Ever Since New York – Harry Styles
Eram 8h30 da manhã e eu já estava de pé. Salem havia me acordado para que pudesse ir até sua caixinha de areia no banheiro. A porta do quarto de hóspedes estava fechada e foi quando me lembrei de quem estava ali; decidi não o incomodar. Não sabia o quanto estava cansado, mas pela expressão dele ontem, parecia bastante.
Fui até a cozinha pensando no que poderia deixar pronto para o café da manhã. Eu não tinha muitas coisas, já que não como tanto pela manhã. Arrumei a mesa com o que tinha e escrevi um bilhete, o deixando em cima da mesa para que Harry visse.
Fui à lavanderia.
Tem café na cafeteira, leite na geladeira e algumas coisas para comer sobre a mesa.
Logo volto.
Aria
P.S.: Não deixe Salem sair em hipótese alguma!
Peguei minhas roupas sujas e as coloquei em uma sacola de tecido e outra para colocar as garrafas de cervejas vazias para deixar no descarte do prédio. Salem já estava acostumado a ficar em casa sozinho aos sábados nesse período. Eu apenas tomava o cuidado de deixar todas as janelas fechadas para que ele não escapasse.
- Vou até a lavanderia, mas logo estarei de volta, ok? – Salem me respondeu se espreguiçando e se deitando no sofá. Ele não sairia dali tão cedo.
Encontrei Mike no corredor e fomos lavar nossas roupas na lavanderia que ficava no quarteirão de cima.
- Falei com Eve por mensagem ontem à noite, antes de dormir. – Disse a Mike.
- E como a mãe dele está?
- Melhor, mas ainda fraca. A pneumonia foi bem forte e com a onda de frio que chegou em Ohio no fim de ano, ela piorou.
- Coitadinha! Ainda bem que está se recuperando. Estou com saudades do Eve.
- Ele também está com saudades de você. E do Right também.
- E de você. – Afirmou com um sorrisinho.
- E de mim. Por que não estaria? Eu sou a mais legal de nós, não sou?! – Brinquei.
- Ahhhhm... Não! O mais legal é o Salem.
- Eu tenho que admitir que sim. – Rimos e entramos na lavanderia. Enquanto lavávamos nossa roupa, mudamos de assunto completamente, falando sobre ir novamente as lojas e brechós para comprarmos algumas roupas e eu comprar mais algumas coisas para casa.
Quando saímos de lá, pedi para passarmos no armazém próximo ao apartamento e comprei algumas torradas, mais café, chá, alguns pães e outras coisas, além de um biscoitinho especial para o meu amigo de quatro patas.
- Já está faltando tudo isso?
- Não. Mas é melhor prevenir.
- Prevenir? Vai receber alguém?
- Na verdade... Já recebi. Ou estou recebendo. – Passei as compras no caixa sem falar mais nada sobre o assunto. Depois que saímos do armazém, Mike voltou às perguntas com o rosto cismado.
- Está saindo com alguém?
- Quê? Não! Mike, eu só saio com você, Right e Eve. Se estivesse saindo com alguém, vocês seriam os primeiros a saber.
- Então... – Elevou as sobrancelhas daquela maneira que diz “Abra o bico!”.
- O Gucci está em casa. – Murmurei.
- Gucci? Mas quem... – Como se uma luz se acendesse em sua cabeça, a expressão confusa foi trocada pela de espanto e segurou meu braço quando estávamos a ponto de atravessar a rua para o nosso apartamento – COMO É?
- SHHHHH!
- Você me solta essa bomba e fala shhhh? O que ele está fazendo na sua casa? – Falou mais baixo, mas querendo gritar.
- Segundo ele, fugindo.
- Fugindo de quê?
- É de quem. Do agente dele.
- Jeff Azoff? – Sussurrou e eu assenti – Mas... Não faz sentindo, Aria.
- Nada que venha do Ha... – Olhei para os lados para me certificar que ninguém prestava atenção na conversa – do Gucci faz muito sentindo, Mike.
- Isso é um fato. – Pontuou.
- Mas ninguém pode sonhar que ele está em casa, ok?
- Ok. Mas... Como não vão saber? Ele é... Você sabe. Devem estar atrás dele agora. Se já não souberem onde está.
- Ele disse que ninguém o seguiu e que conseguiu despistar quem precisava. – Suspirei – Chegou ontem à noite e me pediu para ficar. Disse que não tinha para onde ir, que tudo dele é vigiado e que só queria um lugar para ficar em paz. Dormiu no quarto vazio. – Mike suspirou e ficou com o olhar longe.
- Ser ele não deve ser fácil. Eu não saberia o que fazer se tivesse a vida tão vigiada assim.
- Nem eu.
- Sabe que isso pode acontecer com você, não é, docinho? Trabalhando com a irmã dele, sendo amiga deles...
- Não. Não quero essa associação a nós dois. Eu estou muito bem sendo uma ninguém. Agora vamos. Não soube o que deixar para ele no café da manhã e não acredito que o que tinha no armário seja algo que ele tenha costume de comer.
- Posso ir com você? – Mike pediu quase saltitante, o que me fez rir.
- Você sabe que é sempre bem-vindo em casa. Com Gucci ou sem.
Mike deixou suas roupas em cima do sofá da sua sala e entrou comigo no meu apartamento. Harry estava deitado, com quase a metade das pernas para fora do sofá e com Salem em seu colo, assistindo TV.
- Bom dia, Meow! – Disse assim que passei pela porta.
- Ele ainda te chama assim? – Perguntou Mike.
- Acho que não vai parar nunca! Bom dia, Gucci. – Seu rosto se tencionou. Pelo visto ainda não tinha se acostumado com o apelido que lhe arrumei. Bom saber disso! – Este aqui é o Mike. Mike, Gucci.
- Desculpe, mas ela não sabe fazer apresentações. – Se levantou e estendeu a mão – Harry Styles. Muito prazer em conhecer você, Mike.
- O prazer é meu. E não tem problema. – Os olhos de Mike pareciam não acreditar no que viam.
- Como assim “não tem problema”? – Questionei.
- Ele deve conhecer você muito bem! – Harry riu.
- Não é por isso. É porque ele é seu fã.
- Aria!
- Não falei nenhuma mentiiiiraaaa! – Cantarolei e deixei a sacola com as roupas no sofá, levando às outras para a cozinha – Já tomou café? – Perguntei a Harry.
- Sim. Obrigado pela mesa.
- Bom, eu não sou muito de comer assim que acordo, por isso não havia tanta variedade. Mas comprei algumas coisas no mercado, se ainda estiver com fome.
- Eu estou bem, Meow. Salem e eu comemos bem. Não é, carinha? – Afagou sua cabeça e meu gato se espreguiçou – Mas talvez Mike queira comer alguma coisa.
- Ele sempre quer, não é novidade.
- Eu já sou de casa, ok? – Mike abriu meu armário e pegou uma caneca, a colocando na cafeteira – Sou eu quem fica com Salem quando ela está no trabalho. Como trabalho em casa, fico de olho nesse pequeno safado.
- Salem não é safado!
- Ah, é sim, Meow. Todo gato é safado. – Concordou Harry – Sei disso por experiência.
- Das suas, principalmente. – Murmurei retirando as coisas da sacola.
- O que disse, Aria?
- Nada, Mike. – Meu amigo mordeu o riso e Harry ficou nos olhando com uma cara de quem não havia entendo. Melhor assim.
Mike e Harry entraram em uma conversa sobre obras de arte a qual não eu estava muito interessada. Os deixei na sala e fui até o quarto guardar as roupas. Quando voltei os dois já estavam rindo e comentando sobre desfiles de moda. Pelo visto, já ficaram amiguinhos. Harry parecia bem confortável jogado em meu sofá enquanto Mike estava da mesma forma na poltrona.
- Hey, Meow. Onde estava?
- Guardando as minhas roupas.
- Preciso ir e fazer o mesmo com as minhas. – Enquanto se levantava, bateram à porta e Mike e eu nos olhamos.
- Estava esperando alguém? – Perguntou Harry a mim com a voz baixa e um pouco tenso.
- Não, mas sei quem pode ser.
- Por via das dúvidas, eu vou para o quarto. A gente se encontra por aí, Mike. – Acenou e se foi pelo corredor.
- Minha... Nossa! – Sussurrou se abanando.
- Mike! Segura a emoção que o seu boy está do lado de fora, ok? – Ele fez um muxoxo e eu abri a porta.
- Bom dia para vocês. – Desejou Right e eu dei espaço para entrar.
- Oi, baby. – Mike o selou – Está tudo bem? – Perguntou com um sorriso estranho nos lábios.
- Está sim. Mas... Vocês estão bem? – Perguntou para nós – Parecem estranhos.
- Que isso, Right! Estamos ótimos. – Mike sorriu exagerado.
- Sei. Bom, eu vim saber duas coisas. A primeira delas é: O que faremos hoje?
- Tem algo em mente? – Perguntei a Right. Geralmente ele sempre tem. Não tanto quanto Mike, é difícil superá-lo.
- Soul me mandou uma mensagem dizendo que hoje é noite de karaokê na Seduction. Pode ser uma boa, não?
- Espere um pouquinho. Soul te mandou uma mensagem? Sério?
- E qual o problema, Mike? Nós somos amigos. Todos nós. – Mike tinha ciúmes de Right, mas detestava admitir. Já que era mais normal vermos o contrário.
- Sei que somos, mas ela poderia ter mandado mensagem para a Aria, que é mais amiga dela do que nós dois.
- Desculpa discordar, Mike. Mas depois de algumas vezes em que fomos lá, não tem mais essa de que Soul é mais minha amiga do que de vocês.
- Exatamente, baby. Isso não cola. – Right fez um bico gracioso e eu mordi os lábios para não rir – Admita que está com ciúmes. É mais bonito.
- Eu não estou! – Cruzou os braços, birrento. Eu acabei rindo, mas me lembrei de Harry no quarto de hóspedes. Não era certo deixá-lo sozinho em casa.
- Eu achei a ideia muito boa, mas dessa vez não vou acompanhar vocês.
- Ah, Docinho! Poderíamos continuar a comemoração do seu aumento por lá.
- Eu sei, mas... Este fim de semana eu quero ficar em casa mesmo. Estou um pouco preguiçosa. – Me espreguicei para simular cansaço, mas Right subiu uma das sobrancelhas em desconfiança.
- Por que não estou acreditando nisso?
- Por que você desconfia de tudo?! – Questionei.
- Ou talvez por que você tenha uma visita que Mike sabe e que não queira me contar? – Cruzou os braços e continuou a me olhar intrigado – Vamos lá, Aria! Meu pai é o dono do prédio. Acha mesmo que não comentaria comigo? Ainda mais sabendo que somos amigos?
- E... O que ele comentou?
- Que um cara veio aqui fora de hora, que queria falar com você e que você permitiu que subisse. Mas que ele não desceu, pelo menos até o término do seu turno, às 7hs da manhã. – Eu havia me esquecido do turno do senhor Johnson – Olhe, não pense que meu pai é intrometido. Ele só se preocupa com você. Perguntou para mim se você estava saindo com alguém. Como disse que não sabia, ele ficou ainda mais preocupado. – Ah, obrigada, Gucci!
- Eu não estou saindo com ninguém. Ele só me pediu para ficar por aqui esse fim de semana.
- Ele quem, Aria?
- Espere. – Fui até o quarto, mas acabei o encontrando no corredor, com as mãos nos bolsos das calças, encostado em uma das paredes, ouvindo a conversa. Antes que eu pudesse falar, ele se adiantou.
- Não esperava que viria alguém com você da lavanderia.
- Mike percebeu que comprei mais coisas do que o habitual quando passamos no mercado. Não tive como esconder, mas ele é de confiança. – Não fez nenhum gesto a não ser continuar me olhando. Seu rosto não expressava nada – Pode me acompanhar?
- É seguro? – Ele pensa que eu vou trazer um repórter aqui ou o quê?!
- Não tem ninguém com câmeras esperando você, se é o que te preocupa. Anda! – Fez uma careta.
- Você é brava!
- Você ainda não viu nada!
- Ui!
- Não começa! – Quando voltamos para a sala pude ver o rosto de Right se transformar de preocupação para emburrado em segundos – Ele é o cara de ontem. – Harry o olhou e estendeu a mão.
- Harry Styles.
- Ryan Johnson, mas eles me chamam de Right.
- Ahm... Já ouvi falar de você algumas vezes, Ryan. É um prazer conhecê-lo.
- Também já ouvi falar de você... Mais vezes do que posso numerar, na verdade. – E olhou para Mike.
- Sem detalhes, Right! – Pediu Mike envergonhado e Harry riu. Mas Right continuava tenso.
- Me desculpe por achar tudo isso muito estranho. É só que você é irmão da nossa chefe... E, além disso, é rico e famoso... O que faz escondido por esses lados de Londres?
- Há coisas que fama e grana não compram, Ryan.
- Como o quê?
- Paz. – Right pareceu se desarmar depois da resposta. Mike e eu trocávamos olhares de Harry para Right – Eu posso parecer ter tudo o que o dinheiro pode comprar... E eu tenho, de certa forma. Mas paz é algo que não posso comprar. E é tudo o que desejo ter. – Ficamos um tempo sem dizer nada até que Right voltou a falar.
- Acho que posso entender você. E, bom, entendi que não quer que ninguém saiba que está aqui. Seu segredo está bem guardado. – Notei que Harry soltou os ombros.
- Agradeço por isso.
- Mas agora fica a questão do que vamos fazer hoje à noite. – Falou Mike.
- Eu não posso sair, mas vocês podem. Eu fico com o Salem. – Sugeriu Harry.
- Não. Eu não vou deixar você aqui sozinho.
- Tem medo que eu mexa em suas coisas, Meow?
- Tenho medo de você colocar fogo em minha casa, Gucci. Isso sim. – O casal acabou rindo.
- A gente pode ficar por aqui mesmo de novo, comprar mais pizzas, cervejas e vinho. Se a Aria não quiser, podemos ir para a casa do Mike.
- Right está certíssimo. Em casa seria uma ótima opção.
- Eu não ligo de ficarmos aqui em casa de novo. E acho uma melhor opção. Há câmeras no corredor. Um vacilo nosso e alguém pode o reconhecer. – Apontei para Harry, que estava pensativo.
- Por mim ok, docinho. Então, Right e eu vamos comprar mais cervejas e vinho.
- Eu compro as pizzas.
- E o que eu faço? – Perguntou Harry.
- Você vai comer a melhor pizza e beber das melhores bebidas baratas de Londres, querido!
- Talvez seja difícil para você no início, mas acho que se acostuma. – Disse Right tentando ignorar ter ouvido Mike chamar Harry de “querido”.
- Ele já teve uma prévia ontem, Right. Quando chegou, eu estava começando a arrumar as coisas.
- Me lembro que o vinho não é de todo ruim.
- Vai ver como fica melhor depois de algumas cervejas. – Cutucou Mike e Harry riu.
E assim ficou combinado. O casal se despediu de nós e disse que voltariam no horário combinado.
Olhei o armário pensando no que poderia fazer para o almoço. “Vamos comer pizza no jantar mais uma vez. É melhor comer algo mais reforçado agora... Apesar do costume aqui ser outro... Dane-se! Ele está na minha casa e vai comer o que eu fizer... Mas a mãe dele foi atenciosa comigo quando fiquei lá...”
- Está tudo bem? – Levei um susto quando o ouvi falar atrás de mim.
- Sim. Só estou pensando no que fazer para o almoço. O que você costuma comer?
- Qualquer coisa rápida, na verdade. Eu vivo na correria, não tenho muito tempo para pensar em cardápios. Até tentei por um tempo comer coisas mais naturais e mais reformuladas, mas... – Parou de falar, pensativo.
- Mas? – Encostou-se no armário.
- Tornei a vida da minha nutricionista um inferno... E a minha também.
- Tess Ward, não é? – Me olhou quieto e eu fiquei sem jeito – Desculpe. Não precisa dizer nada.
- Tudo bem. Isso não soou ruim. Mas foi ela, sim. – Ofereci a cadeira e ele se sentou, enquanto eu procurava entre o armário e a geladeira o que fazer para almoçarmos – Bom, ela instruía não só a mim como a minha mãe para comermos um pouco melhor, com coisas mais naturais. Foi quando Jeff teve a infeliz ideia de que ela seria a “Nova Garota” e assim o fez. Não durou muito, mas foi o suficiente para render uma ótima exposição para ela e dores de cabeça para mim. Geralmente, é assim que funciona: Elas ficam com a fama e o buzz e eu com a dor de cabeça e as críticas. – Soltou o ar.
- Deve ser difícil para você. – Demorou um pouco a responder, mas quando o fez pude perceber seus ombros se soltarem, como se deixasse sair algo que o prendia há muito tempo.
- É quase insuportável. Acho que só não surtei totalmente porque minha mãe ora demais por mim. Ela é a melhor mulher desse mundo. – Ele estava sorrindo com os lábios e os olhos ao se lembrar de Anne. Era um semblante que me lembrava a forma que ele a olhou dormindo no sofá no Natal. Cheio de verdade.
- Gosta de ovos mexidos? – Perguntei para mudar de assunto... E saber do que ele gostava de comer.
- Demais! – Sorriu espontâneo. E enquanto fazia o nosso almoço, conversamos sobre a gastronomia que ele conhecia e a que eu conhecia. Eram coisas completamente diferentes. Ele já viajou quase o mundo todo e disse as coisas que gostou e as que detestou comer. Quando o servi, pedi para ser sincero ao provar, pois não sou nenhuma chefe de cozinha.
- E então? – Perguntei curiosa. Era apenas arroz com legumes, peito de frango grelhado e ovos mexidos. Ele levantou uma das sobrancelhas.
- Você coloca mais tempero na comida, mas... Hummm! Está ótimo, de verdade! Sua comida tem gosto de lar.
- Gosto de lar?
- Sim. É simples, reconfortante e delicioso. Espero que não tenha problemas se eu quiser repetir. – Pediu sem jeito.
- Sem problemas. – Sorri contente por ter acertado na comida.
Harry se dispôs a lavar a louça enquanto eu limpava a sala. Depois pedi para que ele fosse para a sala para que pudesse limpar a cozinha, os quartos estavam limpos. Assim que acabei, peguei o livro que estava lendo e me sentei na poltrona. Salem se levantou de perto de nossa visita e se deitou ao meu lado, como costuma fazer quando me sento para ler. Harry estava concentrado assistindo um documentário na tevê sobre vida selvagem.
A tarde passou com poucas conversas, mas ambos estávamos confortáveis. De princípio achei estranho me sentir assim perto de alguém o qual nas primeiras vezes em que vi não foram tão amistosas, mas deixei para lá. Ele parecia se sentir bem; vez ou outra o olhava e ele esboçava um pequeno sorriso para a tela da tevê.
Um pouco antes das 18hs disse a ele que poderia tomar banho primeiro se quisesse e assim o fez. Quando o ouvi saindo do banheiro, fui até o meu quarto e peguei a roupa que iria ficar em casa. O cheiro do seu perfume alcançou o meu quarto quando ele saiu para o corredor e meus olhos se fecharam automaticamente. Amadeirado doce... Delicioso. Três toques na porta me fizeram acordar.
- O banheiro está liberado.
- Ok. Eu já vou.
- Ok. Ahm... Belo quarto! – Disse observando o cômodo do lado de fora.
- Obrigada. Pode entrar, se quiser.
- Com licença. – Entrou e observou o lugar. Olhou para onde a caminha de Salem estava – Algo me diz que ele não fica ali por muito tempo.
- Não mesmo. – Rimos – Ele gosta de dormir comigo muitas vezes e eu não sei dizer “não”.
- Relaxa. Quase ninguém sabe dizer “não” a felinos. Ahm... Há algo que eu possa fazer para esperar seus amigos enquanto está no banho?
- Apenas coloque os copos, pratos, talheres e os guardanapos de papel na mesinha de centro da sala, por favor. Quando chegarem, eu peço a pizza.
- Ok. – E saiu... Abandonando seu rastro em meu olfato.
- Você não precisava ser tão cheiroso assim. – Murmurei para mim mesma.
Tomei um banho rápido e me troquei dentro do banheiro. Apenas fui ao quarto para passar desodorante e perfume. Harry estava de costas para mim olhando para a tevê desligada, parecia perdido em seus pensamentos.
- Está tudo bem? – Perguntei.
- Ahm? Ah, sim. Está. – Sorriu – Só estava pensando se eu poderia ajudar a pagar as pizzas.
- Não precisa.
- Mas Mike e Ryan vão pagar as bebidas, você está dando a casa e as pizzas. Me sinto mal por não ajudar com nada.
- Vai nos ajudar a comer. Quer melhor ajuda do que essa?! – Brinquei e ele riu.
- Eu sei, mas quero contribuir também. – Parecia sem jeito pela situação.
- Tem notas com você?
- Por que a pergunta? – Desconfiou.
- Por que como eu explicaria ao cara da pizza que estou com o cartão de crédito ou débito de Harry Styles? E se tudo seu for mesmo monitorado, seu cartão também pode ser.
- Hm... Eu não havia pensado nisso. – Meneou a cabeça – Mas eu tenho sim. Sempre fico com algumas notas, caso tenha uma emergência.
- Então, está fechado. Nós rachamos as pizzas. – Ele assentiu mais feliz.
Right e Mike chegaram as 19h15. Mike resolveu trazer uma vodka, além das cervejas e do vinho. De início Harry apenas bebericava e prestava atenção nas conversas, mas depois que Right perguntou a ele sobre bons lugares no mundo para se visitar, relaxou e participou mais. Pedimos quatro pizzas de cinco queijos sem azeitonas, já que Harry disse que não gostava e nós três não fazíamos muita questão.
As 23hs já estávamos um pouco altos, rindo demais e totalmente satisfeitos de pizza. Right, que estava mais sóbrio que Mike, ajudou-o a se levantar.
- Preciso colocar uma criança para dormir.
- E quem disse que vamos dormir, Right?
- Wooow! – Disse Harry já rindo.
- Já sabe, não é, docinho? Tampe os ouvidinhos do Salem.
- Mike, por favor!
- Qual é, Right? Estamos entre amigos aqui, não é?
- Podem crer! – Harry levantou o copo de vinho, saudando seus novos amigos, e o virou todo.
- Vamos indo, porque você bêbado é um perigo.
- Eu sou uma belezinha! Não acredite nele, Gucci!
- Oh, merda! Até você, Mike?
- Acho muito justo! – Retruquei – E agradeça, pois ele poderia te chamar pelo nome no corredor e não seria nada bom.
- Vou deixar passar apenas por isso.
- Mentiiiiira! Você goooooosta. No fundo, a gente sabe que gooooosta! – Acusou Mike nos fazendo rir.
- Vou levá-lo antes que ele comece a falar demais.
- Como o seu desempenho? Ah, baby, você é maravilhoso! Principalmente quando a gente faz de... – E Right tapou a sua boca com a mão.
- Chega de bebida por hoje, Mike! Boa noite para vocês.
- Hu hu huuuu! – Disse Mike através da mão de Right, nos fazendo rir.
The Judge – Twenty One Pilots
Assim que saíram, tranquei a porta e me joguei ao lado de Harry no tapete da sala. Estávamos apoiados com as costas no sofá e bebendo o resto de vinho que havia sobrado de hoje com o de ontem nos esperando ao lado.
- Gostei muito dos seus amigos.
- Bom, agora eles também são seus. Você viu o que Mike disse. – Ele riu.
- Vi sim. E vi que é mais um a me chamar de Gucci. – Fez uma careta.
- E qual o problema nisso? Você é o Gucci.
- Parece besteira, mas... Cada vez que você me chama assim, eu me sinto fútil.
- Mas... Eu não o chamo com essa intenção. – Encolhi um pouco os ombros.
- Eu sei que não. E sei que é algo que preciso trabalhar em mim. Agora, mais do que qualquer coisa.
- Por que diz isso? – Ele suspirou.
- Fui contratado para ser o garoto propaganda deles. – Falou sem vontade. O olhei por um momento e comecei a rir. Começou com um risinho, mas depois virou uma gargalhada, admito – É, ria mesmo. É muito engraçado! – Disse irônico.
- Para mim é sim. Mas posso dizer que sinto muito, se isso te confortar.
- Não. Vai ser da boca para fora. – Deu de ombro enquanto eu bebia mais vinho – Mas era algo inevitável de acontecer. Eles me deram todos os ternos antes de minha tour oficial começar. É uma boa divulgação e eu estou vestindo uma das melhores marcas do mundo. – Deu de ombro.
- Se é o que diz...
- Que quer dizer com “Se é o que diz”?
- Apesar de não ter dinheiro para tanto, eu não ligo para isso de marcas, selos ou sei lá como vocês da elite chamam. Me importo mais com o conforto.
- Não fale mais isso. – Pediu parecendo um pouco magoado.
- Isso o quê?
- “Vocês da elite”. Soa como se não fôssemos iguais. Eu não sou da elite. Eu não quero ser.
- Sinto muito lhe dizer, mas você é. Não querer ser é outro quesito. – Ele ficou em silêncio e se serviu de mais vinho, virando o copo quase todo de uma vez com a testa franzida – Hey, deve ter algo bom no meio disso tudo, hu? Tipo, os lugares por onde você já passou. As pessoas que conheceu.
- As pessoas... – Divagou – É... Sempre tem algo interessante. – Sorriu enviesado com o olhar perdido.
- Pelo visto são lembranças felizes. – Meneou a cabeça.
- Podem ser.
- Acredito que sua namorada esteja inclusa. – Ele parou o copo próximo a boca. Eu e minha boca grande e bêbada! Mas agora já foi.
- Namorada?
- Camille Rowe. É sua namorada, não?
- Ah... – Negou com a cabeça – Esse é mais um dos assuntos do Jeff.
- Então...
- Então ela é a “Nova Garota” da vez. – Rolou os olhos – Jeff está adorando toda repercussão. Rowe está com o nome mais falado como nunca esteve antes.
- E você? Como está com tudo isso? – Ele remexeu o líquido dentro do copo.
- Eu estou me escondendo deles no apartamento de uma amiga minha, me empanturrando de pizza e tomando vinho barato. – Ergueu o copo como um brinde e tomou-o todo, repondo logo em seguida. Eu não devia sorrir por isso, mas não pude evitar – Mais?
- Sim. – Me serviu, completando com o vinho de ontem – Então, não era só desse Jeff que você queria se esconder.
- Ele queria que fizéssemos mais uma aparição. Mas nossas conversas são diferentes demais na maior parte das vezes, se posso dizer assim. Seus papos são ou superficiais ou obscuros demais. Só tem uma coisa em que nos damos realmente bem.
- Sexo. – Afirmei, sentindo o vinho ficar mais azedo em minha boca do que deveria, mas não fiz nenhuma careta. Continuei olhando para frente.
- Sim. É como consegui me dar bem com a maioria das pessoas com as quais eu convivi um pouco mais... Intimamente, digamos assim.
- Hum... Eu já imaginava.
- Imaginava?
- Sim. Que você se envolvia com pessoas. – Ele riu.
- Eu sempre disse que gostava de pessoas.
- E... Ahm... Há diferença? – Ele gargalhou e foi quando me toquei sobre a pergunta que fiz – Não precisa responder.
- Bom... Há certas diferenças. Mas o que aprendi é que a diferença na verdade está no que a pessoa te desperta. – Me olhou e me senti aquecer em todos os lugares possíveis. Esse vinho está fazendo efeito rápido demais.
- E alguém já chegou a uma escala maior?
- Já. Mas... Eu consegui estragar as coisas... Várias vezes, com várias pessoas. – Riu sem vontade – Eu não sou de dar uma dentro quando me relaciono com alguém de verdade. – Ficamos quietos por um tempo até ele voltar a falar – Sei que não perguntou, mas minha preferência continua sendo mulheres.
- Ah... Ahm... Ok. – Tomei o restante do vinho e dividi o que sobrou entre nós dois.
- E você? Já ficou com... Pessoas?
- Acho que pela pergunta que te fiz deu para perceber que não.
- Verdade. – Fez uma careta e olhou para as garrafas de cerveja, vodka e de vinho, agora vazias – Já respondi mais perguntas do que deveria. Acho que bebi demais. – Rimos.
- Eu também. Acho que vou me deitar como Salem quando chegar a cama. – Meu gatinho estava jogado no tapete aos nossos pés. Me levantei rápido demais e a tontura me pegou em cheio. Senti a mão de Harry segurando meu braço.
- Você tem condições de chegar a sua cama sozinha? – Perguntou rindo.
- Eu não sei de nada mais. – Ri da minha moleza. Sou uma fracote para bebidas.
- Vou ajudar você. Arrumamos isso amanhã.
- Não vou discutir sobre isso. Estou sem condições.
Harry me deixou sentada em minha cama.
- Está tudo bem? Quer vomitar ou algo do tipo?
- Não. Só estou tonta, mas vou ficar bem. Só preciso dormir. Obrigada. – Respondi, me deixando cair nos travesseiros e me cobrindo com o edredom. Salem subiu rapidamente sobre a cama.
- Por nada. Tome conta dela, Salem. – Meu gato ronronou para Harry quando este o afagou – Bons sonhos.
- Ah, eu terei. – Com certeza não vou me lembrar de nada quando acordar – Bons sonhos para você também. – Murmurei.
- Com certeza terei, Meow! Lembrando de você quase caindo pela bebida.
- Sai daqui, Gucci! – Falei com os olhos fechados e ouvi a sua risada.
- Garota atrevida! – O ouvi dizer antes de fechar a porta.
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