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História Os Garotos - Capítulo 05 - Saindo De Uma Fria - Parte II


Escrita por: andreiakennen

Notas do Autor


Até que um dia o capítulo saiu! /o\

Capítulo 5 - Capítulo 05 - Saindo De Uma Fria - Parte II


Os Garotos

Por Andréia Kennen

Capítulo V

Saindo De Uma Fria - Parte II

Pela manhã, Hyoga contou a Anna sobre sua mudança de planos e que aceitava o convite para jantar na residência do ancião da Vila. Eufórica, a tutora não esperou Hyoga expor suas razões e passou a andar de um lado para outro comemorando.

— Eu sabia, Hyoga! Eu sabia! Eu sabia que mudaria de ideia — exclamava, com um sorriso que não cabia no rosto. — Vamos para a cidade imediatamente. Precisamos fazer compras. Você precisa comprar um presente para cada uma de suas pretendentes a noiva e precisa também comprar uma roupa bonita para o seu noivado.

— Anna, não, espera. Eu não terminei de falar ainda.

— Não temos tempo a perder — ela avisou, apanhando Hyoga pelo o braço e puxando-o para fora da casa. — Seja o que for você pode ir falando no caminho.

— Anna, espera, por favor...

— Uma gravata, um lindo fraque negro e o que mais? Ah! Um chapéu! Chapéus são elegantes, você precisa de um chapéu.

— Quem diabo usa chapéu nesse século?

...

A notícia de que Hyoga havia aceitado jantar com os Kaiovisk espalhou rapidamente pela vila como a neve em uma tempestade.

— A cidade está em alvoroço, meu senhor — anunciou a governanta da família Kaiovisk enquanto servia o café ao patrão. — Eu fui comprar ovos e vi nosso futuro governante cercado de curiosos na rua.

O governante da vila era um senhor de barba longa e branca, tinha uma barriga avantajada e media em torno de um metro e meio de altura. Os olhos azuis eram miúdos e fundos, quase sumiam em meio às sobrancelhas grossas e as rugas em seu rosto.

O senhor Kaiovisk pareceu não dar a importância exacerbada a notícia da empregada e continuou tomando seu café calmamente.

Porém, Ernine, a neta mais velha, demonstrou interesse. Na verdade, era preocupação que permeavam seus olhos cinza.

— E o que será que ele veio fazer tão cedo na cidade, Katrina? — perguntou tentando não transparecer toda a sua aflição.

— Pelo que entendi, — empolgou-se a governanta ao perceber interesse de alguém em sua fofoca, parando ao lado da jovem com a garrafa de café em mãos. — ele está fazendo compras, senhorita — complementou. — Eu o vi com sacolas de presentes saindo de dentro de uma loja.

— Presentes... — sussurrou a caçula Anne, depois de pousar seu chá com leite no pires em um gesto delicado e gracioso, digno da beleza da qual era dotada.

Todos que conheciam a caçula da família diziam que Anne podia ser facilmente confundida com uma boneca. Ela já se vestia com uma, com seus vestidos longos e de tons claros, — branco, azul-claro, rosa-claro, lilás —, rendado ou bordado com flores, estrelas, borboletas, pedras, pequenos laços. As mãos estavam sempre enluvadas e fitas ornamentavam seus longos, lisos e prateados cabelos. Tanto as fitas do cabelo quanto as luvas combinavam com a cor do vestido e, naquele dia, ela usava rosa. Anne era alta para idade que tinha, esbelta e os olhos eram de um tom azul oceano, com grandes cílios escuros, emoldurados por um rosto rosado e lábios pequenos e bem desenhados.

As quatro meninas eram dotadas de uma beleza peculiar e uma personalidade mais particular ainda. Todas estavam à mesa naquele momento. Elian comia biscoitos sem tanta graciosidade. Ela era a mais baixa das irmãs, corpulenta, tinha os traços do avô, cabelos castanhos, até os ombros, com franja, os olhos azuis eram de um tom castanho esverdeado, pequenos e fundos.

Anina, a segunda mais velha, detestava vestidos, por isso ela estava sempre vestida com calça jeans ou de couro em tamanhos desproporcionais ao seu corpo magro, os tons escuros predominavam, preto, marrom, grafite, botas cano longo, jaqueta e um chapéu preto estilo “cowboy”. Seus cabelos, que também eram loiros prateados como de Anne, eram ondulados, e viviam presos em uma trança que passava o seu quadril. Os olhos eram azuis, espertos, ligeiros e sempre atentos a tudo a sua volta. Anina comia rápido, enquanto observava atentamente os movimentos e os comentários de todos à mesa, parecia ser a mais elétrica das quatro.

— Tenho certeza que escolhi um bom homem — pronunciou-se o governante em um tom de voz grave, chamando a atenção de todas suas netas. — Hyoga governará com justiça e harmonia assim como venho fazendo.

— Vovozinho, me dá um dinheiro para eu comprar doces? — pediu Anina, mudando de assunto, usando de seu charme de moleca para persuadir o avô.

— Não está muito cedo para doces, Nina? — a governanta censurou o pedido antes que o ancião respondesse.

— Por favor, vovô? — Anina insistiu, ignorando o comentário de Katrina.  

O governante revirou um dos bolsos e trouxe uma das mãos cheias de moedas as quais depositou nas mãos da neta que já estavam estendidas ao seu lado.

— Não exagere, querida — orientou ele.

— Pode deixar, vovozinho. — A menina deu um beijo estalado na bochecha barbuda do ancião e saiu da mesa do café saltitando. — Te amo!

— Essa moleca é terrível — reclamou a governanta da casa. — Ela só age toda melosa quando quer alguma coisa.

— Deixe-a ser criança, Katrina.

— Mas veja bem, meu senhor — a criada apontou o suco e as panquecas intocados sobre a mesa. — Saiu feito um furacão e sequer se preocupou em terminar o café da manhã.

Mas a preocupação do senhor Kaiovisk não estava em Anina e sim em sua neta mais velha, Ernine. Ele percebera que há alguns dias a mais velha parecia muito abatida.

“O que será que está acontecendo com essa menina?”

...

No centro da vila, Anina seguia sorrateiramente os passos de Hyoga e Anna. Sair para comprar doces era somente uma desculpa. A dupla entrou em uma loja de roupas e a menina entrou no encalço dos dois, se escondendo em meio a uma arara de vestidos. Ela tentava ouvir o que conversavam e encontrar alguma informação que pudesse ajudá-la a salvar a pele da irmã.

— Esse também é lindo, não acha, Hyoga? — perguntou Anna, retirando um vestido azul da arara e colocando na frente do seu corpo.

— Anna, é sério, quer me ouvir?

— Não, eu não quero — respondeu mal-humorada e devolveu o vestido a arara. — Tem razão, esse azul é estranho.

— É importante.

— Se for sobre o seu futuro noivado eu serei toda ouvidos. Mas se seu enunciado conter as palavradas: “telegrama” e “Japão”, esqueça! Eu sou surda.

“Telegrama e Japão?”, repetiu Nina começando a gostar do rumo daquela conversa. “Japão não é onde o Alexei morou muito tempo?”.

Tentou pular de uma arara pra outra ao notar que a dupla se afastava.

— Anna, você disse que me ouviria.

— Seja sincero comigo Hyoga — pediu a tutora, voltando-se para encará-lo. — Existe alguém, não existe?

A pergunta pegou Hyoga desprevenido. Ele retesou-se, sentindo o rosto queimar de vergonha, apesar da temperatura abaixo de zero da região.

“Então é isso. Existe alguém na vida dele: um amor que ficou no Japão? Ele não quer se casar?”, Anina comemorava sozinha.

A vendedora aproximou-se da dupla ao notar que eles pareciam indecisos e até discutiam.

— Será que posso ajudá-los? Tem essa linda peça aqui que daria um ótimo presente e... — a vendedora se deteve sobressaltada ao retirar o sobretudo do suporte e dar de cara com uma das netas do governante da vila.

— Senhorita Anina? O que faz aí?

— Ops... — ela esboçou um sorriso forçado ao ser descoberta e levantou-se um tanto sem graça. — E- e- e eu... — gaguejou sem saber ao certo o que responder, enquanto movia seus olhos ligeiros pelo ambiente, à procura de uma boa desculpa.

— Ah! Eu estava atrás daquele vestido — ela apontou o azul pego por Anna pouco antes. — Algo diferente para o jantar de hoje à noite. Mas percebi que não tenho dinheiro suficiente. É isso. Bem. Tenham um bom dia, vou indo!

E saiu da loja como uma bala, deixando Anna, Hyoga e a vendedora confusos.

...

Anina entrou como um furacão dentro de casa e sequer notou que havia visitas na sala, apenas avistou a irmã mais velha, agarrou-a pelo pulso e saiu puxando-a.

— Vem rápido, Nine. Tenho algo urgente para te contar.

Ernine parou e puxou o seu braço de volta.

— Espere, Nina — pediu a mais velha, ficando onde estava. — Temos visita — incluiu o aviso. — Seja educada e os cumprimente primeiro.

Não precisou que Anina se voltasse para onde a visita estava para entender de quem se tratava, bastava ela levar em consideração o rosto vermelho da irmã mais velha. Mas cumprindo o protocolo, girou nos calcanhares e voltou-se para sala onde o casal Hignovisk e os filhos, Alexandre e Alexandra, encontravam-se em pé e curvou o corpo para frente, dizendo de forma extremamente pomposa.

— Bom dia. Honram-nos com vossa presença, Família Hignovisk.

— Como está, Anina? — Leyla, a senhora Hignovisk, perguntou de forma polida.

Os demais apenas acenaram com a cabeça.

— Bem senhora, obrigada.

— Onde estão os doces querida? — perguntou o Sr. Kaiovisk, curioso, ao perceber que a neta voltara da rua de mãos vazias.

— Os doces? Ah? Ah, sim, os doces. Bem, não tinha aqueles que eu gosto, sabe, vovô? Quer o dinheiro de volta? — perguntou sorrindo, enfiando a mão em um dos bolsos da calça jeans com a intenção de pegar as moedas mesmo sabendo qual seria a resposta do avô.

— Fique com o dinheiro, querida. Compre mais tarde.

— Obrigada, vovô. Agora, se me derem licença, vou subir, eu tenho que... pentear os cabelos das minhas bonecas. — Abriu um sorriso avantajado e olhou para irmã.

Todos concordaram com um menear de cabeça. Mas bastou que Anina desaparecesse escadarias acima para que Ernine inventasse também uma desculpa qualquer e seguisse no encalço da mais nova. Havia ficado curiosa com a novidade (fofoca) que ela trouxera da rua.

Alexandre acompanhou os passos apressados da garota por quem estava apaixonado, ficou um tanto decepcionado por ela ter se retirado de forma abrupta. Mas tentou disfarçar seu olhar desolado ao notar que a irmã, Alexandra, o observava de canto de olho.

Quanto aos pais do rapaz, ambos concordaram com a saída das duas moças e se voltaram para retomarem o assunto de antes com o governante da vila.

...

Ernine entrou no quarto da irmã mais nova e encostou-se à porta, suspirando.

— Meu coração está batendo tão depressa — ela constatou ao repousar a mão sobre o peito.

— Ele não quer se casar, Nine!

— Quem não quer?

— O Alexei.

— Como você descobriu isso?

— Escutei uma conversa dele com a Anna. Pelo que entendi, o Alexei está apaixonado por alguém que ele conheceu no Japão.

O rosto de Ernine corou e ela cobriu a boca com ambas as mãos.

— Não creio.

— Acredite, mana — assentiu a mais nova, explodindo de alegria, chacoalhando a irmã pelos ombros.

— Não consigo acreditar, Nina... — repetiu, ainda em choque. — Estamos na mesma situação então?

— Praticamente. E parece que quem está forçando a barra é a tal da Anna. O destino está mesmo do seu lado, mana.

— É o milagre que eu estava esperando. Você é mesmo incrível por ter descoberto isso, Nina! — comemorou Ernine, eufórica, abraçando a mais nova. — Jamais pensei nessa possibilidade dele também estar apaixonado por outra pessoa. Tenho que contar a novidade para o Alexandre e...

— Eu acho que não tem como fazer isso ainda, Nine — a mais nova desanimou a mais velha. — Apesar de o Alexei não querer, a tutora está fazendo de tudo para convencê-lo, não temos certeza que ele não vai aceitar a proposta do vovô. Até porque, ele aceitou vir no jantar, não foi?

Os ombros de Ernine voltaram a pesar e o ânimo dela esvaiu-se.

— Será que ele aceitaria só porque a tutora assim o quer?

— Se ele aceitou vir ao jantar de noivado, temos que ponderar essa possibilidade. Mas, mana, sabermos que ele pensa em outra pessoa já é uma grande notícia.

— Não consigo enxergar mais o quão boa é essa notícia, minha irmã. Se ele aceitar se casar mesmo gostando de outra pessoa, só teremos algo em comum para compartilhar mais tarde: os corações partidos.

— Eu já acho que ele pode se unir a nós em um plano.

— Se unir a nós em um plano? — Ernine repetiu incrédula e bateu as mãos ao longo do corpo, revirando os olhos em seguida. — O que somos afinal, Nina? Agentes do governo Russo?

— Será que pode pelo menos me ouvir?

— Certo. Fale — permitiu ela, cruzando os braços sobre os seios. — Você vai falar mesmo que eu diga não.

— Ok. Escuta. Hoje à noite, na hora do jantar, cada uma de nós ficará um momento a sós com o cavaleiro e...

— Como você sabe disso? — Ernine interrompeu a caçula.

— Será que você não sabe que as paredes têm ouvidos?

Ernine negou com a cabeça, por que ela não havia deduzido algo tão óbvio da sua irmã mais espevitada?

— Certo. Conta logo esse bendito plano.

— Ok! É o seguinte...

...

Enquanto Anina narrava seu plano para irmã no quarto, na sala, outra discussão se formava em torno do mesmo assunto.

— Acha mesmo prudente, senhor Kaiovisk, colocar um rapaz como ele no poder? Todos na vila estão apreensivos quanto ao temperamento desse rapaz. Já sabemos do seu passado trágico. Alguém que não teve o amor de uma família não pode estar completamente seguro de seus princípios.

— Hyoga é um jovem muito destemido, Leyla. Eu confio nele — respondeu o ancião no seu comum tom de amenidade, sem acrescentar grandes justificativas.

— Mas a preocupação da minha esposa não deixa de ser infundada, Senhor Kaiovisk — falou o pai da família. — Todos nós sabemos que o jovem Hyoga foi um guerreiro destemido, e que ele possui um grande dever para com a humanidade, assim como Cristal teve. Mas também sabemos que o dever de cavaleiro está acima de qualquer posição para esses soldados. Caso estoure uma guerra, ele será convocado para cumprir o seu dever e deixará a vila e os nossos moradores a mercê do destino. Então, como evitaremos que o caos se instaure sem um governante?

— Se isso acontecer, Argor, seu filho, Alexandre, como vice-governante, estará aqui para assumir a vila.

— É o que eu estou dizendo e... — Argor se deteve depois de processar em sua mente o que o senhor Kaiovisk havia dito. Não só ele, mas todos da família se voltaram para o ancião boquiabertos.

— Espere um minuto — pediu Leyla. — Perdoe-me, o que senhor disse?

— Isso mesmo que ouviu, Leyla. Eu não me esqueci de Alexandre — explicou o ancião, dando uma piscadela para o rapaz ao lado do pai. — Sei muito bem das pretensões de vossa família e o quanto se empenharam para criar seus filhos para serem pessoas importantes. Eu quero que Alexandre aceite o humilde convite de governar ao lado de Hyoga, como vice-governador de Kohoutek. Meu genro era o vice-governador, mas o destino o levou junto com minha querida filha, desde então eu decidi governar sozinho, mas é um cargo que deve ser preenchido. Eu preferi Hyoga no primeiro cargo porque eu queria alguém com sua audácia, mas acima de tudo, com sua sensibilidade e o senso de justiça adquirido por ser um guerreiro. Seu filho é um jovem inteligente e imponente, mas assim como os pais, possui um egocentrismo elevado, o que não é aprovável para um governo justo. Não devemos nos apegar aos luxos que não existe nessa vila, Leyla, Argor — o governante pontuou, olhando de um para o outro. — Todos aqui são pessoas muito humildes e o que precisamos é de um governante que governe com a mesma simplicidade do seu povo. Por isso, eu acredito que seu filho e Hyoga se completaram, quero os dois trabalhando lado a lado. Eu pretendia anunciar isso no jantar de hoje à noite. Mas vejo que me fizeram estragar a surpresa — completou o ancião, dando uma risadinha ao final.

Os membros da família Hignovisk ficaram bastante surpresos e encabulados. Mesmo assim, a senhora Hignovisk não se sentiu satisfeita com o fato de seu filho ser subordinado a alguém de nível inferior ao da sua família. Acabou elevando o nariz e ficando ainda mais ereta frente ao constrangimento e a constatação óbvia de que sua família almejava o poder. Todavia, por hora, era melhor aquele cargo inferior do que nada.

— E quanto ao casamento, senhor Kaiovisk? — indagou ela, arrancando surpresa dos presentes. — Acho que meu filho também está no direito de escolher uma das suas netas para se casar não acha?

O ancião voltou a ficar sério.

— Minhas netas não estão expostas para brinde, Leyla. Eu apenas ofereci essa honra ao governante em memória a mãe do rapaz. Uma jovem que era admirada por minha filha Helena, e por mim também, devido sua grande beleza e pela força que teve para criar seu filho sozinha em tempos difíceis; perante todos os preconceitos da nossa sociedade na época. Acredito que Hyoga tem as mesmas qualidades de Natássia, por isso eu o achei um bom rapaz para uma das minhas netas. E o matrimônio entre eles manterá a linhagem da família no governo. Já que não fui abençoado com um neto homem. Claro que o casamento só acontecerá se ele aceitar e se a escolhida também aceitar se casar. Mas já conversei com as minhas netas e todas concordaram, foi esse o motivo que me levou a propor o casamento.

— Todas? — interrogou Alexandre, um tanto perplexo, entrando na conversa de maneira. — Tem certeza disso, senhor? — ele precisava confirmar, cerrando os punhos, sentindo que a raiva estava fazendo o sangue em suas veias ferver.

O senhor Kaiovisk não respondeu imediatamente aquela pergunta, observou atento a alteração de Alexandre. Em seguida, tornou seu olhar para os pais que pareciam assustados com o questionamento ríspido do filho.

— Será que podem me explicar o que está acontecendo? — pediu o governante.

— Eu vou dizer o que está acontecendo, senhor Kaiovisk, eu sou... — mas a explicação de Alexandre foi cortada pelo pai.

— Meu filho, se recomponha!

— Mas, pai, eu...

— Eu acho que o senhor Kaiovisk tem muitos afazeres no momento. Não iremos mais tomar seu tempo. Ele já nos deu sua resposta quanto ao casamento. O mais importante é que você será o vice-governante da vila. Melhor nos retirarmos por hora.

O rapaz abaixou a cabeça e resignou-se com a ordem do pai. Mas seu real desejo era de gritar que amava Ernine e que queria se casar com ela. Estava com medo de perdê-la. O ancião havia dito que todas as netas aceitaram aquela ideia absurda de deixar que Alexei escolhesse uma delas para desposar. Se fosse verdade, talvez, até mesmo sua Ernine, estivesse caindo pelos encantos daquele forasteiro.

Crispou as mãos com mais força, sentindo que seu ódio por Alexei aumentava a cada minuto.

...

No quarto.

— Você está maluca, Anina? Eu não posso falar algo desse tipo jamais!

— E por que não, Nine? Elian e Anne concordaram com o meu plano.

— Eu não posso, não posso. Isso causaria o maior alvoroço entre os moradores e isso também seria uma desonra a nossa família.

— Nine, você não entendeu. É uma mentirinha boba. Você não irá desonrar nada e nem ninguém se não estiver de verdade. Apenas minta para o cavaleiro para que ele não a escolha.

— E se ele não quiser guardar o segredo? E se ele decidir contar ao vovô toda essa história maluca que inventamos?

— Mana, ele ama outra pessoa, assim como você. Use seus argumentos e ele a entenderá. Seja dramática como são os que amam, oras!

— Mas eu ainda acredito na verdade acima de tudo, Nina. Mentir nunca foi a melhor solução.

— Será por uma boa causa. Acredite em mim. Será um alívio para ambos.

As duas ouviram o barulho da porta se abrindo no piso debaixo da mansão e se levantam ao mesmo tempo, seguindo para a janela e de lá viram a família Hignovisk se despedindo do avô. Ernine sentiu algo apertar em seu peito ao ver seu amado Alexandre estranhamente cabisbaixo.

— Alexandre, por que está tão triste, meu amor? Você não desistiu de mim, não é?

— É, mana... Alexandre não tem muito que fazer nas circunstâncias que se encontra, ainda mais, sem o apoio da garota que ama. Mas você tem o poder de escolha em suas mãos, pense bem antes de deixar tudo como está.

...

A noite chegou e a maioria dos moradores do vilarejo Kohoutek estavam presentes no casarão da família Kaiovisk. Os convidados vestiam seus melhores trajes para o que seria uma comemoração memorável.

O ancião, anfitrião da casa, recebia seus convidados alegremente ao lado de suas quatro belas netas. A mais velha delas, Ernine Kaiovisk, usava um brilhante vestido azul com decote, justo ao corpo, bordado com pedras e que ressaltava suas curvas. No pescoço a jovem tinha uma bela estola de pele de urso polar branco e em sua cabeça uma tiara brilhante enfeitava seus longos cabelos cacheados. Elian Kaiovisk vestia suas roupas simples de sempre, um vestido de cor cinza — que lembrava o uniforme de uma doméstica — com um casaco preto por cima, o cabelo curto solto, preso por uma tiara lisa preta e grossa, deixando-a com o ar de “Alice no País das maravilhas”. Anne, com sua beleza descomunal, sorria e acenava para todos, estava vestida graciosamente como a boneca que era, com um vestido na cor champanhe, longo e rendado. Suas luvas de rendas brancas iam até os cotovelos e um lindo laço branco prendia um pouco do seu volumoso e brilhante cabelo no alto da cabeça. Anina Kaiovisk era a única que não usava um vestido, ela estava com uma calça de couro preta, muito justa no corpo, uma camisa branca com os primeiros botões abertos e um lenço preto na gola, blazer preto e as botas pretas bem envernizadas, além do seu inseparável chapéu de “cowboy”. Os longos cabelos prateados e ondulados estavam presos como sempre em uma grande trança. Todas pareciam inconfundivelmente alegres, para felicidade do ancião.

Do lado de fora, Anna chegava de braços dado com Hyoga.

— Anna, estou te pedindo pela última vez, por favor, me ouve!

— Parece que todos já chegaram, fale depois, Hyoga. Venha, vamos entrar.

— Não, eu não vou. Eu quero que me escute agora!

Anna se deteve, desenroscou seu braço em torno do de Hyoga e soltou um breve suspiro, não podia mais ignorá-lo.

— Não quer mesmo se casar, não é?

— Eu não queria magoá-la, Anna. Mas eu quero que entenda: meu coração não está mais aqui nesse vilarejo. Eu amo o lugar que nasci sim, mas meus planos sinceramente não envolvem casar aos dezessete anos, ter filhos aos dezoito, viver uma vida em uma vila pacata, envelhecendo ao lado de uma família que não desejei. Apesar de todo esse frio, meu sangue ferve. Eu não conseguiria viver tão tranquilamente assim.

— Eu achei que tudo isso fosse o melhor pra você, Hyoga.

— Não, Anna. Isso tudo era o melhor para você.

Anna encarou Hyoga com estranheza.

— Perdoe-me por ser rude.

A tutora de Hyoga soltou um novo suspiro e então sorriu docemente, meneando a cabeça em negação.

— Não tem do que se desculpar, Hyoga. Você está absolutamente certo. Todo esse alvoroço que estamos vivendo nesses últimos dias, toda essa badalação, na verdade, foi tudo o que eu sempre busquei pra mim — ela confessou, sorrindo mais aliviada com a declaração. — Uma família de grande nome, prestígio, posição social e ser reconhecida por onde eu passasse sempre foi um grande sonho, desde mais nova. Eu achei que você vivendo este sonho no meu lugar eu estaria me realizando. Mas em nenhum momento eu levei em consideração seus próprios sonhos. — Anna parou para limpar com a ponta dos dedos as lágrimas que ameaçavam cair. — Eu envelheci Hyoga. Enquanto sua mãe permanece bela e jovem no fundo daquele mar congelado. E dentro desse magnífico azul dos seus olhos eu percebi que ela tem muito mais vida do que eu tenho agora. Em nossa juventude, enquanto eu buscava grandes pretendentes para um casamento de classe, Natássia se entregou com todo seu coração ao primeiro forasteiro por quem se apaixonou, vivendo tão intensamente aquele amor como nenhuma outra pessoa poderia ter vivido.

Anna sorriu e não pode mais conter as lágrimas. Hyoga a observava com carinho.

— A maior prova disso está aqui, bem na minha frente. Você, Hyoga. Agora percebo o quanto eu invejei Natássia. Tanto, que não pude nem formar minha própria família e ainda continuo a invejando por ter deixado um filho maravilhoso como você.

— Anna, não chore, por favor — Hyoga pediu, levando a dedo indicador até o rosto da mulher e amparando a lágrima que corria. — Está cortando meu coração.

— Mesmo eu tendo feito de tudo para impedir sua mãe naquela época, Natássia decidiu que iria para o Japão. Ela dizia que estava disposta a seguir pelo caminho que seu coração ordenasse ela trilhar. E eu sei que você, como filho dela, vai tomar o mesmo rumo. Aliás, como já tomou sua decisão. E quando você fala parece que estou ouvindo ela me repetindo as mesmas palavras com a convicção e a força de quem sabe o quer.

— Anna... — Hyoga sorriu, olhando ternamente aquela mulher que fora amiga da sua mãe no passado e que guardou durante muito tempo um sentimento especial por ela.

— Ela foi a minha melhor amiga — Anna declarou, tocando o rosto de Hyoga. — Doeu muito perdê-la. Vai ser muito doloroso ficar sem você também. Mas se o seu coração é quem vai ditar o caminho que você irá guiar, então siga-o para onde ele estiver indo, meu querido. Mas tenha cuidado para não ter o mesmo destino trágico que a sua mãe.

— Eu prometo que não vou — Hyoga a abraçou fortemente. — Sei que não sou seu filho, mas quero que saiba que a considero como uma segunda mãe. Por isso, era muito importante que você entendesse meus sentimentos. Sei que agora, mamãe está nos ouvindo, e deve estar muito feliz por saber que sua melhor amiga ainda não a abandonou.

Anna concordou com um balançar de cabeça.

— É, agora eu entendo. Vá — autorizou ela, desvencilhando do abraço. — Vá e diga ao senhor destino que não quer se casar. Diga que irá seguir seu próprio coração. Mas use palavras prudentes, eu ainda viverei nessa vila pelo resto dos meus dias e não quero ser apontada como a responsável pelo rapaz rebelde e mal-agradecido que esnobou a honra de governar a vila.

— Pode deixar, Anna. Eu vou falar com o Senhor Kaiovisk em particular e recusarei o pedido da forma mais elegante o possível.

— Boa sorte, meu filho.

— Não vai entrar?

— Não, não, eu acho que vou para casa. Eu descobri que todo este luxo não me atrai mais. Perdi muito tempo atrás disso, Hyoga. Tanto, que agora parece que não tem mais tanta importância. Eu acho que de agora em diante irei buscar meu próprio sonho.

Hyoga depositou um beijo na testa da tutora.

— Obrigado, Anna.

— Vai, meu filho, vai — Anna se despediu do rapaz, vendo-o adentrar o casarão determinado.

Depois disso, ela deu as costas para o lugar, ajeitou o cachecol no pescoço e voltou para a rua. O tempo estava ameno e o céu limpo e estrelado.

— Você deve estar muito orgulhosa, Natássia. Seu filho além de ter herdado toda sua beleza, puxou toda sua teimosia — concluiu com aquele comentário, sorrindo para o céu pontilhado por estrelas.

Continua...

Revisão e Suporte do enredo: Nalu.


Notas Finais


Eu sei, gente, eu demorei um século com essa atualização. T^T

Mas eu quero que saibam que eu realmente amo esse meu trabalho e não vou abandoná-lo. Foi minha primeira fic, minha primeira filha, então meu amor por ela é único. Por isso não pretendo me afobar, quero continuar escrevendo com calma para não deixar mais furos como fiz na primeira postagem.

E, sinceramente, estou gostando e muito de fazer essa respostagem e da revisão que estou fazendo nesse trabalho. Me faz recordar de como eu era lá atrás e perceber, com certo orgulho, que eu ainda tenho muito da escritora daquela época, ainda penso da mesma forma em relação ao enredo, tanto que não estou mexendo em quase nada na estrutura e, o mais importante que isso, me faz lembrar que ainda sou apaixonada pelo Os Garotos e pelos meus amados bronze boys saints.

Então, quem tiver paciência de querer acompanhar, fica o convite.

Obviamente não acho justo com vocês a demora na atualização, por isso estou tentando melhorar esse quesito e incluir a historia na minha rotina de atualizações.

Também recebi o pedido de MP para continuar a segunda temporada que está parada lá no ffnet. Eu estou estudando com carinho a retomada da segunda temporada, mas, não vou prometer para esse ano.

Nesse capítulo, conhecemos um pouco melhor as pretendes a casamento de Hyoga e as quatro netas do governante da vila.

No próximo a parte final dessa saga. No sétimo capítulo viajaremos para Os Cinco Picos Antigos para revermos o Shiryu.

Bom fim semana!

Beijos! o/


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