Era o primeiro dia do interclasse da Academia Kamome, e a escola estava simplesmente uma loucura. As crianças corriam para lá e para cá, animadas com o fato de terem três dias sem aula pela frente, apenas se divertindo no ginásio, enquanto os mais velhos corriam para organizarem tudo e se prepararem para os jogos que estavam por vir.
Kou terminava de preparar a guitarra quando ouviu a voz de Tsukasa ecoar por todo o ginásio. Amane, que ajustava o microfone para ficar do seu tamanho, abriu um sorriso ao ouvir o irmão dando boas vindas à todos os alunos da academia, sendo seguido por Sakura e Natsuhiko. Tsukasa se juntara há pouco tempo ao jornal escolar, por convite de seus dois amigos, e ele estava completamente empolgado para narrar o interclasse naqueles dias. O garoto não parou de falar sobre como aquilo o animava e o deixava feliz; e Amane estava feliz pelo irmão.
Terminando de ajustar o microfone, Amane olhou para seus amigos, que revisavam tudo sobre a apresentação de Astroboy, que abriria o interclasse anual da Academia Kamome. Era sua primeira apresentação, e o Yugi estava realmente nervoso. Já havia chegado em um ponto da qual seu estômago estava embrulhado, e ele podia sentir o suor escorrendo por suas costas. Quando aceitou o convite para entrar na banda, Amane não imaginou que ficaria nervoso daquele jeito. Sua ansiedade o estava quase matando por dentro, e ele se sentia prestes a entrar em combustão espontânea.
— Temos menos de três minutos — anunciou Yashiro, tomando seu lugar ao lado de Amane. Ela lançou-lhe um sorriso encorajador, afinal, animar a todos era uma de suas funções como fundadora da banda. Estendeu a mão rapidamente para dar um apertãozinho amigável no ombro de Amane, que sorriu em resposta. — Isso vai ser incrível.
— Vamos mandar ver, pessoal. — Aoi, como sempre animada e otimista, jogou os cabelos arroxeados para o lado, abrindo um enorme sorriso.
Kou, postando-se no lugar designado para ele, logo atrás de Nene, trocou um high five cúmplice com Yashiro.
— Vai e arrasa, senpai — disse confiante, voltando seu olhar para Amane, que permanecia à beira de um colapso. — Ei, baixinho, você vai ir bem demais.
Amane sorriu.
— Valeu, guri.
Tsukasa, através dos microfones, anunciou a entrada da banda, e as longas cortinas que separava o grupo do restante dos alunos da escola começaram a se abrir. Amane segurou — ou melhor, apertou — o microfone, ouvindo os aplausos que se seguiram quando as estavam completamente abertas. O instrumental começou e, contando perfeitamente os segundos que deveria esperar para começar a cantar, Yashiro começou sua parte como vocalista. A cabeça de Amane balançava de um lado para o outro no ritmo agradável da música, e ele mantinha os olhos fechados, permitindo se envolver completamente na apresentação, de corpo e alma. A voz de Yashiro era tão doce e envolvente, tão gostosa de se ouvir e, ao mesmo tempo, tranquilizante, que Amane mal reparou que seu nervosismo ia passando conforme ouvia aquela garota cantar.
Ele esperava que, um dia, ela cantasse para ele antes de dormir. Um desejo bobo, mas que o deixava feliz em imaginar.
Os dois juntinhos, prontos para dormir, e Yashiro cantando uma música qualquer.
A voz de Mitsuba falando “que gay” brotou em sua cabeça.
Chegando em sua parte da música, Amane deu tudo de si. Ele poderia não reconhecer, mas sua voz era tão suave e melódica conforme cantava que encantou todos presentes naquele ginásio. Podia ver os flashes da câmera de Mitsuba de um canto próximo do palco, fotografando tudo, mas não poderia deixar que nada o atrapalhasse.
O refrão chegou e, aproveitando a situação, para deixar a performance ainda melhor, tirou o microfone do suporte, virando-se para Amane e caminhando lentamente até ele, sorrindo enquanto cantava. Amane repetiu o gesto da amiga, se aproximando também até que os dois estivessem bem próximos e suas respirações estivessem se misturando.
A apresentação terminou com eles daquele jeito, sorrindo e ofegando por não terem parado direito para respirar. A escola foi à loucura, aplaudindo e soltando gritinhos.
— Isso foi realmente impressionante. — Tsukasa deveria estar muito satisfeito por estar liderando os comentários sobre a banda.
— Temos certeza que a banda será a vencedora do grande campeonato! — Natsuhiko falou com seu habitual tom empolgado.
A banda agradeceu, e as cortinas foram se fechando. Quando estavam finalmente fora da visão dos outros, os quatro amigos se olharam e correram para trocar um abraço em grupo.
Foi, de fato, uma cena bem sentimental.
— Obrigada… — Foi uma surpresa para todos quando perceberam as lágrimas singelas que escorriam pelo rosto de Yashiro.
— O que aconteceu, senpai?! — Kou a puxou para um abraço individual. Era normal que se tratassem assim, visto que também eram melhores amigos. Amane estendeu um braço, acariciando os cabelos da amiga, enquanto Aoi a abraçava por trás. Juntos, todos acolheram Yashiro, mesmo sem entender o motivo daquelas lágrimas.
— Eu só… sempre sonhei com isso, pessoal… — Ela riu, como se fosse a coisa mais boba do mundo. — E ver como estamos crescendo, como as pessoas, mesmo que sejam só da nossa escola, gostam da gente… sei lá, isso deixa meu coração quentinho.
— Nene, é graças à você que estamos aqui hoje — disse Aoi. — Nós é que temos que agradecer. Sem a sua iniciativa de fundar uma banda, nada disso estaria acontecendo.
— Sem vocês para se juntarem à banda e me darem todo o apoio, isso não estaria acontecendo — retrucou, soltando uma risadinha. — Eu amo vocês. Amo todos vocês, de verdade.
— Nós também te amamos, Nene… — sussurrou Amane, depositando um beijinho na testa da amiga. — Amamos muito.
[...]
— Amane! — Yashiro chamou, tentando carregar quatro cadeiras de plástico juntas, cambaleando de um lado para o outro. — Me ajuda!
Amane gargalhou e correu na direção da amiga para ajudá-la com as cadeiras, já que a tentativa de Yashiro acabou falhando miseravelmente. Ela choramingou, emburrada por não ter conseguido carregá-las.
— Você não é a Mulher Maravilha, Nene — falou. — Não precisa carregar isso tudo sozinha, ‘tá bom?
Ele acariciou o topo da cabeça de Yashiro, tentando consolá-la.
A turma dos dois havia ficado encarregada de cuidar da limpeza do ginásio, mas, àquela altura, todos haviam terminado suas funções e ido embora. Só faltava a dupla terminar de amontoar todas as cadeiras e irem embora. Claro que era uma felicidade imensa, para Amane, passar um tempo a mais sozinho com sua crush.
— Você estava linda hoje — comentou o rapaz, sentindo o rosto esquentar. Ele virou de costas, pegando mais algumas cadeiras, só para que Yashiro não percebesse que ele estava ficando vermelho. — Digo, é… você canta tão bem…
— Você me surpreendeu. — Yashiro falou atrás de si. — Já te vi cantando muitas vezes, Amane-kun, mas… foi a primeira vez que te vi cantando em uma apresentação, e foi simplesmente lindo ver como você se entregou de corpo e alma.
— Ah, que isso — riu, constrangido. — Acho que é o que todo mundo deve fazer quando canta, ainda mais em uma apresentação.
Ele sentiu um leve toque em seu ombro, virando-se para olhar para a loira, que estava perigosamente próxima de si. Ela abriu um sorriso meigo. Amane sentiu que, em algum momento, teria que tomar iniciativa. Yashiro o observou com um carinho no olhar, em silêncio, e Amane percebeu que ela esperava alguma coisa.
Alguma coisa.
Sem falar nada, ele ergueu uma mão e pôs uma mecha de cabelo de Yashiro para trás da orelha dela. Amane inclinou o corpo para frente, na direção de Nene, e seus lábios roçaram de leve. Ele estava quase amolecendo naquele momento. Sentiu o corpo todo esquentar quando as bocas dos dois se encostaram um pouco mais, prestes a dar início a um beijo.
— AI, MEU DEUS.
Yashiro deu um pulo para trás, sobressaltada. Amane escondeu a cabeça entre as mãos, sem saber o que fazer naquele momento, tamanha a vergonha que estava sentindo.
— QUE GAY! — Mitsuba era, às vezes, tão inconveniente que fazia Amane querer correr para longe, mesmo amando o amigo. — KOU, ‘CÊ VIU ISSO?
Nenhum dos dois contava com a repentina aparição de Kou e Mitsuba, até porque pensavam que os dois já haviam ido embora.
— Ah, eu vi. — Podiam sentir a malícia por trás da voz de Kou. — Tããão bonitinhos!
— Para, Kou! — Yashiro estava completamente vermelha.
— Os namoradinhos mais lindos da escola! — Mitsuba continuou a provocar.
Quando Amane criou coragem para tirar a cabeça das mãos, viu Yashiro correndo atrás de Mitsuba com uma cadeira em mãos. Ele acabou rindo diante daquela cena. Mitsuba gritava para Kou ajudá-lo, mas até mesmo o Minamoto estava gargalhando.
— VOCÊ QUER ME BATER SÓ PORQUE SOU FOFINHO! — berrou.
— EU VOU TE MATAR, MITSUBA! — Yashiro decretou a morte do garoto.
Kou se aproximou de Amane, ainda rindo, e pousou uma das mãos no ombro do amigo.
— Nem se atreva a falar alguma coisa — disse Amane.
— Não vou falar. Estou em uma situação parecida, também.
Amane ergueu as sobrancelhas, olhando para o loiro.
— Mitsuba? — perguntou.
O Minamoto balançou a cabeça, concordando.
— Quero me confessar para ele… só não decidi o momento.
O rosto de Kou ficou um pouco vermelho após falar isso, e Amane achou a atitude extremamente fofa.
— Sei que, independente do momento, o Mitsuba vai adorar sua confissão, guri — encorajou-o. — Vai fundo.
Um sorriso adorável surgiu no rosto de Kou. Ele parecia mais empolgado.
— Obrigada, Hanako-kun.
Amane revirou os olhos diante do apelido, mas acabou rindo.
Os quatro, depois de Yashiro parar de tentar bater em Mitsuba, terminaram de guardar as cadeiras e seguiram para a saída da escola. Kou esticou o corpo, passando um braço pela cintura de Mitsuba ao terminar o alongamento, deixando o Sousuke um pouco envergonhado.
Os amigos não esperavam encontrar Aoi do lado de fora.
— Aoi! — Yashiro sorriu. — O que faz aí?
Aoi ergueu o olhar e abriu um sorriso. Foi então que eles perceberam a garota que estava ao lado de Aoi, abraçando-a pela cintura. Ela trajava uma jaqueta de couro, apesar do dia quente, tinha cabelos cor-de-rosa como os de Mitsuba e dois piercings: um no septo, e outro nos lábios. Suas unhas estavam pintadas de preto.
— Oi, gente. Essa é a Azumi.
Azumi, a garota agarrada à Aoi, sorriu amigavelmente, sem falar nada.
Os quatro raciocinaram por alguns instantes.
Aoi e Azumi.
As mensagens que Aoi vivia trocando com um ser desconhecido.
— Ai, meu Deus. — Yashiro foi a primeira a perceber o que estava acontecendo. — Ao-chan! Parabéns!
Ela correu para abraçar as duas, e Aoi acabou gargalhando pela reação da melhor amiga.
— Vocês são lindas juntas! — Yashiro soltava gritinhos de felicidade.
— Obrigada, Nene-chan. — A felicidade de Aoi era praticamente palpável. Azumi, apesar de parecer mais na dela, também parecia estar muito feliz com a aprovação dos amigos.
Não demorou para que os três restantes fossem parabenizá-las pelo relacionamento.
— Então era isso, né, Aoi? — Amane brincou, bagunçando os cabelos arroxeados da amiga e indo abraçar Azumi. — Eu sabia.
As duas riram e trocaram um selinho rápido. Yashiro estava quase explodindo de fofura.
— Azumi começa a estudar aqui amanhã — anunciou Aoi.
— Sério?! — disse Kou. Mitsuba era o único que permanecia mais calado, por ter medo de começar a falar e assustar Azumi. Mas, isso mudaria logo. — Bom, Azumi, bem-vinda! Você vai adorar estudar conosco.
— Tenho certeza que sim — concordou a namorada de Aoi. — Amor, agora que estamos apresentados, acho que você precisa ir para casa, né?
Aoi concordou, flutuando de felicidade, e despediu-se de seus amigos, seguindo o caminho para casa de mãos dadas com Azumi.
Então, essa garota era o segredo de Aoi.
Os amigos estavam extremamente felizes por ela, e pelo fato de ela ter assumido tão tranquila, sabendo que, para muitas pessoas, se assumir acabava sendo difícil. Aoi aparentava estar tão feliz com Azumi que acabou contagiando os outros.
Se Aoi estivesse feliz, todos estariam. Até porque Azumi parecia, realmente, ser muito legal.
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