Era um dia normal de treino até Tenten ser chamada na sala de sua treinadora no clube onde treinava. Após bater na porta e sua entrada ser autorizada, a jovem arqueira viu, além de sua mentora, um homem moreno de cabelo tigela e um rapaz de longos cabelos castanhos. O homem ela conhecia; era Maito Gai, antigo campeão mundial e medalhista olímpico de judô pelo Japão, sócio e conselheiro do clube. Agora, o rapaz lhe era desconhecido.
— Obrigada por vir, Tenten. Creio que já conheça o Gai-sensei.
— Não pessoalmente. – Respondeu sorrindo e se curvando em cumprimento – É uma honra conhecê-lo!
— Igualmente, Mitsashi-san! – Ele se curvou em resposta – Fiquei demasiado contente ao saber de seu desempenho no último campeonato. Presumo que sua família sinta muito orgulho da senhorita.
— Eles realmente ficaram bem contentes.
— Isso é ótimo. Eu peço um momento para apresentá-la ao jovem Hyuuga Neji. – Gai estendeu a mão na direção do rapaz.
Tanto ele quanto Tenten se curvaram em cumprimento.
— Neji faz aulas de judô comigo, mas na verdade é também um ótimo arqueiro. – Contou o homem – Ele estava treinando no clube de caça Mitarashi. Conhece a Anko-sensei?
— E quem não conhece? Bom, novamente, não tive a oportunidade de vê-la em pessoa...
— Claro, claro. Bom, Yuuhi-san, se importa de eu continuar o assunto?
— Fique à vontade, Gai-sensei.
— Pois muito bem. A partir de amanhã, Neji vai se juntar aos treinos de arco e flecha aqui no clube Sarutobi.
— Ah! Seja bem-vindo, Hyuuga-san! – Tenten sorriu e se curvou novamente – Espero que se sinta à vontade conosco!
— Obrigado. – O Hyuuga curvou em resposta – Farei o meu melhor.
— Inclusive, Tenten. – Chamou Kurenai – Eu gostaria que você mostrasse a área de tiro para ele, como uma boa anfitriã.
— Será um prazer. Hyuuga-kun, por favor, me acompanhe.
Os jovens arqueiros saíram da sala.
— Estou com um bom pressentimento, Kurenai-sensei. – Comentou o homem.
— Os resultados de ambos são muito bons... Creio que, com a rotina certa, ambos poderiam competir em torneios maiores, mas isso, Gai-sensei, – A treinadora sentou na cadeira atrás de sua mesa de escritório – somente o tempo vai dizer.
Alguns meses depois...
Tenten disparava mais uma flecha e acertou no aro de número oito. Mordeu o lábio inferior sabendo que poderia ajeitar melhor a posição para o disparo. Ao seu lado, Neji se preparava para atirar em outro alvo, quando soltou a flecha no mesmo aro de oito pontos, um pouco mais acima da flecha dela.
— Tá querendo me copiar, Hyuuga?
— Por ser uma veterana, eu esperava mais de você, Mitsashi.
Ela o encarou com uma careta. Com as conversas que tiveram, a jovem arqueira sabia que ambos tinham começado a usar arco e flecha em épocas parecidas. A única diferença era que Tenten tinha um pouco mais de costume e, consequentemente, mais experiência.
A morena ajeitou mais uma flecha e se preparou para atirar; era apenas mais um dia de treino, mas tanto ela quanto ele levavam a sério, como uma competição interna para medir suas habilidades, sempre de forma amistosa, nada de remorso um com o outro. Acima de tudo, eram parceiros de clube, de esporte; bons colegas que treinavam juntos.
Tenten soltou a flecha após sentir a corrente de ar cessar por alguns segundos, atingindo no aro nove e sorrindo animada com o acerto. Neji segui a mesma ordem da colega, acertando novamente o aro de número oito e estralando a língua, insatisfeito com o lance. A garota segurou o riso.
A treinadora Kurenai se aproximou dos alunos.
— Vocês estão indo muito bem. – A dupla se curvou em cumprimento a professora – O que vocês achariam de tentar o mundial e uma vaga nas próximas olimpíadas?
Os olhos de Tenten se arregalaram, como se brilhassem de animação com as palavras da mais velha.
— Isso é sério, sensei?! Acham mesmo que poderíamos competir nas olimpíadas?
— Claro! Inclusive, ouvi dizer que teremos modalidade mista. E eu sinceramente acho que vocês formam uma ótima dupla!
Tenten sorriu para Neji, que ainda processava a ideia de competir a nível mundial, ainda mais junto da garota. Kurenai recebeu uma chamada pelo radiocomunicador e precisou adiar a conversa.
— Pensem com calma, amadureçam a ideia. – Disse ao se distanciar dos arqueiros – Nos falamos depois!
Tenten estava visivelmente animada com a ideia de competir internacionalmente. Já Neji não se sentia confortável ainda para tal compromisso, ainda mais em fazer equipe com a morena, por quem tinha um grande apreço e admiração. Só de pensar que poderia prejudicar a colega arqueira, ficava inseguro.
— Será que é mesmo uma boa ideia?
A jovem olhou confusa para o rapaz, que mexia no arco para evitar de encará-la.
— Somos muito inexperientes ainda.
— Então vamos treinar bastante! – Tenten colocou uma mão no ombro do moreno, virando-o de frente para ela, que tinha um olhar determinado e confiante – E dar nosso melhor, independente do resultado.
Tenten sorriu para o rapaz, o que fez o peito de Neji contrair, como se doesse. Mas não era uma coisa ruim. Sem saber o que responder, ele apenas desviou o olhar de novo e acenou em positivo. No fim, concordaram em participar de competições maiores e os treinos consequentemente ficaram mais intensos.
Foi então que o mundo precisou parar. A pandemia do COVID-19 interrompeu treinos, competições, além da próprias olimpíadas em sua terra natal, adiando também o sonho de Tenten, que para não perder o hábito, precisou arrumar uma forma de continuar com alguns exercícios básicos em casa, um pequeno apartamento, até que pudesse voltar a praticar normalmente. Neji teve um pouco mais de sorte que a colega, já que sua família ficou em uma casa de campo, com um quintal amplo que o proporcionou continuar a prática.
Eventualmente, veio a reabertura do comércio, parques, entre outros serviços, como o clube, e Tenten voltou a treinar; porém, ela não estava confiante o suficiente. Familiares e amigos foram perdidos pela doença e a jovem não se sentia confortável, por mais que estivesse ansiosa para segurar seu arco novamente.
Neji também voltou a treinar no clube e percebeu que tinha alguma coisa de diferente com sua dupla, procurou a treinadora e contou sobre suas preocupações, que também notara uma mudança no comportamento da atleta. Então, Kurenai marcou uma reunião com a dupla.
— Bom, pessoal. Chamei vocês aqui na minha sala para decidirmos algumas coisas da próxima competição que vai ser fundamental para melhorar o ranking e até ajudar na classificação para os jogos olímpicos aqui no Japão.
A treinadora mal terminou de falar e Tenten levantou a mão.
— Sensei... – A morena respirou fundo.
— Sim, Mitsashi.
— Eu... – Tenten hesitou.
— Pode falar.
A voz da garota não saía. Neji apertou as mãos, pensando em uma forma de ajudar a colega, até reparar que o corpo da moça tremia como se estivesse com frio. O que ele poderia fazer para ajudá-la? Para acalmá-la?
— Tenten, pode falar. – Disse a mentora. Sua voz estava calma, passava até um certo conforto, dando coragem para a garota se abrir.
— Eu... Não... Quero... Competir...
Depois de finalmente se abrir, Tenten começou a chorar.
— Eu não... Tô bem, pra isso... Mas eu... Não quero, parar! Não dá, pra mim... Esse ano...
Neji levantou num impulso, querendo abraça-lá e dar apoio, mas precisava manter distância.
— Tá tudo bem! A gente não precisa competir esse ano, não é, Kurenai-sensei?
— Eu queria tanto! – Tenten continuou a chorar, chegando até a soluçar.
— Nós sabemos disso – Kurenai se aproximou um pouco da aluna – Fomos todos pegos de surpresa mesmo.
— Eu ainda tenho medo. Medo por mim, por vocês, por tanta gente! Minha família perdeu muita gente... E eu queria muito participar, eu amo treinar e competir no arco e flecha...
— E você vai, Tenten! Mas precisa se cuidar, se recuperar. Todos nós precisamos e vamos passar por isso juntos. Não só como colegas de clube ou de esporte, mas como amigos.
Neji também chorou, comovido com os sentimentos da jovem. Ergueu um punho fechado, querendo passar o máximo de conforto no mínimo de contato possível. Até Kurenai se permitiu chorar, afinal, a pandemia ainda não tinha acabado. Mas tinham certeza de que poderiam enfrentar aquilo juntos.
Alguns anos depois...
Olimpíadas de Paris, 2024
Era a final do tiro com arco por equipe mista, Japão e Coréia do Sul se enfrentando com suas duplas mais jovens e promissoras, em uma competição acirradíssima. Três sets já haviam se passado, sendo o último um empate. Era o tudo ou nada.
Tenten e Neji passaram os últimos anos treinando o físico e o psicológico para aquele momento; nas classificatórias enfrentaram adversários incríveis e agora estavam na final com uma formidável dupla de sul-coreanos.
Quatro disparos. Só precisava de quatro disparos bem feitos – junto com uma possível falha dos rivais - e ganhariam o ouro.
Aquele ‘três a três’ na contagem dos sets, parecia martelar na cabeça da arqueira japonesa.
Kurenai passou algumas instruções, sendo uma delas para ter bastante cuidado com o vento, pois a qualquer momento poderia ter uma rajada mais forte. Ambos tomaram um pouco de água e secaram o rosto.
A dupla oponente se encorajava com gritos fervorosos enquanto seu parceiro e amigo preferiria a boa e velha concentração. Tenten inspirava bem fundo e soltava balançando a cabeça, fazendo um barulho estranho que a deixava mais tranquila.
Ela e Neji dariam início ao set, sendo o Hyuuga o primeiro a atirar. O cronômetro foi iniciado, ele encaixou a flecha no arco e soltou após alguns instantes, acertando na área de número nove. Depois foi a vez de Tenten. Aljava, flecha, arco, concentração, mira, respiração.
O tiro acertou bem na área de dez pontos.
Tenten sorriu aliviada, se virou para o colega e a treinadora com o punho fechado, animada com o bom disparo. Agora era o turno da dupla adversária.
O rapaz sul-coreano acertou o dez, e a garota o nove.
Os pontos estavam empatados.
Era a vez de Neji novamente; após ajeitar a flecha no arco, sua concentração tomou um pouco mais de tempo do que o normal, o que foi bom já que garantiu mais uma pontuação dez para a dupla.
29 a 19.
Tenten sorriu para o amigo. Neji se aproximou, também sorrindo e olhou diretamente nos olhos da moça.
— Você consegue.
Tenten não respondeu. Fechou os olhos, inspirou bem fundo e soltou o ar balançando a cabeça, enquanto se posicionava para o último disparo. Seu treinamento, sua crise, sua recuperação. Ela já estava na final, realizou o sonho de competir em uma olimpíada. Naquele momento, enquanto erguia seu arco com a flecha já encaixada, ganhar ou perder já não importava. Tenten estava viva, praticando o esporte que amava, junto de sua treinadora e amigo que a apoiaram quando mais precisou deles.
A força do vento aumentou, o tempo limite para atirar estava acabando.
Faltando cinco segundos, o vento cessou e Tenten disparou sua última flecha.
Dez pontos foram marcados. 39 a 19.
Tenten gritou. Alto. Tão alto que surpreendeu seu parceiro, sua treinadora e a plateia que assistia à competição. Não estava frustrada, estava feliz, aliviada. Aquela adrenalina da competição a deixava entusiasmada.
Agora era a dupla sul-coreana. Que também gritaram palavras de força e encorajamento, além do apoio da torcida.
— Que diferença... Três anos atrás tava tudo diferente – Comentou Neji.
— Realmente a torcida faz diferença. – Completou a treinadora.
O rapaz acertou no aro dez. Tenten e Neji aplaudiram. A garota também era muito boa. Caso acertasse, iria para o último disparo para ambas as duplas: o mais perto do dez possível.
Tenten queria ganhar. Estaria mentindo se dissesse o contrário. Mas sua maior vitória, foi ter encontrado forças para estar naquele dia de verão parisiense, competindo pelo seu país, por futuros atletas, e por ela mesma acima de tudo.
Neji estava tão animado com sua mudança. Quem poderia imaginar que seu temor de anos atrás teria se tornado motivação em melhorar, tanto como atleta quanto pessoa? Ele estava realizado. Ficaria satisfeito com qualquer que fosse o resultado.
O vento soprou forte mais uma vez. A atleta coreana tinha um pouco mais de tempo que Tenten e fez o possível para não se deixar distrair.
A flecha foi lançada.
E acertou próximo da linha entre nove e oito.
Após os juízes analisarem, foi constatado que a flecha ficou no aro de pontuação oito.
Demorou alguns segundos até Tenten e Neji perceberem que tinham ganhado.
Tenten caiu de joelhos e começou a chorar, emocionada. Logo ela foi abraçada por Kurenai e Neji, que se ajoelharam ao seu lado e a abraçaram, ambos também chorosos.
—Alguns minutos depois—
A cerimônia de entrega das medalhas iria começar. Ao lado esquerdo da dupla, os medalhistas de bronze, brasileiros; ao lado direito, os sul-coreanos. Tenten estava radiante, apesar do rosto levemente inchado pelas lágrimas e a respiração ainda ofegante de tanto pular e gritar – não sem antes de ter cumprimentado devidamente os adversários.
— A gente conseguiu mesmo, Neji! Conseguimos!
— Anos atrás eu tinha minhas dúvidas...
— E hoje você está aqui! Prestes a subir no pódio de uma olimpíada!
— Com a melhor parceira que eu poderia ter!
Tenten riu. As medalhas começaram a ser entregues.
— Eu também não poderia ter parceiro melhor! Obrigada por tudo!
— Vai com calma, ou você vai começar a chorar de novo.
Ambos riram dessa vez. O bronze foi entregue à dupla mista brasileira, estavam começando a entregar a prata.
— Acha que consegue me acompanhar em Los Angeles daqui a quatro anos, Hyuuga? – Perguntou a arqueira com falso ar de superioridade, brincando com o amigo.
— Você não vai se ver longe de mim tão cedo, Mitsashi!
Seus nomes foram anunciados. De mãos dadas, subiram no lugar mais alto do pódio e receberam as medalhas de ouro, seguidas de um singelo, porém lindo buquê, junto com uma pelúcia da mascote.
A bandeira do Japão foi hasteada enquanto o hino era tocado.
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