História Fique Longe Dele - Kim Taehyung - O doce Taehyung.

Choi Yuri.

15:10.

— E se eu começar com "É notório que…"? — Sugeriu Taehyung, deitado no chão da sala, enquanto brincava de levantar Yong-sun com os pés.

Precisávamos agilizar as nossas redações, estas que seriam apresentadas para várias pessoas no dia da formatura e eu não queria passar vergonha no último dia pondo os meus pés naquele lugar.

Pedi para que Taehyung viesse à minha casa para tentarmos dar um jeito nisso, ao menos, adiantar alguma coisa, os meus pais foram ao mercado fazer as compras do mês, e já que ficaríamos aqui, nos deixaram para reparar Yong-sun.

Eu estava sentada no sofá, com o meu caderno em mãos, pensando em formas e termos para se iniciar uma redação.

— O que acha de "Era uma vez…"? — Brinquei.

— Ótima sugestão, e que tal "Há muito tempo, em uma galáxia muito distante…"? — Olhou-me.

Crispei os lábios.

— Eu gostei, irei começar assim! — Ri.

— Nada disso, a ideia foi minha. — Rebateu, equilibrando Yong-sun com as mãos.

— Mais alto, Tae! — Pedia o pequeno.

— Yon, esse é o meu limite! — Exclamou Taehyung.

— Veja, Yu, eu sou o Anpanman! — Exclamou o menor, fazendo a pose do personagem.

Sorri, achando fofo aquela cena.

— Estou vendo. — Disse.

— Não, melhor… — Ele mudou a posição. — Eu sou o Batman!

Não me contive, caindo na risada, pela voz grave que Yong-sun tentou fazer igual a do Batman.

— Tudo bem, apenas tome cuidado para o Robin não lhe deixar cair. — Alertei.

— Robin uma ova! — Taehyung começou a descer Yong-sun devagar, o segurando abaixo dos braços. — Eu sou o Homem de Ferro! 

Revirei os olhos, rindo.

— Quem você é, Yu? — Yong-sun se aproximou de mim, enquanto Taehyung esticava as pernas sobre o tapete felpudo no chão.

— Talvez eu seja a…

— Mulher maravilha! — Disse o menor. — Você é bonita e forte igua a ela.

— Com esses bracinhos? — Taehyung riu.

— Muito engraçado, Homem de Lata! — Joguei o travesseiro no rapaz ainda deitado ao chão.

Yong-sun bocejou, caminhando lentamente até Taehyung novamente, segurando a sua pelúcia.

— Estou com sono… — Murmurou para o mais velho.

— Quer que eu o coloque na cama? — Perguntou para Yong-sun.

O menor deitou-se repentinamente sobre o corpo de Taehyung, repousando a cabeça em seu peito.

Eu apenas observei em silêncio aquela cena, impressionada.

— O que foi isso? — Taehyung olhou para mim.

Sorri.

— Ele costuma dormir assim com o nosso pai… — Dei de ombros.

— Mas eu não sou o…

— Ele deve gostar tanto de você que o achou digno de ser a sua cama. — Ri baixo. 

Taehyung sorriu, acariciando as costas de Yon em cima dele.

Fofos.

Suspirei, retomando a atenção ao meu caderno.

— Yuri…

Olhei para baixo.

— O que foi? — Franzi o cenho.

— Desculpe desviar do foco principal, mas eu preciso lhe perguntar sobre hoje mais cedo, o que aconteceu? Gostaria de conversar? — Murmurou, para não incomodar o meu irmão.

Eu prometi a ele que contaria, então acho que não faria mal, afinal, eu queria saber a sua opinião sobre isso.

— Contei a Min-Ji a respeito do nosso relacionamento, e ela não reagiu bem… acho que ficou chateada… — Disse.

Taehyung suspirou.

— Ela me odeia. — Ele riu nasalado.

— É o que parece, sempre me pedia para ficar longe de você por medo que fizesse comigo o que fazia com todas as outras… — Exclamei em tom baixo para não acordar o meu irmão.

O rapaz esboçou um sorrisinho.

— E não estava errada. — Umedeceu os lábios. — Eu não ligava muito para isso na época, talvez se tudo isso não houvesse acontecido, eu jamais lhe pediria em namoro.

— Eu sei disso, estava disposta a desistir… — Revirei os olhos.

— Talvez devesse. — Rebateu.

— Tarde demais. — Sorri ladina.

Ele sorriu, enquanto deslizava as suas mãos pelas costas do meu irmão, dedilhando cada parte dali.

Deduzi que Taehyung deve gostar muito de crianças, pois, o meu irmão não desgrudou dele desde que chegou.

— Tenho medo de perder a amizade dela por causa disso, de ser julgada por isso, de você ser julgado por um passado que…

— Yuri, você pensa demais, você se importa demais com coisas fúteis, está com medo de ser julgada por estar vivendo a sua vida? Você mesma me disse, "Quem vive a sua própria vida é você mesmo" então o que eles tem a ver com isso? — Taehyung exclamou, atraindo toda a minha atenção. — Eu abri mão de uma antiga parte de mim, abri mão de um estilo de vida que tinha, para recomeçar um novo ao seu lado, então por que eu deveria me importar?

Se as palavras dele fossem um soco, eu já estaria nocauteada.

— E não se sente incomodado com isso? Por minha causa? — Murmurei.

— Na verdade eu já queria parar com isso tudo há muito tempo, apenas não sabia como, cheguei em um ponto em que não sentia mais prazer, eu só… fazia por fazer… antes eu até achava divertido, mas depois percebi que era solitário e chato, nunca era nada garantido. — Riu baixo de si mesmo. — Eu tentei preencher um vazio por obrigação, Yuri, sem saber que só o estava aumentando aqui dentro.

— E agora? — Rebati.

Ele me encarou por um instante, franzindo as sobrancelhas.

— Agora eu acho que… me sinto bem melhor…  — Olhou para cima. — Você me faz sentir melhor. — As bochechas do rapaz ficaram levemente vermelhas. Confesso, era um tanto estranho ver Taehyung agindo de maneira tão… doce. 

Entretanto, logo tornou-se inexpressivo, Taehyung estava tão inexpressivo quanto um manequim, como se estivesse escondendo todas as emoções dentro de si.

— Ah… — Arrumei a postura no sofá.

— Eu nunca fiz questão que elas ficassem, e elas nunca ficavam… mas você irá ficar, não é? — Perguntou-me.

— Você deseja que eu fique?

— Você deseja ficar? — Rebateu a pergunta.

— Já sabe a minha resposta. — Revirei os olhos.

— Então foda-se os outros, Yuri! — Disse, sem tirar os olhos do teto. — Se Min-Ji for a sua amiga de verdade, ela tem que entender isso e respeitar as suas escolhas, e se não quiser, você ainda pode ter muitas outras amigas.

— Tudo bem, desculpe,  me deixei levar, só isso… não irei abrir mão de tudo por bobagem. — Respirei profundamente. — Só não queria que ela ficasse o julgando.

— Eu não me abalo fácil com esse tipo de coisa, fique tranquila. — Piscou para mim.

É claro que não se abalava, quem abalava as pessoas era ele!

Eu iria tentar conversar com Min-Ji depois, quando ela estivesse mais calma, sei que somos amigas, ela vai me ouvir e vou ouvir ela também. Aliás, eu realmente devo ignorar o externo e viver a minha vida.

— Ele está dormindo mesmo? — Me referi a Yong-Sun agora, sendo massageado pelos dedos longos do mais velho abaixo dele.

— Como uma pedra, eu até diria que está morto. — Esboçou uma careta.

— Vire essa boca para lá! — O repreendi.

Taehyung riu.

— Aliás, antes que eu me esqueça, você tem planos para o final de semana? — Indagou.

— Não… — Respondi enquanto anotava algumas frases no caderno.

Eu realmente não costumo fazer muita coisa nos finais de semana.

— O que acha de uma viagem? 

— Uma... o que? — Franzi o cenho, encarando Taehyung novamente.

— Os meus pais possuem uma casa de campo bem legal quase fora da região, são só quatro horas daqui, nós poderíamos ir no sábado e retornar no domingo. — Sugeriu.

Como é? Ele está me convidando para uma casa de campo? Passar o final de semana? Ele quer dizer… dormir? Deus…

— Está me convidando para…

— Sim, para dormir fora, juro que você vai gostar, tem um lago maneiro para pescar, festival, fogos de artifício, esses eventos famigerados de datas comemorativas. — Explicou. 

— Os meus pais…

— Podem ir se quiserem, a casa é grande. — Deu de ombros. — O Yong-sun iria se divertir.

Puta merda, ele é calculista mesmo.

Sorri.

— Pode ser, podemos propor a eles quando estiver mais perto, se for agora com certeza o meu pai vai inventar alguma desculpa para não me deixar ir. — Resmunguei.

Ele assentiu.

Seguimos o resto da tarde assim, eu tentando fazer rascunhos, Taehyung cochilando com Yong-sun em cima de si no chão, até os meus pais retornarem e encontrar todos os três dormindo como belas adormecidas.

Posso dizer que esse foi um dos momentos em que eu mais gostei de passar com Taehyung, ele é uma ótima companhia, e parecia fazer bem ao meu irmão, ao menos agora o pequeno terá alguém para brincar com ele de coisas de menino, eu não levo muito jeito para esse tipo de coisa, mas Taehyung sim, eles demonstraram se entender. Queria que isso nunca acabasse.

                                     [...]

Sexta-feira.

11:45.

Corri atrás de Min-Ji pelo corredor, havia dado um tempo a ela durante a semana, e somente hoje tomei coragem em me resolver com ela.

Consegui alcançá-la no pé da escada, segurando em seu braço e a fazendo olhar para mim.

— Me desculpe por ter escondido de você sobre mim e Taehyung antes, me desculpe por mentir, eu só quero que você saiba, que eu lhe amo muito, você é a minha melhor amiga, a primeira que falou comigo nesta escola, que me fez sentir à vontade e me proporciona alegria todos os dias com o seu bom humor, se não fosse por você, eu não teria conhecido pessoas tão incríveis quanto você aqui dentro, eu apenas não queria que ficasse preocupada. — Disse a ela, pondo tudo para fora. — Eu só lhe peço uma chance, para mim, para você, não precisa fazer isso pelo Taehyung se não quiser, mas apenas o respeite, e faça isso por nós duas, pela amizade que temos.

Ela se importa comigo, eu sei que se importa, está bem nítido em seus olhos marejados.

Min-Ji me abraçou, surpreendendo-me.

— Tá bom! — Choramingou. — Me desculpe também, eu deveria ter ficado feliz por você e não ter agido daquela forma, prometo que irei apoiá-la pela nossa amizade. Mas não consigo confiar nele, me desculpa.

— Tudo bem, faça isso por mim, tá bom? — Toquei em seu rosto. — Promete que ainda será a minha melhor amiga?

Ela assentiu, sorrindo.

— Eu adoraria ir embora de mãos dadas junto com você feito duas sapatonas apaixonadas agora, mas preciso ir atrás do professor de física, estou devendo umas atividades a ele e preciso entregar agora na sala dos professores. Acredito que vá com ele… não é? — Indagou.

— Sim, mas eu não iria sem antes falar com você. — Dei de ombros. — Então nos vemos na segunda.

Acenamos uma para a outra, ela subiu as escadas, e eu segui pelo corredor, virando à direita. Já estava vazio, os alunos realmente estavam desesperados para irem embora daqui, afinal, é sexta-feira.

Desbloqueei a tela do meu celular.

Eu: Podemos ir para casa juntos?

Kim Taehyung: Me espere perto do carro, já estou indo.

Guardei o celular no bolso, seguindo o meu caminho, rumando por um corredor que dava direto ao estacionamento.

Quando já estava no meio do trajeto, cessei os passos, jurando estar ouvindo vozes vindo da sala à minha direita, da qual eu estava passando na frente.

Franzi o cenho, aproximando-me um pouco da porta.

Eu não parei por ser uma enxerida ou por querer escutar conversa que não é da minha conta, na verdade, as vozes que soaram repentinamente…

Eu as reconhecia…

— Que porra é essa? — Exclamou.

Essa voz… Taehyung?

Engoli a saliva com dificuldade, aproximando o meu rosto discretamente da brecha na porta. Então arregalei os olhos, ao ver Taehyung e Jungkook lá dentro, no fundo de uma sala aleatória.

O que eles estão fazendo aqui, pelo amor de Deus?

Estava mais curiosa do que nunca, fazendo o máximo de silêncio e me escorando bem no canto para que não me vissem.

— Então você quer que eu converse com o Hoseok e o convença a aceitar as suas desculpas, é isso? — Taehyung cruzou os braços, encostando-se na parede.

— Sou eu quem devo pedir desculpa, você somente precisa convencê-lo a falar comigo, eu mesmo faria isso, mas ele não quer, na última vez você já sabe o que aconteceu, ainda por cima fomos suspensos e não pudemos nem ver a final das outras competições. — Respondeu o Jeon, passando as mãos pelos cabelos.

Taehyung riu, debochado.

— Sinceramente, eu também acho que você merecia umas boas porradas, eu lhe avisei para ficar longe da Soo-won, mas você não me escutou, sempre pensando com a cabeça de baixo. — Gesticulou Taehyung, friamente.

Jungkook esboçou uma careta.

— Eu teria ficado se ela não tivesse insistido tanto… eu não queria… 

— E você não tem boca para dizer "não", caralho? Ela não gostava de verdade de você, só estava o usando para fazer com ela o que o ex não fazia. — Revirou os olhos. — E agora? Estão todos na merda, se não consegue impor moral sobre si, o que vai fazer? Transar com uma mulher casada agora?

Céus, não precisa ser tão duro assim…

— Taehyung, por favor… eu só quero tirar esse peso das costas, Hoseok é o nosso amigo, somos todos amigos, não dá para ficar assim… — Retrucou Jungkook, se aproximando de Taehyung.

— Se não quisesse ter esse peso nas costas, não teria trepado com ela por fodidos três meses, aliás, como ele encontrou vocês dois naquela sala? Não é querendo passar o pano, mas é muito difícil passar alguém por ali onde estavam, ninguém praticamente usa aqueles laboratórios. — Taehyung esboçou uma expressão pensativa.

Oh não…

Jungkook também pareceu pensativo.

— Na verdade, eu até tinha parado para pensar sobre isso, mesmo que não importe mais agora, eu não diria que foi simplesmente acaso o Hoseok nos pegar ali, ele não usa aquele caminho para ir para o anexo, sequer acho que ele sabia que existia aquele corredor. — Jungkook murmurou.

— Então isso significa… — Taehyung começou.

— Que alguém levou ele até lá… — Completou Jungkook.

Puta merda…

— Provavelmente, alguém usou aquele caminho, e viu vocês lá, mas não qualquer pessoa, conhecia vocês, para ter levado Hoseok, e justamente ele! — Taehyung sorriu ladino, desferindo um leve empurrão no ombro de Jungkook.

Meu Deus… parem de pensar!

Se eles descobrirem que foi o Jimin…

— Tem razão, mas quem poderia ter sido? — Indagou confuso.

— E como eu vou saber? Pode ter sido qualquer um, não descarto nem os que parecem ser inocentes, esses são os mais prováveis. — Taehyung riu baixo.

Merda…

— Estaca zero então, nunca irei saber… — Jeon bufou.

Taehyung aproximou-se do amigo, pousando as mãos em seus ombros, olhando em seus olhos.

— Sabe, eu adoraria ter algum palpite, mas infelizmente, não sei… — Deu de ombros.

— Poderia até ter sido você. — Debochou o outro.

Taehyung estreitou os olhos, segurando o queixo do rapaz a sua frente com o polegar e indicador.

— É… poderia ter sido eu… vai saber.... — Zombou, encarando Jungkook como uma cobra. — É o preço que se paga por meter o pau onde não se deve!

Por fim, ele se afastou de Jungkook, rumando até a porta.

Afastei-me rapidamente, correndo em silêncio até a saída, indo para perto do carro, tentando regular a minha respiração e fingir que estava aqui o tempo todo e não vi e nem ouvi nada!

Cristo, Jimin pode estar ferrado, ou não, talvez não tenha como saberem que foi ele quem levou Hoseok até lá, mas puta que pariu, Taehyung foi muito esperto agora, com certeza Jungkook não tinha pensado nisso, e Hoseok também não entregaria Jimin, assim como eu.

Espero do fundo do coração que o Jeon não se dedique em descobrir isso.

Espera um pouco… será que haviam câmeras naquele corredor? Caramba! 

— Preciso avisar ele… — Murmurei.

— Avisar quem? — Ouço a voz de Kim Taehyung atrás de mim.