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História Filho (i)legítimo - Prólogo


Escrita por: Cirilla

Notas do Autor


Capa por Heizerr.

Ok, eu disse que não escreveria mais histórias Sasusaku e focaria em original, eu sei. Mas ultimamente escrever tem sido um refúgio para mim mais do que nunca, um local onde eu esqueço todos os problemas da minha vida, e são muitos, e acabou saindo alguns capítulos dessa história. Não era a minha intenção postar, mas apenas escrever mesmo... Só que acabou grande demais para não postar, e com alguns capítulos já feitos. Então tá aí.

Capítulo 1 - Prólogo


Treze anos atrás.

 

Sakura estava nervosa. Ela tinha certeza de que sua idade não era o suficiente para conhecer alguém que passaria o resto da vida, mas não contestou o anúncio da avó. Sua avó, Tsunade, era a rainha do país da primavera. E as palavras dela sempre foram absolutas.

As mãos da criança tremiam muito, mas ela não chorou ou resmungou. Em vez disso, cerrou os punhos com força e respirou fundo. Essa sensação incômoda ia passar. Ela tinha certeza.

— Sakura. — sua avó a chamou, e fez a garota quase pular de susto. — Você está bem?

— Estou sim. — o seu tom de voz quase enganou a rainha.

Quase. Ela conhecia a neta o suficiente para saber que tinha algo de errado. Ela avaliou os punhos fechados da pequena criança e o rosto neutro. Sakura nunca fazia uma expressão neutra. Era daquelas garotas que estavam sempre com um sorriso largo, além de falar o tempo inteiro.

— Sabe que ainda não existe uma pessoa que me engana, certo? — sua voz saiu dura.

Não que quisesse assustar a garota, mas era um momento em que a criança simplesmente deveria ser ela mesma. Feliz, sorridente. Falante. Esse casamento com o herdeiro do país do fogo poderia expandir de forma insana a economia e poder bélico do País da Primavera. E nada era mais importante que isso no momento.

— Eu só... Não sei se vou gostar dele. Eu nem o conheço.

Ela estava certa. Não tinha mesmo como saber. Mas a vida da realeza tem seus contras. Você tem dinheiro, poder, mas não o amor. Não. Apenas se tiver muita e muita sorte.

— Talvez. Mas, com o tempo, o apego acontece.

A menina fez uma careta. E depois sorriu. Tsunade quase suspirou de alívio. Mas não quis mostrar que estava fora do controle.

— Eu espero que esteja certa.

— Eu sempre estou, pirralha. — talvez fosse algo cruel de se dizer a uma criança, mas esse era o jeito da rainha.

Após essa curta conversa, as duas ficaram em silêncio pelo resto da viagem. Enquanto Sakura dormia tranquilamente na carruagem real do País da Primavera, Tsunade observava pela janela a paisagem seca do País do Fogo. De fato, a vegetação do seu país era bem mais vistosa e verde. Bem, com um clima tão seco e quase sem chuvas, difícil seria ter uma paisagem bonita.

Demorou horas para chegar até a Capital do país estrangeiro, e alguns bons minutos para se encontrarem em frente ao imponente castelo Uchiha. Ele era feito de uma rocha escura e metais resistentes. Tsunade avaliou o castelo com um pouco de repulsa. Ele não era nada convidativo. Sua falta de cores e de adornos o tornava frio, cruel e assustador. Afastou os pensamentos negativos de sua cabeça e decidiu acordar a neta.

— Sakura, chegamos.

A menina abriu os olhos e preguiçosamente se retirou da carruagem dos Haruno. Seus olhos se arregalaram ao ver o castelo e a pequena boca ficou entreaberta. Diferente de sua avó, a garota não sentiu repulsa pelo local, apenas uma curiosidade intensa. Era a primeira vez que saíra do seu país e certamente, por isso, a primeira vez que vira outro castelo fora o que morava.

Seu interesse era tanto que não prestou a atenção na conversa da avó com os criados dos Haruno e os guarda dos Uchiha.

— Queria que minha mãe visse esse castelo comigo. — suspirou a pequena Sakura, e sua avó franziu o cenho, irritada.

Era quase um tabu citar Mebuki, filha de Tsunade, perto da rainha. Ela não odiava a filha, isso era algo óbvio, porém mantinha certo rancor pela primogênita abdicar-se tanto dos poderes especiais de regeneração dos Haruno quanto de qualquer obrigação para com o País da Primavera, viajando constantemente com o marido e largando sua filha com a avó.

— Acredite, sua mãe não teria prazer algum estando aqui. — disse de forma seca.

Ela sabia que a criança ainda não entendia ao certo o abandono dos pais como ainda um dia compreenderia, pois era nova demais. Sakura nem ao menos compreendia direito o porquê de sua avó permanecer com uma aparência jovem quando a própria mãe já tinha rugas em torno dos olhos.

Isso fazia parte do poder de nascença dos Haruno. Todos os descendentes, sem exceção, possuíam poderes curativos e regenerativos. E isso fazia com que Tsunade aparentasse ter em torno dos vinte e sete anos, embora tivesse, de fato, mais de cento e noventa.

— Será? — Sakura indagou sua avó, mas não houve tempo algum para uma resposta.

Os Uchiha haviam chegado.

Quando foram feitas as devidas apresentações, já no escuro salão principal do castelo — que era iluminado por algumas tochas de fogo presas sobre a parede — Sakura olhava timidamente para o filho do rei Fugaku. Seu nome era Itachi e seus olhos eram cobertos por uma sombra escura e profunda, que mais tarde descobriu-se chamar olheiras. Apesar deste aspecto peculiar, o menino tinha um sorriso gentil. Ela percebia que ele estava ligeiramente incomodado, apesar do sorriso, pois cutucava constantemente os cabelos lisos e negros presos por um rabo de cavalo baixo e frouxo.

— Será que posso ir ao banheiro? — indagou a menina no meio da conversa dos adultos.

Tsunade não apreciou a interrupção, pensando no que Fugaku poderia pensar. No entanto, ele deu uma fraca risada. Ele deveria saber como são as crianças da idade de Sakura, embora Itachi fosse sete anos mais velho.

— Com toda a certeza, Sakura-hime. — Fugaku a respondeu diretamente, e ela se assustou com o sotaque do mesmo.

Ela ainda não tinha conversado diretamente com o rei, e embora fosse de outro país e falasse outra língua, ainda que ambas derivassem de um mesmo dialeto, quase não percebera diferença alguma.

— Tsubaki, mostre a princesa o caminho do toalhete.

Era uma criada mais idosa, com os cabelos devidamente presos em um coque mediano e impecável. Ela guiou Sakura até o banheiro, e a menina percebera que o sotaque dela, diferente do rei, era muito forte e portanto difícil de entender. Algumas vezes, a criança até teve de pedir que repetisse, pois não havia compreendido nada. Ao chegar no banheiro, a criada não entrara.

— Esperarei aqui neste local e a guiarei de volta. — fora uma frase inocente, no entanto Sakura não havia agradado muito ouvir isso.

Sabia bem que eram boas as intenções, mas a menina já possuía sete anos! Tinha certeza de que conseguiria voltar sozinha. Sakura levantou a cabeça, imitando sua avó quando davam ordens a qualquer pessoa, e deu um sorriso fraco.

— Não tem necessidade nenhuma. Eu já aprendi como voltar. — disse com tanta veemência que a pobre criada acreditara.

Sabia que se a menina se perdesse teria bons problemas, mas caso a irritasse poderia ser algo ainda pior. Fugaku poderia lhe dar um castigo severo. Então acatou as ordens da criança e voltou ao salão principal.

Sakura lavou o rosto com cuidado, para retirar o nervosismo. Ela ainda não havia conversado com Itachi, muito embora já tivessem sido apresentados, porém ela não tinha gostado da ideia de ser cortejada com alguém tão mais velho assim. Ele já havia chegado a pré-adolescência, enquanto ela tinha de viver ainda boa parte de sua infância. Ficou alguns tantos minutos divagando sobre o assunto que, quando saíra do banheiro, já não se lembrava mais do caminho que jurava ter decorado com tanta maestria.

Tentou, tentou e tentou ir por corredores que acreditava ter passado, no entanto, com tanta pouca luz naquele castelo era difícil ter muita certeza do que estava fazendo. Passado-se dez minutos, a menina já tinha entrado em desespero. Procurou com um pânico crescente em seu âmago todas as portas que conseguisse avistar, mas nenhuma tinha tantos desenhos em alto relevo quanto a do salão principal. Seus olhos encheram-se de lágrimas, pois sabia que estava mais do que perdida. Ponderou no que se poderia fazer e decidira andar até encontrar o local novamente. Só que não encontrou. Sakura já estava em prantos quando finalmente encontrara uma porta mais elaborada. Certamente não era a do salão, era bem menor e não possuía uma porta dupla, mas pelo capricho era de alguém importante, e pensou ser o melhor local para ficar até que alguém a socorresse.

Abriu a porta sem nem ao menos bater. Devido ao desespero, a pequena Haruno já não se lembrava de nenhuma regra de etiqueta.

Já, no outro lado da porta, Sasuke tentava dormir sem sucesso. Estava adoentado demais para sequer dormir pois a dor era profunda, como sempre. Seu nariz estava congestionado, seus olhos cheio de remelas e sua voz com toda a certeza sairia anasalada caso falasse. Mas hoje não falaria, pois tinha conhecimento de que Itachi iria ser apresentado para a prometida dele e assim não receberia visita alguma. A menina era uma princesa do País da Primavera, e por ser um ano mais novo que o próprio Sasuke, imaginou que Itachi poderia ter problemas, já que não era uma pessoa muito sociável. Bem, não que Sasuke também fosse. Ele estudou durante um ano o dialeto do país estrangeiro que já tinha um certo conhecimento por ser derivado do mesmo dialeto que sua língua materna até por fim aprender a língua apenas para ajudar o irmão, mas, um dia antes dos Haruno chegar, sua doença desconhecida havia o deixado acamado. Novamente.

Quando estava quase cochilando, a porta de seu quarto fora aberta e uma menina chorosa adentrara ao seu quarto. Nunca havia visto tal pessoa em sua vida, ainda mais uma garota com os olhos esverdeados e curtos cabelos róseos, então deduziu que fosse uma estrangeira. Talvez a noiva de Itachi?

— Você... — ela apontou para cama do garoto. — Sabe onde estou?

Ela limpava as lágrimas do rosto, porém o inchaço e vermelhidão não havia ido embora, dedurando de qualquer forma para quem visse que Sakura havia chorado e muito.

Sasuke a olhava, espantado, enquanto a menina aproximava-se. Ela não parecia ter conhecimento de que sua doença poderia ser contagiosa.

— Pare! — ele disse, na língua de Sakura, ainda que com sotaque. — Você não devia estar aqui. Vá embora!

A menina avaliou o garoto. Ele parecia bastante enfermo, tinha uma voz bastante anasalada, mas ainda tinha conseguido ser um indelicado. Ora, ela ainda era uma garota!

— E você — ela apontou o dedo acusadoramente. — não possui modos?

Se o menino não estivesse pálido e adoentado, com toda a certeza teria ficado avermelhado de vergonha. Mas, como não foi possível, tudo que acontecera fora uma bochecha inflada e um cenho franzido.

Sakura poderia rir da atitude infantil do garoto, mas então ela seria tão criança quanto ele. Mas ela já era crescida! Ou assim achava.

— Meu quarto. — ele ainda dissera com a voz anasalada após fungar. — Não havia perguntado onde estava?

Agora era a vez de Sakura ficar vermelha. Quase havia esquecido de sua pergunta, quase. A pequena garota tinha certeza de que isso tudo era culpa do seu nervosismo com toda a situação que a colocou aqui e agora.

— Sim, tinha. Bem, pode me informar onde é o salão principal? Eu me perdi.

— Vou te levar lá. Se você se perdeu vindo para cá certamente não o encontrará mesmo com a informação.

Sakura queria gritar e bater no menino. Como ele ousava?! Tinha uma boa memória, isso fora apenas um lapso de nervosismo. Mas antes que pudesse realmente chamar a atenção do garoto, ela observou como ele era, ou ainda melhor. Como estava.

Inicialmente, havia pensado que o garoto era mais novo por ser um tanto quanto miúdo, mas não era verdade. Ele provavelmente tinha a sua idade, ou quase isso. Só que Sasuke era muito magro, pálido e com uma aparência de alguém que ficara acamado por dias ou até mesmo meses. Então, por isso, Sakura se segurou e decidiu apenas dar um olhar fulminante ao invés de fazer algo contra sua atitude arrogante.

Sasuke, por outro lado, não havia prestado atenção nessa mudança de atitude. Ele estava realmente se esforçando para se levantar da cama. Sem sucesso. Ele não tinha muita força. Na verdade, não tinha força alguma.

Sakura se compadeceu com aquela visão de virulência e se prontificou para ajudar. Não demorou a estar do lado da cama do garoto, embora o quarto fosse muito grande.

— Deixe-me ajudá-lo. — sua voz saiu amaciada por empatia.

Ela estendeu a mão até o pescoço do garoto, como se seu braço fosse um tipo de apoio. Uma centelha de energia se passou pelas mãos da garota. Ela não entendeu muito o que era aquilo e o que significava, então não se importou muito. Tudo que queria era ajudar o menino. Odiava ver as pessoas com qualquer tipo de adoecimento mesmo que nunca tivesse de fato tido algum. Era uma pessoa muito empática, a Sakura. Lembrou-se de que ele poderia estar com febre e colocou a sua mão preferencial na testa pálida do Uchiha. Mais uma vez, a centelha. Mas agora muito mais forte, e desta vez não seria muito difícil de entender o que estava acontecendo. Seus poderes curativos de Haruno estavam aflorando. Finalmente.

— O que você fez? — indagou o menino assustado.

E também admirado. Não sabia o que havia acontecido, mas sentiu que estava muito melhor. Como se pudesse andar novamente sem ter medo de cair. E isso era incrível.

— Eu sou uma Haruno... — Sakura prontamente respondeu como Tsunade sempre fazia quando curava alguém que não tivesse conhecimento de seu poder. — Eu sou uma Haruno! Poxa, é a primeira vez que consigo fazer isso, estou tão feliz! — respondera no automático, mas só depois de falar que percebeu o que tinha acabado de acontecer.

Sakura estava feliz e orgulhosa. Seus olhos encheram-se d'água, mas não se permitiu chorar novamente.

— Legal. — respondeu o menino de forma simples, mas realmente estava agradecido e admirado com o acontecido. — Agora preciso beber isso... — Sakura deu um tapa em sua mão, fazendo com que o copo caia no chão, quebre e derrame todo o seu conteúdo. — Ei!

Sakura olhou com nojo o líquido no chão. Ela não sabia ao certo o motivo de tanta aversão, mas era algo que gritava em seu âmago. Alerta, podridão, morte.

— Não, definitivamente não. Isso aqui... Não. — seu nariz também detectou um cheiro de putrefação e morte.

Sasuke, agora já em pé, deu de ombros. Talvez fosse mais um poder dos Haruno? Sentia que poderia confiar nela.

— Se você diz... Vamos ao salão. — chamou a menina e começou a guiar.

Os passos poderiam ser ouvidos por qualquer um que passasse nos corredores, embora não houvesse ninguém além dos dois garotos. O silêncio era quase palpável, mas não por algum tipo de tensão entre os dois, embora cada um tivesse sim uma questão que os incomodavam. Sakura decidiu acabar com o silêncio, contudo.

— Você está bem?

Pergunta idiota. Percebeu assim que o menino fez uma careta reprovadora.

— Eu pareço bem? — retrucou.

Touché. Não parecia, de fato. No entanto, Sakura não apreciou o tato do Uchiha mais novo.

— Me desculpa, não parece. Mas também não precisa ser tão grosso.

A culpa remoía pelo corpo miúdo de Sasuke. Ele sabia que ela não tinha culpa alguma de nada, então decidiu dizer algo.

— Eu sei, é só...

— Frustrante. — Sakura terminou sua frase.

— Sim.

— Mas agora está conseguindo andar, isso é um progresso, certo?

Sasuke olhou para a menina alguns tantos centímetros maiores que ele. Poderia ser um progresso, mas ainda havia muita coisa para melhorar. Seu corpo estava desnutrido, seus hormônios do crescimento, quase nulos.

— Por enquanto. Duvido que dure muito. — respondeu, já acreditado que era apenas uma melhora passageira feita pela menina.

— Você não deveria mesmo beber aquilo. Ele cheira a peste e morte.

A Haruno se lembra com nojo do cheiro de morte do suposto medicamento. Não havia como ter certeza, mas seu tino a dizia que fora um medicamento totalmente adulterado.

— E como sabe disso?! — indagou o menino de forma petulante.

Seu orgulho falou mais alto. Não sabia se era mesmo um poder dos Haruno ou apenas sua intuição aguçada, mas decidiu omitir isso.

— Eu sou uma Haruno. Nós sabemos dessas coisas. Aliás, meu nome é Sakura. — mudou de assunto, lembrando que não havia se apresentado ainda.

Sasuke a olhou. Já sabia seu nome, mas não quis ser grosso novamente. Então apenas se apresentou de volta.

— Sasuke. Uchiha Sasuke.

Os olhos da criança se arregalaram ao ouvir o nome do menino. Outro Uchiha? Talvez fosse um primo? Ou havia um outro irmão que sua avó não tivesse contado?!

— Uchiha?! Pensei que só havia um... — mas fora cortada por Sasuke, que estava alheio a toda surpresa de um novo Uchiha.

— Chegamos.

Sakura olhou para as portas enormes do salão principal. Estava fechado, sendo assim ela conseguia ver com precisão os desenhos em alto relevo banhado a ouro. Eles possuíam criaturas assustadoras e admiráveis, e muitos olhos com pupilas diferenciadas. Sua observação fora cessada quando Sasuke por fim abriu a porta.

— Sakura, estávamos preocupados! — ela ouviu a voz da avó.

De fato, Tsunade havia se preocupado mais do que o necessário. Completamente paranoica, imaginou-se que poderia ter sido raptada no meio daquele castelo ridiculamente escuro e assustador. Antes da neta aparecer, amaldiçoou a má vigília dos Uchiha ou até mesmo cogitou que o próprio Fugaku pudesse ter feito algo indiretamente. Mas estava errada. E respirou fundo, muito aliviada. Não poderia se sentir dessa forma, afinal, Sakura ficaria com os Uchiha por um verão inteiro.

— Me desculpa vovó, me perdi. — Sakura não quis olhar para o rosto da avó.

Estava envergonhada. Tinha certeza de que a rainha do país da primavera a olharia com um certo desapontamento, embora isso não houvesse acontecido.

— Droga, garota, você me dá muito trabalho.

Sakura finalmente olhou para Tsunade e, para a sua surpresa, viu apenas uma avó genuinamente preocupada com a neta. Era algo normal, até mesmo banal, mas se sentiu feliz com essa demonstração de emoção. Sua avó não era muito disso e sua mãe quase não ficava em casa, então qualquer coisa sentimental a fazia satisfeita.

— Mas o Sasuke-kun me levou para cá. — contou como havia conseguido voltar para o salão principal.

Itachi olhou para o irmão surpreso, uma certa ansiedade e também felicidade. Seu irmão estava andando! Desde hoje cedo, Sasuke estava tão enfermo que não conseguiria nem ao menos levantar-se da cama. Mas agora andava e sem ajuda. Permitiu-se dar um sorriso de canto, pois qualquer melhora do seu irmão era como uma vitória em sua vida. O amava muito e independente de qualquer circunstância gostaria que seu irmão tivesse uma vida feliz. De preferência longe dessa doença desconhecida.

— Sasuke? Está conseguindo andar?

Sasuke ficou sem jeito com o olhar animado e esperançoso do irmão. Ainda que ele fosse seu irmão, Sasuke não era acostumado com demonstrações de amor, principalmente com muita gente perto.

— É, mais ou menos. — disse, olhando para baixo.

Sasuke, além de estar sem graça, tinha medo de colocar uma esperança de sua total melhora em seu irmão. Ele não sabia se continuaria andando ou sequer bem o suficiente para receber visitas.

Em outro ponto de vista, Sakura estava animada para contar a novidade para a sua avó, que olhava intrigada com toda a situação.

— Escute só vovó: eu o curei. — ela olhou novamente para Sasuke, que ainda parecia debilitado, e decidiu mudar sua frase. — Bem, um pouco.

Tsunade olha para a neta surpresa, animada e até mesmo um pouco irritada. Não esperava que os poderes de Sakura fossem se manifestar tão cedo, visto que a própria mãe da garota havia negado os poderes de cura. Ficou bastante feliz, é claro, no entanto algo tão importante assim devia ser contado a ela mais cedo.

— O quê?! Sua habilidade já está se manifestando? Como estou sabendo disso apenas agora? — olhou para a neta de forma atenta, e agora percebera que o losango na sua testa ainda não havia aparecido.

— Foi a primeira vez. — disse a menina, e fez todo o sentido.

Ela ainda não havia aprendido a controlar, até porque não havia o losango, portanto era algo realmente novo. Talvez no dia seguinte já aparecesse? O seu próprio símbolo na testa tinha aparecido no da seguinte.

— Ela te curou mesmo? — Fugaku olhou para o filho temeroso de que isso pudesse ser verdade.

A melhora não seria algo muito benéfica para ele, e para o país também. Verdade seja dita, o pirralho só estava vivo pois Itachi o amava muito. Sasuke estranhou o pai dirigir-se a ele, uma vez que isso acontecia apenas quando era para castigá-lo de algo, mas não teceu nenhum comentário sobre. Estavam com visitas importantes e não deveria causar uma discussão.

— Curar é uma palavra forte, mas estou bem melhor. — respondeu sincero.

Fugaku fica aliviado com a sua resposta. Então talvez fosse o suficiente apenas aumentar a concentração de seu "medicamento" e tudo voltaria a ser como ele gostaria.

— Bem, acho melhor você ir logo para o seu quarto. Não vai querer passar sua doença para os outros, certo? Precisa de escolta? — enquanto Sakura imagina que isso seria um pedido de preocupação tanto do filho mais novo quanto o mais velho, Sasuke percebe que não era bem isso.

Viu a ameaça no tom de voz de seu próprio pai. Como se o mandasse ir embora antes que estragasse tudo. Sentiu-se péssimo, e dessa vez não pela doença. Gostaria de ajudar o seu irmão e dessa vez não via problema, já que os Haruno continham poderes curativos. Mas sabia que se contestasse seria pior. Bem pior.

— ... Não. Consigo ir sozinho. — respondeu ao pai, sentindo-se minúsculo.

Tsunade, desconfiada com toda essa conversa fiada, decidiu entrometer. Quem diabos era esse menino? Era um Uchiha mesmo? E se fosse, porque não havia lhe contado anteriormente? Afinal de contas, a fábula que os Uchiha só poderiam ter um filho era verdadeira ou falsa?

— Espere aí, o que é que esse garoto tem? E quem é ele? — indagou diretamente para Fugaku.

O Rei não a respondeu imediatamente, então antes que Tsunade se irritasse— coisa que não era difícil e nem demorado de acontecer — a neta respondeu pelo rei.

— O nome dele é Uchiha Sasuke. Acho que é irmão do Itachi. — Sakura disse.

Tsunade respirou fundo para que não aumentasse seu tom de voz, afinal, estava em um território de outra pessoa. Mas ao mesmo tento tinha de demonstrar sua indignação, pois havia sido enganada.

— Como eu não sabia que ele tinha um irmão? Garoto, venha aqui.

Após o pedido de Tsunade, o menino olha para o pai, temeroso. Não sabia se deveria mesmo ir, pois não queria que a ira de Fugaku caísse sobre ele mais uma vez.

— Apenas vá. — respondeu o rei sem olhar para o garoto.

A situação não poderia ser pior. Se Tsunade o curasse, estragaria todos os seus planos. Teria de aguentar o bastardo da sua falecida e traidora esposa até o fim de sua vida. Talvez devesse tê-lo matado mais cedo, mas ficou com medo de Itachi adoecer de tristeza, já que havia perdido a mãe. O filho mais velho também não sabia e não entendia da história de Mikoto e sua gravidez estranha, já que Uchiha só podem ter apenas um herdeiro. Certamente a mãe havia pulado a cerca com algum maldito plebeu e deu a luz a aberração chamada Sasuke. Poderia contar a Tsunade que ele era um bastardo, mas, com todos os diabos, não valia a pena ferir o seu orgulho dessa forma! Os boatos se espalhariam, e teria de matar todos que soubessem da verdade, de novo.

Com o aval de seu pai, Sasuke andou até Tsunade. Ficou surpreso pela rainha de outro país lhe parecer mais amigável que seu próprio pai.

— Não sinto nada contagioso. Venha mais perto. Como se sente? — disse, logo após focalizar toda a sua concentração em suas mãos.

Assim como Sakura, Tsunade havia sentido a centelha, mas pelo corpo inteiro. Focou todo o seu pensamento no garoto e nas energias ruins que o cercava, e apenas com isso já sentiu que o que o Uchiha mais novo tinha de errado não era enfermidade alguma. Não entendeu o motivo, é claro, mas sabia que não era natural. Tratou de retirar tudo e toda fraqueza e debilitação que pudesse prejudicar o garoto e abriu os olhos.

— Eu nunca me senti tão bem. — Sasuke respondeu surpreso.

De fato, nunca havia acontecido isso. Sempre que se lembrava por gente se sentia mal, nauseado, anasalado e com dores pelo corpo inteiro. Sem contar com a fraqueza e desmaios constantes. Mas agora... Se sentia incrivelmente normal.

— É bom que se sinta mesmo. Bem, já que Sakura vai ficar o verão aqui, não permita que esse garoto seja medicado. Com a minha ajuda de agora, acho que precisa de apenas uma mãozinha a mais do que o que quer que fosse essa virulência para tido passar. Está tudo bem para sua Majestade? Seu filho vai ser curado. — ela olhou diretamente ao rei, como uma ameaça silenciosa.

Sabia que Fugaku tinha algo a ver com isso, mas nada disse. Ainda estava em um território estrangeiro e também preferiria que o menino vivesse. Com todos os diabos, jamais desejaria a morte de uma criança, ainda que desconhecida!

— Suponho que sim. — Fugaku respondeu seco.

— Ele só precisa de uma ajuda da Sakura. — não era de todo verdade.

O garoto já estava curado, apenas exercícios e uma boa alimentação o faria melhor com o tempo. Mas sabia que ele precisaria de Sakura caso houvesse mais uma "intervenção" para que a criança voltasse a ficar adoentada. Qual era o motivo de tudo isso, afinal? Talvez envenenou o próprio filho apenas para Sakura noivar com o primeiro sucessor e Itachi casar-se com a neta para unificar os dois reinos? Impossível. Sakura ainda não reinaria o país da primavera. Tsunade ainda tinha um tempo ilimitado de vida pelo seus poderes curativos, e além do mais, esse envenenamento lento fora feito durante anos. Qual seria o motivo disso?

— Não quero incomodar sua neta, Tsunade. — Fugaku tentou desvencilhar-se do plano da rainha.

— Ora, isso não irá. Inclusive ajudará a minha neta a melhorar seus dons. — foi clara, objetiva e firme.

Ele que tente mudar os objetivos de Tsunade. Seria algo impossível.

— Então que assim seja. — aceitou, por fim.

Tsunade sabia que essa história não acabaria por agora. Mas deixou ser pausada até que soubesse dos reais motivos. Sakura poderia proteger o garoto enquanto ela voltava para o país da primavera e mandava espiões para o castelo Uchiha e descobrir o motivo disso tudo.

Os dois soberanos prosearam assuntos que as crianças não se deram o trabalho de escutar. Riram de piadas sem graças, galantearam um com o outro apenas por esporte e contavam casos peculiares que os reis lidavam em seu dia a dia.

Tsunade posou no castelo dos Uchiha apenas para se descansar da longa viagem, pois faria a mesma novamente para voltar ao seu país.

— Vou sentir sua falta, vovó. — disse Sakura cedo, no dia seguinte, para sua avó.

Tsunade crispou os lábios. Não gostava de despedidas e muito menos de momentos sentimentais.

— Ora, não seja melosa. Daqui a quatro semanas estarei de volta para te buscar. Posso ter uma palavra com Itachi? — indagou para a neta.

Sakura sabia que sua avó sentiria sua falta. Por Deus, talvez ainda mais que a criança! A neta era tudo para a rainha.

—  Claro. Até mês que vem! — deu-lhe um beijo na bochecha, já com os olhos marejados e adentrou o Castelo Uchiha.

Itachi olhou para a rainha, intrigado. Não tinha motivos para essa conversa particular, tinha? Talvez para pedir que cuidasse bem de Sakura? Sentiu um frio na espinha. Ele gostava da menina, mas era uma criança. Não conseguiria casar-se com uma criança tão cedo!

— Itachi. Absolutamente não deixe seu irmão beber aquilo. Não era medicamento algum. Isso era veneno. Francamente, não sei como seu irmão ainda está vivo. — ela o olhou séria.

Foi extremamente direta, mas essa era a rainha. Talvez o menino não acreditasse... Bem, ele ia acreditar. Ela sentia isso. Não era normal essa doença, e um menino da idade de Itachi conseguiria distinguir. Uma doença desconhecida que continham quase todos os sintomas negativos e ainda possivelmente pegajosa, que ninguém havia contraído também?

— Eu... Não sei o que dizer. Obrigada, e não deixarei que ele beba. — Itachi não negou o pedido.

Não sabia se ela estava certa ou não, mas aquela mulher era a única pessoa que conseguiu fazer Sasuke melhorar de uma forma significativa. Sabia disso e a respeitaria.

— Cuide da minha filha. — ela disse, já se despedindo.

— Tudo bem. Posso pedir uma coisa? — Itachi indagou.

— Claro. — respondeu Tsunade.

— Deixe-me ver o contrato de casamento com Sakura. — pediu.

Ele já deveria ter visto o contrato, achou peculiar a sua pergunta. Mas o mostrou ainda sim. 

— Oh. — disse ao mostrar ao garoto.

Ela também havia relido. Em vias curtas, dizia-se que Sakura deveria casar com o filho de Fugaku. Mas não foi específico de qual. Tsunade não havia dado ideia uma vez que ninguém sabia da existência desse garoto, ao menos no estrangeiro.

— Ela tem direito de escolha entre os irmãos... — Itachi não pareceu surpreso.

— Exceto que eu não sabia que teria outro irmão. — disse a rainha, irritada.

— Mas ela vai saber. Quero que ela escolha.

Itachi percebera que a menina tinha um grande medo de conversar consigo. Ele mesmo era receoso pela diferença de idades. Não era tolo, sabia que casamentos assim aconteciam em todos os lugares, mas não o agradava e nem a ela. Talvez essa escolha amenizasse essa situação. Não queria ter uma esposa distante e temerosa do próprio marido.

— Fico feliz por você ser uma pessoa melhor do que imaginei. Mais altruísta. — Tsunade sorriu para o garoto.

— Bem, faço isso por mim também. — foi sincero, mas a rainha não deve ter escutado.

Já estava dentro de sua carruagem, voltando ao seu reino. O da primavera.

Os dias foram passando-se muito rápido. Tudo passa mais rápido, é claro, quando você está de fato aproveitando todos os momentos possíveis. Itachi aproveita por ver seu irmão saudável como nunca havia ficado. De fato, depois de parar com os medicamentos suspeitos, o menino parecia normal. Além da ajuda de Sakura, é claro. Tanto com seus poderes regenerativos quanto com sua personalidade, o Uchiha mais velho viu seu irmão, pela primeira vez, feliz.

— Acho que vou sim conseguir decorar os caminhos. — Sakura disse, cheia de si.

Itachi viu seu irmão zombar da menina com um sorriso dúbio.

— Será?! — indagou Sasuke, irônico.

— Foi um deslize, eu juro! — Sakura se explicou, lembrando-se de como eles haviam se conhecido.

— Se você diz... — Sasuke deu de ombros.

Sakura começou a correr entre o jardim repleto de árvores enormes com topos escurecidos. O local não era um labirinto, mas toda a vegetação era muito grande, escura e parecida. Sakura poderia muito bem se perder, mas não havia saído da vista dos dois Uchiha.

— Não acredito que ela consegue se divertir por aqui. — comentou casualmente o irmão mais novo.

Itachi olhou para o irmão. Sasuke mal conseguia esconder o sorriso no rosto. E Sasuke não sorria nunca.

— Bem, você também está. — alfinetou o irmão mais novo.

Sasuke sentiu as bochechas queimarem, mas não refutaria o irmão mais velho. Era verdade, afinal de contas.


Notas Finais


Esse será o único capítulo narrado pelo passado e pela terceira pessoas. Os outros no presente e em primeira, seja Sakura ou Sasuke. Espero que tenham gostado e comentem ♥


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