Kian e Johnny foram para a minha casa no sábado, iríamos revisar algumas matérias (note o milagre), e jogar videogame. Meu pai, pra variar, havia saído de casa cedo e não voltaria naquele dia. Tinha uma conferência em Washington DC.
- Olá, Mrs. Watson – disse Kian, assim que entrara em casa. Minha mãe terminava de se arrumar para sair. – Como vai o árabe?
- Muito bem, Kian. Alshshukr lakum , wabitabieat alhal – dissera ela, e os dois riram.
- Meu Jesus, que língua vocês tão falando? – comentei.
- Já não disse árabe, Logan? – falou minha mãe, sem entender meu comentário.
Ela saiu, e pouco tempo depois Johnny aparecera. Não precisei perguntar onde ele estava, e suponho que você também não precise. Não é exatamente difícil de deduzir.
[...]
Fazia uma hora que estávamos sentados em volta da mesa da cozinha, resolvendo um cálculo de matemática. Johnny estava com os braços em volta da cadeira, quase desistindo de tudo. Kian bagunçava o cabelo toda vez que não sabia o que fazer – e seu cabelo já estava quase como meu cérebro, de tão confuso.
- Quer saber, eu não preciso disso – ele falou. - Eu vou colar mesmo.
- A gente não tá na mesma sala, né? – perguntou Johnny.
- Mesmo se estivéssemos, Johnny. Mesmo se estivéssemos. – decretou Kian.
Enquanto os dois desistiam e iam para a sala jogar videogame, continuei na cozinha tentando resolver o cálculo que faltava.
- Vai logo, Logan – gritou Kian. – O Johnny é fraco.
- Qual é, Kian. Ele tá nerdão agora que tá apaixonado pela Katherine – comentou. – Até fez a lição de casa ontem.
- Claro. Comentou o que não estava na biblioteca babando pela Chelsea.
- Eu não sei do que você está falando – mentiu ele.
- O.k., concordemos que somos todos otários apaixonados. Eu menos otário que vocês, claro. Eu sou inteligente, legal e tenho habilidades pra colar – falou Kian, encerrando o assunto por algum tempo.
Consegui terminar o exercício mas não tinha certeza se estava certo, então logo saquei meu celular e tirei uma foto, mandando-a para a Katherine.
Eu: está certo?
Ela demorou algum tempo para responder.
Katherine: vc fez sozinho?
Eu: sim,pq, tá errado?
Katherine: pior que não Emoticon rindo.
Quando terminei tudo, segui até sala e juntei-me a eles no videogame.
- Mandou mensagem pra ela, não foi? – perguntou Johnny.
- Mandei. Queria saber se a lição estava certa.
- Claro.
- Mas talvez vocês tenham razão. Eu tô mesmo apaixonado pela Katherine – falei, esperando algum tipo de zoação ou risada. Em vez disso...
- FINALMENTE, GLÓRIA A MEU JESUS, MAZEL TOV – berrou Kian, explodindo a cabeça de um soldado. – Demorou pra sacar, hein?
- Pois é. Não vai falar nada, Johnny?
- Eu não tenho nada para falar.
- Ah, não?
- Então você tá tipo foda-se pra Chelsea? – perguntou Kian.
- Não é assim. Eu só não to tipo “ MEU DEUS amor da minha vida” que nem uns e outros – respondeu ele.
- Menos cara. – falei. – A Katherine não ficaria comigo, de qualquer maneira.
- Com o você de agora, você quer dizer – falou Kian.
- Como assim? – perguntei.
- Sua mãe me disse sobre a conversa que vocês tiveram...
- Como é q...
- Ela me contou tudo. E ela tem razão. Se você mudasse Katherine com certeza já tava na sua.
- COMO ASSIM VOCÊ FALOU COM A MINHA MÃE?
- Eu tenho o Whatsapp dela, ué.
- Por quê?
- Vocês acham que é fácil ser o amigo zoeiro que sabe os podres e fotos vergonhosas de família de todo mundo? Eu preciso me manter informado.
Revirei os olhos e respirei fundo.
- Fez igualzinho à sua amada, agora – comentou ele, dando risada.
- Vai se f...
- PRESTA ATENÇÃO,CARA! – berrou Johnny, morrendo.
[...]
Coloquei um filme qualquer para assistirmos na TV. Kian e eu dividíamos o sofá em frente à televisão, enquanto Johnny ocupava o sofá de lado, deitado como se estivesse em sua própria casa.
Pra ser sincero, ninguém estava prestando atenção no filme. Johnny pegara no sono nos quinze primeiros minutos, e Kian e eu já estávamos conversando sobre assuntos aleatórios.
- Mas então é verdade? – perguntou Kian. Subitamente entramos num papo sério e, mesmo sem querer admitir, ele era um bom amigo pra esse tipo de coisa. – Você tá realmente apaixonado por ela?
- Acho que sim. Quer dizer, você não fica ouvindo uma garota te xingar o tempo todo, e, em vez de ficar puto você chama ela na sua casa só pra ouvir mais, não é?
- Suponho que não – ele falou. – E ela também tá na sua.
- Você acha? – perguntei.
- Óbvio. Tá bem na cara, e, Jenny também me contou umas coisas.
- Tipo o quê?
- Eu não vou falar – exclamou ele.
- Por que não? Eu sou seu amigo.
- E Jenny é minha namorada, eu disse pra ela que não ia contar nada.
Surpreso, parei por um segundo.
- Espera, Jenny é sua namorada? É tão sério assim?
- É. Já era faz algum tempo.
- Por que você nunca disse nada?
- Sei lá. Achei que vocês fossem me zoar ou qualquer coisa do tipo. Além do mais, não é grande coisa. Não é como se eu fosse “ter meu coração partido” como vocês dois – disse ele, fazendo aspas com as mãos.
- Ah, seu cachorrão – falei. – Mas espera, como assim?
- Você sabe. Chelsea logo vai perceber o que Johnny realmente quer, e se você ficar enrolando e não “tomar jeito”, como dizia minha avó, Katherine vai te dar um pé na bunda sem nem ter te dado nada antes – ele falou sem rodeios.
- E o que eu faço? – perguntei.
- Se eu fosse você, parava de andar só com o “Pessoal da Mesa da Frente” e com essa sua vida de pegador-de-patricinhas-baratas. Ela tem que ver que você é “um cara legal” – falou irônico.
- Eu sou um cara legal – comentei.
- Aham, claro. Ah, e se eu fosse você, tentava ouvir seu pai.
Respirei fundo, irritado.
- Meu pai, não. Não mete ele nessa história. Você sabe muito bem como ele me irrita.
- Tudo bem, então pelo menos mostra pra ela que você sabe que os nerds, e as garotas-não-tão-bonitinhas e todo pessoal que você não sabe que existe, são pessoas normais. E que você pode ter amizade com eles.
Mas a questão é que eu não podia virar amigo de uma dessas pessoas só pra ficar com a Katherine. Isso não seria certo, seria?
Tendo esse pensamento, percebi que talvez eu não precisasse fazer muita coisa.
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