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História Fire And Blood - Ascension - Daenerys


Escrita por: DaeronTargareyn

Capítulo 6 - Daenerys


Fanfic / Fanfiction Fire And Blood - Ascension - Daenerys

Os visitantes foram chegar à Grande Pirâmide em algum momento da manhã, soprados pela brisa salgada da agora Baía Ghiscari.

 - O próprio Senhor do Mar de Bravos, Rocco Lomellini, e também o Príncipe de Pentos, Koen Van Ginkel, Grande Iluminada - informou-lhe o senescal. - Cada um com sua própria comitiva.

Isso era um tanto surpreendente de certa forma, e também intrigante. Talvez nem tanto assim.

Dany não conseguia se lembrar de ter assuntos aparentes ou imediatos com Braavos e Pentos. Pelo menos, não que se exigisse uma visita de seus governantes em pessoa.

A única relação que possuíam, contudo, era simplesmente a de comércio. Exceto talvez, por uma aproximação maior com Pentos, dado o fato de ela ter comprado e adquirido grandes porções de terra e fazendas nas Terras Planas; uma fértil área aberta de campos e planícies localizadas ao sul dos Ândalos, onde os nobres e Magísteres pentoshsi abrigam trabalhadores e fazendeiros em suas propriedades, minas, fazendas e também pomares para o cultivo, produção e sustento de sua cidade.

Dany adquirira tanto quanto pôde nessa região, para que colônias de libertos receosos com o fato do que poderia lhes acontecer quando ela deixasse Meereen, pudessem se instalar naqueles lados e começar uma nova vida, trabalhando na terra para si mesmo e também para os muitos fidalgos, comerciantes e nobres de lá.

Ainda era fresca a lembrança da travessia que fizera do lugar após o casamento com Khal Drogo, durante a marcha para ser apresentada ao Dosh Khaleen em Vaes Dothraki, mesmo tendo acontecido há uma vida trás.

Apesar das lembranças, contudo, a rainha tinha uma grande suspeita do que poderia se tratar essa visita. E com certeza não é em nada a respeito das Terras Planas, pensou com exaustão.

- Sabemos o que eles querem? - perguntou ao senescal.

- Parece que se trata das lutas entre Myr, Lys e Tyrosh, Grande Veneração - respondeu ele, confirmando suas suspeitas.

Com as antigas Três Filhas retomando sua guerra secular nas Terras Disputadas, e, então, estendendo-a aos Degraus dessa vez, não só o comércio ao norte e sul de Essos passou a ser comprometido, mas também todo o comércio de Westeros, principalmente o que compreendia o sul, oeste e leste dos Sete Reinos.

Foi, então, que cidades incomodadas com as consequências direta dessas disputas, viam vê-la em busca de alguma solução. E a solução desejada era sempre guerra.

Volantis tinha sido a primeira.

Mesmo com o a derrota em apoio aos yunkaitas e com a perda total de sua frota, tornando os volantinos incapazes de guerrearem abertamente com quem quer que fosse, ainda assim, a mais velha das filhas de Valiria tinha oferecido apoio a Meereen contra as Três Filhas, caso Dany resolvesse intervir na disputa.

- Vossa Graça poderia até mesmo reclamar os Degraus para si, tal como um de seus antepassados, o irmão do Rei Viserys I Targaryen, fizera em seu tempo com o apoio dos Velaryon - tinha dito um dos cinco enviados, que era um membro da mais alta nobreza volantina e remanescentes de Valiria, que residia no interior das Muralhas Negras. - Com uma região assim tão estratégica sob seu poder, a senhora expandiria ainda mais seus domínios e influência como Rainha dos Degraus aqui em Essos e em Westeros também.

- Isso sem mencionar, é claro, o fato de encher muitas vezes mais os seus cofres com a rota de comércio que passa pelo lugar - dissera outro enviado. - Volantis ficaria feliz em apoiar Sua Graça, tal como Lorde Corlys apoiara o Príncipe Daemon em sua época.

Controlar aquele ninho de piratas poderia, de fato, facilitar sua causa em Westeros, pois ela não seria somente a Rainha dos Ândalos, dos Roinares e dos Primeiros Homens, mas também dos Degraus, e com isso, deter o poder de reabrir o comércio para os Sete Reinos.

Mas era algo arriscado e que comprometia consideravelmente suas forças, deixando-a fragilizada e minada para sua guerra de retomada do Trono de Ferro. Além de também, ter de dispor de um poderio para manter o lugar.

Contudo, seu envolvimento beneficiava unicamente e de muitas formas os volantinos, pois além de Volantis não ter seu comércio afetado diretamente pela guerra nos Degraus e nas Terras Disputadas, uma vez que a cidade contava com o comércio ao leste de Essos e o que descia pelo Roine e vinha de Pentos por terra, sua participação só ajudaria os volantinos a retomarem o comercio em sua totalidade e contribuiria para que a cidade restaurasse suas perdas contra Meereen com mais rapidez. E Isso ela não queria. Com suas forças restauradas, Volantis poderia voltar a ser uma preocupação.

Então foi à vez dos Grandes Mestres, preocupados com a intervenção, perdas e danos que as inimizades da antiga Tríade podiam causar no comércio de Meereen e também em todo o reino da Baía Ghiscari.

Até mesmo as Filhas tinham lhe procurado.

Tyrosh e Myr, ambas em apoio mútuo contra os lisenos e se valendo de seu antigo relacionamento com Daario pelo fato de ele ser de Tyrosh, e a própria Lys contra as duas irmãs, prometendo exclusividade comercial para com Meereen e a Baía Ghiscari. Mesmo assim, a rainha preferiu manter-se a parte das disputas todas às vezes que fora solicitada.

- É o mais inteligente a se fazer - tinha dito Sor Barristan ao conselho na época. - A guerra de Vossa Graça será em Westeros, não aqui. Não mais.

- A Mão não está errada - Lannister concordara na ocasião. - Mas é importante notar que todas essas cidades que vieram ver Sua Majestade, poderiam ter procurado o Trono de Ferro. Contudo, não o fizeram. Quem sabe elas já não vejam Vossa Graça como a Senhora dos Sete Reinos. Talvez não fosse tão má ideia assim, rejeitar suas súplicas por inteiro. Isso pode lhe servir no futuro, Majestade.

- Não procuraram o Trono de Ferro porque sabem do caos que está por lá, e que as pessoas que regem o seu sobrinho não têm força que sirva aos seus interesses - rebatera ela em resposta.

Mesmo assim, havia um fundo de verdade na fala do leão. Não eram unicamente os essosis que sentiam essa guerra, mas os westerosis também. O seu povo. Aquele ao qual ela pretendia governar e zelar.

Até o momento a neutralidade tinha lhe servido bem, mas se ela era mesma a soberana que importava e podia resolver essa questão, então talvez fosse hora de dar mais atenção ao caso, mesmo que possivelmente fosse continuar neutra.

- Nossos visitantes já foram instalados? - Quis saber.

- Em parte, Grande Adoração - respondeu Reznak mo Reznak. - Aposentos já foram designados e servos se encarregaram de seus pertences. Mas o Senhor do Mar junto ao Príncipe e todos os outros senhores distintos que os acompanharam, esperam no salão roxo pela senhora, juntamente com os nobres Akhenaton zo Miquerinos e Jahiz zo Loraq que os estão recepcionando - dissera o senescal por fim.

- Pois muito bem. Ao salão roxo, então - indicou Dany. - Vá à frente, só preciso de um momento para estar mais apresentável.

- Grande Iluminada - assentiu o senescal se adiantando com a testa quase tocando o chão em uma profunda mesura.

Com vinte e dois anos, Jahiz era agora o atual Senhor da Pirâmide de Loraq. Antes disso, ele fora o segundo irmão de Hizdahr, mas nascido como o terceiro filho no geral, logo atrás de uma das duas irmãs, em uma contagem de cinco ou seis irmãos. Não tinha muita certeza quanto aos números, afinal, também havia os tios e tias, primos e primas, assim como, os filhos e filhas de todos esses. Ainda assim, e apesar de Hizdahr ter sido pai de duas crianças, ele sempre fora o herdeiro presumido de seu falecido segundo marido, principalmente porque o antigo rei consorte de Meereen não tivera tempo para gerar filhos légitimos do casamento deles, e os dois que já possuía eram bastardos.

Na posição de herdeiro dos Loraq, Jahiz tinha acompanhado o irmão na maioria de suas viagens de negócios. Isso lhe rendera a confiança de Hizdahr para que tratasse sozinho de muitos de seus assuntos, além-claro, de também ter possibilitado que ele mesmo construísse seu próprio círculo de pessoas influentes.

Com a morte de Hizdahr e o fim dos conflitos contra os yunkaitas e aliados em uma derrota esmagadora imposta por ela e os seus, resultando na incorporação das demais cidades ghiscaris ao seu reino, a Graça Verde sugerira que ela voltasse a tomar um novo marido do Antigo Sangue.

- Ninguém mais adequado que o nobre Jahiz, Adoração - argumentara a Alta Sacerdotisa. - Como irmão do antigo rei e atual senhor de sua pirâmide, ele também descende de uma linhagem forte e pode ajuda-la a solidificar a recuperação política e econômica de Meereen com seu nome e influencia.

Mas ela declinara da ideia.

No entanto, oferecera um lugar ao Senhor de Loraq em seu conselho, o que ele não se intimidara em aceitar avidamente.

Dany, então, colocara a prova essa possível influência e a usara para seus muitos movimentos e arranjos políticos, tal como o próprio Hizdahr fizera em seu tempo quando mirava um lugar ao seu lado no trono de Meereen.

Entre esses movimentos, estava o casamento que ela arranjara para ele com Khalla zo Phal, prima de Oznak zo Phal, o herói rosado que Belwas, o Grande, tinha matado tempos antes, e também era a atual herdeira daquela casa de mulheres rancorosas que a amaldiçoou até pouco tempo. Agora não mais, ou assim imaginava depois desse vantajoso arranjo de casamento.

O mais importante, entretanto, foi quando ela se aproveitara da influência que Jahiz construíra em Lys por meio do irmão, tal como em Tyrosh e Myr também, para estender boas relações com as cidades irmãs que se digladiavam, apesar de ela não ter aceitado tomar partido algum nessas disputas.

Contudo, os Grandes Mestres não estavam errados. Garantir a recuperação do comércio meereense e que sua rota marítima não fosse afetada por tais conflitos era uma questão essencial, mesmo na imparcialidade. E ele havia conseguido isso. Pelo menos até aqui.

Também fora por intermédio dele, que ela pudera comprar a liberdade de muitos dos homens, mulheres, velhos e crianças das Ilhas Escudos, que foram vendidos como escravos em Lys pelos homens de ferro após o ataque e saque ao lugar.

Entre esses tantos, estava a Senhora Samanta Hewett, viúva de Lorde Humfrey Hewett, o antigo Senhor de Escudorroble.

- Eles o mataram, Vossa Graça - contara a Dany em prantos, que a abraçou sensibilizada por sua dor. - Fizeram do meu pobre Humfrey oferenda para o demônio afogado que chamam de deus.

Seu último filho vivo, suas outras filhas e as duas noras também haviam sido resgatadas: Celine Grimm, nora de vinte e três anos e viúva de seu filho e herdeiro de Escudorroble, Sor William Hewett, morto durante o saque; Taynara Hewett, filha de vinte anos, uma donzela violada por um tal Lucas Codd; Elena, de dezoito, filha de um distinto comerciante em Escudorroble e também esposa do segundo filho, Leonard Hewett, um jovem escudeiro de quatorze anos, feito garoto de cama em uma das muitas casas de travesseiros em Lys; Marla, sua filha de quinze, uma donzela antes do saque, comprada por um nobre volantino de dentro das Muralhas Negras; Lucily e Desmera, ambas suas filhas mais novas e donzelas de doze e onze anos.

A única exceção, contudo, era pela filha mais velha, a Senhora Alysanne Hewett de vinte e seis anos, até então casada com Sor Talbart Serry, o falecido filho e herdeiro de Lorde Osbert Serry de Escudossul, morto durante o saque.

Agora, pelo que contara a senhora sua mãe, Alysanne fora forçada a se casar com o atual Senhor de Escudorroble, e, também o homem ao qual matara o pai; Nute, o Barbeiro.

- Para fortalecer sua posição ilegítima de Senhor das nossas terras - tinha afirmado a irmã, Taynara.

- Todas foram prostituídas em Lys, Magnificência - dissera-lhe Jahiz no dia em que regressara com elas e tantos outros em dois navios cheios. - As garotas mais novas, apesar de não terem tocado nenhum homem, foram iniciadas nas artes da cama mesmo assim. Homens e rapazes mais velhos que possuíam habilidades com armas, foram feitos guardas domésticos nas mansões dos nobres ou mesmo nos prostibulos. Outros, entretanto, tornaram-se rapazes perfumados como o garoto da Senhora Samanta.

Apesar de seus esforços, nem todos puderam ser resgatados. Muitos já haviam sido vendidos para lugares distantes e fora de seu alcance; Asshai, Yi Ti, Ilhas Basílisco. Além disso, a esmagadora maioria era de pessoas comuns, sem qualquer nome, herança ou algo de valar, o que dificultava distingui-las em uma eventual busca, restando a Dany uma amarga derrota.

Depois de pronta, Daenerys Targaryen foi encontrar seus visitantes reunidos no salão de mármore púrpuro.

Alguns deles passeavam no piso inferior em meio aos limoeiros e flores daquele terraço ajardinado. Vinhos refrescantes, sucos adocicados e bandejas de petiscos estavam à disposição em ambos os lugares, servidos por suas crianças copeiras, entre essas, os filhos bastardos de Hizdahr que ela acolhera e se apegara.

Além de Missandei, Sor Jorah Mormont também a acompanhou como se esperava de um Manto Branco da Guarda da Rainha. O único à disposição desde que meu Sor Vovô partiu para Dorne, a bem da verdade.

O Senescal estava mesmo certo pelo que podia ver. Cada um havia trazido seu próprio séquito.

Koen Van Ginkel, o Príncipe de Pentos, estava acompanhado por sua família; o casal de filhos e a esposa, a Senhora Allera, filha de um importante Magíster pentoshsi. Com eles, também estavam uma guarda doméstica e dez dos Magísteres mais ricos e influentes de sua cidade, entre esses, o pai da esposa do Príncipe, e nenhum dos outros nove rostos era do Magíster Illyrio. As pessoas que importam, pensou ela enquanto trocava saudações receptivas.

- São os Magísteres quem realmente governam Pentos, Vossa Graça - tinha dito Sor Jorah à época em que ela estava negociando a compra das propriedades nas Terras Planas.

- O Príncipe é apenas uma alegoria, escolhida anualmente para representar os interesses da nobreza pentoshi - concordara Lorde Tyrion. - O próprio queijeiro me contara enquanto viajávamos de sua mansão até metade do caminho de Volantis. Se alguma coisa não correr bem durante esse ano, o príncipe em questão é sacrificado e um novo é escolhido. Simples assim.

Deve ser por isso que Koen Van Ginkel me parece um tanto tenso. O receio por sua vida e de sua família paira sobre ele, ponderou Dany.

Rocco Lomellini, contudo, o novo Senhor do Mar de Braavos, estava em companhia de um número bem mais expressivo; setenta Braavos formavam sua guarda, jovens e audaciosos espadachins de vestes coloridas, aos quais Dany lembrava-se vagamente dos seus dias de infância na cidade do Titã. Acima destes e no comando da guarda, estava Vincenzo Ricci, a Primeira Espada de Braavos e o protetor pessoal do Senhor do Mar; outros vinte nobres bravosi de bom nascimento e mais quinze príncipes mercadores também estavam ali, além de dois escribas e um representante do Banco de Ferro, Giuseppe Conti.

Depois de dar boas vindas, receber seus presentes e aceitar as bajulações, Dany prometeu um banquete e festejos para a noite, e, então, ouvir o que eles tinham a dizer em audiência. No entanto, ao passo que todos esvaziavam o salão para seus respectivos aposentos, o banqueiro deixou-se ficar e pediu um momento a sós com ela.

- “Perdonate la mia audacia, Vostra Grazia” (Perdoe meu atrevimento, Vossa Graça) - disse no característico e marcante sotaque bravosi. - Mas meus assuntos com a senhora são de natureza um tanto mais distinta, creio eu, e suspeito que possam ser de comum interesse e Vossa Majestade também - falou por fim, dessa vez no idioma comum.  

O homem não tinha mais do que cinquenta anos, isso dava para ver. Suas vestes eram típicas de sua cidade; toda em grosso e brilhante linho verde lodo, com uma gola de dupla camada sobreposta que mais parecia uma saia de bobo. Uma pequena bolsa de moedas estava presa à cintura, assim como uma corda dourada, atada em volta dupla com as pontas pendendo até a altura dos calcanhares.

A rainha assentiu curiosa, indicando a sala do conselho atrás do Grande Salão.

Não era um espaço muito usado por ela, verdade fosse dita. Preferia reunir-se com seus conselheiros no próprio salão privativo de seus aposentos, no terraço ajardinado ou mesmo no salão roxo.

- “I miei coppieri possono offrire del vino, spuntino o acqua”? (- Meus copeiros podem oferecer algum vinho, refresco ou água?) - quis saber Dany em bravosi e o outro se atentou a aquilo. Ela tinha aprendido a língua de Braavos ainda criança na mansão de Sor William. Na verdade, tinha aprendido grande parte dos idiomas falados nas nove Cidades Livres com cada uma das suas variações do valiriano, como também o próprio alto valiriano em si, em sua forma mais pura. Diferente de Viserys, ela sempre tivera facilidade para aprender algo novo. Era no conhecimento que se sentia verdadeiramente livre, ao passo que o irmão a oprimia e reprimia em praticamente tudo. - “Abbiamo frutta arrosto e olive se preferisci, oppure posso ordinare un pasto più pesante” (Temos frutas e azeitonas torradas se preferir, ou posso pedir uma refeição mais pesada).

- Água é o suficiente, Majestade. Ajuda a manter o juízo em conversas importantes - respondeu no mesmo idioma. - Já tive vinhos e petisco demais à disposição nesta manhã se não se importar. E acredito que tenhamos ainda mais a noite durante o banquete.

- Se prefere - disse Dany.

- Prefiro - concordou ele, dessa vez no idioma comum. - Quando um de nossos irmãos de ordem visitou aquela sua Muralha gelada em Westeros, bebeu além da conta com o Senhor daqueles homens de negro e acabou por fazer um negócio um tanto... improvável - confessou, com um sorriso servil. - O que veio depois disso não foi nenhum pouco agradável para ambas às partes, devo acrescentar.

A revelação pouco significou para a Rainha da Baía Ghiscari. Contudo, devolveu o sorriso mesmo assim.

- Água então - disse estendendo a taça para que Azzak mo Ghazeen a enchesse, enquanto Dhazzar zo Quéfren fazia o mesmo com a do banqueiro; os garotos eram dois de seus muitos copeiros e infantis pajens de nascimento do Antigo Sangue. - Suponho que seus assuntos sejam mais voltados a dívidas e empréstimos e não a alianças de guerra. Estou certa em presumir isso, nobre Giuseppe?  

- Vejo que Vossa Graça não se demora a entender as coisas - disse ele surpreso, ou quase isso.

- Não estaria onde estou se fosse diferente, bom senhor - assentiu com um singelo sorriso, mascarando o fundo de tristeza que havia por trás dele. Se também tivesse sido capaz de ver as mentiras por trás das bajulações, irmão. Se tivesse me tratado melhor, se ao menos pudesse ter confiado mais em mim e no meu Sol e Estrela...

- É verdade que meus senhores de Braavos e Pentos esperam conseguir da senhora, apoio contra nossas irmãs rebeldes. Mas minha ordem, no entanto, espera somente a boa vontade de Vossa Majestade para outras coisas.

- Então é isso que nós temos em comum? O apreço por dívidas e empréstimos?

- Talvez por essa sim, nobre rainha - concordou de imediato, lançando um olhar avaliador ao cavaleiro em branco esmaltado que mantinha guarda para eles. - É seguro falar tais coisas na frente de outros olhos, Majestade?

- Não ligue para meu urso, senhor - respondeu ela. - Ele manterá nossa segurança e nossos segredos também.

- Se vossa Graça garante - disse ele dando de ombros. - Bem, até onde posso supor, a senhora ainda pretende reclamar o trono que seus antepassados forjaram com fogo e sangue e sentaram-se ao longo de quase trezentos anos para governar Westeros. Durante toda essa trajetória, o Banco de Ferro de Braavos teve muita honra em ajuda-los nisso algumas vezes com nosso ouro e prata, e em nenhuma delas tivemos motivos para negar tais favores, Majestade. No entanto, veio a Rebelião do Rei Robert e com ela a queda de sua família. Consequentemente, nossa boa vontade para com o novo rei e seu governo começou a nos render problemas.

- E vocês esperam que eu assuma a reponsabilidade por tais problemas?

- O que nós esperamos, Vossa Graça, é que a senhora entenda que a dívida é da coroa. Não do rei ou rainha que a use e se sente no Trono de Ferro.

Dany sabia que em algum momento teria de tratar a respeito dessa questão, mas esperava fazer isso somente em Westeros, com seu trono e reino assegurados. Não aqui em Meereen, com um mundo de distancia de tudo isso. Mas a oportunidade viera a seu encontro, e, trataria de aproveitá-la bem.

- Me fale mais sobre ela. Tudo o que há para saber. Essa dívida é mesmo tão grande como se ouve falar?

- Consideravelmente, Vossa Graça. E tão impressionante como seus dragões, se me permite colocar dessa forma - disse. - Mas ela não se deve unicamente a nós.

Ouvir aquilo trouxe um sorriso involuntário e nervoso ao rosto da rainha.

Como um membro do pequeno conselho e o Senhor Comandante da Guarda Real do Usurpador, Sor Barristan Selmy tinha lhe falado, certa vez e por alto, as somas negativas que ele adquirira ao longo de seu falso governo, e, como os cofres reais junto ao reino se afundaram como consequência disso.

- Teria se afundado ainda mais rápido se não fosse os esforços de Jon Arryn como Mão, Vossa Graça - confessara o cavaleiro.

Contudo, fora Tyrion Lannister, que tinha sido tanto Mão do Rei do rapaz Joffrey como Mestre da Moeda de seu Conselho, quem lhe dera mais detalhe.

- Baratheon era um bêbado idiota e burro, isso com certeza. De outro modo teria percebido os três bastardos que criou como filhos. E depravado também, alguns até podiam afirmar, além de extravagante - dissera. - Mas de certa forma, eu simpatizava com o homem, principalmente por tornar a vida de minha adorada irmã uma grande infelicidade. Mas seu apetite insaciável por ouro e prata, nunca tinha o destino que se esperava de alguém na posição dele. O dinheiro sempre ia para torneios, vinhos, putas e generosos favores que nunca eram cobrados. Como um Lannister de Casterly Rock, eu não posso culpá-lo. Não de todo modo. Também tive meus dias de depravação e, sobretudo, adorava esfregar o nome e o ouro de minha Casa na cara de outros senhores, embora eu não costumasse ser generoso com nenhum deles, e, das poucas vezes que isso acontecia, sabia cobrar adequadamente bem. Uma tarefa que aprendi com o senhor meu pai.

- Isso ainda não explica as dívidas - ela tinha pontuado. - Só a futilidade em comum.

- Não? Bom, quanto mais Robert se esbaldava, novos empréstimos eram tomados de diferentes credores. Do meu pai, dos Tyrell, da Fé, do Banco de Ferro e até dos Cartéis Mercantis de Tyrosh. Quando deixei o cargo fugindo como perjúrio, regicida e assassino de parentes, a coroa devia um total de três milhões de dragões de ouro somente ao meu pai - tinha continuado. - Mesmo morto, os gastos continuaram e o ponto alto disso, fora o casamento real do meu repulsivo e infinitas vezes maldito sobrinho bastardo. “Um marco” na história de Westeros que daria as boas-vindas ao terceiro século da conquista de Aegon e celebraria a união entre Lannister, Tyrell e também os Baratheon, uma pura conveniência para encobrir a bastardia dos “filhos” de Robert. Além-claro, de servir como comemoração para a esmagadora e humilhante derrota de Stannis na Água Negra e nos protões da cidade. Um evento magnífico de diferentes formas e sentidos, principalmente por ter marcado não só o novo século, como Lorde Tywin dizia, mas também a morte de Joffrey. Claro que não tínhamos moedas sequer para reconstruir a zona ribeirinha junto ao porto que foram arruinados durante a batalha contra Stannis, mas a puta regente da minha irmã achou por bem que a coroa assumisse metade da boda de seu miserável bastardo. Setenta e sete pratos, mil convidados, um urso dançarino, malabaristas, sete cantores, uma enorme torta recheada com pombas esperando para alçar voo...

Aquilo tinha sido o bastante para saber o que a aguardava se conseguisse recuperar os Sete Reinos.

- Diga-me, senhor. Meu pai gastara todo o ouro da coroa durante seu reinado para que esses que o sucederam se afundassem em dívidas? - Tornou a perguntar ao banqueiro.

- Não exatamente, Vossa Graça - respondeu o banqueiro. - O Rei Aerys pode ter sido muitas coisas em vida, mas dele não temos nenhuma reclamação quanto ao cumprimento de seus pagamentos. Até onde se sabe, Sua Graça deixara os cofres cheios, Majestade. E muitos são os que dizem que o povo vivia melhor e em condições mais dignas no reinado do senhor seu pai, do que tem vivido desde que os Targaryen foram depostos. Pelo que se tem visto e relatado por muitos de meus irmãos de ordem que visitaram seu reino uma milhar de vezes, eu inclusive, me sinto inclinado a concordar com tais afirmações.

Dany considerou aquilo por um momento.

Na atual situação, o endividamento dos Lannister em um reino instável era favorável a sua causa, principalmente quando não havia tesouro algum nos cofres para suprir tais dívidas. Dessa forma, o mais lógico era recorrer ao aumento de impostos para tal e isso eles vinham fazendo muito bem pelo que já sabia, gerando a insatisfação do povo e dos senhores. Deixando-os ainda mais inclinados a apoiar a causa de um novo pretendente. Por outro lado, isso representava ao seu futuro governo um grande esforço para normalizar as coisas e sem garantias de sucesso algum, se não soubesse como conduzi-las.

Precisarei de um bom Mestre da Moeda para estar afrente disso, pensou. Talvez Lorde Tyrion seja esse alguém, uma vez que tenha servido como tal. Mas precisarei considerar outras opções também. Sor Jorah diz que cada cadeira no pequeno conselho será uma boa maneira de fortalecer minha causa por meio dos senhores certos os ocupando.

- Quanto exatamente o Trono de Ferro deve ao seu banco?

- Dois milhões e trezentos mil dragões de ouro, Majestade.

Três milhões aos Lannister, dois milhões e trezentos mil ao Banco de Ferro e ainda temos os Tyrell, a Fé, os cartéis de Tyrosh e isso tudo não chega nem perto da fortuna de umas das Pirâmides menos abastadas de Yunkai ou mesmo de Meereen. Na verdade, é menos do que uma miséria para os senhores ghiscaris e para mim também.

Com o saque das cidades escravagistas, seus cofres tinham-se abarrotado além da conta em ouro, prata, pedras e gemas preciosas dos mais variados tipos e tantos outros espólios de alto valor. Com certeza, ouro para se vê livre dessa dívida que lhe aguardava não seria problema. Ainda mais com a disposição do futuro Senhor de Lannister em perdoar de bom grado a parte que lhe é devido.

- O Trono de Ferro tem se excedido em gastos e feito menos que nada para honrá-los, Vossa Graça - continuou. - Muitas luas antes, seu Lorde Tesoureiro, Sor Harys Swyft, veio até nós em uma tentativa de renegociar os débitos da coroa.

- E vocês...

- Recusamos - respondeu. - Os termos eram absurdos e envolviam um período de tempo inseguro. A má reputação da atual coroa de Westeros corre por Essos, Majestade. Tal como sua necessidade desesperada de ouro, à medida que nenhum outro banco se arrisca em estender novos empréstimos, e, tampouco assumir sua dívida conosco. Banqueiros de Myr, Arcontes de Tyrosh, Príncipes Mercadores ou os Magísteres de Pentos, ninguém. Quando os pagamentos nos foram cessados, executamos todos os débitos que muitos dos outros senhores westerosis nos deviam para tentar forçar a boa vontade do Rei Tommen e de sua real mãe, mas isso se mostrou infrutífero. Imagino que Vossa Graça deva conhecer nosso dito.

“O Banco de Ferro obterá o que lhe é devido”, pensou ela.

Durante a infância, costumava ouvir bastante em Braavos, tanto quanto por outras Cidades Livres que tinham mendigado, e, por fim, na mansão do Magíster Illyrio também. Cada uma dessas vezes se sentia grata por Viserys não ter sido tolo ao ponto de tentar um empréstimo com eles, considerando o fato de na época, não serem mais do que pedintes desabrigados e a esmo.

Agora, no entanto, Cersei Lannister que governava por trás do menino que ocupava o trono de seu pai, se mostrava negligente o suficiente para ignorar essa notável e temível reputação. Do contrário, não estaria tendo essa conversa.

Sou um dos muitos jeitos de conseguir o que lhes é devido, não? Pensou Dany. Embora com certeza, o mais seguro deles.

- Intimamente - a rainha garantiu.

- Reis fazem o que são preciso para conquistar ou manter seus tronos e reinos, Majestade. Nós fazemos o mesmo para termos o retorno de nossos investimentos. - Podemos oferecer toda ajuda necessária para ter seu reino de volta, se a senhora concordar que a dívida será sua a partir do momento em que retomá-lo.

- Estou de acordo - assentiu de imediato. O consentimento foi tão rápido, que o banqueiro e Sor Jorah, mesmo no silencio de sua guarda, demoraram meio momento em assimilar o que tinham ouvido. - Mas antes, me agradaria saber se o Banco de Ferro estaria disposto a considerar os meus termos para isso.

- Estamos sempre dispostos a negociações e termos favoráveis, Vossa Graça. Somos bravosi e nosso povo sabe conduzir tal arte como ninguém.

Vejamos, então.

- Eu posso pagar a dívida de uma única vez, se concordar em diminuí-la para dois milhões. Claro que isso quando eu já estiver com meu trono assegurado, o que deve acontecer até o fim do ano, acredito. Se não, um pouco mais ou pouco menos, não importa. Até lá, se os Lannister acharem por bem fazer algum pagamento, melhor ainda. O valor diminui para mim e vocês conseguem parte de seu ouro ainda mais rápido. Também gostaria de contar com o apoio de sua instituição nas atividades comerciais de Meereen e das outras cidades da Baía Ghiscari, além de também servir como lugar de depósito para que nossas nobres famílias possam confiar suas moedas à sua responsabilidade. Também quero a garantia por escrito de que vocês não procurarão e nem oferecerão suporte a nenhum outro aspirante ao trono. O que me diz, meu senhor São termos justos para você?

O emissário ouviu atentamente. Cruzou as pernas, entrelaçou os dedos, meditou e ponderou o que lhe foi proposto, e, então respondeu:

- Podemos considerar essa diminuição de valor, já que Vossa Graça nos garante tal comprometimento, e também estudar os melhores ramos de comércio alternativo que as cidades ghiscaris estão trabalhando, agora que se tornaram livre do comércio de escravos; oferecer o repasse de algumas dívidas com Príncipes, Arcontes, Magísteres e bancos menores, intermediar alguns negócios e aconselhá-los em algumas áreas de investimento. Sim, pode ser feito. Além disso, será um prazer ter seus importantes bem nascidos confiando suas honras ao Banco de Ferro. Mas, infelizmente não podemos garantir a recusa de suporte há outros pretendentes, Vossa Graça. Não mais, pelo menos.

- Explique - Dany exigiu saber, alinhando-se melhor ao recosto da cadeira.

- Antes de procurarmos à senhora, tratamos com Sua Graça, o Rei Stannis Baratheon, durante sua guerra no Norte para oferecer-lhe nossa disposição. Isso aconteceu pouco antes de Sor Harys ter tido conosco. Um de seus cavaleiros de confiança, Sor Justin Massey, retornou a Braavos com o nosso irmão do qual lhe falei antes e também um daqueles homens de negro que servem na Muralha, Sor Alliser Thorne, para reclamar nosso ouro e usá-lo adequadamente aos propósitos de seu rei e dessa Patrulha da Noite. Muito se passou e nós pouco ouvimos sobre o proveito de Sua Graça quanto a isso.

- Então se voltaram para mim - Dany sugeriu e ele assentiu.

Isso foi inesperado.

Guerras eram caras, qualquer um podia saber. Até mesmo um idiota como Grazdan mo Eraz com aquele laqueado em chifre de unicórnio sabia, por isso lhe oferecera à pesada arca de cedro recheada com os cinquenta mil marcos de ouro para não atacar Yunkai. Exércitos precisavam ser contratados e pagos, assim como armamentos, cavalos, forragem e provisões, principalmente no inverno quando comida se torna mais preciosa do que ouro ou prata. Subornos e favores também precisavam ser feitos, assim como recompensas prometidas, e para tal, ouro era sempre o caminho.

Tendo isso em mente, Dany esperava barrar a ajuda do Banco de Ferro a outros pretendentes como o esse tal Stannis, e, assim, preservar ao máximo suas forças de combate do desgaste de ter de enfrentar muitas batalhas contra estes também apoiados pelo Banco. A maneira mais certa de fazer isso era justamente derrubando essa ponte.

Agora, no entanto...

- Esse Stannis não é nenhum rei - ela disse em tom que não admitia dúvidas. - É só o irmão do Usurpador e mais um aspirante a tal, como o menino bastardo que se senta no Trono de Ferro também o é. Se isto está feito, então que seja. - Fez uma expressão descontente. - Temos um acordo, mesmo assim? - Ela o indagou.

- Se for do agrado de Vossa Graça, será do nosso.

Depois de os por menores terem sido discutidos, ficou-se então, acertado que ela deveria pagar em adiantado um quarto dos dois milhões, “como uma singela garantia de nossa confiança na senhora”. Por outro lado, daquele momento em diante, o Banco de Ferro não suportaria mais nenhum outro pretendente e negaria qualquer novo favor a Stannis Baratheon e garantiria que qualquer outro banco, mercadores, Príncipes, Arcontes e Magísteres também o fizessem.

- Temos influência para garantir isso, Majestade. Não se preocupe - disse entregando uma cópia assinada e selada a Dany, enquanto se encarregava da outra. - Foi uma enorme satisfação tratar com Vossa Graça.

- Talvez uma vintena seja suficiente para você visitar nossas nobres famílias em Meereen, antes de partir para as outras cidades da baia - sugeriu Dany. - Se não, ficarei feliz em tê-lo conosco pelo tempo que precisar.

- Poderá ser Vossa Graça - ele concordou.

- Deixarei uma escolta a sua disposição e pedirei que Jahiz zo Loraq e Akhenaton zo Miquerinos o acompanhe nisso junto a Graça Verde, nossa alta sacerdotisa. Os deuses de Ghis podem tornar o assunto ainda mais suscetível, pensou. É o seu povo, afinal de contas. - Comece por aqui mesmo, com as famílias de Uhlez, Yherizan e Hazkar. Eles poderão estar bastante interessados em seus serviços, sim? E estarão.

Com suas pirâmides destruídas e reclamadas por Rhaegal e Viserion, Dany estendera hospitalidade a todas as três famílias na Grande Pirâmide. Algo que não fizera simplesmente por acaso; ao mesmo tempo em que sua ação lhes garantia o conforto e posição como distintos hóspedes de sua corte, também lhe permitia manter vigilância mais próxima em todos eles, uma vez que tinham sido apoiadores dos filhos da harpia.

- Um movimento ousado, Khaleesi - disse Sor Jorah, enquanto subiam os degraus de volta para seus aposentos, após Giuseppe Conti deixa-los à procura dos seus próprios. - E tão benéfico quanto, estou certo disso.

- Também quero estar, sor. Mas é o tempo que irá dizer isso, pensou. 



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