História Far Away - Segundas intenções.

5 de Janeiro de 2008

– Mãe! Conseguiu? Fez minha matricula? – Youngjae desceu as escadas depressa para encontrar a Jung-hee que havia chegado à menos de cinco minutos.

– Consegui! Tivemos sorte esse ano, finalmente a escola decidiu abrir uma turma para o primeiro ano devido a demanda de pedidos para novos alunos. Achei que novamente eles iriam dizer que não havia turma e que não poderia ser feito nada. – Jung-hee deixou a bolsa sobre a mesa e guardou as papeladas da nova escola.

– Que boa notícia, vou contar para a Minseo e o Yugyeom! – Sem ao menos esperar uma resposta da mãe, Youngjae correu até a casa vizinha onde os primos moravam para contar a novidade.

– Min! Yug! Eu vou estudar na mesma escola que vocês, eu vou pra Myungsei School! Minha mãe já fez minha matricula. – Youngjae despejou tudo sobre os primos que estavam sentado na sala de estar. – Três anos tentando entrar e eu finalmente consegui.

– É mesmo? Eles vão abrir uma turma para o primeiro ano? – Yugyeom parecia empolgado e logo se levantou para abraçar o primo. – Vou poder vigiar meu priminho todos os dias, até mesmo na escola. Isso não é bom, Min? – Provocou a irmã abraçando o primo o máximo que podia.

– Tsc, coitado, vai ter que aturar você. – Minseo rebateu enquanto pintava as unhas.

Enquanto mais uma discussão sobre os irmãos começava, Youngjae se perdeu nos pensamentos de como seria realmente estudar com os primos. Lembrou-se da primeira vez que estudaram juntos, não foi bem “estudar juntos” já que os primos estudavam de manhã e ele durante a tarde, então mal se viam. Dessa vez, eles iriam juntos e voltariam juntos e com certeza seria divertido.

– Mas o JB vai ficar de olho nele para mim. – Yugyeom se gabou e Youngjae acordou de seus pensamentos interrompidos pelo nome que surgiu na conversa.

– JB? – Youngjae perguntou, ainda com a bochecha colada ao do primo que negava em se separar do menor.

– Lembra do JB? Bem provável que vocês estejam na mesma sala agora, ele estava preocupado com a falta de turma do primeiro ano na Myungsei, mas agora é bem obvio que ele vai continuar por lá. –  O primo se afastou um pouco para explicar a situação.

– Mas ele não tem a sua idade? Não deveria estar dois anos na minha frente?

– Aquele idiota repetiu dois anos. – Yugyeom riu e voltou a se sentar no sofá.

– Ele repetiu de novo? – Minseo quem perguntou dessa vez. De fato, foi uma surpresa saber que JB poderia estar na mesma sala que Youngjae, o que trouxe pensamentos positivos, já que Youngjae estava um pouco preocupado sobre ficar sozinho na sala de aula, mas também houveram alguns pensamentos conflituosos. O que significaria ter um amigo do seu primo na mesma sala que a sua? E o que ele quis dizer com vigiar? Na cabeça de Youngjae, tudo era uma grande brincadeira e bem provavelmente, JB não iria dar a mínima para a existência dele, pois apesar de estarem na mesma sala, com certeza não teriam assuntos e não poderiam ser amigos, Youngjae ainda era dois anos mais novo e isso não parecia ser nada interessante para ele.

Os dias passaram rapidamente e Yugyeom já havia comentado sobre a vigilância do primo até mesmo para Jung-hee. – Não se preocupe, tia! O JB com certeza vai ficar de olho nele. – Foram as palavras do primo um dia antes das aulas começarem.

– Quem é JB? – Jung-hee perguntou enquanto arrumava algumas roupas.

– É meu amigo da escola, eu vou saber tudo o que o Jae faz.

– Mas não precisa disso também, Yugyeom. – Jung-hee riu da obsessão do sobrinho. – O que o Youngjae faria de errado? Tudo bem que ele já aprontou muito algumas vezes.... – A mais velha lançou um olhar cheio de alertas para o filho – Mas ele anda bem tranquilo desde que soube que iria para a Myungsei.

– É mesmo? O que ele já aprontou? – Yugyeom provocou.

– Pergunte para ele.

– Tudo bem! Já chega de falar sobre isso. Eu estou feliz de ir para a Myungsei e eu não faço mais essas coisas. – Youngjae devolveu o olhar para a mãe – Aliás, que horas sairemos amanhã? – A pergunta foi voltada para o primo.

– Bem cedo, esteja pronto as seis e meia. Se quiser, pode tomar café lá em casa.

– Estarei lá. – Youngjae sorriu e arrumou tudo o que precisaria para o dia seguinte. Quando deitou, pensou nas muitas possibilidades de como seria seu primeiro dia de aula no ensino médio. Lembrou-se de Mark e esperava que pudesse arrumar um bom amigo como ele na nova escola. Pensar em Mark trazia muitos pensamentos nostálgicos, apesar de se encontrarem sempre a cada quinze dias, muitas das boas lembranças vinham de quando eles tinham apenas oito anos e estudavam juntos. Mark é do tipo de melhor amigo mais velho que tratava Youngjae como um irmão e era de costume que Youngjae chorasse sempre que Mark tinha que ir embora quando brincavam juntos.

Entre tantos pensamentos, Youngjae caiu no sono. Sonhou com o dia em que conheceu Mark, eram tão pequenos e se deram tão bem, como sempre, Mark estava ensinando Youngjae a subir no balanço do parque que era muito frequentado pelos dois. Ensinava com tanta cautela ainda com sete anos e Youngjae que era um ano mais novo, era muito atrapalhado, parecia que tinha medo de sentar no balanço e cair para trás, precisou que Mark o segurasse pelo menos por dez minutos até que confiasse completamente no brinquedo.

Não que algo tenha mudado desde então, Mark ainda é todo protetor com Youngjae e a distância entre eles apenas fez com que o amigo se tornasse ainda mais preocupado com o mais novo.

– Tem certeza que está bem? – Mark perguntou enquanto se balançava na rede e olhava atentamente o melhor amigo.

– Tenho. Tudo o que eu preciso fazer é deixar que entre por um ouvido e saia pelo outro. – Youngjae empurrou a rede com os pés para que ele e o amigo se balançassem mais. – Não é como se eu já não estivesse acostumado com isso.

– Sua mãe não precisa ficar falando essas coisas do seu pai na sua frente. – Mark também empurrou um pouco a rede para irem mais rápido.

– Não sei porque ela deu de implicar por causa de uma tv. Se meu pai não quer dar uma tv, então ele deve ter um bom motivo, não é porque ele está sendo mesquinho, não é?

– Ele disse que não vai dar porque não tem outra, não é? Porque ele iria tirar dele e dar para ela?

– Porque na mente dela, ele não quer dar porque ele a odeia. – Youngjae deu de ombros. – De qualquer forma, começo minhas aulas na semana que vem, e estou mais preocupado no fato de que não terei amigos na minha sala, espero que eu consiga fazer novos  logo. Não tenho uma boa experiência com primeiro dia...

– Vai dar tudo certo, você é legal, consegue amigos rápido. – Mark deu uma palmadinha no ombro do amigo. – Seus primos estarão lá, não é?

– Sim, mas eles estão dois anos na minha frente, não estaremos na mesma sala. A única pessoa que conheço é um amigo do meu primo. – Youngjae deu ênfase ao “conheço”. – E eu nem falei com ele na vida.

– Já é um começo né? Um rosto conhecido. – Mark tentou animar o amigo da melhor forma que pôde, apesar de querer poder resolver os problemas de Youngjae, ele simplesmente não podia fazer muito pelo amigo de tão longe. – Quando você voltar para Mokpo novamente, quero que me conte em detalhes como foi. –  Mark sorriu e Youngjae entendeu que aquilo significava que mesmo estando longe, Mark ainda era o refúgio de Youngjae e que se não fosse um bom primeiro dia de aula, estaria tudo bem desde que ele ainda pudesse vê-lo depois. Com certeza Mark iria fazê-lo rir sobre tudo.

O pior do dia seguinte não foi acordar cedo, o que já era bem difícil para Youngjae, mas sim, enfrentar a multidão de alunos que estavam tentando se encontrar nas listas de nomes que estavam espalhadas pelo pátio do colégio. Myungsei School era um colégio apenas para ensino médio, isso significava que a turma de Youngjae era a mais jovem e também a única referente ao primeiro ano. Sendo assim, não foi difícil encontrar a lista com o nome do Youngjae e o número da sala.

– Ual, tem quase quarenta alunos na sua turma. –  Minseo passava os olhos por todos os nomes da lista do primeiro ano.

– Deve ser porque é a única turma de primeiro ano. – Youngjae respondeu enquanto observava os vários alunos aglomerados nas outras listas. Yugyeom se dispersou assim que chegou e provavelmente já estava junto dos seus amigos. Minseo apenas se aproximou de alguns conhecidos, mas não manteve nenhuma conversa com eles. No fundo, Youngjae agradeceu por isso.

– Minso-yah! – Uma voz não tão desconhecida se aproximou. Era Juhyun. – Chegou cedo. Já sabe que sala estamos?

– Já. Yugyeom viu e me contou. Não estamos na mesma sala, mas como só há duas turmas de terceiro ano, ele acabou vendo para nós também.

– Entendi. Que pena que não estamos juntas. – Juhyun fez uma careta, mas logo mudou de assunto quando viu Youngjae. – Minha prima está entrando hoje também. Ela é do primeiro ano. Vou apresentar vocês! – Juhyun puxou uma menina ainda mais baixa que ela, tinha os cabelos curtos e sorriu para Youngjae, fazendo seus olhos quase fecharem em um eyesmile.  – Essa é a Saeron. Saeron este é o Youngjae e essa é a Minseo.

– Prazer em conhece-los. – A garota se curvou e Youngjae retribuiu. Ficou feliz por poder conhecer alguém da sua sala que poderia ser sua amiga.

A conversa foi cortada pelo sinal que tocou e informava que os alunos deveriam se dirigir às salas de aula. Depois de receber um “Boa sorte” de Min, Youngjae entrou na primeira sala do corretor. Era o primeiro a entrar então escolheu sentar perto da janela, no meio do corredor. Saeron entrou logo depois, sentando-se logo atrás de Youngjae. Antes que ele pudesse puxar qualquer tipo de conversa, um rosto familiar apareceu.

– Youngjae? – Youngjae ficou paralisado por alguns segundos tentando decidir que tipo de ação deveria ter.

– BamBam? O que você faz aqui?

– Eu estudo aqui, ué! – BamBam sentou em frente ao amigo com um sorriso estampado no rosto.  

– Faz tempo que não nos vemos. Quando foi mesmo? Há dois anos atrás. – Youngjae tentou lembrar quando foi a última vez que viu BamBam. Eles estudaram na mesma sala durante um curto período de tempo, até que Youngjae precisou se transferir para outra escola, o que ocorria com muita frequência. – Por que veio para Myungsei?

– Myungsei é a melhor escola pública de Seul. Não é fácil entrar aqui sabe..., mas finalmente, consegui.

– Realmente, é difícil.  Eu tentei por três anos, mas eles não têm turma, nunca tem. Por sorte abriram para o primeiro ano. – Youngjae disse aliviado.

– Isso é muito legal. Poder conhecer alguém daqui no primeiro dia. – BamBam gostava de falar e estendeu o assunto por mais alguns minutos. Durante esse tempo, Youngjae viu mais um rosto familiar, mas não era alguém com quem ele conversava, mas sabia quem era. Youngjae passou por muitas escolas e por isso, conhece muitas pessoas, mas não é amigo realmente de nenhum deles. Com o tempo, a sala foi ganhando uma boa quantidade de pessoas, todos os demais rostos desconhecidos.

Por um breve momento, Youngjae viu um garoto alto com cabelos escuros e olhos negros entrar pela porta. Youngjae desviou instantaneamente o olhar e se perguntou por que o fez.  Conhecia o garoto, mas por um breve segundo tentou se lembrar de onde.

– O que foi? – BamBam interrompeu os pensamentos do colega.

– Eu conheço aquele garoto... – Youngjae lançou um olhar para o menino sentado do outro lado da sala, encostado na parede e encontrou os olhos dele o olhando de volta. – Claro, é o amigo do Yugyeom... JB, certo? – Youngjae sussurou para si mesmo e olhou para o BamBam. Estava rezando internamente para que o JB não tivesse notado seu olhar.

– E eu lá sei. – BamBam olhou para o garoto e deu de ombros. – Ele é bonito.

– Para de olhar. – Youngjae bateu no amigo e o mesmo o encarou.

– Por que?

– Porque é feio encarar os outros. – Youngjae tentou olhar para JB sem parecer suspeito de que estava falado sobre ele. Quando seu olhar cruzou a sala, não o encontrou no mesmo lugar que estava antes, mas sim, vindo em sua direção.

Internamente, Youngjae se sentia um pouco ameaçado por Jaebum, não que ele tivesse uma cara muito brava nem nada, mas o fato de ele ser amigo do Yugyeom não fazia dele uma pessoa conhecida, apenas uma pessoa que iria vigiá-lo, mesmo que Yugyeom tivesse falado em tom de brincadeira, Youngjae sabia que ele realmente tinha pedido para JB fazer isso.

– Oh, ele está vindo. – BamBam fingiu estar entretido com outra coisa, abandonando o amigo.

– Yah! – Youngjae sussurrou nas costas de BamBam.

– Oi. – JB se agachou sobre a mesa de Youngjae, ficando da mesma altura do menor e mantendo contato visual. – Youngjae né? Eu sou amigo do seu primo, lembra de mim?

– Sim, Yug falou de você. – Pela primeira vez, Youngjae encarou os olhos profundos de JB sem que precisasse desviá-los.  Era possível ver o reflexo da luz do sol pelos seus olhos, o que fazia deles não mais negros, mas castanhos com alguns pigmentos verdes.  

– Que bom! Seu primo pediu para eu cuidar de você. Então se precisar, pode falar comigo. –  JB sorriu e entregou uma bala ao menor. – Gosta de bala?

– Gosto. –  Youngjae retribuiu o sorriso. – Obrigado. Qualquer coisa eu te falo. –  Youngjae concluiu e JB voltou ao seu lugar do outro lado da sala.

– Quem é?! – BamBam ressurgiu das cinzas com uma cara espantada. – Da onde você conhece esse garoto? Eu também quero bala.

– Ele é amigo do meu primo. –  Youngjae abriu a bala, guardou o papel no bolso e a colocou na boca. – Meus primos estudam aqui, estão no terceiro ano.

– Ele parece legal. – BamBam disse por fim.

– Parece. – Youngjae concordou, mas não sabia o que pensar da situação. Não sabia o quanto JB queria mesmo ser amigo dele ou se tudo era um plano de passar informações para o Yugyeom. E se fosse o caso, que tipo de informações? O que o Yugyeom tinha em mente?