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História Os Garotos - Capítulo 01 - A Despedida


Escrita por: andreiakennen

Notas do Autor


Disclamair: Saint Seiya não me pertence e sim ao seu autor, Masami Kurumada, e as empresas por ele licenciada. Essa é uma fanfiction e não possui fins lucrativos. Porém, o texto apresentado aqui me pertence, e a cópia parcial, integral ou a postagem em outros domínios por pessoas não autorizadas é considerada plágio.

Sobre a Capa: A Capa dessa fanfiction foi feita sobre encomenda (Comission) pela fanartista Raquel Sumeragui. Sendo assim, também detenho os direitos da fanart, da mesma forma que sua artista.

Alerta 01: OCs – Essa foi minha primeira fanfic, por isso ela está carregada de personagens originais. Sei que muitos seguidores do fandom não curtem personagens originais, por isso deixo o alerta.

Alerta 02: Os Cavaleiros de Ouro estão mortos – Como minha intenção era trabalhar somente com os cinco cavaleiros de bronze, eu acabei mantendo os dourados mortos no final da batalha em Elíseos. Assim como os demais que já haviam sido mortos, como cavaleiros de pratas, entre outros. Por isso, não esperem que os dourados apareçam aqui. Também não irei inseri-los do nada, essa primeira fase está concluída. Talvez, eu posso trazê-los de volta a vida por intermédio de Athena em uma temporada futura, mas, isso é um projeto a ser estudado ainda, não vai acorrer tão cedo.

Alerta 03: Pares com Originais – Ali em cima não cito os casais que haverá na fic, porque haverá vários. Entre casais heteros e yaoi. Mas não há nenhum casal tradicional, inclusive o canônico: Shiryu x Shunrei. Infelizmente, eu não gostava do casal na época, por isso eu retirei a Shunrei da história. Então, aqui o Shiryu também fará par com uma personagem original. Desculpem-me por isso, mas já fica o alerta para todos que tem apreço pelo casal e não gostam de forma nenhuma de vê-los separados.

Capítulo 1 - Capítulo 01 - A Despedida


Fanfic / Fanfiction Os Garotos - Capítulo 01 - A Despedida

Os Garotos

Por Andréia Kennen

Capítulo I

A Despedida

Cais do Porto - Tóquio, Japão.

— Cuidado aí embaixo!

Ouviram aquele grito de alerta vindo do homem no alto do guindaste e na sequência a rede cheia de peixes caiu no convés fazendo um estrépito abafado, como se algo tivesse amortecido a queda.

— O que aconteceu, Tanaka-san? — perguntou o rapaz que recebia as redes no convés, assustado com a queda repentina da rede.

— Parece que o braço mecânico emperrou de novo. Essa merda! — esbravejou, espancando o painel.

O rapaz no convés ergueu o boné branco e coçou o topo da cabeça ao ver a bagunça e a boa quantidade de peixes que haviam escapado da rede e se espalhados pelo convés. Era a terceira vez que aquilo acontecia na mesma semana. Haviam avisado o chefe, mas até o momento ele não tinha tomado nenhuma providência, imaginava se o homem estava esperando ocorrer um acidente grave de trabalho para fazer alguma coisa.

— Merda, merda, merda! — continuou resmungando. — Olha a bagunça que isso virou! Vamos precisar de ajuda. Cadê o preguiçoso do Seiya quando a gente precisa dele? Seiyaaaaaa! — chamou, procurando o colega de trabalho que avistara por ali há pouco. — Onde será que ele se.... — parou de repente, ao notar o movimento estranho que fazia o amontoado de peixes no chão.

Além disso, ouvia murmúrios vindos dos peixes que ficaram entrelaçados e presos pelos fios de náilon da rede.

— Será que é o que eu estou pensando? — recusou-se a acreditar, encarando com estranheza o cardume. — Será? — ainda duvidou, se aproximando com cuidado e, após cutucar os peixes com o bico da bota de borracha, indagou: — É você que está aí embaixo, Seiya?

De repente houve uma explosão de peixes que voaram para o céu e pouco tempo depois despencaram sobre o chão do barco como se fossem chuva. Então, surgiu o adolescente moreno ofegante.

— Mas não é que era mesmo você — o homem confirmou, com um sorriso de deboche no rosto. — É incrível como você não morreu ao ser esmagado por essa rede de peixe!

Seiya crispou os punhos.

— Porque não olha para onde aponta essa coisa, Tanaka-san?! — gritou exaltado para o homem encima do guindaste.

— Gomen né, Seiya-kun? — o homem pediu desculpas, sorrindo sem jeito. — A garra emperrou e a rede acabou se soltando. Mas o que importa é que você tem esse poder estranho vindo dos cavalos e está novinho em folha, não é? — ele completou com uma risada alta.

A gargalhada do senhor Tanaka contagiou os demais trabalhadores que haviam se amontado no convés para saber do que se tratava o estrondo que ouviram.

— Não é poder estranho do cavalo, Tanaka-san! Eu já disse um monte de vezes: eu sou um cavaleiro. Cavaleiro!

— Foi o que eu disse, não foi? Cavalo, cavaleiro, é tudo a mesma coisa.

— Mas, o que está acontecendo aqui?!

A pergunta vinda do dono da embarcação suspendeu todas as risadas de imediato. O senhor Kanamura, chefe do grupo, era um senhor que tinha em torno dos seus cinquenta anos, bem acima do peso e de baixa estatura, em torno de um metro e meio. Viciado em charutos. Era difícil não encontrá-lo com o fumo aceso no canto da boca, como naquele momento.

— Quem fez esta bagunça?! — ele procurou saber, entoando sua voz estridente e estranhamente fina por todo ambiente. — Eu quero o culpado por espalhar todos os peixes pelo convés agora mesmo! Senão, todos irão trabalhar no horário do almoço para limpar essa bagunça.

Certos de que o chefe cumpriria a ameaça caso não mostrassem o culpado, todos os presentes, sem exceção, apontaram para Seiya.

— Mas... Esperem um pouco! Chefe, eu espalhei os peixes sim. Mas não foi porque eu quis. O guindaste emperrou e a rede ela caiu, a rede...

— Cale-se, Seiya! — o homem ordenou em tom ríspido. — Já estou farto de suas badernas. Farto! Eu aceitei te dar esse emprego porque você sempre se mostrou um garoto muito forte e arrojado. Mas, ultimamente, você anda me decepcionando. Vive chegando atrasado. Faz bagunça no convés. Você não é mais um bom empregado.

— M- mas... Kanamura-san, eu não tive culpa, eu iria morrer sufocado se...

— Escute, Seiya — o homem o interrompeu novamente, em um tom menos agressivo. — Eu vou lhe dar mais uma chance. Se não começar a se corrigir agora, a próxima que aprontar, irá para o olho da rua, compreendeu?  

Sem ter chance de argumentar o adolescente acabou se dando por vencido, assentindo de cabeça baixa.

— Certo, senhor.

— Agora limpe essa bagunça e só saia para o almoço quando terminar — demandou e se voltou para o restante da equipe. — O que estão fazendo aí, parados? Voltem ao trabalho agora mesmo! — gritou e assim que os empregados se mexeram, voltando aos seus postos, o senhor Kanamura se encerrou novamente na pequena cabine do barco, a qual servia como escritório.

Sem olhar os demais companheiros, em silêncio, Seiya apanhou o esfregão e começou a juntar os peixes espelhados no convés, enquanto se esforçava para não prestar atenção nas gozações e na algazarra que os colegas faziam à suas costas.

Passara por um treinamento árduo para alcançar o status de Cavaleiro de Bronze de Pégaso, um guerreiro protetor de Athena, a deusa guardiã da Terra. Ao lado dos companheiros combateu em terríveis batalhas cujas vitórias custaram muito mais que suor, lágrimas e sangue, custaram-lhe a própria vida e a dos amigos.

Sim. Haviam vencido o mal que ameaçava assolar o planeta e transformá-lo em puro caos. No entanto, o preço que pagaram foi muito alto: todos os cavaleiros presentes na batalha em Elíseos, o palco da última guerra, perderam suas vidas.

Athena não se conformou com a queda de todo o seu exército, em especial, a perda dos seus cinco cavaleiros de bronze, aqueles que estiveram ao seu lado desde o princípio. Assim, por intermédio de seu pai, o onipotente Zeus, conseguiu trazê-los de volta. Contudo, Zeus exigiu dela um estranho preço em troca da vida dos cinco: o desvinculo total dela com aqueles humanos.

Saori, a reencarnação dessa era da deusa Athena, se viu obrigada a abrir mão de algo que lhe era extremamente precioso: as lembranças de tudo que vivera ao lado dos seus cinco cavaleiros de bronze para ter seu desejo de revivê-los atendido.

Desde então, para Seiya, a “paz” no mundo nunca pareceu tão desconfortante. Era um lutador, um cavaleiro, não sabia exatamente como viver aquela nova chance de maneira diferente. Não estava preparado para encarar uma vida... estranhamente normal.

— Vejam, pessoal! — gritou o senhor Tanaka, que ainda estava em cima do guindaste tentando consertá-lo, ao ver a motoneta que se aproximava com a garupa carregada de marmitas. — O almoço acabou de chegar e mais cedo!

A barriga de Seiya roncou ao ouvir aquela notícia; sua geladeira estava vazia há uma semana. A única refeição que tinha no dia era a marmita paga pela firma. Porém, como não havia terminado a tarefa de limpar a sujeira que “ele mesmo” havia feito, não poderia parar para o almoço. O que fazer? Apenas suspirou e voltou ao seu afazer. Molhou o esfregão no balde com água e sabão e passou-o sobre a superfície de madeira. Contudo, quando as marmitas começaram a serem abertas e aquele aroma delicioso de comida se espalhou pelo o local, a reclamação no seu estômago aumentou, fazendo-o salivar.

— Droga! — resmungou para si mesmo.

— Hm! Veja, Seiya! Parece que está realmente bom — provocou um rapaz alto e de porte físico raquítico, visto pela camiseta regata que usava. Ele também usava uma bandana encardida na cabeça, tinha um cavanhaque ralo e balançava a bituca de cigarro apagada no canto da boca. Ele farejou o recipiente aberto em sua frente. Porém, a figura era tão grotesca, que Seiya acabou agradecendo-o mentalmente por fazer sua fome se esvair. 

— Seiya!!

O adolescente moreno sentiu uma pontada contrair seu estômago vazio ao reconhecer de imediato aquele grito feminino, que vinha de uma pessoa que se aproximava correndo. Pior do que isso: todos os seus “gentis” colegas de trabalharam a reconheceram também.

Enquanto a jovem adentrava o convés do navio diminuindo a corrida, o grupo a seguiu com seus olhares abobalhados. Okumura, que era o encarregado do grupo, se paralisou com os hashis cheios de arroz a caminho da boca.

Não demorou muito e um alvoroço de assobios e comentários maldosos encheu o ambiente, aumentando a irritação de Seiya.

Já havia dito dezenas de vezes para que Miho não o visitasse naquele lugar, contudo, ela tinha o dom de contrariá-lo.

— Oi, Seiya — a jovem o cumprimentou ao se deter diante dele, ofegando e arrumando alguns fios de cabelos que haviam se desprendido das amarras que prendiam e separavam seus cabelos em duas partes.

Seiya entreabriu a boca para dizer algo, mas seus colegas foram mais rápidos:

— E aí, gatinha?

— Oi, princesa. Não vai falar com a gente não?

— Ei, boneca? Por que não namora comigo e larga esse perdedor, hm?

— É verdade, lindinha. Deixe um homem de verdade te fazer feliz.

Miho suspirou calmamente e respondeu como costumava fazer:

— Por que os senhores não vão ver se estou na esquina?

— Tá aí. Bonita e arisca, hein, Seiya?

Seiya apanhou o punho da namorada e a puxou para longe do grupo, ao tomar uma distância que considerara razoável, parou e a indagou.

— O que está fazendo aqui, Miho?!

— Vim falar com você.

— Tinha que ser agora? Não podia esperar eu ir até você?

— Sim, tinha que ser agora — ela afirmou, puxando o braço de volta, fazendo com que Seiya a largasse. — Se não fosse importante eu não viria, Seiya. Você sabe disso. Não queria incomodá-lo no seu horário de trabalho por isso vim no seu horário de almoço.

— Ah? — ele coçou a nuca, largou o esfregão que notou ainda estar na outra mão e apanhou a mão dela. — Certo. Antes, vamos sair daqui e ir para um lugar mais calmo.

— Ih! Esse conto de fadas não está ao avesso não, Seiya? A Cinderela que vem salvar o Borralheiro, é? — Okumura fez questão de tirar um último sarro ao ver o casal se afastar. — Será que a sua Cinderela faz papel de Fada Madrinha também e irá lhe conceder um almoço, Seiya?

— Do que ele está falando, Seiya?

— Ignore! Vamos!

...

Rapidamente os dois deixaram o convés e foram para o outro lado do cais, na praia. Sentaram-se na plataforma de madeira, aonde os barcos de passeios aportavam. Miho observou com desconfiança o rapaz que era também seu namorado, notando que havia algo de errado com ele. Normalmente Seiya era muito animado e há alguns dias o estava sentindo diferente; deprimido. 

— Está mesmo sem almoço, Seiya? — ela quis ter certeza, procurando os olhos dele.

Mas Seiya não correspondeu o olhar da namorada. Manteve sua atenção fixa nas pernas que balançavam embaixo da estrutura de madeira. Estava cheio daquela tal de “vida normal”, principalmente do trabalho. Mas não queria reclamar sobre esses assuntos com Miho. 

— Vamos, Seiya. Converse comigo. O quê fez de errado para ficar sem almoço?

— Eu não estou sem almoço. E não fiz nada de errado também. Aqueles idiotas é que vivem me zoando.

Apesar de ter soado convincente, Seiya não esperava que seu estômago fosse roncar naquele instante, denunciando sua mentira. Sentiu o rosto afoguear de vergonha, pois não queria preocupar Miho desnecessariamente. A namorada já o ajudava mais do que devia.

Porém, a jovem professora do orfanato sorriu e balançou a cabeça negativamente, estendendo para ele o embrulho que trouxera dentro de uma sacola.  

— Para você.

Seiya arqueou uma das sobrancelhas.

— O que é isso?

— Bolo. Eu preparei para o lanche da tarde das crianças e como já havia planejado visitá-lo, trouxe algumas fatias. Vamos, coma. É de chocolate, o seu preferido, né?

Com lágrimas nos olhos, Seiya deixou o orgulho de lado e aceitou o embrulho que a namorada lhe estendia. Faminto, abriu o pacote quase em desespero e enfiou duas fatias de uma vez só na boca.

Miho arregalou os olhos. 

— Coma de vagar, Seiya! Mastigue antes de engolir. Você vai se engasgar! — ela o advertia, achando graça da cena. — Tenho certeza de que, de todas as crianças que cuido, você é o que mais me dá trabalho.

— Euch naum shou criancha!

— Não fale com a boca cheia!

— Deschulpe.

Miho sorriu. Satisfeita por finalmente ter quebrado o gelo. Afinal, a notícia que tinha para Seiya não era nada boa.

Ela o esperou terminar com o bolo e só então engrenaram em uma conversa mais séria.

— Como pode ficar trabalhando em um lugar daqueles, Seiya? Com pessoas tão grosseiras, que não valorizam o homem bom que você é.

— E o que você quer que eu faça? Quem empregaria um garoto de quinze anos, órfão, que nem se quer concluiu os estudos ainda?

— Por que você não quis concluí-los, né, Seiya? Já lhe pedi tanto que voltasse a estudar. É só procurar a funda-...

— Não! — o moreno interrompeu antes que Miho terminasse aquela frase a qual detestava tanto ouvir. — Isso não. Você sabe muito bem que eu me recuso a receber qualquer tipo de donativo que venha de lá. Por que insiste tanto nisso, Miho?

— Seiya...

Miho suspirou fundo, precisava manter a paciência naquele momento.

— Eu só queria entender o motivo desse seu orgulho bobo. Por que não coloca de uma vez por todas nessa sua cabeça dura que o que você estará recebendo não é nenhum favor, tampouco uma esmola. Na verdade, seria apenas uma mísera recompensa por salvar o mundo e a humanidade por inúmeras vezes, arriscando sua própria vida.

— Não, Miho. Não adianta tentar mudar meu modo de ver as coisas. Para você pode até parecer algo tão bonito. Mas para mim ainda será o guerreiro-zé-ninguém, de quem ninguém se lembra, que ‘acha’ que quase deu sua vida para salvar o mundo um monte de vezes, pedindo dinheiro para garota rica e poderosa, dona da Fundação Graad. Eu já disse e volto a repetir: a Saori não sabe da minha existência.

— Como não? — a jovem perguntou, deixando a indignação tomar conta do seu timbre sempre ameno. — Vocês dois viveram na mesma mansão. Você a serviu. Você a salvou centenas de vezes. Como ela não sabe quem é você, Seiya?

— Ela perdeu a memória, Miho.

— E o que isso importa?! Seu nome certamente está nos registros do programa que o senhor Mitsumasa iniciou. Os empregados dela sabem. Qualquer um poderá confirmar isso, Seiya. 

— A senhorita Saori perdeu a memória quando retornamos da última guerra, Miho. A senhorita Saori que eu a-... quero dizer... — ele tentou refazer a frase ao perceber a gafe que iria cometer, mas Miho já o encarava com aquele olhar de “eu já entendi o que quis dizer” então ele apenas suspirou e prosseguiu. — A senhorita Saori que eu protegi, que eu servi, ela não existe mais. Não faz sentido cobrar algo daquela mulher que não faz ideia de quem eu seja.  

— Não minta para você mesmo, Seiya. A própria senhorita Kido já esteve uma vez no orfanato procurando por você. Ela o procurou para conversar e o que você fez? Escondeu-se! Então, ela faz ideia sim de quem você é. Talvez não da maneira que você gostaria, mesmo assim ela sabe.

Seiya preferiu fingir que não tinha ouvido aquela parte e permaneceu em silêncio.

— Seiya eu estou falando com você!

— Miho, chega dessa conversa, está bem? Eu tenho que voltar ao trabalho — ele a informou, apoiando as mãos na plataforma com a intenção de se levantar, mas parou ao ouvir a fala seguinte da namorada.

— O Lar Starlight vai ser fechado, Seiya.

O anúncio repentino fez Seiya ficar onde estava.

— Como?

— Desculpe-me por ter que lhe dar essa notícia assim. Mas, não tem outro jeito. — Miho passou e inspirou fundo, soltou o ar devagar e continuou. — Ontem recebi a visita da assistente social da Fundação. Ela veio pessoalmente trazer o resultado da inspeção feita no mês passado. A Fundação Graad chegou a conclusão de que é desnecessário manter um lugar tão grande como aquele funcionando para um número tão reduzido de crianças. Eles pediram para que eu fizesse a desocupação da casa até amanhã. As crianças que ainda estão lá serão transferidas para outras duas unidades.

— V- você não está falando sério, né?

Miho sentiu um aperto forte no peito. Sabia que aquela notícia abalaria Seiya mais do que a qualquer outro e entendia muito bem o motivo. O orfanato foi o único lugar que Seiya um dia pôde chamar de lar. Foi lá que os dois se conheceram, que ele viveu com a irmã, com os amigos. Suas lembranças mais felizes, assim como as dela, estavam impressas naquelas paredes.  

— Está decisão também me partiu o coração Seiya. Eu sei exatamente como deve estar se sentindo — ela comentou, docemente, tentando confortá-lo ao perceber que a notícia havia causado um choque maior do que imaginara.

— Não — Seiya murmurou em um tom quase inaudível, mas que começou a ganhar força e confiança em seguida. — Eles não podem fazer isso! Não podem tomar essa decisão sem mais nem menos!

— Podem sim, Seiya — Miho contrapôs, firmemente. — É claro que podem. Não há nenhum impedimento legal para que a fundação Graad realoque seus órfãos da forma que bem entender. Muito menos de fechar uma das suas casas, cheias de crianças ou não.

— Eu estou entendendo bem, Miho? Você está aceitando isso? Não vai procurar impedir?

— Não — respondeu firme e categoricamente, arrancando assombro de Seiya.

— Por quê? — ele quis saber, franzindo as sobrancelhas. — Eu não estou te entendendo.

Agora seria a pior parte, mas Miho estava segura, havia ensaiado várias vezes, não poderia vacilar. E, após mais um breve suspiro, explicou:

— Há muito tempo que meus pais adotivos querem se mudar para a Europa. Você sabe muito bem, porque eu mesma já lhe falei sobre isso. Eles só não o fizeram ainda por minha causa. Por causa do meu compromisso como professora do orfanato. Mas eles me disseram que esperariam o tempo que fosse necessário. Bem. Esse tempo chegou. Eu percebo que não tem sentindo continuar aqui com o Lar Starlight fechado... Não é? — Miho tentou abriu um sorriso e entonar o ar de entusiasmo que havia ensaiado antes. — Você me entende, Seiya? Eu vou finalmente ter a oportunidade de estudar fora. Vai ser ótimo para mim, não acha?

Esforçou para manter o falso sorriso no rosto, ao mesmo tempo em que sentia seu peito despedaçando por dentro. Esperava uma reação desesperada do namorado. No entanto, Seiya não disse nada. Apenas a observava estático, e ele ficou assim por alguns minutos, até deixar sua cabeça pender e o queixo encostar-se ao peito.

O coração de Miho disparou dolorosamente.

Seiya, por sua vez, não sabia como reagir àquela notícia. Afinal, como dizer para a namorada que não queria que ela fosse embora sem parecer egoísta? Miho já havia abdicado daquela oportunidade várias vezes por causa dele e das crianças do orfanato. Ela ainda era jovem, bonita, inteligente, havia sido adotado por um casal bem de vida, mestiço de estrangeiros. Tinha um futuro promissor pela frente, até poderia se tornar médica, advogada, qualquer coisa que quisesse. Não podia obrigá-la a viver ao lado de um perdedor.

— Você me acha egoísta, não é, Seiya? — foi ela quem deu a resposta.

Rapidamente Seiya negou, balançando a cabeça de um lado para o outro.

— Não é isso.

— Eu sei que sou — ela reafirmou. — Mesmo assim, estou certa da decisão que tomei. Mas também não quero partir e deixá-lo na situação que se encontra. Sei muito bem que o orfanato é seu refúgio depois que todos seus amigos partiram. Eu me preocupo em deixá-lo sozinho, Seiya.

Ao ouvir as palavras “amigos” e “partiram” o adolescente se encolheu ainda mais. Naquele instante desejou estar em uma arena combatendo. Era muito mais fácil lidar com a dor física do que com a dor emocional.

— Seiya...? — Miho o chamou, segurou o queixo dele, ergueu-o e moveu-o até que os olhos dele encontrassem os dela. Porém, o choque ao confrontar com aqueles olhos castanhos totalmente imersos em lágrimas foi dolorido demais para ela. Por alguns segundos, Miho pensou e quase vacilou. Contudo, decidiu que não podia se dar aquele luxo, precisava ser forte. Aquela fora a maneira que havia encontrado de fazer Seiya sair da vida acomodada que levava e correr atrás do tempo perdido.

Então ela engoliu em seco e pediu:

— Você me perdoa por ser tão egoísta e pensar só em mim nesse momento?

Seiya finalmente criou coragem para respondê-la.

— Não tem do que te perdoar, Miho. Na verdade, você fez muito bem — ele disse, secando os olhos com as costas das mãos. Então apanhou a mão dela que antes segurava seu queixo e apertou-a firmemente entre as suas. — Eu sei que você vai ser alguém importante no futuro. Eu vou ficar aqui torcendo muito para que alcance todos os seus objetivos. E quanto a mim... — ele suspirou e, finalmente, abriu seu grande sorriso. — Eu vou tentar me virar. Por isso, pare de agir como se fosse minha mãe, está bem?

Miho sorriu docemente e segurou de todas as formas as lágrimas que margeavam seus olhos. Conteve com louvor a enorme vontade de abraçá-lo e chorar tudo que a estava sufocando por dentro. Era exatamente aquela reação que ela esperava de Seiya. Sabia que ele jamais a impediria de fazer algo se demonstrasse sinceramente que era isso que ela desejava. Mas também sabia que tudo que ele estava lhe dizendo naquele momento era da boca pra fora. Afinal, Seiya nunca se acharia no direito de intervir na vida de alguém. Mesmo que aquela decisão lhe machucasse.

Os dois se abraçaram.

— Obrigada, Seiya. — ela disse por fim, se desvencilhando do abraço. — Mas não fique pensando que já está solteiro na área, viu? Até a minha partida você ainda pertence a senhorita Miho aqui, estamos entendido?

— Eu sei, eu sei! — ele apressou-se em assentir, coçando atrás da cabeça.  

— Seiya, e quanto a Seika?

Desta vez, Seiya se levantou.

— Eu já pedi pra não se preocupar mais comigo, Miho. Eu vou me arranjar bem sozinho. Além disso, a Seika tem sua própria vida pra cuidar. Eu não quero ser um fardo pra ela também.

— Como você é orgulhoso. A Seika voltou para o Japão depois de viver tanto tempo perdida na Grécia. Agora ela é uma mulher madura, está estudando e trabalhando. Tudo por causa da ajuda da fundação, por que você não pode fazer o mesmo?

— Por que eu sou eu e ela é ela?

— Ah! — Miho exclamou cansada e se levantou. Desistindo de vez de tentar convencê-lo. — Tenho que voltar. Deixei o Makoto no controle, imagina o caos que deve estar por lá.

— Quando eles vão partir?

— Amanhã à noite. Você vai estar lá para se despedir, não vai?

— Nem precisava fazer essa pergunta, você sabe que eu vou estar.

— Obrigada — Miho se aproximou de Seiya, selou os lábios dele com os seus, fez uma breve carícia no rosto dele e então confessou baixinho: — Eu amo muito você, Seiya.

Seiya não respondeu. Não porque não correspondesse os sentimentos de Miho, só não queria aumentar os empecilhos que pudessem fazê-la mudar de decisão. Por isso, apenas sorriu gentilmente e assentiu, enquanto esperava o coração acalmar as batidas descompassadas à medida que ela se distanciava.

 Depois disso, voltou a se acomodar na plataforma do cais. Não tinha forças para voltar ao trabalho e acabou ficando o resto do dia por ali mesmo.

...

No dia seguinte, os ponteiros do relógio na parede da sala do orfanato marcavam dezenove e vinte da noite. A algazarra ainda era grande. Seiya havia passado o dia inteiro brincando com as crianças quando os dois carros que as levariam estacionaram em frente da casa.

— Vamos crianças, os carros chegaram! — Miho anunciou, batendo as mãos.

— Ei, Seiya? Você não vai deixar de nos visitar, não é? — perguntou Makoto, se agarrando a cintura dele.

— Claro que não. Irei visitá-los sempre que possível — ele prometeu animado, piscando um dos olhos para o pequeno e desarrumando os cabelos dele. — Agora vão!

— Obedeçam às ordens dos mais velhos, comam direitinho e se comportem. — Miho ainda dava suas últimas instruções enquanto abraçava e beijava cada um deles.

Depois os acompanhou saindo um a um, acenando pela porta, com suas pequenas mochilas nas costas.

A assistente social se aproximou da professora enquanto Seiya ajudava os pequenos com a bagagem.

— Você fez um ótimo trabalho, Miho-san. Tem certeza que não deseja reconsiderar o pedido e continuar trabalhando para a Fundação?

— Tenho outros planos. Mas, agradeço ao convite, Kaori-san.

— Bem, não pode nos culpar por não insistir. Agora se puder me entregar as chaves e a escritura da casa.

— Perdoe, mas eu prefiro entregar toda a documentação nas mãos da própria senhorita Kido amanhã.

— Mas sou eu e o senhor Tatsumi os responsáveis por isso.

— Eu sei disso, Kaori-san. E sei também que a irá me ajudar nesse pequeno favor, eu preciso muito falar com ela.

— Acho que entendi.

Depois disso a assistente se despediu e os carros partiram levando as crianças. Pingos grossos de chuva começam a cair e Seiya e Miho correram para dentro da residência.

Então Miho fez aquele pedido, após se aproximar de Seiya e segurar firme a mão dele.

— Dorme aqui comigo essa noite, Seiya?

— Você não entregou as chaves?

— Ainda tenho alguns pertences meus para levar embora. Mas não quero passar a noite sozinha nessa casa totalmente vazia.

— Sim. Eu durmo. Mas...

Seiya percebeu o olhar desolado da namorada e decidiu não questioná-la mais. Sabia muito bem que para Miho as crianças e o orfanato sempre foram sua vida. Entendia muito bem que naquele instante, ela estava perdendo uma parte importante do seu coração. Lágrimas cintilantes e quase omissas rolaram delicadamente pela face bonita da professora.

— Miho?

— Me abraça Seiya, me abraça bem forte.

Seiya suspirou fundo e atendeu o desejo dela.

Do lado de fora a chuva caiu, acalmou, passou, adormeceu.

...

Na manhã seguinte, como havia prometido a si mesma, Miho estava diante dos imensos portões da mansão Kido. Fora abordada pelo porteiro, pois estava sem o uniforme. Era a primeira que vestia roupas casuais para visitar a mansão: jeans, uma camisa rosa, sandálias pretas, uma bolsa pequena pendurada em um dos ombros e uma pasta azul rente ao peito.

— Eu vim falar com a senhorita Kido — explicou para o rapaz na guarita.  

— Desculpe-me. Mas não tem nenhuma visita agendada para ela esta manhã — respondeu o porteiro com um ar entediado.

— Mas eu preciso entregar as chaves da fundação desocupada ontem.

— Deveria tê-las entregue ao assistente que fez a desocupação. Procure-o na sede, na área central.

— Eu já sei de tudo isso. Mas vim até aqui por preciso muito falar com a senhorita Kido.

— Desculpe-me, senhorita, mas não poderei ajudá-la. Todas as visitas devem ser previamente agendadas. Tenha um bom dia.

— Espere! — ela gritou, impedindo-o de recuar para dentro da guarita. — Eu não vou embora. Seria possível pelo menos me anunciar e perguntar se ela pode me atender?

— Não tenho permissão para incomodar a senhorita Kido.

— Pergunte ao mordomo dela então.

— Está complicando a minha vida, senhorita. Eu só cumpro ordens aqui.

— Eu não tenho nada haver com as ordens que você recebe. Essas regras não cabem a mim. Sendo assim, eu posso incomodá-la bastante e vou começar um pequeno escândalo agora mesmo se não fizer o que eu estou lhe pedindo.

— Você é louca?

— Ainda não viu nada.

Ele coçou a cabeça.

— Certo. Qual é o seu nome?

— Miho.

O segurança entrou na guarita sem dizer mais nada, telefonou para mansão e logo voltou com a resposta.

— Você teve muita sorte, Miho-san. A senhorita Kido deve ter acordado de muito bom humor. O mordomo disse que ela irá recebê-la.

Miho abriu um sorriso vitorioso para o guarda.

— Eu sabia que iria.

...

Dentro da mansão.

— A Saori-sama irá recebê-la no escritório, por favor, siga-me — anunciou o novo mordomo de maneira extremamente formal, após receber Miho na porta.

Miho o vira outras vezes quando Saori esteve no orfanato, Saiko fora admitido no lugar de Tatsumi que agora gerenciava os institutos sócios da Fundação.

— Obrigada — a professora respondeu, seguindo o rapaz, enquanto admirava a beleza da mansão que fora reconstruída depois de um incêndio há uns dois anos atrás.

— É aqui, senhorita — informou o jovem, após se deter em frente a um dos cômodos no piso superior da casa. O mordomo bateu na porta e após ouvir um “entre” abafado, ele adentrou o recinto, anunciando a visita: — Saori-sama, a senhorita Miho.

— Obrigada, Sai-chan.

— Deseja mais alguma coisa, Saori-sama?

— Não. Pode ir.

— Com sua licença.  

O rapaz fez uma breve reverencia, em seguida se retirou, fechando a porta.

— Sente-se, Miho — Saori pediu, parecendo desistir do que estava procurando em meio às pilhas de papel sobre sua mesa. — Você aceita algo? Chá? Café?

— Eu agradeço — Miho negou e sentou-se no lugar indicado.

— Então, diga-me no que eu possa ajudá-la — Saori foi direta, colocando os cotovelos sobre a mesa, cruzando os dedos um nos outros e apoiando o queixo sobre eles.

Em silêncio, Miho abriu a pasta que trazia em mãos e retirou dela o que parecia alguns prontuários. Depois disso, apanhou as chaves do antigo prédio do orfanato Starlight na bolsa e depositou sobre os prontuários.

— O que é isso?

— São as chaves, a escritura da residência onde funcionava a fundação Starlight e mais cinco prontuários sem baixas. 

Saori deu um pequeno sorriso e Miho imaginara o motivo. Apesar de jovem, Saori Kido era considerada uma das mentes mais brilhantes do mundo empresarial. Ela sozinha tomava conta da fortuna e dos investimentos que o avô lhe deixara de herança, ainda conseguira multiplicar seus lucros com investimentos bem conduzidos.

Provavelmente, a empresária havia deduzido o real motivo da sua visita.

— Bem, isso eu percebi — Saori esclareceu. — Contudo, não foi para isso que veio, não é mesmo? Se não, teria entregue toda essa documentação para a assistente social, como é de praxe.

Miho também sorriu. Fora exatamente como havia imaginado.

— Realmente não foi por isso que vim, Saori-san. Vim apenas para alertar sobre a situação de cinco ex-residentes do orfanato.

Saori saiu da sua posição inicial de interesse e acomodou as costas na poltrona almofadada, estava prestes a ouvir uma história por demais repetida.

— Se vai se referir ao Seiya, esqueça. Eu mesma já lavei as minhas mãos. Não medi esforços para oferecer ajuda a ele e aos quatro demais. Ajuda esta que seria suficiente para que vivessem o restante de suas vidas tranquilamente. No entanto, todos eles esnobaram minha oferta.

— Se ofereceu essa ajuda no mesmo tom que está falando comigo agora, senhorita. Eu posso compreender perfeitamente o porquê de não terem aceitado.

Saori ficou levemente surpresa. Não o suficiente para alterar sua expressão.

— Claro que não. Tentei ajudá-los de coração. Mas são orgulhosos demais para aceitarem.

— Claro que são, senhorita. Além de serem homens, foram doutrinados como guerreiros da antiguidade. Onde a honra e o orgulho vêm acima de qualquer necessidade. E a senhorita mais do que qualquer um deveria saber disso.

— Deveria, mas não sei — desta vez, Saori deixou um tom de irritação adensar o timbre da sua voz sempre calma. — Eu já disse a todos eles e continuo repetindo: eu perdi a memória em um acidente no qual me disseram ser: “A batalha contra Hades”. Estou tratando e recuperando minha memória aos poucos. Eu sinto que esses rapazes foram e são importantes para mim de alguma forma, por mais absurda que essa história de deuses e cavaleiros pareça.

— Eu não vim discutir seu passado, senhorita. Eu vim pedir para que tentemos mais uma vez ajudá-los. Se desejar isso de coração, é claro.

Saori suspirou.

— Sim, é o que eu desejo. Mas me diga, Miho, como? Como ajudar ex-cavaleiros sem ferir seus grandes egos?

— Abra a escritura — Miho pediu. — Terceira página, sexto parágrafo. Leia-o em voz alta, por favor.

Saori não gostou do tom de ordem de Miho e olhou os papeis com desconfiança, mas apanhou a primeira pasta e a folheou até encontrar a página indicada.

—“Cláusula vinte seis, parágrafo sexto da Constituição da Fundação Graad. Caso haja desocupação ou fechamento do imóvel que constituiu o Lar Starlight, deverá ser certificado que todos os residentes não fiquem em hipótese alguma desestruturados. Fica a cargo da Fundação Graad transferir, remanejar, realocar os órfãos ainda residentes. Certificar-se de que cada ex-residente esteja apropriadamente reinstalado. Em caso de descumprimento desta norma a escritura desta será alienada em garantia no nome dos residentes não reestruturados...”. — Saori fechou a pasta. — Isso significa?

— Isto significa, senhorita, que a casa onde funcionou o orfanato Starlight é por direito dos únicos residentes que não foram “reinstalados” em nenhum lugar. Nesse caso, não contam as crianças que estavam lá, já que todas foram remanejadas para outros orfanatos do grupo. Eu, porque fui adotada, como aconteceram com vários outros. Além daqueles que aceitaram receber ajuda da fundação em troca de prestação de serviços como a Seika, o Jabu, o Geki, o Nachi, o Ichi e o Ban. Resumindo, os únicos que restaram e não receberam nenhum tipo de baixa dos prontuários do orfanato foram esses. — Miho empurrou os cinco prontuários de arquivos sobre a mesa de Saori deixando-os mais perto dela. — É em nome desses cinco que a escritura da casa deverá ficar alienada.

Saori ficou em silêncio por um minuto, encarando os prontuários em sua frente, em seguida voltou a atenção para Miho.

— Bom trabalho.  

— Obrigada. Acho que minha obrigação agora sim está cumprida. Fica a cargo da senhorita tomar as medidas cabíveis para que os cinco rapazes dessas fichas recebam esse novo lar. Eu sugiro que peça para que seus advogados tomem conta do caso. Assim pode evitar que os ex-residentes recusem a transferência do imóvel pensando ser um donativo da rica Senhorita Kido — Miho se levantou e seguiu em direção da porta, com um leve sorriso adornando seus lábios. — Se me der licença, eu terminei.

— Estou impressionada com você, Miho — Saori a cumprimentou, antes que ela deixasse a sala. — Cumpriu muito bem com seu dever até o último instante.

— A senhorita tem razão, cumpri apenas com o meu dever. Eu agradeço a atenção, mas tenho que ir, meus pais estão me esperando.

— Vou ficar triste por perder uma funcionária como você. Mas fico feliz por ter vindo até aqui me nortear. — Saori finalmente sorriu. — Obrigada.

— Não precisa me agradecer, senhorita. Com licença.

Miho deixou a sala e a senhorita Kido apanhou as pastas na mesa. Lendo com os olhos os nomes impressos nas etiquetas:

— Shiryu, Ikki, Shun, Hyoga... Seiya.

...

Na praia, próxima a residência onde funcionara o orfanato.

— Onde esteve durante toda a manhã? — perguntou Seiya, levantando-se ao ver Miho se aproximar.

— Fui até a Mansão Kido entregar as chaves e a escritura da casa.

— Miho, seja sincera comigo, você não foi até lá falar de mim para Saori, né?

— Não se preocupe. Eu vi a Senhorita Kido somente de relance, ela sequer me cumprimentou. — mentiu.

— Fez muito bem.

— Tem certeza que ficará bem, Seiya?

— Eu já falei para parar de se preocupar comigo. É hora de cuidar de você. E eu quero que se cuide muito bem.

— Você é mesmo uma gracinha.

— Gracinha? Eu? Eca. Que meloso — ele reclamou, fazendo uma careta.

— Bobo — Miho sorriu.

Um táxi parou no acostamento da praia e buzinou, uma das janelas se abaixou e um senhor chamou pela jovem.

— Vamos, minha filha. Iremos perder o voo.

— Estou indo, papai.

Miho virou-se para Seiya, enlaçando o pescoço dele.

— Bom, é isso, hora da despedia. Prometa que irá se cuidar também? Que vai procurar um emprego melhor. Que vai escrever para seus amigos. E que vai visitar sua irmã. Promete?

— Prometo, prometo, prometo e prometo. Agora vai. Seus pais estão te esperando.

— Te amo, Seiya — ela declarou, acariciando o rosto dele. — Nunca vou esquecê-lo.

— É bom mesmo, gracinha — ele zombou, piscando um dos olhos e sorrindo alegremente — Me liga quando chegar, tá?

— Ligo.

Os dois se beijaram e depois de se desvencilharem do abraço, Seiya secou uma lágrima discreta que rolou pela face de Miho.

— Adeus, Seiya.

— Prefiro um “até breve”.

Miho assentiu, correu e adentrou o veículo rapidamente.

Dentro do carro já em movimento ela viu pelo retrovisor o orfanato, pelo qual tanto se dedicou, e o seu primeiro amor, se distanciarem, tornando-se cada vez menores, menores, até desaparecerem de vista.

“Vou recomeçar do zero, Seiya. Espero que ainda tenha forças dentro de si para recomeçar também.”

— Triste por ter que deixar Seiya, minha querida? — perguntou o pai.

— Sim, estou. Mas estou muito feliz por começar uma nova vida levando comigo cada momento maravilhoso que vivi aqui.

— É assim que se fala, querida — A mãe também tentou animá-la. — Agora é seguir em frente. A vida tem muito ainda o que lhe oferecer.

— Verdade, mamãe.

Tanto o pai quanto a mãe de Miho seguraram cada um em uma mão da filha, tentando transmitirem a ela a força que precisava. 

— Nós te amamos.

— Também amo vocês.

Miho sorriu satisfeita. Deixando seu peito inflar de uma certeza boa: que aquele recomeço não seria só seu.

Continua...

Revisão: Akito


Notas Finais


Finalmente, a repostagem de Os Garotos. Reformulado por mim e revisado inicialmente pelo meu amigo Akito.

Essa foi a minha fanfiction de estreia, postada no FanfictionNet em meados de 2007. Mas é uma história que nasceu na minha cabeça quando a série parou de ser transmitida na televisão pela primeira vez.

Tenho um carinho, não, mais do que isso, um amor especial por ela.

Mas, antes de tudo, gostaria de agradecer, aos meus seguidores fieis do FanfictionNet que me incentivaram e me ajudaram a sempre continuar e se não fosse por eles a fanfic não tinha ido adiante: Rafael Navarro (meu Choquito caramelizado com flocos crocantes, ajudante e incentivador número 01 de Os Garotos) e Naluza, fã, amiga e minha auxiliar de roteiro.

E também aos leitores: Zibel, Layza, Mabel, Rafael, Viih, Kami, Tino, Rafa, Akito, Akane, Matheus, Diih, Salomão, Serginho, Cardosinha, Anninha, Patrícia, Nath, Fafi, Leo! E claro, meu amado Cello e o mano dele Ique, que foram "fontes de inspiração".

Ufa. Tem muitos. Fieis e amados SEMPRE. Obrigada. Estarão sempre me meu coração, exatamente como essa fic.

Espero que essa história agrade aos meus novos leitores também.

Agradecimentos especiais também a Raquel Sumeragui pelo belo trabalho na comission que é a capa da fanfic. Parabéns pelo talento e pela linda fanart, Raquel!

Até o próximo! o/


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