Eu acordei com um fraco raio de sol iluminando o meu rosto. Sentia-me cansada, por mais que tivesse dormido por algumas horas. Olhei para o lado e demorei alguns segundos para me localizar. Eu estava no nosso novo acampamento. Aos poucos, um vago sentimento de ansiedade me tomou.
Acomodei-me mais ao fino tecido que estava abaixo de mim, resistindo a obrigação de despertar. Com um suspiro pesado, recordei os acontecimentos do dia anterior. Após sairmos da mansão, eu, Ren e Mihan nos encontramos com Sasuke, Yuna e os demais. Foi necessário andarmos um pouco até achá-los, mas graças a mensagem de Sasuke, eu sabia onde ir.
Sasuke tinha se livrado dos soldados de Akemi. Ele encontrou com eles e cuidou para que não chegassem muito mais longe. Yuna havia encontrado um outro lugar para nos abrigarmos, ela nos guiou até uma pequena clareira, onde montamos um acampamento.
Imaginei que ainda estivesse muito cedo, pois não consegui ouvir qualquer som humano, apenas o barulho de animais de pequeno porte e do vento suave passando pelas frestas das árvores. Levantei-me calmamente, esfreguei os olhos com o dorso na mão e me coloquei de pé. Caminhei sem pressa até um balde, que continha água, a qual eu usei para lavar o rosto.
Era melhor eu estar bem acordada.
Senti o líquido gelado escorrer sobre a minha face de forma refrescante. Olhei ao redor, depois de enxugar o rosto, e procurei por alguém em específico. Todos ainda estavam dormindo. No entanto, eu não achei quem eu mais procurava. Não me preocupei, pois eu sabia onde ele estaria.
Passei com cuidado e em silêncio pelo acampamento e caminhei para fora da clareira. Havia uma comprida árvore a alguns metros dali. Só parei de caminhar quando cheguei perto dela.
Tomei impulso e concentrei chakra na sola dos meus pés. Subi na árvore até quase chegar ao topo. Como todos os seus galhos eram grandes, dava pra andar sobre eles sem dificuldades. Como estava alto, o vento se tornava mais forte e gelado, e balançava meus fios rosa, por isso tive que segurar meu cabelo e colocá-lo atrás da orelha.
— Ohayo. — desejei.
— Ohayo — ele respondeu.
Sasuke estava mais perto do topo da árvore, em pé no seu último galho, os seus fios negros balançavam e sua capa preta também era movida pelo vento. Ele não demorou e desceu até onde eu estava.
Ficamos em silêncio por um tempo e trocamos um olhar cheio de informações, como se não fosse necessária palavras para o que estava sendo dito ali. Ele ficou na minha frente, mas a alguns metros de distância.
Fora do nosso olhar, tinha algo que eu queria discutir com ele. Uma coisa que talvez não pudesse ser dita com apenas um olhar.
— Você...? — falamos ao mesmo tempo.
Dei um leve sorriso envergonhado e Sasuke suavizou a expressão.
— O que está te incomodando? — ele perguntou.
Não fiquei surpresa pela observação dele. Afinal, Sasuke e eu tínhamos criado um laço mais íntimo. Isso possibilita que percebamos certos detalhes no comportamento um do outro.
— Não dá pra esconder nada de você — comentei com um sorriso singelo nos lábios.
Aproximei-me mais dele e a minha expressão ficou um pouco mais séria.
— Ren me contou... — encarei ele de modo mais firme, porém, sem qualquer raiva. Apenas preocupação. — Como você se sentiu depois do que aconteceu. — disse sem desviar os meus olhos dos dele.
Sasuke, por outro lado, desviou os olhos para cima, como se estivesse desconfortável com a minha revelação.
— Acredito que ele me contou isso, porque ficou preocupado com você — expliquei e não vi ele esboçar qualquer reação.
Ele estava com os olhos vagos.
— Sasuke. — Chamei.
Ele moveu o rosto minimamente.
— A culpa não foi sua. — afirmei com a voz um pouco triste, mas com certeza. — Não tem que se sentir culpado.
Ele permaneceu em silêncio por um tempo.
— Foi angustiante. — ele confessou com a voz grave e calma, que era tão característica dele. — Ver você daquele jeito.
Eu imaginava o quão duro deve ter sido para ele. Ver-me em um estado de quase morte e sem poder fazer nada para me ajudar, ainda mais porque tudo aconteceu depois de uma briga que tivemos. Se eu estivesse no lugar dele, me sentiria da mesma forma.
Ainda lembro da sensação que tive quando o vi desacordado no dia que fui resgatá-lo da mansão de Akemi. Foi tão angustiante que não tenho palavras fortes o suficiente para descrever.
— Eu posso imaginar o quão duro foi para você. — disse com a voz calma e melancólica. — Mas já estamos bem. Eu e você estamos bem. — afirmei dando passos para me aproximar dele. — Estamos bem. — afirmei novamente tocando suavemente em sua mão.
Seu olhar ônix estava focado em mim. Eu podia ver o medo, a angústia e o desespero que ele sentiu. Senti-me horrível por não ter parado para pensar nos sentimentos dele, foi tudo tão rápido que não consegui pensar em mais nada.
— Está tudo bem agora, Sasuke-kun. — falei novamente.
Eu sentia que se eu ficasse repetindo isso, ele se sentiria melhor e passaria a acreditar que, de fato, está tudo bem. Que estamos salvos agora. E estamos juntos de novo.
— Eu farei outra promessa a você. — disse ainda encarando sua bela íris. — Não pouparei esforços para entender os seus medos e enfrentarei eles junto com você. — afirmei com determinação.
Sasuke permaneceu quieto, ele tinha um olhar sereno e uma expressão calma. Após alguns segundos ele ergueu sua mão até a parte de trás da minha cabeça e a puxou para perto dele. De forma que seus lábios vão de encontro a minha testa.
Automaticamente o meu rosto esquentou e me senti paralisar dos pés a cabeça.
Ele se afastou em seguida.
— Vamos tomar café. — anunciou pulando de galho em direção aos outros, para assim, chegar ao chão.
Eu fiquei ali por mais alguns minutos, processando o que tinha acontecido. Acho que... ele entendeu o que eu quis dizer. É difícil ter certeza, mas creio que ele me ouviu... ou... ele usou isso para me desestabilizar para que eu calasse a boca.
— Shannaro...! Poderia ter sido na boca. — murmurei com os ombros baixos.
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Estávamos todos tentando nos habituar a nosso novo acampamento. O lugar era mais aberto, o que nos deixava desconfortáveis e expostos. Por isso, deixamos pessoas vigiando os arredores para ter a maior segurança de que não sofreremos um ataque, mas essa não era a minha maior preocupação.
Até agora, Akemi sempre teve uma vantagem sobre nós, uma carta na manga. Mas neste momento, ela não tinha nada. Nada mais que pudesse usar para nos deter. O mais lógico, nesse contexto, seria atacá-la logo e acabar com isso de uma vez. No entanto, algo estava me incomodando.
Eu vagava em pensamentos enquanto procurava por frutos e folhas para comermos. A comida estava escassa, já que não tinha como irmos até a aldeia para comprar alguma coisa. E como estávamos em um número considerável de pessoas, tínhamos que arrumar o máximo de comida possível.
Porventura, me deparei com calêndulas não muito distantes do acampamento. Elas são flores medicinais e comestíveis. Conhecidas no mundo todo por suas propriedades e beleza. O nome mais popular delas é "bem-me-quer" ou "mal-me-quer".
Abaixei-me para colhê-las, coloquei a cesta que eu carregava ao meu lado e apanhei a primeira flor. Aproximei mais ela para poder ver detalhadamente a sua beleza. Analisei nitidamente esse pequeno pedaço de primavera em meus dedos.
Era delicada em sua aparência, cromatizada em suas pétalas, perfumada em toda a sua extensão, curadora, pois era usada em remédios, aveludada em sua textura, bela e forte, por crescer em solos minimamente férteis e tolerar o frio subtropical.
Ela formava uma espécie de pompom, com pétalas pronunciadas em camadas. Eu sorri pequeno com a ideia que tive. Sentei-me na grama sobre as minhas panturrilhas e com a minha outra mão colhi uma das belas pétalas da flor.
— Bem me quer. — disse com alegria enquanto colhia uma outra pétala. — Mal me quer. — fiz uma leve careta, franzindo as sobrancelhas. — Bem me quer. — sorri novamente. — Mal me quer...
Aquilo que eu estava fazendo era divertido. Devo dizer que precisava de um pouco de diversão e distração. Todos temos andado muito tensos e sem tempo para relaxar. Em parte, eu estava feliz por todos estarem seguros. Nós tínhamos resgatado Mihan, o que já era muito bom.
E Akemi não tinha mais reféns e provavelmente está se remoendo dentro de si para elaborar algum plano que nos impeça de pará-la. Então, eu poderia dizer que estamos progredindo na nossa missão, que passou a ser deter Akemi.
— Mal me quer. — disse quando tirei a última pétala.
Automaticamente a minha expressão se fechou.
— Essa coisa não funciona! — resmunguei com raiva e joguei o talo para o lado. — Aish...!
Colhi o resto das flores e coloquei na cesta, agora sem a delicadeza de antes. Levantei-me, junto com a cesta, após terminar de colhê-las, e dei uma última olhada no caule que eu tinha jogado fora.
— Traidor. — murmurei para ele com um bico de indignação nos lábios.
Virei-me para retornar até o acampamento.
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Todos estavam de pé e trabalhavam em alguma coisa. Como esse local foi escolhido com pressa, não iríamos usá-lo por muito tempo. Estamos nos ajeitando para ir a um lugar mais coberto e seguro.
— Sakura, eu não acredito! — exclamou Mihan para mim com alegria, à medida que eu me aproximava dela, que estava atrás da mesa com os alimentos que estávamos colhendo. — Você conseguiu calêndulas! — disse feliz ao me ver colocar a cesta sobre a mesa.
— Sim. — afirmei contente e orgulhosa do meu feito.
— Ela terá muita utilidade para nós. — ela comentou pegando a cesta com alegria.
Eu afirmei com a cabeça e olhei novamente para a mesa. De início, pensei em fazer uma sopa para o almoço, poderia usar esses ingredientes e fazer algo divino para comermos...
— Sakura? — Mihan chamou me tirando dos meus pensamentos.
— Sim? — respondi olhando para ela.
— Ainda não tive a chance de agradecê-la pelo que fez... — ela comentou timidamente. — Obrigada por ter me salvado, mesmo depois do que o meu filho fez. — pude sentir a tristeza em sua voz.
— O que Gohan fez não teve nada a ver com a senhora. — respondi com certeza. — Além do mais, devo a minha vida e a do Sasuke a você. — acrescentei olhando profundamente para ela. — Você me escondeu na sua casa naquele vez em que tive um ataque de pânico e usou a si mesma como distração para que eu pudesse sair com o Sasuke da mansão. Por tudo isso, eu só tenho que agradecer a você.
— Eu também. — ela respondeu com um sorriso triste, mas sincero. — Obrigada por me salvar. Sei que isso custou a você sua vingança contra Akemi.
— Salvar você era mais importante. — respondi convicta.
Ela tinha agradecimento nos olhos, mas eu podia ver que Mihan estava envergonhada de estar na minha frente, pelo que Gohan tinha tentado me fazer.
— Lamento muito... pelo o que o meu filho fez a você. Prometo que tentarei pôr algum juízo na cabeça dele. — falou tristemente.
Eu só podia imaginar o quão doloroso era para uma mãe lidar com o fato do filho ter tentado assassinar pessoas que ela própria ajudou e salvou.
Balancei com a cabeça em afirmação. Aquele conversa me deixou desconfortável. Eu ainda não tinha superado a minha quase morte provocada por Gohan, minha força ficou prejudicada por conta disso e o impacto que as palavras dele fizeram na minha mente foi doloroso.
Sem contar que Sasuke se sentiu muito mal com o que aconteceu. Sendo assim, eu não podia mentir para ela e dizer que eu perdoei ele e que estava tudo bem.
— Eu estava pensando em fazer uma sopa para o almoço. — comentei mudando de assunto.
— É perfeito. — ela concordou agradecida pelo rumo da conversa ter mudado. — Vou preparar essas flores. — disse se retirando com a cesta de flores.
Olhei para a mesa novamente e vi alguns vegetais que eu poderia utilizar. Mas primeiro eu teria que descascá-los. Peguei uma panela grande, que também estava na mesa, e juntei dentro dela alguns ingredientes, tomando o cuidado de selecionar os melhores.
Peguei uma faca de pequeno porte e me sentei na cadeira para começar a descascar e cortar tudo o que tinha pegado. Comecei cortando a casca da cenoura com precisão. Sorri com a ideia de que Sasuke ficaria mais feliz se comesse algo gostoso feito por mim. Tirei outra parte da casca da cenoura.
Levantei meus olhos para frente e vi a minha tranquilidade indo embora à medida que Yuna se aproximava. Ela estava pálida e parecia nervosa. Apressadamente coloquei a panela na mesa, me levantei e fui de encontro a ela.
— Yuna-sama, está tudo bem? — perguntei preocupada e a vi fazer um sinal positivo com a cabeça, mas olhando para os lados em seguida.
— Siga-me. — ela pediu ao passar por mim.
Não entendi bem o que estava acontecendo, mas não devia ser bom, julgando pela expressão e atitude dela.
Deixei a pequena faca sobre a mesa e a segui. Yuna me levou até um local mais afastado do acampamento onde eu notei, quando nos aproximamos, duas figuras masculinas a nossa espera.
Ela parou perto deles e eu os encarei tensa.
— O que aconteceu? — perguntei com a voz baixa, para que não fôssemos ouvidos pelos aldeões que estavam trabalhando na desmontagem das tendas a alguns metros de nós.
— Gohan fugiu. — Ren respondeu crispando os lábios.
Meus olhos aumentaram pela notícia.
— Fugiu...? — disse em tom de dúvida, quase não acreditando naquilo. — Como?
— Eu fui levar água para ele hoje de manhã, mas ele não estava mais onde deixamos. — Ren explicou.
— Espera! Hoje de manhã? — exclamei nervosa. — Ren, isso já faz horas, porque demorou tanto para nos comunicar isso?
— A princípio, eu tentei ir atrás dele. — justificou. — Mas de nada adiantou. Não consegui achar os rastros dele. Provavelmente, ele deve ter fugido enquanto nós dormíamos.
— Maldito! — praguejei.
— Eu contei a vocês em primeira mão, porque não quis causar um tumulto nos outros. Todos estão com medo do que vai acontecer daqui para frente. — Ren explicou.
— Acho que está claro o que temos que fazer agora. — Yuna se pronunciou. — Vou comunicar a todos para levantarem o acampamento, teremos que partir.
— Mas ainda há a possibilidade dele não ter conseguido chegar até ela. Se ele não conhecer o caminho, pode ter se perdido nessa floresta, então estaremos nos mudando por nada. — Ren lembrou.
— Em todo caso, não podemos correr o risco. Essas pessoas tem que sair desse lugar. — Sasuke respondeu.
— Nesse caso, eu e Sasuke vamos atrás dele. — declarei atraindo a atenção dos três. — Vamos achá-lo e trazê-lo de volta, caso não seja possível e ele já tenha informado Akemi, nós formaremos uma linha de defesa para que vocês possam ir para outro lugar a tempo.
— Será arriscado para vocês. — Yuna comentou preocupada.
— Não se preocupe, Yuna-san. Nós podemos fazer isso. Não é, Sasuke-kun? — perguntei confiante para ele.
— Sim. — ele confirmou sem preocupação.
— Viu? Deixe isso conosco. Se concentre em levar todos daqui o mais depressa possível. — falei.
— Tomem cuidado. — ela pediu.
— Tomaremos. — respondi.
— Vamos, tia. Eles vão ficar bem. Temos que fazer a nossa parte. — Ren disse.
— Sim. — Yuna concordou com um aceno e se despediu de nós com um olhar doce e confiante.
Ela e Ren andaram de volta para o acampamento nos deixando para trás.
Eu observei o acampamento, quase como se essa fosse a última vez que fosse vê-lo. Eu tinha que proteger essas pessoas... não. Nós tínhamos que proteger essas pessoas.
No entanto, seria mentira dizer que apenas a proteção deles me interessava. A minha luta com Akemi virou algo pessoal. Muito pessoal. O que eu mais desejava era pôr logo um fim em tudo isso e fazer Akemi sentir na pele a raiva que ela tinha atiçado em mim.
Diante desse intenso sentimento, eu fechei meu punho com força e comprimi meus lábios.
— Vamos? — Sasuke chamou me tirando dos meus pensamentos.
— Sim. — respondi respirando forte e me virando para ele.
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