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História Finais felizes não existem ( Catradora / She-ra) - Um sonho eu tenho


Escrita por: JullieDaVan

Notas do Autor


Oii mais um capítulo aqui, espero que gostem. Comentem suas teorias, tô curiosa!

Capítulo 17 - Um sonho eu tenho


Fanfic / Fanfiction Finais felizes não existem ( Catradora / She-ra) - Um sonho eu tenho


 Trilha da floresta de Etéria, 8:30 da manhã 


 Adora POV


 “Mais rápido, tropa! Não quero ninguém moscando, não!” Patrão lidera a corrida em fila indiana “Quero ver todo mundo suar, vambora” 


 Eu tive aquele sonho de novo: A senhora, a sala com velas, ela proferindo que eu corria perigo e o terrível sentimento de que alguma coisa estava errada. Na primeira vez que tive esse sonho, pensei que era apenas isso, não passava de um sonho estranho. Mas depois tive mais uma vez, exatamente da mesma maneira, e agora novamente. 


 “Caraca, de onde a Adora tirou esse fôlego todo pra correr hoje?” Ouvi Mermista reclamar ofegante atrás de mim “Se eu pudesse ficaria deitada o dia inteiro, que chateação” 


 “Tenho coisas demais na cabeça, exercício físico me distrai” sorrio e continuo acelerando os passos. 


 “Tá mesmo cheia de coisa na cabeça, olha essa testa enorme dela” Catra zomba acelerando ao meu lado e ganhando uma leve vantagem sobre mim na corrida. 


 Tenho que admitir que meu convívio com eles melhorou bastante nesses dois últimos dias, após a briga no bar da Sheila. Quer dizer, meu convívio com a maioria deles já era bom, a única pessoa que não me suportava era Catra. Ela sim parou de ser tão estressadinha comigo e começou a, finalmente, tentar entender meu lado. 

Mas também não eram grandes coisas, a diferença era que, agora, ao invés de me ignorar ou me insultar, ela fazia piadinhas zombando da minha cara, de uma forma amigável, é claro. 


 “Cuidado, um rato!” Eu grito e aponto para frente. 


 “Ahh cadê?!” Catra solta um grito agudo e para de correr, se encolhendo e fechando os olhos. 


 “Sei não” Eu sorrio enquanto ultrapasso a garota assustada e consigo retomar meu primeiro lugar na fileira indiana “Tchau Catra!” 


 “Ah- mas o que?!” Olho pra trás e vejo a garota me olhando surpresa e com o cenho franzido e de queixo caído. 


 “Fecha a boca pra não comer poeira!” Finalizo e ponho-me a correr, alcançando o Patrão lá na frente. 


 “Como que ela sabe, quem contou- ARQUEIRO!” Ouço a morena gritar enquanto tenta retomar seu lugar na corrida. 


 “Foi mal, foi mal, foi mal” ele diz, correndo das garras e da fúria da menina. 


 “Ou, vocês aí!” Patrão se vira e chama a atenção “Para de frescura, anda logo que eu tenho uma surpresa pra vocês” 


 Continuamos a correr por mais alguns quilômetros, nada tão exaustivo mas também longe de ser leve. Diminuímos o ritmo da corrida quando chegamos numa parte mais estreita da trilha, na qual só conseguiríamos passar se caminhássemos prestando atenção onde posicionamos nossos pés para não correr risco de cair. 

 Respirei fundo o ar puro da mata e limpei minha mente das mil preocupações diárias da minha vida. Lembro-me da época em que eu desejava com todas as forças do meu ser em me encontrar em uma situação como esta: Caminhando tranquila, fazendo exercícios ao ar livre e me conectando com a natureza. Sim, meus músculos (agora um pouco mais formados devido aos treinos matinais) ainda doíam de cansaço, mas eu também conseguia sentir nitidamente a diferença na pessoa que eu havia me tornado nos últimos tempos. 

 É como se antes eu fosse uma lagarta: Não tinha muitas opções de vida a não ser fazer exatamente o que me era esperado, me rastejar com as minhas pequenas perninhas sem muita esperança de uma aventura e, bom, ver o mundo apenas do mesmo ângulo, incapaz de ir além. E agora, talvez eu esteja no processo de me tornar uma linda borboleta: Abrindo meus horizontes, entendendo minhas fraquezas e meus fortes e, de um modo geral, me adaptando às adversidades. 

 A cada passo que damos, consigo ouvir crescer um barulho forte de água correndo. Também percebo que o solo de terra se torna cada vez mais escuro e úmido, assim como o surgimento de rochas se torna cada vez mais presente. Espera um pouco, eu já estudei sobre isso… uma trilha em declive nas proximidades da floresta de Etéria, a alguns quilômetros do início da mata e, sabendo do estado do solo e da umidade do ar, só poderíamos estar nos aproximando da-


 “A nascente do rio Salínea!” Patrão exclama ao nos aproximarmos da pequena cachoeira escondida no meio de flores, plantas e árvores de médio porte. A cena era, de longe, uma das bonitas que eu já tinha visto em todos os meus vinte anos: A cor cristalina e levemente azulada da água se contrastava com o verde forte das folhas ao seu redor, flores amarelas e violetas davam um toque sofisticado e bucólico ao ambiente e, nossa, a mistura tranquila do som dos passarinhos cantando se sobrepõe ao relaxante barulho da água batendo nas pedras. 


 “Bom, tropa” o homem nos olha e continua a falar “Acho que vocês merecem um descanso, tá todo mundo com os nervos à flor da pele aqui, brigando em bar, discutindo entre si, levando soco-“


 “Tá pode logo falar meu nome, eu sei que é pra mim” Catra diz com seu sorrisinho sarcástico. 


 “Não só você” ele sorri calorosamente “Você desconta seu estresse de uma forma, a Scorpia de outra, o Falcão do Mar de outra e assim sucessivamente”


 “Ainda bem que eu sei controlar minhas emoções” Lonnie diz zombando “Ao contrário de vocês, seus-“ 


 “Só me faltava essa” Catra interrompe “A garota me aparece cheia de chupão e acha que tem moral pra tirar uma com a minha cara” 


 “Cada um extravasa do jeito que pode” completei “ela, por exemplo, extravasa dando a-“ 


 “Modos, Adora!” Patrão me repreende segurando o riso. Olho para o lado e vejo Catra gargalhar alto, feliz em ter alguém que tenha o mesmo tipo de humor ácido por perto, e então ela me dá um leve soquinho no braço em tom de brincadeira. 


 “Arqueiro, você ouviu o que a da tiara falou?” 


 “Sim, ouvi sim” ele se aproxima com um sorriso simpático. 


 “Falando palavra de baixo calão… acho que a gente é má influência pra princesinha” ela diz e traça seu caminho até uma rocha grande onde o resto do grupo agora se encontrava, tirando os sapatos para entrar na água. 


 “Há há há” Lonnie diz sarcástica “Vocês tão é com inveja de mim, não tem lábia pra pegar ninguém é fica tentando me atacar” 


 “Você vem, Adora?” Scorpia me pergunta enquanto entra na água fria. 


 “Ah, talvez daqui a pouco. Prefiro ficar sentada por enquanto, aproveitando o momento mesmo” 


 “Você que sabe, qualquer coisa a gente tá aqui” 


 “GERÔNIMOOOO” Falcão do Mar corre e pula na água, fazendo uma grande explosão de água molhar todos ao seu redor. 


 Logo, o som calmo do canto dos passarinhos foi substituído por altas risadas, gritos e conversas animadas por parte dos banhistas. Me permito encostar as costas na rocha atrás de mim e apenas existir por um momento, concentrando apenas no agora. É um bom método de relaxamento, como uma meditação guiada pela natureza. Nossa, o que aconteceu comigo? Pensando em meditação, natureza, energias e meu próprio bem estar? É um território totalmente novo e desconhecido, esse no qual estou adentrando, mas não posso negar: é revigorante. 

 Vejo nosso líder tomar o lugar ao meu lado, sentando-se perto de mim e mantendo sua atenção nos jovens que se divertiam na água. Viro minha cabeça para ele, analisando seu rosto por um momento e sinto aquela estranha sensação se conectar a mim novamente, como se eu já tivesse visto aqueles traços antes, mas sem conseguir ser específica quanto onde.


 “Eu não sei o que seria de mim sem eles” ele fala sem tirar os olhos da cena “De verdade, acho que não seria nada” 

 Caramba, esse é um daqueles momentos que a outra pessoa abre seu coração e fala de seus sentimentos mais profundos. Vai lá, Adora, responde alguma coisa sábia e deixe-o confortável para conversar contigo. 

 “Err como assim, não entendi” 

 Sério? Não tinha alguma coisa mais inspirada que eu podia adicionar a conversa, não? Ai, deixa pra lá, só ouve o que ele tem a dizer, seja uma boa ouvinte. 

 “Bom, em primeiro lugar nós sobrevivemos juntos, né. O nosso ganha pão só é possível porque trabalhamos em equipe, cada um em seu posto e visando um objetivo em comum. Não é o trabalho dos sonhos, mas é o que sabemos fazer. Depois da batalha de Lua Clara, a economia nunca mais fora a mesma, e, sem meu emprego, a solução foi usar meus conhecimentos para a sobrevivência. E então, ao longo do tempo fui conhecendo cada um deles, e aí formamos esse grupo meio desordenado que você conhece hoje” 

 “Com o que você trabalhava antes da batalha de Lua Clara?”

 “Eu era do exército” 

 “Ah…” 

 “Pois é…”

 “Mas, sem querer ser intrometida, por que você não pôde continuar?” 

 “Perdemos muitos soldados naquele tempo, e os que sobreviveram ficaram com sequelas. Eu tinha um conhecido que não conseguia dormir à noite por conta dos pesadelos em combate, são cenas traumatizantes que te perseguem para sempre. Em outros casos, há pessoas que desenvolvem síndrome do pânico e, pasme, amnésia dissociativa causada pelo trauma. A verdade é que exército da Horda jogava muito sujo, ataques surpresa durante a noite, armamento pesado e eram capazes de fazer tudo para vencer. Não é um bom ambiente de trabalho, se é que me entende. Não queria mais ter que vivenciar aquilo todos os dias”

 “Nossa, eu sinto muito. Não fazia ideia”

 “Tudo bem, pelo menos consegui virar o jogo e agora estou aqui, firme e forte” 

 “Exatamente” 

 “Acho que minha única tristeza é nunca ter realizado um dos meus maiores sonhos…”

 “Qual é? Sem querer ser invasiva, é claro, não precisa me contar se não se sentir confortável” 

 “Tudo bem, é tranquilo pra mim falar sobre isso. Acho que meu arrependimento é nunca ter me casado, formado uma família pra chamar de minha, sabe? Ter vivido um amor maior que a vida, ver nascer uma criança símbolo de toda a esperança do mundo e, bom, vê-la crescer saudável e feliz. Não é uma ambição enorme, nunca almejei fortuna ou glória, apenas o simples sentimento de total acolhimento que uma família traz. Entende?” 

 “Entendo, sei muito bem o que você quer dizer” 

 “E é estranho, mas… haha deixa pra lá” 

 “Pode falar”

 “Não, deixa. Você vai achar idiota, um homem da minha idade com essas baboseiras”

 “Eu não vou achar nada, pode confiar em mim” 

 “É que, bom, às vezes eu tenho esses sonhos, sabe. Sonhos esquisitos, sempre repetidos, parecem querer me dizer alguma coisa, mas não sei o que” 

 “Você… continue”

 “Nesses sonhos eu vejo uma mulher, a mulher mais linda do mundo. Ela carrega em seus braços uma criança e ela sorri para mim, diz ser nossa filha. E então eu pego a pequena no colo, com os olhos cheios de lágrimas, feliz por ser papai. E não é só a cena, também é o que eu sinto quando vejo tudo isso: me sinto tão emocionado, como se fosse real tudo aquilo, como se aquela ali fosse realmente minha esposa e minha filha recém nascida”

 “Entendo…”

 “Mas é impossível, eu nunca me casei, nunca tive filhos. É algo do meu subconsciente, eu suponho. Talvez uma vontade muito grande dentro de mim que se reflete nos meus sonhos. Enfim, eu disse que era besteira” 

 “Não, não é besteira! Para falar a verdade eu acho que sei exatamente do que está falando, acho que a mesma coisa acontece comigo!”

 “Você… tem certeza?”

 “Sim. Desde que fui embora de casa, tenho tido esses sonhos esquisitos em que vejo uma senhora lendo minha mão, me dizendo que corro muito perigo. É tão real, parece que acontece de verdade. Mas isso nunca aconteceu, nunca a vi na vida real. E então fico me perguntando o que isso quer dizer” 

 “Ah, nossa, é realmente curioso” 

 “Sim, curioso” 

 “Talvez seja o que eu falei, seu subconsciente criando uma explicação para o que você vive, expressando algum desejo seu escondido” 

 “É, talvez” 

 “De qualquer forma, fico pelo menos aliviado em saber que não sou o único que tem esses sonhos esquisitos” 

 “Sim, fico aliviada também” 


 Nossa conversa se cessa por uns instantes e voltamos a atenção àqueles que se divertiam na água, nadando, jogando água uns nos outros e brincando de Marco Polo.


 “Sabe, Adora, fico feliz de ter você como a mais nova adição ao grupo. Eles são meio controversos, mas são os filhos adotivos que eu nunca tive. Sou muito grato por ter eles como minha própria família disfuncional" ele sorri e fecha os olhos para tirar um cochilo ao meu lado. 


 Ele tem razão. O grupo se organiza desorganizadamente, funciona desfuncionalmente e possui uma dinâmica yin-yang que só eles conseguem balancear. Foge totalmente dos padrões e das expectativas, mas é real. 


 E real é bom o bastante para mim. 


——————————————————


 Chalé da Madame Rizzo em Etéria, 17:00 da tarde. 


 Madame Rizzo POV 


 “Vou me inscrever para trabalhar no palácio, Madame Rizzo” o jovem loiro diz enquanto passa geleia no pão. 


 Levanto a cabeça e meus olhos se encontram com os dele, o choque da notícia estampado em meu rosto. A mesa de café em que estávamos lanchando antes era alegre e leve, mas agora, por causa das palavras de Tobias, subitamente perdi todo o apetite. 

 

 “O que?” Pergunto para ter certeza de que ouvi direito. 


 “Você me ouviu, quero trabalhar como cozinheiro do palácio. Se eu consigo fazer um bom trabalho cuidando do bar da Sheila, não tem porque eu não tentar algo mais ambicioso, novos ares”


 “Mas, querido, você nunca expressou vontade em se tornar chef de cozinha…”


 “E eu nunca quis mesmo, mas sabe o que eu quero? Muito?”


 “Err Eu não sei…”


 “Eu quero dinheiro, cansei de viver essa vidinha aqui sem ambições e sem graça. A gente merece coisa muito melhor, Madame Rizzo!” 


 “Não sei se é uma boa ideia” levanto e levo minha xícara de café até a pia e despejo todo o conteúdo no ralo. As palpitações do meu coração se tornam cada vez mais aceleradas e sinto as palmas de minhas mãos suarem. 


 “Por que não?” Ele vem atrás de mim e me pergunta decepcionado “Eu só quero proporcionar algo a mais para nós dois. O salário é bom, teremos prestígio e honra. Você não quer isso?” 


 “Não precisamos de prestígio, Tobias. Não precisamos provar nada a ninguém” 


 “Mas eu quero” ele diz mais firme “Sou obrigado a servir tanto tipo de gente asquerosa naquele bar. Pessoas que te olham de cima para baixo, pensando ser melhores eu só por causa do status social. Gente estúpida, arrogante e mesquinha” 


 “Você tem que deixar eles pra lá” 


 “Não, eu não consigo deixar pra lá! E o pior é quando vem aquela gentalha criminosa e eu tenho que atender com um sorriso só porque são clientes” 


 “Não fale assim, eles merecem tanto respeito quanto qualquer outra pessoa”


 “Como exigem respeito se eles mesmos não respeitam os bens das outras pessoas, se cometem atrocidades?” 


 “Tobias…” 


 “Outro dia eu fiquei com tanta raiva, mas tanta raiva de ter que servi-los que não tive pena, entreguei um doce fora da validade para o chefe da quadrilha” 


 “Tobias!” 


 “Fiz mesmo e não me arrependo! Ficou lá, vomitando toda a dignidade no banheiro. Ele é só a raíz do problema, não tenho pena de vagabundo não-“ 


 “Tobias, pare! Está me deixando triste falando assim” abaixo a cabeça e ponho-me a sentar novamente na cadeira ao lado da mesa. O rapaz me segue e ajoelha-se à minha frente, segurando minhas mãos.


 “Me desculpe, Madame Rizzo. Meu gênio é diferente do seu, mas o que eu quero dizer é que não quero acabar como pessoas assim, perdidas na vida, como eles estão. E eu não vou defender esses atos, não vou mesmo” 


 “Não queria que tivesse um coração tão duro…” 


 “E não tenho, não quando se trata da senhora” ele sorri de lado “Por isso vou conseguir o emprego no castelo, vamos ter uma vida de mais qualidade, a senhora verá!” Ele se levanta, beija o topo da minha cabeça e vai-se embora da sala. Meus olhos acompanham o garoto loiro que adotei quando ele ainda era tão moleque e que agora havia se tornado um rapaz forte e saudável. Meu coração aperta por um segundo, com medo do pior: Tobias é teimoso, muito teimoso, e não vai descansar até conseguir o tal do emprego que ele almeja. 


 Tenho que encontrar a garota o mais rápido possível, antes que meu plano vá por água abaixo. 

 

 


Notas Finais


Madame Rizzo???? A senhora tá bem???


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