1. Spirit Fanfics >
  2. Seja Infame >
  3. Consciência pesada

História Seja Infame - Consciência pesada


Escrita por: mitchietorres

Notas do Autor


Hellou <3
Só tenho UM aviso: Capítulos desse jeito são necessários para o decorrer da história. Então se não tem o que vocês gostariam, paciência.
Boa leitura.

Capítulo 15 - Consciência pesada


“A diferença entre a consciência leve ou pesada é a balança que cada um tem em sua cabeça.”

EduardoTakaya

 

Ponto de Vista da Angel

— Angel — Liam agarrou a parte mais larga de minha jaqueta jeans, enquanto eu a puxava de volta, descendo as escadas o mais rápido que meus pés conseguiam, sem me levarem a uma queda — Angel, pare — empurrei seu peito, afastando-me de Payne, enquanto destrancava sua porta com rapidez.

A rajada fria de vento chicoteou minhas bochechas coradas, que arderam instantaneamente. Minha boca se entreabriu, procurando ar para não descompassar minha respiração. Estava frio, muito frio, mas eu estaria muito mais confortável longe de Liam, ou qualquer coisa que o envolvesse. Meus pés andaram em um ritmo rápido, que consequentemente, aquecia meu corpo um pouco mais. Cruzei os braços, trazendo todo o calor que eu conseguia para meu corpo. Tudo bem. É só frio.

O barulho de motor preencheu meus ouvidos, enquanto se tornava cada vez mais próximo. Virei meu rosto, perdido em um emaranhado de cabelos, e rolei os olhos ao encontrar Liam dentro de seu carro, vindo em minha direção. Virei para frente novamente, e ergui-me em uma postura ereta. Que se foda esse imbecil.

— Angel — sua voz, que já havia se tornado enjoativa para mim, atravessou a janela semiaberta do carro. A mesma começara a ficar esbranquiçada por conta do ar que a boca de Liam exercia sobre ela — Entre no carro. Eu te levo para casa.

— Vá se foder, Payne — apertei ainda mais meus braços sobre meu corpo, sentindo-me tremer, mesclando frio e raiva. Talvez, se me sentisse nervosa o bastante, meu corpo acabasse esquentando com mais facilidade.

— Você vai morrer congelada aí fora.

— Isso no caso seria meu problema, e não seu — sorri amargamente, enquanto andava pela calçada e Liam acompanhava meus passos, com seu carro em velocidade baixa.

— Me desculpe — ele suspirou, enquanto sua mão permanecia sobre o volante e seu rosto se virava para mim — Não quis soar grosso. Eu sei que Hannah é importante pra você.

— Cala a boca, Liam — dei de ombros, sentindo-me já exausta em ouvi-lo. Se meus dedos não estivessem prestes a congelar, eu com toda certeza fecharia sua boca neste momento — Guarde todo esse sentimento falso de quem se importa para uma de suas vagabundas que estão loucas por uma falsa ilusão que envolva você.

— Não estou sendo falso, Angel — Liam mantinha uma feição séria, da qual era raro vê-la. De qualquer forma, sentia-me um pouco aliviada em não encontrar sarcasmo em seu rosto a todo segundo, como de costume. O que não significava que eu o odiaria menos por ser tão babaca — Por favor. Entre no carro.

— Vai embora, Liam! — virei-me de frente a ele, parando de andar, enquanto sentia-me pronta para explodir em pedaços flamejantes de ódio — Eu realmente estou cansada de você! Odeio o fato de que você finge não ligar pra porra nenhuma, odeio como você quer arrumar uma forma de me irritar a todo o momento, odeio você por ser canalha, e por eu saber que você não foi assim um dia, mas nada vai superar a forma como eu te odeio por simplesmente tornar a vida de Hannah um completo inferno! — eu estava gritando. Gritando no meio da rua, como se estivesse tendo uma enorme crise nervosa. Descontando toda a amargura que eu conseguia suportar — Ela que se sente mal? Sim. Mas você que a deixou assim! Eu não posso consertar isso, ninguém pode a não ser você! E o que você faz? Age como um baita filho da puta, falando como se ela fosse um pedaço de nada pra você! — minhas bochechas queimavam e minha cabeça latejava em pontos específicos, como se as veias dali estivessem extremamente pulsantes — Então me faça um único favor nessa vida e vá embora! Me deixe em paz!

— Não vou ir embora — ele murmurou, dois tons mais baixo, o que tornava minha voz ainda mais alta em contraste. Liam parou o carro, e tirou a chave do contato, descendo do mesmo em seguida.

— Por que não, Liam?! Eu não sou uma dessas garotas que você vai ganhar alguma coisa se for um canalha e fingir que se importa! Minha relação com você não passa de uma merda de um negócio, onde as duas partes vão sair beneficiadas — dei dois passos em sua direção, sentindo minha garganta secar, conforme me esforçava para falar — E quer saber? Já estou cansada disso também. Cansada de você. Cansada de ter que me submeter a tanta a irritação! Você é um babaca desgraçado! — empurrei seu peito com minhas mãos, fazendo-o dar um único passo para trás. Senti-me avivada, impulsionada a mais, e quando pude notar, estava desferindo diversos socos e empurrões sobre o peito de Liam, respirando pesadamente, odiando-o, odiando-o, odiando-o. Liam segurou minhas mãos com facilidade, fazendo-me o encará-lo.

— Eu realmente sou um babaca desgraçado — fios de cabelo se grudavam em minha testa suada. Sentia meus lábios rachados e extremamente secos — Fui um péssimo amigo para Hannah e a traí. E eu realmente sinto muito que você me odeie, Angel. Me desculpe — e então, ele ficou em silencio, deixando-me apenas revivendo suas palavras em minha cabeça, que ainda latejava.

— Eu não tenho que te desculpar de nada, Liam — neguei com a cabeça, puxando minhas mãos para longe de seu corpo — Você deve desculpas a Hannah — puxei ar, enchendo meu pulmão de oxigênio, da qual parecia faltar naquele momento — Eu quero ir pra casa — murmurei, caminhando até o carro, parando ao lado da porta do passageiro. Liam olhou-me rapidamente e se dirigiu à porta do motorista, destravando minha entrada. O carro deu a partida em meio ao silêncio.

Liam não estava disposto a mudar. Ele se sentia satisfeito com o tipo de pessoa que era. E com toda certeza, não seria eu que mudaria sua opinião sobre isso.

 

                                            Ponto de Vista da Hannah

As pizzas pesaram facilmente sobre meu estômago, o que me deixava sonolenta e lerda às oito horas da noite. Despedi-me de meus pais o mais cedo que o cotidiano e subi ao quarto. O espelho me mostrava a quão cansada eu estava. Pequenas bolsas se formavam em baixo de meus olhos. Fiz uma pequena careta, contra minha vontade, e arrastei um prendedor de cabelo, prendendo meus cachos em um rabo de cavalo desleixado. As alças do vestido abandonaram meus ombros, e caíram sobre o chão, enquanto eu procurava a velha camiseta que me servia de pijama. Assim que a encontrei, desfiz-me de meu sutiã, trajando agora, apenas a camiseta acompanhada de uma calcinha.

Meu celular vibrou sobre minha cama, e tomei-o rapidamente, encontrando mensagens da Angel. Sorri animadamente, enquanto pensava nas “aventuras” que ela deveria ter desfrutado junto de Malik. Saber que Angel finalmente conseguiria o que tanto esperava, me deixava feliz e satisfeita. Ela nunca foi a melhor em relacionamentos, e apesar de se tratar de Zayn, talvez, sentir-se amada – ou no mínimo gostada – a faria se sentir bem.

“Liga o Skype”, sua mensagem dizia. Obedeci rapidamente, puxando o computador portátil para cama. Conectei no servidor, encontrando Angel em seguida. Sorri brevemente.

— Espero que você tenha dado uns pegas no Zayn, porque já ta mais do que na hora — disse, enquanto a via rolar os olhos — Oh não, vocês não se pegaram ainda?

— Seria surpresa se eu te dissesse que simplesmente fugi dele? — ela disse franzinho os cenhos. Minha boca se abriu instantaneamente, enquanto sentia-me prestes a gargalhar.

— Meu Deus isso é tão a sua cara — permiti-me rir rapidamente, imaginando à cara de Zayn Malik ao ser abandonado. Pobre coitado — O que você fez? Simplesmente correu?

— Exatamente isso — Angel fechou os olhos, aparentando-se envergonhada. Minhas bochechas deveriam estar vermelhas de tanto que eu ria. O fôlego faltava e meu abdômen doía de tanta força que minha musculatura trabalhava em exercer — Então liguei para Liam e pedi para que me buscasse.

— Poderia ter ligado para mim, sua louca — sorri momentaneamente — Estava querendo uma companhia para um chocolate quente essa tarde. Tinha até marshmallows para você ter uma noção — fingi-me magoada, enquanto ouvia Angel rir do outro lado da tela.

— Fica para a próxima, baby — ela suspirou, passando as mãos em seu cabelo — Eu discuti com Liam.

— O que houve?

— Uh, o de sempre. Ele foi um babaca e eu não sou obrigada a tolerar babaquices alheias — ela rolou os olhos, dando de ombros em seguida.

— O que ele te fez para vocês discutirem? Espero que tenha sido algo que valesse a pena, porque vocês simplesmente se desentendem por tudo — ri pelo nariz, enquanto Gimmie sorria.

— Nada de mais. Ele só fala o que não se deve falar. Ele poderia simplesmente calar a boca antes de falar qualquer porcaria. Seria extremamente gratificante para a humanidade, não acha?

— Concordo plenamente — sorri — Uh, Angel, eu vou deitar. Nos vemos amanhã.

— Até amanhã, loira — ela acenou, e então encerrei a chamada de vídeo. Um bocejo repentino escapou por meus lábios, avisando-me que o cansaço logo me tomaria. Fechei o computador, empurrando-o até a beirada da cama. Torci momentaneamente para que quando acordasse na manhã seguinte, continuasse ali, seguro e intacto. Enfiei-me sobre as cobertas, aproveitando a sensação de conforto, que rapidamente, se transformou em calmaria que me entorpeceu em sono.

                                                              [...]

Eu flutuava. Flutuava lentamente, entre a consciência distante a inconsciência deliciosa que me preenchia o sono. Deveria continuar dormindo, pelo menos era isso que meu corpo me pedia. Mas eu estava despertando, e por mais que me repuxasse de volta à sensação doce de ser entorpecida, mais me sentia pronta para despertar. E assim, o fiz.

Ali estava à culpada; a porta da sacada. O barulho vinha da mesma. Batidas, seguidas, que no começo, se pareçam com galhos a tocando repetidamente por conta do vento, mas logo, quando pude tomar-me de consciência, percebi ser batidas sincronizadas, como se fosse alguém. Levantei-me da cama, ainda sonolenta, trepidando alguns passos. Assim que abri a porta, senti-me pronta para despencar sobre o chão, extremamente assustada.

— Não grite, por favor — Liam sussurrou, colocando os dedos em meus lábios. Meus olhos se arregalaram, despertando qualquer parte de meu corpo que ainda mantinha-se adormecido. Puta merda.

— O que você está fazendo aqui? — sussurrei, enquanto ouvia meu coração disparar mais alto que meu próprio tom de voz — Liam, você ficou louco?!

— Eu lembro dessa camiseta — ele sorriu, apontando à minha única vestimenta. Senti-me pronta para me banhar em uma coloração avermelhada provinda de vergonha. Eu estava praticamente seminua à sua frente. Não que ele nunca tivesse me visto completamente nua, mas isso havia acontecido há muitos anos — Ela era minha, e eu te dei — seu sorriso diminuiu rapidamente — Oh, isso não é bom. Você não deveria tê-la ainda.

— Se você não disser agora mesmo o que veio fazer aqui, eu vou gritar. Se você não lembra, meu pai guarda uma arma em casa — sorri amargamente e cruzei os braços — Você subiu aqui como?

— Pulei a sacada. Como antigamente — ele murmurou, dando de ombros. Relapsos de Liam surgiram em minha cabeça. Era o combinado, às seis horas de toda noite, ele bateria três vezes na porta da sacada, e então eu o deixaria entrar. Era, de fato, estranho vê-lo repetindo o mesmo ato, cerca de três anos depois e tantas mudanças que se propagaram em nossas vidas.

— Ainda não ouvi o que te fez vir aqui, às — ergui os pés, encarando o relógio da penteadeira — duas da manhã, no meu quarto.

— Por que você nunca conseguiu seguir em frente, Hannah? — ele sussurrou, fechando a porta da sacada atrás de si — Por que simplesmente não se esquece de tudo? Isso te faria um bem extremo.

— Você não veio aqui me acordar para me mandar seguir em frente, não é Liam? Porque senão, eu vou te expulsar a tapas — dei meia volta, sentando-me na cama em seguida. O sono estava voltando a se aconchegar a mim.

— Não quero que você fique presa a mim, Hannah. Não quero que viva de remorso. Você é autosuficiente o bastante para viver bem independente de ninguém, sabe disso — Liam sentou-se ao meu lado, ocupando um espaço em minha cama. Meus dedos formigaram, enquanto memórias teimavam em comparecer à minha cabeça — Nunca quis estragar sua vida.

— Você se acha especial o suficiente para estragar minha vida, Liam? — ri, repleta de sarcasmo — Está pensando alto demais.

— Hannah — ele suspirou, voltando a me encarar em seguida — Você sabe que é maravilhosa, inteligente e extremamente esperta. Sabe que o que aconteceu entre nós, não a torna alguém que não pode mais amar ou, uh, se relacionar de verdade com alguém. Eu estraguei as coisas. Não se martirize a vida toda por isso. Eu sou o corrompido, não você.

— Realmente não estou te entendendo — balancei a cabeça, encarando-o uma única vez, com intensidade — O que deu em você, Payne? O que está te fazendo querer colocar seu ego abaixo de qualquer coisa? Você não é assim.

— Eu me importo com você. Sabe disso, e também se importa comigo. Simplesmente odeia deixar isso claro. Talvez tanto quanto eu — ele sorriu rapidamente — Não foi sua culpa. Você não é azarada no amor, e não vai ser sempre magoada. Entende isso?

— Espere — ergui um dedo, raciocinando com certa rapidez — Você e Angel brigaram, e ela parecia mais irritada que o de costume. Isso que você está fazendo, tem haver com ela, não é? Angel te mandou vir aqui? — semicerrei os olhos, sentindo-me traída. Ah Angel.

— Angel não me mandou vir. Ela só me falou que eu era um babaca filho da puta — ele riu — O que de fato, eu sou. Você também deve concordar.

— Muitas vezes — admiti, dando de ombros seguidamente — Bom, “blábláblá, me supere, siga sua vida”. Já entendi a lição. Pode me deixar ir dormir?

— Você realmente não muda, não é? — o sorriso, antes tímido, agora florescia sobre os lábios de Liam — Sempre teve essa personalidade peculiar — ele se virou, indo em direção à sacada novamente — Boa noite, Hannah — e então, as portas de madeira o esconderam, até Payne desaparecer completamente de vista.

Meus braços se soltaram sobre meu corpo, despencando de maneira cansada. Se eu dissesse que todas as estrelas juntas, davam o número, em constelações, de todas as perguntas que Liam me deixou a pensar, estaria sendo completamente mentirosa. A infinidade delas não se comparava às confusões que cercavam minha cabeça naquele momento.

 

                                          Ponto de Vista da Angel

Os cereais me esperavam sobre minha tigela, embora meu estômago estivesse se negando a despertar-se para um bom desjejum. Tudo que eu conseguia digerir naquele momento, era a enorme sensação de que Zayn Malik havia se tornado definitivamente, passado. Passado completamente mal aproveitado, que poderia muito bem ter se tornado um presente – e possível futuro – se eu não tivesse simplesmente fugido dele. Oh céus, por quê?!

A resposta se tornava tão simples, que eu poderia rir da minha própria desgraça; Porque minha insegurança se torna tão grande, a ponto de me devorar para longe de qualquer um que seja meu objetivo. Seja ele grande ou pequeno, eu sempre me sinto incapaz de fazê-lo. Esta era a verdade.

Zayn havia se tornado meu maior objetivo. E isso só me trazia para mais perto de minha insanidade banhada à insegurança de que eu tanto conhecia. E consequentemente, cada vez mais distante dele.

— E agora completamente longe — conclui silenciosamente, enquanto apertava o casaco de pelos sobre meu corpo. O ônibus escolar mantinha-se em uma temperatura baixíssima, e as geadas haviam se iniciado. Sem contar, que eu poderia acrescentar um coração mais gelado após a perca de minha paixão platônica, coisa que modificaria uns quatro ou cinco graus Celsius a menos.  O dia não seria nada agradável.

O ônibus parou, e a porta foi aberta em seguida, despencando uma rajada de vento gélida sobre meu rosto. Apertei meus lábios, em busca de aquecê-los com o calor de meu corpo, e então, entrei no colégio o mais rápido que consegui. Apertei meus dedos, sentindo-os mais duros com a temperatura, apesar de estarem recobertos com minha luva felpuda. Talvez eu fosse mais frienta do que imaginava.

— Angel Gimmie — Hannah surgiu ao meu lado, com seus cachos loiros presos por debaixo de uma toca aparentemente, confortável e quente. Abri um sorriso rápido, enquanto sentia-me tremer, por conta de um arrepio.

— Bom dia — murmurei, tocando meu armário — Qual a temperatura de hoje? Quatro graus? Aposto que no máximo três.

— O que você falou pro Liam que foi tão grave a ponto de fazê-lo aparecer na minha casa de madrugada para pedir desculpas pelo nosso passado?

— O que? — arregalei meus olhos, prestando atenção em Hannah, rapidamente — Ele fez o que?

— Liam — ela respirou profundamente — Ele apareceu em casa, na noite passada. Pulou a sacada, pra ser mais exata. E então começou a pedir desculpas por tudo que ele havia me feito passar. Logo percebi que tinha dedo seu nessa história.

— Não o mandei fazer isso — neguei rapidamente, balançando a cabeça — Não sei o que ele te falou, mas isso definitivamente não foi idéia minha.

— Ele me disse que você o chamou de babaca filho da puta.

— Falei alguma mentira? — ergui as sobrancelhas, fazendo com que Campbell desse um pequeno sorriso, e fechasse seus olhos rapidamente.

— Ah Angel — Hannah suspirou, soltando ar quente sobre meu rosto. Senti-me aquecida e satisfeita com seu ato rápido — Eu realmente não sei. Você deve ter pegado pesado com Liam para que ele agisse daquela forma. De qualquer modo, obrigada, eu acho — ela fez uma pequena careta — Ainda não sei como me sinto em relação a isso.

— Não agradeça — dei de ombros — Você não me devia favor algum, e muito menos me mandou fazer isso. O que Liam fez, foi idéia única e exclusiva dele. Se isso o pesou na consciência, azar dele e ponto pra mim — dei uma piscadela, arrancando uma risada calorosa de Hannah.

                                                               [...]

Sexto período de aula. Isto significava que eu teria que ir para o primeiro ensaio de Romeu e Julieta, no teatro. Eu queria poder aglomerar inúmeros motivos que me fizessem simplesmente ir embora naquele estante. Eu poderia ter esquecido meu roteiro. Perdido o horário da aula. Me acidentado na Educação Física. Mas aqui estava eu, inteira, com meu roteiro sobre o braço, e quatro minutos adiantada para que a aula começasse. Parabéns para mim.

E o pior, não era simplesmente aceitar a idéia de que eu teria que subir em um palco e recitar um roteiro à frente de toda a classe. Meu problema se mantinha focado em Zayn. Eu estava indo em direção ao abate, como uma estúpida ovelha. Sem discutir, sem fugir. E Malik me esperaria lá, provavelmente nem um pouco feliz. E era de se entender. Nem eu mesma estava feliz com minhas atuais decisões. Angel Gimmie e seus conceitos irritantes.

— Espero que todos estejam acompanhados de seus roteiros — a professora Gesney colocou seus óculos sobre o rosto, os encaixando exatamente sobre a marca que os mesmos haviam deixado sobre seu nariz. Andei lentamente até a primeira fileira de cadeiras vermelhas. Eu sabia minhas falas, e praticamente a de todos no texto, mas meu peito eclodia em um nervosismo absurdo — Todos já estão aqui?

— Desculpe o atraso — a voz – um pouco mais grossa e precavida que de costume – de Zayn, sobressaltou-se.

Minha garganta fechou-se instantaneamente enquanto eu me esforçava para engolir um vestígio de saliva da qual eu não precisava. Após duas tentativas, ele desceu pela minha garganta dolorosamente. Meu corpo parecia estar em uma temperatura de cinco graus a menos que a da sala, pois eu estava começando a suar frio e tremer. Meu Deus, pensei. Zayn realmente está me deixando louca!

— Ótimo Sr. Malik — Gesney disse indiferentemente — Sente-se com sua colega de cena. Se preparem para o primeiro ato do ensaio. Por favor, se apressem, não estamos com tempo para enrolações esta manhã.

Eu sabia o que isso significava, é claro que sabia. Não precisei sequer virar a cabeça para encontrar Malik vindo em minha direção. Então tentei repassar rapidamente, tudo o que eu havia combinado com Liam. Talvez funcionasse. Talvez Zayn me odiasse para sempre. Talvez eu acabasse superando essa paixão platônica nunca correspondida. Porque sinceramente, a primeira vez que eu tive algum retorno dele, tudo que fiz foi correr para longe. Estava começando a duvidar de até onde eu conseguiria ir com tudo isso.

Zayn não disse uma palavra sequer após sentar-se ao meu lado. Notei-o me olhar, mas nada que fosse demorado. Ele apenas ergueu seus olhos sobre mim, e em seguida, deu de ombros. Uma corrente gélida percorreu meu braço em alguns rápidos segundos. Eu o quero tanto, Zayn. Por favor, não me odeie.

— Angel e Zayn — Bennedity, uma das novas figurinistas, apontou a nós — Venham comigo experimentar as roupas.

Atrás dos bastidores, uma espécie de camarim improvisado era separado do restante, com algumas cortinas vermelhas. Bennedity apontou para que Zayn esperasse, enquanto eu entrava com ela no camarim. Recebi instruções de como colocar o enorme e pesado vestido, e qualquer complicação extra, poderia chamá-la. Demorei talvez um pouco mais de dez minutos, quando tive alguns problemas em relação à saia, que era forrada por aquela enorme armação de arame que dava um volume ao vestido. Quando finalmente venci o vestido, saí da sala. Zayn e Bennedity conversavam animadamente sobre qualquer coisa. Animadamente sobre coisas da qual eu não era incluída. Animadamente de forma que eu me sentisse propensa a dar um soco em Bennedity. Oh Céus.

— Acho que é minha vez — Malik sorriu docemente – animadamente – para a garota, que – animadamente – correspondeu-o com um sorriso duas vezes maior. Meu estômago deu-me um aviso que logo ele se livraria de meu desjejum se as coisas continuassem daquela forma — Até logo, Benny.

Benny? Eu realmente não sabia que em dez minutos, você consegue ter intimidade o suficiente para chamar uma pessoa que você não conhecia, de um apelido ridículo. Benny. Instigante. Na verdade, animadamente instigante.

Bennedity despediu-se e nos abandonou, deixando-me sozinha no corredor, à espera de Zayn. O vestido pesava bastante, o que me fazia querer constantemente, sentar no chão, mas pelo menos o fato de eu ter que me concentrar em sustentar o peso extra em meu corpo, conseguia me distrair de pensar em Zayn, ou qualquer coisa que se pudesse relacionar a ele naquele momento.

— Angel Gimmie — ergui a cabeça, encontrando Zayn, completamente trajado em roupas de época. O sorriso de sempre ainda se mantinha atual em sua figura. Presunçoso e instigante. E sempre há algo atrás do sorriso de Zayn Malik. Cabe a ele deixar você saber o significado, ou não.

— Olá, Zayn — moderei meu tom de voz, tentando não soar desesperada. Um fio de cabelo espreitou-se por meu rosto, e logo o afastei, tomando novamente à atenção em Malik. Meu coração pulsou de repente.

— Bom — seu sorriso aumentou um pouco — Acho que talvez precisamos, uh, conversar sobre algumas coisas, o que acha?

— Se você quiser — dei de ombros, embora todo meu corpo emanasse por uma resposta de sim, sim, por favor, sim! Zayn assentiu, erguendo um pouco suas mangas bufantes.

— Eu não sei se entendi errado — Malik franziu suas sobrancelhas de maneira curiosa — Mas eu tinha uma impressão de que havia algo entre nós. Por isso eu avancei as coisas na biblioteca. Quer dizer, os fatos apontavam para isso — ele sorriu novamente — Sinceramente, existe alguma coisa acontecendo, não é, Angel? Ou meus instintos estão extremamente péssimos e eu não me dei conta.

Oh céus. Porra. Claro que existe! Claro! Por Deus Zayn, me agarre aqui mesmo!

— Não sei, Zayn. Existe? — eu estava sendo baixa. Repulsivamente baixa. Colocando todas as minhas vontades em um pedestal fora de alcance, e se em algum momento, eu pensasse em recuperá-las, meu ego trataria de espantá-las para longe.

— Eu espero que sim — eu havia sido pega. Com toda certeza. Eu não consigo. Irei fraquejar e me entregar ao desejo, que era maior, bem maior do que qualquer possível estratégia que parecesse mais sensata.

Que vá para o inferno. Quem disse que eu sou sensata? Eu sou um poço de insensatez, pronto pra se despejar em quem se aproximasse. Uma bomba relógio. Tic tac, Zayn. Tic tac.

— Zayn — as palavras se formaram em uma fila gigantesca, vinda do fundo de minha garganta. Elas começaram a se apertar lá dentro, em desespero. Eu sou louca por você, Zayn. Eu poderia ouvi-las recitando para mim. Sempre fui.

— Vocês estão atrasados — Gesney gritou, despertando-me de uma inerte perdida em Malik. Merda. Balancei a cabeça discretamente. Minha mão suava frio, a ponto de fazer com que meu anel escorregasse sobre meu dedo.

— Espero que essa conversa não tenha acabado aqui — Malik sussurrou tão levemente, que me senti flutuando por sua voz.

                                                           [...]

Saí do teatro, enquanto a sensação de agonia, teimava em sapatear sobre meu peito. Ela dançava e ria, “Angel, Angel, como você é idiota, garota.”, e então, sapateava novamente, machucando meu tórax. Eu estava uma pilha de nervos, e não parecia ter qualquer forma de fugir dessa sensação.

— Gimmie — Liam atravessou o corredor, se aproximando de mim mais rápido do que eu poderia lidar, deixando-me assustada — Eu queria conversar com você.

— Invadindo o quarto da Hannah em plena madrugada, Liam Payne — encarei-o ferozmente, de forma que me assemelhasse com ele mesmo — Por que isso me cheira a problemas? — franzi as sobrancelhas, enquanto esforçava-me para não cruzar os braços e completar minha figura nervosa.

— Eu, particularmente, não vejo nada de errado — Payne deu de ombros.

— Claro, Liam — um sorriso amarelado tomou-se de meus lábios — Tudo que envolva você nunca pode acabar errado, não é? Parabéns pelo seu amor próprio. Pelo menos você gosta de si mesmo — empurrei seu braço com meu ombro esquerdo, me afastando dele. Tudo que eu menos queria naquele momento, eram mais problemas para se acrescentar em minha cabeça. Payne não valia tempo para isso.

— Angel — seu braço tomou o meu, interrompendo-me no corredor — Pensei que as coisas entre nós estivessem resolvidas.

— Bom — suspirei, procurando qualquer possibilidade de apenas respondê-lo com minha boa educação. Não encontrei bons resultados — Fico feliz que tenha tomado vergonha na cara para se desculpar com Hannah. Mas convenhamos Liam, isso não o faz deixar de ser babaca.

— Grosseiramente bela. Definitivamente combina com você — ele sorriu, fazendo-me sentir uma enorme preguiça em prolongar aquela conversa.

— Ah, Liam — fechei os olhos por um instante — Você nunca desmonta essa imagem? Por que definitivamente é cansativa. E irritante.

— É um dom — ele sorriu, parecendo-se intocável a respeito de qualquer ofensa.

— Me parece uma maldição.

— Como vão as coisas com Zayn? — ele mudou de assunto bruscamente. Engoli uma quantidade extra de saliva em minha boca, e o encarei por alguns segundos. Como ele conseguia mudar tudo tão de repente, sem ao menos repensar em qualquer coisa que fosse dita, ou pelo menos, tentar levar em consideração?

— Vão bem — praguejei. Uma quantidade ponderável de saliva desceu por minha garganta — Está tudo bem — reforcei o tom de voz. Liam ergueu uma de suas sobrancelhas, procurando vestígios de uma mentira – muito mal escondida – em meu rosto. Um sorriso iluminou seus lábios.

— Você é uma péssima mentirosa — ele cruzou os braços, deixando-me na defensiva — Está desistindo, Angel Gimmie?

— Não — enrijeci o maxilar com certa força — Simplesmente não é da sua conta.

— Na verdade, é sim. Tudo que envolva Zayn e você por agora, é completamente da minha conta. A não ser que você realmente esteja repensando nessa idéia, mereço saber o que está acontecendo.

— Tanto faz — balancei a cabeça — Zayn está me esperando para termos uma conversa sobre os acontecimentos de ontem. E eu estou pensando em abrir o jogo para ele. Quem sabe assim as coisas se apressem — desviei o olhar, sentindo-o me analisar desconfortavelmente.

— A escolha é sua, claro — ele disse, fazendo-me olhá-lo em seguida — Porém, tenho certeza que os resultados não vão ser bons. Zayn quer que você o deseje, certo, mas ele precisa que você seja fria. Essa é a diferença de ele simplesmente esquecê-la amanhã ou não parar de pensar em você — Liam deu uma piscadela.

Merda. Ele estava certo. Irritantemente certo. Irritantemente estável e ponderável.

O sinal tocou novamente, e Payne retomou seu majestoso sorriso.

— Nos vemos depois, Angel — ele se afastou rapidamente, para a direção oposta da qual estava.

E então, pude parar alguns minutos para refletir que em quantos “Nos vemos depois”, eu poderia contar com Liam, sempre usando a parte da razão da qual eu não tenho. Provavelmente, muitos.

— Angel? — despertei-me, quase assustada, quando senti o toque firme em meu braço — Podemos conversar agora?

— Zayn — murmurei, compreendendo rapidamente de que seus dedos se enrolavam por meu braço, tão macios e delicados, que eu poderia me derreter entre eles — Tenho aula agora — refleti rapidamente. Realmente, eu já estava ficando atrasada, o que não me agradava muito.

— Tudo bem — ele balançou a cabeça, mesmo que sua expressão facial demonstrasse irritação — Posso te levar para casa hoje? — meu coração fraquejou, disparando assustadoramente em seguida.

— Pode — pode mesmo, Angel? — Sem problemas.

Claro. Eu e minha maravilhosa capacidade de tornar uma situação, ainda mais difícil e embaraçosa. Um dom, tão grande quanto à capacidade de Liam para me irritar. Realmente, fazíamos uma bela dupla de problemáticos.

                                                            [...]

Cinto de segurança. Repassei a frase três vezes em minha cabeça. Coloque-o. Respire fundo, o encaixe. Ajuste. Respire, Angel. E eu não conseguia controlar minha respiração. Nem por um segundo. Ela se mantinha tão irregular, que se assemelhava com o motor do carro de Malik.

— Daqui a dois quarteirões, você pode virar à direita — apontei à rua seguinte, enquanto Zayn assentia silenciosamente. Meus dedos formigavam, tanto por frio quanto por nervosismo. Todo meu corpo trabalhava desesperadamente confuso quando eu estava perto dele. Era assustadoramente compulsivo.

O percurso foi passado completamente em silêncio. Zayn não dizia qualquer palavra e eu também não me dava ao trabalho de abrir a boca e me atrapalhar de alguma forma. Seu carro parou sobre a calçada de casa, enquanto uma baforada pesada minha, deixava algumas manchas brancas de vapor sobre a janela do passageiro.

— Uh — ele murmurou, dando-me a impressão de que estava apenas limpando a garganta — Acho que temos algumas coisas para falar — ele sorriu. Saber que eu estava trancada naquele carro, junto a ele, só me deixava mais e mais nervosa. A gola alta de minha blusa começava a me sufocar. Oh droga.

— Vá em frente — murmurei, apertando os nós dos meus dedos, que estavam mais brancos que o de comum. Continue respirando normalmente, sua imbecil.

— Por que você simplesmente correu para longe de mim? — sua sobrancelha ergueu-se um pouco. Contraí os lábios pesarosamente.

— Ahn, Zayn — mordi meu lábio discretamente, enquanto procurava uma forma menos ridícula de tentar contorcer aquela história de modo que eu não me tornasse uma medrosa fugitiva — Talvez você tenha entendido as coisas de forma errada — ele me encarou, esperando que eu prosseguisse, e assim o fiz — Não vou ser hipócrita e dizer que você não é atraente, porque eu e você sabemos que isso é uma mentira — arrisquei um sorriso — Mas... Você realmente não faz meu tipo — como você é cruelmente mentirosa, Angel Gimmie.

— Seu tipo? — sua voz não soava mais macia. Zayn estava confuso, e provavelmente, perdendo sua paciência comigo.

— Não me leve a mal — desviei os olhos, tendo noção que nunca conseguiria levar essa mentira tão longe, se continuasse encarando seus olhos — Mas você possui uma reputação no colégio porque a merece. É exatamente esse tipo de cara que eu não gosto — minta mais, vá em frente — Realmente não vou ser apenas mais uma na sua lista, Zayn — ergui os olhos, ouvindo meu coração bombear tanto sangue pelo meu corpo, que eu começara a ficar tonta. Malik retribuiu o olhar, um pouco mais tenso — Eu sinto muito. Não sou como as garotas com que você fica.

E nenhuma palavra saiu de sua boca. Sequer uma respiração pausada, que indicasse que ele estava se preparando para dizer algo. Zayn apenas passou os segundos seguintes me encarando, e quando pode notar que estava completamente fora de si, recompôs sua postura, sorrindo em seguida.

— Entendi — ele murmurou, embora seu sorriso trepidasse, quase desabando.

— Obrigada pela carona — sorri brevemente, apoderando-me da trava de minha porta — Te vejo no colégio — acenei rapidamente, enquanto saltava para fora de seu carro. Zayn sorriu novamente, antes de tomar a atenção para o volante e disparar para longe de minha rua.

Não havia qualquer justificativa que conseguisse negar o que eu tinha acabado de presenciar: Zayn Malik realmente havia se afetado. 


Notas Finais


Perguntas? Dúvidas? Vai na ask:
http://ask.fm/CarolMitchieTorres


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...