História Filter - Park Jimin - Eu senti

Eu senti.

Então, mais que rapidamente fomos para o lado de fora, onde havia uma van nos esperando. Uma preta, sem muitos detalhes.

- Que grandona. - Beverly diz, entrando.

Eu logo achei um lugar para me sentar, este que era ao lado do mais novo casal: Rosé e Christian. 

Esses dois não paravam quietos um segundo, falavam de coisas melosas e desavergonhadas, DO  MEU LADO, e nem ligavam. A verdade é que o percurso todo foi um saco. Todos conversavam entre eles, eu era a única fora do ar ali; isso porque a pessoa que costumava me irritar, falar de coisas desconexas e sobre ser pai de um gato, não estava do meu lado.

Jimin encontrava-se ao lado de Raquelle, e do outro lado da mesma, Ryder, o namorado cego de amor. Eles tinham uma conversa produtiva sobre sabe-se lá Deus o que, e eu mantinha meu olhar em qualquer ponto que meus olhos quisessem descansar.

- Bom, como nossa primeira parada - Hector levantou-se de um dos bancos, começando a falar de uma forma automática. -, temos a Galeria 59 Rivoli. 

A galeria estava mais para um grande barracão, toda enfeitada por coisas velhas e enferrujadas, mas mesmo assim parecendo ter uma boa história.

Hector então abriu a porta da van, nos dando visão completa do lugar.

- Sua história começa em 1999, quando um grupo de três artistas invadiram um prédio abandonado, transformando-o em um grande ateliê. Ainda que a prefeitura tenha tentado tomar o prédio, já que se tratava de uma invasão, os governantes perceberam o potencial turístico da galeria, que passou a ser o terceiro centro de arte contemporânea mais visitado de Paris.

Pelo fato do lugar estar cheio de gente, nós não descemos da van, então Hector apenas fechou a porta de novo, depois de falar mais umas coisas do lugar.

Vale ressaltar que Jimin até tentou prestar atenção, mas a garota insuportável ao lado dele, não deu tantas chances ao mesmo.

- La Petite Ceinture - Agora nós andávamos no meio de uma ferrovia um pouco descuidada, e os muros altos me davam enjoo. -, trata-se de uma linha ferroviária construída em 1852, que foi desativada em 1934.

- Dubois, me espera! - Escutei Mason me gritando, então olhei para trás.

Quando me virei, o novo grupinho de melhores amigos (Ryder, Raquelle e Jimin), estavam rindo entre eles, e quando Jimin viu que Mason corria até mim, olhou do garoto para mim, mas acho que seu filtro “Feliz” não permitiu que ele ficasse bravo. Chegou a ser engraçado.

Mason veio a passos largos, passou um de seus braços no meu ombro e assim continuamos andando.

- De lá para cá, as plantas tomaram conta do cinturão ferroviário, sendo ainda o refúgio para mais de setenta espécies de animais.  A “invasão” da natureza faz com que tenha um aspecto de local esquecido, sem perder o seu charme. - Hector continuou, então seguimos andando.

- Pensei que você ia espumar de raiva da cobra dando em cima do seu garoto. - Mason diz, enquanto eu podia escutar a risada escandalosa dela.

Peraí, “meu garoto”?

- E-eu não tenho que sentir ciúmes do Jimin-

- Assume isso logo, Du. Todo mundo já percebeu.

Ele deu uma piscadinha sacana, eu então revirei os olhos, rindo de nervoso.

Mas, eu não sinto ciúmes do Jimin, certo? Ele precisa viver a vida dele, conhecer gente nova. Tudo bem que, ver Jimin beijar a boca de outra não está nos meus planos e espero que nem nos dele. Porém não quero que Park se sinta preso.

- Como nossa última parada, temos a Rue Crémieux.

Hector nos levou a uma rua colorida, parecia cenário de filme. Foi aí que decidi pegar meu celular e tirei o máximo de fotos que pude. Era uma rua calma, com o asfalto limpo, parecendo novo. Então parados à sua frente, o homem continuou:
- Considerada uma das mais charmosas de Paris, a Rue Crémieux tem um visual que remete a Burano, na Itália, com uma rua de paralelepípedos e casas antigas com fachadas coloridas.

Me senti leve naquele lugar, era como se o ar daquele lado fosse mais purificado.

- Ué, cansou de ficar com os seus melhores amigos? - Perguntei para Ryder, que acabou de se sentar ao meu lado.

Chris e Rosé foram para os últimos bancos da van.

- Sabe, a Raquelle é muito barulhenta. - Ele descansou sua cabeça no encosto do banco. - Eu nem pude prestar muita atenção no que o Hector estava falando.

- Uh, imagina o Jimin, então…

Eu disse, em tom de ironia, e Ryder levantou sua cabeça do encosto sorrindo malandramente.

- Está com ciúmes do Jimin? - Ele pergunta alto, fazendo alguns dentro da van pararem de falar imediatamente.

Inclusive ele.

- Seu idiota…! - Eu sussurrei, dando um tapa em seu ombro.

Minhas orelhas estavam queimando, então tapei elas com o cabelo. Assim, em um ato repentino, olhei para frente. Eu parecia uma desnorteada.

- Eu não sinto ciúmes de ninguém.

Ryder começou a rir escandaloso, me fazendo olhar para ele com a testa franzida.

- É engraçado porque você acha que consegue disfarçar.

O resto do caminho eu segui olhando para frente, pois senti que Jimin estava me observando. E esses atos do garoto conseguiam me deixar com um neurônio a menos, já que quando Ryder me perguntava coisas aleatórias como o que Hector falou em um certo ponto da visita, eu sempre respondia com um “Verdade, concordo” ou até mesmo respondia com outra pergunta: “Ryder, ele está me olhando?”.

∞

Finalmente, estávamos de volta na casa. Tia Louise nos esperava em sua sala, sentada no sofá, com o roupão preto e sorridente.

- Como foi a visita? - Nós entramos e paramos na frente dela. - Não, quer saber? Depois me contem tudo, primeiro vão tomar um banho porque o cheiro de suor está me matando.

Rimos da fala dela, e então obedecendo sua ordem, fomos direto para nossos quartos.

O quarto estava um verdadeiro inferno. Não falamos uma só palavra, e eu me sentia desconfortável em apenas olhar para os olhos dele. Quando eu peguei minha toalha, senti Jimin segurar minha mão de um jeito carinhoso, então olhei para ele.

- Você sentiu ciúmes?

Meu coração foi parar na garganta, eu sentia batidas fortes, chegavam a doer. Então desviei o meu olhar do dele, eu simplesmente não conseguia.

- Não.

Ele pareceu suspirar, eu não sabia que a minha resposta ia sair assim, tão seca e sem graça. Ia aparecer mais delicado se eu tivesse cantarolado a palavra.

- Foi só o Ryder fazendo palhaçada. - Concluí.

- Entendi. - Ele sorriu amigável. - Quero te compensar por ter ficado o dia todo sem conversar com você.

- Olha Jimin, não precisa, eu-

- Mas eu quero. Não me importa se não precisa.

Eu não sabia o que responder. Seu sorriso doce me impedia de falar outro “Não” repentino. Na verdade, eu nem sei porque esse “Não” saiu tão automático.

- Tudo bem. - Eu disse, suspirando. - Tem um lugar aqui que eu não visito há muito tempo.

Ele então, sorridente, pegou apenas seu novo celular e colocou no bolso, e eu larguei o meu na cama. Peguei sua mão, e o conduzi até a escada, parando no meio dela. Comecei a olhar a parede, atenta, à procura de uma brecha.

- Dubois, o que está fazendo?

- Espera, caramba - Eu disse, agora passando a mão por ali, parando em um buraquinho muito bem escondido, que fazia parte da decoração. - Achei!

Puxei o lugar com certa força, assim dando a visão de uma portinha.

Quando eu abri a mesma, me veio uma onda de nostalgia incrível: Quando eu era mais nova, era nesse lugar onde eu me escondia com frequência. Meu esconderijo favorito. Lá dentro não havia mudado nada: Era um lugar pequeno, cabiam no máximo três pessoas sentadas, de perna de índio. Ainda tinha uns brinquedos meus ali, uma boneca morena e uma bola colorida, meio murcha. Apesar de ainda ter os meus brinquedos antigos, não havia resquício de poeira, estava tudo completamente limpo.

- Vem, entra! - Convidei o garoto, animada.

Eu fui primeiro, sentei de perna de índio e Jimin fez o mesmo, do meu lado.

- Uh, aqui é pequeno. - Ele comenta, rindo.

- Eu era bem menor quando entrava aqui. - Suspirei. - Não tinha com o que me preocupar, era só eu e a Pipinha.

Peguei a boneca, e alisei os cabelos dela.

- Sinto saudades de não ter preocupação. De ter como única responsabilidade obedecer os meus pais. - Ri soprado. Jimin apenas me escutava com atenção. - Agora nem isso eu faço direito.

Antes que eu pudesse começar a me lamentar, Jimin pegou minha mão e a entrelaçou a sua, pousando elas em sua perna. Estávamos muito colados, sentar de perna de índio foi o que nos deixou mais espaçados. Ele pareceu pensar, enquanto olhava para nossas mãos.

Meu Deus, o que esse garoto pretende?

- Eu senti. - Ele agora olhou para mim, meio sério.

Eu não sabia como Park Jimin podia deixar meu coração doido de acelerado apenas por segurar minha mão e falar que “Sentiu”. Eu nem sabia do que ele estava falando!

- Senti ciúmes de você com o Mason. - Ele riu anasalado, sentindo vergonha, então desviou seu olhar.

Jimin estava tímido.

- Desculpa, eu só queria falar e-

- Não tem problema, não vou brigar. - Eu disse, segurando ainda mais forte sua mão. - Eu fiquei com saudades de conversar com você hoje. - Confessei.

Jimin sorriu de leve, voltando a me olhar.

- É? - Se no filtro feliz, Jimin já parecia atraente falando apenas isso, com a voz fraquinha e tão próximo ao meu rosto, imagina no vermelho? - Sabe do que eu fiquei com saudade? - Eu não respondi, tampouco neguei com a cabeça.

Eu simplesmente não consegui tirar meus olhos da boca do Park, e não precisei responder para que ele continuasse. Só que, o garoto respondeu de uma forma inimaginável, para mim.

Ele inclinou-se um pouco para frente, me dando um selinho demorado. Céus! Que boca macia, como é possível? Fiquei surpresa, mas logo Jimin voltou sua íris para os meus olhos, me fazendo sentir uma estranha calmaria.

- Eu queria fazer isso, toda vez que você olhava para mim.

Sorriu de leve, me deixando com cara de boba.

Ele não pode me dar um selinho e esperar que eu não queira mais. Porque eu quero mais, muito mais.

Segurei seu rosto com a mão que não estava entrelaçada na dele, então sentindo a pele macia de sua bochecha, quis beijar ali. Não sei explicar como pode ser tão gostoso selar a pele dele, mas pude demonstrar. Foi algo pequeno, mas para mim foi especial. E quando voltei a olhá-lo nos olhos, não levou cinco segundos para que eu sentisse sua língua passar nos meus lábios. Não sei porque Jimin fez aquilo, mas repentinamente, um “fogo” subiu pelo meu corpo, e eu precisava aprofundar aquele beijo. Até porque, não é muito confortável beijar de lado, com as pernas de índio e sem espaço algum.

Então tive uma ideia.

Soltei minha mão da dele, desajeitada, e descruzei minhas pernas; nesse momento eu parei o beijo. E não acreditei no que fiz em seguida: Minha perna esquerda passou por cima das dele, e senti sua mão me ajudar no percurso (Jesus, que pegada).

Nunca pensei que ia sentar no colo do garoto que mais me estressa na Terra, mas, sim, eu fiz isso e não me arrependi por um segundo sequer. Agradeci mentalmente a Deus por estar de short, e Jimin de calça jeans, assim não corria o risco de sentirmos as “coisinhas” um do outro; mesmo sabendo que ele não faria nada por estar, tecnicamente, “Feliz”. E sem pensar muito, voltei a atacar a boca carnuda e agora vermelhinha do Park. Enquanto eu aprofundava ainda mais o beijo que agora era lento, Jimin fazia pequenos carinhos na minha cintura, enquanto minhas mãos permaneciam em seu rosto.

Foi então que notei o meu vacilo.

Ter Park Jimin me agarrando com tanto amor e uma simples vontade de me beijar me fez perceber que não, eu não quero ver esse garoto fazendo isso com outra qualquer. Eu quero que seja comigo, que seja especial, porque ele me ama. Senti muita saudade de ouvir Jimin falar coisas sem sentido na minha cabeça, mesmo que tenham sido apenas umas horas, esse garoto me fez falta.

Eu quero ele comigo, a todo segundo.

Logo senti muita falta de ar, então parei de repente, mas continuei dando selinhos no garoto, para me recuperar. No entanto, ele pareceu querer falar algo.

- Espera, Du... - Ele falou e eu parei, para encará-lo. - Se você não sentiu nada quando eu estava com a Elle, então porque o Ryder-

Eu interrompi o mesmo, passando as mãos em seus cabelos, enquanto dizia:

- Eu senti.

Suspirei, agora me sentindo envergonhada por estar em cima do Park, e ainda mais por ter lhe confessado aquilo. Esse que apenas sorriu satisfeito, puxando meu corpo para si, querendo me beijar novamente.

- Nossa, que fome do caralho! - Escutamos a voz do Christian, então olhei para Jimin, igualmente assustado.

- Olha essa boca, mal educado. A Louise vai expulsar a gente daqui a base de unhadas. - Lilian diz, então vários pés desceram as escadas do nosso lado.

Apenas a portinha do esconderijo não permitia que as pessoas vissem aquela cena.

- Eu vou tomar banho, então. - Jimin falou e eu assenti, logo mirando a porta.

Depois que a barra ficou limpa, eu e o garoto saímos de dentro do esconderijo, então voltamos para o nosso quarto, onde eu disse a ele que iria conversar com a minha tia.

- Espera. - Ele segurou meu pulso, me puxando para um abraço. - Obrigada por hoje.

Não soube o que responder, então sorri para ele, que seguiu seu caminho para o banheiro.

- Uh, veio me contar sobre o dia super chato? - Minha tia deu batidinhas em seu lado da cama, então me sentei ali.

- Não, vim conversar. - Eu disse, sorrindo.

- Sobre o Jimin?

Como ela descobriu?!

- Porque se for, eu já reparei na química. - Ela concluiu.

- Na verdade, sim. - Suspirei, procurando um jeito de começar. - Desde que ele chegou na minha vida, ele me fez raiva, angústia, medo e muita alegria, entende? É um mix ridículo de emoções, mas, a verdade é que quando eu estou com ele tudo fica mais sem noção, e é divertido. E, merda, ele beija tão bem...

Parei uns segundos para lembrar do esconderijo.

- Você está fazendo o pobre coitado de capacho, usando ele quando quer. - Me surpreendi pela resposta, senti-me ofendida. - Já pensou em como ele se sente, quanto a isso?

- N-não é nada disso! Eu só não estava pronta-

- Ah, Dubois! Não dê essas para cima de mim, não! Eu tenho um diagnóstico para isso: Síndrome da chatice. Você não assume que gosta dele, mas quer continuar beijando na boca. Então, agora que seu coração de pedra pareceu amolecer, aí vem pedir conselho! Aposto que você beijou ele antes de vir aqui.

- É só que é difícil, eu nunca me senti assim antes e acho que estou...

Não, eu não estou. Nunca estive.

- Assume isso, querida.

- Mas, é tudo tão de repente... 

- Nunca é de repente, você sabe que não é.

- Então... 

- Apenas diga aquilo.

- Tia, acho que estou apaixonada.