História First Kiss - 6. Maromba, a gostosona da Alex Vause e noite do pijama

Hyunjin empurrou o peso do leg press, suspirando baixinho e franzindo o cenho, o personal trainer da academia havia definido o seu treino com 85kg. Fez a última série, sentindo o suor grudando em sua testa, mas o seu corpo e sua mente pareciam aprovar aquele esforço, trazendo certa calma ao finalizá-los.

   Era um lindo dia, o céu estava azul e os raios solares iluminavam a cidade. O estacionamento da academia estava vazio, sendo notável que haviam poucas pessoas treinando naquele horário, afinal de contas, era um final de semana às 08:40 da manhã.

O personal, Uriah, acenou para a mais jovem, fazendo um sinal de que ela havia ido muito bem naquele dia.

   A garota levantou-se, jogando álcool no aparelho que havia utilizado. Desceu o lance de escadas e se dirigiu até o armário onde estava sua bolsa. Deu um sorriso orgulhoso lembrando do quão intenso havia sido o seu treino e agora sentia toda aquela descarga de endorfina, aliviando o seu estresse.

  Ah, e o outro motivo pelo alívio era Jeon Heejin, que iria passar o final de semana inteiro em sua casa. Não que houvesse sido uma tarefa fácil; a matriarca dos Jeon era praticamente impossível de ser convencida pela Sra. Kim, que ligou insistentemente durante a semana para convencê-la.

    Hyunjin sentiu algo em seu estômago, uma sensação esquisita e confusa. Parecia estar com náusea. Essa sensação estava se tornando comum quando pensava em Heejin, e, aquilo estava a deixando maluca; seu coração disparou no peito, tal como quando estava se exercitando e ela fechou os olhos, sacudindo a cabeça para afastar o pensamento. Entretanto, não conseguia desvencilhar-se daquele sorriso que inundava a sua mente. Nada apagava o cheiro do perfume e de todas as coisas mais simples que tornavam sua melhor amiga a pessoa mais autêntica do mundo.

   Lembrou-se da conversa que teve com o seu pai no shopping. Será que estava tão óbvio que estava interessada em Heejin? Ademais, como iria continuar a sua amizade? Não era um simples quero-beijar-sua-boca, era algo como eu-poderia-beijar-sua-boca-e-dormir-com-você-fazendo-carinho-no-seu-lindo-cabelo.

De maneira análoga, ela temia que a perdesse, que nunca mais pudesse segurar sua mão ou rir de suas piadas ruins. Sabia que a reciprocidade não existia ali, talvez sua amiga iria gostar de outra garota, ou pior, um garoto!
Todavia, estava disposta a quebrar o seu coração tendo Heejin por perto.

   Kim tomou o restante da água em sua garrafinha e caminhou pela academia, localizando o pai na área do jiu-jitsu. Hansol estava sentado assistindo outras pessoas e levantou-se quando a filha chegou.

   "Não vai lutar hoje?" Perguntou o patriarca.

   "Não, vou embora mais cedo, tenho visitas em casa." Ela sorriu, corando sutilmente.

   "Uai, é quem? Não estou sabendo."

   "A Heejin, pai." Respondeu-lhe, desviando o olhar.

   "Oh." Ele riu. "Então vamos? Vou apenas tirar o kimono e passamos no supermercado para comprar as coisas."

   "Está bem."

   Alguns minutos se passaram e os dois caminharam até o estacionamento, entrando no carro em seguida.

   "Filha, se a Heejin for dormir na nossa casa, devo me preocupar com alguma coisa?" Ele perguntou, o semblante era sério e cauteloso.

   "Como assim?"

   "Tenho que comprar camisinhas para vocês?"

   Hyunjin riu alto.

   "Não estou com esse plano, pai. Heejin também não, ela é somente a minha melhor amiga e vamos fazer coisas que melhores amigas fazem." Deu de ombros.

   "Certo, certo, não invente de aprontar, ok?"

   "Jamais." Ela deu uma piscadela.

   "Por que você não está me convencendo do contrário?"

   "Cadê a confiança, Sr. Kim?"

   Eles riram.

   No supermercado, Hansol deixou que Hyunjin escolhesse o que iriam comprar. A garota escolhia de tudo, pão de queijo congelado, batata-frita congelada, ingredientes para lasanha, queijo e tudo que sabia que Heejin amava.

   Kim fitou todas as coisas no carrinho e sentiu uma pontada de medo, sua insegurança com o seu corpo gritava diante de tanta gordura que iria consumir naquele fim de semana. Conquanto, seria um momento único, divertido e singelo. Talvez pudesse comer um pouco mais de caloria para ter dois dias incríveis pela frente.

   Era justo, não era?

   Ela deu um sorriso triste, olhando para baixo. Observou sua barriga, as pernas e sentiu-se envergonhada. Por que não conseguia ser como as demais garotas? Por que não se sentia confortável em olhar para si?

   Os pensamentos foram afastados quando chegou a sua vez de passar as compras no caixa.

   "Filha, você vai querer que eu faça lasanha de brócolis? Já que a Heejin come carne e você não?"

   "Pode ser." Deu de ombros.

   "Tem estrogonofe de berinjela também, faço na janta enquanto sua mãe prepara algo que sua amiga gosta."

   "A Heejin come qualquer coisa." Ela sorriu. "Não precisa se preocupar, pai."

   "Até eu estou meio ansioso para recebê-la. É a primeira vez que você, assumidamente me conta que gosta de alguém. Da outra vez, eu tive que perguntar a sua mãe."

   "Sério?" Ela riu. "Eu nunca disse que gostava de alguém."

   "Eu sei, porém, a sua mãe disse que achava que você gostava da Jinsol, eu concordei."

   "Ah, era mais uma quedinha. Só uma questão de achá-la bonita mesmo."

   "Não acredito que você é uma dessas mulheres cafajestes, eu pensei que você ia ser do tipo que pega e se apega, Hyunjin!"

   O caminho para a residência dos Kim foi regado a muita brincadeira e risadas. Hansol estacionou o carro e entraram, encontrando com Fusquinha abanando o rabo, demonstrando toda a sua alegria por receber os tutores.

   "Oi, filho." Hyunjin pegou o salsicha no colo. "Mamãe chegou, comprei petisquinho para você, neném."

   Tamanha era a alegria do pequeno cachorrinho. Hyunjin beijou-lhe o topo da cabeça e o colocou no chão, ajudando seu pai com as compras, Hansol borrifou álcool nas sacolas e cumprimentou a sua esposa, que estava assistindo filme.

   "Bom dia, meu amor."

   Soomin beijou a bochecha do esposo e abraçou a filha.

   "Hyunjin, banho. Urgente." Disse a mãe.

   "Isso é perseguição, toda vez ou a senhora ou o papai dizem isso."

   "Você está fedendo mesmo." Hansol disse. "Cuidado que a Heejin vem hoje."

   A Kim mais nova revirou os olhos. 

   Aquilo foi o suficiente para Hyunjin ir ao seu quarto. Dessa maneira, ela pegou uma muda de roupa mais velha e uma toalha limpa. A expectativa de receber Heejin em sua casa estava a deixando cada vez mais ansiosa; seu coração sambava no peito, torcendo para que tudo ocorresse nos conformes, que fosse perfeito para ela como seria para si.

   Os pais estavam na cozinha, começando os preparativos para receberem a amiga de sua filha. Hansol tomou um gole de água gelada e Soomin o fitou de maneira curiosa.

   "Ela gosta da tal amiga, não é?"

   "Por que acha isso?" Perguntou o mais alto, guardando a garrafinha na geladeira.

   "Eu sempre soube que ela se atraía por garotas, desde o começo da adolescência... Ela nunca teve aquela fase que se interessou por um rapazinho. Contudo, é meio surpreendente, fico temerosa de que alguém faça algo com ela."

   "Eu entendo, Soo." Deu-lhe um sorriso reconfortante. "Temos de ser o porto-seguro de nossa filha. Não a julgarei por gostar de meninas, só a pedirei cuidado com a exposição, visto que a homofobia é prevalente na nossa sociedade."

   "Você é mesmo o melhor pai do mundo." Soomin o abraçou. "Amo você."

   "Eu também te amo."

   No banho, Hyunjin estava ansiosa e já havia passado sabão algumas vezes. Na sua cabeça repassavam os inúmeros acontecimentos que estavam por vir. A expectativa era gritante, ainda que fosse somente um final de semana juntas, tinha muito a acontecer. Eram quarenta e oito horas das duas, sem mais ninguém.

   Heejin havia acordado cedo naquele sábado para arrumar a casa. A muito contragosto, deixou tudo limpo, buscando evitar as reclamações insistentes de sua mãe. Além disso, a caçula não poderia deixar de ressaltar que na sua cabeça martelava que iria passar um final de semana com Hyunjin, sua melhor amiga, sua confidente e, de quebra, a pessoa mais descolada em que já colocara os olhos.

   Suspirou baixinho. Kim Hyunjin.

   Após finalizar toda a limpeza de casa, Heejin fora para a cozinha, começando a fazer o almoço. Por estar saindo em um dia, não quis que sobrasse nenhuma razão para que sua mãe balbuciasse. Sendo assim, deixar o almoço pronto para seu pai era a melhor alternativa. Nessa perspectiva, Jeon cozinhou os legumes no vapor e os combinou com o frango.

   Já eram 12hrs quando pegou o celular. Estava ansiosa e suando um pouco. Outrossim, o atraso se fazia presente, haja vista que nem sequer tomara seu banho. O aparelho começou a tocar e o nome "2jin" vibrava na tela.

   "Ei." Disse Hyunjin.

   "Oi." Heejin disse, um pouco intimidada.

   "Você vem? Minha mãe disse que vai te buscar."

   "Vou sim, me desculpa, eu me atrasei um pouco. Pode ser daqui uma hora?"

   "Pode sim, me liga quando estiver pronta?"

   "Claro."

   Heejin desligou o telefone e correu para o banheiro, decidindo de última hora que lavaria o cabelo. Ela resmungou baixinho sobre o quanto estava atrasada e sobre o quanto queria sair.

Era óbvio que não aguentava mais ficar em casa, sua mãe sempre a proibia de tudo. Não podia ir a lugar algum se não estivesse acompanhada, então, aquele momento na casa de Hyunjin significaria um pouco de liberdade e ar fresco, principalmente pelas inúmeras brigas de seus pais.

   Enfim, estava pronta. Usava uma calça preta de cintura alta, cropped branco e um vans preto, aproveitou para colocar uma camisa xadrez de flanela por cima. Passou perfume e então, saiu de casa, esperando que a Sra. Kim a buscasse na rua debaixo.

  No carro, Soomin dirigia lentamente, enquanto Hyunjin cantava Katy Perry de maneira ensurdecedora. A mãe riu baixinho observando a sua filha, sabendo que, ainda que ela estivesse cantando, estava deveras nervosa pelo dia que teria.

   Aproximando-se do destino, puderam ver a pequena figura de Jeon Heejin. Nesse sentido, Hyunjin apenas sorriu e sua mãe buzinou, indicando que finalmente haviam chegado.

   "Olá, que bom que você veio!" Disse a Sra. Kim. "Hyunjin não parava de falar um minuto..."

   "Mãee..." Ela revirou os olhos. "Oi, Hee."

   "Oi, Hyun."

   O trajeto até o lar dos Kim foi rápido e marcado pelas conversas dentro do carro. Heejin pôde conhecer melhor a matriarca, se identificando com o seu jeito mais introvertido.

   Hyunjin estava empolgada diante do momento que estava vivendo ali, a calmaria de sua mãe enquanto conversava com Heejin.

A morena repassou a conversa com seu pai em sua cabeça; confessara a ele que gostava de Heejin e que já havia gostado de outras meninas, sem que houvesse uma brecha para gostar de algum garoto, e, se surpreendeu ao perceber que a reação de Hansol fora tranquila, sem esboçar qualquer relutância.  Sentia-se mais leve, livre, sem nenhum peso de omitir mais nada a ninguém.

   Chegaram então a moradia de Hyunjin. A mãe estava estacionando o carro na garagem quando as duas desceram. Jeon observou timidamente o quão grande era a casa de sua melhor amiga.

   Viu o amplo gramado que antecedia a casa, estava verdinho e bem aparado. Havia um caminho de pedras de mármore e algumas pedras dolomita auxiliando na decoração; no canto esquerdo, Heejin tinha a visão de um jardim vertical composto por diversas espécies de plantas diferentes; no canto direito, um deck de madeira rústica, no qual comportava algumas mesas e cadeiras, além de um pequeno barzinho e um ofurô, onde provavelmente a família se divertia aos fins de semana.

   A casa era de arquitetura moderna, de dois andares. Belíssima. As paredes eram de um tom bege, com uma varanda ampla cercada por vidro. As paredes eram revestidas por tábuas de madeira rústicas, semelhantes ao do deck do quintal. Era uma residência genuinamente grande, arejada e clara, devido as janelas e portas de vidro.

   Heejin se sentiu constrangida comparando internamente as duas casas. Por ora, decidiu ignorar aquele sentimento e estendeu a mão para a sua amiga.

   "Estou feliz que você veio." Hyunjin sorriu.

   O coração da mais baixa parecia ter errado uma batida. Era aquele sorriso, o mesmo que ela usava quando flertava com as garotas.

   "Eu também estou."

   Hansol saiu da cozinha a passos largos, para recebê-las na porta de casa. Logo, elas adentraram e o homem cumprimentou a pequena garota.

   Jeon observou o chão de porcelanato claro, contrastando com alguns móveis da casa. As paredes eram igualmente claras com algumas obras de arte dos períodos neoclassicista e pós impressionismo, algo que a encantou, pois era uma grande amante de movimentos literários e artísticos.

   "Ei, Heejin, tudo bem?"

   "Tudo e o senhor?"

  "Também! Vamos lá almoçar. Hyunjin disse que você gosta de lasanha de frango, eu mesmo quem fiz."

   Heejin corou e apertou a mão da amiga, pronta para dar-lhe uma bronca, entretanto, se conteve quando sentiu o delicioso cheiro da comida pronta.

   "Hee, meu pai fez lasanha de frango para você e eu escolhi a de brócolis, mas caso você queira, fique à vontade para comer."

   "A Hyunjin só come esse tipo de coisa mais light assim, ela é maromba." Interrompeu Soomin.

   Heejin riu baixinho, enquanto Hyunjin corava.

  E aquele foi o almoço com os Kim.

~x~

A mais baixa estava, por fim, no quarto de sua melhor amiga. Ela se lembrava vagamente do tempo em que faziam facetime e ela podia ver algumas coisas de relance. Não obstante, estava observando como o lugar parecia organizado e espaçoso. Tinha uma cama de casal com uma colcha cinza claro, alguns travesseiros com a fronha branca, combinando com as paredes.

   O chão, também de porcelanato, possuía um tapete felpudo azul escuro, no canto direito do quarto, que era oposto ao corredor que ia para o banheiro, havia um sofá de dois lugares branco, além de um quadro de "A ponte japonesa" de Monet.

   "Gostei do seu quarto." Heejin cortou o silêncio.

   "Sério?"

   "É bem a sua cara. Inclusive, amei o seu quadro."

   "Monet. Não sabia que você gostava."

   "Sou amante das artes e da literatura." Ela respondeu, jogando o cabelo.

   "Uau, que sexy ser cult."

   "Você não viu nada."

   Hyunjin sentou-se na cama, batendo no espaço ao lado de uma forma tímida e, até mesmo desajeitada. Seus olhos fixaram-se brevemente na barriga exposta de sua amiga e ela corou. Como diabos alguém comia tanto e tinha um físico daquele? E como Heejin poderia ser tão atraente com aquele corpo e aquele rosto?

   A mais velha sentou-se. Logo, Kim ligou a televisão, procurando pelo aplicativo da Netflix. Ela forçou um pouco as vistas para que não precisasse colocar os óculos, porém, de nada adiantava. Por fim, colocou-os.

   "Não sabia que você usa óculos."

   "Eu fico sempre de lente."

   "À propósito, você fica linda assim."

   "Não mais que você." Sorriu de maneira galanteadora.

   Jeon mordeu o lábio inferior e encarou brevemente os lábios da garota ao seu lado. Ela sabia que podiam beijar ali, a qualquer hora, mas deteve-se pelo nervosismo, optando apenas por segurar sua mão. E, para Hyunjin, era mais do que suficiente.

   "Então, quer assistir Orange is the new black?"

   "Claro."

   "Você tem que ver a gostosona da Alex Vause."

   "Então, mostre-me a gostosona, vulgo Alex Vause."

   "Seu pedido é uma ordem, madame."

   Heejin se aconchegou em Hyunjin. Ela pôde sentir os braços fortes em torno de seu corpo, ao mesmo tempo que as pernas torneadas estavam tão intimamente próximas. Seu corpo estava em alerta, de um jeito que nunca ficara antes. Queria poder sentir um pouco mais, se arrependendo um pouco da escolha daquela calça jeans, haja vista que a pele de sua melhor amiga parecia tão quente e tão macia.

   Suspirou baixinho.

  Alex Vause era mesmo uma gostosona, talvez não tanto quanto Kim Hyunjin, constatou Heejin.

   A série era mesmo boa, contudo, a pequena sentiu os olhos começarem a ficar pesados, indicando que estava com sono. Sendo assim, ela apenas se achegou, permitindo-se dormir.

   Hyunjin sorriu docemente, seu coração se aquecendo diante daquela cena. Fitou com carinho a figura tão perto de si; os dedos finos envoltos no tecido da camisa branca que usava.

Aquele momento parecia tão íntimo, ultrapassando qualquer beijo ou toque. A confiança necessária para dormir ao lado de alguém, mostrando-se tão vulnerável.

Passaram-se uma lista longa de episódios até que Heejin resmungou baixinho, indicando que havia acordado.

"Bom dia." Hyunjin gargalhou baixo. "Você não conseguiu assistir nenhum episódio."

"Hmmm... dormi meio tarde essa noite, desculpe por não acompanhar a série com você."

"Que nada, está tudo bem. Quer comer batata-frita?"

"Nem precisa perguntar."

As duas saíram do quarto e foram em direção a cozinha. Hyunjin colocou algumas batatas na air fryer, servindo um pouco de refrigerante para Heejin. Optou por um suco natural de laranja que o pai havia feito no almoço e se sentou à mesa aguardando.

"O que quer fazer agora, nesse finzinho de tarde?"

"Não sei, me diz você."

"Quer jogar XBOX?"

"Claro."

Após a batata estar pronta, seguiram novamente para os aposentos da Kim mais nova. Fecharam a porta e ligaram o videogame. Hyunjin colocou um de seus jogos favoritos — depois de Just Dance, obviamente —, era Paladins.

"Espero que você não seja noob nesse jogo, Hyun."

"Eu sou boa em tudo o que faço." Riu, mordendo o lábio inferior em seguida. "Vai me subestimar?"

"Nunca."

Heejin insistiu para que Hyunjin começasse jogando, ela observou a garota mais alta segurando o controle; estava focada em como seu perfil era delicado e com a intensidade que seus dedos se moviam, tudo à respeito dela parecia tão convidativo, atraente e interessante.

Kim podia sentir o olhar fixo em si e usou disso para impressiona-la. Queria transparecer toda a segurança e charme que carregava. Seria uma tarefa difícil para Jeon Heejin resistir aos encantos da mais nova, ela estava determinada que fosse.

   Após a batalha online terminar, ela se virou, encarando os pequenos olhos, sem desviar. Aproximou-se, umidificando os lábios, enquanto Heejin assistia a cena. Hyunjin estava muito perto, suas mãos apoiadas em cada lado das coxas de sua amiga, a posição deixava o decote generoso à mostra.

"Gostou?"

"D-do que?"

"Paladins."

"Uhum." Heejin engoliu seco. "Muito legal."

"Agora é sua vez." Entregou-lhe o controle, ficando ainda mais próxima, o suficiente para sussurrar em seu ouvido. "Surpreenda-me."

   Era nítido o duplo sentido naquela frase e Heejin não conseguiu repreender o sorriso maldoso que enfeitava seus lábios. Sentiu seu corpo arrepiar-se por inteiro; aquela vista do decote e a atitude pareciam tão convidativos e tão sensual. Contudo, a menor preferiu não avançar. Sendo honesta consigo, sabia que não detinha nenhuma experiência com garotas e não achava que aquela em específico iria expor seu desejo de uma maneira tão descarada.

Hyunjin estava com um olhar sombrio e divertido, disposta a continuar com aquele jogo e ela nunca perdia; se Jeon Heejin estava na sua casa naquele final de semana também poderia perder um pouquinho da sua sanidade, também poderia desejar sentir aqueles lábios tanto quanto Hyunjin sempre quis.

   Passaram algumas horas desde que começaram a jogar, e, então, Jeon optou por trocarem para outro. A mais nova escolheu Just Dance, logo em seguida, buscou uma garrafinha de água na cozinha, sabendo que iria se cansar um pouco enquanto se exercitava.

   "Então... como eu disse antes: o mundo não está preparado para o rebolado de Kim Hyunjin." Ela riu baixo e sedutoramente.

   O mundo definitivamente não está pronto para esse evento, Heejin pensou.

   Dançaram juntas e riram como nunca o fizeram antes. Naquele instante, o universo parecia ter parado no tempo. A única coisa presente naquele momento era o som da música e das risadas de ambas. Elas se perguntavam internamente como conseguiram estabelecer uma conexão tão forte e tão natural, visto que para as duas era tão difícil confiar nas pessoas. 

   Deitaram-se de frente uma para a outra. Heejin mirava os olhos castanhos com admiração, pôde sentir a mão tocando sua cintura, movimentando-se sutilmente para cima e para baixo, numa carícia delicada. A distância era curta o suficiente para que tentasse memorizar todos os detalhes do rosto que mais parecia ter sido esculpido por deuses. 

   Jeon pensou se seria estranho ansiar tanto pelos lábios de sua melhor amiga, eles estavam ali, a poucos centímetros do seus. 

   "O que você tanto olha?" Perguntou Hyunjin, sem rodeios.

   "Sua boca." Respondeu Heejin. 

   "O que tem ela?" 

   Numa descarga de coragem, Heejin selou seus lábios num selinho, demorando um pouco para se afastar. O coração de ambas parecia uma canção desregulada no peito, batendo tão forte que não era capaz de se ouvir nada dentro do quarto.

   Céus, ela realmente havia beijado Hyunjin.