História Fica Comigo - Um toco e um pedido

Depois de ver a Fernanda indo embora com a Camila eu não consegui prestar atenção em nada da aula de civil - eu só ficava repassando aquela cena do banco na cabeça, lembrando da intimidade que as duas pareciam ter e como a Camila tinha facilidade em fazer a Fê sorrir... 
              Resolvi ir para casa depois da primeira aula, até porque eu tinha que me arrumar para sair com o Beto e assim que entro em casa vou direto para a minha cama me jogando nela e pensando em que roupa eu deveria usar no encontro que teria dali algumas horas. 
            Não sei em que momento meu cérebro resolveu parar de pensar em prováveis roupas para o encontro, mas me pego lembrando da noite anterior e da Fê com os cabelos desarrumados deitada na cama me olhando sorrindo enquanto eu tentava normalizar minha respiração e conforme me virei e afundei o rosto no travesseiro que estava do meu lado para tentar tirar aquela lembrança e voltar a me concentrar na escolha da roupa para hoje apenas para sentir o aroma de verbena dela impregnado no travesseiro...
          Eu não queria pensar na Fê nesse momento, muito menos imaginar o que aquelas duas estavam fazendo ou o que seria o 'pôr o assunto em dia', e meu humor só piorava quando lembrava da ruiva, fazendo com que eu me sentisse insegura, afinal nem pra isso a Fernanda podia facilitar pro meu lado - claro que a ruiva tinha que ser estonteante, pra quê parecer uma reles mortal? 

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O Beto chegou na minha casa às 22:00 em ponto e acabamos escolhendo ir no cinema ver It: a Coisa. Me lembrei da Fernanda falando que não via filme de terror com assombrações porque 'não dá pra matar o que já está morto' e tentei imaginar a dúvida que ela ficaria sobre ver aquele filme ou não, porque apesar do palhaço ser "sobrenatural" aparentemente dava para matá-lo e sorri ao me lembrar das explicações idiotas que ela tinha para as coisas que ela cismava. 
           Depois do cinema o convidei para a minha casa, afinal qualquer coisa seria melhor do que ficar sozinha ruminando aquela cena da Fernanda com a Camila, apesar de a alternativa não ser muito melhor já que ele já tinha avisado que queria conversar comigo e todo mundo sabe que o resultado nunca é bom quando a pessoa precisa anunciar que quer conversar com você. 

Resolvemos que enquanto o Roberto tentava encontrar alguma vaga na rua eu iria subir para meu apartamento na frente. No elevador eu tentava imaginar o que ele tanto queria conversar comigo e se ele iria terminar seja lá o que tínhamos enquanto acompanhava os números do painel mudando, até que ele parou no sétimo. 

- Precisamos repetir isso! - ouço uma risada - Eu te ligo amanhã... - reconheço a voz da Camila de imediato 

- Vou cobrar, hein?! - ouço uma risada e ao ouvir o barulho de tranca eu começo desesperadamente apertar o botão para que as portas do elevador se fechem, mas obviamente como sou eu, não tenho essa sorte. 

- Oi, Luíza né? Você também mora aqui? - me pergunta assim que entra no elevador e eu reparo que ela está com uma camisa da Fê. "Não, só gosto passear no elevador de prédios aleatórios..." penso e me concentro para não revirar os olhos.

- Uhum! - esse prédio realmente precisa atualizar o sistema desse elevador para ele subir direto em vez de ficar parando nos andares mais baixos... - Bom, boa noite. - digo ao sair do elevador. 

Assim que chego em casa já me jogo no sofá, chegando à conclusão que ficou bem claro o 'pôr o assunto em dia' das duas, afinal a Camila até saiu com a camisa da Fernanda... O que mais me irrita nessa situação toda é que eu não consigo controlar esse ciúmes que aparentemente tenho em relação a Fê; eu sei que minha reação está sendo desproporcional, eu sei que não tenho nada com a Fernanda - ela tinha deixado bem claro essa parte - mas mesmo assim eu não consigo fingir que não me incomoda e não ficar puta com ela. 
         Enquanto estava perdida nos meus pensamentos não reparo que o Roberto já tinha entrado em casa, só fui perceber que ele estava lá quando se sentou ao meu lado e me puxou para um abraço  - eu realmente gostava do abraço dele e da sensação de segurança que ele me passava, parecia que tudo poderia acontecer mas ele sempre estaria ali. 

- Então, como eu tinha dito antes eu queria falar com você... - ele falou conforme apoiei minha cabeça em seu peitoral e e franzi meu cenho, a última coisa que eu precisava hoje era mais dor de cabeça. 

- Uhum, é sobre o que? - pergunto já até imaginando o que ele iria falar para terminarmos. "Dois tocos num dia só é azar demais, até pra mim!" penso e logo crispo os lábios, enquanto ele limpa a garganta.

- Eu sei que você está ocupada ultimamente entre a faculdade e o estágio... - começa a alisar meu cabelo - E eu não quero te atrapalhar, porque lembro bem como essa época é pesada! - "pronto, começou..." penso já imaginando o resto - Mas eu realmente gosto de você e acho que nós podemos ter um futuro... - nesse momento me desencosto dele para poder olhá-lo melhor. 

- Uhum... - é o único som que consigo produzir enquanto espero ele continuar, isso realmente não tinha tomado a direção que eu tinha antecipado. 

- Bom, você quer namorar comigo? - ele falou tudo corrido em uma só respiração que sequer tinha percebido que estava segurando. 

O meu estado era de choque porque afinal eu estava achando que ia levar o segundo toco da noite e no final era um pedido de namoro, o adjetivo 'inesperado' realmente não consegue descrever o que aquela situação era pra mim. 
            Meu primeiro pensamento foi parar na Fernanda porque eu sabia que era com ela que eu queria ter algo a mais e um eventual futuro, mas logo me lembrei da Camila saindo do apartamento dela e da Amanda falando que ela pegava todas e depois se livrava assim que enjoava - o que era verdade pois eu já tinha presenciado. 
          Olhei para o Beto, que me encarava em expectativa esperando minha resposta - ele era tudo o que sempre quis em alguém: era companheiro, engraçado, responsável, carinhoso e confiável. 

- Lógico que sim! - respondo exagerando um pouco minha animação para disfarçar. "Talvez eu acabe me apaixonando mesmo, afinal eu já gosto muito dele e daí pra amar não é tão complicado" afirmei para mim mesma, justificando o fato de eu ter aceitado o pedido de namoro.