-Me dê uma dessas lanternas maiores.
-Essa aqui? -O vendedor pegou uma lanterna, ela era bonita, vermelha, com diversos detalhes de touro.
-Sim. Essa mesmo. -Olhou para a lanterna, havia comprado para que ele e Viego pudessem lançar ela aos céus.
Ele saiu com a lanterna nos braços. Normalmente, nos festivais, elas eram lançadas para que bençãos fossem concedidas e desejos realizados. Nunca acreditou nesse tipo de coisa, para ele, seu destino já esteve traçado desde o nascimento, mas agora, as coisas eram diferentes.
-Espero que ele goste... -Sorriu.
Se encontrava desapontado, havia procurado Viego pelo festival, na cachoeira, até mesmo no lago, mas ele não estava em lugar algum. Seus pés estavam doendo, suspirou se sentando na beira do lago, a noite, os peixes brilhavam de forma única, algo incrível, queria que Viego estivesse lá para ver aquilo.
-Que droga eu estou pensando? -Ele olhou para a grande lanterna, então logo se deitou na grama, seus olhos se fixaram na lua. -Ele nem ao menos se importou em me procurar e dizer que ele não viria, provavelmente já deve ter ido embora...
Um sentimento ruim tomou conta de si, por um momento se sentiu abandonado, sozinho, Alune não estava lá, muito menos seu amigo Viego.
----- 15° dia do festival.
Levantou logo pela manhã, olheiras denunciavam que ele não havia dormido bem na noite passada.
-Ele deve estar irritado comigo... -Lembrou que havia deixado Aphelios esperando. -Ou talvez não, ele não parece ser o tipo de pessoa que se importaria com isso.
Passou pelo festival, viu que haviam poucas pessoas, provavelmente no final do dia, estaria lotado. Foi até onde ocorreria o lançamento das lanternas, viu todas as passagens possíveis, lugares de fuga, procuraria Aphelios outra hora, precisava espairecer, rever seu plano. Saiu do festival, refazendo seu caminho da floresta até o lago.
-Isso é arriscado, mas eu devo tentar... Vou ter que falar para ele sobre isso... -Murmurou. Ele parou, ficou imóvel, surpreso ao aparecer no lago e avistar Aphelios sentado sob a pedra, ele estava afiando sua foice.
-Você está aqui... Que surpresa. -Sua voz demonstrava um pouco de nervosismo.
-É, eu estou aqui desde ontem. -Ele murmurou um pouco baixo, Viego logo entendeu que ele estava um pouco triste.
-Me desculpe não ter te encontrado, eu tive que resolver alguns assuntos...
"Procurar pessoas para assolar tentando procurar a sua ex-mulher morta?" -Os pensamentos de Aphelios giravam em torno de sua mente um pouco egoísta.
-Tudo bem, eu passei muito tempo refletindo sobre.
Um silêncio se fez presente, o moreno se aproximou, se sentou próximo a ele. Observou os feixes de luz refletindo através da água.
-Tem mais algum conto ou poesia sobre a isolde? -Aphelios disse calmamente enquanto passava pela última vez a pedra no fio da foice, ela estava bem afiada, passou seu dedo para garantir, o que abriu um pequeno corte.
-Vamos conversar um pouco, hoje é o último dia do festival e eu nem sei muito sobre você. Sempre me ouve falar da Isolde, nossas conversas sempre giram em torno dela. Eu quero saber sobre você.
-Adoraria tê-la conhecido, conseguiu te cativar de uma forma que eu nunca vi alguém desse jeito antes... Me faz pensar que nesse mundo não existe apenas dor e sofrimento.
-Em um mundo sem amor, a dor não é nada. -Ele disse convicto, apesar de tudo, acreditava que o amor era a mais nobre das aspirações.
-Eu já fiz tudo por alguém. Me arrependo, pois roubei muitos outros amores. Acredito que por amor, você também faria qualquer coisa, ou tentaria.
-Não tenha tanta certeza.
Nesse momento, Viego olhou para Aphelios, então o herói dos Lunari já havia se apaixonado? Aquele coração já havia sido roubado por alguém?
-Você já amou alguém?
Ficou silencioso.
-Eu te falei sobre Isolde, por que você não me fala sobre isso? Quem era ela?
-Não era ela, era ele.
Ambos os rostos ruborizaram. O coração de Viego acelerou por um motivo que ele não entendia.
-E quem era 'ele'?
-Era um chefe de arena, seu nome era Sett.
Ele se lembrou de tê-lo visto, outrora com a tal 'justiceira de Piltover', cujo ele havia assassinado durante alguns minutos, engoliu seco, aquele gorila havia conquistado Aphelios?
-Entendo, e como foi? -Viego apoiou seu antebraço na espada, depois deitou seu rosto sob ele, olhando fixamente para o menor.
Um breve suspiro, seus olhos se mantinham fixos em outro lugar para que começasse a dizer sem se sentir nervoso com a presença do amigo.
-Foi um desastre. Eu não conseguia me comunicar, ele era um pouco grosso, se importava do jeito dele... Ele sabia sobre a Alune, sobre o veneno e nessa época, eu era muito rígido com os meus ideais, não me lembro quando isso mudou. Tivemos uma briga muito feia.
Ele tentou não rir, mas seus pensamentos tentaram reproduzir a cena de um mudo brigando com um gorila.
-Você não falava?
-Não. Prezo muito pelo meu povo, ele era egoísta, só pensava nele. Queria que eu parasse de tomar o veneno, mas eu preciso, foi isso que ele não entendeu.
-E depois?
-Depois... Eu dei as costas e fui embora, fiquei muito triste, porque em algum momento enquanto eu estava com ele, me sentia seguro, era como se a dor se dissipasse. Ele fazia eu me sentir bem, mas seu egoísmo, a forma que ele não se importou com outras pessoas fez eu entender que o certo era seguir o meu caminho.
Enquanto Aphelios contava aquela história, Viego notou então o motivo dele estar tão nervoso, era isso, toda a preocupação que ele sentia com o menor, o cuidado que ele tinha, e seu plano minucioso de tentar faze-lo feliz, livrar ele de toda aquela dor. Era o que Aphelios havia feito com ele. Livrou sua solidão, esteve ao seu lado mesmo que em silêncio e em retribuição, ele queria fazer o mesmo. Mas... Por que todo aquele frio na barriga? Aceleração dos seus batimentos? Era algo que ele não queria aceitar.
-E alguma vez eu fiz isso com você? -Aquela pergunta saiu de forma inconsciente.
Virou seu olhar para o rosto do maior, olhando fixamente nos seus olhos.
-Sim, você fez. -Aphelios se levantou. -E é por isso, que após eu refletir bastante... Tomei a decisão que nós não podemos mais ser amigos. Você me tornou fraco, Viego. Eu renunciei parte do meu poder apenas pelo desejo de querer conversar, de querer estar com você. Isso me fez muito feliz, mas você não pode me proteger, não pode proteger meu povo, esse é o meu destino, é meu legado.
Seu coração agora disparou, ele por um momento sentiu uma pontada, como se fosse perder seu mundo inteiro em um instante, então ele soube o que era aquilo, estava ali o tempo todo, ele apenas não quis perceber. Se levantou, então ficou de frente para Aphelios. Uma grande chuva de fogos explodiu nos céus, a lua estava linda, logo as lanternas seriam preparadas para serem lançadas.
-Jurei proteger você. Todo esse tempo que estive aqui, me senti maravilhado com tudo. Você acendeu algo em mim que havia se apagado há muito tempo.
A situação estava totalmente embaraçosa para Aphelios, foi uma declaração repentina, era vergonhoso, mas por algum motivo, ele começou a sentir aquelas borboletas no estômago.
-O que você está dizendo...?
Ele puxou a cabeça de Aphelios junto ao seu peito, o envolvendo em seus braços.
-Estou dizendo que eu me importo com você, em como você se sente, e que em momento nenhum eu parei de pensar nisso. Não fiz apenas por capricho, eu queria te fazer feliz, assim como você me faz feliz.
Se sentia seguro, por um momento todos os seus medos e inseguranças se esvaíram. Era um abraço caloroso, estava próximo o suficiente para ouvir as batidas de seu coração que estava um pouco acelerado.
-E-Eu... Eu me sinto feliz, Viego. -Parecia que iria explodir a qualquer momento, ele não era tão bom em expressar seus sentimentos já que sempre esteve em silêncio, Viego depositou um beijo em sua cabeça, sentindo o cheiro adocicado de morangos dos fios de cabelos de Aphelios.
-Nós temos que ir ao festival, tenho algo para fazer e eu preciso da sua ajuda... Vou te devolver o elixir venenoso, mas quero que você me prometa.
Viego se separou de Aphelios, segurando com ambas as mãos no rosto do menor.
-Huh? -Aquilo foi repentino, o semblante de Viego havia ido de agradável para sério, foi algo estranho.
-Você só vai beber se você precisar. Eu prometi que protegeria você e seu povo, mas eu tenho medo, medo de perder você e não ser o suficiente.
Entregou o elixir a Aphelios, que pegou, olhando para o frasco.
-Mas por quê?
-Está prestes a ocorrer uma invasão noxiana.
Rapidamente ele abriu o frasco e iria beber quando Viego colocou a mão sob o bico da pequena garrafa.
-Me prometa. -Foi ríspido dessa vez.
Ele nunca pensou que faria isso, mas se sentia seguro, aquele par de orbes azuis o encarando fizeram com que ele acenasse afirmativamente com a cabeça.
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