História Filter - Park Jimin - A caixa postal nem era para mim

A caixa postal nem era para mim.

- Ótimo - Minha tia respondeu, parecendo não se abalar com o que acabei de dizer. -, agora vá dizer isso ao seu homem!

Dei uma leve risada do jeito que ela disse, então assenti, ainda confusa e agitada.

- Mas, como eu falo isso?! É estranho!

- Estranha é você, que beija o garoto a meses e não assume que o ama! Seu coração é de pedra! - Ela diz, erguendo-se da cabeceira da cama, um tanto irritada. - Apenas diga para ele o que acabou de descobrir, que o ama. Que ama o jeito que ele fala com você, como ele te beija e te toca… - Ela suspirou. - Foi exatamente isso o que eu disse ao meu ex marido Pierre. Aquele cafajeste.

Eu queria mesmo perguntar o que aconteceu entre eles, mas minha vontade de ver Jimin foi maior. Então, sai do quarto e agradeci a ela pelos conselhos. 

Eu estava em êxtase, minhas pernas tremiam, meu coração estava cada vez mais acelerado e eu só queria ver aquele garoto de toalha saindo do banho. Agarrar o corpo sarado dele, beijar a boca macia até ficar vermelha, enquanto puxava seus fios de cabelo úmidos pelo banho. Minha imaginação ia longe; como eu tinha tudo aquilo, assim, debaixo do meu nariz, dormindo comigo, e nunca fiz nada? Chegava a ser um pecado não notar aquilo que já estava óbvio:

Porra, eu estou apaixonada!

 Era tudo tão repentino, eu não conseguia distinguir o que era o quê. Foi ridículo eu precisar ficar um dia inteiro sem ouvir a voz dele para perceber isso? Como sou BURRA! E foi pior ainda precisar que minha tia me desse um “Alô!” para eu assumir que estou nutrindo sentimentos por Jimin. Me senti uma idiota, mas não tive tempo para pensar nisso, eu tinha que pedir desculpas a ele e dizer quanto sou burra, depois de ter beijado cada parte daquele rosto.

Quando cheguei na porta do nosso quarto, abri o mesmo com certa pressa, e procurei mais que rapidamente pelo garoto. Eu esperava ver ele saindo do banho, e contar tudo o que a tia Louise disse, mas não o vi em lugar nenhum. Eu ia sair do quarto, mas ouvi o celular dele tocar, e fui ver.

Eu não tinha o direito de mexer no celular do garoto, mas, e se fosse uma chamada urgente? Então peguei o celular e vi quem ligava no visor,  era Maya. Porém não deu tempo de atender, a chamada parou sozinha e automaticamente abriu as mensagens dele.

Eu não posso ler, não são minhas.

Mas foi inevitável.

Quando vi uma chamada perdida da Raquelle ali, ainda não vista, foi impossível não clicar.

“Ah, Minnie? Estou te esperando no gramado! Queria falar que gostei muito de hoje, e… Queria ser mais próxima de você... Quando vamos nos beijar de novo? Não quero apressar as coisas, mas, haha, não vejo a hora de acontecer!”

Larguei o celular na mesma hora, parando meu olhar em um ponto fixo. Tenho plena certeza de que aquela foi a pior caixa postal que eu já escutei na vida, e nem era para mim.

Eu não queria surtar, não. Não queria bater em ninguém ou mesmo sair gritando pela casa o quanto eu tinha nojo desses dois. 

Eu só queria ir embora.

A voz daquela megera pedindo um segundo beijo do garoto não saia da minha cabeça, eu simplesmente não sabia o que fazer. Fui para a sacada do quarto, com as mãos no cabelo, apertando de leve, enquanto a raiva invadia meu corpo. 

Então vi o que acabaria com o meu dia de vez: Jimin realmente foi sentar com Raquelle no gramado, ela estava com sua cabeça apoiada no ombro dele.

Eu não me segurei, minha vista embaçou e uma lágrima teimosa desceu pela minha bochecha. E acompanhada dela, milhares de outras.

Eu queria morrer.

Mas, mesmo assim, com as bochechas molhadas e as pernas tremendo, fui para o andar de baixo, a procura da minha tia, queria avisar a ela que eu não precisava mais dessa viagem, eu já aprendi a lição. Mas na mesma hora, minha mãe me telefonou.

- A-alô? - Disse, com a voz embargada, tentando normalizar o máximo possível.

- Filha? Tudo bem?

- S-sim, mãe. Eu só quero ir embora... - De repente, minha tia apareceu na sala, preocupada comigo.

- Mas, porque? Alguém te machucou?!

- Não… É que…

Sim, mãe. Eu estou machucada.

- É que... 

Rapidamente, a Louise tomou o celular da minha mão, tentando acalmar minha mãe. Já eu? Tentava a todo o custo secar as lágrimas, que insistiam em cair sem parar.

- Mary? Se acalma, a Dubois está bem, ninguém aqui fez nada a ela, vou conversar com ela agora mesmo e descobrir o que aconteceu. - Antes que minha mãe falasse mais alguma coisa, Louise desligou o celular na cara dela. - Sua mãe fala demais às vezes.

Ela pôs o celular em cima do piano, voltando a me encarar.

- Olha, tia, eu só quero que me l-leve de volta para casa. Não pense que é com você é que... - Eu tentei explicar, mas as palavras saíam muito confusas.

- Ninguém vai embora, enquanto você não me contar o que-

Minha tia foi interrompida por uma voz familiar vindo da porta de entrada.

- Du...? O que aconteceu? - Jimin perguntou com sua vozinha preocupada, e quando me virei para ele, meus olhos marejaram mais ainda e meu coração queria sair pela boca.

Sua cara de preocupado foi muito boa, ele sabe mentir muito bem.

- Tia, e-eu quero ir embora. - Eu disse, desviando meu olhar do garoto.

- Já entendi o que está acontecendo aqui... - Minha tia passou a olhar de mim para o Park, acho que ela pensa que nós brigamos.

E, dane-se. Eu não ligo mais.

- Quer conversar sobre em outro lug-

Minha tia foi novamente interrompida, pela pessoa que eu menos queria ver agora.

- Jimin, o que faz aqui? Eu estava te procurando e... - Quando Raquelle parou seu showzinho profissional de chamar atenção, olhou para mim também. - Jesus, seu rosto ‘tá péssimo.

Eu tentei.

Tentei muito.

Mas a cara dela de “Tanto faz” olhando para mim, enquanto segurava o braço de Jimin, me fez perder total controle. Uma raiva maior do que eu jamais senti invadiu meu corpo, eu só queria espancar o rostinho perfeito dela. Como Jimin pode beijar essa sanguessuga, que só quer se aproveitar dos outros? 

Que se foda.

- Ah, é? - Disse, um tanto baixo, enquanto mais lágrimas escorriam. - Está horrível? Quer que fique pior ainda? É só sair por essa porta e agarrar esse moleque como se o Ryder não existisse! - Eu tentei gritar e senti meu rosto queimar. 

Minha expressão devia estar das piores agora. Mas não me importei muito com isso, eu apenas observava como Raquelle podia ser asquerosa, me olhando com um leve sorrisinho, enquanto se escondia atrás do Jimin. Eu queria arrancar o sorriso dela, ou melhor, os dentes.

- Do que você está falando, sua doida? - Ela pergunta, com uma careta debochada.

Como ela podia ser tão nojenta assim! Por causa disso, minha raiva só aumentava. Eu mantinha meus braços cruzados no corpo, apertando com certa força a blusa.

- Do que estou falando...? - Eu disse, como um sussurro e rindo ironicamente. - Do que estou falando?! - Isso saiu quase como um grito, fazendo Jimin recuar, com a garota atrás.

- Dubois nã-

Antes que minha tia falasse, eu olhei atentamente para o rosto dele. Tão lindo. Não entendo como ele pode ter feito isso, ele parecia tão doce, parecia que me amava de verdade. Eu acreditei nele. E mesmo ali, com muita raiva e prestes a explodir, eu ainda queria beijar Park Jimin, com toda a minha vontade.

- DO QUE EU ESTOU FALANDO?! NÃO SE FAÇA DE SONSA! - Eu já estava fora de controle, fui para perto dos dois, e sem o mínimo consentimento do meu cérebro, empurrei Raquelle. - ANDA! CONTA PRA TODO MUNDO! 

Jimin quis me segurar, mas eu joguei sua mão para longe do meu corpo, e ele chegou a se assustar também. Minha tia apareceu atrás de mim, segurou minha cintura e tentou a todo o momento me puxar para longe.

- Dubois, calma! - Louise chamava, mas era inútil, eu não ouvia mais nada, tampouco enxergava. 

Eu só via ele.

Mesmo brigando com Raquelle, minha raiva, decepção e tristeza estavam voltadas para ele. Eu queria gritar, bater, chutar, descontar tudo nele e depois fingir que nada disso foi real, que ele me amava de verdade.

- O que ‘tá rolando? - Nesse momento, Chris apareceu na escada, logo notando a briga e descendo para ajudar.

E nem é preciso dizer que todos os outros apareceram na escada, igualmente chocados. Agora que já tínhamos platéia, Raquelle podia fazer seu teatro à vontade, e se fingir de vítima o quanto quisesse. E foi exatamente isso que ela fez.

- Jimin, tira essa louca de perto de mim! - Ela falava com o garoto enquanto se escondia ainda mais atrás dele. Jimin não teve reação, ele apenas me olhava sério, acho que o filtro feliz não deixava ele expressar o que queria.

Mas, o que ele queria expressar? Queria poder chorar e pedir desculpas? Queria ser grosseiro e esfregar na minha cara o quanto sou trouxa? Ouvir isso só me deixaria pior, então decidi parar de gritar com a garota; eu não queria brigar com ela.

- Vem, amiga. Não vai te fazer bem gritar com quem só escuta a própria voz. - Lilian apareceu, me segurou pelo braço e me puxou para longe. Ela parecia fuzilar Raquelle com os olhos, mesmo sem entender o porquê da minha raiva.

- ‘Tá com medo de falar isso na minha cara, Lilian? - Raquelle saiu de trás do garoto, com sua típica cara de deboche. - Esqueceu do banho de bebida que tomou?

- Você não me passa medo, pelo contrário, sinto pena de você. - Lilian respondeu, e assim seguimos para a escada.

- SENTE PENA?! QUEM VAI SENTIR PENA AQUI SOU EU, DEPOIS QUE PARTIR SUA CARA EM DUAS! - Ela gritava, então minha tia chegou perto dela e sussurrou algo, então Raquelle calou-se no mesmo instante.

Louise nos acompanhou até um dos quartos, e para ser sincera, minha mente estava tão cheia que eu nem percebi em qual quarto estávamos entrando. 

- Pode sentar aí. - Mason diz, então percebi que estávamos no quarto dele.

Me sentei em sua cama, e todos os meus amigos estavam sentados na minha frente. No chão, nas cadeiras e encostados no batente da porta; todos queriam me ouvir, e descobrirem o que estava acontecendo. Mas, eu não queria falar com ninguém. Eu só queria ir embora, ficar sozinha e nunca mais abrir a boca para dizer que estou apaixonada. E olhar nos olhos do Ryder agora era mais difícil que nunca, como eu digo isso a ele? Iria ser como: “Ry, a vagabunda da sua namorada te traiu com o garoto que eu amo”.

- Quer nos contar o que aconteceu? Eles não vão entrar aqui. - Louise disse, fechando a porta atrás dela, e fazendo quem se escorava ali ter de se sentar no chão também.

- E-eu não... - As lágrimas queriam cair de novo, e deixavam minha voz embargada. Mas eu respirei fundo, e comecei a falar. Não poderia deixar eles ali, esperando, e nem dizer que ia embora. - Eu fui procurar o... O garoto no nosso quarto, mas ele não estava. Então o celular dele começou a tocar e vi uma mensagem da Raquelle...

Me desculpe, Ry.

- Ela queria encontrar ele no gramado e... Q-queria beijar ele, de novo.

Ryder passou as mãos pelos seus cabelos, suspirando. Chris passou sua mão pelo ombro do mesmo, perecendo consolar. Eu nem imagino como ele deve estar, mas provavelmente, muito pior que eu.

- Dubois, eu sei que você está com raiva mais, gritar com ela não vai mudar nada. - Minha tia disse - E você parecia uma louca, descontrolada. Seus pais te educaram muito bem, não entendo porque fez isso.

Apesar de não ser uma boa hora para brigar comigo, ela estava certa. Como eu fui pagar esse mico? Era isso que ela queria! E o que eu podia fazer agora? NADA. A merda já está feita, ela deve estar enfiando na mente daquele cabeça de vento do Jimin como eu sou descontrolada.

- Melhor a gente deixar ela dormir. - Mason diz, então todos concordaram, levantando de onde estavam, e indo de encontro com a porta.

- Em que canto você vai dormir? - Lilian perguntou, esticando a coberta em cima da cama.

Eu estava no quarto do Ryder, e iria dormir com ele. Supomos que os dois fossem dormir juntos, depois de um “encontro” no gramado, então decidimos dormir juntos também. Para falar a verdade, eu não queria. 

Eu queria dormir com ele, todo mundo sabia disso.

Era só olhar nos meus olhos inchados e tristes pelo choro o quanto eu queria estar perto do Jimin agora. Porém, minha raiva era maior, e tudo o que passava na minha cabeça era o Park abraçando Raquelle, como ele faz comigo. Sinceramente? Era um mix ridículo de raiva e tristeza.

- E-eu durmo em qualquer canto. - Quando eu percebi, as lágrimas rolaram de novo.

- Amiga, não chore por moleques infantis que não merecem! - Abracei Lilian, e ali meus olhos fecharam com força, e eu tentava desembaçar a vista.

- Como você consegue, Lili? Como consegue não gritar com aquela vagabunda! - Eu disse chorosa, apertando ainda mais a garota.

- Ela não vale a pena, Dubois. E eu fiquei com muita vergonha de ter agido daquela forma na festa, foi deplorável.

Como ela conseguia? Foi IMPOSSÍVEL não querer arrebentar aquela sanguessuga! Soltei a garota, e olhei para trás; Ryder estava sentado na cama, coberto e mexendo em seu celular. Então dei mais uma olhada em Lilian, ela tinha um rosto sereno, eu queria ser como ela. 

A verdade é que Lili sempre nos passou calmaria, quando as coisas pareciam se descontrolar. Mas, também, era só olhar para a garota que você já se sentia melhor. Lilian tinha cabelos ruivos, lisos e caídos até o ombro. Seus olhos claros, sempre serenos e a procura de alguém para ajudar. Lili gostava de usar roupas largas e claras, muito cheirosas.

Lilian deu boa noite para nós dois, e saiu de dentro do quarto. 

Ouvi Ryder suspirar pesado.

- Como se sente? - Perguntei, ele logo deixou o celular de lado, encarando um ponto fixo à sua frente.

- Já estive melhor, haha. - Riu fraco em resposta. - Desculpa.

- Pelo que…? - Minha voz saiu mais fraca do que eu esperava.

- Se eu não fosse tão inquieto, não te traria um problema como esses.

Está completamente certo, Ry.

A partir do momento em que cliquei nos botões daquela máquina, criei aquilo que me traria o maior misto de sentimentos do mundo, sendo que, quem possui o controle para contornar essa situação, sou eu. E o pior de tudo, é que eu não me arrependia de nada que passei com Jimin, sim exatamente isso, nadinha.

- Você não é inquieto, e sim o maior cientista que eu já vi. Poderia ganhar muito dinheiro com essa máquina. - Ele riu soprado.

- Não quero mais pessoas desiludidas, ficar assim dói muito. - Passou as mãos pelo cabelo, enquanto disse choroso o nome da sua amada: - Ah, Raquelle! Eu te amava, sua vagabunda!

Dei uma leve risada pelo jeito engraçado que Ryder xingou aquela que beijava ainda hoje de manhã. Não imagino como deve ser difícil para ele. Se para mim, que conheço Jimin a alguns meses, já sinto como se pudesse ser esfaqueada, que doeria menos; Imagina para Ryder, que namora Raquelle há dois anos.

Realmente, uma facada doeria bem menos.

∞

Amanheceu frio, e eu sentia meu corpo igualmente gelado. Talvez, se eu estivesse dormindo com ele, nada disso iria me preocupar agora. Mas Jimin deve estar preocupado demais em tentar esquentar a sanguessuga. Uma onda de tristeza e remorso invadiu minha mente e eu, novamente, queria morrer.

- Gente? Hector já está nos esperando lá embaixo. - Ouvi a voz de Beverly, então decidi me levantar. Só não sei se estava pronta o suficiente para olhar nos olhos dele.

Então, que comece mais um dia NADA no estilo Parisiense Romântico.