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História Find You - - julho II;


Escrita por: thankskidrwhl

Capítulo 23 - - julho II;


- Está frustrado, mas precisa se lembrar que se trata de uma situação que não estava sob o seu controle. Nem o seu, nem de Sadie, nem de Ryan. - Dr. Phillip enfatiza.

- Ela está sofrendo. – Justin enfatiza a última palavra, e seu psicólogo franze a testa. – Ela está sofrendo e eu não posso fazer nada a respeito!

- Sim, e infelizmente, é assim que as coisas funcionam. Infelizmente, é assim que a vida funciona. Não pode controlar a vida, mas pode controlar como reage a ela. Pode controlar e pode conhecer mais a si e entender porque reage de tal jeito em certos momentos.

Justin senta-se no sofá, encostando no estofado e olhando para o teto. A reunião com Scooter era dali uma semana. Ryan estava trabalhando que nem louco. Sadie e Melissa estavam de luto. Ele não se lembra do passado. Não conseguiu decorar a partitura que passara a tarde inteira treinando, no dia anterior. Ligara para a mãe 3 vezes na última semana, fazendo perguntas relacionadas a coisas simples que não se lembrava, ou que não conseguia fazer. Ele realmente estava frustrado, e querendo tomar decisões que não sabia se devia.

- Ela vai precisar de tempo. É normal. O luto possui vários estágios. – Dr. Phillip indica, arrumando os óculos no rosto.

- Vou ser egoísta se perguntar quanto tempo demora?

- Um pouco. Mas respondendo a sua pergunta... É difícil saber. E na minha opinião, ele nunca vai embora. Ela vai aprender a lidar com a ausência da irmã, e alguns dias vão ser mais fáceis do que outros. Não é assim com você? Não há dias que são mais fáceis do que outros? – Justin balança a cabeça, concordando, mas está levemente envergonhado. Ele quer chorar, mas se esforça ao máximo para não. – Com ela, é a mesma coisa.

- Estou me sentindo meio inútil. – Ele bufa, ainda sem olhar para o psicólogo. – Quero ajudá-la... Mas acho que... Acho que nem sei como ajudá-la.

- Uma pessoa que está de luto não precisa de ajuda. Não há nada de errado com ela, ela não tem nenhum problema a resolver. Mas ela precisa de amor, de tempo, de compreensão, de respeito, ela tem limites que precisam ser respeitados. – Dr. Phillip respira fundo, se ajeitando na cadeira. - Ela quer algo que não pode ter porque a vida arrancou isso dela. E a vida, ao longo dos anos, arranca as coisas de nós várias e várias vezes. E, na maior parte delas, não há nada que alguém possa fazer a respeito.

- Já passou por isso? – Justin questiona, virando a cabeça, deixando de encarar o teto e passando a encarar ele.

- Todos nós passamos.

Bieber respira fundo, e então volta a encarar o acabamento em gesso. As mãos estão relaxando sobre a barriga, e ele tem os dedos entrelaçados.

- Ainda temos muito tempo. Quer falar de outra coisa?

- Acho que vou mandar mensagem para Melissa. – Drew diz, não se preocupando em mudar de assunto. – Vou chamar ela para sair.

- Para falar de Sadie?

Uma pausa.

- Sim.

- Ok. E o que quer conversar a respeito de Sadie?

- Quero falar da Sadie com alguém que não vai me dizer que ela precisa de tempo. – Justin diz, e Dr. Phillip ri. – Eu sinto muito, mas...

- Okay.

- Eu estou frustrado. Eu passei 45 minutos ontem tentando aprender uma partitura. E eu queria ter aprendido tudo ontem. Mas não consegui. Mais um indício de que talvez eu não deva voltar para os palcos. Eu me sinto um inútil.

- Você sabe que cobrança excessiva só te levará a um caminho de frustração e raiva, não sabe? Você é um ser humano, não uma máquina.

- Eu só tenho cinco meses. – O loiro diz, voltando a olhar para o psicólogo.

- Não. Você tem a vida inteira. A vida inteira para reaprender, desaprender e aprender novamente. Não só você. Todos nós.

Bieber respira fundo de novo.

- Seu empresário lhe deu um ano. Ainda faltam 5 meses para você decidir se quer voltar ou não. Ele nunca disse que queria que você fizesse uma performance da mesma forma que fazia há um ano, disse?

- Não. – O cantor franze a testa, levando as palavras em consideração.

- Já tentou contactar as pessoas na qual você trabalhava? Talvez esse seja o momento certo.

- Eu não sinto que esse é o momento certo para nada. Você disse! Estou frustrado!

- Okay, mas pense comigo... Têm 5 meses para tomar a sua decisão, não tem?

- Sim.

- É tempo de sobra. Se contactar seus amigos agora, terá tempo para reaprender tudo que não se lembra mais. Não estou dizendo que precisa chegar lá na frente perfeito. Mas consigo ver como uma possibilidade para... Evitar mais frustração.

- Como?

- Eu olho para você, e consigo ver que, se deixar para aprender o que quer muito perto do fim do prazo que foi dado a você, pode se sentir inseguro, incapaz. Óbvio, estarei aqui para trabalhar todos esses sentimentos com você. Mas além disso, é bom se reconectar com o que ama com calma. Sem pressa. Sem falar que pode ser um bom canalizador para tudo que está sentindo agora. Não quer voltar para os palcos? Ok. Mas a música sempre vai ser uma ótima forma de você se expressar. E se não quiser mais soltar a voz por aí, sei que ainda pode ser um compositor.

Justin pensa por um momento, considerando palavra por palavra. Talvez Dr. Phillip estivesse certo, e a situação parecia, num âmbito geral, proveitosa. Drew não responde, nem se mexe, apenas continua onde está, e Dr. Phillip continua observando-o.

- Está tão bravo assim apenas por causa de Sadie?

Um momento.

- Não.

- Então...

- Eu não sei. – Drew fecha os olhos, levando os dois punhos às pálpebras, esfregando-as. – Eu sinto... Quer dizer, eu não sei o que eu sinto, eu só... Preciso controlar algo. Preciso fazer algo que esteja ao meu alcance, sob o meu controle. Ou então preciso que alguém me diga o que fazer.

Ele para ali, e o psicólogo o avalia mais uma vez. É visível como ele está irritado, frustrado, cansado e querendo descontar isso em algo, mas não sabe o que.

- Acho que vou pedir para a minha mãe voltar para Los Angeles.

- Vai se sentir mais seguro se ela estiver por perto? – O homem mais velho o olha através das lentes dos óculos, e consegue ver que Justin busca algo fixo, sólido, estável, algo que ele possa se agarrar.

- Vou me sentir mais seguro se ela estiver por perto me dizendo o que devo fazer.

- Achei que seu pai estivesse passando um tempo com você. 

- Ele está. Chelsey e as crianças estão lá em casa, também. Mas a minha mãe é a minha mãe. E... Às vezes me sinto meio envergonhado de fazer certas perguntas à Chelsey. Ela não está aqui há muito tempo, pelo que eu sei. Não é obrigação dela. 

- Justin... Entendo que esteja buscando por uma âncora, mas... Você não tem mais 13 anos.

- Esse é o ponto... Acho que quero ter 13 anos novamente! Eu estava no Canadá, eu andava com os meus amigos, eu fumava maconha, tocava os meus instrumentos e só tinha que me preocupar com a escola. E então, de repente, eu tenho 23 anos, eu moro longe da minha família, eu não me lembro do meu passado, as pessoas falam o que quer de mim na internet e eu... E eu não sei o que fazer. Eu tenho amigos vivendo a própria vida, se mudando para o outro lado do país, amigos de luto e... Eu sinto que nada está sob o meu alcance.

- Não quero que você ache que estou sendo pago para influenciar você a voltar para a música e para os palcos mas... – Dr. Phillip começa, dessa vez chamando a atenção de Justin, que olha para o profissional. – Tudo que você cria, do 0, e que é inanimado, que você pode excluir, editar, refazer, ou deixar de lado... Tudo isso está ao seu alcance. E pode ser música. Pode ser escrita, pode ser pintura... Você ainda é um artista. Ainda tem alma de artista. Por que não tenta fazer coisas novas? Pode escrever uma música, misturar tinta, rabiscar um desenho, inventar uma coreografia nova, escrever um livro... A qualquer momento. E então pode apagar, esquecer tudo a qualquer momento. E então pode começar de novo. Você está no controle do que cria.

- Ok, mas não é só isso... É o momento também. Será que é o momento certo?

- Por que não seria?

- Por causa de Rosie.

O psicólogo o observa, e então olha o relógio pequeno que há sobre a mesa. Não daria tempo hoje, mas na próxima sessão gostaria de debater porque a opinião de Sadie é tão importante para Justin, então anota "opinião – Sadie" no papel, enquanto o responde.

- Por causa de Sadie. – Ele o corrige.

- É... Tanto faz. – Bieber dá de ombros, querendo pular aquilo. – Eu não quero que... Eu não quero que ela ache que eu não me importo com o luto dela.

- Em algum momento você deu a entender que não se importava com o luto dela? Até onde eu sei, você se importa tanto que foi bater na porta dela, contra a vontade dela.

O loiro fica em silêncio por um momento.

- É, mas... Quer dizer, eu não quero que ele ache que eu estou sendo egoísta. – Ele diz, mas está praticamente reformulando a outra frase.

- Okay. Vá e fale com ela.

Drew o encara, como se ele fosse doido.

- Não é tão simples assim.

Phillip franze a testa.

- Na verdade, é sim. Mas somos seres humanos com sentimentos, e então complicamos tudo. Mas trate a situação com a simplicidade que ela oferece. - Ele faz uma pequena pausa, esperando por uma resposta que não vêm. - E se eu bem me lembro, já te incentivei a ser honesto e conversar com Sadie, há algumas semanas. E você seguiu o meu conselho antes. O que está te impedindo de fazer o mesmo agora?

Justin não responde de imediato. A cabeça dele vaga bem longe, e então ele tem uma ideia. O luto não era a única coisa que incomodava a Sadie. Haviam outras coisas que eram ridiculamente minúsculas nesse momento, mas que, em algum momento futuro, se tornariam uma dor de cabeça. Ele faz uma nota mental da ideia, e então traz a cabeça de volta à sessão.

- Isso tem a ver com aquele papo de meses atrás? - Dr. Phillip questiona, procurando anotações de Abril no caderno. Cada paciente tinha um, e o de Justin estava cheio. O nome de Sadie e dos pais apareciam em quase todas as páginas.

- Huh?

- Há alguns meses, você falou sobre Sadie te colocar num pedestal. Acha que está fazendo o mesmo com ela? Como forma de mostrar gratidão? Está colocando Sadie num pedestal?

- Eu não sei... - Justin murmura. - Você acha?

- Não há muito espaço para os meus achismos nesse cômodo.

- Ah, qual é, Phillip... - Bieber diz, olhando para o psicólogo, numa ansiedade e adrenalina quase infantil. - 30 segundos de não profissionalismo. Vamos lá.

O psicólogo olha para Justin sério como se Drew tivesse acabado de confessar um crime.

- Está tão preocupado com o que a Sadie acha porque está apaixonado por ela?

O cantor engole em seco, encarando-o de volta, na mesma seriedade.

- Não vou te julgar se a resposta for sim, como também não vou te julgar se ela for não. Mas se me disser que não está apaixonado por ela, precisamos entender porque está tão preocupado com o que ela tem a dizer.

- Porque ela é uma belieber.

- Você não a vê como uma belieber, e sabemos disso. Você me disse isso uma vez. E isso não responde a minha pergunta.

Justin pondera por um segundo. Não tinha por que ele mentir, tinha? Não tinha. Ele não iria mentir.

- Não estou apaixonado pela Sadie.

- E porque há essa coisa toda relacionada a ela quando estamos falando da sua vida?

- Porque... - Justin começa, num tom frustrado, mas a frase para por aí. - Você... Você vê no rosto dela, sabe? Ela pode não estar da mesma forma agora, mas... Quando ela falava sobre tudo que era relacionado a mim, tudo que era relacionado ao fandom... Os olhos dela brilhavam. E eles não brilham mais.

- Eu sinto muito em acabar com as suas expectativas, mas... Isso não tem nada a ver com as suas decisões e eu sei que você consegue discernir isso, Justin. A mágoa que ela está carregando agora, não tem nada a ver com você... Ela está de luto. Rosie morreu.

Justin volta a olhar para o teto, pensando nas palavras de Phillip.

- Acho que... Acho que você está certo. Mas eu sei também que... Algo dentro de mim está um pouco relutante com essa história de voltar a fazer música. Tenho medo de que soe ruim.

- Okay? Acontece. Acha que todas as músicas que já fez na vida são boas?

- Não, não estou com medo de sair ruim. Mas estou com medo de alguém ficar tipo... "É, Justin, meus parabéns. Ficou uma bosta." – O tom de voz dele é engraçado, e ele arranca uma gargalhada de Phillip. É tão engraçado que nem o própro Justin consegue conter. – É sério. Eu vou me sentir pior. E aí eu não vou mais querer fazer. Eu estou evitando um desastre não tentando.

- Justin, não vamos encarar dessa forma...

- Estou começando a achar que sou incapaz de voltar a ser o artista que eu era. Tudo que eu fui até o ano passado, levou anos de treino, anos de ensaio, anos de esforço, eu não vou recuperar tudo.

- A prática leva à perfeição...

- Deve ser o maior clichê do mundo. – O cantor arregala os olhos por um momento, como se não fosse grande coisa.

- Bem, eu gosto de uma versão parecida e mais modesta: não dá para você ter algo bom se não tiver algo primeiro. Pode fazer uma única coisa, e talvez não sairá tão boa. Mas pode fazer duas coisas, e dessas duas, uma será melhor que a outra. E então pode fazer três coisas, você terá, talvez, algo bom, algo razoável e algo ruim. Ou algo incrível, algo bom e algo razoável. Ou se encontrará no meio do processo e terá três coisas incríveis. Isso serve para tudo na vida. Para música, para receitas, para roupa nova, e até para pessoas. – Justin o olha, quase culpado por estar com medo de testar. – Mas Bieber... Só vai descobrir se tentar.

- - -

O endereço que Melissa havia enviado por mensagem a Justin era de um café que ficava a poucas quadras do Cedars. Era quase engraçado a forma que o mundo de Justin girava em volta do hospital. Ele podia se afastar muito e muito, mas algo sempre o traria de volta para perto do complexo hospitalar.

- Hey. – Sanchez se levanta da mesa para cumprimentá-lo, e Drew a abraça, mas não se senta imediatamente.

- Oi. Tudo bem?

- Sim... Quer dizer, eu não sei. Me desculpe por te chamar assim, de última hora. É só que... Achei melhor conversarmos. – Ela explica, enquanto gesticula com as mãos.

- É sobre ela, não é? – Melissa comprime os lábios, e então Justin se senta.

- Sim, é sim.

- Você está tão preocupada quanto eu... – Ele observa, e uma funcionária do estabelecimento vem com dois cardápios.

- Eu sei que ela vai sobreviver. – A funcionária se afasta, e Melissa coloca mechas do cabelo atrás da orelha. - Ela é uma das pessoas mais fortes que eu conheço. Ela... Ela enfrentou toda a sua situação sem contar para ninguém por um bom tempo.

- Ela é como um trator. – Drew observa, e faz Melissa rir.

- É, é sim. Mas eu... Eu ainda estou preocupada.

- Aconteceu algo que eu não estou sabendo?

- Não, não aconteceu nada. Mas... Você sabe que eu estou indo embora de Los Angeles em algumas semanas. Eu gostaria muito de ficar mas...

- É a sua vida. Não pode parar em função de Sadie.

A garota olha para ele, preocupada.

- Eu não quero que ela acredite que estou abandonando num momento tão... Delicado.

- Melissa? Sadie nunca pensaria isso de você. – Justin afirma, enquanto acha a opinião dela um absurdo, o que era um tanto engraçado, pois ele acabara de debater o mesmo ponto na sessão de terapia. – Se não fosse por toda essa... Situação, eu aposto que ela estaria soltando fogos de artificio com a sua ida para Nova York.

- Mas talvez eu no lugar dela pensaria isso. Então é o que estou pensando de mim mesma. – Ela rebate, apreensiva.

- Sanchez, você recebeu o sim do FIT há meses. Não tinha como prever nada disso. Na verdade, estávamos torcendo para que... Para que nada disso acontecesse. – Drew suspira por um momento. – E é uma droga. Mas... Tudo que podemos fazer é estar aqui para ela.

A morena o encara, quase cética.

- Estar aqui para ela? Jura? Não está me ajudando muito, Bieber.

Bieber finalmente percebe o que disse, e deixa uma risada escapar.

- Eu não quis dizer nesse sentido. Você entendeu.

A garota se apoia na cadeira, não olhando para ele por um longo momento, e Drew apenas a observa, como se sentisse que ela está escondendo mais do que sabe.

- Tem certeza de que não há nada acontecendo? Você não me chamaria até aqui, no seu horário de almoço, apenas para falar que está preocupada. – Bieber cruza os braços sobre o peito, mais tenso do que gostaria. – Na verdade, eu fiquei feliz que me chamou. Eu iria te procurar mesmo.

- Para?

- Eu mesmo estou preocupado com Sadie. – Ele afirma, franzindo a testa por um momento. As sobrancelhas, grossas, estava lá, exibindo toda a sua preocupação em relação à Karter. – Quero fazer mais por ela do que eu estou fazendo nesse momento.

Melissa franze a testa por meia dúzia de segundos. Ela sabia que não era como se ele naõ estivesse fazendo nada. 

- Ela me contou da vez que você foi até Long Beach. Ela nunca vai admitir, mas amou ter você por lá.

Drew dá um sorriso tímido, lembrando do acontecimento de dias antes.

- Às vezes me sinto em dívida com ela. Uma dívida bem alta, e que não sei como pagar. É uma dívida muito mais complicada que aquela que sinto com Ryan, Scooter e toda minha família.

- Está falando... – É a vez de Sanchez ficar confusa.

- Dos dias do hospital.

Ela balança a cabeça, concordando.

- Não precisa estar perto dela porque sente que há uma espécie de algo a ser pago por todo o tempo que ela... Esperou pela sua melhora. Mas ainda quero que esteja por perto porque se importa.

- Eu me importo com ela. – Drew assegura, e Melissa não responde imediatamente, mas é claro pela expressão de seu rosto que ele não leva a frase 100% em conta. – O que faz você acreditar que eu não me importaria com Sadie? Somos amigos. Somos todos amigos.

- Olha... Você é um cara legal. E talentoso, e divertido, e engraçado, e bonito... E somos colegas. Quer dizer, somos amigos e eu gosto de você, mas... Às vezes, algumas coisas precisam ser ditas, sabe?

- Que coisas?

- Eu não sei até onde você gosta da Sadie. - Sanchez quase cospe as palavras na cara dele. - Eu sei que você gosta dela, eu sei disso, mas... Eu não quero te dizer como você deve viver a sua vida e eu sei que você tem até o fim do ano para tomar sua decisão quanto a o que você vai fazer em relação ao seu futuro...

- Melissa, vá direto ao ponto.

Ela suspira, cansada.

- Uma hora sua vida irá voltar aos eixos.

- Sim, eu sei.

- A Sadie ainda fará parte da sua vida quando isso acontecer?

Drew balança a cabeça, confuso.

- Mel... Porque ela não faria?

- Justin... Não precisamos... Mentir um para o outro. Nós sabemos que quando se trata da consideração que você e Sadie tem um pelo outro, a consideração dela sempre vai sobrepor a sua por uma série... De fatores. E eu não julgo você e eu não estou te cobrando algo, não estou aqui para dizer que você deve gostar de Sadie da mesma forma que ela gosta de você. Não estou aqui para dizer como viver a sua vida. Mas... Você tem um estilo de vida diferente de nós. E por mais que eu saiba que o seu empresário te deu um grande prazo, uma hora as responsabilidades vão bater na sua porta. E sua vida precisará continuar. E talvez Sadie não esteja nisso.

- Está querendo dizer que eu deixaria de ser amigo da Sadie apenas por causa... Das minhas responsabilidades? – Ele diz, confuso. De certa forma, Justin está até um pouco ofendido, mesmo que a intenção de Melissa não fosse de ofender ele.

- Estou querendo dizer que 2017 não vai durar para sempre. Mas Sadie... Eu sinto como se ela estivesse sozinha nesse momento. E ela teria a mim a 10 minutos de distância mas, de repente, eu estou no outro extremo do país. – Ela faz uma pausa, pensando em como ser assertiva mas sem ser... Intimidadora. Melhor, mandona. - Sadie não é sua responsabilidade, e eu sei disso, mas... Ela não tem pai. E o padrasto dela... – Ela não terminou, fazendo uma careta.

- É, eu sei.

- E a mãe dela? Adoro a Diana, mas não sei se Sadie poderá contar com ela, pelo menos por um tempo. E a Sadie tem a avó, mas a Dona Anne mora em Baldwin Park, e ela tem mais de 60 anos. Ela não pode ficar vindo para Los Angeles toda vez que Sadie precisar.

- Mas eu posso. – Bieber conclui, e a colombiana suspira, passando a mão pelo cabelo preto brilhoso.

- Somos amigos, Justin. Mas a belieber aqui é a Sadie. E você tem milhares delas. Eu só quero ter certeza de que posso ir para Nova York tranquila, sabendo que Sadie terá com quem contar se as coisas apertarem novamente...

Bieber balança a cabeça dela, finalmente entendendo o que ela quer dizer.

Talvez fosse a oportunidade perfeita de Justin contar a Melissa sua ideia. Ela ficaria do lado dele, não ficaria? Ele estava fazendo algo por Sadie, algo grande até, talvez aquilo fosse a oportunidade de contar a ela seu plano, e provar a ele de que ele estava mais preocupado com Sadie do que com várias outras coisas. Ele sabia que ela queria a proteção de Sadie assim como ele queria, que ela queria que todos os problemas da amiga desaparecessem assim como ele queria. Mas não tinha certeza se ela o apoiaria. Porque ele sabia que se fosse fazer o que tinha em mente, não deixaria Sadie ciente até que estivesse concluído.

- Sadie... Ela é a minha família agora. Ela não é apenas mais uma belieber. Na verdade, acho que ela está começando a destoar bastante disso. – Justin diz, deixando a mente vagar naquele ponto por um segundo.

- Aquela ali nunca vai deixar de ser uma belieber. – Melissa diz, de uma forma quase engraçada.

- Sim, mas... Eu não a vejo assim. Eu a amo. Ela é uma das minhas melhores amigas. Eu nunca a deixaria de lado.

- Eu só... Quero garantir. Eu não quero dizer que você é isso ou aquilo, mas eu entendo as suas condições e...

- Você deve achar que eu sou uma péssima pessoa, huh? – Bieber comenta, quase surpreso, fazendo-a rir.

- Eu não acho que você seja uma péssima pessoa, ok? Você é um cara legal. Mas eu entendo que você tem a sua vida, e que até há alguns meses, Sadie não era parte dela. E que... Sabe, você não pode...

- Melissa, eu estaria mentindo se dissesse que não me lembro de uma vida sem a Sadie, pois eu me lembro. – Ele a interrompe, sendo direto. - Mas tudo que eu me lembro... Não existe mais. O que eu me lembro inclui meninos imaturos, ensino fundamental e o Canadá. E nada mais daquilo está ao meu alcance... Então, talvez, até de certa forma... Eu só conheço uma vida em que a Sadie está presente. Eu entendo o que você quer dizer, mesmo que eu esteja um pouco ofendido... – Justin exagera e faz uma cena, de certa forma.

- Ah, por favor. – A garota reclama, mas sabe que ele só está encenando.

- Mas eu... Ela é parte de tudo agora. Eu nunca a deixaria de lado. – Ele afirma, e Justin dá de ombros, continuando. – E ela não tem apenas a mim. Sei que se ela precisar, Ryan também estará a uma ligação de distância. Ele implica com ela mas sei que é apenas... O jeito dele de mostrar que realmente se importa, de que realmente ama alguém. 

Ela não o responde, apenas o observa atentamente. Era engraçado como aquele homem sentado em sua frente podia trazer tanta alegria à vida da melhor amiga, mas Mel estava ali buscando a certeza de que ele não era um bosta por dentro. O amor é cego ou a ausência dele era apenas... Realista?

- Posso te perguntar uma coisa pessoal?

Bieber faz um muxoxo, torcendo os lábios, como se a ideia não o incomodasse.

- Claro.

- Está apaixonado por Sadie? – A frase sai tão rápida como uma bala, mas ela não se arrepende. Havia cruzado a mente dela por um segundo, e ela não viu problemas em perguntar.

Justin ri, quase descrente.

- O que?

- Sim ou não. Jogo rápido. Está ou não está?

- Por que eu estaria?

- Isso não é um sim ou não.

- É uma pergunta estranha, no mínimo.

- Apenas responda. Sem rodeios.

- Não, não estou. Por que acha que estou?

- Eu não acho nada, por isso perguntei. Mas... Você fala dela de uma forma diferente. Diferente de quando fala de Ryan, por exemplo.

- Acho que... Eu não sei. Ela faz parte de um lado da minha vida que ainda é... Muito confuso e delicado, às vezes. Mas isso não significa que eu goste menos dela. Pelo contrário, ela é, genuinamente, uma das únicas partes boas desse lado da minha vida. Pelo menos uma das poucas que eu consigo discernir nesse momento.

- Se importa se eu perguntar quais são as outras partes?

- Ainda sou muito próximo do Ryan, por exemplo. Ele ainda é meu irmão. E... Eu não passo mais certas vontades que lembro de passar quando era mais novo.

- É... E você deu uma vida melhor para sua mãe, também. Do jeito que queria.

- É, mas uma vida melhor no Havaí. A 2.500 quilômetros de distância. – Ele comenta, comprimindo os lábios por um segundo, e Melissa se toca de que talvez não fosse o melhor assunto para se debater, principalmente quando a intimidade não é tão grande.

Os dois ficam em silêncio por um momento, e é isso. A conversa chegou a fim, o que Melissa logo percebe, pois suspira, da mesma forma que as pessoas suspiram quando finalizam uma conversa longa e delicada.

- Okay, só estava tentando ter certeza de que você não é um otário. – Sanchez finaliza, mas ela está tirando uma com a cara dele, e Justin ri alto.

- Eu estou realmente começando a ter certeza de que você me odeia. Isso nem faz sentido! Você me conhece há praticamente seis meses.

- Eu não odeio você. Somos amigos, não somos? Nós já tivemos momentos legais, momentos bons. – Ela faz uma pausa rápida, pensando por um segundo se deveria prosseguir com o que estava na sua cabeça ou não. – Mas Justin... Você ainda é um popstar, uma celebridade. E a sua vida... Ela é um turbilhão.

- Eu entendo.

- Não acho que você seja uma pessoa ruim. Se eu achasse, não estaria pedindo a você para cuidar da minha melhor amiga.

- Certo. – Justin afirma, e há um leve sorriso em seus lábios.

- Ótimo. Eu estou... Um pouco aliviada, agora.

- Quando você está indo embora, a propósito?

- 9 de agosto.

- Está preparada para Nova York? – Drew questiona, e Melissa sorri.

- Nova York que não está preparada por mim. – Ela responde, num ar convencido, fazendo Justin rir.

- É assim que se fala.

A garota checa o relógio de pulso.

- Preciso ir. Mas muito obrigada pela nossa conversa. Foi ótimo. – Ela diz, e ambos se levantam. Nada havia sido consumido, e Melissa voltaria para o resto do turno sem almoçar, mas estava mais tranquila.

- Quer uma carona? Posso te deixar no Cedars.

- Ah, eu não quero atrapalhar.

- Melissa, eu não tenho mais nada para fazer hoje. Eu estou praticamente te implorando. – Bieber comenta, piscando mais longo que o normal, enquanto os dois saem do café, e caminham até onde Justin deixou seu carro estacionado.

- Você precisa achar algo para fazer.

- Eu passo o dia inteiro trancado no estúdio que tenho em casa.. Virou a minha pequena... Caverna.

- Que tipo de Batman é você? – Ela questiona, rindo.

- Um que toda a sociedade sabe a identidade. Menos eu.

Assim que entram no carro de Justin e ele tira o veículo da vaga, ele aponta para o outro lado da rua, antes de prosseguir. Um homem com uma câmera bem grande em mãos está na outra calçada, apoiado em uma árvore, tirando fotos dos dois.

- Você sabe que ela irá saber da nossa conversa, não sabe? – Drew questiona, enquanto acelera o carro.

- Eu não queria que ela soubesse. – Sanchez confessa, e Justin tira os olhos da rua por um momento, olhando para ela.

- Bem-vinda ao meu mundo.

- - -

Horas mais tarde, já em Toluca Lake, Bieber havia dado início a todo o seu plano, onde ele iria precisar da ajuda de algumas pessoas, que basicamente, se resumiam a Scooter.

O objetivo? Pagar a conta que a família Karter havia pendente no hospital.

Mas para isso, era óbvio que Justin ia precisar de um pouco de ajuda porque ele não fazia ideia de como fazer isso. Era até bizarro pois, em países como os Estados Unidos, a parte mais difícil de se pagar uma conta de hospital é, geralmente, ter o dinheiro. E bem... A parte mais difícil ele já tinha.

Ele deixou uma mensagem para Scooter, pedindo para que ele ligasse quando estivesse livre, e havia enfatizado de que não era urgente. Assim, Braun ligou horas depois, quando estava tranquilo e havia finalizado o expediente – por mais que, com um trabalho como o dele, houvesse a oportunidade de ele ter que recomeçar o expediente a qualquer momento (o maior exemplo disso era o último Réveillon).

- Hey. – Justin diz, deixando a guitarra de lado, e se jogando no sofá de casa.

- Hey, tudo bem?

- Sim, hm... Está tudo tranquilo.

- Quais as novidades?

Justin não consegue conter o riso.

- Trabalhando com uma pessoa como eu, se houvesse uma novidade, é mais fácil que você soubesse antes que eu.

Scooter ri, do outro lado da linha, e Justin consegue ouvir a voz de Yael e Jagger.

- Não é mentira. Mas você me mandou uma mensagem, querendo conversar... Geralmente é eu quem te procura, então imaginei que algo havia acontecido.

- Bem.. É só que... Eu quero a sua ajuda pra algo. Quer dizer, eu quero fazer algo mas eu não sei como então imaginei que... Que você pudesse me ajudar. - Justin explica, olhando para o acabamento em gesso do teto de sua casa. Ele apertava as cordas e as soltava, ouvindo fazerem diferentes sons, por mais que não prestasse atenção em nenhum deles. 

- Okay. O que foi?

- É possível... Eu pagar a conta de alguém sem que a pessoa saiba?

- Sim, claro. As pessoas fazem isso o tempo todo. No McDonalds, nos restaurantes... Pagam a conta do carro que está atrás na fila do drive-thru e a mesa ao lado.

- Ok, mas... Eu consigo pagar a conta de hospital de alguém?

Silêncio na linha.

- Você não vai fazer o que eu acho que vai fazer, vai? – A voz do empresário é séria, e Justin abre um sorriso de nervoso. Ele sabia que a ideia dele era algo... Arriscado, principalmente quando se tratava de Sadie, mas ouvindo Scooter falar daquela maneira, apenas constatava as suas suspeitas.

- Sim, eu vou.

- Ela sabe disso?

- Não, não sabe. E eu ficaria muito feliz se você não contasse para ela. Acha que posso fazer isso?

- Fazer você até pode. Ela vai concordar? Isso é outra história. Por que está fazendo isso?

- Scooter... Desde que Rosie se foi, eu me sinto um inútil. Ela está de luto, tem contas a pagar e eu tenho o dinheiro. Eu estou... Desaparecendo com os problemas dela. E eu estou no tédio, também. Preciso fazer algo.

- Está no tedio então você vai... Botar lenha na fogueira? Fazer o circo pegar fogo? Chutar o pau da barraca? Enfiar o pé na jaca? Eu não consigo nem pensar em mais frases que possam expressar tudo isso!

- Cara... - Justin suspira, então deixando a guitarra de lado e levantando o corpo, sentando-se no sofá. -  Você acha mesmo que se a Sadie tivesse uma chance, mesmo que arriscada, de me fazer recuperar a minha memória, ela pensaria duas vezes?

Scooter suspira, não querendo dar o braço a torcer. Justin estava certo, mas certo do jeito... Errado.

- Justin... É complicado.

- Complicado por quê? Eu tenho o dinheiro, vou lá e pago.

- É complicado por vários motivos. Primeiro: o que ela pensa sobre isso?

- Provavelmente algo não muito bom, mas eu decidi não focar nisso agora.

- Eu vou ignorar isso. – Braun murmura. – Segundo... Pagar uma conta de hospital assim não é tão fácil. Você precisa de dados que eu imagino que você não tenha. Dados que, talvez, nem a Sadie tenha, e sim Diana.

- Okay, mas deve ter outro jeito, não tem?

- Levi e Jagger nasceram lá. Você esteve internado lá por semanas. Eles me pediram diferentes dados para fazer o pagamento, mas me pediram. Vivemos em um mundo capitalista e o sistema de saúde dos Estados Unidos é algo absurdo mas... Você não pode chegar lá com centenas de milhares de dólares e está feito.

Drew suspira, frustrado. Por um momento, ele havia acreditado que a solução dos problemas estava a um passo de distância, mas agora parecia que um havia um muro no meio.

- Qual é, não pode ser tão difícil assim. Nós já fizemos isso antes, huh? Com a Avalanna.

O homem mais velho pensa por um segundo.

- Olhe... Eu vou ligar lá, e vou ver o que posso fazer. Mas... Estou preocupado com a reação de Sadie.

- Não, vá e faça. Com Sadie eu lido depois. Eu só quero fazer isso desaparecer. 

- Vou ver o que posso fazer e te aviso.

- Ok. Valeu, Scott.

Justin joga o celular em um dos sofá e senta-se no outro, apoiando os pés na mesa de centro e olhando para o teto, branco como a neve. Em segundos, o violão está de volta no colo, e ele aperta as cordas e ouve o som que o instrumento faz, tentando discernir se as notas soam harmoniosas ou não. No começo, foi uma das formas de tentar descobrir se ele estava acertando o acorde, mas depois, se tornou quase a atividade favorita dele. Era o momento onde ele melhor pensava, e com uma partitura que ele já sabia de cor, não era nem necessário se questionar se ele estava apertando a corda no ponto certo. Ia além da prática, era o talento falando mais alto.

Justin tentava manter a calma, mas quase conseguia sentir um pico de adrenalina chegando nos próximos dias. Ultimamente, com as coisas meio mornas, ele sentia que tinha energia de sobra, e infelizmente, apenas dois lugares para descontar isso: na pequena academia particular que ele tinha em casa, ou no pequeno estúdio particular que ele tinha em casa. Haviam picos de energia. Em um dia, podia ficar no estúdio por quase 20 horas seguidas, tentando acertar de cor uma partitura, até as pontas dos dedos doerem contra as cordas de aço, ou até os braços cansarem após ele treinar mais uma vez o set da bateria, ou a cabeça doer depois de tentar decifrar os códigos que, um dia, ele mesmo havia colocado nas letras de suas músicas, ou se cansar de ler sobre si mesmo na internet. Ou, em outro dia, ele poderia simplesmente não fazer nada, e jogar videogame o dia inteiro, ou assistir série o dia inteiro, na presença de Ryan, fosse o Good ou o Butler. Havia uma espécie de calmaria, mas Drew sabia que seus dias estavam contados. E, às vezes, a presença da Sadie era a distração do dia. Não vinha acontecendo com tanta frequência no último mês, e nesse meio tempo, ele não podia deixar de notar como a casa ficava mais fria quando ela demorava para aparecer. Era algo que o próprio Butler havia notado.

- Acho que o termostato da casa quebrou. - Drew disse, uma vez, com direito a uma testa franzida, o que indicava que ele havia pensado muito sobre. Ele estava realmente pensando na porra do termostato. 

- Não. - Butler diz, sem tirar os olhos da televisão, depois de segundos de silêncio e calmaria. - É a Sadie. Faz tempo que ela não aparece aqui. E outra... É verão, porque você está preocupado com o termostato?

Scooter havia marcado a famosa reunião – que deveria ter acontecido em Junho, antes de Rosie vir a falecer – para a próxima semana, o que significa que a Team iria remexer certos assuntos na próxima semana. Assuntos que... Que ele não sabia se estava pronto para remexer. A verdade? Ele se sentia enclausurado, e ele odiava o sentimento claustrofóbico, queria andar com as próprias pernas, viver da forma que quisesse. Mas todo aquele preparo que vinha com a experiência da fama, havia desaparecido, e era difícil tomar decisões quando se está embaixo do holofote, quando todo mundo está vendo os mínimos detalhes da sua vida com um microscópio.

Talvez ele só estivesse precisando ocupar a cabeça, criar coisas novas. Talvez o Dr. Phillip estivesse mesmo certo. Entrar em contato com todas aquelas pessoas que um dia ele havia trabalhado era a melhor opção para ele. Mas talvez fosse melhor não... Pedir nada, por hora.

O celular vibra - era Scooter. 

Hey, então... Entrei em contato com o hospital para ver a questão da conta, mas eles foram bem enfaticos em dizer que é necessário o número da conta e o último nome do fiador. Mesmo pagando por cheque você precisa desses dados. 

Ela não vai simplesmente me dar esses dados. Nem ela nem Diana...

Mais ninguém sabe?

O padrasto dela deve saber, mas é a mesma coisa que nada. 

O hospital não fornece esses dados. Está ao alcance deles mas eles não vão dar isso para você. 

Tem que ter outro jeito.

Será que talvez isso seja um sinal para... Sei lá. Não fazer isso?

Scooter... Eu vi o preço da minha conta e eu só fiquei lá por um mês. O hospital era praticamente a segunda casa da Rosie. 

Ok, então o que vai fazer? Subornar alguém que trabalha no hospital? Isso não deve estar dentro da lei. E Drew, eu não quero seu nome no meio de um escândalo do tipo. Precisamos ter o controle de qualquer situação que venhamos a nos meter. 

Não tenho ninguém de confiança dentro daquele hospital. Não vou deixar você fazer isso sem ter onde se apoiar. 

Justin para por um momento, se lembrando de mais cedo. Talvez, na hora do almoço, a coisa mais sensata a se fazer foi não contar para Melissa. Mas agora ele via que ela era a única que poderia ajudá-lo.

Eu tenho. 

Melissa trabaha no hospital. 

Sei que ela pode me ajudar. 

Não meta os pés pelas mãos. 

Em meio minuto, Justin estava torcendo para Melissa ainda estar acordada, ou não ter um plantão muito cedo no hospital. Pelo que conhecia de si mesmo, sabia que não iria conseguir tirar isso da cabeça até saber que havia concluído a sua ideia principal.

Ela não atendeu no primeiro toque, na verdade, ela não atendeu nem na primeira chamada.

- Hey. O que rolou? – Mel finalmente atende, com pressa. Ela havia escutado o celular tocar enquanto estava no piso térreo da casa dos Sanchez, e só tinha tomado coragem de finalmente ir atrás do smartphone quando o ouvir tocar pela terceira vez. – Está tudo bem, aconteceu algo?

- Não. Mas preciso conversar com você.

- Não tem ninguém morrendo?

- Por que teria? – Drew dá de ombros, quase confuso.

- Você me ligou três vezes. É 2017, ninguém liga para os outros.

- Bem, eu ligo. Espero que você não esteja ocupada. Tenho algo para te pedir.

- Não achei que fosse cobrar o meu favor tão cedo... – Ela comenta, e Drew a ouve fechar uma porta.

- Bem, eu não estava pensando dessa forma. Mas se você for encarar desse jeito, eu posso me sentir menos culpado. – Ele volta a deitar no sofá olhando para o teto, como se a posição o ajudasse a pensar melhor.

- Okay, do que precisa?

- Você trabalha no hospital, certo?

- Sim, isso é praticamente de conhecimento público. – Ela rebate, com uma risadinha.

- O que significa que você tem acesso a certos dados, certo?

- Sim. Não todos, mas alguns.

- Então se eu te pedir algum dado... Você teria acesso a ele?

- Bem, se estiver a meu alcance, sim, eu teria.

- Okay, então você acha que consegue os dados da conta da Rosie para mim?

- O que? – A pergunta sai depois de um silêncio que parece ter sido mais longo que os antecederam, como se ela precisasse de um momento para assimilar a informação. - Como assim?

- Olha... – Justin respira fundo, como se precisasse pegar um certo fôleo para enfrentar a reação dela. Não era totalmente mentira. - Eu vou pagar a conta da Sadie. Quer dizer... Vou pagar a conta da Rosie no hospital, mas eu descobri que não posso chegar lá e pagar uma conta como qualquer outra, o que é um saco. O Scooter disse que eu preciso dados específicos, e que só os responsáveis pelo paciente ou o fiador da conta têm acesso a eles. Eles e alguém de dentro do hospital.

- Meu Deus, você não pode estar falando sério. – Ela murmura. Sentada na ponta da cama, no próprio quarto, Mel passa a mão sobre o cabelo preto e brilhoso, como se estivesse ouvindo uma loucura.

- Ah, qual é, Sanchez... Eu sei que você pode conseguir isso para mim. – Ele diz, e um longo momento se passa sem que Melissa diga algo. - E aí? Você vai pegar os dados da conta da Rosie para mim ou não?

- Não?

- O quê? Porque não? Você acabou de dizer que consegue!

- Justin? – Ela diz o nome dele como se a informação fosse óbvio. Bem... Era óbvio para ela. - Isso é crime. Repassar dados pessoas na Califórnia é crime. Nós somos muito bem avisados sobre isso. Não apenas disso, mas da Lei de Confidencialidade de Informação Médica. Está no meu contrato! Eu li meu contrato!

- Ah, qual é...

- São dois mil e quinhentos dólares por cada violação. E para pagar uma conta no Cedars, você precisa de, no mínimo, dois dados. Eu não tenho cinco mil dólares!

- Ok, eu pago os cinco mil dólares!

- Você?! Você é praticamente o mandante do crime!

- Okay, tanto faz, o Scooter paga.

- Você acabou de dizer que o Scooter sabe. Ele é quase um cúmplice. Quem vai pagar esses 15 mil dólares?!

- A Allison, sei lá... Olha, se você corresse o risco de ir para a cadeia, eu até me preocupava. Mas agora que você disse que é só uma multa, eu estou mais animado ainda.

A morena suspira, do outro lado da ligação. Era quase tão simples como conversar com uma porta.

- Justin, é crime. Crime! Não posso fazer isso!

- Não é totalmente crime! Estamos pagando a conta de uma amiga.

- Ah, claro. É exatamente isso o que o juiz vai pensar de você! Agora, eu não acho que um juiz da Califórnia vai pensar isso de uma latina. Uma colombiana? Ele vai tirar 15 anos de prisão de algum lugar da Constituição e deixa eu te dizer uma coisa... Eu não vou pra cadeia!

- Melissa, ninguém vai pra cadeia, ok? Você acabou de dizer que a penalidade é uma multa. Não tem tempo de reclusão, e ninguém vai para a prisão.

- Não deixa de ser um crime... Eu não quero ter ficha suja.

- Você só vai ter ficha suja se descobrirem.

- Eu não me animo nem um pouco com essa ideia.

- Você vai pegar os dados pra mim ou não?

- Bieber, eu não sei se posso fazer isso. – Sanchez explica, quase se dando por vencida. Ela entendia o que ele queria fazer, e a importância daquilo, não apenas para ela, como para ela e para a própria Sadie. Mas não sabia se estava pronta para lidar com o risco. - No Cedars, eles pegam pesado nisso. Nós praticamente somos lembrados que trabalhamos com informações de terceiros a todo momento. Aquele lugar não se tornou o hospital das celebridades por nada.

- Sanchez, você é a minha última opção...

- Eu não posso fazer isso. Me desculpa, Justin. Não posso fazer isso por você.

- Eu não quero que você faça isso por mim, eu quero que você faça isso pela Sadie... Você me pediu para cuidar dela, para não abandoná-la, mas essa é a única forma que posso ajudá-la. Estou de mãos atadas...

- Bieber, eu não sei nem se ela quer isso, se ela vai ficar feliz! Quer dizer... Ela aceitou no aniversário dela porque você não desistiu, mas ela não estava tão contente. Era um alívio, mas... Ela não quer o seu dinheiro. Ela não quer que você faça isso para ela.

- Eu não estou dando a ela o meu dinheiro, eu... Eu estou... Eu estou ajudando-a! – Ele se explica. Precisava convencê-la a qualquer custo. Ela era a última jogada que ele tinha. - Você sabe que é para o bem dela. E ela gostando ou não... É o melhor para ela. Não só para ela mas para Diana.

- Justin...

- Por favor, Sanchez.

A morena suspira do outro lado da linha, e quase um minuto se passa em silêncio até que ela volte a dizer algo. Por mais que ela não gostasse, aquele era o melhor momento para ela fazer algo do tipo. Iria para Nova York em menos de um mês e, tecnicamente, não precisava mais do Cedars. O lugar havia ajudado muito no último ano, mas estava na hora dela dizer tchau para o hospital. Que ela saísse de lá fazendo algo que realmente valia a pena. E para Sadie, tudo valia a pena.

- Okay, eu vou ver o que consigo. Talvez eu perca meu emprego, mas eu estou indo embora em algumas semanas então... Se for para eu perder meu emprego, agora é o momento mais fácil. Mas eu realmente não quero ir para a cadeia, então diga para o Scooter que se algo der errado, eu quero o melhor advogado que ele puder arranjar.

- Okay. – Justin diz, rindo, por mais que saiba que Melissa não está brincando nem um pouco.

- Vou te dar os dados... De alguma forma. A que menos me incriminar, lógico.

- Pensamento positivo, Sanchez.

- Enquanto eu estou cometendo um crime para o maior popstar do mundo. Claro. Pensamento positivo. – Um barulho na ligação chama a atenção dos dois, então Mel se despede. – Ela está ligando. Meu Deus, aposto que ela vai falar daquelas fotos que saiu de nós dois mais cedo. A gente se fala depois. Preciso arranjar uma desculpa.

- Certo. Obrigado, Sanchez. De verdade.

- Até.

Assim que a ligação chega ao fim, Bieber vê novas notificações aparecerem na tela, junto com um "Sad" e um coraçãozinhor rosa. 

Saindo com a minha melhor amiga sem mim?

Que tipo de traição é essa?

Não é traição nenhuma, apenas vamos conversar. 

Hm. Conversar, ok. 

Está realmente brava?

O quê? Lógico que não. 

Acabei de falar com a Melissa, na verdade. 

Quis descobrir qual de vocês dois ia dar a pior desculpa. 

Na verdade, adorei ver vocês dois juntos... Mesmo que vocês estivessem saindo SEM MIM

Voce foi o assunto da nossa conversa, se isso te deixa mais feliz

Na verdade, não deixa não, se é isso que você quer saber

Ah, qual é, Sad.. Estamos preocupados, e com a Mel indo para Nova York, algumas responsabilidades mudam de mão

A resposta demora para vir, e Justin não têm dúvidas de que Sadie está cobrando uma explicação da melhor amiga, assim como faria com ele. Não que ela precisasse controlar cada passo que os dois davam, mas sim porque ela sabia muito bem o papel que assumia naquele momento, e se os dois estavam saindo sem ela... Ela era o assunto. E isso a irritava. Sadie não queria ser vista como... Algo indefeso. Ela não era indefesa. Ela sabia muito bem se defender, ela apenas... Estava passando por um momento ruim.

Em Long Beach, as coisas pareciam se arrastar, de forma que ou Sadie estava mandando currículos em busca de uma mísera vaga de emprego, ou ela estivera limpando a casa, fazendo comida para mais de uma pessoa (que, provavelmente, apenas ela iria comer), ou dormindo. Então, quando saíram fotos de Justin e Melissa em Hollywood, simplesmente não tinha como Sadie evitar ou fingir que não tinha visto. Era quase um oásis no meio de um deserto.

Muito grata, mas eu não sou um bebê, e você não é meu pai

Eu faria de tudo como se fosse

Não quero que você seja meu pai

Deixa eu refletir a falta de uma presença paterna na minha vida no meu primeiro namorando e então ter que fazer terapia para lidar com isso

Você poderia fazer terapia para lidar com outras coisas, não faria mal

Aposto que doutor Phillip pode te indicar alguém

Não quero fazer terapia

Quero resolver meus problemas

E fazer terapia

Dá licença?

Dá licença digo eu

Você foi uma das primeiras a dizer que eu deveria fazer terapia, e agora é isso?

Mas é lógico, você perdeu a memória! Perdeu praticamente uma parte de você

Não adiante agir como se você não tivesse perdido uma parte de você também

Sadie encara a tela do celular. Está extremamente quente em Los Angeles, e, em diferentes lugares da cidade, meninas da idade dela saíam para aproveitar o último verão antes de ir para a universidade. Mas ela ficaria em casa aquela noite, e provavelmente as seguintes, evitando também o celular. Ela lê a mensagem mais uma vez, e de repente não quer mais conversar. 

 



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