História Filematofobia - Christian e eu somos só amigos

Miami, Flórida

Rosey High School

Eu havia conseguido o papel, mas com certeza não foi pela minha atuação. Quando subi no palco, levou cerca de dois minutos até eu lembrar das minhas falas e algo sair da minha boca sem ser um gaguejar. Só funcionou quando fixei o olhar em Meghan, e assim criei coragem e interpretei uma das cenas de Sharpay. A parte da música fora bem mais fácil, talvez eu tenha ganhado alguns pontos por ela. Acontece que apenas cinco garotas se inscreveram para o papel, e de acordo com Meghan, eu havia sido melhor que elas. Sendo sincera, eu não havia visto as outras concorrentes, quando acabei meu teste, corri para o banheiro mais próximo e vomitei todo meu café da manhã. Talvez o jantar da noite passada também.

Outubro havia chegado e finalmente o frio veio junto. Nunca fiquei tão feliz por poder usar moletons sem todos acharem estranho. Os ensaios estavam a todo vapor, todos os dias após as aulas, tínhamos que ficar lá para ajudar a montar os cenários. Na verdade, quem precisava ficar era apenas o pessoal da produção, como Meghan, mas eu preferia ficar, não tinha nada para fazer em casa e de brinde, passava um tempo com minha prima. Os atores da peça iam apenas em alguma aula do dia, o que era bom, já que perdíamos aulas.

— Por que física tinha que existir? – Lucas resmungou, assim que se aproximou e jogou a bandeja em nossa mesa. Hana deu um salto no lugar enquanto Rose resmungou um palavrão.

— Física? Você já viu química? Tem tantos elementos na tabela periódica, e eles querem que eu decore? – Meghan rebateu.

— Vocês são ridículos, são matérias fáceis, tentem resolver exercícios de matemática. A questão é, tudo tem matemática, principalmente física e química. – Concordei com a cabeça com Rose.

— Se quiserem – Hana começou baixinho, fazendo todos nós a olharmos – Eu posso ajudar vocês.

— Sério? – Meghan arregalou seus olhos castanhos – Você me salvaria, porque eu não estou nada preparada para a prova de amanhã.

— Nem eu – Rose e Lucas falaram juntos.

— Eu estou – dei de ombros – Mas obrigada – sorri agradecida.

Amanhã teríamos basicamente um provão, uma prova de noventa questões apenas da área de exatas. Eu já vinha estudando a algum tempo, ao contrário dos três que deixavam tudo para ultima hora. Eu não era um gênio de exatas, mas conseguia passar.

— Bom, todos para a casa da Hana então? – Lucas perguntou, fazendo Hana arregalar os olhos.

— Não dá – Meghan resmungou – Esqueceram que tenho que ajudar no teatro? – Rose bufou.

— Você não pode simplesmente, faltar?

— Pior que hoje não, somente eu e um outro garoto que iriamos hoje. – Revirou os olhos.

—Posso ir no seu lugar se quiser – Meghan voltou o olhar para mim – Quer dizer, o obrigatório é alguém ir né?

— Sim – Meghan concordou, mas fez careta – Mas acho melhor você não ir. – Franzi o cenho.

— Por quê? 

— Bem, o garoto que iria hoje é o Justin – apontou com a cabeça para a porta do refeitório, fazendo careta.

Olhei para a porta, vendo Justin e outros colegas do time entrar, imitei a careta de Meghan. Justin e eu não nos falávamos a duas semanas já, tentei conversar com ele entre as aulas, mas ele fingia não ouvir e virava as costas, nas aulas de química e biologia, havia se tornado o parceiro definitivo de Stacie. Eu ficava com raiva, pois achava que a culpa era minha, mas Justin nem tentava ouvir as minhas desculpas, Meghan ficava com raiva por eu tentar correr atrás dele, e então eu ficava com raiva da situação e de Justin.

— Tudo bem, vai que assim ele me ouve – dei de ombros, comendo outra batata frita.

— Angeline, não – Rose falou, ficando tão séria de repente – Você vem correndo atrás desse babaca a duas semanas já, e ele apenas te ignora, e te trata como merda, ele não merece isso. Sendo sincera, acho que Christian está merecendo mais sua atenção do que ele. – Pisquei.

Christian e eu havíamos nos tornado incrivelmente próximos, talvez até amigos. Ele havia se inscrito para a equipe de produção do teatro, e sempre que nossos horários colidiam, saiamos juntos para comer algo. Ele era legal, acho que nossos problemas pessoais, nunca realmente ditos, foi o que nos aproximou. O único momento em que Justin me dirigia o olhar, era quando ia embora com Christian.

— Mas eu me sinto culpada, quer dizer, eu nem sei o motivo direito. Depois que eu contei sobre aquilo – fiz referência para a Filematofobia, já que Hana não sabia - Ele não fala comigo.

— Mais uma prova de que ele é um babaca – Rose balançou as mãos.

— Ou só está confuso com tudo, e se ele tiver perguntas e eu puder responder? – continuei. Rose bufou, desistindo.

— Ok – Meghan tomou a frente – Pode ir no meu lugar, mas me prometa uma coisa – ergueu o dedo mindinho – Se você tentar falar com ele e ele te tratar feito lixo, de novo, você desistirá dele. – engoli em seco. Eu sei que eu posso estar sendo insistente e até mesmo me humilhando, mas Justin era especial para mim, e eu sentia algo por ele, então eu queria ao menos tentar entender o que houve.

— Ok – cruzei meu mindinho com o seu.

— E por favor, se ele for um cuzão, chuta o saco dele – Lucas pediu.

— Lucas – Hana exclamou. Mas eu, Meghan e até Rose, apenas demos risadas.

[...]

Quando Justin chegou, fazendo um estrondo ao fechar a porta, eu devia estar mais verde que o Shrek. Não por nervosismo ou algo assim, na verdade, acho que eu estava, mas eu estava pintando árvores a tanto tempo que tinha tinta verde até no cabelo.

Justin parou perto do palco, me olhando confuso após me reparar ali.

— Hm, onde está Meghan? – tive que raciocinar duas vezes para finalmente perceber que ele havia falado comigo. Finalmente.

— E-ela – tossi – Foi ter aula particulares com Hana para a prova de amanhã, vim a substituir. – Justin nada disse, apenas acenou.

Vi-o subir no palco pelo canto do olho, enquanto fingia pintar uma folha já pintada, e quando ele se aproximou de mim para pegar a lata de tinta marrom, prendi a respiração. Fora rápido, pois no instante seguinte, ele estava do outro lado pintando o tronco de umas das árvores com as folhas já pintadas, mas fora incrivelmente bom. Isso era gostar de alguém? Sentir seu coração disparar e suar frio assim que essa pessoa se aproximava? Parecia que eu ia ter uma crise de ansiedade. Será que eu estava tendo uma crise?

— Você tá’ legal? – pisquei, voltando ao normal e olhando para ele confusa – Você tá pintando a sua manga – voltei meu olhar para o pincel e vi que estava pintando a manga do meu moletom que segurava a arvore. Porcaria. Resmunguei, largando o pincel e me levantando, para ir lavar ela no banheiro – Não vai sair só com água – Justin interrompeu minha ação. Olhei para ele, que apenas pintava o tronco. Bufei, retirando o moletom, ficando só com a blusa de baixo. Enquanto a retirava, percebi o olhar de Justin em mim. Voltei a sentar, terminando de pintar.

Alguns minutos se passaram, mas para mim pareceram horas. Quando vinha com Meghan, o tempo passava rápido, já que ficávamos conversando e as vezes até colocávamos música. Mas com Justin ali, parecia que já estava ali a uma hora, mas não se passava de vinte minutos. Se eu não tivesse o visto entrar e sentisse sua presença a poucos metros de mim, jurava que estava ali sozinha. Eu aguentei o silencio por um tempo, mas quando o relógio bateu trinta minutos, larguei o pincel com força no chão.

— Qual o seu problema? – perguntei já cansada de tudo. Como eu esperava, Justin me ignorou, mas eu não iria ser ignorada, não mais. Me levantei, parando ao lado da árvore que ele pintava e arrancando o pincel de suas mãos – Eu estou falando com você. – Justin respirou fundo, finalmente dirigindo o olhar para mim, céus senti falta até dos seus olhos castanhos.

— O que quer dizer? – perguntou, incrivelmente calmo. Eu, ao contrário, estava incrivelmente brava.

— O que quero dizer? Você vem me ignorando a umas duas semanas ou mais, eu tento falar com você e você só me ignora, me trata feito lixo e – respirei fundo, evitando passar minhas mãos sujas de tinta no cabelo – É por causa do transtorno? Você me acha uma doente e não quer mais nenhum contato comigo né? Eu não devia ter contado – dei um passo para trás, mas Justin arregalou os olhos, ficando de pé.

— O quê? De onde você tirou isso?

— Bem, você vem me ignorando desde que eu te contei sobre a Filematofobia, então é meio óbvio eu pensar que...

— Não – quase gritou. Justin respirou fundo, passando as mãos no cabelo – Não venho te ignorando por causa disso.

— Então por quê? Eu quero, ou melhor, eu tenho o direito de saber – cruzei os braços, batendo um dos pés com força no chão. Se Meghan me visse agora, primeiro se assustaria e depois ficaria orgulhosa.

— Eu... – suspirou – Por causa do Christian.

— O quê? – perguntei confusa.

— Aquele dia, que nos encontramos na lanchonete, eu te vi lá, sentada, rindo de algo com ele. E-eu – respirou fundo – Eu fiquei puto tá legal?

— Você tá brincando? – de repente, fiquei com mais raiva ainda – Você vem me ignorando a dias porque me viu dando risada com o Christian? – ri desacreditada – Eu e o Chris somos amigos.

— Chris – Justin repetiu o apelido com um tom de deboche – Você até o chama de Chris – ergui a sobrancelha, confusa – Eu achei que estávamos tendo algo, e de repente, eu te vejo com ele, toda próxima e sei lá. – Arregalei os olhos em choque. Ele estava...?

— V-você está com ciúmes? – Justin riu desacreditado.

— É claro que eu estou com ciúmes porra – Justin praticamente gritou, me fazendo dar um passo para trás – Desculpe, é só que, eu gosto de você anjo, pra caralho, eu estou apaixonado por você. Eu não te achei doente ou algo do tipo, pelo contrário, acho que me apaixonei mais ainda por você quando me revelou seu transtorno – nem sei se era possível, mas arregalei ainda mais os meus olhos – Me desculpe por ter fugido depois disso, por não ter te procurado, mas eu precisava, sei lá, pensar. E então, quando finalmente me dei conta que estava sendo um idiota por não ter te procurado ainda, fui até sua casa, não te encontrei e quando fui levar meus irmãos para comer eu te encontro, com outro cara.

— Christian e eu somos só amigos – repeti, mais calma dessa vez.

— Pode ser, para você, mas para ele? – deu risada – Com certeza não. – Balancei a cabeça.

— Teria sido muito mais fácil se você tivesse vindo conversar comigo – Justin assentiu.

—Eu sei, fui idiota – revirou os olhos – Me desculpe se, fiz você se sentir mal consigo mesma.

— Tudo bem – murmurei. Ficamos alguns minutos em silencio.

— Então... eu acabei de dizer que estou apaixonado por você – Justin ergueu as sobrancelhas. Sorri, incrivelmente feliz.

— E-eu – fiz careta – Eu nunca gostei ou sequer me aproximei de qualquer garoto Justin, eu sinto algo por você, mas eu não tenho certeza do que é, só sei que é algo bom, então... – me interrompeu.

— Eu sei – segurou minhas mãos - Eu só, precisava te dizer isso antes que eu sufocasse – demos risada – Eu espero o tempo que for, até você se sentir pronta para o que quer que você sinta – zombou. Olhei para baixo, envergonhada, mas Justin ergueu meu rosto – Mas, eu quero ficar com você, de verdade, isso se você quiser.

—Tipo, namorados?

—É, quer dizer, eu sei que você não sabe se gosta de mim como eu gosto de você, e eu nunca namorei, nem você, então talvez possamos tentar, não precisamos dar um rotulo ou – interrompi o senhor nervoso a minha frente, soltando uma risada.

—Podemos...tentar algo, de verdade dessa vez, com compromisso.

— Com compromisso – sorriu, assentindo – Mas, se você se sentir mal com isso, ou perceber que não gosta de mim ou-

— Eu gosto de você Justin – levei a mão esquerda para sua bochecha – De verdade – não menti, eu realmente gostava de Justin, eu só não sabia dizer se estava apaixonada, não como ele – Então eu aceito, ser sua...Namorada? – perguntei, confusa.

— Não me importo com rótulos, desde que fiquemos juntos – sorrimos e então senti os lábios de Justin irem de encontro aos meus, me fazendo sentir borboletas na barriga. Sorri entre o beijo, talvez eu estivesse apaixonada mesmo, e isso era assustador e eu preferia guardar para mim mesma por algum tempo.