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História Fazer Frente - Zyie


Escrita por: May-May-

Notas do Autor


Espero que gostem e não se esqueçam de ler as notas finais, elas são muito importantes.
Beijos e boa leitura.
Maysa

Para quem não sabe, desde o início da história eu imaginava o Zyie como sendo Omar Al Borkan (foto abaixo).

Capítulo 35 - Zyie


Fanfic / Fanfiction Fazer Frente - Zyie


Justin person’s Point Of View

— O que disse? — Perguntei aproximando-me. Meus punhos imploravam para ir de encontro ao rosto daquele desgraçado.

— Cai fora, cara. Está a fim de brigar desde que cheguei.

— Você a tocou? — Grunhi apenas de imaginar. Esse desgraçado não faria isso. Pelo menos era o que eu tentava fazer meu subconsciente acreditar.

— Por mais que seja interessante ter comido ela nesse jipe aqui. — Disse batendo na lataria. — Seriamos fritados, está um calor da porra lá fora, mas seria um problema se tivéssemos transado?

— Já sabe a resposta. — Disse ainda estreitando os olhos. Desgraçado filho da mãe.

— Infelizmente, a afegã foi apenas pra você, poderia conseguir outra para nós? Também queremos aproveitar, não é mesmo rapazes? — Explanou rindo.

— Pense o que quiser, espalhe para todos os caras o que pensa sobre mim, mas saiba que se você tiver a tocado eu vou acabar ficando sabendo.

— Eu não estou nem aí, Bieber.

— É o que vamos ver, Walter.

Aziza person’s Point Of View

No meio do percurso coloquei a minha burca às pressas ainda por cima da calça e camiseta. O alcorão, por pura proteção, ficou escondido por baixo da burca. Passei tantos meses sem usá-la que não me lembrava do calor que fazia. Era quente e de certa forma pesada.

A caminhada durou muito tempo, mas do que eu pensei que aguentaria, mas algo estava errado. A cidade era rodeada pelas longas cadeias montanhosas e isso, obviamente, continuava presente, mas não da forma que imaginei. Havia muita sujeira por volta da cidade, dejetos desconhecidos. Eu sabia que Cabul era gigantesca e que eu não conhecia toda a cidade. Eu estava entrando por uma área desconhecida. Como eu chegaria a casa? Allah...

 A estrada estava deserta e nem ao menos sabia se estava caminhando pela direção correta. Não havia nada em volta e estava me preocupando. As montanhas pareciam me enclausurar enquanto caminhava por aquela avenida. Ouvi tantas histórias de granadas enterradas a beira da estrada que todo passo em que dava sentia minha morte mais próxima. Já era tarde e eu não havia feito nenhuma oração, na verdade, eu não sabia a direção em que ficava a mesquita para cumprir minhas orações. Eu não sabia nem onde eu estava para fazer qualquer coisa...

Em meio à confusão de minha mente e a minha respiração pesada, escutei um barulho conhecido atrás de mim. Virei-me às pressas e ao longe percebi que havia um carro se aproximando. Não era um carro qualquer, era uma caminhonete de alto porte, eu poderia a reconhecer em qualquer lugar. Essa daí também teria a bandeira talibã? Ou teria apenas as grandes armas acompanhada de vários homens?

“Em nome de Allah, Clemente, Misericordioso! Todos os louvores são para Allah, o Senhor de todos os Mundos. Clemente, Misericordioso, Soberano do Dia do Juízo! Só a Ti adoramos e só de Ti imploramos ajuda! Guia-nos à senda reta, À senda dos que agraciaste, Não à dos abominados, nem à dos extraviados”.

As orações rodeavam a minha mente conforme a caminhonete se aproximava. Se eles parassem eu deveria apenas ajoelhar e esperar pelo meu fim ou eu deveria me jogar ao chão agora mesmo? Eles irão me matar aqui ou me levarão para o centro da cidade e me decapitarão como a afegã impura que sou.

 O carro apenas se aproximava e eu caminhava calmamente como se nada estivesse acontecendo. Como se eu não fosse uma mulher. Uma mulher desacompanhada. Como se eu não fosse uma mulher desacompanhada e que carrega um alcorão de um talibã. O sangue parecia parar de ser bombeado para meu cérebro. Eu estava com o alcorão. Allah, Allah, Allah... O que você está fazendo, Aziza?!

O carro parou ao meu lado e, conforme eu continuava andando, escutei barulho de passos e vozes atrás de mim. Uma mão segurou fortemente em meus braços lançando-me ao chão. Não soltei nenhum grito, eles arrancariam minha língua se eu fizesse isso.

— Onde está seu marido? Para onde vai e por que caminha sozinha? — Escutei um dos homens dizer. Fazia tanto tempo que não escutava nenhuma palavra em urdu que chegaria a ser estranho.

Não olhei para nenhum deles, mesmo estando coberta pela burca. Continuei olhando para o chão enquanto dizia.

— Mataram meu marido e levaram minhas crianças. — Disse baixo. Aprendi mais coisas com Justin do que poderia imaginar. Saber mentir – para os talibãs – foi uma delas.

— Não tem ninguém? — Perguntou uma outra voz. — Podemos levá-la conosco e vendê-la.

Tentei não demonstrar reação, mas era quase impossível. Eu já tinha ouvido falar sobre as escravas sexuais e sobre a venda de garotas, mas não imaginava que era real. As informações que chegavam até meu bairro eram tão macabras que era difícil de acreditar. Agora sei que todas as informações eram reais.     

— Meu irmão é um de vocês. Zyie Rehman.

 As vozes paparam por um segundo, até que o primeiro homem que conversou comigo gritou para algum outro homem.

— Rehman tem irmã? — Gritou alto.

Alguém disse alguma coisa. Eu não entendi o que disse, mas uma porta foi aberta rudemente e passos apressados ficaram cada vez mais perceptíveis. Eu não olharia para nenhum deles, não queria saber quem iria me matar. Repentinamente coturnos velhos e gastos ficaram próximos ao meu rosto e conforme o homem se abaixava, as batidas de meu coração se intensificaram.  

— Aziza?

Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar do mundo. Poderiam ter se passado dez anos que eu continuaria me lembrando dele. Olhei rapidamente para o homem em minha frente e tive a certeza de que ficaria tudo bem. Anil nunca me faria mal, ele era como um pai para mim e Zyie. Como um segundo pai.

Meus braços inconscientemente rodearam o peito de Anil e lagrimas começaram a rolar pelo meu rosto coberto pela burca. Diante tanta tensão não tinha me dado conta do quão cansada eu estava. Como pude relutar e pensar que me fariam mal?! Eram minha família. Zyie e Anil estavam apenas lutando pelo bem, enquanto os americanos querem apenas bagunçar com a nossa cabeça. Como pude duvidar de tudo isso?  

— Está tudo bem, Aziza. Vamos para casa, tudo bem? — Disse Anil. Eu não conseguia dizer nenhuma palavra, e devido à isso, apenas concordava com a cabeça.

Havia pelo menos cinco homens na caminhonete, sendo que Anil dirigia a mesma. Fui colocada na parte da frente, enquanto os outros homens se ajeitavam na carroceria.

— Onde estava esse tempo todo? Faz meses que não temo notícias.

— Eu estava com uma família. Eles me acolheram quando os americanos invadiram Cabul. — Disse simples. Teria que me lembrar dessas mentiras mais tardes. Eu sabia que teria que repetidas mais algumas vezes.

— Como eles se chamavam? — Perguntou.

— Lize e Ranan. Eles eram irmãos e tinham perdido os pais na guerra.

            De certa forma, eu estava falando a verdade. As crianças de fato eram irmãos e tinham perdido a mãe. Eles tinham apenas a mim.

— E não quiseram nada? Teve que se casar?

— Não, não... Eles viram que eu era nova. Eles me ajudaram, mas tive que vir embora. Estava lá a muito tempo. Menti para aquele homem, Anil. Disse que era casada e que tinha filhos.

 O mesmo suspirou olhando para a estrada. Anil estava tão diferente. Antes seus cabelos negros em compridos combinavam com a sua barba, mas agora, seus cabelos estavam rentes a cabeça. Algumas cicatrizes compunham sua expressão.

— O que houve com o seu cabelo?

Pela primeira vez desde que entramos na caminhonete, Anil olhou para mim e mesmo estando a burca cobrindo os meus olhos, senti que ele olhava profundamente para mim.

— Há algum tempo atrás fomos atacados por um dos pelotões americanos. Os estilhaços de uma granada me atingiram. Tiveram que raspar a minha cabeça para retirá-los.

— Está tudo bem com você? — Sua confissão me deixou preocupada, afinal, Anil estava no meio de tudo aquilo. Ele poderia morrer a qualquer momento, da mesma forma que Zyie.

— Sim, eles terão que se esforçar mais para que consigam me matar.

— E onde está Zyie? E meus pais?

O silencio durou por algum tempo e neste período, passaram milhares de imagens na minha cabeça.

— Você desapareceu por quase um ano. Terá que entender que as coisas mudaram nesse tempo, na verdade tudo mudou. Zyie está bem e a sua família também...

— Isto é algo bom, por que eu teria que preocupar com isso? — Interrompi apressada Anil.

— Seus pais não estão mais em Cabul. Seus pais estão morando com Saleh e pelo que sei, acabou se casando novamente. Eles não estão mais em cabul e sim, em Herat.

Papai tinha se casado novamente. Mamãe, que tinha concedido toda a sua juventude e amor havia sido sabotada pelo próprio marido. Novamente lembro-me dela descrever o meu nascimento e como, desde aquele momento, meus tios queriam que meu pai se cassasse com outra mulher.

— O quê? — Disse chocada olhando atentamente para Anil. — Com quem ele se casou?

— Zyie não falou o nome da garota, mas ela é jovem e veio de uma família conhecida por Saleh. Ela teve filhos com ele.

Olhei mais chocada ainda para o mesmo. Como ela tinha tido filhos com meu pai em tão pouco tempo?!

— Filhos?

— São gêmeos. Nasceram há poucas semanas atrás.

— E como minha mãe está? — Perguntei de forma extridente.

— Eu não sei Aziza, quando chegarmos a Cabul e nos encontrarmos com Zyie, o mesmo poderá lhe dizer sobre tudo isso.

Resolvi parar de bombardeá-lo com perguntas. Eu demoraria no mínimo 5 horas para conseguir cumprir todo o trajeto de chegada a Cabul. Conforme íamos adentrando a cidade, o horror tomava minhas últimas esperanças. Eu não reconhecia nenhum prédio, mas não seria perceber que eles estavam destruídos por conta de algum impacto. As ruas estavam cobertas por destroços. Carcaças de carros pareciam não acabar da mesma forma que pichações e palavras sujas pareciam compor as poucas construções em pé. Os homens carregam um olhar desgostoso, não havia felicidade em nenhum deles. Estavam caminhando como mortos-vivos. As mulheres eram as únicas que continuavam da mesma forma. Cansadas. Caladas. E cobertas.

Alguns jipes dominavam as ruas. Percebi que a área ainda não havia sido dominada pelos americanos e eu estava feliz por isso. Eu não sabia que poderiam fazer tal barbárie com um povo, Justin nunca me informou sobre isso. Justin nunca me informou de nada!

— Chegamos! Vamos, tenho que te levar até seu irmão.

Os homens havia decido rapidamente do jipe e se espalhado. Em meio ao aglomerado de pessoas conseguia sentir o olhar atento de todos ali, afinal eu era a única mulher aqui. Anil segurava fortemente em meu braço, guiando-me sempre para frente.

— Ei Rehman, olha quem encontramos. — Disse Anil.

Uma roda de homens se virou em minha direção. Todos pareciam não entender o que estava acontecendo. Olhei atentamente cada rosto até que vi Zyie. Não consegui parar em pé, eu segurava com todas as minhas forças os soluços altos que queriam escapar, mas as minhas lágrimas agiam por conta própria.

— Quem é essa mulher? — Sua voz estava mais rouca que me lembrava. Ele parecia tão alheio à situação. — É a puta desgraça que fugiu?

Allah, o que Zyie estava dizendo?! Minhas mãos tremiam em meu colo, eu queria tanto abraçá-lo e perguntar o porquê dele estar daquele jeito. Eu queria fazer tantas coisas, mas não podia.

—Não, cara, é a sua irmã.

Seu olhar percorreu de Anil para mim e, novamente, de mim para Anil. Seu belo rosto, além de machucado, agora continua traços de confusão. Ele pensava que eu estava morta para estar agindo assim?! Ele não disse nada apenas ficou olhando para nós.

— Não faça isso novamente, Anil.

 Eu queria gritar com ele, fazê-lo olhar no fundo dos meus olhos e dizer que não se importava com a irmã desaparecida à meses. Ele não é essa pessoa, o que está acontecendo, Zyie?! Ignorando a minha presença, voltou a conversar com os outros homens.

— Dessa vez é a sua irmã. — Disse ríspido. — Leve ela para dentro.

 Como um animal, Zyie caminhou até Anil empurrando-o para longe. Eu não me virei para ver aquilo. Não entendia sua reação.

— Eu escutei tantas vezes isso, não estou a fim de escutar essas merdas de novo. — Sua voz vinha de longe de mim. — Pegue essa garota e tire-a daqui, antes que eu mesmo a mate.

— Então olhe para ela! Eu nunca faria isso, Zyie. Olhe para ela. Eu preciso que você olhe para ela.

Toda aquela situação apenas foi piorada quando a figura raivosa de Zyie se plantou em minha frente. Um grito, não contido, escapou de meus lábios quando a parte de cima de minha burca foi arrancada com forma e rapidez. Ele não poderia me adiar tanto a ponto de me expor. Eu não poderia ser exposta, era contra as regras.

Meus cabelos se espalharam pelos meus ombros caindo como cascatas pelas minhas costas. Olhei rapidamente para os homens que conversavam com meu irmão. Aqueles olhares... Isso era pecado.

Desviei meu olhar daqueles homens e fixei-me em observar Zyie. O mesmo não tinha mais o olhar raivoso. Ele estava perplexo em minha frente, não fazia nenhum movimento. Eu entendia aquilo, ele não acreditava que era eu em sua frente e eu também não estava acreditando que estava descoberta em meio a milhares de talibãs.

Eu estou ferrada.

Continua...


Notas Finais


CRONOGRAMA DE POSTAGEM:
QUARTA E SÁBADO

Beijos.
Maysa


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