Fiquei aliviado ao ver o sr. Joestar descendo para tomar café, parecendo bem mais disposto do que eu esperava. Jotaro não demonstra, mas sei que também sentiu o mesmo, percebi seu suspiro discreto de alívio. A alegria contagiante de Jolyne tomou conta de todos e quando Avdol e Jean se juntaram a nós, senti como se nossa família estivesse praticamente completa.
Jean estava um pouco corado e cheirava a banho tomado. Imagino que Avdol tenha tomado conta dele direitinho e não me refiro apenas a levar café na cama. Gosto do modo como esses dois se entendem e me sinto feliz, pois sei que as crianças estão crescendo rodeadas de bons exemplos. Não sei como será o futuro amoroso deles, ainda é cedo para Jolyne mas Jouta não parece interessado no assunto, apesar da idade... Talvez aconteça como foi conosco... Uma paixão avassaladora da qual não se pode fugir.
Depois de me certificar de que todos estavam alimentados, me preparei para arrumar a cozinha e Jouta veio prontamente me ajudar. Meu filho já era praticamente um homem e percebi que ele cresceu mais um pouco durante esse mês que tiramos para viajar. Ele já estava do meu tamanho e senti o coração apertado, pois meu garotinho logo criaria suas próprias asas e sairia voando livre. Não é fácil deixar os filhos crescerem, mas não posso mantê-los debaixo das minhas asas para sempre.
- O que foi, papai? Parece pensativo...
- Ah, Jouta... Não foi nada, eu só fiquei admirado de como você cresceu enquanto seu outro pai e eu estivemos fora... Sabe que pode contar conosco para qualquer coisa, não é?
Jouta sorriu e me abraçou, sempre tão amoroso. Seu abraço lembrava muito o de Jotaro, ele era praticamente uma cópia de meu marido, exceto pelos olhos e pela cor de seus cabelos. Os olhos de Jotaro lembravam o mar e os de Jouta, um céu azul completamente límpido.
- Papai, não fique assim. Eu sei que Jolyne e eu sempre poderemos contar com vocês. Tem mais alguma coisa te incomodando?
- Ah, não, acho que é só bobeira de pai coruja, mesmo. Por mim, vocês não cresceriam nunca...
Meu filho nada disse e manteve a expressão sorridente enquanto me ajudava a arrumar a cozinha. Fiquei pensando em como eu tive sorte. A viagem para o Egito quase me matou, mas em troca eu recebi tudo o que sempre quis. Um companheiro para dividir minha vida, amigos em quem confiar e uma linda família. De repente, tive uma ideia. Já que estávamos todos reunidos, talvez Jotaro não se incomodasse de revermos as fotos da viagem e as crianças também ficariam felizes. Afinal, nem tudo foi tristeza.
XxX
- Tem certeza, Nori? - Jotaro não parecia aborrecido, mas também não demonstrava que facilitaria minha vida. Eu segurava a caixa em minhas mãos e a nostalgia batia forte em meu peito, ansioso por rever lembranças tão queridas.
- Jojo, você prometeu que "mexeríamos nas tralhas do Egito" quando voltássemos. Se não me engano, essas foram mais ou menos as suas palavras e você sabe que me orgulho muito de minha memória. Vamos aproveitar que estamos todos reunidos e relembrar um pouco de quando nos aproximamos mais...
- Yare yare, Nori... Eu nunca me esqueço. Quando vi você despertando depois de tirar aquela merda que o DIO colocou na sua cabeça, senti algo remexendo dentro de mim... Como se minha vida fosse mudar a partir daquele instante.
Senti minhas bochechas esquentando e olhei espantado para meu amor, que continuou falando como se tivesse esperado a oportunidade certa para me confessar aquilo.
- No começo eu achei esquisito, afinal, nós dois somos homens e imaginei que você fosse me rejeitar. Resolvi esperar mais um pouco e quando te perguntei sobre o sumô naquele dia e você me respondeu daquele jeito, fiquei tão feliz que me esqueci completamente do porquê de nós estarmos ali. Eu só pensava em te ter nos meus braços e nunca mais te soltar... Quando fizemos amor pela primeira vez, senti que a parte que me faltava finalmente estava ali e decidi que faria de tudo para te proteger e ficar ao seu lado. Eu falhei nessa última parte e podem se passar mil anos que nunca vou deixar de me culpar, mas também sou grato a você por não ter desistido de mim. Seu sorriso, seu cheiro... você inteiro, meu amor... Tudo em você é um bálsamo para meu coração e nunca vou deixar de agradecer aos céus por terem me devolvido você.
Senti os olhos marejarem e quase desisti de insistir para mexermos nas coisas, mas fui surpreendido por um abraço amoroso e um beijo casto, seguidos de um raro sorriso, daqueles que Jotaro só mostra quando estamos a sós.
- Amor, eu não me importo. Vamos mostrar as tralhas do Egito para as crianças. Tudo aquilo faz parte de nossa história e temos que seguir em frente, não é? Estou me esforçando para me lembrar só das partes boas... Eu te amo tanto, Nori...
- Eu também te amo, meu Jojo. Muito obrigado. - Jotaro tirou a caixa de minhas mãos e a colocou em cima da cômoda. Fiquei confuso por um momento, mas quando ele me abraçou novamente e beijou meus lábios com mais urgência, entendi imediatamente o que ele queria. Mandei Hierophant trancar a porta e me rendi àqueles lábios macios e aos braços que tiravam minha roupa e me envolviam apaixonadamente, me deixando excitado e ansioso por mais. Jotaro não perdeu tempo e me deitou em nossa cama, deixando uma trilha de beijos em meu corpo, ao mesmo tempo em que raspava levemente os dentes em minha pele, me provocando arrepios de prazer.
Quando percebi, estávamos nos amando com paixão, mas sem pressa. Meu corpo recebeu o dele como todas as vezes, ansioso por ser completamente preenchido e grato por nos encaixarmos tão bem. E assim passamos agradáveis minutos até nos desmancharmos de prazer e nos lembrarmos de que todos nos esperavam lá embaixo.
XxX
- Aaaah, olha o papai Jotaro encarando o papai Nori! Vocês já estavam namorando nesse dia?
Os olhos de Jolyne brilharam ao ver as fotos e fiquei feliz por poder dividi-las com todos.
- Bom, algo assim... Nós não sabíamos muito bem o que estávamos fazendo, mas decidimos que contaríamos a todos quando voltássemos ao Japão.
Vi na mão do sr. Joestar uma foto minha ajudando Jotaro a comer enquanto ele fazia um curativo em si mesmo, já que sempre deixava as refeições em segundo plano.
- Ah, eu lembro desse dia, Kakyoin sempre foi muito atencioso com Jotaro, mesmo sem meu neto merecer... Tirei a foto quando vocês dois não estavam olhando porque achei bonitinho...
- Yare yare velho, é por isso que quando precisávamos não tínhamos a maldita câmera, você ficou espionando a gente a viagem toda!
- Não reclame, seu ingrato, olha quantas fotos maravilhosas eu tirei!
- Aaaaah eu não lembrava dessa, o Nori fica muito bem com essa echarpe... Você ainda a tem, mon ami?
- Sim, guardei todas as coisas relacionadas ao Egito no mesmo lugar, mas só trouxe as fotos para vocês verem... Jotaro gosta dessa echarpe... - Lembrei do dia em que fizemos amor pela primeira vez e ele a retirou de meus cabelos, assim como a manta com que me cobria... Que saudades...
- Eu não me lembrava dessa foto, acho que a câmera se programou sozinha... Devia estar impregnada pelo poder do Hermit Purple...
Era uma foto minha segurando as rédeas de um camelo. Jotaro aparecia bem distante e o restante da comitiva, ainda mais longe. Não me lembro o que eu estava pensando na ocasião, apenas vi que a câmera tinha caído no chão e a recolhi, sem perceber que havia saído uma foto. Só fui me tocar disso anos depois, quando organizei as coisas dentro da caixa e a vi ainda pendurada na câmera.
Jotaro corou ao ver a foto mais de perto e fiquei feliz por vê-lo com um semblante tão doce ao encarar meu eu adolescente naquela imagem. Jouta e Jolyne olhavam empolgados para a montanha de fotos, sem parar um instante de fazer perguntas prontamente respondidas por todos nós, enquanto Jean, Avdol e sr. Joestar pareciam felizes por se lembrarem dos momentos bons que tivemos.
- Yare yare, velho, até disso você tirou foto?
- Aaaah mas vocês estavam tão bonitinhos juntos, olha só, até o Iggy está feliz na foto! Olha o rabinho dele!
- Por que você estava chorando, tio Jean?
- Porque seu tio é um idiota e achei que tivesse perdido a minha echarpe, querida. - Avdol respondeu sorrindo, arrancando uma gargalhada de minha filha e uma série de reclamações em francês de seu marido.
- C'est mechant, mon amour (¹)! Eu só tinha deixado cair...
- Aaah olha o Star fazendo pose! - Jouta adorava o stand de Jotaro, embora o dele mesmo fosse uma cópia verde de Star Platinum - Que legal, será que ele saiu na foto porque foi tirada com o stand do vovô?
- Provavelmente, Jouta... Hierophant não quis sair, ele é um pouco tímido...
Nos divertimos por algumas horas contando a história de cada uma das fotos, passando momentos deveras agradáveis. Lembramos também de várias histórias engraçadas e senti que poderia começar a alimentar a esperança de voltarmos ao Egito um dia... Ver aquele pôr do sol tão lindo mais uma vez ao lado de Jotaro... Sinto vontade de chorar só de lembrar...
- Gostaria que Caesarino visse isso... Será que ele se orgulharia de mim? Será que ele ficaria feliz por eu ter ajudado a fazer uma coisa boa?
Saí de meus devaneios e encarei aquele olhar perdido do sr. Joestar. Aquilo me deixou um pouco triste e Jotaro também engoliu em seco. A atmosfera alegre se dissipou aos poucos, mas antes que eu pudesse dizer algo, Jouta se levantou e sentou ao lado do bisavô, apoiando a mão em seu ombro.
- Vovô... O senhor pode ter feito coisas não tão louváveis ao longo da vida, mas quem nunca passou por algo assim? Pense bem, seu amigo se sacrificou pelo senhor. Se ele não sentisse orgulho ou não se importasse, acha que faria isso? O senhor perdeu até um braço no processo, depois ajudou meus pais a salvarem a vovó Holy e também é amigo da moça que... Err... emprestou a bolinha mágica de onde a Jolyne nasceu, então não entendo por que está com medo... Sei que já não se veem há muitos anos, mas tenho certeza de que pelo menos poderão ser amigos...
Meu coração se aqueceu de tanto amor e não tive dúvidas de que Jotaro e eu criamos nosso filho direitinho. Não sei se Caesar ainda sente algo pelo sr. Joestar, mas tenho certeza de que o empurrãozinho de Jouta era o que faltava para renovar sua confiança. De repente, ouço o telefone e me levanto para atender, uma vez que tinha uma leve desconfiança de quem seria.
- Alô? Residência Kakyoin-Kujo!
- Ah, signore Kakyoin. É Giorno, como vai?
- Giorno-kun! Algo errado?
- Acho que não, mas vai depender dessa nossa conversa.
Subitamente me preocupei, será que havia algo errado?
- Assim você me preocupa, o que aconteceu?
- Ah, me perdoe. É força do hábito iniciar conversas importantes desse jeito... O signore Zeppeli entrou em contato comigo e me perguntou se eu poderia acompanhá-lo ao Japão. Ele quer ver o signore Joestar e eu não sei o que dizer, seria inconveniente para vocês se passássemos o Natal aí?
Bom, talvez Jotaro fizesse um pequeno escândalo, mas eu poderia lidar com isso depois. Era uma ótima oportunidade, ainda mais partindo de Caesar.
- E-e-eu acho que não tem problema, vou conversar com Jotaro e retorno a ligação, tudo bem? Não terá problema em você se ausentar da Itália?
- No, se for só por uma semana... embora uma pessoa da famiglia tenha dito que me apoiaria se eu quisesse ficar no Japão... Não entendi muito bem, mas...
Suspirei fundo, aparentemente meu marido não era o único que nutria um ódio gratuito pelo rapaz.
- Bom, de qualquer forma vou falar com Jotaro, a ceia será na casa da sra. Holy. A princípio não vejo problemas, Avdol e Jean também estão aqui e você terá a oportunidade de conhecer nossos filhos...
- Ah, mal posso esperar! Fico então no aguardo da sua ligação, signore Kakyoin.
- Até mais, Giorno-kun.
Jotaro veio em minha direção com um ar curioso, mas desconfio que no fundo já sabia do que se tratava. Resolvi falar logo, quanto mais rápido se tira o curativo, menos dor se sente.
- Giorno-kun ligou. Parece que Caesar quer vir passar o Natal conosco e pediu para que Giorno o acompanhasse. Eu disse que conversaria com você, mas isso não vai ser um problema, não é?
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