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História Feiticeiros - Existe Apenas o Inevitável


Escrita por: KathKlein e YoruHiiragizawa

Capítulo 78 - Existe Apenas o Inevitável


FEITICEIROS

Por Kath Klein & Yoruki Hiiragizawa

Capítulo 78

Existe Apenas o Inevitável

Kasumi vomitava pela segunda vez. Sentia o corpo dolorido e com aquela merda de sensação que conhecia bem. Inferno! Havia se descuidado. Sabia que sua cabeça estava a prêmio pela república. Passou a mão no rosto suado. Tinha certeza, a maldita comida estava envenenada. Levantou o rosto e olhou em volta, logo o inimigo daria as caras, estava apenas esperando ela cair inconsciente para se aproximar sem perigo algum. Pela maneira ardilosa que usou, em vez de enfrentá-la de frente era porque se tratava de um caçador de recompensas ou qualquer idiota que só estava mesmo querendo a grana por levar a cabeça dela em uma estaca para os militares.

Wave ainda não tinha conseguido implantar a democracia. Já havia se passado malditos quinze anos desde que ele assumira a ditadura e não conseguia implantar o objetivo pelo que tantos lutaram e morreram. Os rumores era que ele estava doente, isso seria uma merda. Era ele quem ainda conseguiu moderar a situação. Com a saída dele do poder, o país voltaria para as trevas do período Imperial.

Já havia perdido as contas de quantos Militares e funcionários do governo havia eliminado depois de confirmar o envolvimentos de todos em corrupção e tentativas de golpes. Esta era a razão de agora estar sendo caçada de maneira implacável. Já havia perdido as contas de quantas emboscadas havia enfrentado tanto de usuários de teigu quanto de demônios manipulados por humanos.

Vomitou novamente e tocou a testa no tronco da árvore que usava para se manter apoiada. Não tinha ideia do tipo de veneno que havia ingerido para ser tão potente sendo que não havia identificado nenhum gosto na comida ou bebida. Não sabia exatamente como havia sido envenenada, mas sabia quando estava em perigo. Precisava de um tempo para seu corpo superar o veneno e retornar suas forças. Já sabia que era imortal, precisava de um tempo apenas, o problema era que tinha certeza que estava sendo estreitada. Assim que baixasse completamente a guarda, o inimigo atacaria. Fechou os olhos e pensou no que fazer. Sua mente estava confusa devido ao veneno que se espalhava pelo corpo mesmo ela forçando o vômito para eliminá-lo. Inferno.

Cambaleou e se segurou com a mão esquerda na árvore enquanto a direita foi até a empunhadura de Murasame, destravou a katana de sua proteção com o polegar.  O inimigo não demoraria para aparecer. Cambaleou novamente e quase caiu de joelhos em cima do vômito.

‘Oras, oras… então está doentinha, Akame da espada encantada?’ Ela ouviu a voz masculina irônica atrás de si. Virou o rosto e observou por cima do ombro esquerdo a figura excêntrica que se aproximava devagar. Ele tinha uma espada dupla na mão direita, estava brincando com ela enquanto se aproximava. Ela franziu a testa no entanto reparando no dispositivo que estava preso à testa do adversário. Conhecia aquela teigu. O que Spectator estava fazendo com um civil? Desde que havia derrotado Zanku e Tatsumi não foi compatível com aquela teigu ela esteve com as forças revolucionárias e agora deveria estar no governo.

O inimigo abriu um sorriso satisfeito. ‘Exatamente isso que está pensando, Akame. Como será que eu, um mero caçador de recompensas na marginalidade da sociedade, possuo uma teigu tão poderosa quanto Spectator que pertenceu a Zanku, o Executor?’ A voz era debochada pois ele sabia que ela estava quase sem os sentidos. Conseguia perceber pelos movimentos lentos dela e conseguia também ler sua mente. Era estranho no entanto não achar medo e sim, estranhamente, curiosidade.

Kasumi se desencostou da árvore e virou-se para ele, caminhando devagar em sua direção com a mão direita segurando a empunhadura de Murasame. Ela o encarou com o rosto sem expressão… Na verdade, ela percebeu que ele trincou os dentes provavelmente sabendo o que ela estava pensando de um covarde que preferia enfrentar o inimigo quase moribundo do que de igual para igual? Enfim… não passava de um covarde sem honra mesmo. Uma vergonha, ele ser usuário de uma teigu.

Ele apontou a espada dupla na direção dela com o rosto transtornado ao saber o desprezo dela por ele. ‘Vou fazer você se arrepender em me considerar desta forma Akame!’

‘Mesmo?’

Ele trincou os dentes novamente e avançou em direção a ela, que saltou para esquerda desviando das lâminas afiadas do inimigo. Puxou Murasame tirando-a de sua proteção assim que pousou no chão, pegou impulso apenas para avançar em direção ao adversário, precisava eliminá-lo de uma vez ou seria perigoso. Sabia que estava lenta e logo era capaz de perder os sentidos. Além disso, sabia muito bem o poder da teigu que ele usava.

Tentou atingi-lo pela direita mas ele conseguiu bloquear seu ataque, abaixou levemente girando a espada para tentar novamente ataca-lo pela esquerda. Estava mais lenta. Sabia que Spectrus daria o poder ao seu usuário de ler seus movimentos tornando seus golpes totalmente previsíveis para o inimigo. Inferno. Sentiu ser atingida no rosto e caiu no chão sentindo o gosto metálico de sangue. Não conseguia se levantar por conta do efeito do veneno que espalhava pelo seu corpo.

Ouviu a gargalhada do inimigo e logo sentiu ele chutar sua mão obrigando-a a soltar murasame que rolou alguns metros de distancia de si. Arfou tentando buscar desesperadamente ar para os pulmões, ao mesmo tempo que tentava se proteger como podia dos golpes do inimigo que se aproveitava da incrível vantagem que possuía em relação a ela.

Seus cabelos foram puxados com força, obrigando-a a levantar o rosto e estreitou os olhos no rosto debochado do adversário covarde.

‘Já não é tão dona de si, não é Akame?’

Nem se deu ao trabalho de responder. Seu cérebro estava lento, agora sua prioridade era não responder a provocação dele e sim achar um jeito de sair viva daquela situação.

‘Cresci ouvindo histórias fantásticas sobre você e os Night Raids. Meu maior sonho era um dia encontrar a assassina de olhos vermelhos que derrotou a General Esdeath, a dama de gelo do Império.’ Ele falou, agora segurando o rosto dela para que ela o fitasse nos olhos. ‘Meu nome é Axel… e minha missão é levar sua cabeça para o General Kitajo colocar no meio da praça principal da capital.’

‘Como só ele que quisesse minha cabeça…’ Ela comentou com sarcasmo.

Axel a arrastou pelos cabelos em direção a uma árvore. ‘Realmente moçinha… sua cabeça está a prêmio.’

‘Não seria melhor então você a leiloar? Ou não sabe quem realmente a quer?’

Ele gargalhou. ‘General Katajo, General Ojain, General Narathel…’ Alex riu balançando a cabeça de leve. ‘Esta sua idéia realmente é bem tentadora para um caçador de recompensas.’

Axel a soltou logo golpeando-a novamente. Kasumi  trincou os dentes sentindo o corpo gritar de dor. Não estava nem conseguindo se proteger direito dos golpes, estava lenta demais. Lutava para tentar não perder os sentidos de uma vez. Se isso acontecesse seria o seu fim.

‘Mas nada me é mais satisfatório do que ter você a minha mercê.’

‘Humph.’ Ela soltou. ‘A presa só vale algo quando pagam por ela.’

Axel prendeu as mãos dela com uma corda que passou por cima de um galho, puxando-o logo em seguida para que o corpo dela fosse levantado do chão.

‘Estou pensando realmente qual seria o melhor jeito de conseguir mais dinheiro através de você. Realmente a sua ideia não é de toda ruim.’

‘Irá trair quem lhe entregou esta teigu?’

Ele sorriu de lado. ‘Kitajo sabia exatamente que não poderia confiar em mim quando a entregou.’ Esclareceu observando sua presa a frente. Era uma mulher bonita conforme as lendas sobre ela sempre eram contadas a ele desde molecote. Aproximou-se dela e segurou o queixo da jovem, levantando o rosto dela para que pudesse ver melhor os traços delicados.  ‘Você realmente faz jus as suas histórias Akame da espada encantada. A espada de um só corte.’

Ela se forçou a abrir os olhos e fitou o rapaz a sua frente. Era um idiota. Estava desviando o foco da sua missão por luxúria, nunca seria realmente um bom assassino.

‘Seus olhos são castanhos avermelhados exatamente como sempre eu ouvia, mas nunca a imaginei tão bonita quanto realmente é.’

‘Desejar o seu alvo não fará você receber sua recompensa.’

‘Verdade.’ Ele concordou. ‘Mas eles querem apenas sua cabeça, posso aproveitar o seu corpo.’ O tom era lascivo.

Ele segurou seu queixo com força para se aproximar e passar a língua pelo rosto sentindo o gosto da pele dela. ‘Seu gosto é realmente delicioso.’

Agora ela não sabia se sentia-se nauseada pelo maldito veneno ou por sentir ele passando a mão pelo seu corpo. Fechou os olhos, tentando manter seu cérebro ativo e seus sentidos, ou pelo menos o máximo que conseguia dele, alerta.

Não era a primeira vez que passava por este tipo de situação, gritar, implorar para que ele parasse só faria este tipo de homem tornar-se mais agressivo ao passo que ele sentisse cada vez mais ciente do poder sobre a “boneca” que tinha nas mãos e ser capaz de atrocidades maiores como algo macabro que saciasse seu desejo  lascivo.

Tinha que ser precisa. Teria apenas uma chance, já que o idiota estava realmente pensando com a cabeça de baixo em vez da de cima e garantindo-se que ela estava completamente a mercê dele.

Sentiu ele apalpando seu corpo e logo as mãos dele levantando sua saia para alcançar sua roupa intima, para tirá-la. Assim que sentiu que ele a tirava aproveitando para passar os dedos por suas pernas abriu os olhos e o viu inclinado a frente. Segurou a corda que amarrava seus pulsos de forma firme e puxou com os braços, erguendo o corpo de leve, mas com a altura suficiente para prender a cabeça dele entre seus joelhos flexionados e girou o corpo para a direita ouvindo o familiar barulho do pescoço sendo quebrado.

Olhou para o corpo de Axel caído sem vida no chão. Não adiantava ter uma teigu poderosa como aquela se não usava a cabeça correta. Respirou fundo soltando o ar devagar e pensando em como soltar suas mãos. Levantou o rosto e franziu a testa. O idiota não sabia nem fazer um nó decente, deveria realmente estar muito confiante que ela estava completamente moribunda. Subestimar o alvo sempre levaria o assassino a falhar. Se tivesse realmente ouvido as histórias sobre ela com atenção deveria saber que uma das suas maiores virtudes era nunca perder o foco na missão.

Suspendeu o corpo e com os dentes conseguiu soltar o nó mal feito, logo caindo no chão com as mãos soltas. Passou a mão na testa suada. Era melhor achar um lugar seguro para se recuperar do efeito daquele maldito veneno, parecia estar com febre. Seu corpo precisava de um tempo para superá-lo. Levantou-se, vestindo em seguida a roupa íntima que havia sido tirada dela. E caminhou até o corpo de Axel arrancando sua teigu da testa. Teria que levar para Wave assim como o nome dos generais traidores. Generais Katajo, Ojain e Narathel, repassou os nomes em sua mente para não esquecê-los. Precisava avisar Wave o quanto antes e pensar em como eliminar os traidores.

Mas agora tinha outra prioridade. Colocou Spectator no bolso do casaco pensando que Zanku realmente ficaria bem decepcionado em saber que a teigu que lhe pertencia havia sido compatível com um idiota daqueles. Com passos arrastados foi até Murasame pegando-a no chão, colocando-a na proteção e prendendo-a na cintura fina novamente.

Passou a mão no rosto que havia sido lambido pelo inimigo e pensou que precisava de um banho o quanto antes. Começou a caminhar devagar entrando pela floresta para tentar achar um lugar seguro para se esconder até superar o veneno.

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Shaolin  levantou o rosto molhado de lágrimas. Estava de joelhos no chão, com os dedos cravados na terra. Estava com ódio de si mesmo por ter apenas assistido o que haviam feito a ela sem que ele pudesse fazer absolutamente nada. A mulher que amava estava sendo abusada e logo seria violentada na frente dele e ele apenas assistiria. Sentia o peito doer tanto ou pior como se uma lança estivesse sendo cravada nele e o inimigo estivesse girando-a, rasgando e dilacerando seu peito, divertindo-se com seu sofrimento.

Observou Akame afastando-se e a viu cambalear novamente e se segurar numa das árvores.

‘Será que agora eu posso intervir?’ Falou entre os dentes fazendo questão de demonstrar todo o rancor e ódio que sentia.

‘Eu lhe disse que ela saberia sair da situação.’ Ouviu a voz de Miguel atrás dele.

‘Vá a merda!’ Shaolin gritou erguendo o corpo devagar. Estava ofegante de tanto que tentou desferir golpes em Axel sem conseguir, apenas vendo sua lâmina tão poderosa contra demonios ser completamente inútil contra humanos.

Ele se virou para o seu supervisor que estava em pé com a espada na mão direita. No ápice de seu desespero e como Miguel recusava-se a permitir que ele interviesse já que era uma questão entre humanos, acabou atacando-o.

Miguel o olhava com reprovação. ‘Ela é a guardiã das trevas. Seu alter ego. Você deve confiar na força dela.’

‘Eu já mandei você ir a merda!’ Gritou novamente e mais alto.

Miguel respirou fundo e soltou o ar devagar. ‘Ela logo perderá os sentidos, então você poderá intervir.’ Falou a contragosto desviando os olhos dele. Não era o certo, mas diferente do que Azrael pensava também havia ficado tenso com a situação, no entanto ele tinha clara confiança na força da guardiã das trevas daquele universo.

Shaolin arregalou os olhos, sem acreditar. Não esperou nem mais um segundo correndo em direção a Akame enquanto secava o rosto pelas lágrimas de desespero e raiva que havia derramado. Mal acreditou quando conseguiu segurá-la pelos ombros antes que Akame caísse de joelhos no chão.

Ela levantou o rosto e sorriu de leve, fitando-o com os olhos suaves. ‘Eu estou morta, Tatsumi?’ Ela perguntou concluindo por estar vendo-o e sentindo a pressão das mãos  dele segurando seus braços  e impedindo-a de cair.

Shaolin a abraçou com carinho e ela aconchegou-se no peito dele fechando os olhos e finalmente relaxando. ‘Acho que eu finalmente morri.’

‘Perdoe-me Akame… Perdoe-me.’ Ele falou apertando-a mais forte entre os seus braços.

‘Leve apenas um recado para Wave os nomes dos generais traidores são…’

‘Agora não, Akame… Eu vou cuidar de você e quando estiver bem, você mesma dará a lista para ele.’

Ela soltou um suspiro e sorriu de leve sentindo-se bem entre os braços dele. ‘Desta vez… a missão pode ser adiada… Estou cansada, Tatsumi.’

‘Eu sei, Akame. Eu também.’ Ele falou e logo sentiu que ela perdeu os sentidos. Abraçou-a mais forte tocando seu queixo na cabeça dela e sentindo as lágrimas de desesperos novamente saírem de seus olhos. Até quando viveria naquele inferno? Até quando seria incapaz de protegê-la? Até quando aguentaria manter-se sem enlouquecer naquela situação?

Levantou-se com o corpo frágil de Akame nos braços e começou a caminhar em direção a sede abandonada dos Night Raids onde poderia cuidar dela até que se recuperasse e quando ela deixaria de vê-lo novamente. Apertou o corpo mais forte sentindo prazer de senti-la entre eles. Abaixou o rosto e a viu se aconchegar melhor no peito dele. Estava de olhos fechados, cansada, mas agora era possível ver o seu semblante mais tranquilo sabendo que estava sendo amparada por ele.

Shaolin levantou o rosto e olhou para frente, continuou com seus passos firmes, porém o gosto amargo das cenas que tinha presenciado a pouco ainda estava em sua boca enquanto sentia ainda como se seu coração tivesse sido esmagado.

~*~*~KK~*~*~KK~*~*~KK~*~*~

Shaolin abriu os olhos, sentindo ainda o bolo na garganta. Fechou logo em seguida e levantou a mão para passar nos olhos quando sentiu que alguma coisa espetava seu braço direito, impedindo o movimento.

‘Que bom que acordou, meu amor.’ Ouviu a voz doce da mãe ao seu lado e logo sentiu ela afagar seus cabelos.

Shaolin virou-se e fitou o rosto da mãe que olhava para ele com um sorriso suave. ‘Como você está?’ Ela perguntou.

Ele não conseguiu nem sorrir por mais que tivesse se esforçado para isso na tentativa de despreocupar a mãe. Passou a mão esquerda no rosto, secando-o. ‘Por que estou aqui?’ Perguntou percebendo que ainda estava no hospital.

‘Você estava agitado demais, o médico deu um sedativo para que ficasse mais tranquilo. Estamos aguardando os resultados dos exames.’ Ela esclareceu a ele. ‘Foi medicado também e trocamos todos os seus curativos.’ Ela falou passando a mão pelos cabelos do filho. Inclinou-se e deu um beijo demorado na testa dele. ‘Nos deu um enorme susto, rapazinho.’

Ele fechou os olhos e soltou um suspiro dolorido. Ainda sentia o peito pesado, parecia que conseguia ainda reviver todo aquele momento de desespero por sua incapacidade de proteger a garota que amava. O gosto  amargo ainda estava na boca.

‘Quem é Akame?’ Ouviu a mãe perguntando e nem se deu ao trabalho de se mexer ou fitá-la. Tentou responder, mas ainda tinha o bolo na garganta, engoliu em seco tentando inutilmente fazer ele descer mas apenas o sentiu arrastar mais ainda pela garganta.

‘Você falou este nome várias vezes durante seu delírio…’ Sakura falou devagar observando o filho com cuidado. ‘Estava revivendo algo muito doloroso, não é Shaolin?’

Shaolin não respondeu, apenas virou o rosto para o lado oposto de onde a mãe estava, mas sentiu ela segurando seu rosto e forçando-o a fitá-la.

Sakura estreitou os olhos no filho e reparou nos olhos verdes tão parecidos com os seus transmitir tanto sofrimento que chegou a sentir o coração fisgar de dor.

‘O que está acontecendo com você, meu amor?’ Perguntou com a voz doce. ‘Quem é Akame? Por que queria salvá-la? Porque não  conseguia ajuda-la?’

Shaolin levantou-se ficando sentado no leito hospitalar e tentou desviar os olhos da mãe. ‘Akame era uma pessoa muito importante para mim…’ Ele trincou os dentes. ‘Mas eu não podia ajudá-la, só acompanhá-la como um maldito fantasma.’

‘Ela estava em perigo?’

Ele assentiu a cabeça, respondendo.

‘Foi um pesadelo ou uma lembrança?’ Ela perguntou devagar, observando as reações do filho.

‘Antes fosse apenas um maldito pesadelo.’ Shaolin respondeu com pesar.

‘Isso tem que parar, Shaolin.’ Ela falou e soltou um suspiro tentando controlar a irritação em se sentir impotente perante ao sofrimento do filho. ‘Talvez Apagar possa lhe ajudar a evitar que lembre-se de mais detalhes de sua vida passada.’

‘Talvez… Talvez seja uma boa ideia, kaasan. Talvez seja o melhor para mim e Kasumi.’ Ele falou com sinceridade.

‘Akame?’

‘É Kasumi agora.’ Finalmente ele esclareceu a mãe.

‘Certo.’

Observou o semblante abatido do filho e fechou os olhos pensando em como era dolorido vê-lo daquela maneira. Mordeu de leve o lábio inferior.

‘Kasumi-chan…’ Ela começou a falar devagar e como bem pensou reparou que o filho virou-se para ela com atenção.  Soltou um suspiro. ‘Vou chamá-la. Ela está na sala de espera, aguardando…’

‘Ela está aqui?!’ O menino gritou interrompendo-a. A Aura agitou-se novamente assustando a mãe. ‘Preciso vê-la.’ Disse tentando tirar a agulha.

‘Hei! Hei!’  Sakura chamou o filho, segurando o braço dele. ‘Calma! Fica calmo, Shaolin.’ Pediu de forma assertiva.

O menino balançou a cabeça de leve. ‘Preciso falar com ela.’ Insistiu e finalmente conseguiu tirar o soro do braço. Sakura rodou os olhos pensando que era bem filho dela mesmo. Lembrava-se quando tinha feito a mesma coisa. ‘Preciso ver Akame…’

‘Ela não é mais Akame.’ Sakura falou com voz firme.

Shaolin voltou-se para ela e balançou a cabeça de leve. ‘Kasumi.’ Consertou. ‘Preciso ver Kasumi.’ Repetiu levantando-se do leito do hospital e se concentrando para achar a presença da namorada. Era fácil identificar a presença dela agora. Estava indo em direção a porta quando a mãe parou a sua frente, segurando-o pelos ombros e fazendo-o parar.

Sakura o fitou nos olhos com o rosto sério. Shaolin engoliu em seco, a mãe sempre tinha o rosto doce, era terrível receber aquele olhar dela. Sentiu quando ela pegou o braço dele e colocou um pedaço de algodão apertando para que parasse o sangramento pela retirada da agulha. ‘Precisa pressionar para parar de sangrar.’ Orientou o filho que colocou a mão sobre a dela apertando o local. Ele abaixou os olhos mas sentiu que ela segurou seu rosto entre as mãos como sempre fazia quando queria atenção total dele.

‘Ela é Kasumi-chan e você é Shaolin.’

O menino abaixou os olhos, fazendo-a franziu a testa. Segurou mais firme o rosto dele. ‘Não tenha dúvidas disso.’

‘Não tenho, kaasan.’ Ele murmurou em resposta.

‘Ótimo.’ Ela falou satisfeita. Deu um beijo na cabeça do filho e deixou-o continuar seu caminho.

Shaolin empurrou a porta do hospital e olhou para o grande corredor. Franziu a testa e logo percebeu onde ela estava. Sorriu sem acreditar que estava tão perto dela. Tinha vontade de correr pelos corredores, mas ainda sentia todo o corpo dolorido, impedindo-o disto. Ainda tinha o gosto amargo da lembrança que teve antes de acordar.

Parou em frente a porta da sala de espera e abriu mais o sorriso quando viu Kasumi sentada ao lado de Tomoyo-ba-san. Ela ergueu o rosto e sorriu para ele ao mesmo tempo que se levantava da cadeira.

Kasumi caminhou até ele e o abraçou com carinho. Shaolin a abraçou encostando o queixo no ombro dela e fechando os olhos. Era bom demais senti-la novamente entre os seus braços.

‘Desculpe-me…’ Murmurou ao ouvido dela e sentiu o corpo dela tremer.

‘De novo, não, Shaolin… De novo, não.’ Kasumi respondeu fechando os olhos.

‘Não… não sei se vai dar.’

‘Já passamos por isso antes.’ Ela falou com a voz calma. ‘Faça o que tem que ser feito, Shaolin. Mas não considere que tudo terminará igual. Por favor. Não considere que exista apenas uma opção. A mesma opção de antes.’ Pediu e sentiu que ele a apertou mais forte entre seus braços mesmo que sentisse o corpo todo dolorido.

‘Eu te amo.’ Sussurrou ao ouvido dela.

‘Eu também… eu vou sempre te esperar.’ Ela sussurrou em resposta.

Sakura se aproximou dos dois e sorriu observando-os. Desviou os olhos para Tomoyo que também sorria de leve com os olhos em direção as duas crianças. Soltou um suspiro.

Era irônico constatar que mesmo fazendo de tudo para evitar que a amiga terminasse exatamente num hospital por conta dela, não conseguira evitar que Tomoyo estivesse numa sala de espera de um como agora.

Como se soubesse que estava sendo observada, Tomoyo levantou o rosto e fitou Sakura nos olhos. Sakura engoliu em seco, era estranho como parecia que a amiga no fundo soubesse de tudo, apesar de não ter magia. Caminhou devagar até ela e parou a frente da morena, sorrindo de leve.

‘Obrigada por ter trazido Kasumi-chan.’ Sakura agradeceu. Sabia como era importante para o filho ver a menina.

Tomoyo sorriu de forma doce para ela. ‘Sabe, Sakura-chan… Não sei exatamente o que aconteceu agora ou antes…’ Ela começou a falar, fazendo Sakura franzir a testa de leve. ‘Kasumi-chan me contou o que está acontecendo com ela.’

‘Contou?’ Sakura perguntou receosa.

Tomoyo assentiu com a cabeça. ‘Ela é a pessoa mais importante para mim. E estou feliz em saber que ela confia em mim para abrir seu coração e suas dúvidas.’

Sakura sorriu. ‘Você se tornou uma mãe maravilhosa, Tomoyo-chan.’

‘Assim como você.’ Ela rebateu e desviou os olhos para a filha que ainda estava abraçada a Shaolin. ‘Eu só quero que ela seja feliz. Ela já sofreu demais…’

A ruiva concordou. ‘Eu também… Quero que ela seja feliz, ela e Shaolin.’

Tomoyo sorriu voltando a encarar. ‘Sabe que também pode sempre contar comigo, Sakura-chan. Não preciso saber de tudo… não é necessário que saiba o que se passa com quem é importante para mim, para torcer e desejar do fundo do coração que tudo termine bem. Como eu sempre tive certeza que tudo terminaria.’

Sakura sentiu o bolo se formar na garganta. Como sentia falta do apoio de Tomoyo naquelas horas. Deu um passo à frente e abraçou a amiga com carinho. ‘Não sabe como me fez falta, Tomoyo-chan.’ Soltou.

Tomoyo a abraçou. ‘Sempre acreditei que você seria capaz de superar tudo, Sakura-chan. Tudo terminará bem.’

‘Sim.’ Sakura concordou. ‘Principalmente porque você está ao meu lado aqui. Como sempre esteve.’

Syaoran parou na entrada oposta a sala de visitas e observou a esposa abraçada a Tomoyo. Sorriu de leve, tendo aquela sensação de déjà vu. Pensou que era irônico como apesar de tudo que aconteceu no final, depois daquela confusão toda, lá estavam os quatro. Olhou para o lado, vendo Eriol também parado observando-as. Ele estava sendo ajudado por Marie que tinha o braço do pai sobre os ombros.

‘Pelo menos você sempre esteve certo em uma coisa, Hiiraguizawa.’ Syaoran comentou, chamando a atenção do amigo que voltou-se para ele com o rosto interrogativo. ‘Não existem coincidências…’

‘Apenas o inevitável.’ Eriol completou, sorrindo de leve. ‘No final, não importa o que aconteça… acabamos os quatro num hospital, não?’ Falou em tom de brincadeira, apesar de estar todo dolorido ainda.

‘Do que está falando, tousan?’ Marie perguntou sem entender.

‘Estou falando sobre a vida, minha querida.’ Respondeu, beijando de leve a cabeça da filha. ‘Em como a vida dá voltas, mas no final sempre chegamos onde exatamente deveríamos. Não importa o quanto tentamos burlar ou esquivar-nos do destino.’

Marie deu um suspiro e desviou os olhos do pai olhando sobre o ombro esquerdo para Kazuo que estava parado logo atrás deles.

‘Acho que tem razão, tousan…’ Murmurou com o tom triste.

~*~*~KK~*~*~KK~*~*~KK~*~*~

Eriol olhou de esguelha para o lado esquerdo, observando Tomoyo dirigindo o carro. Ele e Marie estavam voltando de carona com Tomoyo e Kasumi para Tomoeda. Não havia a menor condição dele dirigir naquele momento. As duas garotas estavam no banco de trás, caladas. Cada uma envolta em seus pensamentos.

‘Obrigado pela carona.’ Eriol falou, fazendo Tomoyo virar-se rapidamente para ele e depois voltar a prestar atenção na estrada.

Ela sorriu. ‘Não há de que Hiiraguizawa-san.’ Respondeu.

Eriol comprimiu os lábios. No fundo, sentia falta de ouvir a amiga chamando-o pelo primeiro nome. Bem, agora eles tinham pouco contato, tirando os poucos encontros em eventos da família Li. Também não podia negar que ainda sentia-se mal em se aproximar dela. Sorriu de forma triste em constatar que apesar do enorme abismo que se abriu entre os dois, agora estava ela levando-o para casa e saído de um hospital. Perdeu as vezes que ela tinha feito isso na outra existência deles e a muitos anos atrás.

Bem, agora os dois eram casados, tinham filhas. E justamente apaixonadas pelos dois filhos de Sakura e Syaoran. Irônico até demais. Ou talvez, não tão irônico assim. Olhou para trás sobre o ombro esquerdo e reparou em Kasumi que estava sentada atrás da mãe. Franziu a testa, reparando na aura púrpura forte e brilhante em volta da menina.

Desde que a conheceu, sempre a achou tão bonita quanto a mãe. Ele, inclusive, não tinha como não compará-la a Tomoyo, mas nunca havia percebido magia nela antes.

Tomoyo olhou de esguelha para Eriol e percebeu que ele observava a filha. Respirou fundo e soltou o ar devagar.

‘Você consegue ver?’ Perguntou chamando a atenção dele.

Ele voltou-se para ela e franziu a testa, sem entender.

‘Magia.’ Clarificou, fazendo-o pigarrear.

‘Hum?’ Não sabia bem o que responder. Sakura e Syaoran decidiram deixar a magia fora da vida de Tomoyo, principalmente por medo pela segurança dela, e ele apenas respeitou a decisão dos amigos. Apesar de que Tomoyo nunca havia precisado de magia para entender das coisas. Na verdade, entendia melhor o que a rodeava magicamente do que ele mesmo, que se considerava um grande feiticeiro.

Kasumi desviou os olhos da estrada e soltou um suspiro. ‘Acho que sim, kaasan.’ Ela respondeu por Eriol. ‘Nee-san e Nii-san levaram um baita susto quando me viram chegando no hospital.’

Marie franziu a testa e olhou para a garota ao seu lado. ‘Você nunca teve magia. Como é que aparece agora com esta aura em volta de você?’ Ela soltou um suspiro irritada. ‘Eu sempre soube que você era mais que uma pirralha gulosa! Mas nunca imaginei isso.’

Tomoyo sorriu de forma suave. ‘Mas acho que isso não importa muito, não é? Ter magia ou não, enfim… não muda o que no fundo vocês duas são. Duas garotas normais.’ Ela abriu o sorriso. ‘E pelo jeito apaixonadas.’

Eriol endireitou-se no banco incomodado com o comentário. Marie soltou um suspiro e Kasumi balançou a cabeça.

‘Ainda está confusa por causa das suas lembranças do passado, nee-san?’

‘É complicado.’ Marie respondeu contrariada ainda.

‘É… acho que de ser complicado...’

Marie franziu a testa. ‘Você acha que é fácil ter lembranças do passado?’ Ela perguntou em tom de desafio. Kasumi virou-se para ela. ‘Lembrar de todas as coisas erradas que fez e de todas as decisões erradas que tomou?’

Marie engoliu em seco reparando o olhar de censura de Kasumi por ter levantado a voz para ela. Inferno! Não gostava quando a menina olhava daquela forma para ela, não sabia direito o que sentia, mas era como se de alguma forma parecia errado falar naquele tom com ela. Desviou os olhos, encolhendo de leve os ombros.

Tomoyo e Eriol prestavam atenção no diálogo das garotas. Os dois não podiam negar que sentiam-se tensos com o conteúdo da conversa.

‘Não é fácil.’ Kasumi respondeu, mas depois sorriu de leve. ‘Mas como kaasan me falou…’ disse dando de ombros. ‘Se é passado, não é mais real.’

Tomoyo sorriu ao ouvir a filha.

‘Claro que é real.’ Marie rebateu baixinho. ‘Você fala isso por que não é com você. Não era você que era um demô-...’ reteve-se soltando um suspiro contrariado. Kasumi estava minimizando a situação como sempre. Ela sempre via as coisas de forma prática, mas não dava para ser prática e simples com um passado a atormentando e aquele maldito sentimento de culpa, esmagando o seu peito.

Kasumi inclinou a cabeça de leve. ‘Um demônio?’

Eriol arregalou de leve os olhos e olhou para Tomoyo que mantinha a condução do veículo. Franziu a testa ao constatar que ela parecia nem um pouco assustada ou surpresa com que a filha tinha falado.

Marie encarou-a novamente. ‘Isso mesmo. Você não sabe o que…’

‘Talvez.’ Ela a interrompeu. ‘Tenho a aura com a mesma coloração que a sua. Pensei que fosse fácil para você deduzir isso.’ Disse de forma calma.

Marie arregalou os olhos e engoliu em seco. Era claro que se a aura de Kasumi tinha a mesma vibração que a dela, era porque tinha origem do mesmo lugar. Desviou os olhos da amiga fitando os joelhos.

‘Você então também foi um?’

‘Não.’ Ela respondeu e depois meneou a cabeça. ‘Na verdade, não sei bem. Acho que me tornei depois… não cheguei a ir para o Mundo das Trevas… O meu inferno foi um pouco diferente.’ Soltou um suspiro. ‘Mas acho que tão dolorido quanto…’

Marie comprimiu os lábios de leve. ‘Você… você foi uma Guardiã das Trevas, não foi?’

Kasumi inclinou a cabeça olhando para a jovem. ‘Acho que era assim que Miguel me chamava.’

Marie arregalou os olhos e balançou a cabeça de leve. ‘Agora faz sentido você ter o mesmo olhar que Syaoran-ji-san… principalmente quando ele…’ Ela interrompeu-se e desviou os olhos da menina.

‘Quando matava os inimigos?’ Kasumi perguntou com simplicidade e calma.

A jovem engoliu em seco e assentiu com a cabeça confirmando. Eriol olhou para trás observando a menina. Era estranho demais imaginar que ela, a filha de Tomoyo, havia sido uma guardiã das trevas como Syaoran.

Marie franziu a testa observando o semblante tranquilo de Kasumi. ‘Talvez por isso tivesse a impressão que você era familiar.’

‘Não sei… não me lembro de ter estado no mundo das trevas. Pelo menos, não por enquanto… minhas memórias estão restritas apenas a minha última encarnação…’ Ela explicava com o tom sereno. Levantou a mão direita observando a aura púrpura. Sabia que tinha mais poder do que havia se manifestado até agora. Sabia que dentro de si, havia um vulcão próximo de explodir.

‘Por que tem magia agora?’ Marie finalmente perguntou, fazendo Kasumi sair de seus pensamentos.

‘Uma das Cartas de Sakura-ba-san resolveu quebrar o bloqueio que um anjo fez na minha magia. Para eu poder reencarnar neste universo. Aí… o processo de enfraquecimento do bloqueio, foi proporcional ao processo doloroso de recobrar as lembranças da minha vida passada.’

Marie permaneceu calada, ainda fitando os joelhos, lembrava-se de como Shaolin havia descrito que havia encontrado Kasumi em seu escape.

‘Por isso não podia usar espadas?’ A jovem perguntou em tom baixo.

‘Exatamente. Matei muitas pessoas usando espadas. Inicialmente achando que estava fazendo o certo… Depois vi que estava no lado errado… Aí mudei, mas continuei fazendo o que no fundo…’ Ela olhou para as mãos com o rosto triste. ‘Continuei fazendo o que eu era a melhor. Matar pessoas… Matar demônios… enfim… Matar.’ Respondeu calmamente. ‘Acho que no fundo eles tem medo que eu volte a ser o que era antes.’ Balançou a cabeça de leve. ‘Como se apenas evitar de manejar uma espada pudesse impedir de uma pessoa de fazer o bem ou o mal.’

Tomoyo voltou-se rapidamente para trás e fitou a filha, sorrindo de leve, apesar de perceber o tom triste que a menina falava. Tinha conversado muito com ela sobre isso. E era bom constatar que Kasumi havia entendido que passado era passado. Ela não era mais aquela pessoa que havia se lembrado.

Marie ajeitou-se no banco incomodada. ‘Você… Você realmente não… não se importa pelo que se lembra?’

Kasumi meneou a cabeça. ‘Às vezes fico triste. Muito triste. Tenho alguns pesadelos ruins. Lembranças muito dolorosas e arrependimentos… muitos arrependimentos.’ Começou a falar com os olhos fixos num ponto qualquer. ‘Tomei a decisão de matar a pessoa que era mais importante para mim, achando que assim eu a estava salvando…’

Marie arregalou os olhos de leve ouvindo a garota, não imaginava a amiga ao lado tivesse aquele tipo de lembrança tão ou mais dolorosas que as dela. No fundo, realmente achava que seus problemas, suas lembranças, suas dores eram sempre maiores do que de todos. Seu arrependimento era mais terrível do que de qualquer um. Marie fechou os olhos. Pensando bem, todos eles tinham sua carga. Kazuo, ela, Shaolin e até mesmo Kasumi.

‘Sabe…’ Kasumi chamou a atenção dela novamente com a voz mais animada. ‘Tenho saudades de algumas pessoas que eram importantes para mim, mas estou feliz de ter a oportunidade de ter também lembranças felizes da minha infância de agora. De ter vivido dentro de uma família que me ama, convivido com Shaolin e com você de maneira leve e alegre.’ Ela sorriu de leve. ‘Eu posso tentar me apegar as lembranças tristes e dolorosas da minha outra vida, ou me apegar as lembranças felizes e doces desta minha vida.’

Marie levantou o rosto encarando Kasumi que mantinha o sorriso suave nos lábios.

‘Prefiro me apegar ao que eu sou e não ao que eu fui.’ Kasumi deu de ombros. ‘Não posso mudar quem fui… mas posso ser uma pessoa melhor agora.’ Concluiu.

‘Você é uma pessoa melhor agora, meu amor.’ Tomoyo falou, prestando atenção na estrada, mas sabendo que a filha ouviria. ‘Sabe Marie-chan… é importante tentar entender quem você foi, mas principalmente saber quem você é agora.’

Eriol arregalou os olhos com a colocação de Tomoyo. Balançou a cabeça de leve. ‘Você sempre soube falar a coisa certa na hora certa.’ Disse fitando a amiga.

Tomoyo olhou de esguelha para Eriol. ‘Você só pode ensinar isso para sua filha, se você também acreditar nisto… Hiiraguizawa-san.’

Ele concordou com a cabeça e soltou um suspiro sorrindo de leve. ‘Como sempre… você tem razão, Tomo-... hum... Kurogane-san.’

Marie olhou para Tomoyo e depois para Eriol. Abaixou os olhos, em parte triste, em parte envergonhada. Sentiu quando Kasumi segurou a mão dela com carinho, chamando sua atenção.

‘Vai dar tudo certo, Nee-san. Eu sei… tenho certeza, que você é uma pessoa muito melhor do que está pensando que é ou foi.’ Falou tentando passar confiança para a jovem. ‘Você é especial para seus pais, para os tios, Shaolin, nii-san e para mim também.’ Completou sorrindo de forma doce.

Marie mordeu com força o lábio inferior, sentindo novamente os olhos arderem e o peito doer.  Fitou o rosto da menina e viu tanto carinho vindo deles. Pensou em como aquela lenda do mundo das trevas era idiota em considerar que os que possuíam olhos vermelhos eram os mais terríveis. Os olhos de Kasumi transmitam para ela agora uma ternura tão grande.

Inclinou o corpo colocando sua cabeça no colo de Kasumi e finalmente chorou de forma silenciosa, tentando colocar parte daquela dor para fora.

Kasumi afagava com carinho os cabelos ruivos sem se importar da amiga estar molhando a saia de seu uniforme escolar. Doía ver Marie assim, principalmente por ela ser sempre tão dona de si.

Eriol virou-se rapidamente para trás vendo a filha e trincou os dentes. Aquele ciclo de dor e arrependimento tinha que parar.

~*~*~KK~*~*~KK~*~*~KK~*~*~

Sakura caminhava pelo corredor da pousada Funbari que agora se encontrava silenciosa. Os xamãs tinham retornado aquela noite, sabe-se lá de onde, e fizeram uma verdadeira festa. Nunca havia visto a pousada tão animada e tão barulhenta.

À princípio, estranharam a presença de Arthas, mas Anna Asakura avisou a eles que deixassem o “esquisito feio” em paz, pois ele tinha protegido a pousada quando ocorreu toda a confusão dos universos assim como Kerberus.

Na verdade, a senhora Asakura tinha mesmo era prendido o grandalhão e a fera alada na pousada para que evitassem a invasão dos demônios na pousada dela. Estava preocupada por tudo estar acontecendo bem próximo a sua pousada e não gostaria de ter prejuízos.

Kerberus e o grandão adoraram a ideia. Contavam de forma teatral como defenderam a pousada, cada um tentando tirar mais vantagem em suas façanhas na defesa ao território da pousada Funbari. Kerberus informou que havia destruído vários demônios que tentaram se aproximar da pousada com suas Bolas de fogo e sua presença imponente enquanto Arthas contava com entusiasmo sobre ter sido o guardião da senhora Asakura.

Anna apenas rolava os olhos, tentando manter a paciência. O esposo dela o agradeceu entusiasticamente, fazendo Arthas sentir-se mais importante ainda e estufando o peito. No entanto, baixou a crista rapidinho quando Anna o informou que não teria desconto nenhum nas diárias e que teria que trabalhar para pagar por sua estadia porque comia demais e estava dando prejuízo. Quando Kerberus havia comentado que, pelo menos, esperava que o pão duro do marido de sua mestra pagasse sua conta, Anna já foi avisando que Syaoran tinha dado um limite e que, se o ultrapassasse, o bichano teria que dar um jeito de pagar ou ela cortaria o suprimento de alimento e doces para ele.

Os xamãs estavam muito animados e felizes, apesar de parecerem bem cansados. Depois de festejarem, logo se recolheram para descansar, fazendo a pousada novamente ficar silenciosa.

Sakura gostaria de ir embora o mais rápido possível, mas tanto ela quanto Shaolin estavam cansados. Temia permanecer na pousada Funbari e Shaolin ser obrigado a destruir a última chave.

Ela passou pelo quarto onde deviam estar os filhos e sorriu de leve. Ainda não conseguia acreditar que Kazuo era realmente seu filho. Ao mesmo tempo que isso lhe dava uma imensa alegria, também lhe causava uma imensa dor no peito.

Respirou fundo e balançou a cabeça de leve. Teria que superar isso, não teria como mudar o passado, mas poderia tentar construir um futuro lindo para o filho mais velho.

Tentou relaxar os músculos do pescoço. Ainda estava preocupada demais com Shaolin. O menino fez vários exames e realmente comprovaram que ele teve um sangramento interno, mas que milagrosamente tinha reduzido a nada e no final, foram obrigados a liberar o garoto. Passou a mão no rosto, Shaolin tinha sido levado ao limite dele, colocando a vida em risco para combater a loucura dela.

Sentiu os olhos arderem e balançou a cabeça. Não sentiria mais culpa. Foi justamente a culpa que a levou àquela loucura. Ela voltaria para casa com os dois filhos. Seus dois filhos.

Franziu a testa ao perceber que não sentia a presença dos dois no quarto quando se concentrou. Abriu a porta de correr e não encontrou nenhum dos dois dormindo nos futons. Engoliu em seco. Onde estariam?

Caminhou mais rápido, controlando-se para não chamá-los, ou melhor gritar o nome dos dois. Tentou manter a calma e se concentrou, logo identificando onde estavam. Abriu a porta que dava para a parte de trás da pousada e encontrou os dois um ao lado do outro conversando em voz baixa em tom camarada.

Sorriu observando-os. Syaoran sempre quis filhos com idades próximas justamente para que fossem amigos. Shaolin e Kazuo mostravam uma cumplicidade tão forte agora. Deviam ter passado por um monte de coisas durante o tempo que viajaram juntos.

Shaolin reparou na presença da mãe e virou-se para trás, alertando Kazuo da presença materna. Ela se aproximou e sorriu de leve. Abraçou-os ao mesmo tempo, beijando o rosto dos seus dois meninos.

‘Eu posso saber o que os dois rapazinhos estavam tramando na calada da noite?’ Ela perguntou em tom de brincadeira.

Os dois se entreolharam e depois desviaram os olhos sem conseguir responder a mãe. Sakura soltou um suspiro, era tão óbvio…

‘Estão falando sobre Marie-chan ou Kasumi-chan… ou sobre as duas?’ Ela perguntou sentando entre os dois e não gostou nada de ver o semblante abatido dos dois filhos.

As duas meninas voltaram para Tomoeda com os pais. Tomoyo tinha dado carona para Eriol e Marie, já que ele tinha dificuldade de dirigir logo depois que saiu do hospital.

Tinha percebido que Marie e Kazuo, mal se fitavam e evitavam estarem próximos um do outro.

Não podia negar que estava magoada e decepcionada com Marie… na verdade, com Khala’a. Nunca havia imaginado que ela tivesse usado aquele recurso para apagar suas memórias, mesmo que fosse a melhor das intenções, talvez… talvez se ela soubesse, ela teria ido atrás de Midoriko sabe-se lá para quê e tivesse encontrado o filho. Talvez… Talvez…  Mas independente do que seria possível ou não, realmente não gostava quando alguém tomava a decisão por ela, mesmo que fosse para poupá-la de qualquer dor. Ela não era tão frágil como insistiam em considerá-la.

Respirou fundo e soltou o ar devagar. Mas também não podia ignorar que o filho era completamente apaixonado por Marie. Ela tinha que tentar superar e entender que Marie não era Khala’a, assim como Shaolin não era mais um anjo ou o que seja. Shaolin era Shaolin, seu filho. Marie era Marie, filha de Eriol.

Não seria tão fácil assim, mas se esforçaria. Esperava que a jovem também fizesse o mesmo.

‘Dê um tempo para ela, Kazuo.’ Sakura falou com voz suave, passando a mão na cabeça do filho.

‘Foi exatamente isso que eu fiz.’ Ele respondeu. ‘Ela ainda está muito vinculada a vida dela como Khala’a.’ Ele soltou um suspiro. ‘Tem que resolver isso primeiro.’ O rapaz olhou de esguelha para a mãe e comprimiu os lábios.

Sakura entendeu o que o filho também receava. Passou novamente a mão na cabeça dele. ‘Eu vou fazer o possível para superar também. Acho que todos nós…’ Sakura fechou os olhos brevemente. ‘Todos nós precisamos pensar daqui para frente e não deixar mais o passado nos impedir de seguir…’

Kazuo abriu um sorriso tímido para ela. Sakura beijou o rosto dele com carinho. Estava muito feliz em saber que o rapaz era seu filho, no fundo, gostava dele antes mesmo de saber a verdade sobre aquele terrível acontecimento.

Shaolin observou a mãe e o irmão e sorriu. Estava feliz por eles. Kazuo merecia uma mãe tão especial como ele sabia que Sakura era.  Sentia-se um pouco culpado por ter sido ele a revelar de forma bem errada a verdade, o que ocasionou aquela confusão toda. Talvez se tivesse agido de maneira diferente, evitaria aquele sofrimento tão forte na mãe. Enfim… não tinha como mudar o que já tinha acontecido... Franziu a testa de leve, ou tinha?

Abaixou os olhos, observando suas mãos rodeadas pela aura branca. Ela estava forte, muito forte. Talvez, fosse capaz de fazer algo, não?

Kasumi estava certa. Ele estava focado apenas em um desfecho para sua situação. Já tinha considerado certo o seu destino, e talvez até estava certo quanto a ele, mas ele não tinha nem pensado ou considerado outras opções. Talvez pudesse ter outra solução para aquela situação. Não precisava tudo ser como um mini julgamento, já com veredito definido. Não existe verdade absoluta, ele tinha que conhecer a si mesmo e também deslumbrar outras possibilidades de seu poder. Sorriu de leve pensando em Kasumi, queria voltar para ela, queria viver tudo que eles não puderam viver como Tatsumi e Akame.

Sentiu quando a mãe passou o braço sobre seu ombros, chamando sua atenção. ‘Como você está rapazinho? Sente alguma dor?’

Shaolin encolheu os ombros de leve. ‘O normal.’

‘Ele ainda tá todo machucado.’ Kazuo comentou. ‘E para de falar que são só arranhões!’ Já cortou o que sabia que o irmão retrucaria.

Shaolin balançou a cabeça de leve. ‘Não tenho poder de cicatrização, mas sei que daqui a pouco todas estarão cicatrizadas. É só uma questão de tempo.’

Kazuo balançou a perna de leve mostrando que estava ansioso. Olhou para o irmão e depois para a mãe. Desviou os olhos para um ponto qualquer do pátio da pousada. Queria perguntar sobre Kasumi. Não teve tempo de conversar com a menina e verdade seja dita tinha realmente se assustado demais com a aura em torno dela ser tão forte daquela forma, sendo que da última vez que a viu não havia magia em torno da menina.

Bem… ele nunca foi bom em segurar a língua. ‘Hum… Kasumi… Ela lhe contou o que aconteceu com ela?’ Kazuo perguntou devagar, medindo as palavras. ‘Ela está com uma aura muito forte…’

Sakura olhou para Shaolin que diferente de Kazuo estava com a aura tranquila e não agitada. Tinha um pedaço de galho ou capim na mão e brincava de forma distraída batendo de leve no chão gramado.

‘Kasumi e eu nos conhecemos a muito tempo atrás. Quando eu e ela éramos outras pessoas.’ Ele começou a responder. ‘Por algum motivo para ela reencarnar precisou que a magia que possuía fosse lacrada.’

Kazuo ajeitou-se no banco. ‘Hum… a aura dela é muito parecida com… enfim…’

‘Com a sua e de nee-san.’ Shaolin falou pelo irmão. Sabia que ele estava medindo as palavras, o que era bem estranho de se constatar. ‘Ela não foi um demônio, ou não totalmente…’ Balançou a cabeça de leve. ‘A história é complicada. Nem eu e nem ela sabemos de tudo… O universo ou sei lá, o lugar onde nos conhecemos antes era diferente. Havia vários demônios, mas não era o Mundo das Trevas…’

‘Você se lembrou?’ Kazuo perguntou, mas era a mesma pergunta que Sakura gostaria de fazer.

‘Não de tudo. Mas o suficiente para…’ Ele soltou outro suspiro. ‘Para saber que foi uma merda  nossa outra existência.’

Sakura já estava pronta para repreender o filho pelo linguajar, mas não era hora para isso.

Shaolin olhou para mãe. ‘Uma droga.’ Arrumou rapidamente. ‘Foi uma droga.’

Ela balançou a cabeça de leve e passou a mão nos cabelos do caçula. ‘Mas vocês dois estão aqui agora, tem a oportunidade de terem uma existência totalmente diferente.’ Falou sorrindo, tentando passar confiança para o filho.

‘Acho que sim…’

‘Acha?’ Sakura o questionou, franzindo a testa.

Shaolin jogou o que tinha na mão no chão e voltou-se para a mãe. Tinha que ser direto com ela.

‘Kaasan… Sobre a última chave.’ Ele começou a falar, mas foi interrompido.

‘Você destruir a última chave está fora de questão, Shaolin.’ Sakura respondeu com severidade.

Shaolin estreitou os olhos na aura da mãe, observando que ela havia se agitado ligeiramente, mas também notou que nenhuma mancha negra havia se manifestado. Na verdade, desde que havia retornado a si, com Kazuo entre seus braços, a presença da mãe estava mais brilhante e radiante do que nunca. Era até curiosa a forma como a aura dela resplandecia quando o irmão a chamava de “kaasan”.

‘Preciso fazer isso, kaasan.’ Falou com a voz firme. ‘Só assim conseguirei as respostas que eu estou procurando há tempos. Preciso me encontrar com o “dono” da chave.’

‘Como pode ter certeza disso?’

‘Chocolove-sama me deu a dica.’

‘Chocolove-sama?’ Sakura perguntou, olhando desconfiada para os dois.

‘O protetor da quinta chave.’ Kazuo respondeu e soltou um suspiro. Olhou de esguelha para o irmão e sorriu. Estava feliz por ele estar bem e ao seu lado. Não queria perdê-lo. ‘Ainda bem que você voltou.’ Ele comentou, fazendo Shaolin virar-se para ele.

‘Eu prometi sempre voltar, não?’

Kazuo concordou com a cabeça.

‘O que é isso? Reunião de família?’ Syaoran se aproximou dos três com um sorriso, mas logo o fechou ao notar a expressão no rosto de Sakura. ‘O que houve?’

Sakura fitou o esposo. ‘Estávamos falando sobre a última chave.’

Syaoran ergueu de leve as sobrancelhas. Olhou para o caçula que deu de ombros e depois para o filho mais velho.

‘Gabriel ou aquele outro lá já apareceram lhe cobrando isso?’ Syaoran perguntou, voltando-se para o caçula.

‘Gabriel já havia me avisado que eu preciso destruí-la para encerrar um ciclo de alguma coisa.’ O garoto respondeu.

Syaoran olhou para Kazuo que voltou a balançar de leve a perna. Depois voltou para o filho. ‘E ele lhe falou alguma coisa sobre o aumento da sua presença mágica? Sobre o que aconteceu com o seu corpo?’

‘Ele falou que tudo tinha uma razão de ser… E eu acho que estava certo. Se eu não estivesse forte não teria como…’ Ele olhou de esguelha para a mãe que pousou uma mão no ombro dele, sorrindo.

‘Você foi muito corajoso, Shaolin. Vocês dois foram.’ Ela falou, olhando para Kazuo. ‘Estou muito orgulhosa de vocês...’ Comentou e olhou para o esposo que concordou com a cabeça.

Shaolin e Kazuo se entreolharam sem graça.

‘O importante é que a senhora voltou para nós.’ Kazuo comentou.

‘Exatamente.’ Shaolin concordou com o irmão.

Ela sorriu para os dois e assentiu com a cabeça. ‘Então… Se sua aura não estivesse tão forte…’ Ela falou, olhando para o caçula. ‘Não teria como controlar tantas cartas ao mesmo tempo.’

‘Tempo é uma carta muito perigosa.’ Syaoran comentou. ‘E foi muito arriscado usá-la ao mesmo tempo que as outras.’

O menino endireitou o corpo. ‘Precisava proteger Kasumi. Era a única solução.’ Ele balançou a cabeça, com um sorriso irônico. ‘Ela no final é que aproveitou a parada do tempo e tentou salvar outras pessoas, já que conseguia se movimentar. Ela nunca consegue ficar parada e segura, sempre encara tudo como uma missão que tem que ser cumprida…’

‘Ela não é feita de porcelana, não é?’ Sakura retrucou o filho. Sabia que ele agia com Kasumi de forma muito parecida como Syaoran agia com ela.

Shaolin soltou um suspiro. ‘Ela pode não ser feita de porcelana, kaasan… mas para mim é inadmissível perdê-la novamente.’ Falou sério.

‘Não pode prendê-la numa redoma?’

‘Se eu pudesse, era o que eu faria.’ Ele respondeu, fazendo-a arregalar os olhos. ‘Mas sei que agindo assim, vou transformar a minha e a vida dela num inferno parecido com o que vivemos antes.’

Sakura sorriu aliviada. ‘Fico feliz que tenha consciência disto.’

‘É…’ Ele falou e olhou para o pai e para a mãe, desviando os olhos em seguida. ‘Me alertaram sobre isso… na última chave.’

Syaoran passou a mão na cabeça do filho. ‘Você sabe o quanto se arriscou usando tanta magia, não?’

Ele fitou um ponto qualquer do gramado a frente deles. ‘Eu me arriscaria muito mais para protegê-la e… Também era a única solução para minimizar a situação das pessoas sem magia no resto do mundo. Elas estavam apavoradas. Dava para sentir de longe.’

Syaoran assentiu com a cabeça. ‘Foi uma ótima solução. Arriscada para você, mas eficaz para o problema.’

Shaolin concordou com a cabeça. ‘Então… Tudo, no final, tem um motivo para ser, não?’

‘Nisso, você tem razão.’ Syaoran concordou. ‘Mas se a cada chave que você retorna, volta mais forte, temos receio de como voltará da última.’ Ele foi sincero. ‘Você chegou no seu limite, Shaolin… Mais que isso não vai aguentar.’

Ele desviou os olhos do pai. ‘É uma escolha minha, tousan. Nem você e nem kaasan podem decidir por mim.’

‘Você é menor de idade.’ Sakura chamou a atenção dele. ‘E mesmo que não fosse, não deve colocar sua vida em risco por nada. Entendeu, Shaolin?’

O menino levantou o rosto e encarou a mãe, sério. ‘Não, kaasan. Isso é uma escolha minha. Não é a primeira que faço e nem será a última.’

Sakura engoliu em seco reparando o olhar decidido do filho. Como sentia falta dos olhos infantis de Shaolin. Não queria que ele amadurecesse tão rápido. Ela olhou para o marido que assentiu com a cabeça de leve.

Pegou o rosto do filho entre as mãos e olhou séria para ele. ‘Para azar seu, você é nosso filho. Não importa o que você foi ou o que você será. Você é o nosso filho.’

Shaolin pegou as mãos da mãe que estavam no seu rosto. ‘Kaasan… Eu preciso realmente fazer isso. Entenda que não tem outra solução.’ O garoto argumentou. ‘Se a destruição da chave é o fechamento de um ciclo, é melhor que se encerre de uma vez, não?’

‘Você e seu irmão já fizeram o suficiente.’ Sakura declarou, balançando a cabeça.

Syaoran respirou fundo. ‘Talvez… como é a última chave… talvez eu  posso ir no seu lugar, Shaolin.’

‘Não, tousan. Esta missão sempre foi minha. Não sou o primeiro a passar por estas provações, o senhor sabe disso.’

O homem engoliu em seco. Sakura olhou para o marido com o rosto interrogativo.

‘Do que vocês estão falando?’

Ele soltou um suspiro e contou com a ajuda de Kazuo sobre Lyra.

Sakura soltou um murmúrio, comentando que, pelo menos, tinham tentado fazer alguma coisa antes de usar de chantagem para que Syaoran fosse para o inferno. Franziu a testa de leve lembrando-se de sua conversa com Aeon. Então Aeon também havia sido um anjo caído? Olhou para o marido. ‘Aeon…’

Syaoran confirmou com um gesto. ‘Provavelmente, ele também foi um anjo caído.’

Sakura voltou a olhar para o filho e sorriu. ‘Aeon me falou que uma vez a missão concluída, volta-se para…’ Ela reteve-se e finalmente se deu conta do que as palavras dele queriam dizer, levantou-se e parou a frente de Shaolin segurando-o pelos ombros.  ‘Você vai voltar com a sua família para nossa casa, está me ouvindo?’ Falou quase sacudindo os ombros do garoto, sua aura explodiu de nervosismo.

Shaolin arregalou os olhos. ‘Sim… Eu acho.’

‘Fica calma, Sakura.’ Syaoran pediu parando ao lado da esposa e tentando fazer ela soltar os ombros do filho os quais ela apertava de forma nervosa.

‘Agora que eu recuperei o seu irmão, não vou perder você, entendeu, Shaolin?’

O menino até tentou falar algo, mas realmente se assustou com a explosão da aura da mãe.

‘Sakura!’ Syaoran a chamou mais alto e a puxou para soltar o filho. ‘Mantenha a calma.’

Sakura fechou os olhos e respirou fundo várias vezes tentando se controlar.

‘Kaasan!’ Shaolin a chamou, levantando-se. Encarou a mãe nos olhos. ‘Eu vou voltar.’

‘Você não precisa ir.’ Ela ainda rebateu.

‘Preciso de respostas e apenas nesta última chave as terei. São sobre mim, sobre Kasumi. Preciso entender o que aconteceu e finalmente tentar fechar de forma definitiva isso, para que eu e ela… assim como todos nós possamos voltar para nossas vidas, sem nenhum fantasma.’

Sakura engoliu em seco. Olhou para Syaoran que também tinha o rosto tenso mas compreendia o posicionamento do filho.

Kazuo colocou uma mão no ombro da mãe, fazendo-a virar-se para ele. ‘Shaolin prometeu sempre voltar. Ele não vai faltar com a palavra dele.’

O garoto engoliu em seco, já tinha faltado com sua palavra com Akame quando era Tatsumi. Estava com medo de voltar a faltar com ela novamente, mas foi como Kasumi mesma lhe alertou, não deveria considerar apenas aquela possibilidade.

Shaolin levantou o rosto e fitou a mãe que voltou a encará-lo. Tentou sorrir. ‘Tousan me falou que se eu não voltar, vocês vão atrás de mim… E eu não quero passar vergonha de ser arrastado pelos pais.’

Sakura sorriu de nervoso e balançou a cabeça. ‘Ainda bem que sabe disso.’

Shaolin balançou o corpo de leve. ‘Além disso…’ Desviou os olhos sentindo o rosto esquentar. ‘Não é muito legal fazer uma garota esperar por você durante muito tempo…’ Sorriu de forma suave. ‘Ela já me esperou por muito tempo.’

Sakura observou o filho. ‘Realmente… Não foi esta a educação que eu e seu pai lhe demos.’

Shaolin assentiu com a cabeça. ‘Exatamente.’

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Marie olhava para frente enquanto o pai dirigia em direção a pousada Funbari. Estava calada, mais que o normal, desde que tinham saído do hospital poucos dias atrás.

Eriol soltou um suspiro e olhou de esguelha para a filha. ‘Tem certeza que quer ir?’

Ela concordou com a cabeça. ‘Falei com Shaolin-kun hoje pela manhã. Ele disse que já está bem e vai destruir a última chave hoje. Preciso e quero estar perto dele.’

‘E assim finaliza sua missão, não?’

‘Exatamente.’ Ela concordou. ‘O senhor não precisava ter me trazido. O médico pediu para que mantivesse repouso. Eu poderia pegar o ônibus e ir sozinha.’

‘Não… Esta confusão toda aconteceu por causa de Clow-sama. Também faço questão de estar presente quando terminar.’

Ficaram em silêncio alguns minutos, até Eriol soltar um suspiro incomodado.

Look at the two of you dancing that way

(Olho pra vocês dois dançando desse jeito)

Lost in the moment and each others face

(Perdido no momento em cada rosto)

So much in love your alone in this place

(Tanto amor vocês se isolam neste lugar)

Like there's nobody else in the world

(Como se não houvesse mais ninguém no mundo)

‘Sabe, Marie…’ falou, chamando a atenção da filha. ‘Viver à sombra de uma vida passada é uma merda.’

Marie olhou olhou para o pai com o rosto espantado, nunca havia ouvido ele falar palavrão antes. Quer dizer… Apenas quando estava com muita raiva ou discutindo, mas nunca de uma forma calma e controlada como havia falado agora com ela. A jovem se ajeitou no banco do carro.

I was enough for her not long ago

(Eu era demais pra ela há nem tanto tempo atrás)

I was her number one

(Eu era o seu "número 1")

She told me so

(Era o que me dizia)

And she still means the world to me

(E ela ainda significa o mundo pra mim)

Just so you know

(Assim como você sabe)

So be careful when you hold my girl

(Então, seja cuidadoso ao abraçar minha garota)

Time changes everything

(O tempo muda tudo)

Life must go on

(A vida deve continuar)

And I'm not gonna stand in your way

(E eu não ficarei em seu caminho)

‘Você vive sempre assombrado pelo que um dia talvez realmente tenha sido, mas que você não é mais. Você não tem a mesma aparência de antes… Quer dizer, eu ainda tenho essa parte chata que é todo mundo achar que eu realmente pareço fisicamente com o mala do Clow-sama…’ Ele falou balançando a cabeça de leve, fazendo Marie rir. ‘Mas nem isso você tem. Khala’a ou Esperança ou qualquer que seja o nome do demônio não era parecida fisicamente com você. Você é muito mais bonita.’ Ele falou, sorrindo de leve fazendo-a sentir o rosto corar.

‘Tousan…’ Soltou sem conseguir controlar a timidez.

‘Não é à toa que aquele projeto de filho do Li-san tenha se apaixonado por você.’

Marie se encolheu mais ainda, acanhada, não estava com vontade de falar de Kazuo, principalmente com o pai. Eriol olhou a filha de esguelha novamente e voltou a atenção para a estrada.

But I loved her first and I held her first

(Mais eu a amei antes e a abracei primeiro)

And a place in my heart will always be hers

(E ela sempre terá um lugar em meu coração)

From the first breath she breathed

(Desde a primeira vez que ela respirou)

When she first smiled at me

(Quando ela me deu seu primeiro sorriso)

I knew the love of a father runs deep

(Eu soube o quão profundo é o amor de um pai)

And I prayed that she'd find you someday

(E eu rezei pra que ela encontrasse você algum dia)

But it still hard to give her away

(Mas ainda é difícil entregá-la)

I loved her first

(Eu a amei primeiro)

‘Quando eu comecei a ter ciência da minha vida passada eu tinha… Sei lá… Uns seis anos de idade. Sabe o que é você ter seis anos, mas com lembranças de um velho de mais de 100 anos?’

‘Deve ser bem complicado…’ Ela comentou.

‘Foi uma merda.’ Ele repetiu o palavrão, fazendo-a piscar. ‘Deve ter sido uma merda para você também, não?’

Ela soltou um suspiro. ‘Eu comecei a ter aos dez e já foi bem chato. Mas, pelo menos, foi aos poucos…’

‘Sim…’ Ele concordou. ‘Eu sinto muito, gostaria que não as tivesse nunca. Esta é a lei natural da reencarnação: você não ter lembranças de suas vidas anteriores para ter a oportunidade de viver sem estar à sombra do que foi e ser capaz de pensar no que poderá ser.’

‘Acho que tem razão, tousan.’ Marie concordou e sorriu de leve. ‘É o que o pirralho repete para mim o tempo todo.’

‘Shaolin-san?’

Ela assentiu com a cabeça, respondendo.

‘Ele está certo.’ Concordou com um gesto.  ‘Assim como Tomoyo-chan também alertou a filha dela.’

‘Tomoyo-chan?’ Marie surpreendeu-se ao ouviu o pai chamando a mãe de Kasumi daquela forma.

Eriol soltou um suspiro. ‘Na minha outra existência… antes daquela confusão toda de Li-san ter que ir para o Mundo das Trevas para destruir as brechas fixas e tal… Eu e Tomoyo-chan éramos muito… amigos.’ Terminou de falar sorrindo de leve e fazendo Marie franzir mais a testa.

‘Kaasan sabe disso?’

Eriol assentiu com a cabeça. ‘Nunca escondi nada de sua mãe. Ela também conheceu Tomoyo-chan… foi professora dela também. Sabe o quanto ela, apesar de não ter magia, é… sensitiva… especial.’

Marie ajeitou-se no banco do carro. ‘Hum… Então faz sentido você ficar todo simpático com Kasumi-chan.’ Concluiu erguendo uma sobrancelha.

Ele olhou de esguelha para a filha. ‘Fomos amigos, não é o que está pensando.’ Comprimiu os lábios de leve. Não era bem verdade, lembrava-se bem quando estava perdido em seus sentimentos com relação a Tomoyo. Mas isso era passado. E diga-se de passagem, um passado que era só dele, Tomoyo não tinha as mesmas lembranças.

‘Mas você também tem muito carinho por Kasumi-chan…’ Ele comentou.

Marie fitou os joelhos. ‘Kasumi-chan é a pessoa mais incrível que eu já conheci…’

Eriol franziu a testa. ‘Por que diz isso?’

‘Ela me passa sentimentos que não sei direito o que são. Inicialmente, pensei que quando ela me olhava atravessado, sentia medo… mas não é bem medo… É um respeito enorme. Como se contrariá-la fosse errado… Esconder dela sobre magia foi tão difícil para Shaolin-kun como para mim. O afastamento dela quando estava chateada por saber que escondiamos algo dela…’ Soltou um suspiro. ‘Senti demais a indiferença dela…’

‘Vocês são amigas a muito tempo… reparei que você não tem muitas, nem na escola…’

Marie encolheu os ombros de leve. ‘Gosto muito dela…’

Eriol assentiu com a cabeça. Nunca tinha visto a filha chorar e expor de forma tão aberta seu sofrimento e dor, como quando chorou no colo da filha de Tomoyo. Sorriu de leve, pensando que pelo visto a menina tinha herdado aquele dom de aproximar-se do coração dos que conviviam com ela.

‘Kurogane-san…’ Eriol resolveu chamar Tomoyo de maneira correta. ‘Ajudou-me muito em uma época que foi muito complicada para mim. Ela sempre soube falar as coisas certas nas horas adequadas, além de sempre ser muito observadora…’

Marie sorriu de leve. ‘Assim como Kasumi-chan…’

Ele assentiu com a cabeça. ‘Ela realmente é parecida com a mãe. Fico muito feliz em saber que Kurogane-san teve até mesmo mais sabedoria que eu para orientar a filha com relação ao processo doloroso que Kasumi-chan deve ter passado.’

Marie apertou de leve as mãos e olhou para a estrada. ‘Ela falou que matou muitas pessoas…’

‘Devem ser lembranças muito dolorosas e terríveis.’

Marie abaixou os olhos. ‘Tão dolorosas quanto as de Kazuo-kun… ou Shaolin-kun…’

Eriol soltou um suspiro. ‘Cada dor é uma dor diferente. Não é maior ou menor que outra. Cada um tem a sua dor para enfrentar.’

Ela manteve-se calada. Eriol olhou de esguelha para a filha. Sua aura estava agitada. Estava tentando assimilar o que conversavam.

How could that beautiful women with you

(Como pode aquela linda mulher em você)

Be the same freckle face kid that I knew

(Ser a mesma face de criança com pintinhas que eu conhecia)

The one that I read all those fairy tales to

(Aquela pra quem eu lia todos aqueles contos de fadas)

And tucked into bed all those nights

(E colocava pra dormir todas as noites)

And I knew the first time I saw you with her

(E eu soube desde o momento em que eu a vi com você)

It was only a matter of time

(Que era uma questão de tempo)

‘Sabe…’ Ele voltou a falar, chamando a atenção dela. ‘Eu demorei muito para me desvincular da imagem de Clow-sama. Você sabe disso… Na verdade, acho que nunca vou conseguir fazer totalmente isso.’

‘Você não é Clow-sama, tousan. Você é muito melhor que ele.’

Eriol sorriu e olhou para a filha rapidamente, voltando a prestar atenção na estrada. ‘Então se você acha que eu sou melhor que ele… Eu vou falar uma coisa: eu tenho absoluta certeza que você é muito melhor que Khala’a. Ela fez escolhas que não foram as suas. Você não é ela. Não precisa carregar a culpa dela. Ela já deixou de existir, não tem mais como ela arrumar o que já foi feito. Não é sua responsabilidade tentar consertar isso para ela. Na verdade… Não há como consertar nada mais, Marie.’ Ele soltou um suspiro. ‘O que você está fazendo é apenas se martirizando e se autoflagelando achando que assim estará pagando por uma dívida ou uma culpa de uma decisão dela.’

Marie franziu a testa e olhou para o pai. ‘Como assim?’

Ele soltou um suspiro. ‘É muito ruim constatar que nossa filha cresce… para mim, adoraria que você tivesse eternamente 5 anos de idade.’

Marie sorriu de leve. ‘Isso é impossível.’

‘Ainda bem que sabe disso. E eu também já aceitei a ideia que você cresceu.’ Ele fez uma pausa. ‘E que não serei o único homem a ocupar o seu coração.’

Marie sentiu o rosto esquentar novamente e apertou as mãos em cima do joelho.

But I loved her first and I held her first

(Mas eu a amei primeiro e a abracei primeiro)

And a place in my heart will always be hers

(E ela sempre terá um lugar em meu coração)

From the first breath she breathed

(Desde a primeira vez que ela respirou)

When she first smiled at me

(Quando ela me deu seu primeiro sorriso)

I knew the love of a father runs deep

(Eu soube o quão profundo é o amor de um pai)

And I prayed that she'd find you someday

(E eu rezei pra que ela encontrasse você algum dia)

But its still hard to give her away

(Mas ainda é difícil entregá - la)

I loved her first

(Eu a amei primeiro)

‘Mas o que mais dói não é nem saber que eu terei que dividir sua atenção com outra pessoa especial para você. É saber que você encontrou essa pessoa especial e está aceitando abrir mão dela por autocomiseração por algo que outra pessoa fez… Outro ser que não é você.’

‘Não é tão simples assim, tousan.’ Ela falou, olhando para frente e evitando encará-lo.

‘Não é mesmo. Como eu falei no início da nossa conversa: É uma merda viver à sombra de uma vida passada. Mas, sinceramente…’ Ele falou virando-se para ela novamente. ‘Tenho certeza que você é muito melhor e aprende mais rápido que eu.’ Falou, sorrindo novamente e voltando a prestar atenção na estrada.

‘Você acha que eu sou realmente mais forte que o senhor?’

‘Tenho certeza absoluta disto. E eu não me refiro a magia… Estou falando de força de caráter. Personalidade.’

Ela sorriu abertamente para o pai. ‘Nunca imaginei que o senhor estaria falando comigo sobre isso…’

‘Sou seu pai. Preciso falar com você sobre isso, para não cometer os mesmos erros que eu cometi a vida inteira.’

‘Kazuo-kun é um meio-demônio, pai.’ Ela o lembrou.

O homem deu um suspiro. ‘É… Mas acho que o pior defeito dele é ser mesmo filho de Li-san. Ser demônio ou meio-demônio… Não é realmente o que me preocupa mais.’

Marie soltou uma gargalhada e balançou a cabeça de leve. ‘Não sabia que tivesse o pé tão atrás assim com Syaoran-ji-san.’

‘Li-san sempre foi arrogante demais para o meu gosto. E adorava me dar lição de moral. Detestava isso.’

‘Mesmo?’

‘Claro… Eu era Clow-sama! Eu deveria saber de tudo e não ele.’  Falou de forma dramática.

‘O senhor não é Clow-sama…’

‘Eu sei… Mas ele não. Então ele deveria me respeitar. Mas ele nunca baixou a crista. Estou avisando… Se Kazuo-san for metido igual ao pai, vou ter que colocar ele na linha. Além disso, Li-san sempre foi malicioso demais… Com dez anos de idade já queria namorar Sakura-san.’

From the first breath she breathed

(Desde a primeira vez que ela respirou)

When she first smiled at me

(Quando ela me deu seu primeiro sorriso)

I knew the love of a father runs deep

(Eu soube o quão profundo é o amor de um pai)

Someday you might know what I'm going through

(Algum dia você saberá o que eu estou passando)

When a miracle smiles up at you

(Quando um milagre sorrir pra você)

Marie balançou a cabeça de leve. ‘Sinceramente, tousan, Kazuo-kun é mais parecido com a Sakura-ba-san do que com ojisan. Shaolin-kun é bem mais malicioso que ele.’ Falou rindo.

Eriol ergueu uma sobrancelha, olhando para  filha. ‘Faz sentido. Quer dizer, não faz sentido nenhum… Mas eu já nem quero entender direito.’ Ele soltou um suspiro. ‘O que quero apenas dizer a você, Marie, é que não abra mão da sua felicidade por algo que está fora da sua existência. Khala’a não faz mais parte dessa existência. Entendeu?’

Marie sorriu para o pai. ‘Sabe… Acho que o senhor tem razão. Eu sabia que era muito mais inteligente que Clow-sama.’

‘Claro… Eu sou a evolução dele!’ Eriol falou brincando. ‘Nada mais justo, não?’

‘Sim… Nada mais justo e natural.’ Ela falou e fitou-o novamente. ‘Obrigada, tousan.’

Ele olhou para ela rapidamente para não perder a atenção no caminho. ‘Eu é quem agradeço todos os dias por você ser minha filha.’

I loved her first

(Eu a amei primeiro)

Continua.


Notas Finais


Música do capítulo: I loved her first - Heartland


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