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História As Origens de Sebastian - Capítulo IX - Dando Luz as Trevas


Escrita por: andreiakennen

Notas do Autor


Fiz uma postagem em massa, do capítulo 04 ao 09, na data de hoje (08.06.2014), para que a fic acompanhe a postagem atual no Nyah, por isso não estranhem o fato da fic ter muitos capítulos postado em um único dia.

Agora as postagens aqui no Social Spirit estão sincronizadas com as postagens lá no Nyah também.

Sobre o fanart como capa, explicações nas notas finais. ;)

Boa leitura!

Capítulo 9 - Capítulo IX - Dando Luz as Trevas


Fanfic / Fanfiction As Origens de Sebastian - Capítulo IX - Dando Luz as Trevas

As Origens de Sebastian

Capítulo IX

Dando Luz as Trevas

 Acordou atordoado, sentindo a água gelada que era arremessada em sua face para fazê-lo despertar. Tossiu, engasgado. Mãos firmes, que transmitiam fúria e revolta, puxaram-no pelos cabelos e o obrigaram a se pôr de pé.

Sentia sua mente ainda desconexa. Era difícil ordenar o raciocínio quando se era forçado a andar sem tropeçar por aqueles corredores escuros e labirínticos, tendo as mãos e pés algemados por grilhões, tal como se fosse um prisioneiro perigoso, sendo levado para forca.

O barulho que vinha de alguma sala fechada reforçou aquela ideia. O som foi ficando cada vez mais claro a medida que se aproximavam. Vozes que clamavam por justiça.

Pararam diante dessa porta que ao ser aberta jorrou claridade e os bramidos se tornaram mais audíveis.

Fechou os olhos e os reabriu devagar, acostumando-os ao clarão. Fora levado até o centro do salão e empurrado pelos guardas que o escoltavam, obrigado a se ajoelhar diante do trono.

— Silêncio, corte! — ordenou uma voz conhecida.

“Benjamin”! Crispian arregalou os olhos ao reconhecer o príncipe que estava usando um manto nas costas. Ele estava de pé e os braços abertos pediam por calma.

Um silêncio mortal se fez. Crispian finalmente compreendeu onde estava. As lembranças dispararam como flash em sua mente, fazendo-o sentir uma breve tontura. Lembrou-se de tudo que ocorrera, ao menos, tudo até pouco antes de desacordar ao ser asfixiado por Ercan.

“Earthen”, lembrou-se com alarde do amigo. Não avistara o lobo e nem mesmo reconhecia se entre aquela multidão estavam pessoas da comitiva do rei. Seu coração disparou. Também não avistara Ercan.

E quanto ao rei?

Voltou-se para Benjamin que o fitava de cima, com ar de asco. Engoliu em seco, o clima tenso não parecia favorável.

— Parece que já se localizou, meu caro milorde — observou o príncipe, descendo os degraus que levavam ao trono e ficando diante do ajoelhado Crispian. — Está sobre julgamento, Crispian de Valdávia — anunciou Benjamin, acrescentando: — É melhor que pense bem em tudo que irá nos responder a partir de agora.

— Estou sendo julgado? Por quê? Do que estou sendo acusado?

O príncipe entoou uma alta gargalhada que se espalhou pelo salão. Ao se acalmar, o respondeu em tom de zombaria.

— Agora ele pergunta “porquê”?

— Arranquem a cabeça dele! — gritou uma voz em revolta no meio das pessoas acumuladas no salão.

O que fez Benjamin retesar-se de indignação.

— Será que entendi bem? — perguntou, voltando-se para os rostos dos presentes. — Alguém ousa me ditar ordens? Quem foi?

Os que temiam ser apontados sem culpa abriram imediatamente caminho e o homem que havia bradado a ordem em seu momento de distúrbio fora apontado por não apenas um, mas por vários a sua volta. Bastou um menear de cabeça do príncipe, — agora rei regente de Valais —, para que alguns dos guardas que estavam espalhados em torno do salão se apressassem em ir até o homem e aprisioná-lo. Esperaram que Benjamin ditasse a ordem.

— Levem-no em custódia.

Os guardas passaram a arrastar o homem que protestou.

— Mas... majestade! É um mal-entendido! Eu sou um lorde! Servo do reino, primo de um dos dos conselheiros do seu pai! — clamou e esperneou enquanto era puxado e obrigado a se retirar da audiência.

— Primo de um ex-conselheiro do meu pai — Benjamin frisou entre dentes, fazendo questão de corrigir a argumentação do conselheiro após a retirada dele.

Observou com orgulho a multidão que se calara e o contemplava apreensiva. Era exatamente o que queria. Mas ainda não sentia-se plenamente satisfeito, precisava testar mais o poder que acabara de adquirir. Voltou-se então, para Crispian.

— Aonde estávamos mesmo? Ah, sim. Refrescarei sua memória, milorde. Meu pai, Dalton V, rei de Valais, foi morto em uma caçada instigada pela aparição repentina de uma fera. Essa fera foi contida e está presa...

— Earthen?

— Oh? Então a fera tem nome. Earthen? Está afirmando que o animal que atacou a comitiva do meu pai é mesmo o famoso lobo de estimação dos Valdávia?

— O que fez com ele? Earthen não teve culpa! A flecha que matou seu pai foi disparada acidentalmente por....

— Ercan — completou o próprio Benjamin. — Sabemos desse fato, milorde. Ercan confessou em seu último suspiro de vida. E sobre seu animal, ele está preso aqui no castelo. Depois que ele matou e feriu vários dos homens do meu pai, um deles conseguiu detê-lo com um dardo tranquilizante. Agora ele está aprisionado, dopado e aguardando julgamento. Mas, agora não estamos julgando o lobo assassino, a sentença de morte dele está praticamente proferida, o povo anseia em ver aquele monstro assassino morto. Entretanto, o que precisávamos saber de você, caro milorde, acabamos de descobrir. O lobo é mesmo vossa propriedade. Lorde Edward recusou-se a colaborar, por isso desconfiamos ainda mais do fato. Todavia, como a sua confissão, não há mais dúvidas.

Benjamin apontou para um dos guardas próximo ao trono e fez para ele um gesto de mão, o qual o mesmo repassou para outros dois guardas que estavam diante de uma porta. Esses dois atravessaram a porta e adentraram uma sala de espera, não demoraram a retornar trazendo um homem com um capuz cobrindo o rosto e que se debatia.

 Benjamin deu as costas para Crispian e aproximou-se do prisioneiro que os guardas fizeram ajoelhar. Retirou dele o capuz e segurando-o pelos cabelos, expôs sua identidade.

Crispian arregalou os olhos ao ver o pai resmungando com a boca amordaçada, as mãos amarradas nas costas e os cabelos castanhos sendo puxados por Benjamin. Mas seu olhar passou de aparvalhado para transtornado em um mero segundo, ao ver Benjamin estender a palma da mão para o homem ao lado dele. Esse homem parecia ser o atual chefe da guarda real, pois ele vestia o mesmo uniforme do anterior e tinha no peito o brasão que antes pertencera a Ercan. O reconhecia da escolta particular de Benjamin, seu nome era Dorcas. Muitas vezes o próprio o escoltara até os aposentos do príncipe e ficara prostrado diante dele até que se retirasse, sempre em posição de defesa, com a mão direita sobre a bainha e o olhar desconfiado. Dorcas entregou na mão de Benjamin um punhal reluzente, o qual retirou do casaco. Objeto com o qual Benjamin utilizou para rasgar a garganta do seu pai em um único movimento.

Quando do ferimento de Lorde Edward passou a esguichar sangue, Benjamin empurrou o corpo para o chão, deixando-o estrebuchar, agonizar e só parar quando o mínimo resquício de vida se esvaiu dele junto com a poça de sangue que se acumulava ao redor do corpo no chão.  

Crispian recusou-se a acreditar no que vira. Entrou em estado de choque.

Benjamin, porém, ironicamente prestativo, fez questão de voltar-se para o rapaz e explicar, após devolver o punhal sujo nas mãos do novo comandante das tropas.

— É algo muito simples de se compreender, milorde — Benjamin aproximou-se dele com um sorriso leve e vitorioso nos lábios. — Seu lobo foi o culpado pela morte do meu pai. Então, eu tirei a vida do seu pai para compensar. Apesar de que a vida de Lorde Edward não valha nem mesmo um terço da vida de um rei. Entretanto, e por enquanto, estamos quites. Agora tirem-no daqui. Vamos dar continuidade ao cerimonial fúnebre, pretendo ser coroado rei oficialmente ainda essa semana.

— Você é louco...— balbuciou Crispian, enquanto era apanhado pelos braços e forçado a ficar de pé. — Você é louco, Benjamin... — sua voz ganhou mais ferocidade. — Você é louco! Louco!

Enquanto os guardas da corte recolhiam Crispian, um dos antigos conselheiros do rei se aproximou de Benjamin receoso e de cabeça baixa. Prudente, pediu-lhe primeiro permissão para se manifestar. 

— Vossa Majestade... permita-me à palavra?

Com um suspirar enfadado o rei regente assentiu.

— Fale.

— Não irá sentenciar o rapaz e a fera? O povo exigi justiça...  

— Eles já tiveram — clamou em tom audível para que todos no salão ouvissem. — Meu pai não foi morto por Crispian e nem por seu animal, foi morto pela incompetência de Ercan, que jaz onde merece. Pretendo ouvir a defesa de Crispian antes de sentenciá-lo. Porém, como eu disse, o mais importante no momento é enterrar o meu pai. Segundo, ser coroado rei. Irei reger o julgamento do lorde de Valdávia e sua besta por último. Agora, Péricles, se dá valor ao cargo que ainda mantém, ressalto, por capricho meu, somente, junte sua corja e façam o que vocês não faziam antes: trabalhem. Divulguem para todo continente à morte do Dalton V e avisem que aqueles que quiserem estar presente para assistirem o cortejo fúnebre terão três dias para chegar. Agora vou descansar, limpem essa sujeira.

— E quanto ao corpo de lorde Edward?

Mantendo-se de costas para o conselheiro e as pessoas no salão, Benjamin ponderou apenas por um segundo, então ditou.

— Arranquem a cabeça, façam um belo embrulho e despachem tudo para Lady Francine e sua nora com os cumprimentos do novo rei de Valais, Benjamin I — Benjamin sorriu de lado e se retirou do salão, não se importando em deixar os súditos do antigo Dalton V em estado de perplexidade.

...

A tempestade de neve castigava todos os feudos do reino.

Lady Francine parou o tricô ao sentir um arrepio percorrer por seus braços bem cobertos pelas mangas compridas do vestido. As velas que iluminavam o recinto com sua luz amarelada bailavam de um lado para o outro, dando vida as sombras dos objetos inanimados. Sentiu o ar pesado ao seu redor e engoliu em seco. O silêncio era tanto que ela sobressaltou ao ouvir o vento que uivava do lado de fora balançar as janelas e as portas.

Fazia alguns dias que vinha sentindo uma angústia atordoante afligir-lhe o peito, o que lhe remetia ao filho e ao marido tão distantes de casa.

Largou as agulhas e o tricô sobre a mesinha ao seu lado, próxima de uma pintura de mesa da sua família e levantou-se, ajeitando o xale sobre os ombros. Como não conseguia dormir cedo sem a companhia de seu milorde, ficava até tarde da noite vagando ou tricotando o enxoval do bebê de Catherine.

Mas desde o dia que a tempestade iniciara não sentia paz. Aquela noite, em especial, errara o ponto do suéter que estava fazendo para o bebê treze vezes. Simplesmente não conseguia concentrar-se nem mesmo nas tarefas simples. Sua mente, hora e outra, viajava longe, indo de encontro ao filho, pensando em seu Edward. Não via a hora de ter todos os seus entes a sua volta novamente. O silêncio daquela imensa casa vazia era perturbador.  

Catherine não era uma boa companhia, deduziu logo nos primeiros dias em que ficara a sós com a nora. Assim como Crispian, de certa forma, a moça preferia a companhia do lobo de estimação do filho à dela.

Lady Francine suspirou distraída, mas seus olhos se arregalaram ao avistar algo estranho: dois olhos azuis flamejantes fitavam-na de um canto escuro da sala. O momento de sobressalto a fez repousar a mão no peito.

— Earthen! — retrucou ao imaginar que era o animal. — Não me assuste assim! Vá para o quarto — ordenou, fazendo também um gesto de mão como se o enxotasse. Mas não houve resposta, achou curioso.

Os olhos continuaram lá, ao lado da prateleira de livros, próximo a porta da sala, à espreita e camuflado em um canto escuro. Mas Francine observou algo ainda mais estranho, se ela levasse em consideração a altura do lobo, deduziu que aqueles olhos não podiam pertencer a Earthen. Estavam em um lugar que ele não entraria. Curiosa, aproximou-se devagar, estreitando o olhar, tentando identificar o que seria aquilo que lhe pregava uma ilusão de ótica. Um risco branco se fez abaixo dos olhos, como um sorriso, e duas pontas surgiram, como presas. Deu mais um passo a diante e aquela voz sobrenatural a fez paralisar-se arrepiada.

— Estou chegando.

 Um grito irrompeu o ambiente fazendo com que Francine se voltasse rapidamente para trás.

— Catherine?

Recuou rapidamente até onde estavam as velas e apanhou um candelabro e o levou até aquele canto escuro, iluminando-o e percebendo aquilo que já lhe era óbvio: não havia nada ali. Somente um canto escuro e vazio. Aquele arrepio a percorreu novamente, esfregou o braço que segurava o suporte da vela e engoliu em seco.

Era um mal presságio?

Ouviu o grito de Catherine novamente.

— Céus, será que o bebê está nascendo tão antes do tempo?  

Subiu as escadas depressa e adentrou o quarto de Catherine. A neve entrava pela janela aberta e gelava o ambiente, a nora estava agitada na cama e era ajudada por uma das suas criadas.

— Milady! Acho que o bebê está nascendo — informou a empregada desesperada, com uma expressão de perplexidade franzindo seu cenho moreno.

Em Primeiro, Lady Francine correu até a janela e a encerrou. Em seguida, aproximou-se da nora, sentando-se ao lado dela na cama. Tocou o cenho suado e franzido da jovem que apertava as mãos na cabeceira da cama.

— O que está sentindo, querida?

— Dor! — ela urrou. — Muita dor! Ah!

— Mas ainda não é a hora, Catherine. Não pode ser.

— E- eu não sei... — Catherine respondeu com dificuldade, abrindo os olhos que estavam vermelhos. — Ele está vindo, milady. Eu o sinto mexendo, ele quer sair... — disse ela, os dentes trincados, o rosto vermelho, as veias do pescoço saltadas.  

Lady Francine retirou a colcha que cobria a nora e assombrou-se ao ver aquilo. A barriga dela se movia como se a criança lá dentro estivesse ela mesma fazendo força. Nunca vira algo tão horripilante. Repousou a mão devagar sobre a barriga e sentiu os golpes que eram dados pela criança.  

— Acalme-se, por favor — falou com cuidado. — Irá machucar sua mãe. Você logo sairá.

A barriga parou de se mover por um instante, como se tivesse compreendido o pedido de Francine. Catherine pode levantar a cabeça e fitar a sogra.

— Parou? — ela perguntou, arfante.

Mas à resposta veio em forma de um movimento brusco na barriga, um novo golpe, que fez Catherine voltar a deitar a cabeça para trás e gritar.

— Está doendo muito. Muito! Sinto como se estivesse sendo rasgada por dentro! Milady, dói tanto assim?

Francine arregalou os olhos ao ver os lençóis embaixo da nora se empapuçando de sangue.

— Eu não sei o que está havendo, querida. Não era pra ser assim. — Ela passou novamente a mão no rosto suado da nora. — Mas, fique tranquila. Se o bebê quer sair, iremos fazer o parto. — Ela voltou-se para empregada que fazia o sinal da cruz um atrás do outro e franziu o cenho para ela. — Pare com isso, Joana. Mexa-se! Rápido! — ordenou para empregada em um grito. — Traga-me a parteira urgente! Roupas de cama limpas, água quente. Vamos, ande!    

A empregada deixou o quarto aos tropeços. Lady Francine segurou uma das mãos da nora e passou a acaricia-la.

— Respire com calma, querida. Tente ficar calma.

— Milady? Milady?

— Sim, sim, querida, estou aqui.

— Milady? Se... Ai! Se.... eu não sobreviver, por favor, não culpe o Sebastian. Cuide dele até que Crispian e Earthen retornem, prometa-me?

— Earthen? O que está dizendo, Catherine? Está delirando, meu amor. Fique calma. Pense somente no seu bem e do bebê. Tudo ficará bem.

— Earthen... ele foi atrás de Crispian.... Ele é.... Ah!

Francine sabia que a nora estava delirando. Não era possível que o lobo soubesse onde encontrar Crispian. De qualquer forma, o animal poderia ter cansado de ficar enclausurado e ter mesmo saído como fizera tantas vezes antes. Se não voltasse, para ela, seria um grande alívio.

— Não importa, querida. E não diga besteiras. Toda mulher passa pelo parto e sobrevive. Sei que a dor é insuportável, mas...

As lágrimas desceram pelo o rosto de Catherine. Ela sentia a criança se movendo com furor dentro dela, abrindo um espaço que não existia. Não podia dizer a verdade para lady Francine. Ela não compreenderia. Sentiu o sangue que minava dentro dela subir por sua garganta e engasgou-se, tossiu, o sangue espirrou no rosto de sua sogra, sujou sua camisola branca.

As mulheres comuns davam vida a seres humanos comuns. Ela daria vida a um ser raro. Cria de outro ser como ele. Não podia dizer à sua sogra que a criança que carregava não era seu neto e que não tinha certeza de com qual feição ele nasceria. Mas já se sentia mãe e o amor por aquele pequeno ser que agora forçava para sair de dentro dela e vir conhecer o mundo era maior que tudo. Sabia que daria sua vida para que ele nascesse e sofria por antecipação por não estar viva para protegê-lo de maus julgamentos e injustiças, de não poder vê-lo crescer, se tornar forte e tão lindo e imponente como pai.

— A- apenas p- prometa-me, milady? — pediu com a voz em um fio. — P- prometa-me p- pelo Deus em q- que crê, q- que não irá julgar m- meu filho se algo acontecer à mim?

Francine queria confortar sua nora, mas não tinha mais certeza do que ela dizia e apenas concordou com um menear de cabeça.

— Eu o protegerei, minha querida. Mas você não vai morrer. Apenas trate de inspirar e espirar adequadamente. Vai, assim...

Catherine sorriu e novamente ela tossiu um bolo de sangue, que escapava por sua boca em grossa quantidade. Seus olhos negros permaneceram abertos e estáticos. Lady Francine sentiu a mão da nora perder a força e se apavorou. A cor já pálida da pele de Catherine ganhou um tom arroxeado.

— Meu Deus... Cath? Cath, não! Você não pode estar se entregando — ela a sacudiu pelos ombros. — Não faça isso... Seja forte. Você é uma garota forte! Você...  

A parteira entrou no quarto acompanhada de mais três empregadas.

— Milady, a senhora me chamou?

— Vocês demoraram! — bradou ela em prantos. — Eu não sei... mas acredito que ela se foi. Deus... — ela clamou, levantando-se com as mãos na cabeça. — Crispian ficará revoltado.

— Deixe-me comigo, milady — a parteira pediu, tentando afastar a nobre de perto da nora. — Se quiser aguardar lá fora, será melhor. A senhora está em choque. Ainda podemos recuperar a criança.

— Não! Eu vou ficar aqui e acompanhar o parto.

— Milady? — uma outra criada entrou no quarto e aproximou-se receosa, sabia que não era o momento adequado para dar aquela notícia, mas precisava. — Tem visitas lá embaixo querendo falar com a senhora.

— Em uma hora dessa? Peça para que voltem em outra hora! — respondeu ela em um grito.

— Disseram ser mensageiros do novo rei de Valais e trazem notícias do milorde e do seu filho.

— Novo rei?

...

Desceu para receber os visitantes ainda com o coração destroçado pela perda de sua nora. Limpou o sangue do rosto de maneira desajeitada, que permaneceram algumas manchas. Ajeitou o xale novamente sobre os ombros e cumprimentou o grupo de cavaleiros que encheu sua sala.

— Em que posso ajudá-los, senhores? Desculpem-me a grosseria, mas chegaram em uma péssima hora. Minha nora está dando à luz e....  

— Viemos em nome de Benjamin I! — bradou o cavaleiro a frente dos demais, interrompendo a fala da mulher.

Lady Francine assentiu, observando o estranho saco preto que o homem trazia nas mãos.

— Aconteceu algo ao antigo rei?  

— Dalton V está morto, milady. O novo rei interino, o primogênito, Benjamin I, foi coroado rei após o cerimonial fúnebre que ocorreu três dias depois da morte de seu pai.

— O antigo rei está morto?

— O rei foi morto por uma flecha disparada acidentalmente durante uma caçada, milady. A comitiva de caça foi formada para capturarem uma fera que fora vista nas redondezas do castelo. Seu filho, lorde Crispian, afirmou que o animal pertence à família Valdávia. Por esse motivo o novo rei fez sua justiça.

O homem virou o saco e a cabeça que estava dentro dele quicou e rolou no chão parando aos pés de lady Francine. A mulher abaixou-se e apanhou a cabeça decepada com cuidado, admirando o rosto desfigurado de seu Edward. As lágrimas transbordaram de seus olhos.

— O novo rei manda seus cumprimentos — curvou-se o cavalheiro e fez uma breve reverência para em seguida bater em retirada.

— Esperem! — Francine pediu em um grito e o cavaleiro se deteve. — E quanto ao meu filho? Meu Crispian? Diga-me que ele está vivo, por favor?

O cavalheiro voltou-se para a mulher abraçada a cabeça do marido, sentiu arrepios, pena. A cena era angustiante. Ver uma mulher ainda jovem e bela ter aquele destino tocou-lhe o coração.

— Ele e a fera ainda vivem — respondeu o cavalheiro para o alívio temporário do coração daquela mãe. — Mas estão encarcerados e serão julgados em breve — adicionou. — Por isso que, milady, pelo bem da senhora, talvez devesse fugir. O novo rei não é um homem misericordioso, visto pelo que fez ao marido da senhora. Tampouco demonstra ser tolerante. Seu filho e o animal serão condenados. Não há nada que a senhora possa fazer, é melhor que se salve. Se nos der licença, temos ordens de voltar imediatamente.

O grupo de homens se retirou.

Lady Francine permaneceu paralisada por um tempo, acariciando os cabelos da cabeça do marido. Até que novos gritos a despertaram do transe. As empregadas e a parteira desceram as escadas correndo, transtornadas, enquanto gritavam: “Demônio! É o demônio”.

As mulheres tropeçaram umas nas outras, rolaram os últimos degraus da escada e caíram aos pés da mulher que segurava a cabeça decepada em sua mão.

Ao vislumbrarem aquela cena, elas se levantaram, encheram seus pulmões de ar e gritaram ainda mais desesperadas.

— Deus, nos proteja! O demônio tomou conta dessa família!

— Socorro! Demônios! Monstros!  

E desapareceram pela porta principal, deixando-a escancarada. O vento frio tomou o salão rapidamente e Lady Francine suspirou o ar gelado, sentindo as lágrimas do seu rosto congelarem.  

— Demônio? — a mulher sorriu debilmente, já fora de si. Ergueu a cabeça até a altura dos seus olhos e beijou os lábios arroxeados do seu milorde. — Parece que seu neto nasceu, querido. Vamos conhecê-lo?

Assentindo para si mesma, a mulher abraçou a cabeça e subiu de volta as escadas. A porta do quarto havia sido deixada aberta, ela aproximou-se devagar e admirou aquela cena monstruosa, digna de contos de horror.

“A coisa” a qual Catherine havia dado a luz estava se mexendo em meio aos lençóis da cama, fazendo resmungos como se fosse mesmo um bebê.

Aproximou-se um pouco mais, devagar, até conseguir enxergá-lo.

Lá estava a criatura.

— Veja, querido, como o nosso neto é lindo. O nome dele é Sebastian. Acho que ele herdou a cor dos nossos olhos, não é? — ela perguntou para cabeça e continuou sorrindo.

A pequena criatura, mesmo recém-nascida, estava sentada. Seus grandes olhos azuis claros e espertos acompanharam os movimentos da avó. Parecia um bebê humano normal com alguns meses de vida. Os cabelos de um tom não tão escuro, quase um cinza, e a pele branquinha, estavam ainda melados de sangue. Com as mãozinhas pequenas ele levava o que restara das entranhas da mãe à boca, devorando o que restou do ventre que lhe trouxera a vida, possuído pela fome dos recém nascidos.

— Oi, Sebastian. Sou a vovó. Seja bem-vindo — Francine o cumprimentou com um sorriso.

A mulher, não mais surpresa, observou a criança fitá-la curiosa. Depois disso, Sebastian largou aquilo que segurava e passou a limpar as mãozinhas como os animais faziam, lambendo-as. Só então ele retribuiu o cumprimento de Lady Francine, abriu a boca em um gesto que parecia imitar um sorriso, e exibiu uma fileira de dentes pontiagudos e sujos de sangue.

— Oi — respondeu com uma voz doce e infantil.

Continua...

Curiosidade:

Vou responder aqui uma dúvida apontada pela minha kohai, a Gi-chan, sobre o nome do Sebastian. Acredito eu que pode ser a dúvida de mais leitores. É sobre a origem do nome “Sebastian”. O nome não foi baseado no mordomo da história Kuroshitsuji (2006). O mangá da série, coincidentemente, estreou no Japão em setembro de 2006, o mesmo ano que o meu amigo Tino criou o personagem “Sebastian” (dessa trama) para jogar RPG Yaoi online. Mas, de acordo com o Tino, na época, ele baseou tanto a personalidade do personagem quanto o nome dele no “Sebastian” do filme Segundas Intenções (1999). Até porque, Kuroshitsuji só se popularizou no Brasil (e no mundo) após a estreia do anime que foi em 2008.

Momento Fanart:

Mas uma vez a minha filhota, a Bruninha Uzumaki, me presenteou com lindos fanarts! Desta vez ela desenhou o que poderia ser a família inteira da história: Crispian, o Sebastian, e a Cath. Lindos, né, Gente? Obrigada mais uma vez pelo mimo, filhota! Amei seu presente. Continue se dedicando ao desenho, você tem muito talento. Quem quiser me mimar com fanarts, montagens, ou outros mimos que sejam, podem mandar pro meu e-mail do g-mail, está no meu perfil. E irei divulgar com muito carinho aqui na fic e lá na minha página no face.


Notas Finais


Demorei um pouco para cumprir meu cronograma de atualização tive muitos problemas antes das minhas férias e iria fazer na sexta, mas machuquei o pulso e estava com ele imobilizado, ficando impossibilitada de digitar. Mas hoje está melhor e consegui fazer atualização finalmente!

Tem um novo cronograma de atualizações na minha página no Face, mas vocês podem também visualizá-la no meu perfil por aqui!

Depois de alguns anos, ganhei até uma capa nova. Ela foi customizada pelo Shedo, conhecido no Nyah como Megami Naruto. E as imagens infelizmente não pertence a ele e nem a mim, e sim aos seus respectivos fanartistas. A do “Earthen” na época eu encontrei no Google, aqui -> http://es.tatsufannon.wikia.com/wiki/Kurokami?file=Kurokami.jpg, mas não tem a fonte exata para creditar o fanartista. Já a imagem do “Crispian” pertence a Hakuseki, perfil dela no Pixiv é esse http://www.pixiv.net/member.php?id=102812.
Bem, a maioria havia deduzido aquilo que praticamente estava pré-estabelecido no meu roteiro: Catherine se foi no momento em que trouxe a vida o pequeno Sebastian. Sinto por àqueles que se afeiçoaram a Cath. Eu confesso que gostei muito de descrevê-la e não esperava que a pequena passagem dela pela história a tornaria tão querida. Mas ela precisava ser assim, para que seu pequeno filho herdasse algumas das suas características.

Bem, e agora? O que vai acontecer ao Sebastian? E quanto a Crispian e Earthen nas mãos dor tirano Benjamin? Façam suas apostas! Comentem!

Beijos! Até o próximo! /o\


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