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História Fantasma - Inferno


Escrita por: lohanacarter

Capítulo 3 - Inferno


Fanfic / Fanfiction Fantasma - Inferno

Cloe ficou bastante aliviada por logo no começo já ser considerada uma aberração. Ela fingia não perceber, mas era impossível deixar de notar como todos os alunos olhavam para a esquisitona de blusa e capuz em dia quente e abafado. Também fingia não ouvir comentários maldosos sobre si quando passava por um grupo de amigas.

Era extremamente desagradável, sem dúvida. Mas era muito melhor do que ter alguém a quem se apegar naquele lugar. Cloe não achava apropriado que fizesse amizades. Ela sabia os riscos que isso implicava. Sabia o quanto uma pessoa poderia estar se colocando em risco apenas por ser sua amiga.

Sweet Amoris era um lugar completamente carregado de vibrações ruins. Claro que War & Peace, seu antigo “colégio”, era muito pior nesse quesito. Por ser um colégio exclusivo para crianças com distúrbios mentais, eles eram muito comuns por ali. A cada corredor escuro, Cloe ouvia seus sussurros tenebrosos. Ouvia seus risos diabólicos, ou então seus gritos de desespero. Dependia muito da entidade que estava por perto.

Mas seu novo colégio, apesar de ser mais tranqüilo em questão de entidades que perambulavam por aí, também era bastante carregado. Não era difícil Cloe sentir uma dessas coisas deslizando do seu lado. Muitas pareciam bastante inofensivas, mas algumas pareciam ser maléficas e Cloe fazia o possível para fingir que não era capaz de vê-las. Já fora um baita esforço conseguir se livrar de War & Peace fingindo não ver mais espíritos, agindo como se eles não existissem e como se os remédios amargos (e outras formas de tratamento que ela preferia nem se lembrar) que tomava na época a estivessem fazendo efeito.

Mas o primeiro dia de aula em Sweet Amoris ainda fazia Cloe se arrepiar apenas de se lembrar.

Quando entrara na sala dos representantes, conhecera Nathaniel. Cloe já havia prometido a si mesma que não iria mais ligar para as entidades que deslizavam sempre por todo lugar, iria fingir que elas não existiam e ser só uma excluída normal em um colégio normal. Era isso que ela queria.

Estava com essa decisão na cabeça quando aquela figura negra, de sorriso cruel e olhos vermelhos começou a flutuar diante de si, bem atrás de Nathaniel. A figura parecia vestir um manto negro, o rosto sempre sombreado. Apenas conseguia ver o sorriso cruel e os olhos escarlates e brilhantes. Poderia até ter ignorado, se não fosse aquele ser o assassino de sua família. Não era uma entidade muito fácil de esquecer.

– Srta. Tally? Srta. Tally! – a professora chamou-a, fazendo Cloe assustar-se e olhar para frente. Estivera tão distraída em seus próprios pensamentos que nem se deu conta de que a professora estava ao seu lado com um claro olhar de reprovação, então ela atrapalhou-se e virou-se para o lado. – Pare de sonhar acordada! Abra o livro, estávamos lendo sobre a Guerra Fria na página duzentos e trinta e cinco.

A sala inteira riu, o que fez Cloe sentir as bochechas enrubescerem.

– Desculpe – murmurou, pegando o livro embaixo da mesa. A professora lançou-lhe mais um olhar e então assentiu lentamente com a cabeça enquanto ela abria o livro na página indicada. Cloe apertou os lábios e concentrou a visão numa ilustração do livro e a professora finalmente havia ido embora, voltando a dar aula na frente da sala. Cloe acompanhou a leitura, mas não se concentrou em seu conteúdo.

~x~

– Tudo bem com você?

O sinal do intervalo acabara de tocar. Cloe estava guardando suas coisas para poder sair da sala de aula quando ouviu uma voz masculina falar com ela. Ao olhar para cima, deparou-se com um rapaz de cabelos prateados e pontas negras, num corte irregular, mas que combinava bastante com o estilo vitoriano o qual o mesmo trajava. Cloe deparou-se com os olhos bicolores do garoto, um amarelado e o outro verde.

Cloe piscou algumas vezes para ter certeza de que era com ela que ele estava falando. Mas pelo visto, sim, era com ela. Só havia os dois na sala de aula agora.

– Estou ótima – respondeu Cloe, jogando a mochila sobre o ombro.

Isso não pareceu convencer o garoto, que ergueu uma sobrancelha com a resposta.

– Olhe, eu não vim aqui me meter na sua vida – ele esclareceu. Cloe apertou os lábios e a alça da mochila, desconfortável. – Eu só achei que... Você não parecia estar passando muito bem quando a terceira aula começou.

Ah, fora naquele momento que entrara a entidade que tanto assustava Cloe. Havia muito tempo que ela não via. Depois que sua casa ardeu em chamas com sua família dentro, ainda foi atormentada por aquela entidade por alguns meses no colégio interno. Mas depois ele havia sumido, e agora retornara para lhe tirar a paz. Cloe só não entendia o motivo para ele ter voltado.

No momento ele não estava lá. Sumira tão rápido quanto aparecera.

– Eu... – ela negou com a cabeça. – Não é nada. Acho que fiquei um pouco sem ar, apenas. Mas vou melhorar.

Certamente sua resposta fora bastante insegura, porque mais uma vez ele não pareceu convencido. Mas Cloe quase suspirou de alívio quando ele pareceu não insistir em perguntas.

– Entendo... Olhe, se começar a passar mal é melhor pedir para o professor te deixar sair um pouco – ele lhe disse, abrindo um pequeno e agradável sorriso. – Eu ainda não apresentei. Meu nome é Lysandre, encantado. – Com uma breve vênia com a cabeça e um sorriso lindo e agradável, Lysandre parecia um legítimo gentleman vitoriano. Quase um príncipe.

– Cloe Tally – respondeu, tentando abrir um pequeno sorriso para não ser mal educada.

Lysandre parecia ser um rapaz muito simpático e prestativo. Talvez outra garota se sentisse extremamente atraída pelo rapaz bonito de sorriso gentil, mas não Cloe. Não que isso a desagradasse, mas ela sabia que não devia fazer amigos. Não ali. Sua família já fora eliminada por uma entidade maligna, não podia arriscar ninguém que quisesse ser seu amigo.

– Então não precisa ir até a enfermaria, precisa? – ele perguntou. Cloe apertou os lábios e negou com a cabeça.

– Não. Mas é gentil da sua parte se preocupar – ela se lembrou de acrescentar, antes que ele que a achasse, além de estranha, mal educada. – Muito obrigada. Se eu sair agora pra tomar um ar vou ficar bem.

Cloe deu mais um de seus sorrisos tímidos e atrapalhados e saiu apressada da sala. Pensou em encontrar algum local menos movimentado para que pudesse comer em paz, sem ninguém olhando para ela. Ela começara a lanchar no jardim, porque lá estava sempre vazio, mas naquele dia o clube de jardinagem parecia ter escolhido justamente a hora do intervalo para fazer algumas atividades extras do clube. E ela, claro, não ficaria ali.

Mas a garagem poderia estar vazia. Cloe já estava se dirigindo para lá quando bateu em alguma coisa. Alguém, na verdade; uma garota de cabelos louros e ondulados e grandes olhos verdes. A primeira vista ela parecia uma garota que gostava de mostrar a todos que estava lá, com aqueles brincos argola com pedras verdes, horrorosos, e uma blusa bege com cinto bastante chamativa. Cloe não conversara com ela uma única vez, mas ela era da sua sala e as professoras chamavam muito seu nome para chamar a sua atenção enquanto ela se maquiava ou fofocava durante a aula. Ambre.

– Olha, então essa é a aberração nova do colégio – Ambre mediu-a de cima a baixo, com um sorriso malvado e um olhar que não era um dos melhores. – Que foi fofa? Você tem algum problema? Sabe, num dia de calor como esse... Eu não vejo pessoas usando blusas de manga longa.

Cloe respirou fundo e trincou os dentes por baixo dos lábios, mas tentou passar e ignorar a provocação. Claro que Ambre não deixou.

– Não é educado não responder as pessoas! – Ambre disse, com um ar falsamente ofendido. Cloe ignorou mais uma vez e tentou passar – Olha aqui, pequena aberração. Eu falei com você!

Ambre puxou Cloe por seu braço fino. A loura era mais alta e tinha mais corpo do que ela, e parecia até mais forte enquanto apertava o seu braço.

– Ambre, vamos embora – uma de suas amigas – Charlotte, se Cloe bem lembrava – chamou-a. Mas Ambre fingiu não ouvir.

– Ninguém dá as costas pra mim, vermezinha – Ela puxou Cloe para perto. Os olhos verdes de Ambre estavam muito perto e ameaçadores. – Quando eu estiver falando com você, você responde. Entendeu? E não dá as costas. Acabou de chegar, garota, aprenda onde é o seu lugar!

Cloe sustentou o olhar, embora seu coração batesse muito forte. Estava assustada. Haviam alguns valentões em War & Peace, mas esses passavam a maior parte do tempo trancados no “quarto”, então muito raramente Cloe lidava com eles.

– Certo. Desculpe – Cloe disse, mas estava claro em seu tom que ela não queria se desculpar se não fizera nada. – Agora se me soltar posso seguir minha vida e você a sua...

Cloe sentiu-se muito idiota por desafiar a tal Ambre. Quando ela apertou ainda mais o seu braço, Cloe se arrependeu de suas palavras, mas não deixou de encará-la. Mas sua respiração ficou mais ofegante e o coração bateu mais forte.

– Você mexeu com a garota errada, vermezinha.

Empurrou-a. Cloe desequilibrou e fechou os olhos e esperou o impacto com o chão, mas o que ela sentiu foram braços fortes e envolvendo e impedindo de cair no chão. Quando abriu os olhos, viu Ambre arregalar os olhos e parecer assustada.

– N-Nath...!

– Não acredito, Ambre! Não pode dar paz um dia?

Cloe ergueu a cabeça e viu que a segurava. Era Nathaniel, que fitava Ambre bastante irritado. Depois voltou-se para ela se suavizou o olhar, parecendo mais preocupado. Cloe sentiu aqueles olhos cor de mel nos seus, olhos que pareciam quase ler sua alma, e ela corou desviando o olhar.

– Está tudo bem? Ela te machucou? – ele perguntou, ajudando Cloe a colocar-se em pé.

– Não foi nada – respondeu Cloe, evasiva.

Nathaniel voltou a olhar para Ambre, que ainda estava parada ali com uma expressão assustada ao mesmo tempo que ultrajada.

– Eu sou sua irmã! Vai mesmo brigar comigo por causa de uma... Uma pequena vermezinha esquisita?! – ela apontou o dedo para Cloe, praticamente cuspindo o insulto.

– Pare de provocar as pessoas, Ambre! Ou... – ele começou, mas Ambre deu uma risada debochada e cruzou os braços.

– Ou o quê? Não pode comigo irmão. Sabe disso.

Cloe desviou o olhar de Ambre para Nathaniel, que aparentemente ficou sem palavras para o que Ambre dissera. O que Cloe achou esquisito, afinal ele era o representante. Cloe achou que aquelas palavras eram pura arrogância de Ambre, mas tiveram um sério efeito no irmão.

– Vai passar dessa vez – Nathaniel falou calmamente, respirando fundo e esfregando a testa e a têmpora direita com a mão. – Que não se repita.

Ambre aprumou os ombros e mordeu os lábios, soltando um grunhido como se não ligasse. A loura deu as costas ao irmão e a Cloe, sendo seguida para as amigas. A pequena multidão que se formara ali se dispersou, e Nathaniel fitou Cloe.

– Sinto muito. Ambre não é a pessoa mais agradável do mundo, mas...

– Não foi nada – Cloe respondeu assentindo algumas vezes com a cabeça. – Já passou. Obrigada por me impedir de cair, e por... Bom, por dar uma bronca na sua irmã – Cloe disse, colocando uma mecha do cabelo castanho atrás da orelha.

Cloe se permitiu olhar para Nathaniel, de soslaio. Estranhamente, não se sentiu capaz de fitá-lo nos olhos, como fizera com Ambre. Estivera assustada quando a garota segurou seu pulso, mas fora fácil encará-la. Mas os olhos de Nathaniel a repeliam porque... Era tão profundos e gentis que Cloe sentira, quando ele a olhou nos olhos, que ele pudera chegar muito perto da sua alma e dos seus segredos. Era assustador olhar para ele e pensar que ele a estava lendo.

Ele era bonito. Muito bonito, de verdade. Os cabelos louros e lisos, arrumados e olhos mel profundos, e a roupa muito bem arrumada. Ele exalava responsabilidade e Cloe se viu admirando o garoto que mal conhecia apenas por sua aparência.

– Se ela lhe der problemas, pode me dizer – Ele falou de um jeito tão arrependido como se fosse ele que a tivesse perturbado. “A irmã deve fazer muitas dessas coisas e deixa pra ele consertar”, refletiu Cloe com aquele comportamento.

– Tudo bem. Eu... – Cloe não foi capaz de terminar a frase. Ergueu a cabeça de repente e olhou para frente quando sentiu um frio na espinha.

E lá estava ele. Logo atrás de Nathaniel. Com aqueles olhos malvados, aquele sorriso medonho e a aura horrível que ele deixou pairar no local assim que se fez presente. Cloe quase se engasgou com o ar quando abriu a boca e deu dois passos para trás.

– Srta. Tally? – Nathaniel a chamou, acenando na sua frente. Cloe desviou seu olhar para o garoto, que a olhava intrigado. A entidade macabra ainda estava lá, atrás dele, tão perto que Cloe se sentiu enjoada.

– Preciso ir – disse afobada, dando as costas a Nathaniel e correndo para se afastar.

Por que ele voltara? Por que queria atormentá-la novamente? Queria realmente deixá-la louca. Não bastava matar sua família e tornar seus primeiros meses em War & Peace um inferno?

Ele queria muito mais dela. Queria destruir sua mente por inteiro.



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