas coisas."

"Isso é bom." Chanyeol parou de encará-lo e seus olhos se perderam por um momento nas panelas que ferviam. Era comida tradicional, e sequer conseguiu se lembrar da última vez que comeu coisa parecida. "Fiquei com medo de não ser o que tu esperava. Do jeito que tu me ligou, eu achei que..."

"Não, ele é bom. Bom pra mim. Só queria te ver nem que fosse um pouco." Confessou. Chanyeol sorriu fraco e o encarou de novo. Sehun estava diferente. Não de um jeito ruim, ele sempre fora bonito, mas agora sua beleza pendia para outro lado. A pele estava mais rosada, os braços levemente bronzeados e ele ainda usava o mesmo corte que Chanyeol costumava fazer quando ainda moravam em Los Angeles. Seus dedos não estavam mais amarelados de nicotina e as roupas pareciam mais novas. Tudo nele parecia melhor, e talvez por ainda ter aquela imagem congelada de Sehun partindo, Chanyeol não estivesse preparado para lidar com tantas mudanças. Aquelas coisas que se certificava todos os dias de domar dentro de si agora pareciam quase fora de controle. Era surreal demais vê-lo daquela maneira.

"Eu achei que nunca mais a gente ia se ver. Tipo, já tinha me conformado com isso. Eu conversei com a tua avó, e decidi que ia até ser melhor assim, sabe? Pra poder doer menos." Ele falou baixo, quase sussurrando como se não devesse dizer aquilo. Sehun levantou desajeitado para desligar o fogo e fechou os olhos com força ao sentir que estava sendo encarado mesmo de costas. "E agora tô te olhando, mas nem consigo acreditar. E também me sinto meio mal em chegar mais perto porque... Você sabe..." Disse a última parte risonho até, mas era algo mais desconfortável do que engraçado de fato. Sehun voltou para o lugar e sequer fez menção de servir o jantar para Chanyeol, porque havia algo mais importante no momento. Algo palpável e sufocante dentro dos olhos arredondados e meticulosos do amigo na cadeira ao lado da sua.

"Pode chegar." Sehun sussurrou de uma forma que deixava claro a incerteza vindo dele mesmo depois de ponderar por longos minutos. As mãos de Chanyeol pareciam coçar em cima da mesa, e ao olhar para os nós dos dedos dele, viu seu ano de nascença na mão esquerda tatuados. "Pode tocar." A última parte quase não saíra. O amigo afastou a cadeira para mais perto com a força das próprias pernas e estendeu os dedos trêmulos até o rosto de Sehun, que fechou os olhos. O tato era grosseiro, a pele maltratada por deus sabe o quê, mas talvez aquele tenha sido o toque mais macio e terno que sentiu em toda a vida, os poros respondendo rápido quando passava pelos cílios, sobrancelhas, o osso protuberante do nariz e os lábios rosados que Chanyeol se lembrava todas as noites antes de dormir. Eles se entreabriram e não foi difícil sentir a textura antes de escorregar para o queixo e pescoço, os cabelos finos e virgens da nuca, a respiração de Sehun, que parecia tremer como nunca, respondendo ao toque como um maldito reflexo. Não havia forma de ocultar nenhuma daquelas reações por mais que quisesse. Mal conseguia puxar o ar pra dentro dos pulmões.

"Tá diferente." Chanyeol pontuou baixinho, e a resposta foi apenas um rosnado meio irônico. Sehun sorriu, de olhos fechados e presas expostas, e de repente aquilo foi mais do que suficiente para o amigo renovar aquela constatação de que ele era inigualável. Inesquecível. Insubstituível. "Tá bonito." Não era capaz de segurar a boca quando estava perto dele e as coisas apenas saíam. 

"E eu era feio?" Sorriu de novo, e Chanyeol sentiu como se fosse explodir. Levou os dedos até as orelhas levemente pontudas fazendo uma carícia que o contorceu inteiro. Sehun abriu os olhos e se pegou sendo fitado tão intensamente que era quase como estar nu. E pela primeira vez, não sentiu medo de estar tão exposto assim para alguém.

"Era nada." Riu soprado, e distanciou a mão do rosto dele, sentindo os dedos formigarem viciados por aquele contato tão simples. "Era lindo. O mais lindo."

"Desculpa ter te deixado lá daquele jeito." Sehun soltou enquanto os dedos finos e pálidos procuravam os de Chanyeol em cima da mesa e ele deduziu que talvez o amigo sentisse a mesma necessidade de ser tocado que ele sentia em tocá-lo. "Eu não consigo me perdoar por ter te deixado naquele inferno." Os olhos chegaram até a perder pare do foco com as lágrimas que insistiam em vir. 

"Eu acho que se você não tivesse me deixado, eu nunca teria coragem de viver a minha própria vida. Ia sempre esperar teu próximo passo pra poder dar o meu." Chanyeol decidiu levantar por si só e colocar o próprio jantar já que Sehun parecia abalado.  "Não vou dizer que não doeu, porque doeu de morte. Quase fiquei louco. Fez parte." Se serviu e sentou mais uma vez, colocando um pouco de arroz quente na boca e resmungando para quebrar um pouco o clima que parecia colaborar para que Sehun chorasse. "Te perder foi a coisa mais dolorosa que eu já precisei sentir, mas foi ao mesmo tempo a coisa mais necessária que eu tive que passar. Então não se preocupa com nada disso."

Sehun sentiu uma lágrima teimosa escorrer, mas era visível que ele sorria.

 

"Não é tarde demais pra aparecer aqui né?" Jongin limpava os resquícios de geada dos ombros e tentou sorrir o mais sincero possível para um Kyungsoo meio confuso do outro lado do batente. Eles não perderam o contato totalmente depois de tudo o que aconteceu, mas sobrou uma lacuna estranha quando o mais velho dentre os dois viu que aquela não era uma amizade muito saudável para nenhum dos lados. Ainda ligavam um para o outro e se encontravam de vez em quando numa cafeteria próxima do bar que Kyungsoo trabalhava, mas nada como antes. Ainda assim Jongin estava perdido o suficiente para relevar todas essas coisas. 

"Não. Não é tarde pra você." Ele sorriu daquela forma terna que o outro lembrava bem. Kyungsoo sempre era muito mais receptivo do que ele merecia. "Quer entrar?"

"Não, na verdade eu vim te chamar pra tomar um café e conversar." Mesmo tentando esconder, era claro que havia algo errado. Havia toda uma linguagem corporal óbvia que fazia Kyungsoo procurar maneiras sutis de entrar no assunto e fazer o amigo se abrir nem que fosse um pouco. Jongin esperou que ele calçasse botas e começaram a caminhar em direção diferente a da cafeteria, o que fez transparecer ainda mais a confusão que o outro se encontrava. A neve havia dado uma trégua e ele não começou nenhum assunto que fosse, o que passou a incomodar depois de alguns minutos. 

"E Sehun?" Perguntou por alto só para puxar o fio da meada. Pessoalmente, não queria saber de Sehun. Nunca quis. Mas mesmo assim, sabia. "Como ele vai no novo emprego?"

"Soo, como você se sentia quando gostava de mim?" Certeiro. Kyungsoo odiava aquele assunto como o inferno, mas dessa vez, ele parecia levar em algum outro lugar que não fosse a forma trágica que os dois acabaram. Cuspiu no chão e encarou os carros um pouco, tentando puxar de dentro algo que prometeu matar. 

"Não sei. Era duro. Gostar de você nunca foi fácil." Foi sincero. Jongin não disse uma palavra. "Mas havia dias que caramba, era como se eu fosse morrer. Não sei mesmo explicar, dóia de tanto me tomar. Eu não era eu. Eu era você." Tudo saiu de uma vez, e depois a sensação de ter falado demais começou a pairar sorrateira acima da cabeça. 

"Tem esse amigo do Sehun, o Chanyeol. O cara veio do Sudão, Arábia, não sei direito, só porque o Sehun conversou uns dez minutos com ele pelo telefone. Ele está na nossa casa e cara... Eu não sei. De verdade."

"Não sabe exatamente o quê?" Kyungsoo de repente se via entretido pelos rumos que aquela conversa estava tomando. 

"Ele é mais velho que o Sehun uns dois anos acho. Tem uma tatuagem na mão dele com o ano que o Sehun nasceu, nos dedos. Eu não sei o que eles são, nem sei o que eles significam, não sei o que eu sou pro Sehun e nem sei o que significa aquela ligação pra ele vir até aqui." Jongin mal conseguia respirar. Sempre fora muito contido e tinha formas distoricidas de desabafo, que felizmente Kyungsoo sempre entendeu e lidou. Ele sabia que não havia sido fácil durante esses anos, não estava em posição de julgá-lo. "E se eles ficarem que nem a gente era?" Perguntou como uma criança perdida, e o amigo sequer tirou sua razão. No lugar dele talvez estaria pior. É praticamente impossível competir com histórias. E Sehun tinha uma com aquele homem.

"Eu acho que é difícil te pedir pra amadurecer tanto em tão pouco tempo, mas não quero fingir que está tudo bem, Jongin." Ponderou dezenas de vezes cogitar aquela possibilidade, mas ela parecia gritar no rosto de ambos. "Às vezes, temos que perder pessoas. Faz parte da vida. Perdemos pessoas que levam pedaços nossos junto com elas, ou não levam. Ou temos que aprender a lidar com a perda quando ela ainda sequer aconteceu. Mas tudo tem um significado. Eu não vou te dizer que as coisas vão fazer sentido com um dia ou dois, mas prometo que vão." Yifan vibrava no bolso de trás, mas Kyungsoo resolveu ignorar por enquanto. "Quando eu te perdi, descobri que não me conhecia. Não sabia nada além do que sabia de você. Suas manias, as músicas que você gostava e outras coisas. Tudo sempre foi sobre você e eu tive que aprender a viver comigo, o que doeu." Riu sem nenhum humor. " Aparentemente eu odiava conviver comigo, mas aprendi muitas coisas, e hoje não dói mais. Por isso eu estou te dizendo que por mais que pareça que o seu mundo vai acabar, ele não vai. Você só tem que esperar."

"Yifan teve sorte." Jongin disse no fim, para quebrar um pouco o clima desagradável que a conversa tinha tomado. Kyungsoo sorriu e estufou o peito como que para parecer mais coisa do querealmente era.

"Ele sabe." Sorriram os dois. O celular parou de vibrar. "Não toma nenhuma decisão agora. Espera e pensa, pensa primeiro em você, depois no Sehun. E outra coisa, não seja egoísta. Eu sei que quando a gente ama alguém, é muito difícil não ser, mas tenta. Eu sei que você vai tomar a decisão certa."

"Espero que sim. Obrigado, Soo."

"Vamos voltar."

 


            Quando Jongin voltou para o apartamento, já era meio tarde, e Sehun dormia no sofá enquanto Chanyeol lavava as louças do jantar na cozinha. Passava um filme que lembrava de ter visto mil vezes quando tirava o casaco e botas. Foi até a cozinha e tentou ser um bom anfitrião pedindo para deixar a louça ali que na manhã seguinte limparia, mas Chanyeol fez questão. Sentou na mesa e o fitou de costas para si, pensando em fazer milhões de perguntas mas sem saber se deveria fazer ao menos uma que fosse. 

"Não precisa me evitar, Jongin." Chanyeol disse sem nem se virar, e o outro se surpreendeu. Era tão óbvio assim?

"Eu só queria dar um pouco de privacidade pra vocês." Foi pelo caminho mais complexo, e ouviu um riso soprado como se tivesse sido pego mentindo, o que não era muito difícil.

"Você sabe do que eu tô falando. Não precisa, de verdade." Chanyeol se virou e encostou na pia, agora encarando Jongin. "Eu e o Sehun sempre tivemos uma coisa, você sabe. Eu não vim aqui sequestrar ele, ou ser uma terceira pessoa no relacionamento de vocês."

"Até porque você sempre vai ser a primeira pessoa." Soltou sem pensar muito bem, e se arrependeu segundos depois mesmo que o outro não parecesse atingido de fato. Parece que coisas como aquelas simplesmente saíam.

"Era muito mais fácil pra ele ter ficado. Ficado comigo. Lá tinha a vó dele, eu, e uma cidade que me respeitava. E ele nunca saiu de dentro do quarto nem pra cozinha. Uma vez ou duas que me lembre. Nem a porta da frente ele abria pra eu poder entrar, tinha que entrar pelo telhado, e sabe o que ele ficou fazendo dentro do quarto esses anos todos? Pensando em ti. Te procurando." Chanyeol não parecia com raiva, tampouco chateado. Jongin sentia vontade de sumir de toda uma existência, porque parecia que o que estava por vir eram coisas que ele não estava preparado para saber e era um espaço curto demais de tempo para tantos acontecimentos. Fechou os olhos e deixou a cabeça encostar no tampo da mesa em um aviso mudo para que Chanyeol parasse, mas ele não parava. "Todos os dias. Ele não dormia nem comia direito. Eu tirei ele de dentro do quarto uma madrugada e ele entrou em pânico porque nem sabia como era o fim da rua que ele morou durante metade de uma vida, tem noção disso? Se ele veio, eu tirei o passaporte dele, eu cortei o cabelo dele, eu o levei pro aeroporto, eu arrumei a bagagem dele, eu consolei a avó dele. Então, Jongin, eu não aceito que você pense de mim o que eu sei que pensa."

"E quanto a isso?" Jongin perguntou alguns minutos depois, apontando para a tatuagem nos dedos de Chanyeol. "É pra ele, não é?" Perguntou meio inseguro. Nunca teria coragem de fazer uma coisa como aquela por alguém, nem mesmo seus pais. E logo depois de pensar isso, as palavras de Kyungsoo vieram como um caminhão desgovernado. Não seja egoísta como você sempre foi. Ele levantou um pouco o corpo e tirou a camisa, fazendo Jongin se amuar. Havia o nome de Sehun ali. Para sempre. Aquilo o incomodou a ponto de nausear.

"Eu amo o Sehun. Todo mundo que me conhece sabe que eu amo ele, mas nunca vão saber o quanto eu amo. Nem ele sabe. E eu amo tanto ele que vim até aqui só pra que ele saiba que tudo bem ele estar contigo e que eu não me sinto mal por isso. Eu nunca ia ser capaz de dar pro Sehun toda essa coisa que você deu. Não tenho casa, não tenho carro nem emprego fixo. Nem vida tenho direito, e ele não merece viver desse jeito por minha causa. De verdade Jongin, eu espero que você ame tanto o Sehun que conseiga entender o que eu tô te falando."

"Consigo." Disse, mais convicto que nunca. Chanyeol sorriu e ofereceu uma sobra do jantar para Jongin, que aceitou de bom grado. O jantar correu em silêncio até Sehun aparecer no batente com os cabelos bagunçados e rosto inchado. Ele sorriu e foi até Jongin, abraçando-o por trás e perguntando com a voz rouca e preguiçosa como estava o jantar. "Horrível." Disse sorrindo e sentiu um tapa leve na parte de trás da cabeça. 

"Vou te esperar na cama." Deu um beijo no rosto dele antes de sumir no corredor escuro, e Chanyeol o encarava. Ele sabia. Jongin entendia sim o tamanho do amor que sentia por Sehun, porque ele sentia o mesmo. Quando o silêncio se instalou mais uma vez, ele não resistiu em perguntar. 

"Você vai ficar na cidade?" 

"Tenho algum dinheiro, se arranjar coisa pra fazer, talvez eu fique." Disse meio disperso. Aquele não era seu plano, mas de repente lhe parecia absurdo voltar a ficar tão longe assim de Sehun.

"A gente pode te ajudar. Fica." Jongin murmurou e aquilo surpreendeu Chanyeol por não esperar uma recepção decente depois de tudo o que havia dito. "O Sehun é mais feliz com você aqui."

"E eu sou mais feliz com ele aqui." Respondeu, dando duas batidas no lado esquerdo do peito de leve. "Vou procurar alguma coisa amanhã."

"Tudo bem. Boa noite."

"Boa noite." 

 


Notas Finais


Primeiríssimo lugar: https://open.spotify.com/user/12167554138/playlist/0RClFKUzS9XBmW40YWWUw9?si=A12c8QsLTCa9MpYdPSGx1Q

Acho que eu devia isso para algumas pessoas, em especial Laryssa e Luana. Eu conheci a Luana porque ela simplesmente chegou no meu inbox um ano atrás mais ou menos pedindo pra reescrever essa fanfic e eu fiquei muito ultrajada na hora, mas depois viramos amigas inseparáveis e eu considero um presente que essa fanfic me deu. A Laryssa não tem um dia de vida que ela não me cobre esse epílogo, então ele veio. Me senti na responsabilidade de fazer isso depois de tudo que ela já fez por mim.
Escrever essa história foi sem dúvida uma das coisas mais difíceis que eu já fiz na minha vida. Ela é de 2015 se não me engano, e trata de assuntos difíceis que eu não tinha coragem de contar pra ninguém, mas depois dela consegui me abrir um pouco sobre eles. Não todos, mas alguns já ajudaram demais. Fui vítima de um estupro quando era criança, e aquilo me abalou de formas inexplicáveis quando chegou a adolescência, a ponto de eu me isolar por seis meses dentro do quarto, sem sair. Perdi meu ano letivo, e foi o ano mais difícil da minha vida, porque eu não tive um Chanyeol entrando pela minha tubulação. Tive que criar um aqui para que o final fosse feliz, já que o meu quase não foi. Isso aqui me ajudou a externar muita coisa que eu mantinha presa e me matava. Nas entrelinhas tem muito mais coisa do que vocês são capazes de imaginar.
Hoje enquanto escrevia, fiquei pensando exatamente sobre o que ela falava. Não é exatamente sobre o amor, apesar de ele ser o sentimento mais presente. É sobre perda. Todos os personagens perderam algo e eles conseguiram seguir depois de perder a coisa mais importante que eles tinham. Não de forma fácil, porque na nossa vida nunca é fácil quando perdemos algo ou alguém, não importa em qual intensidade seja. Eu mesma já perdi muita coisa. Perdi minha inocência, perdi minha saúde, perdi minha casa, perdi meu pai e pessoas que eu amava. Me perdi da minha família e de mim mesma, mas sempre que sinto que as coisas não vão mais conseguir se encontrar, lembro dessa mensagem que tentei passar em 2015, quando meu user ainda era de outra conta, e isso me serve como farol. Eu vou me encontrar. Você também vai.
Se pudesse, continuaria escrevendo essa história para sempre, mas tenho que deixar tudo ir. Acima de ser algo que quero lembrar, ela também reúne muita coisa que quero esquecer, então precisamos ir embora. Eu estou me recuperando aos poucos, comecei um tratamento e olha o quanto já escrevi né? quem sabe até volte. Quero que só meus melhores lados apareçam pra vocês de hoje em diante.
tchau gente, eu amo mesmo vocês. @evanmelion


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